Dez Mil Anos de Convivência: A Arqueologia da Mata Atlântica do Sudeste

May 27, 2017 | Autor: Astolfo Araujo | Categoria: Geography, Archaeology, Prehistoric Archaeology, Coastal geoarchaeology
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Metamorfoses florestais: Culturas, ecologias e as transformações históricas da Mata Atlântica

Diogo de Carvalho Cabral Ana Goulart Bustamante Organizadores

Metamorfoses florestais: Culturas, ecologias e as transformações históricas da Mata Atlântica Diogo de Carvalho Cabral; Ana Goulart Bustamante 1ª Edição - Copyright© 2016 Editora Prismas Todos os Direitos Reservados. Editor Chefe: Vanderlei Cruz [email protected] Agente Editorial: Sueli Salles [email protected] Diagramação: Katielle Paulino Capa e Projeto Gráfico: Cláudia Reucher Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Elaborado por: Isabel Schiavon Kinasz Bibliotecária CRB 9-626

Nome do Autor XXXX Nome do Livro 2015 / Nome do Autor. – X. ed. – Curitiba : Editora Prismas, 2015. XXX p. ; 23 cm ISBN: XXX-XX-XXXXX-XX-X 1.XXX. 2. XXX. 3. XXX. 4. XXX. 5. XXX. I. Título. CDD xxx.xxx(xx.ed) CDU xxx(xx)

Editora Prismas Ltda. Fone: (41) 3030-1962 Rua Cel. Ottoni Maciel, 545 - Vila Izabel 80320-000 - Curitiba, PR www.editoraprismas.com.br

Dez mil anos de convivência: A Arqueologia da Mata Atlântica do Sudeste Astolfo G. M. Araujo Museu de Arqueologia e Etnologia – USP A noiva de Tiago apontou a enorme muralha verde-escuro barrando o horizonte. - Fica muito longe, Piratininga? - Longe! - ecoou o escravo. Com as sombras da tarde, e a aproximação daquele desfile tenebroso de montanhas, que se encostavam eretas umas às outras, numa procissão de guardas gigantescos, insinuava-se na alma da moça uma desconfiança torturante [...]. Dinah Silveira de Queiroz, 19541

Vamos começar com um pouco de ficção histórica. Em 1531, quando Martim Afonso de Souza chegou ao que hoje chamamos de São Vicente – atualmente, um dos lugares mais degradados e poluídos do mundo –, ele encontrou uma baía propícia à ancoragem dos frágeis barquinhos que recebem o pomposo nome de caravelas. No entanto, o que mais deve ter chamado sua atenção foi a muralha cuja cobertura verde descia a serra, como uma imensa cachoeira, e se espraiava em um tapete verde, ameaçando engoli-lo juntamente com toda a tripulação. Apesar de nunca podermos saber o que se passou, realmente, na cabeça dos primeiros europeus que chegaram à costa sudeste do Brasil, é óbvio que aquilo em nada se parecia com o que existia em Portugal. Talvez os mais viajados, tendo conhecido a África, pudessem ter alguma familiaridade com aquela paisagem. Os novatos, por seu turno, contentavam-se com a experiência passageira das matas das ilhas oceânicas, como os Açores, onde faziam escala para abastecimento dos navios; no entanto, considerando-se a dimensão das ilhas e o processo de desflorestamento que já vinha desnudando-as, havia algumas décadas, tratava-se de um ensaio bastante pobre para o que estava por vir. O que ficou patente bem rápido é que havia muita gente morando nessas matas. Uma quantidade enorme de indígenas falantes 106 Cabral & Bustamante (orgs.)

