Diagnóstico ambiental das lavanderias de jeans de Toritama, Pernambuco

May 27, 2017 | Autor: Chiara Rêgo Barros | Categoria: Congresso Brasileiro de Automática
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1 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

VI-003 - DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DAS LAVANDERIAS DE JEANS DE TORITAMA - PERNAMBUCO Gilson Lima da Silva(1) Engenheiro Químico pela Universidade Federal de Pernambuco. Mestre em Ciência do Solo pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Doutorando em Engenharia Química pela FEQ/UNICAMP/SP. Supervisor da Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – CPRH, atuando nas áreas de licenciamento e fiscalização industrial. Chiara Rêgo Barros Engenheira Química pela Universidade Federal de Pernambuco. Renata Barbosa de Rezende Engenheira Química pela Universidade Federal de Pernambuco. Endereço(1): Rua Ademar Pires Travasso, 275 - Aptº 102-A - Iputinga - Recife - PE - CEP: 50670-060 - Brasil - Tel: (81) 3453-1640 - e-mail: [email protected] RESUMO O município de Toritama encontra-se localizado no agreste setentrional de Pernambuco a 167 Km do Recife e a 36 Km de Caruaru. Apesar de ser um município pequeno, possui como atividade principal a indústria de confecções e lavanderias industriais. Não obstante essa realidade, a atividade de lavagem do jeans é responsável pelo maior problema de poluição observada naquela região, sendo caracterizado a geração de poluentes hídricos, proveniente da etapa de tingimento das peças de jeans, o qual possui um potencial poluidor elevado. Diante desse grave cenário ambiental, o Órgão Ambiental juntamente com o Ministério Público Estadual, decidiram intervir no processo, iniciando uma campanha de regularização, visando o ajustamento das empresas, o qual teve como premissa à elaboração de um diagnóstico ambiental, visando caracterizar a situação das empresas e avaliar os impactos ambientais ocasionados pela sua atividade. Os resultados obtidos demonstraram que do universo inicial estimado de 100 empresas, apenas 48 realmente estavam funcionando, das quais foram firmados Termos de Ajustamento de Conduta (TAC’s) entre as lavanderias, Órgão Ambiental e o Ministério Público, com objetivo de enquadramento às normas ambientais vigentes; O presente trabalho tem como objetivo apresentar os resultados do referido diagnóstico ambiental, identificando os principais problemas ambientais observados nas lavanderias vistoriadas, apresentando os avanços já alcançados a partir de uma experiência exitosa da ação conjunta do poder público, representado pelas instituições atuantes, ou seja, a CPRH e o Ministério Público Estadual. PALAVRAS-CHAVE: Lavanderia, Diagnóstico Ambiental, Indústria Têxtil, Poluição Hídrica, Resíduos Sólidos.

INTRODUÇÃO O município de Toritama encontra-se localizado no agreste setentrional de Pernambuco a 167 Km do Recife e a 36 Km de Caruaru. Apesar de ser um município pequeno, possui como atividade principal à indústria de confecções e lavanderias industriais, sendo responsável por 14% da produção de jeans no País, produzindo cerca de dois milhões de peças/ano, o que qualifica o município a apresentar taxas de desemprego próximas a zero. Não obstante essa realidade, a atividade de lavagem do jeans é responsável pelo maior problema de poluição observada naquela região, sendo caracterizado a geração de poluentes hídricos, proveniente da etapa de tingimento das peças de jeans, o qual possui um potencial poluidor elevado, em função da formulação dos corantes e outros aditivos, que conferem ao efluente final, além de coloração acentuada elevada níveis de DBO, DQO e metais pesados. Essa poluição é potencializada levando-se em conta que a grande maioria das lavanderias realizam o descarte dos seus efluentes sem tratamento, diretamente no Rio Capibaribe, o qual é o principal manancial de abastecimento de água daquela região. Como se não bastasse, o processo ainda gera emissões atmosféricas provenientes da queima inadequada de lenha como combustíveis nas caldeiras, comprometendo a qualidade do ar daquele município. Por outro lado, a lenha utilizada é geralmente adquirida

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2 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental de forma irregular de outros estados vizinhos, contribuindo para a degradação dos últimos remanescentes de mata nativa. Para completar ainda observa-se a geração de resíduos sólidos, alguns caracterizados segundo a Norma ABNT 10.004, como Classe I – Perigosos, os quais também são gerenciados de forma inadequados, geralmente encaminhados para o lixão do município, aumentando o risco de transmissão de doenças para a população. Diante desse grave cenário ambiental, a CPRH juntamente com o Ministério Público Estadual, decidiram intervir no processo, iniciando uma campanha de regularização, visando o ajustamento das empresas, o qual teve como premissa à elaboração de um diagnóstico ambiental, visando caracterizar a situação das empresas e avaliar os impactos ambientais ocasionados pela sua atividade. O presente trabalho tem como objetivo apresentar os resultados do referido diagnóstico ambiental, identificando os principais problemas ambientais observados nas lavanderias vistoriadas, apresentando os avanços já alcançados a partir de uma experiência exitosa da ação conjunta do poder público, representado pelas instituições atuantes, ou seja, a CPRH e o Ministério Público Estadual.

