DIAGNÓSTICO DOS MÉTODOS DE CURADORIA E CONSERVAÇÃO ARQUEOLÓGICA APLICADOS NO LEPA-UFSM (DE 1995 A 2014) TRABALHO DE CONCLUSÃO DE GRADUAÇÃO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS CURSO DE HISTÓRIA

DIAGNÓSTICO DOS MÉTODOS DE CURADORIA E CONSERVAÇÃO ARQUEOLÓGICA APLICADOS NO LEPA-UFSM (DE 1995 A 2014)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE GRADUAÇÃO

Marjori Pacheco Dias

Santa Maria, RS, Brasil 2016

DIAGNÓSTICO DOS MÉTODOS DE CURADORIA E CONSERVAÇÃO ARQUEOLÓGICA APLICADOS NO LEPA-UFSM (DE 1995 A 2014)

Marjori Pacheco Dias

Trabalho de Conclusão de Graduação apresentado ao Curso de História – Licenciatura e Bacharelado, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel e Licenciada em História.

Orientadora: Profª. Mrª. Luciana Oliveira Messeder Ballardo

Santa Maria, RS, Brasil 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS CURSO DE HISTÓRIA – LICENCIATURA PLENA E BACHARELADO

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusão de Graduação

DIAGNÓSTICO DOS MÉTODOS DE CURADORIA E CONSERVAÇÃO ARQUEOLÓGICA APLICADOS NO LEPA-UFSM (DE 1995 A 2014)

elaborado por

Marjori Pacheco Dias

como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel e Licenciada em História

COMISSÃO EXAMINADORA:

Luciana Oliveira Messeder Ballardo, Mrª. (UFBA) (Presidente/Orientadora)

Jaime Mujica Sallés, Dr. (UFPel)

André Luís Ramos Soares, Dr. (UFSM)

Santa Maria, 17 de Junho de 2016.

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço à Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da UFSM que viabilizou a conclusão deste trabalho e de todas as demais atividades realizadas por mim no âmbito da universidade, através da concessão do Benefício Socioeconômico, pois sem este eu jamais teria condições de sair da minha cidade em busca da realização dos meus sonhos. Agradeço a todos os professores do Curso de Graduação em História por compartilharem um pouco de sua sabedoria, que, com certeza, foram de muita valia para minha formação acadêmica e profissional. Ao professor Saul Milder (in memorian), a quem eu devo todo o conhecimento de arqueologia que adquiri ao longo dos dois anos e meio convividos com ele e nunca tive a oportunidade de agradecer. Seus ensinamentos me impulsionaram a continuar, mesmo quando todos pareciam julgar a curadoria arqueológica como tema de pesquisa, ele sempre acreditou que esta área tinha potencial para ir avante e, infelizmente, não pôde ver a conclusão deste trabalho. Obrigada por todo o apoio, a compreensão e o carinho que sempre depositou a mim e aos colegas do LEPA. Os preparos de amostras para datação que realizávamos juntos no retorno das escavações ficará pra sempre em minha memória! Agradeço igualmente à minha orientadora Luciana Ballardo, por todas as orientações ao longo destes quatro anos de graduação, os conselhos, as conversas informais, os risos e as angústias compartilhadas. Pelas vezes que defendeu a importância das nossas linhas de pesquisa, e que muito antes disso se tornou a melhor amizade que estabeleci em Santa Maria, não medindo esforços em nenhum momento para me oferecer todo o apoio que precisei, muito obrigada! Sentirei imensas saudades com o distanciamento físico, mas tenho certeza que ainda vamos realizar muitos projetos juntas. E da mesma forma, agradeço aos seus familiares, sempre compreensíveis quando Luciana deixava de passar seu tempo com eles para me atender, além de me receberem inúmeras vezes em sua casa para almoços e cafés, tendo que ouvir nossas conversas sobre arqueologia e museologia. Ao professor André Soares, por ter assumido a coordenação do LEPA num momento tão delicado, permitindo que as pesquisas em andamento tivessem continuidade e que este trabalho se concluísse. À minha família, por terem me apoiado a todo momento, por suportarem a saudade causada pela distância em prol da minha formação, por torcerem e orarem por mim. Tudo só foi possível graças a eles, e se hoje vejo meu sonho de me tornar licenciada e bacharel em

História prestes a se realizar é porque eu sempre os tive ao meu lado me dando todo o suporte emocional e auxílio financeiro que precisei. Agradeço imensamente ao meu namorado Anderson Ferraz, que há mais de três anos tem sido tão paciente em todos os finais de semestre da faculdade, quando me via tão atarefada que descontava todo o estresse nele, especialmente neste contexto de TCG. Por todo o companheirismo, o carinho, e principalmente por me mostrar que poderei sempre contar com você ao meu lado, minhas mais sinceras desculpas por todos os incômodos que lhe causei, e muito obrigada! Agradeço também à sua família, que me acolheu como um dos seus e nunca permitiu que nada me faltasse. A todos os colegas do LEPA pelos anos de convívio, pela troca de informações e até mesmo pelas discussões. Agradeço especialmente à Luana Souza, por todo o companheirismo e sonhos compartilhados. Desejo a você meus mais sinceros votos de sucesso acadêmico e profissional e que possamos nos manter sempre amigas. Ao meu grande amigo Jaime Paim, que me acolheu num momento de dificuldade, me oferecendo abrigo e conforto. Igualmente agradeço seus familiares, que me receberam em sua casa e me dispuseram confiança. Muito obrigada. Às amigas Izadora Dorneles e Francieli de Vargas, que tornaram a minha mudança para Santa Maria menos complicada e mais agradável. Saibam que vocês foram as melhores colegas de apartamento que tive e sempre me lembrarei de vocês com muito carinho. Agradeço imensamente às amigas Sandi Mumbach e Sabrina Cauduro por nossas vidas se cruzarem e tornarem nosso final de graduação muito mais interessante. Por todos os desafios que enfrentamos juntas, pelos cafés, brigadeiros e pipocas em meio a tantas risadas e brincadeiras, sempre pensarei em vocês como um presente que a Universidade me deu! Por último, mas não menos importante, agradeço a Deus por ter sido comigo a todo momento, que nunca me deixou desamparada e não permitiu que eu desistisse frente a todas as dificuldades, e muito pelo contrário, me deu forças para que as superasse. Muito obrigada meu Deus, e que o Senhor me conceda a oportunidade de ver várias outras bênçãos sendo derramadas sobre a minha vida e de minha família.

RESUMO

DIAGNÓSTICO DOS MÉTODOS DE CURADORIA E CONSERVAÇÃO ARQUEOLÓGICA APLICADOS NO LEPA-UFSM (DE 1995 A 2014) AUTORA: Marjori Pacheco Dias ORIENTADORA: Luciana Oliveira Messeder Ballardo

Este trabalho se propõe a fazer um levantamento dos métodos curatoriais e conservativos aplicados no Laboratório de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal de Santa Maria, a partir da primeira campanha de campo realizada com portaria emitida pelo SPHAN (Nº 89, de 11/05/1995), até 2014, quando se realizou os trabalhos mais recentes deste cunho, referente aos materiais coletados na última campanha de campo efetuada pelo Laboratório em 2013 (portaria Nº 61, de 11/12/2013, emitida pelo IPHAN). Desta forma, a problemática de pesquisa é investigar a aplicação progressiva e o aprimoramento teóricometodológico das técnicas curatoriais e conservativas desenvolvidas no LEPA-UFSM, considerando o parâmetro nacional na área de curadoria arqueológica, através de duas abordagens: a análise das monografias, dissertações e teses publicadas sobre o acervo coletado nessas campanhas de campo com portarias, identificando as menções sobre o trabalho de curadoria que foi ou não realizado; e posteriormente, a verificação empírica da aplicação dessas técnicas no material arqueológico.

Palavras-Chave: Curadoria; Arqueologia; LEPA-UFSM.

RESUMEN DIAGNÓSTICO DE LOS MÉTODOS DE CURADORÍA Y CONSERVACIÓN ARQUEOLÓGICA APLICADOS EN EL LEPA-UFSM (DE 1995 A 2014) AUTORA: Marjori Pacheco Dias TUTORA: Luciana Oliveira Messeder Ballardo

Este trabajo se propone a hacer un levantamiento de los métodos curatoriales y conservativos aplicados en el Laboratório de Estudios e Investigaciónes Arqueológicas de la Universidad Federal de Santa Maria, a partir de la primera campaña de campo realizada con ordenza emitida por el SPHAN (Nº 89, de 11/05/1995), hasta 2014, cuando se realizó los últimos trabajos de esta naturaleza, en referencia a los materiales recogidos en la última campaña de campo llevado a cabo por el laboratorio en 2013 (Ordenanza Nº 61 del 12/11/2013, emitido por el IPHAN). Por lo tanto, el problema de investigación es comprender la aplicación progresiva y la mejora teórica y metodológica de las técnicas curatoriales y conservativas desarrolladas en LEPA-UFSM, teniendo en cuenta la norma nacional en el área de cuaradoría arqueológica a través de dos enfoques: el análisis de las monografías, disertasiones y tesis publicadas sobre las colecciones recogidas en estas campañas de campo con ordenanzas, identificando lo que es dicho sobre la curadoría que se lleva a cabo o no; y más tarde, la verificación empírica de la aplicación de estas técnicas en el material arqueológico.

Palabras-clave: Curadoría; Arqueología; LEPA-UFSM.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.........................................................................................................

11

CAPÍTULO 1 – RECORTE TEMPORAL-ESPACIAL.......................................

14

1.1 BREVE HISTÓRICO DO LEPA.......................................................................... 14 1.2 O LEPA E SUAS PRINCIPAIS CAMPANHAS DE CAMPO ACADÊMICAS..........................................................................................................

17

1.2.1 Estância Velha do Jarau..................................................................................

17

1.2.2 São Martinho da Serra....................................................................................

19

1.2.3 Pedra Grande...................................................................................................

21

1.2.4 Cerritos.............................................................................................................. 22 1.2.5 Santa Clara.......................................................................................................

23

1.2.6 Areal..................................................................................................................

29

CAPÍTULO 2 – REFLEXÕES CONCEITUAIS ..................................................