do Tupi vivia nas terras altas atrás da muralha verde, provavelmente atraídos pela existência de dois grandes rios, o Tietê e o Pinheiros. O planalto delimitado por esses rios era coberto por uma mata tropical entremeada por vegetação mais aberta, os chamados campos. Essa conjugação de rios de grande porte, florestas e campos oferecia enormes quantidade e variedade de recursos. Nesse mosaico ambiental, plantas e animais de diferentes ecossistemas viviam lado a lado. Provavelmente, parte dos campos já era resultado da presença dos indígenas, que queimavam a vegetação para suas lavouras de milho e mandioca. Hoje em dia, esse planalto abriga uma das maiores áreas metropolitanas do mundo, a chamada Grande São Paulo. Os campos ficaram preservados apenas nos nomes das vilas, que depois viraram cidades: São Paulo (dos Campos de Piratininga), Santo André (da Borda do Campo), São Bernardo do Campo, e assim sucessivamente. Das árvores e dos indígenas, restam alguns nomes de rua. Ao norte, a situação é diferente. No Rio de Janeiro, à época da chegada dos primeiros europeus, a ocupação indígena do litoral parecia mais densa. A região serrana era, provavelmente, menos apta à ocupação humana, com relevo mais acidentado e altitudes superiores às do Planalto Paulista. Apesar de culturalmente aparentados – eles também falavam Tupi – os indígenas dessa região eram inimigos daqueles do Planalto Paulista. Havia fronteiras definidas e rivalidade considerável entre as diferentes tribos, ao longo dessa faixa costeira. Houve também momentos de união entre eles, seja contra portugueses, franceses, ou europeus em geral. Além dos Tupi, havia outros grupos linguísticos. Ao que tudo indica, os grupos do tronco Jê também eram numerosos. Conhecidos genericamente como “Tapuias”, “Botocudos” ou “Coroados” – e essa nomenclatura variava tanto que é difícil rastrear grupos individuais ao longo do tempo –, esses grupos eram tanto inimigos quanto aliados dos Tupi e dos portugueses. Alguns deles mantiveram independência por vários séculos, antes de serem efetivamente extintos. Em suma, havia muita gente ocupando essa faixa de Mata Atlântica. A riqueza de idiomas e de práticas culturais era, provavelmente, bem maior do que a da Europa, um complexo mosaico etnolinguístico destruído pela colonização. Até hoje ficamos impressionados com os diferentes costumes e dialetos, em vales vizinhos da Itália, por exemplo, ao mesmo Metamorfoses florestais 107

tempo que, no Brasil, é comum a referência aos “índios” como se fossem um único povo, como se as diferenças entre as línguas e dialetos Tupi e Jê não fossem tão grandes como as diferenças entre os idiomas português e alemão. Por mais interessantes que sejam, esses dados linguísticos e históricos constituem apenas a ponta do iceberg. A Arqueologia consegue nos dar um panorama do que aconteceu, ao longo de milhares de anos; o que perdemos, em termos de detalhe, nós ganhamos, em termos de profundidade. Podemos compor um quadro sobre a história dessas populações, ao longo de centenas de gerações, até chegarmos ao episódio da chegada de Martim Afonso de Souza. Para isso, vamos dar um outro salto no tempo, retrocedendo ao período chamado de “Ultimo Máximo Glacial”, por volta de 18.000 anos atrás.

De onde veio a Mata Atlântica? Nessa visão de longo prazo, é preciso entender onde e como a Mata Atlântica se formou, bem como a relação entre humanos e o mundo ao seu redor. Evidentemente, essa divisão entre “humanos” e “o mundo ao seu redor” é só uma alegoria, uma maneira didática de apresentar as coisas. Na verdade, não há humanos sem “mundo ao seu redor” e, portanto, trata-se de uma separação meramente analítica. No entanto, há que se ressaltar que há mundo sem humanos. E é nesse mundo que mergulharemos agora. Voltamos 18.000 anos no tempo, e estamos agora em uma praia. Atrás de nós, a oeste, há uma ampla planície, que se estende por mais de 100 km, até onde a vista alcança. Essa planície é recoberta por uma vegetação muito parecida com a Mata Atlântica. Na verdade, estamos vendo as formas ancestrais das plantas que viriam a formar a Mata Atlântica avistada, posteriormente, por Martim Afonso de Souza; é como se estivéssemos observando a bisavó da Mata Atlântica. Muito ao longe, há uma cadeia de montanhas, que nem conseguimos enxergar, do ponto onde estamos. Essas montanhas e as terras altas para além delas são muito frias, se comparadas à praia. Lá em cima, há campos parecidos com os Pampas da Argentina. Estamos no último máximo glacial. Em algum momento, o nível do mar vai subir 110 m 108 Cabral & Bustamante (orgs.)