MATERIAIS E MÉTODOS A metodologia adotada foi definida através de um a estratégia de planejamento entre as diversas instituições envolvidas, na qual foram estabelecidas as principais linhas de ação a serem trabalhadas. A abrangência da amostragem contemplou a área de abrangência do município, perfazendo um universo estimado de 100 empresas, entre médio e pequeno porte. Foram definidas seis etapas para realização do Diagnóstico Ambiental: (1) Elaboração de um formulário padrão para levantamento das informações em campo; (2) Elaboração de um banco de dados utilizando palm-tops na pesquisa de campo; (3) Visita, levantamento fotográfico e identificação georeferenciada de todas as lavanderias localizadas no município de Toritama; (4) Sistematização dos dados; (5) Apresentação dos resultados; (6) Publicação dos resultados. Na fase de elaboração do questionário foi proposto o levantamento de dados sobre: dados da empresa, fonte de abastecimento, quantidade de resíduos gerados e destino dos mesmos, combustíveis utilizados, destino dos efluentes sanitários e industriais, quantidades de jeans processado. As lavanderias visitadas foram fotografadas e coletadas amostras para caracterização de sua carga poluidora O objetivo das informações coletadas foi de conhecer a tipologia para avaliar, inicialmente, os diferentes impactos ambientais gerados por seus poluentes.

RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados obtidos demonstraram que do universo inicial estimado de 100 empresas, apenas 50 realmente estavam funcionando. Das lavanderias visitadas, cerca de 93% são de pequeno porte (até 1000 m2) e 7% de médio porte (até 8000 m2), conforme Figura 1. PORTE DAS LAVANDERIAS 7%

93%

Até 1000 m2

de 1001 à 8000 m2

Figura 1: Distribuição do porte das lavanderias.

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3 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Quanto ao licenciamento ambiental, todas as empresas encontravam-se operando de forma irregular, ou seja, não possuíam a licença de operação. Da mesma forma, 67% não possuíam o alvará de funcionamento da Prefeitura, demonstrando um índice elevado de clandestinidade perante o poder público municipal. LlCENCIAMENTO AMBIENTAL

ALVARÁ DE FUNCIONAMENTO 33%

67%

100% 0%

Sem Licenciamento

Com Alvará

Com Licenciamento

Figura 2: Situação do licenciamento

Sem Alvará

Figura 3: Situação do funcionamento

Os dados de abastecimento de água das lavanderias demonstram que cerca de 93% da quantidade de água utilizada é proveniente de caminhão pipa, geralmente com índices de qualidade comprometida em função da captação de fontes de abastecimento inadequadas. Por outro lado, a grande maioria (em torno de 70%) descarta seus efluentes industriais sem tratamento diretamente na rede pluvial do município, o qual termina atingindo indiretamente o principal corpo receptor da região, no caso o Rio Capibaribe, corroborando para o comprometimento de sua qualidade ambiental. DESTINO FINAL DOS EFLUENTES INDUSTRIAIS

QUANTID ADE DE ÁGUA UTILIZADA

Riacho

2%

3%

93%

Poço

5%

Carro pipa

3% 5%

Rede pluvial Céu aberto

3%

16%

70%

Outros

Rio Capibaribe

Figura 4: Procedência da água utilizada

Terreno de terceiros Via pública

Figura 5: Destino dos efluentes industriais

Quanto às emissões atmosféricas, foi observado que o principal combustível utilizado nas caldeiras por cerca de 70% das lavanderias é a lenha, geralmente clandestina, proveniente de estados vizinhos. Este cenário é agravado pelo fato de que 85% das lavanderias não possuirem sistemas de controle da poluição atmosférica.

COMBUSTÍVEIS UTILIZADOS 69,383%

9% 00 29,119% 0,

0,037%

1,453% Lenha

Briquetes

Retraços de Tecido

Óleo BPF

GLP

Figura 6: Percentual dos combustíveis utilizados

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4 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental CONCLUSÕES - Cerca de 70% dos efluentes industriais e sanitários gerados pelas lavanderias são descartados sem tratamento na rede pluvial; - A maioria das empresas, cerca de 85%, não possui sistema de controle da poluição atmosférica; - Foram apresentados pelas lavanderias cerca de 400 projetos de sistemas de controle da poluição para análise pelo Órgão Ambiental, o qual estabeleceu após aprovação prazo de 12 meses para sua implantação; - Foram firmados 50 Termos de Ajustamento de Conduta (TAC’s) entre as lavanderias, Órgão Ambiental e o Ministério Público, com objetivo de enquadramento às normas ambientais vigentes; - Foram interditadas provisoriamente pelo Ministério Público, mediante fiscalização do Órgão Ambiental, cerca de 10 lavanderias por descumprimento do Termo de Ajustamento de Conduta.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2.

CPRH. Relatório Ambiental das Lavanderias de Toritama. CPRH. Recife, 2004. CPRH/FNMA. Inventário Nacional dos Resíduos Sólidos Industriais - Pernambuco. Convênio CPRH/FNMA. Recife, 2003. 3. SILVA, G.L & PAWLOWSKY, U. Controle Ambiental dos Matadouros em Pernambuco. Anais. 22º Congresso da Abes, Joinville, 2003. 4. SILVA,G.L.; SALES, R.A.R; SOARES, P.S.C e RAMOS, D.S. Controle Ambiental no Complexo Industrial de Suape. Anais 22º Congresso da Abes, Joinville, 2003.

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