30

2.1 PATRIMÔNIO...................................................................................................... 30 2.1.1 Patrimônio Arqueológico................................................................................. 30 2.2 CURADORIA....................................................................................................... 32 2.3 CONSERVAÇÃO................................................................................................. 32 2.3.1 Conservação preventiva................................................................................... 33 2.3.2 Fatores de deterioro......................................................................................... 34 2.3.2.1 Metais..............................................................................................................

38

2.3.2.2 Líticos..............................................................................................................

40

2.3.2.3 Cerâmicas.......................................................................................................

41

2.3.2.4 Vidros..............................................................................................................

44

2.3.2.5 Ossos...............................................................................................................

45

2.3.3 Conservação curativa....................................................................................... 46 CAPÍTULO 3 – ANÁLISES DOS MÉTODOS ..................................................... 49 3.1 ARROLAMENTO E DESCRIÇÃO DOS MÉTODOS DESENVOLVIDOS NO LEPA....................................................................................................................

49

3.1.1 Estância Velha do Jarau..................................................................................

50

3.1.1.1 Metais..............................................................................................................

50

3.1.1.2 Cerâmica Colonial..........................................................................................

54

3.1.1.3 Vidros..............................................................................................................

55

3.1.1.4 Ossos...............................................................................................................

55

3.1.2 Sítio São Martinho da Serra............................................................................ 57 3.1.2.1 Líticos.............................................................................................................. 57 3.1.2.2 Cerâmica Pré-Colonial...................................................................................

58

3.1.2.3 Metais..............................................................................................................

58

3.1.2.4 Cerâmica Colonial..........................................................................................

60

3.1.2.5 Vidros..............................................................................................................

61

3.1.2.6 Ossos...............................................................................................................

62

3.1.3 Pedra Grande................................................................................................ ...

62

3.1.3.1 Líticos..............................................................................................................

62

3.1.3.2 Cerâmica Pré-Colonial...................................................................................

63

3.1.3.3 Ossos...............................................................................................................

64

3.1.4 Cerritos.............................................................................................................. 65 3.1.4.1 Líticos.............................................................................................................. 66 3.1.4.2 Cerâmica Pré-Colonial...................................................................................

67

3.1.5 Santa Clara.......................................................................................................

67

3.1.5.1 Líticos..............................................................................................................

68

3.1.5.2 Metais..............................................................................................................

69

3.1.5.3 Cerâmica Colonial..........................................................................................

70

3.1.5.4 Vidros e Ossos................................................................................................. 71 3.1.6 Areal.................................................................................................................. 71 3.1.6.1 Líticos..............................................................................................................

71

3.1.6.2 Cerâmica Pré-Colonial...................................................................................

72

3.2 ANÁLISE EMPÍRICA DOS PROCEDIMENTOS .............................................

73

3.2.1 Estância Velha do Jarau..................................................................................

73

3.2.1.1 Metais..............................................................................................................

73

3.2.1.2 Cerâmica Colonial..........................................................................................

76

3.2.1.3 Vidros..............................................................................................................

78

3.2.1.4 Ossos...............................................................................................................

78

3.2.2 Sítio São Martinho da Serra............................................................................ 79 3.2.2.1 Líticos.............................................................................................................. 79 3.2.2.2 Cerâmica Pré-Colonial...................................................................................

80

3.2.2.3 Metais..............................................................................................................

83

3.2.2.4 Cerâmica Colonial..........................................................................................

84

3.2.2.5 Vidros..............................................................................................................

85

3.2.2.6 Ossos...............................................................................................................

87

3.2.3 Pedra Grande...................................................................................................

87

3.2.3.1 Líticos..............................................................................................................

88

3.2.3.2 Cerâmica Pré-Colonial...................................................................................

88

3.2.3.3 Ossos...............................................................................................................

89

3.2.4 Cerritos.............................................................................................................. 91 3.2.4.1 Líticos.............................................................................................................. 91 3.2.4.2 Cerâmica Pré-Colonial...................................................................................

92

3.2.5 Santa Clara.......................................................................................................

93

3.2.5.1 Líticos..............................................................................................................

93

3.2.5.2 Metais..............................................................................................................

96

3.2.5.3 Cerâmica Colonial..........................................................................................

97

3.2.5.4 Vidros..............................................................................................................

99

3.2.5.5 Ossos...............................................................................................................

101

3.2.6 Areal..................................................................................................................

102

3.2.6.1 Líticos..............................................................................................................

102

3.2.6.2 Cerâmica Pré-Colonial...................................................................................

103

CONCLUSÃO...........................................................................................................

105

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................

107

ANEXO A – FICHA TÉCNICA DE PRODUTO QUÍMICO............................... 111

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INTRODUÇÃO

O Laboratório de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal de Santa Maria (LEPA/UFSM) foi criado em 1982. Desde sua fundação está vinculado ao Departamento de História do Centro de Ciências Sociais e Humanas, desenvolvendo projetos acadêmicos de relevância em novas regiões do Brasil. Sua equipe multidisciplinar dedica-se, além das atividades de pesquisa, a implementar programas de Educação Patrimonial. Desde 01 de julho de 2014, o Professor Dr. André Luís Ramos Soares, ocupa a função de coordenador do Laboratório. Atualmente, instituições que abrigam acervos museológicos, como o LEPA-UFSM, estão cada vez mais conscientes de que os procedimentos de curadoria e conservação são imprescindíveis para a preservação, e no que tange às coleções arqueológicas, permite não só a longevidade dos materiais, como também uma melhor possibilidade de análise por parte dos pesquisadores. O objeto arqueológico, após coletado, demanda espaços adequados a sua reinserção social, e para tanto, é necessário que o profissional que vai trabalhar com este material proporcione condições especiais de tratamento, registro, análise, salvaguarda e comunicação. Neste sentido, o presente trabalho se propõe a fazer um levantamento dos métodos curatoriais e conservativos aplicados no LEPA-UFSM, desde 1995, a partir da primeira campanha de campo realizada com portaria (Nº 89, de 11 de maio do mesmo ano), concedida na época pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), até 2014, ano em que foram realizados os trabalhos mais recentes deste cunho, referente aos materiais coletados na última campanha de campo efetuada pelo Laboratório em 2013 (portaria Nº 61, de 11 de dezembro de 2013). Desta maneira, a problemática de pesquisa elaborada é investigar a aplicação progressiva e o aprimoramento teórico-metodológico das técnicas curatoriais e conservativas desenvolvidas no LEPA-UFSM, considerando o parâmetro nacional na área de curadoria arqueológica, através de dois vieses, a saber, a análise das monografias, dissertações e teses publicadas sobre o acervo coletado nessas campanhas de campo com portarias, identificando as menções sobre o trabalho de curadoria que foi ou não realizado; e posteriormente, a verificação empírica da aplicação dessas técnicas no material arqueológico, para apresentar então no trabalho de conclusão de graduação através de registros fotográficos detalhados.

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O presente trabalho é fruto de pesquisa realizada ao longo de quatro anos na temática de curadoria e conservação de acervos arqueológicos no Laboratório de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal de Santa Maria (LEPA-UFSM). O LEPA-UFSM é uma importante instituição, uma vez que conta com um acervo de aproximadamente 200.000 peças oriundas de sítios arqueológicos do Rio Grande do Sul, e desenvolve pesquisas na área de arqueologia há mais de trinta anos, resultando em uma quantidade significativa de trabalhos publicados sobre suas coleções, realizando também atividades interdisciplinares com a história, com a museologia e educação patrimonial. Apesar de todas as atividades realizadas pelo Laboratório, é de pouco conhecimento da Universidade o que ocorre dentro das dependências do LEPA, uma vez que há anos não são solicitadas bolsas para seus pesquisadores, não gerando assim relatórios públicos sobre as incumbências de cada um, e deixando de atrair muito alunos ingressos do curso de História pelo mesmo motivo, mantendo-se como integrante da equipe apenas os alunos muito interessados na temática e com possibilidade de se manterem sem a concessão de bolsa. Uma das preocupações que motivou esse tema de pesquisa, além do interesse em efetivar uma contrapartida para a comunidade acadêmica da Universidade Federal de Santa Maria, foi a constatação de que os procedimentos de curadoria e conservação de acervos arqueológicos são pouco investigados por parte dos pesquisadores da área de arqueologia e museologia, uma vez que os cursos de graduação dificilmente contam com elas em seus programas e que as discussões sobre o gerenciamento do patrimônio arqueológico ainda são insuficientes no Brasil. Durante os quase vinte anos do recorte temporal desta pesquisa, sempre houve uma preocupação por parte do LEPA-UFSM com a preservação dos objetos e com um mínimo de organização do acervo e da documentação sobre ele, porém, nem sempre atendendo às perspectivas teórico-metodológicas concebidas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) ou pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), que são os órgãos responsáveis pelo fomento de políticas de preservação de acervos e, consequentemente, sobre o gerenciamento de coleções arqueológicas. São sobre estes procedimentos, suas adaptações, modernizações e reflexões que o já referido Laboratório realizou ou não ao longo dos anos de sua existência é que se trata o presente trabalho. Por questões de organização do conteúdo, o trabalho foi desmembrado em três capítulos distribuídos conforme a descrição a seguir. No capítulo 1, denominado Recorte temporal-espacial, tratam-se questões relativas ao histórico da instituição escolhida para a realização da pesquisa, explicando suas origens e seus desdobramentos no que se refere ao trabalho arqueológico e acadêmico.

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No capítulo seguinte, Reflexões Conceituais, são apresentados os conceitos e definições acerca das áreas interdisciplinares tratadas na pesquisa, entre elas, Patrimônio, destacando-se o de caráter Arqueológico, Curadoria, Conservação e suas tipologias e os fatores de deterioro que afetam os materiais inseridos nas coleções arqueológicas. E finalmente, o último capítulo, Análise dos métodos, que delineia os dois caminhos traçados pela pesquisa, a saber, o resultado das buscas pela descrição dos métodos de curadoria aplicados nas coleções estudadas pelos pesquisadores, e, por fim, a relação dos dados coletados na análise empírica dos procedimentos oferecidos aos materiais arqueológicos inseridos no acervo do LEPA-UFSM.