acima do que vemos agora, e aquela serra longínqua vai ser chamada, um dia, de “Serra do Mar”. Toda esta terra e toda a floresta que a recobre ficará embaixo da água. Com o aumento da temperatura, as geleiras derreterão e inundarão as áreas costeiras, “empurrando” a Mata Atlântica terra adentro, serra acima. O clima frio da serra ficará mais ameno, permitindo a colonização por parte das plantas adaptadas às planícies tropicais. E quanto aos humanos? Esse ainda é um tema controverso. Na América do Sul pleistocênica, a presença humana é evidente,2 mas não em todos os lugares. A nossa praia de 18.000 anos atrás até pode ter sido ocupada por humanos, mas está tão profundamente submersa que não somos capazes de explorá-la. Mesmo os locais longe da costa potencialmente contenedores de sítios arqueológicos podem ter experimentado vários eventos de mudança climática rápida,3 resultando em soterramento profundo, em alguns casos, e erosão, em outros. De qualquer maneira, uma densidade demográfica provavelmente muito baixa produziria um padrão altamente disperso de sítios arqueológicos dessa idade. Por fim, a detecção desses sítios exigiria uma prospecção arqueológica dirigida e informada por modelos geológico-geomorfológicos, uma abordagem que ainda engatinha, no Brasil. Em suma, há vários possíveis motivos para não encontrarmos sítios do final do Pleistoceno, nessa faixa atualmente litorânea. A despeito da relativa escassez de dados para os vales e terras baixas, em geral,4 a gradativa subida do nível do mar gera um aumento do sinal polínico – aumento do pólen relacionado a plantas que ficam preservados nos fundos dos lagos – da Mata Atlântica, em vários locais.5 De fato, a maior parte dos dados paleoambientais provêm de topos de montanhas e, portanto, refletem condições um tanto diferentes daquelas reinantes nos terrenos mais baixos.

A presença humana na Mata Atlântica: Primeiros sinais dos paleoíndios Vamos dar agora mais um salto no tempo, 6.000 anos à frente, chegando ao começo do Holoceno, 12.000 anos antes da atualidade. O nível do mar começa a subir de maneira rápida, e agora está Metamorfoses florestais 109

entre 20 e 30 m acima do que estava há 18.000 anos, mas ainda 80 m abaixo da linha de costa em que as naus portuguesas aportaram. A Mata Atlântica continua avançando continente adentro, por conta do aumento das temperaturas, ao mesmo tempo em que perde terreno para o mar. É nesta faixa cronológica, no início do Holoceno, que começamos a deparar com os primeiros sinais visíveis da presença humana, os chamados grupos “Paleoindígenas”, dentro da Mata Atlântica (Figura 1). Há 10.000 anos atrás,6 já existiam grupos humanos acumulando conchas de maneira intencional, formando montículos – os chamados “sambaquis fluviais” –, no médio vale do Ribeira de Iguape, sul do Estado de São Paulo.7 Compostos por conchas de água doce, esses sítios refletem ocupações relativamente distantes da linha de costa, cerca de 120 km em linha reta. No entanto, a presença de alguns artefatos, como dentes de tubarão, sugere interação com a área litorânea.8 De maneira quase concomitante, aparecem vestígios de um outro grupo humano, desta vez ao norte, em São José dos Campos, médio vale do rio Paraíba do Sul. Este grupo é culturalmente distinto dos habitantes do vale do Ribeira de Iguape, pois não acumulam conchas e detêm uma tecnologia de lascamento de pedra bastante refinada, com a confecção de pontas.9 Pouco sabemos sobre este grupo, uma vez que apenas um sítio foi detectado, mas a abundancia de material arqueológico sugere que há muitos outros, na região. Uma datação obtida para o sítio indicou uma idade próxima a 10.000 anos.10 É possível que esses habitantes do Paraíba do Sul fossem relacionados a um outro grupo paleoindígena que também fabricava pontas de pedra lascada, habitante de Pains, na Mata Atlântica do sul de Minas Gerais.11 As idades obtidas para Pains beiram os 11.000 anos.12 Nessas áreas, a presença praticamente simultânea de grupos culturalmente distintos reforça a ideia de que o povoamento da América do Sul não se deu de maneira rápida, e tampouco por uma leva única de migração. Ao contrário, dados relacionados a outros grupos paleoindígenas, habitantes do Cerrado e da Mata de Araucária, dão ainda mais suporte a essa diversidade.13

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Figura 1 – Sítios arqueológicos na Mata Atlântica do sudeste.

