DIAGNOSTICO DA FAUNA SILVESTRE RECEBIDA E RESGATADA PELO INSTITUTO ECOLÓGICO BÚZIOS DE MATA ATLÂNTICA AOS ARREDORES DA AREA DE PROTECAO AMBIENTAL PAU-BRASIL NA REGIAO DOS LAGOS

June 3, 2017 | Autor: B. Corrêa Barbosa | Categoria: Ecology, Zoologia
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DIAGNOSTICO DA FAUNA SILVESTRE RECEBIDA E RESGATADA PELO INSTITUTO ECOLÓGICO BÚZIOS DE MATA ATLÂNTICA AOS ARREDORES DA AREA DE PROTECAO AMBIENTAL PAU-BRASIL NA REGIAO DOS LAGOS Bruno Corrêa Barbosa1; Tatiane Tagliatti Maciel1; Mariana Paschoalini Frias1; Pedro Dutra Lacerda2 (1) Laboratório de Ecologia Comportamental e Bioacústica (LABEC), UFJF, 36036-900 Juiz de Fora, MG, Brasil. (2) Instituto Ecológico Búzios de Mata Atlântica (IEBMA), Armação de Búzios, RJ, Brasil.

RESUMO: Este estudo objetivou o levantamento das espécies silvestres recebidas voluntariamente ou resgatadas na Região dos Lagos no estado do Rio de janeiro no ano de 2011, visando identificar aquelas ameaçadas de extinção, quantificar os grupos mais apreendidos e conhecer a destinação dada aos espécimes. Foram analisados os registros obtidos do Instituto Ecológico Búzios Mata Atlântica, OMG responsável pela Área de proteção Ambiental Pau-Brasil e região. Constatou-se a apreensão de 181 animais do total de animais apreendidos, 51% eram mamíferos, 25% répteis, 24% aves e 1% peixes, entre os quais, 13 espécies constam na Lista das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção. PALAVRA-CHAVE: Apreensão, conservação, rio de janeiro

INTRODUÇÃO A nomenclatura fauna silvestre conceitua um grupo de animais de uma região, sendo essa fauna não somente encontrada em mata ou florestas, e sim na vida natural em liberdade, podendo também ser encontrada em centros urbanos (MACHADO, 1998). A fauna brasileira apresenta enorme quantidade de espécies, por causa de biomas com redes de interações complexas e endêmicos, abrigando em torno de 10% do total de espécies animais existentes no mundo. No entanto, a história mostra que a riqueza da fauna já vem sendo explorada de forma descontrolada desde da época da colonização coloniais (SANTOS & CÂMARA, 2002). São inúmeros os fatores que ocasionam prejuízo à fauna silvestre, sendo muitos deles de caráter irreversível. A busca por desenvolvimento econômico industrial, agrícola ou florestal

está

entre

os

principais

fatores

de

pressão

sobre

áreas

naturais

e

consequentemente sobre a fauna. Até o final do século passado estes benefícios eram julgados como inesgotáveis e o homem podia dispor livremente dos mesmos (VIDOLIM et al. 2004). Outro fator que se deve destacar como ameaça é o tráfico de animais silvestres,