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CAPÍTULO 1 – RECORTE TEMPORAL-ESPACIAL

Este capítulo foi formulado para atender parte da fundamentação teórica sobre o Laboratório de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal de Santa Maria, a partir de um pequeno histórico, contendo datas e procedimentos importantes para se compreender as atividades desenvolvidas pelo Laboratório. Serão tratados também, os aspectos temporais e espaciais relacionados aos sítios arqueológicos pesquisados pelo LEPA, bem como os anos em que foram realizadas as campanhas de campo e em que projetos estavam inseridas, analisando as tipologias de materiais que foram salvos e inseridos no acervo. É importante ressaltar que só se utilizou como referência para a realização desta parte da monografia os trabalhos acadêmicos cujo acervo formado está sob a guarda do Laboratório, logo, as campanhas de campo que geraram coleções que não se encontram mais neste local, da mesma forma não foram contempladas por este.

1.1 BREVE HISTÓRICO DO LEPA O Laboratório de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal de Santa Maria foi criado em 1982 pelo falecido Professor Vitor Hugo da Silva, que passou a realizar campanhas de campo com diversas intervenções arqueológicas e registrando sítios que constam até hoje nos catálogos do LEPA. Em 1990, com a aposentadoria do referido professor, assume a coordenação do LEPA o Mestre em Arqueologia Teófilo Torronteguy. Nos quatro anos de sua vigência, foram angariados vários equipamentos de informática e lupas oculares para a instituição, embora não tenham sido realizadas pesquisas de campo. .

Em 1994, o arqueólogo Saul Eduardo Seiguer Milder é admitido no quadro

institucional da universidade e assume a gestão do Laboratório. Ao verificar a falta de equipamentos necessários para as atividades de campo, o professor Milder promove a aquisição deles. No ano seguinte, o LEPA realiza sua primeira escavação acadêmica com portaria concedida pelo SPHAN. Em 1995 dá-se início ao projeto arqueológico em São Martinho da Serra, onde foram escavados os sítios históricos Gláucia Cecchim e Casarão dos Mello, dentre outros, com durabilidade de 10 anos de pesquisa, realizando também intervenções na região missioneira.

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Em 1997 inicia-se o projeto Salamanca, na cidade de Quaraí-RS, com enfoque em três sítios: Areal (pré-colonial), Saladeiro e a Estância Velha do Jarau, ambos coloniais, gerando através de suas intervenções muitas pesquisas. No ano de 2000, o LEPA, que até então ficava localizado no prédio de Apoio do Antigo Hospital da UFSM, com uma área inicialmente de 30 m² é transferido para um local mais amplo, medindo 67 m², uma vez que cada vez mais se realizavam escavações e com isso veio a necessidade de um espaço adequado para a guarda responsável da cultura material advinda dos sítios. O LEPA também realizou pesquisas em sítios arqueológicos históricos na região da Quarta Colônia, além disso, foi acrescentado ao projeto Salamanca os sítios arqueológicos Ruínas de Santa Clara e Ruínas da Estância do 28. Em 2012, com a entrada de uma museóloga na equipe técnica do Laboratório, iniciouse um trabalho de organização do acervo, bem como pesquisas na área de documentação museológica, curadoria e conservação arqueológica. No ano de 2014, com o falecimento do Professor Doutor Saul E. S. Milder, assumiu a coordenação do LEPA o Professor Doutor André L. R. Soares, e até o final do ano de 2016 as três primeiras monografias, sobre as pesquisas desenvolvidas no Laboratório, serão defendidas sob sua orientação. A relação das portarias concedidas pelo SPHAN e posteriormente pelo IPHAN para o LEPA-UFSM realizar campanhas de campo de cunho exclusivamente acadêmico pode ser conferida na Tabela 1, gerada a partir de dados coletados no Diário Oficial da União.

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Tabela 1: Portarias e renovações concedidas pelo IPHAN ao LEPA-UFSM para a realização de trabalhos exclusivamente acadêmicos. PROJETO

PORTARIA

RENOVAÇÕES

"Projeto Cabeceira do Raimundo" - Pesquisa arqueológica na área do Município de Santa Maria, sub-distrito de Boca do Monte Pesquisa arqueológica no Município de são Martinho - Rio Grande do Sul. "Arqueologia Especial em São Martinho da Serra: uma Proposta de Prospecção Intensiva"

Nº 44, de 30 de setembro de 1997

N° 58, de 19 de novembro de 1997

Nº 89, de 11 de maio de 1995

Nº 24, de 29 de julho de 1998

"Projeto Arqueológico no município de Quarai - Projeto Salamanca"

Nº. 24, de 19 de agosto de 1999

Nº 99, de 20 de setembro de 2001 Nº 234, de 16 de dezembro de 2003 Nº 380, de 21 de dezembro de 2005 Nº 13, de 18 de abril de 2008 Nº 4, de 26 de janeiro de 2011 Nº 61, de 11 de dezembro de 2013

“Levantamento Geo-arqueológico na Meia Encosta da Serra Geral (São Pedro do Sul, Santa Maria, Dilermando de Aguiar, Silveira Martins, São João do Polesine e Restinga Seca - RS) "Projeto de valorização do patrimônio arqueológico da quarta colônia de imigração italiana - RS" Municípios de Agudo, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Ivorá, Nova Palma, Pinhal Grande, Restinga Seca, São João do Polêsine e Silveira Martins, no Estado do Rio Grande do Sul. Programa Arqueológico do Banhado do Mbororé - São Borja"

Nº 88, de 04 de maio de 1995

Nº 78, de 29 de abril de 2003 Nº 161, de 15 de julho de 2005

Nº. 85, de 21 de março de 2005

Nº 171, de 30 de julho de 2007 Nº 7, de 28 de setembro de 2009

Nº. 75, de 15 de março de 2004

Nº 382, de 21 de dezembro de 2005 Nº 204, de 8 de agosto de 2007

Pesquisa Arqueológica - Contribuição do Estudo do Patrimônio Arqueológico da Microrregião da Santa Maria - Municípios de Santa Maria, Dilermando de Aguiar, Mata, São Pedro do Sul, São Vicente do Sul e Toropi, no Estado do Rio Grande do Sul

Nº. 183, de 30 de julho de 2007

Fonte: Tabela gerada a partir dos dados coletados no Diário Oficial da União.

Nº 303, de 13 de dezembro de 2007

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1.2 O LEPA E SUAS PRINCIPAIS CAMPANHAS DE CAMPO ACADÊMICAS Neste subtópico retratar-se-á as campanhas de campo acadêmicas que formaram o maior quantitativo de materiais arqueológicos, resultantes do maior número de pesquisas publicadas, sejam elas em forma de artigos, monografias, dissertações ou teses, a fim de explicitar o registro dos procedimentos curatoriais realizados ou não durante as intervenções nos sítios arqueológicos.

1.2.1 Estância Velha do Jarau Em 1997 realizou-se a primeira intervenção ao sítio histórico Estância Velha do Jarau pelo LEPA-UFSM. Uma das intervenções foi a abertura de quadrículas com cortes estratigráficos e ainda doze poços testes para gerar uma compreensão inicial do sítio. Os poços testes mostraram a estratigrafia e revelaram a ocorrência de materiais metálicos, louça, vidro, telhas grandes, uma pederneira e algumas pedras que podem indicar uma possível parede. Em sua quase totalidade a ordem das camadas pôde ser indicada por uma composição de humos e areia (evidências atuais), humos, areia e argila, (evidências da ocupação secundária e primária). Thomasi afirma que

as camadas litoestratigráficas são permeadas com blocos de rocha local, geralmente escombros das paredes, blocos laminares ordenadamente colocados com sobreposição de argamassa de areia e cal onde foram assentados ladrilhos pouco cozidos com piso. Acima destes ladrilhos ocorre uma camada de fragmentos de ossos possivelmente de caça, aves e mamíferos. Desta forma, foi passível de observação para os pesquisadores que a estratigrafia era altamente perturbada e complexa (2010, p. 49).

As escavações de 1999 visitaram os dados obtidos nas escavações de 1997, utilizandose dos croquis já desenhados anteriormente como base para as medições do sítio e, segundo Thomasi “o ponto zero das escavações foi estabelecido em uma parede central que possuía resquícios de reboco, sendo a única com essas características” (2010, p. 49). Inicialmente a área de escavação foi trabalhada através de decapagem sistêmica com ferramentas delicadas, inclusive sendo realizada a plotagem X, Y e Z do material encontrado, entretanto, a equipe chegou à conclusão de que essa primeira camada era contemporânea, e começou a escavar até chegar a camada arqueológica.

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A cultura material obtida nesta intervenção foi muito variada, com uma grande quantidade de ossos e material lítico entre as camadas estratigráficas, mas também de maneira muito escassa e fragmentada, metais, vidros e louças. Já no ano de 2001, as áreas escolhidas para escavação foram determinadas por conhecimentos prévios obtidos através das prospecções realizadas anteriormente. Segundo Flamarion, “a área de escavação principal localizava-se na unidade de análise denominada como sede, e uma secundária que localizava-se na Quinta” (GOMES, 2001). Além de um poço teste de controle estratigráfico e das intervenções na área interna, foram abertas trincheiras do lado externo com a finalidade de se verificar a estratigrafia, o sistema construtivo e a existência de possíveis pisos. Partes destes procedimentos se repetiram na área secundária, porém apresentaram camadas estratigráficas pouco profundas. Os fragmentos de telhas em variados tamanhos são predominantes no setor, alguns ainda justapostos, indicando a presença de um prédio ou telhado. Toda área escavada sofreu bioperturbações consideráveis nas suas camadas estratigráficas devido à presença de um grande número de raízes, comprometendo assim a horizontalidade e a verticalidade do registro arqueológico (THOMASI, 2010, p.50). Em fevereiro de 2003 efetivou-se a quarta escavação que contou não só com a participação do LEPA-UFSM como também da UFPEL, do MAE-USP, da UNOCHAPECÓCEOM e UNIVATES-MCN/SE. A preocupação com o estudo da estratigrafia se manteve, estabelecendo como metodologia de trabalho arqueológico a divisão do sítio em duas áreas principais: o setor I, composto por seis níveis estratigráficos, revelando em seu nível mais profundo um possível aterro, e no superior, a estrutura de uma construção apresentando um piso de ladrilho – bastante semelhante a tijolos e uma cobertura de telhas; No setor II, foi realizada uma escavação a nível quase superficial onde se evidenciou uma importante estrutura de lajes de arenito praticamente ao longo de todo o centro da área (Idem, p. 50). A intervenção ocorrida no ano de 2006 objetivou compreender a função da Quinta e explorar uma nova área ainda não escavada. Para isso foi feita uma prospecção através de pequenos poços testes, um full Couverage Survey. O material encontrado, tais como fragmentos de louça, vidros e materiais construtivos, como pregos, não correspondiam ao de uma ocupação do local como uma quinta ou pomar. (THOMASI, 2010, p. 51) Nesta área, através de dois uprooting (desenterramento natural de material arqueológico junto as raízes de árvores após a sua queda) foi possível observar a estratigrafia de forma privilegiada, constatando a semelhança com a das escavações anteriores. Notou-se