O Holoceno Médio: uma explosão cultural Na medida em que o tempo avança e o nível do mar sobe, começamos a ter mais e mais dados a respeito dos grupos humanos que habitavam a Mata Atlântica. O mais visível e numeroso é o que chamamos de “sambaquieiros”, ou seja, os grupos pescadores e coletores do litoral, responsáveis pela acumulação intencional de conchas formando, por vezes, verdadeiras montanhas. É verdade que o “aparecimento” desses sítios arqueológicos, por volta de 8.700 anos atrás Metamorfoses florestais 111

– em pontos tão distantes como o litoral norte do Rio de Janeiro14 e o litoral sul de São Paulo15 – pode refletir apenas uma questão de visibilidade, já que há a possibilidade de sítios mais antigos e também relacionados a recursos costeiros sejam abundantes, embora atualmente submersos. Por outro lado, é igualmente possível que a feição mais conspícua desse grupo, as acumulações de concha, esteja relacionada a condições do Holoceno Médio, quando a temperatura aumenta e o nível do mar chega aos patamares atuais – e até mesmo os ultrapassa, em alguns momentos16 –, com a formação de grandes manguezais e eventuais explosões de recursos marinhos facilmente coletáveis, especialmente moluscos.17 Esses grupos sambaquieiros costumavam enterrar seus mortos dentro dos montes de conchas, o que resultou na preservação de grandes quantidades de esqueletos humanos. Por isso temos uma maior quantidade de dados sobre os construtores de sambaquis, em comparação com outros grupos humanos que habitaram a Mata Atlântica – dados estes que permitem inferências sobre o seu modo de vida e suas características biológicas. Os estudos de antropologia biológica18 apontam que os sambaqueiros eram biologicamente parecidos com os indígenas atuais, mas distintos dos paleoíndios, o que reforça a ideia de que ao menos duas ondas migratórias tenham contribuído para o povoamento das Américas. Na região serrana do sul de São Paulo, os grupos humanos responsáveis pela construção dos sambaquis fluviais continuam em plena atividade. Há fortes sinais de uma duradoura persistência cultural,19 incluindo os contatos com o litoral, o que pode ser percebido nos itens provenientes da costa. Paralelamente, ficam cada vez mais evidentes os sinais da ocupação por grupos que lascavam pontas de pedra, conhecidos na literatura arqueológica como “Tradição Umbu”. Por vezes, essas pontas aparecem sobre os sambaquis fluviais,20 sugerindo reocupação desses locais; na maior parte dos casos, contudo, os sítios Umbu ocupam compartimentos diferentes da paisagem.21 As evidências disponíveis sugerem que esses grupos do Holoceno Médio eram todos caçadores- coletores, mas é importante ter em mente que o uso de vegetais era, provavelmente, bastante disseminado.22 Esses dados sugerem também uma grande diversidade cultural, talvez derivada do que já podia ser observado no início do Holoceno; por exemplo, vastas áreas ao 112 Cabral & Bustamante (orgs.)

longo do vale do Paranapanema apresentam um registro arqueológico que não se encaixa na Tradição Umbu.23 Mesmo em áreas vizinhas, parece ter havido fronteiras bem definidas entre os grupos, como é o caso do Alto Paranapanema (lascamento simples, artefatos unifaciais) e do médio vale do Ribeira (lascamento mais elaborado, pontas bifaciais24). Além disso, mesmo quando há pontas, suas características sugerem que foram manufaturadas por grupos distintos, dependendo da região.25 A presença de caçadores-coletores, na região interiorana do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, também devia ser muito expressiva, mas infelizmente temos poucos dados a respeito, a maior parte deles dispersos em relatórios técnicos e matérias de jornal.26 Em suma, a Mata Atlântica mostra uma diversidade cultural enorme durante o Holoceno Médio, mas o entendimento das relações culturais e cronológicas entre esses grupos ainda está longe de ser alcançado.

Um parêntese: A instabilidade climática do Holoceno Médio Conforme já mencionado, o entendimento da ocupação humana da Mata Atlântica não pode prescindir da compreensão das condições climáticas reinantes, no leste da América do Sul. Durante o Holoceno Médio, houve um aumento das temperaturas em âmbito global, entre aproximadamente 8.300 e 4.800 anos atrás, período chamado de “Altitermal” ou “Hipsitermal”.27 Tal aumento de temperatura causou o derretimento de geleiras e o aumento do nível do mar, resultando em uma transgressão marinha responsável que “afogou” amplas regiões da costa, por volta de 6.000 anos atrás,28 afetando os grupos sambaquieiros. Porém, com o aumento do numero de estudos paleoambientais, ficou cada vez mais claro que, durante esse período de aquecimento global, ocorreram vários períodos mais secos e mais úmidos que certamente causaram impactos na vegetação29 e, obviamente, nos grupos humanos. Vastas áreas do Brasil Central e da Amazônia parecem ter sido abandonadas por grupos humanos durante vários momentos ao longo do Holoceno Médio.30 Provavelmente, esses eventos estimularam a adoção de práticas agrícolas mais sistemáticas – ou seja, o uso intensivo de espécies vegetais já conhecidas havia milênios –, num esforço para se lidar com a imprevisibilidade dos recursos. Metamorfoses florestais 113