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considerado o terceiro maior comércio ilícito do mundo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e armas (BORGES et al. 2006). Por ser tratar de uma atividade ilegal é difícil calcular a movimentação financeira, mas estima-se em torno de US$ 10 a 20 bilhões por ano, onde o Brasil contribui com aproximadamente 5% a 15% deste total (BORGES et al. 2006). O tráfico de animais retira anualmente da natureza cerca de 38 milhões de exemplares de diferentes grupos de organismos do planeta (RENCTAS, 2001). Embora exista no Brasil um conjunto de leis para nortear as ações dos traficantes de animais, observamos a falta de uma política direcionada para coibir este tipo de crime. Para cada animal comercializado são mortos pelo menos três espécimes (REDFORD, 1992) A fauna silvestre tem importância fundamental na manutenção e preservação da biodiversidade, atuando sobre a vegetação e a cadeia alimentar, retirando dela energia para garantir sua sobrevivência (ZAGO, 2008). Também constitui um recurso primário e sua presença na natureza é um índice de integridade e vigor do ambiente No Brasil há poucos Centros de Triagem de Animais Silvestre (CETAS) controlados por órgãos ambientais do governo como IBAMA, Secretarias Estaduais e Regionais. Ações como medidas mitigatórias relacionadas a atividades industriais de empresas particulares e o surgimento de instituições e ONGs ajudam a suprir a necessidade desses centros no Brasil. Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho foi relatar os dados obtidos a partir das atividades de fiscalização, entregas espontâneas e resgate de animais silvestres pelo Instituto Ecológico Búzios de Mata Atlântica da Área de Proteção Ambiental Pau-Brasil localizada na cidade de Armação de Búzios, estado do Rio de Janeiro, Brasil. MATERIAL E MÉTODOS O desenvolvimento das atividades ocorreu a partir de informações registradas no Instituto Ecológico Búzios Mata Atlântica (IEBMA), na Área de proteção Ambiental PauBrasil na cidade de Armação de Búzios, estado do Rio de Janeiro, no período correspondente de 2011. Considerou-se resgate ou recolhimento a captura dos animais feita pelo IEBMA por solicitação da população, secretaria de Meio Ambiente Municipal, Bombeiros e pela Policia Militar Ambiental das cidades de Armação de Búzios, Cabo Frio e Arraial do Cabo. Caracteriza-se pela entrega espontânea do espécime, efetuada por um cidadão que encontrou ou mantinha ilegalmente sob sua guarda. Foram registradas entradas dos animais e também foram recolhidas informações como: identificação taxonômica a nível hierárquico de espécie quando possível, dados quantitativos e destinação dos animais.

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Após

identificação

das

espécies,

aquelas

consideradas

ameaçadas

foram

consultadas na Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (MACHADO et al., 2008) para confirmação do status de conservação. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram registrados 181 animais, distribuídos em 4 classes e sub-divididas em 38 espécies; classe Mammalia (N=93) com 13 espécies, classes das Aves (N=44) com 13 espécies, classe Reptilia (N=43) com 11 espécies e classe dos Peixes (N=1). Entre as 38 espécies recebidas pelo IEBMA, 13 espécies constam na lista oficial de animais ameaçados de extinção (Machado et al 2008) (Tab. 1).

Tabela1: Animais resgatados que constam na listagem de animais ameaçados de extinção. EM - Em Perigo, CR - Criticamente em perigo, VU - Vulnerável. Classe

Nome Popular

Mico-leão Mamíferos Preguiça-de-coleira Tamanduá-mirim Baleia-Mink-Anã Golfinho-de-DentesRugosos Macaco-prego Tartaruga-Verde Tartaruga-de-Couro Repteis Tartaruga-Cabeçuda Tartaruga-Pente Tartaruga-Oliva Aves Pinguins-de-Magalhaes Pardela

Nome Cientifico Leontopithecus rosalia Bradypus torquatus Tamandua tetradactyla Baleanoptera acutorostrata Steno bredanensis Cebus libidinosus Chelonia mydas Dermochelys coriacea Caretta caretta Eretmochelys imbricata Lepidochelys olivacea Spheniscus magellanicus Procellaria sp

Nível de Perigo EM VU VU EM EM VU VU CR EM EM EM VU VU

Uma das dificuldades encontradas no estudo foi a determinação dos animais até nível de espécie, tendo em vista que eles, em sua maioria, estavam identificados nos documentos oficiais apenas por nomes populares. Por esse motivo, fez-se necessária uma vasta revisão sobre taxonomia e questionamentos, e em alguns casos por falta de dados confiáveis não foi possível a identificar até nível de espécie para alguns indivíduos. Dos 181 animais em tratamento e ou em reabilitação no IEBMA, 135 (74,58%) foram destinados ou reabilitados, somente 45 (24,86%) animais faleceram durante o tratamento por motivos diversos, como estresse de manipulação, ferimentos e ou patologias (Tab. 02). Os mamíferos foram o maior número de registros, em especial os gambás (Didelphis sp) totalizando 60 indivíduos jovens, seguido do Mico-estrela (Callithrix penicillata) com 6