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uma ocorrência diversificada de materiais, tais como louça, metais, carvão, piso de tijolos e barro socado. É possível observar que as técnicas de escavação aplicadas nas intervenções arqueológicas desenvolvidas na Estância Velha do Jarau foram diversas: no ano de 1997 foram abertos poços testes que mostraram a estratigrafia do sítio e serviram como base para as atividades posteriores, porém, analisando-o de forma vertical, dando uma perspectiva cronológica da disposição da cultura material, mas não vislumbrando a organização e distribuição do material no sítio. A partir de 1999, foi feito um quadriculamento na área de escavação, utilizando-se a decapagem por níveis naturais, realizando a plotagem do material com pretensão de obter os dados de seu posicionamento em largura, comprimento e profundidade no local de coleta (Idem, p. 52). Nas intervenções de 2001 e 2003, além das metodologias já aplicadas em 1999, a equipe se utilizou do método Wheeler, unindo a maneira horizontal das open area com a vertical de visualizar o sitio. Em 2006 foi utilizada a técnica do full couverage survey, além disso, a presença de uma perturbação natural, como o uprooting, trouxe a necessidade de adaptação da metodologia de escavação. O sítio arqueológico Estância Velha do Jarau apresenta um grande número de dados das escavações realizadas, uma vez que todas as intervenções foram documentadas através de croquis, desenhos e registros fotográficos e as estruturas foram mapeadas pelo GPS.

1.2.2 São Martinho da Serra

Nos anos 60, a região de São Martinho da Serra foi objeto das pesquisas arqueológicas de José Proença Brochado que resgatou algumas coleções de superfície. Nos anos 70, foi a vez do professor Vítor Hugo da Silva, da UFSM, trabalhar na região a partir da realização de alguns cortes e coletas superficiais em sítios de ocupação guarani. Em 1995, no âmbito de suas atribuições legais na coordenação do LEPA-UFSM, o recém-concursado arqueólogo Saul Milder recomeçou as pesquisas arqueológicas na referida região, agora com um enfoque acadêmico, norteado por técnicas e metodologias atualizadas pra época, realizando trabalhos de prospecção na cidade. Inicialmente, Milder se preocupou apenas em levantar dados e formar uma coleção para justificar a relevância de pesquisas mais aprofundadas na região. Daquele momento em diante, começou-se pesquisas históricas que deram suporte para as futuras campanhas de campo.

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Milder se preocupou em realizar uma pesquisa envolvendo a relação de dados históricos e arqueológicos, e conforme o desenrolar dos trabalhos de campo, se fez necessária uma revisão da história local, trazendo esclarecimentos sobre o período em que esta região foi uma importante fronteira entre os Impérios Ibéricos no sul da América. Assim, deu-se início a um rastreamento historiográfico e de fontes primárias, buscando referências sobre a guarda Espanhola de São Martinho na historiografia riograndense, e o tratamento que esta lhe dispensava. As prospecções de Milder indicaram duas áreas potenciais para realizar escavações: uma área aberta próxima às evidências arquitetônicas remanescentes e também as próprias evidências arquitetônicas (MACHADO, 2004, p. 89). A disposição de materiais arqueológicos nos sedimentos não revelou qualquer estrutura organizada a não ser de lixeiras. O segundo nível corresponderia ao período de ocupação espanhola e guarani-missioneira e foi delimitado pela presença de telhas e de uma parede de adobe caída, evidenciada através da hidratação do solo. As escavações revelaram estruturas de cocção de alimentos, fragmentos de cerâmica missioneira, abundantes vestígios de carvão e ossos de gado. Em 1997 as pesquisas foram retomadas e escavações foram feitas dentro dos vestígios arquitetônicos que projetavam-se do subsolo (Idem, p. 92). A limpeza do terreno logo evidenciou remanescentes de um prédio e a escavação do solo revelou uma estratigrafia homogênea, a separação dos níveis ocupacionais somente pôde ser feita através dos mínimos intervalos estéreis e pela localização tridimensional das peças dentro da área. Segundo Neli Machado, “a escavação mostrou uma coleção de materiais do século XIX que apresentaram alguns aspectos do cotidiano dos ocupantes portugueses após a tomada definitiva da Guarda em 1801” (2004, p. 93). Encontra-se nessa coleção: louças, vidros, peças de adornos femininos, vestuário masculino e artefatos de origem militar, dos quais podem ser citados uma variada coleção de cartuchos, projéteis, facas, pontas de lanças, esporas etc. A área escavada nas campanhas de 1995 e 1997 apresentou fragmentos destruídos pelo constante uso do arado durante anos de ocupação posterior ao abandono da Guarda. A análise e identificação dos vestígios resgatados caracteriza-os como pertencentes em sua totalidade, ao século XIX, dentre eles materiais vítreos e telhas semelhantes às missioneiras. As escavações foram realizadas em busca da diacronia das evidências arqueológicas, e por mais que as áreas de intervenções tenham sido escolhidas devido às estruturas arquitetônicas do período de dominação espanhola, os fragmentos encontrados não apresentaram vestígios da cultura material desta época.

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1.2.3 Pedra Grande

Nos anos de 1984, 1986 e 1987, o professor Vítor Hugo da Silva com a equipe do LEPA-UFSM realizou intervenções na face compreendida como a frente da pedra grande. Efetuou-se cortes estratigráficos e coletas superficiais assistemáticas, resultando na coleta de material lítico e 1370 fragmentos cerâmicos, que hoje encontram-se salvaguardados no referido Laboratório (ZUSE, 2009, p.51). Em 2002, o Arqueólogo Saul Milder e a equipe do LEPA realizaram escavações em duas áreas, uma em frente ao monólito e outra no Abrigo do Meio onde foram abertas quadrículas e utilizada a técnica de decapagem para camadas naturais com controle dos níveis estratigráficos. Segundo Zuse (2009, p. 52), “a cultura material evidencia-se através de 307 fragmentos de cerâmica típica da tradição tupiguarani, uma conta de colar, peças líticas, e todos os materiais foram plotados individualmente e tridimensionalmente (disposição x, y e z)”, e posteriormente inseridos no acervo do LEPA-UFSM. No que tange à urna funerária com sepultamento e demais vasilhas cerâmicas do sítio Ibm-14, foram encontradas pelo proprietário das terras, que retirou parte dos materiais e contatou o museu local a fim de que resgatassem o restante. O museu, por sua vez, coletou apenas o material visível na superfície do sítio e os que consideraram mais relevantes. Neste sentido, não há um registro do contexto em que estas peças estavam inseridas, mas sim o relato do morador que as encontrou. Por isso, as diferentes campanhas de campo realizadas neste sítio utilizaram metodologias variadas, a saber, coletas superficiais, sondagens em níveis artificiais, escavação em ampla superfície por níveis arbitrários e escavação por quadriculamento, obedecendo às camadas naturais. Os diferentes métodos de intervenção produziram igualmente diferentes registros da cultura material coletada, fazendo com que os pesquisadores precisassem adotar uma metodologia de análise específica para cada coleção, de acordo com o limite dos dados obtidos e documentação gerada nas várias campanhas (Idem, p.52).

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1.2.4 Cerritos

O LEPA-UFSM já desenvolveu algumas pesquisas vinculadas a cerritos, além da escavação realizada no ano de 1998 nos cerritos do Sítio Arqueológico Corredor do Bolso, onde se identificou inicialmente cerca de 4.500 peças (Milder et al. 2002). Foram investigados também sítios no centro do estado do Rio Grande do Sul e na região sudoeste. No ano de 2001, às margens do rio Vacacaí-Mirim, realizou-se escavações no cerrito denominado “Cidades dos Meninos”, que recebeu esse nome, segundo Marion (2010, p. 56) “por estar localizado em frente à propriedade onde funcionava o Educandário Cidade dos Meninos, no município de Santa Maria-RS”. Os materiais arqueológicos oriundos dessa escavação vieram a fazer parte do acervo do LEPA. No ano de 2004, a equipe do LEPA realizou um levantamento sistemático na região do Banhado M´bororé, no município de São Borja-RS. Foram realizadas prospecções, georreferenciamento e escavação de dois sítios denominados Butuy 1 e 2. Mapeou-se um total de 55 cerritos nas cercanias dos arroios Capeati e Butuí. No ato das intervenções, demarcouse quadrículas, posteriormente foram realizadas decapagens, os sedimentos foram peneirados e algumas amostras de solo foram coletadas para futuras análises, uma vez que se observou que a composição química do solo no interior do cerrito apresentava-se diferente da encontrada na área externa. O alto índice de fósforo indica queima de materiais sobre a estrutura, no entanto, não se encontrou vestígios de possíveis fogueiras nem materiais carbonizados. A significativa presença de potássio e cálcio sugere, ainda, a intensa ocupação de grupos humanos por determinado período (Idem, p.56). Nenhum resto de alimentação ou de enterramento humano foi descoberto durante as escavações. (QUINTANA, 2008, p.35) Quanto à cultura material escavada, Lima mostra que os materiais arqueológicos resgatados foram em sua maioria peças líticas, uma peça cerâmica atribuída a chamada Tradição Vieira, e recebeu-se também peças doadas por moradores da região, tais como bolas de boleadeiras e pontas de projétil. Em sua totalidade, a coleção é composta por 9.366 peças líticas e apenas 1 fragmento cerâmico, vinculadas às tradições Umbu e Vieira, respectivamente (LIMA, 2008 e QUINTANA, 2008). Dessa forma, o trabalho iniciado em 2004 contribuiu para o estudo de cerritos, ampliando o quadro de distribuição espacial desses sítios arqueológicos, bem como a forma que esses interagem com a paisagem e seus construtores com a cultura material escavada.