Já estamos chegando ao Holoceno Final. Como vimos, a Mata Atlântica já estava ocupada por grupos de caçadores-coletores, e novos contatos culturais vão se desenrolar.

A chegada dos grupos agricultores, no Holoceno Final Umeriuru (“tainha”) e Criambu (“mero”) estavam em uma canoa e viram um grupo de animais andando em pé em uma das pequenas praias que se espremiam entre os costões rochosos. Aqueles não eram homens iguais a eles. Não faziam parte “da gente”. Eram algum tipo de animal que parecia “a gente”, mas ao mesmo tempo era diferente. Não eram também aqueles “comedores-de-cateto” que viviam serra acima. Esses que estavam na praia tinham o corpo colorido, e eram cheios de penas. Estavam agora parados, olhando fixamente para a canoa. Tinham armas, também. Pareciam armas. Deveriam ser armas. Umeriuru, que estava na frente, virou-se bruscamente para Criambu e os dois trocaram apenas um olhar. Imediatamente começaram a remar de volta para a aldeia com todas as forças que tinham. Considerando-se tudo o que os arqueólogos sabem, até agora, pode-se dizer que o episódio narrado nesta pequena peça de ficção de nossa autoria é bastante verossímil. Por volta de 2.000 anos atrás,31 em vários pontos do litoral, começaram a aparecer grupos diferentes dos sambaquieiros, os antigos senhores da costa. É difícil dizer com certeza como foram esses contatos: são inúmeras as possibilidades, desde as mais amistosas às mais violentas. Os grupos invasores eram agricultores, e a cerâmica era um dos traços culturais que traziam. O que sabemos, concretamente, é que essa chegada marca o início do fim para os grupos sambaquieiros. Os grandes amontoados de conchas vão ficando cada vez menores, e por fim desaparecem do registro arqueológico. Embora não tenham travado contato direto com os seus construtores, os europeus conheciam bem os sambaquis, desde o século XVI – dos quais extraíam material para fabricação de cal –, e mantiveram por muito tempo a crença de que aqueles montes de conchas eram naturais. (Afinal de contas, amontoar tantas conchas daria muito trabalho, e os índios eram, “por definição”, preguiçosos.) Por incrível que pareça, essa teoria gerou um debate científico considerável, que se estendeu até os anos 1960.32 114 Cabral & Bustamante (orgs.)

Em termos culturais, sabemos que esses grupos ceramistas que chegavam à Mata Atlântica provinham de duas, ou talvez três, matrizes distintas: a primeira delas é conhecida por “Tradição Tupiguarani”. As características bem definidas da cerâmica, com vasilhames grandes e decorados com motivos específicos, facilitam o trabalho do arqueólogo e fazem dessa tradição uma das mais abrangentes do território brasileiro, estendendo-se da Amazônia ao Rio Grande do Sul. Várias linhas de evidência (arqueológicas, históricas, etnográficas e linguísticas) convergem para a interpretação de que os grupos fabricantes da cerâmica Tupiguarani eram falantes do Tupi. Se aceitarmos esse modelo, então esses grupos vinham de alguma parte da Amazônia33 e teriam se deslocado por eixos diferentes até que uma dessas populações alcançou o litoral do Sudeste, por volta de 3.000 anos atrás.34 Se esses grupos, como indica a cultura material, forem, de fato, os antepassados dos Tupinambá encontrados pelo portugueses, então podemos imaginar que o contato com os sambaquieiros não tenha muito amistoso. Porém, essa pode ser uma analogia muito simplista; por exemplo, os antepassados dos Tupinambá que habitaram o sítio do Morro Grande, em Araruama, região dos lagos fluminense, há 3.000 anos, poderiam ser muito menos belicosos. Seja como for, o fato de termos apenas um sítio com essa idade recuada e, ao mesmo tempo, nenhuma evidência de cerâmica Tupiguarani nos sambaquis vizinhos, na região dos lagos,35 sugere pouca interação cultural, ou então que o sítio Morro Grande constituiu uma primeira tentativa, talvez mal sucedida, de povoamento litorâneo, por parte desse grupo ceramista. A forte presença Tupiguarani, na região de Juiz de Fora, Minas Gerais, atesta a ocupação maciça da Mata Atlântica do planalto por esse grupo desde, pelo menos, 1.300 anos atrás.36 O mesmo pode ser dito para amplas regiões do interior de São Paulo, com idades que recuam, pelo menos, até 1.500 anos atrás.37 Mas essa foi apenas a primeira leva de invasores. Por volta de 1.800 anos atrás,38 uma segunda população ceramista começa a aparecer no registro arqueológico da Mata Atlântica, chamada pelos pesquisadores de “Tradição Una”. A cerâmica desse grupo é caracterizada por vasilhames relativamente pequenos, pouco espessos e sem decoração pintada. Os sítios mais antigos relacionados a essa tradição ocorrem no Cerrado do norte de Minas Gerais, por volta de 3.800 Metamorfoses florestais 115