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indivíduos e em terceiro o Ouriço-Caixeiro (Sphigurus villosus) com 5 indivíduos. Essa excessiva quantidade de indivíduos de gambás devesse a dois fatores, por sua grande capacidade de adaptação e sua capacidade de reprodução, no qual uma única fêmea pode gerar ate 11 filhotes (PASSAMANI, 2000; PIRES et al., 2002). No grupo do repteis, a Tartaruga-Verde (Chelonia mydas) com 15 indivíduos seguidos do Teiú (Tupinambis merianae) e das Cobras-Cipó (Philodryas olfersii) ambos com 5 indivíduos cada. A Tartaruga-Verde teve mais da metade de sua indivíduos mortos por ingestão de resíduos antropológicos, visto que esses animais ingerem equivocadamente os resíduos, porque os confundem com alimentos naturais, como águas vivas e peixes, apresentando uma baixa seletividade ao se alimentarem (ALMEIDA et al., 2011) Nas

aves

os

Pinguins-de-Magalhães

(Spheniscus

magellanicus)

foram

representados com 16 indivíduos, seguido de 6 Gaivotões (Larus dominicanuse) e AtobasPardo (Sula leucogaster) com 4 indivíduos, A migração dos Pinguins-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) está relacionada com há a penetração da corrente das Malvinas fazendo os animais se perderem durante a imigração, também foi recebido um único peixe da espécie Nero (Epinephelus itajara) por entrega espontânea. O número de animais não ter ultrapassado 150 indivíduos, pode estar relacionado a dois fatores, ás poucas operações de repressão ao tráfico nas principais rotas de escoamento ou de uma educação ambiental e conscientização da população eficaz, pois se comparado a outros estudos, como o de Borges et al. (2006) que obteve uma média de 814 espécimes ao ano, apreendidas ou recebida na cidade de Juiz de Fora durante o período de dois anos e Bastos et al (2008) com 1711 indivíduos apreendidos ao ano durante oito anos de levantamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Como não foi possível a identificação de todos os animais com precisão, preferiu-se optar pela não identificação de todos os animais por espécie, sendo na maioria dos casos identificados até gênero, devido à similaridade das espécies desse gêneros. Observa-se nesta situação, que seria imprescindível que os documentos oficiais estivessem preenchidos de forma correta ou acompanhados de fotos e os animais identificados por técnicos habilitados. Visto isso são necessários estudos para maximizar as operações de tráficos na região assim como manter os planos de educação ambiental que sensibilizem a população sobre o impacto da retirada de espécimes de seus habitas e, que combatam o tráfico de animais, assim como continuar com os monitoramentos de resgate na região evitando maiores riscos de declínio da população destas espécies em perigo de extinção.

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Tabela 2: Números de indivíduos recebidos/resgatados pelo Instituto Ecológico Búzios Mata Atlântica, na Área de proteção Ambiental Pau-Brasil no período correspondente de 2011. AR – Animais Recebidos; RE - Reabilitados Classe

Nome Popular

Cuícas Tamanduá Mirim Leão Marinho Gambás Quatis Macaco-Prego Mamíferos Mico-Leão-Dourado Mico-Estrela Preguiça-de-Coleira Ouriço-Cacheiro Baleia-Mink-Anã Golfinho-Dentes-Rugosos Veado-catingueiro Tartaruga Verde Tartaruga de Couro Tartaruga Cabeçuda Tartaruga Pente Tartaruga Oliva Repteis Iguanas Teiús Jabuti Jiboias Cobra Cipó Jararacas Pinguins-de-Magalhaes Tucano Coruja-do-Mato Coruja-Buraqueira Suindara Sabia-Laranjeira Aves Coleirinho Gaivotão Fragata Pardela-de-óculos Atoba Pardo Carcara Gavião Carijó Peixes Mero