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1.2.5 Santa Clara

O Sítio Arqueológico Santa Clara foi alvo de um total de cinco campanhas de campo, as três primeiras, ocorridas em abril de 2009, junho do mesmo ano e fevereiro de 2011, foram essencialmente voltadas para as ocupações pós-coloniais que ocorreram no local e foram alvo do trabalho de Pes (2013), fazendo parte de uma série de trabalhos voltados para a reconstituição da ocupação estancieira na região de Quarai, associado aos de Gomes (2001), Santi (2004), Nobre (2011), Toledo (2010), Thomasi (2010). Por outro lado, Silva (2014) se ocupou das análises voltadas às ocupações pré-coloniais e o estudo tecnológico de suas culturas materiais. A primeira intervenção, limitou-se ao reconhecimento do potencial arqueológico da área, com a identificação de estruturas coloniais (como mangueiras de pedra e ruínas de habitações). Logo no ato de prospecção foi realizado o registro fotográfico e medição das duas estruturas encontradas, da estrutura principal (casa) e da estrutura denominada “galpão”. Buscou-se registrar e reproduzir em desenho as estruturas remanescentes, tendo em vista que esses vestígios passavam por processos de degradação constante por fatores naturais e antrópicos (PES, 2013, p. 38). Jaqueline Pez afirma que

na área dos fundos da casa, havia grande ocorrência de evidências arqueológicas em superfície, devido à ação de roedores da região, que ao cavar suas tocas removem os vestígios materiais, junto com a terra, para a superfície. Dessa forma, constatou-se que, neste local do sítio ocorre intenso processo de bioperturbação alterando o registro arqueológico (2013, p.39).

Nessa área foram abertos alguns poços-teste, objetivando verificar a estratigrafia do sítio e a ocorrência de materiais arqueológicos em subsuperfície. Havia grande quantidade de vestígios ósseos, materiais construtivos, alguns fragmentos de louça, lítico, vidro e metal e também foi identificada uma camada de carvão, o que pode indicar que nesse local houve a incineração de lixo em algum momento das diversas ocupações. O solo é bastante arenoso, na primeira camada percebe-se grande quantidade de matéria orgânica, já a segunda é arenoargilosa. Foram resgatados fragmentos de louça e cravos que apontam para uma ocupação do século XIX, mas também há muitos vestígios do século XX, pois a ocupação do sítio se estendeu até o final deste. Além destas evidenciou-se ocupações pré-históricas, constatadas pela presença de material lítico lascado (Idem, p. 39-40).

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Ainda em 2009, efetiva-se a segunda intervenção em forma de prospecção arqueológica nas Ruínas de Santa Clara nos locais de maior concentração de evidências arqueológicas em busca de elementos que possibilitassem uma maior compreensão das estruturas e dos diferentes períodos de ocupação da estância. A primeira atividade da prospecção foi um Full Couverage Survey na frente das estruturas (casa/sede e “galpão”) visando fazer uma varredura da disposição do material arqueológico na área escolhida. Posteriormente, abriu-se poços-teste, uma trincheira e duas sondagens controladas: uma na frente das ruínas (Sondagem controlada 1), onde ocorria maior concentração de materiais líticos e uma nos fundos (Sondagem controlada 2) onde havia sido identificado uma grande quantidade de materiais coloniais, tais como fragmentos de louça e vidro, metais, ossos, além dos materiais construtivos (SILVA, 2014, p. 91). Havia uma concentração muito grande de material arqueológico em todas as quadrículas das sondagens controladas, com presença de carvão e matéria orgânica, sugerindo que no local havia acúmulo de lixo intencional, ou seja, uma possível área de descarte. Outro indício de queima é a presença de ossos e telhas queimados, que se caracterizam por uma coloração preta. Neste sentido, levantou-se a hipótese de que o local seria uma lixeira. A bioperturbação também era visível na maioria das quadrículas, alterando o registro arqueológico. Os materiais das camadas superiores acabam sendo aprofundados através das tocas, e ao mesmo tempo o material das camadas inferiores são jogados para a superfície. De maneira geral, nesta área foram evidenciados muitos fragmentos de telha, tijolos, vestígios ósseos, fragmentos de vidro e louça, metais, plástico e lítico (PES, 2013, p. 43). Segundo Pes, “foram identificadas três camadas estratigráficas, a primeira constituída de matéria orgânica, uma segunda arenoargilosa de cor ocre e a terceira uma camada de paleopavimento detrítico” (2013, p.44). Ainda, a noroeste da casa/sede foram abertos poços-teste aleatoriamente para investigar a existência de vestígios materiais nessa área, onde foram resgatados fragmentos de louça, vidro, telha e metais, o que levou a constatação de que o material está disperso em toda a área do sítio. A estrutura denominada de “galpão” encontra-se com as paredes colapsadas (Idem, p. 45). A terceira intervenção no Sítio ocorreu em 2011, com o objetivo de escavar a área dos fundos da casa/sede, que aparentava ser um local de descarte de lixo do século XIX. Portanto, estabeleceu-se como metodologia de escavação o quadriculamento da área e logo no início já foram evidenciados muitos fragmentos ósseos e material construtivo, como telhas e tijolos. “Além destes, foram encontrados fragmentos de louças, vidro e metais. À medida que

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as quadrículas foram sendo aprofundadas percebeu-se a presença de carvão e materiais queimados, demonstrando que houve queimas no local” (Idem, p.48). Quando a profundidade das quadrículas ultrapassou os 45 cm surgiram ocorrências de material lítico, revelando uma segunda ocupação pré-colonial no sítio, que se estende aproximadamente até 1,15 m de profundidade. Foram identificadas três camadas estratigráficas, a primeira constituída de matéria orgânica, uma segunda areno-argilosa de cor ocre e a terceira camada estéril. Além da escavação aos fundos da casa, foi reaberta a sondagem controlada 1, na frente das ruínas da casa, visando investigar as ocupações pré-coloniais no sítio, já constatadas nas intervenções anteriores como sendo duas: uma, no mesmo estrato da ocupação histórica; e outra, a partir dos 50 cm de profundidade. Esta sondagem foi aprofundada até 110 cm, visto sua grande ocorrência de materiais líticos e devido à profundidade atingida, foram retiradas quatro amostras de sedimento para serem realizados ensaios com LOE (Luminescência Opticamente Estimulada), e dentre o material resgatado estavam lascas, instrumentos, núcleos e carvão, associados à indústria Catalanense, sendo a matéria-prima predominante o arenito silicificado e em menor quantidade, alguns fragmentos de calcedônia e quartzo (SILVA, 2014, p. 92). Nesta intervenção foram resgatados 437 fragmentos de louça, 3557 fragmentos de ossos, 198 peças líticas, 356 fragmentos de vidro e 1 objeto inteiro, 116 metais (envolvendo fragmentos e peças inteiras), 502 fragmentos de material construtivo (telhas e tijolos) e 7 fragmentos não identificados, mas que pertencem a esta categoria (PES, 2013, p. 52). Com estes resultados foram realizadas a quarta e a quinta intervenção, uma em setembro de 2012 e a outra em fevereiro de 2013, mas agora especificamente voltadas para as ocupações pré-coloniais. Nestas duas escavações sobrepôs-se à antiga "sondagem controlada 1" uma malha com eixo X (Sul- Norte) e eixo Y (Leste-Oeste) com quadrículas referenciadas alfanumericamente (SILVA, 2014, p. 92). Todas as peças foram plotadas possuindo referência tridimensional (X, Y e Z) em um plano cartesiano, seguindo o modelo da academia francesa, portanto, pensando o objeto tridimensionalmente para obter a localização exata deste no sítio, utilizando uma tabela (Exemplo Tabela 2) contendo o número de campo de cada material, quadricula na qual foi encontrado e seus respectivos “x”, “y” e “z” medidos a partir do ponto zero, onde x= distância, y= largura e z= profundidade, em metros.

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Tabela 2: Exemplo de registro realizado em campo nas duas últimas intervenções do Sítio Santa Clara.

Número de objeto

Quadrícula

X

Y

Z

01

3B

3,55

4,2

- 1,040

02

4E

5,78

3,85

- 0,648

03

2C

2,80

3,32

- 1,070

Fonte: Números Figurativos.

Bruno Gato da Silva afirma que “a primeira destas campanhas de campo proporcionou um total de 449 peças, enquanto a segunda gerou um total de 283. Estas intervenções acabaram por possuir um caráter de complementariedade uma em relação à outra” (2014, p. 93). O sítio apresentou-se bem conservado, com ocorrência de materiais até aproximadamente 110 cm de profundidade. Os sinais de bioperturbação, como tocas de Ctenomys spp (tuco-tuco) e formigueiros limitam-se as porções mais superiores da escavação e os materiais líticos eventualmente encontram-se depositados em posição vertical. A ocorrência de materiais arqueológicos é bastante densa, ocorrendo quase que ininterruptamente entre 0 e 1 metro de profundidade, e bastante dispersa ente 1 e 1,10 metro, intervalos que correspondem a camada arenosa de formação eólica. Mesmo que todo o material lítico tenha sido referenciado tridimensionalmente até o momento não foi possível uma clara delimitação de intervalos ocupacionais. Esta dificuldade decorre dos objetivos norteadores da metodologia de campo, onde foi optado pela realização de uma escavação demasiadamente verticalizada, visando atingir mais rapidamente os níveis inferiores da escavação para verificar a ocorrência de materiais e conseguir elementos para a datação dos mesmos (Idem, p. 94). Com as atividades de escavação e plotagem das peças foram realizados desenhos de seis perfis estratigráficos, em relação aos quatro pontos cardeais. Além disso, as duas campanhas de campo, proporcionaram um total de 52 amostras de sedimento, das quais 10 foram enviadas para datação pelo método de LOE. Nessas últimas duas campanhas de campo, o cuidado com os procedimentos de curadoria ocorreram desde a coleta do material, uma vez que quando estes são encontrados

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em situação mais delicada é necessário empregar alguns cuidados para manter o estado de conservação satisfatório quando da coleta, visto que certamente há muitas situações diferentes que podem ocorrer com os objetos em campo. Para estes artefatos em situações mais sensíveis, utilizou-se como utensílio principal da escavação pincéis de cerdas macias (Figura 1), para que não houvesse nenhuma alteração na integridade da peça no momento da intervenção. Assim, quando o material estivesse sobressalente (sem sedimentos a cobri-lo) retirava-se este da quadrícula cuidadosamente. Além disso, no armazenamento e manuseio dos materiais, cada objeto era tratado individualmente (DIAS, 2013, p. 104). Figura 1: Procedimento de coleta de material em campo. Sítio Santa Clara – fevereiro de 2013.