anos atrás (Gruta do Gentio II39); também são encontrados sítios, na porção centro-leste do país, chegando à Serra do Mar e litoral do Rio de Janeiro e Espírito Santo.40 Por fim, há uma terceira leva, denominada “Tradição Itararé”, visível no litoral de São Paulo, com idade desconhecida,41 e no Médio Vale do Ribeira, há 1.500 anos.42 Na verdade, a cerâmica da Tradição Itararé é bastante parecida com a Una. Existe a possibilidade de que Una e Itararé sejam apenas duas manifestações, levemente diferenciadas ao longo do tempo e do espaço, de um grupo relacionado ao tronco linguístico Jê, e que a Tradição Itararé seja, portanto, derivada da Una.43 O fato é que o impacto cultural verificado entre os sambaquieiros não se repetiu, necessariamente, em todos os lugares. Ao contrário, há evidências da sobrevivência dos grupos caçadores-coletores da Tradição Umbu em alguns locais, especialmente nas áreas montanhosas do médio vale do Ribeira.44 Os construtores dos sambaquis fluviais do sul de São Paulo conseguiram manter sua cultura durante pelo menos 300 anos, após a chegada dos ceramistas da Tradição Itararé, desaparecendo, definitivamente, apenas por volta de 1.200 antes da atualidade.45 Mesmo com esses possíveis casos de sobrevivência de grupos de caçadores-coletores, as evidências sugerem que a Mata Atlântica foi tomada pelos agricultores. Eles dominaram todo o litoral do Espírito Santo, do Rio de Janeiro e de São Paulo.46 Esses diferentes grupos ceramistas tiveram que dividir o mesmo espaço, e as relações sociais podem ter se desenvolvido de várias maneiras. Não são raros os casos em que fragmentos de cerâmica Tupiguarani aparecem em sítios Itararé,47 e vice-versa.48 A cerâmica Una aparece nos topos de sambaquis, quase como um apêndice, em alguns casos, mantendo-se o resto da cultura material,49 o que sugere troca cultural e relações amistosas. Por outro lado, em algumas regiões, é possível perceber verdadeiras fronteiras, com os sítios Tupiguarani chegando até um certo ponto, e sítios Itararé dominando a paisagem dali em diante.50 Em suma, por volta de 1,000 anos atrás, a Mata Atlântica abrigava um grande e variado mosaico de culturas e línguas, um melting pot composto por grupos provenientes das mais diversas partes do continente, descendentes de diferentes levas migratórias. 116 Cabral & Bustamante (orgs.)

Voltando ao verão de 1532 Depois dessa viagem retrospectiva, voltamos a janeiro de 1532, quando Martim Afonso de Souza navegava pela costa do sudeste. Podemos agora entender melhor a verdadeira Babel de que falam os cronistas coloniais, nos séculos seguintes. Aquela miríade de nomes de tribos que aparece, nos relatos históricos, embora possa parecer exagerada, deve ser tomada, na verdade, como uma simplificação. Paulatinamente, essa elevada etnodiversidade vai sendo exterminada ou “assimilada”, através de escravização e todo tipo de coerção cultural e política. Partimos de uma grande variabilidade cultural para um quadro de relativa homogeneidade, com a formação da “sociedade nacional”, para a figura do caipira e do caiçara. Trata-se de um dos mais dramáticos episódios de etnocídio da história humana, com a irreparável perda do conhecimento angariado por esses grupos em relação aos animais e plantas da Mata Atlântica. Do ponto de vista biológico, porém, permanecem rastros desses grupos indígenas. A genética mostra a influência do DNA ameríndio nos habitantes modernos do sudeste brasileiro, independentemente da autoidentificação racial, dos mais “negros” aos mais “brancos”.51 É neste sentido que a Arqueologia da Mata Atlântica fala de nossos ancestrais.