Nome Cientifico Cryptonanus chacoensis Tamandua tetradactyla Otaria flavescens Didelphis sp. Nasua nasua Cebus libidinosus Leontopithecus rosalia Caletrix penicillata Bradypus torquatus Chaetomys subspinosus Baleanoptera acutorostrata Steno bredanensis Mazama gouazoubira Chelonia mydas Dermochelys coriacea Caretta caretta Eretmochelys imbricata Lepidochelys olivacea Iguana iguana Tupinambis teguixim Geochelone dendiculata Boa constrictor Philodryas olfersii Bothrops sp Spheniscus magellanicus Ramphastos toco Strix virgata Athene cunicularia Tyto alba Turdus rufiventris Sporophila caerulescens Larus dominicanus Fregata magnificens Procellaria conspicillata Sula leucogaster Caracara plancus Rupornis magnirostris Epinephelus itajara

AR Óbito RE 7 3 1 60 2 2 1 6 3 5 1 1 1 15 4 2 1 1 2 5 3 3 5 2 16 1 1 4 1 3 2 6 2 1 4 1 2 1

0 0 0 0 0 1 1 2 0 0 1 1 1 9 4 1 1 0 0 2 0 0 2 0 10 1 0 1 1 1 0 0 2 1 2 0 0 0

7 3 1 60 1 1 0 4 3 5 0 0 0 6 0 1 0 1 2 3 3 3 3 2 6 0 1 3 0 2 2 6 0 0 2 1 2 1

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Antônio de Pádua et al. Avaliação do estado de conservação da tartaruga marinha Chelonia mydas (Linnaeus, 1758) no Brasil.. Biodiversidade Brasileira, n.1, p. 1219, 2011.

BASTOS, Lilian Freitas et al. Apreensão de espécimes da fauna silvestre em Goiás: situação e destinação. Biologia Neotropical, v. 5, n. 2, p. 51-63, 2008.

BORGES, R. C. et al. Diagnóstico da fauna apreendida e recolhida pela Polícia Militar de Meio Ambiente de Juiz de Fora, MG (1998 e 1999). Revista Brasileira de Zoociências, v. 8, p.23-33, 2006. MACHADO, Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 1998.

MACHADO, Angelo Barbosa Monteiro; DRUMMOND, Gláucia Moreira; PAGLIA, Adriano Pereira (Org.). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. 1 ed Brasília, DF: MMA; Belo Horizonte, MG: Fundação Biodiversitas, 2008.

PASSAMANI, Marcelo. Análise da comunidade de Marsupiais em Mata Atlântica de Santa Teresa, Espírito Santo. Boletim do Museu de Biologia Mello Leitão. V.11/12 p. 215-228, 2000.

PIRES, Alexandra S. et al. Frequency of movements of small mammals among Atlantic Coastal Forest fragments in Brazil. Biological Conservation. V 108. p.229-237, 2002.

REDFORD, Kent. H. The Empty Forest. Bioscience, v. 42, n. 6, p. 412-422, 1992.

RENCTAS. Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais. 1º Relatório nacional sobre o tráfico de animais silvestres. 107 p, 2001.

SANTOS, Thereza Christina Carvalho; CÂMARA, João Batista Drummond. Geo Brasil 2002: perspectivas do meio ambiente no Brasil. Brasília, DF: IBAMA, 2002.

VIDOLIN, Gisley Paula et al. Programa Estadual de Manejo de Fauna Silvestre Apreendida. Cadernos da Biodiversidade, Curitiba, v. 4, p. 37 – 49, 2004.

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ZAGO, Daniane Cioccari. Animais da fauna silvestre mantidos como animais de estimação. Monografia (Especialização em Educação Ambiental) – Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria, 2008.

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