Fonte: Acervo LEPA-UFSM.

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Figura 2: Acondicionamento do material coletado em campo. Sítio Santa Clara – fevereiro de 2013.

Fonte: Acervo LEPA-UFSM.

Dias explica que no que se refere ao acondicionamento (Figura 2), ainda em campo

os objetos foram colocados individualmente em sacos plásticos vedados, de tamanho coerente com o seu estado físico, levando a descrição *MH (Material Histórico) ou *MP-H (Material Pré-Histórico), de acordo com sua classificação. Após esse procedimento, os sacos foram envoltos em plástico bolha e postos em containeres (2013, p. 106).

No que diz respeito à locomoção do sítio para o LEPA, uma vez acondicionados os materiais nos containeres, estes foram encaixados verticalmente, (de maneira que os mais leves e de objetos mais delicados ficaram por cima) e resguardados na carroceria de uma caminhonete S-10 que fez o transporte do sítio arqueológico pesquisado até o Laboratório (Idem, p. 106).

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1.2.6 Areal

O Sítio Arqueológico Areal está inserido na região conhecida como Rincão do Inferno, definida por ser uma região próxima ao rio Ibirapuitã e o arroio Paipasso em Quaraí – RS. A região da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul foi foco de pesquisas arqueológicas desde os anos 40. Posteriormente, essa região foi incorporada ao mapa arqueológico do Rio Grande do Sul pelo PRONAPA (1965-1970) e, posteriormente, pelo PROPA (1972-1978). Segundo Lemes e Silva, “os sítios de caçadores coletores mais antigos não foram atingidos pelas várias incursões feitas em campo devido ao seu difícil acesso e isolamento, muito embora sejam sítios importantes no contexto platino” (2013, p. 84). Em 1999, Milder efetuou trabalhos de campo no "Complexo Areal", valendo-se de uma metodologia bastante minuciosa, realizou um Survey na área, identificando novas concentrações de materiais, delimitando e quadriculando uma área de 96 por 84 metros, onde coletou sistematicamente o material, tendo cada peça recebido um número individual em um plano cartesiano (MILDER, 2000). Esta expedição resultou na coleta de 4382 peças líticas, que posteriormente foram alvo dos estudos tecnológicos de LEMES (2008). Também nessa campanha foram coletados fragmentos cerâmicos de Tradição Vieira, em quantitativo não especificado. No início de 2014, foram realizadas novas prospecções no Areal sob a coordenação do Professor Saul Milder. Na ocasião, em um raio de 1,5 km entorno do monólito com gravuras rupestres, foram identificadas 5 grandes fontes de matéria prima, sendo duas delas afloramentos e três cascalheiras.

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CAPÍTULO 2 - REFLEXÕES CONCEITUAIS

Para se compreender a importância da curadoria e da conservação de acervos arqueológicos faz-se necessário a explanação dos conceitos-chaves desta disciplina, bem como estabelecer um breve histórico de sua aplicação no Brasil, citando as principais instituições e os profissionais atuantes na área. Neste sentido, será discutida no capítulo, a concepção de patrimônio, e mais especificamente patrimônio arqueológico, posteriormente a definição sobre o que é a curadoria, a conservação, em seus parâmetros gerais e em suas especificidades preventiva e curativa.

2.1 PATRIMÔNIO

A definição de patrimônio é bastante antiga, está atrelada ao sentido de propriedade, seja essa pública ou privada, e se relaciona com o sentido da identidade do ser-humano, neste sentido, Lemos diz que

é impossível pensar em qualquer conceito relativo a patrimônio sem inserir nessa discussão a relação intrínseca entre o homem e o ambiente; e entre o sujeito e o saber fazer. Assim sendo, não é possível analisá-lo isoladamente, pois isso o sujeitaria ao risco de perder os significados e significantes e/ou, ainda pior, seu reconhecimento e em alguns casos, não seria possível identificar a sua importância para o grupo e para o meio que o circunda. Dito isso, entende-se o patrimônio como o conjunto de bens tangíveis e intangíveis que se referem à memória coletiva e sua relação com o meio (LEMOS apud BALLARDO, 2013).

O estudo do patrimônio é área de estudo ampla e desdobra-se em diversas tipologias, que pode ser relacionado com diferentes disciplinas: histórico, artístico, cultural, etc. Neste trabalho, tratar-se-á a especialidade arqueológica.

2.1.1 Patrimônio Arqueológico O patrimônio arqueológico representa a parcela dos bens materiais para quais os métodos da arqueologia proporcionam a informação básica. Conforme já definido pelo ICAHM (International Scientific Committee on Archaeological Heritage Management), em sua Carta Internacional para a Gestão do Patrimônio Arqueológico, o referido patrimônio

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engloba todos os vestígios da existência humana e se refere a lugares onde tem sido praticado qualquer tipo de atividade humana, estruturas e vestígios abandonados de qualquer tipo, tanto na superfície como enterrado ou sob a água permanece, assim é o material relacionado (ICAHM, 1990).

Como formadores de coleções arqueológicas, arqueólogos estão entre as pessoas e instituições responsáveis por assegurar os cuidados corretos destes materiais e é comum que as coleções sejam imensas e o espaço para guardá-las reduzido, por isso faz-se necessário um plano rigoroso de armazenamento e acondicionamento, que foi designado por Braga (1998, p.274) como “o trabalho de acomodação dos artefatos em embalagens ou sistemas que lhes forneçam estabilidade física e química”.

Apesar da preocupação com a conservação do patrimônio arqueológico ter se tornado uma constante, faz-se necessário cada vez mais um envolvimento maior de profissionais e entidades que trabalhem com essa tipologia de acervo. Caso contrário, os locais aos quais estão armazenados estes materiais não passarão de depósitos. Mesmo nas disciplinas museológicas, o enfoque sobre a conservação e gestão dos materiais arqueológicos ainda não oferece as informações suficientes que os pesquisadores precisam para exercer a curadoria e o gerenciamento de coleções ou temas relacionados às coleções no campo e no laboratório, seja no curso de História da UFSM ou em cursos de Arqueologia do país inteiro. Por outro lado, cada região do país possui um determinado patrimônio arqueológico, que em parte foi preservado, no entanto, grande parcela passou por processo de destruição, mutilação e descaracterização, ao longo dos séculos (…). Contudo, somos todos responsáveis pela preservação de nossa história já que os sítios arqueológicos são patrimônios da Nação. (COMERLATO, 2004, p. 42) Assim sendo, os acervos arqueológicos de uma região, geralmente patrimônios públicos, encontram-se sob a custódia de instituições governamentais e todas as atividades no sentido de mantê-los conservados não devem ser tratadas com fatores isolados. Todo legado histórico que se traduz como bem cultural, testemunho ou prova de contínuo desenvolvimento cultural da humanidade, é de responsabilidade de todos e isto implica na disponibilidade ao uso, sob critérios determinados que garantam sua transmissão às gerações futuras. Essa garantia só pode ser possibilitada através dos cuidados oferecidos ao acervo, configurando uma relação entre conservação e curadoria das coleções, como será abordado a seguir.

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2.2 CURADORIA

Quando se trata de patrimônio, é sempre necessário que se haja uma política básica, regida pela premissa que norteia toda a ação de conservação, ou seja, tudo que podemos fazer ou permitir que seja feito para que cada peça arqueológica permaneça íntegra da forma que é. A exigência básica para conservar-se um patrimônio cultural é fundamentalmente: administração segura, recursos adequados e conhecimentos decorrentes da ciência e da técnica. A Conservação, de acervos arqueológicos, portanto, como matéria interdisciplinar, é um fato de convergência e de integração, de atitudes. No Brasil, apesar das publicações sobre curadoria e conservação arqueológica ainda serem recentes, sempre se teve como referencial o trabalho desenvolvido no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP), que foi pioneiro nas preocupações concernentes ao patrimônio arqueológico. Pode-se citar como principal pesquisadora da área no país, a Professora Doutora Maria Cristina Bruno, atual coordenadora do MAE e autoridade nas discussões sobre a temática. Segundo ela

O conceito de curadoria está fundamentado no estudo dos indícios materiais relativos à cultura e a natureza, e a preocupação na preservação das características físicas e cognitivas, através do uso de métodos de conservação e ordenação do acervo. As atividades de coleta, pesquisa, manutenção e ordenação, envolvidas no processo de curadoria, estão relacionadas com o estudo minucioso e o conhecimento particular do campo de conhecimento específico relacionado a coleção, tornando o trabalho efetuado uma atividade especializada (BRUNO, 2008, p.19).

Portanto, a conservação é peça fundamental no desenvolvimento de atividades curatoriais, e por isso, merece atenção especial no que tange sua conceituação e tipologias.

2.3 CONSERVAÇÃO Os objetos são concebidos para exercer uma determinada função, podendo esta ser estética ou utilitária. Ao longo do tempo estes bens vão se degradando por diversas razões, pela natureza dos seus materiais constituintes, devido às condições ambientais a que são sujeitos e à utilização inadequada ou até mesmo as ações de vandalismo. De acordo com a definição do ICOM – International Council of Museums, entende-se por conservação

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all measures and actions aimed at safeguarding tangible cultural heritage while ensuring its accessibility to present and future generations. Conservation embraces preventive conservation, remedial conservation and restoration. All measures and actions should respect the significance and the physical properties of the cultural heritage item (ICOM, 2008).