O futuro, um mistério Quando olhamos a paisagem da atual Baixada Santista e deparamos com as chaminés fumegantes de Cubatão; quando avistamos a Baía de Guanabara e o lixo acumulado em suas margens; ou quando vislumbramos, de cima do Pico do Jaraguá, o colchão de poluição sobre a cidade de São Paulo, é difícil não nos perguntarmos onde isso vai nos levar. Embora possa parecer um mero passatempo para alguns, a Arqueologia é uma das poucas disciplinas capazes de nos fornecer uma visão crítica e de longo prazo da trajetória humana, independentemente de documentos escritos ou de como as pessoas querem ser vistas pelas gerações futuras. Com essa visão temporalmente profunda – embora, ao mesmo tempo, um pouco “seca” –, o arqueólogo pode contrastar uma estratégia de convivência humana com a Mata Atlântica que durou dez milênios, sem gerar grande degradação, com uma Metamorfoses florestais 117

estratégia com duração 20 vezes menor, mas que praticamente destruiu o bioma por completo. Se isso não se faz pela irresponsabilidade coletiva (na forma dos governos) se faz pela individual (quando cada um quer seu pedaço do paraíso, de preferência gramado). Não se trata de perpetuar o mito do “bom selvagem”, mas de ressaltar que, durante esses dez mil anos, a sobrevivência da Mata Atlântica esteve atrelada a populações muito menores e providas de tecnologia mais bem adaptada à ecologia local, tanto a caça e coleta quanto a horticultura. No entanto, por algum motivo pouco claro, achamos possível conjugar uma população monstruosa com a absoluta falta de planejamento (inclusive demográfico) e que, no fim, tudo dará certo (por meio do uso de alguma tecnologia miraculosa, que nos salvará52). Conforme ressaltou Betty Meggers: A falha dos habitantes indígenas [...] em desenvolver o que nós consideramos “civilização” não implica estagnação cultural. Ao contrário, seu sucesso em alcançar uma acomodação flexível e sustentável às limitações inerentes ao ambiente e às flutuações climáticas imprevisíveis, é uma realização que ainda não conseguimos igualar, e muito menos ultrapassar.53

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1  QUEIROZ, Dinah Silveira. A muralha. São Paulo: José Olympio, 1954. 2  PARENTI, F. 2001. Le Gisement Quaternaire de Pedra Furada (Piauí, Brésil) - Stratigraphie, Chronologie, Évolution Culturelle. Éditions Recherche sur les Civilisations. Ministére des Affaires Étrangères. 3  ARAUJO, A.G.M. 2013. Geomorfologia e paleoambientes no leste da América do Sul: implicações arqueológicas. In: Rubin, J.C., Silva, R.T. (Orgs.) Geoarqueologia. 1ed. Goiania: Editora da PUC Goiás, p. 135-180. 4  LEDRU, M.-P.; MOURGUIART, P.; RICCOMINI, C. 2009. Related changes in biodiversity, insolation and climate in the Atlantic rainforest since the last interglacial. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology 271: 140-152. 5  BEHLING, H., 1997. Late Quaternary vegetation, climate and fire history from the tropical mountain region of Morro de Itapeva, SE Brazil. Palaeogeography Palaeoclimatology Palaeoecology 129:407– 422; BISSA, W.M.; MIKLÓS, A.A.; MEDEANIC, S.; CATHARINO, E.L.M. 2013. Palaeoclimatic and palaeoenvironmental changes in the Serra de Botucatu (Southeast Brazil) during the Late Pleistocene and Holocene. Journal of Earth Science & Climatic Change 4:134. 6  Idades radiocarbônicas mais antigas: 9,250 ± 50 AP e 8.860 ±60 AP, vide Figuti et al. 2013. Idades calibradas pelo programa CalPal em 10.420 e 9.970 ±150 calAP. Ver WENINGER B., JÖRIS O., DANZEGLOCKE U. 2012. CalPal-2007. Cologne radiocarbon

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