Por outro lado, os estudos sobre as interfaces entre Arqueologia e Curadoria têm como

premissa básica a problematização dos limites e reciprocidades entre a pesquisa acadêmica arqueológica,

as

ações

museológicas

e

seus

respectivos

impactos

no

contexto

preservacionista. Na Arqueologia, sempre que ocorre uma intervenção em campo com coleta de material, não haverá mais possibilidade de voltar à estrutura original. Portanto, faz-se necessário ressaltar a importância da preservação em dois aspectos: resguardar as informações sobre os artefatos retirados do sítio arqueológico e a preservação do estado físico dos objetos que foram conservados pelo microclima em que o artefato esteve submetido. Neste sentido, a conservação arqueológica deve se fazer presente nas instituições, buscando desenvolver uma consciência preservacionista entre os profissionais responsáveis pela integridade dos objetos salvaguardados nas reservas técnicas do seu ambiente de trabalho, garantindo assim a longevidade dos materiais arqueológicos para futuras pesquisas e exposições, seja por meio da conservação preventiva, curativa ou ainda pelo restauro. O interesse dessa pesquisa está diretamente relacionado com os dois primeiros tipos de conservação: preventiva e curativa, cujos conceitos são distinguidos nos próximos tópicos.

2.3.1 Conservação Preventiva Conforme dito por Braga (1998, p. 270), “na maior parte do tempo, os conservadores precisam agir para estancar ou adiar processos de deterioração que já estão naturalmente codificados na constituição química dos objetos”. Neste sentido, a Conservação Preventiva se faz necessária, pois “evita que objetos cheguem ao ponto de necessitar passar por uma intervenção tão séria quanto a restauração”. A Conservação Preventiva consiste da ação indireta para retardar a deterioração e prevenir estragos através da criação de condições estáveis para a preservação do legado patrimonial, tanto quanto possível, sendo assim fundamental para a preservação do objeto, pois:

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(...) enfoca todas as medidas que devem ser tomadas para se aumentar a vida útil do objeto ou retardar seu envelhecimento. Para isto, deve-se, em primeiro lugar, conhecer a estrutura física da peça, ou seja, a matéria e a técnica empregadas na sua confecção, as quais, conjuntamente, irão definir procedimentos básicos de conservação. (DRUMOND, 2006, p.108).

Assim, atuações como o controle de luz, temperatura, umidade relativa do ar, regulamento interno, plano de segurança, plano de conservação preventiva, definição de espaços, hierarquias e tarefas são intervenções indiretas, pois não agem diretamente sobre os objetos e se enquadram no conceito de conservação preventiva. No entanto, é muito importante ainda que os procedimentos curatoriais e conservativos sejam periódicos, investigando possíveis vestígios de agentes biodegradativos, identificação de peças atacadas e imediato tratamento e monitoramento das questões ambientais, tais como luminosidade, ventilação, qualidade do ar, temperatura e umidade.

2.3.2 Fatores de deterioro

É de extrema relevância que os profissionais e pesquisadores dos acervos arqueológicos tenham conhecimento sobre os fatores aos quais eles ficam expostos e que podem vir a deteriorar o material. Para isso, é preciso que se entenda também a composição das diferentes tipologias de material, pois suas propriedades extrínsecas, combinadas ao ambiente em que estão inseridos, podem culminar em um processo degradativo mais acelerado. A avaliação dos riscos deve levar em consideração os fatores degenerativos extrínsecos e intrínsecos do objeto. Segundo Souza e Froner (2008, p.3-4), para que se identifiquem quais as causas de deterioração, se faz preciso um estudo do ambiente onde está localizado o acervo, considerando o macro (as condições climáticas e geográficas), o médio (do edifício como um todo e da sala de exposição ou guarda) e o microambiente (do mobiliário e da sistemática de acondicionamento do acervo, desde a sua organização até os materiais utilizados para a elaboração dos invólucros). Entre os fatores extrínsecos destacamse:  Físicos: luz e resistência mecânica, temperatura e umidade;  Químicos: contaminantes e constituição do material das peças; 

Biológicos: infestação.

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 Antrópico: manuseio, armazenamento e exposição incorreta, intervenção inadequada, vandalismo e roubo. É importante que as instituições que salvaguardam acervos arqueológicos tenham um controle dos fatores ambientais, aos quais está submetido o acervo, realizando periodicamente medições da luz, de Umidade Relativa do Ar, temperatura e possíveis oscilações, bem como uma busca por agentes contaminadores ou biodegradativos. Para determinar a luminosidade atingida pelo acervo, é preciso ter em mãos um luxímetro (Figura 3), aparelho medidor da intensidade da luz, em virtude de que toda luz é nociva e o processo de degradação, de acordo com a fotossensibilidade dos objetos, prosseguirá reagindo continuamente, mesmo que sem luz, pois uma vez ativada a molécula nos objetos, desencadeia-se uma série de reações e o centro destas se multiplicará através de cada molécula. Adotando-se o lux como unidade para medição da luminosidade de qualquer fonte de luz, aconselha-se não ultrapassar 150 lux para materiais inorgânicos e 50 lux para orgânicos (DRUMOND, 2006). No entanto, estes números são indicados para reservas técnicas que, assim como a do LEPA, contam com um espaço único para salvaguarda de diferentes tipologias de materiais arqueológicos. No caso das instituições que apresentarem uma infraestrutura adequada para se tratar as especificidades de cada coleção isoladamente, tais medidas precisam ser pensadas conforme suas diferentes necessidades.

Figura 3: Luxímetro Digital Minipa MLM-1011

Fonte: http://www.antferramentas.com.br/luximetro-digital-minipa-mlm-1011/p

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A temperatura e a umidade também são fatores físicos que, se não controlados, podem causar alterações sérias e até irreversíveis para os objetos, ressaltando que a umidade é também a base para proliferação de agentes biodegradativos. Entende-se por Umidade Relativa a quantidade de vapor de água contida na atmosfera em relação à quantidade máxima de vapor de água possível de existir na atmosfera em uma dada temperatura, e o excesso desta hidrata e corrói, por outro lado os níveis muito baixos podem provocar diferença de contração e desidratação; a oscilação dos coeficientes de U.R. ocasionam mudança na dimensão dos materiais higroscópicos, forçando-os fisicamente mais do que podem suportar (SOUZA, 2008, p. 7). As temperaturas muitos altas são extremamente nocivas, pois reduzem os coeficientes da U.R. e secam de maneira excessiva os materiais higroscópicos. Por outro lado, a queda de temperatura causa a redução de quantidade de água suportada pelo ar, causando condensação de umidade, formando gotículas de água. As duas medidas, U.R. e temperatura, devem estar respectivamente entre 50 e 60% e de 20 a 23°C, podendo estes números variar conforme o estado de conservação do acervo ou se acondicionadas as peças de diferentes tipologias separadamente e de acordo com suas especificidades, realizando estas leituras através de um aparelho chamado termohigrômetro (Figura 4).

Figura 4- Termohigrômetro digital com memória de máxima e mínima. Ref. 7429. - Incoterm - Cód: 236.

Fonte: http://www.medjet.com.br/produto/termo-higrometro/termo-higrometro-digital-max-min-7429-tfa][[[incoterm/236/25

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A climatização da reserva técnica é uma medida favorável, mas deve ser planejada para que não haja falhas no seu funcionamento uma vez que se todo o acervo é acostumado a condições ideais de temperatura e umidade relativa, caso aconteça algum defeito, o choque brusco que pode ocorrer é muito grave para a coleção. Outro ponto a ser considerado é que esse sistema, pelas mesmas razões, deve estar em funcionamento vinte e quatro horas por dia (BRAGA, 1998, p. 274).

Concernente aos fatores degradativos químicos, a poluição deve ser encarada como um agente contaminante, uma vez que alguns componentes do ar podem modificar as estruturas internas dos objetos, promovendo, inclusive, reações químicas. Conforme afirma Froner, os poluentes mais ativos são os compostos de enxofre, o dióxido de enxofre e o anidrido sulfúrico, gases sulfurosos produzidos pela combustão do carbono, que é característico dos grandes centros urbanos e locais de trânsito intenso. Através da umidade esses gases se transformam em ácido sulfúrico, acidificando e corroendo vários materiais arqueológicos (1995, p. 298).

Ainda dentro dos fatores químicos, a constituição do material dos objetos pode ter reações quando exposto às impurezas sólidas e gasosas, tais como o pó, a terra, fuligem, pólen e outros corpos que podem aderir-se às superfícies dos materiais arqueológicos. Os fatores biológicos de degradação do acervo podem ser classificados basicamente em três níveis, são eles: fungos e líquens, quando a umidade e a temperatura estão elevadas; insetos, podendo ser cupins, traças, baratas, etc.; e animais maiores, como pombas, morcegos e ratos que danificam os materiais através de seus excrementos (CRESPO FILHO, 2008). As formas de eliminação desses agentes são as mais variadas, pois vão desde a conservação preventiva que se preocupa em manter o material em condições físicas e ambientais estáveis, até a desinfestação por métodos químicos curativos. Ainda há os fatores antrópicos de deterioração: o manuseio inadequado do material, sem delicadeza necessária devido à fragilidade da peça e sem luvas de proteção podem vir a fragmentar os materiais arqueológicos e transmitir umidade das mãos para o objeto (TEIXEIRA e GHIZONI, 2012). As precárias condições de armazenamento propiciam os agentes degenerativos já citados, as intervenções ou restaurações indevidas podem ser irreversíveis e uma exposição em ambiente hostil às composições do acervo pode vulnerabilizá-lo. Além dos fatores extrínsecos, deve-se atentar para os fatores intrínsecos as peças, relacionados a composição do material em peça.

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2.3.2.1 Metais

De todos os objetos inseridos em coleções arqueológicas, os de composição metálica são os mais difíceis de tratar, tanto no momento da escavação, quanto nos procedimentos de conservação e armazenagem. A corrosão é considerada um dos principais fatores de degradação, acontecendo de maneira mais acelerada nos metais que contém superfícies contaminadas por sais, ácidos orgânicos voláteis e amoníaco, presentes no ambiente como poluentes ou ainda em materiais de limpeza. Dentre as propriedades dos metais, pode-se citar as físicas, que segundo Souza e Froner, “apresentam elevada condutividade térmica e elétrica, opacidade ou brilho metálico; possuem boa plasticidade e resistência elevada aos esforços mecânicos”; e as químicas, onde a maioria dos metais é reativa, ou seja, é raro encontrar na natureza metais puros, e é exatamente esta característica que os define. A maior vulnerabilidade dos metais é sua tendência à oxidação, manifestada através da corrosão. Estas características definem sua reação à água, sais, ácidos e amônias (SOUZA e FRONER, 2008, p.5).

No que tange aos fatores de deterioro dos metais, os índices de temperatura e umidades inadequadas provocam oxidação, seguida de corrosão, que se estabelece por um processo físico-químico entre o metal e o meio e é caracterizada por ocorrer a partir da superfície e retornar a um estado mineral, mais estável. A corrosão é reconhecida pela descamação ou pulverulência dos objetos metálicos. Neste sentido, Souza e Froner afirmam que a corrosão do ferro é reconhecida pelo aparecimento de pontos amarelados e alaranjados sobre a superfície escura, com desprendimento sob forma de um pó avermelhado; no cobre, latão ou bronze, pelo aparecimento de uma camada de tom esverdeado, podendo ser áspera ou irregular; na prata, por uma camada negra; e no chumbo, por uma pulverulência branca. A corrosão ativa é identificada pela expansão contínua das manchas de degradação e pelo desprendimento de resíduos, em lascas ou pó, do objeto. Também pode ser identificada pela expansão do volume, à medida que o material se altera para formar os produtos de corrosão (2008, p. 6).

Nas figuras 5 e 6, é possível visualizar esse processo corrosivo em metais que estão inseridos nas coleções do LEPA-UFSM.

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Figura 5: Prego com oxidação e corrosão. Sítio Arqueológico Estância Velha do Jarau (Quaraí – RS).

Fonte: Foto da Autora. 04/05/2016.

Figura 6: Metal com início de processo corrosivo, registrado por um microscópio USB com zoom 800x. Sítio Arqueológico Estância Velha do Jarau (Quaraí – RS).

Fonte: Foto da autora. 04/05/2016.

Desta forma, os materiais arqueológicos metálicos que apresentarem corrosão ativa não devem ser acondicionados ou expostos associado a objetos estáveis, uma vez que a corrosão pode ser contraída por contato ou pela exposição ao mesmo ambiente atmosférico.

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2.3.2.2 Líticos

Os artefatos líticos são objetos ou obras elaboradas com componentes rochosos, podendo ser oriundos das mais diversas culturas históricas e diferentes tipologias de minerais sólidos, resultante de manipulação e modulação intencional para a construção de ferramentas e adornos (Souza e Froner, 2008, p. 8). A temperatura e a umidade são fatores ambientais que ocasionam os modos de deterioração mais comuns nas reservas técnicas, uma vez que, quando elevados, torna as superfícies dos artefatos líticos propícias ao desenvolvimento de ataques biológicos, e no caso do LEPA, especificamente, fungos liquenizados, produzindo manchas escuras e dificultando assim a análise arqueológica, conforme figuras 7 e 8. Figura 7 - Lítico com fungos liquenizados. Sítio Arqueológico Castração (Uruguaiana – RS).

Fonte: Foto da autora. 11/09/2014.

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Figura 8 - Ponto de propagação do fungo e da alga, em formação de líquen no material lítico, registrado por um microscópio USB com zoom 800x. Sítio Arqueológico Castração (Uruguaiana – RS).

Fonte: Foto da autora. 11/09/2014.

No caso dos materiais provenientes de escavação já com esses agentes, eles devem ser mantidos para posterior análise físico-química. Para tanto, as amostras devem ser preparadas em campo, evitando assim riscos de contaminação durante a locomoção e/ou inserção no espaço da instituição de salvaguarda.

2.3.2.3 Cerâmicas

As cerâmicas são variadas tanto no que se refere ao seu método de confecção, de sua pasta, motivos decorativos ou ainda quanto aos seus usos e resulta do processo irreversível do cozimento da argila. A cerâmica em sua composição não é sensível à luz, mas sim na pigmentação usada para decoração e, por mais resistentes que sejam as coleções cerâmicas, os impactos mecânicos são os principais fatores degenerativos, uma vez que durante a locomoção, montagem de exposição ou acondicionamento inadequado, elas podem sofrer desgaste, ruptura ou esfacelamento, classificando assim o agente de deterioro como antrópico. Para fins de organização, optou-se por subdividir as tipologias de cerâmica, de acordo com o estudo arqueológico, a saber, cerâmica pré-colonial e cerâmica colonial. A primeira

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delas é muito suscetível aos agentes biodegradativos, por conter, muitas vezes, materiais orgânicos na composição de sua pasta, atraindo desta forma insetos como traças e brocas, podendo ainda serem atacadas por fungos e musgos, quando submetidas a umidade e temperatura excessivas (Figura 9). No caso das cerâmicas coloniais, por se tratarem de materiais inorgânicos, não são suscetíveis à alterações por radiação, por outro lado, “os acabamentos vitrificados, as pátinas, os esmaltes e as resinas (..) em suas superfícies podem sofrem alterações de coloração quando expostos à luz natural ou artificial” (SOUZA e FRONER, 2008, p. 11). Quando se realiza reconstituição de maneira inapropriada, a cola ou químico semelhante usado pode ser propícia à proliferação de fungos, conforme Figura 10 e 11.

Figura 9: Cerâmica pré-colonial com marcas de deterioro por traças. Sítio Arqueológico Cabeceira do Raimundo.

Fonte: Foto da autora. 04/05/2016.

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Figura 10: Cerâmica Colonial apresentando ataque biológico devido à reconstituição com cola inapropriada. Sítio Arqueológico Casarão dos Melo (São Matinho da Serra – RS).

Fonte: Foto da autora. 04/05/2016.

Figura 11: Ataque biológico registrado por um microscópio digital USB com zoom de 800x. Sítio Arqueológico Casarão dos Melo (São Matinho da Serra – RS).

Fonte: Foto da autora. 04/03/2016.

Abundante nas escavações, a cerâmica arqueológica pode ser encontrada em diferentes estágios de conservação, por isso, é necessário que se realizem procedimentos de curadoria e conservação preventivas adequados desde sua coleta até a inserção desta no acervo da instituição de pesquisa.

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2.3.2.4 Vidros

Ataques alcalinos são muito comuns em materiais arqueológicos vítreos e são considerados degenerativos por promoverem lixiviação dos íons e alteração do pH da superfície, que quando superior a 7, se torna ainda mais alcalina. O primeiro estágio deste agente de deterioro é a opacidade da face externa do objeto, podendo chegar a um estado de iridescência, que conforme Zanettini e Camargo (1999), “o processo está relacionado às reações químicas provocadas pelo contato do artefato com a terra e a atmosfera”, onde crostas multicores se formam na superfície em processo de descamação (Figuras 12 e 13), podendo causar danos como o esfacelamento, rachadura e também perda de suporte.

Figura 12: Processo de Iridescência (que reflete as cores do arco-íris) em fragmentos de vidros arqueológicos. Sítio Arqueológico Estância Velha do Jarau (Quaraí – RS).

Fonte: Foto da autora. 04/05/2016.

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Figura 13: Processo de iridescência em vidro, registrado por microscópio USB digital com zoom de 800x. Sítio Arqueológico Estância Velha do Jarau (Quaraí – RS).

Fonte: Foto da autora. 04/05/2016.

Vidros coletados em escavações ou submetidos à condições de salvaguarda hostis, em um ambiente úmido, com poeira ou componentes graxos em sua superfície, com aplicação de adesivos e/ou consolidantes no processo de curadoria, acabam desenvolvendo um meio nutritivo propício aos microrganismos. Porém, os acidentes mais comuns são devidos ao manuseio dos objetos que compõem esta tipologia, caracterizando-se como a mais sensível dentro de acervos arqueológicos, uma vez que sua resistência mecânica é frágil e podem ser facilmente danificados em sua manipulação para exposições, transporte ou acondicionamento indevidos.

2.3.2.5 Ossos

A conservação de coleções osteológicas, por ser composta de materiais com propriedades orgânicas e inorgânicas, está condicionada ao solo, se ácido ou básico, e o sedimento que se adere ao material pode revelar dados interessantes ao pesquisadores quando analisadas suas características físico-químicas. Neste sentido, é aconselhável que, no ato de higienização, não se descarte esses vestígios.

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Estes materiais são suscetíveis ao calor e à umidade, a água causa a hidrólise da osteína e destrói a estrutura orgânica de sua composição interna. Por outro lado, sob a ação dos ácidos, a estrutura inorgânica dos ossos se desintegra rapidamente. No que se trata aos fatores biológicos, são raros quando os ossos passam por um processo de curadoria adequado. Porém, a combinação entre a deposição de sedimentos com a penetração de água acabam por criar um ambiente propício à proliferação de fungos, ou ainda se os resíduos orgânicos são mantidos devido a uma higienização ineficaz, microrganismos e insetos são atraídos, promovendo assim infestações (Figura 14).

Figura 14: Osso com marca de deterioro por brocas. Sítio Arqueológico Estância Velha do Jarau (Quaraí – RS).

Fonte: Foto da autora. 04/05/2016.

2.3.3 Conservação Curativa

Quando o material arqueológico apresenta um potencial de perda das suas características extrínsecas e esta constatação se dá por fator de risco para sua integridade física, faz-se necessário o trabalho curativo. Diferentemente da conservação preventiva, a Conservação Curativa atua diretamente sobre o objeto, interrompendo ou atrasando os processos de degradação, podendo ser eles corrosivo, infestação biológica ou degeneração, e foi descrita pelo ICOM – International Council of Museums como

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All actions directly applied to an item or a group of items aimed at arresting current damaging processes or reinforcing their structure. These actions are only carried out when the items are in such a fragile condition or deteriorating at such a rate, that they could be lost in a relatively short time. These actions sometimes modify the appearance of the items (ICOM, 2008).

Alguns procedimentos de conservação curativa podem ser citados, tais como a dessalinização, necessária quando existe presença de sais na superfície dos materiais arqueológicos, e que consiste na operação de, por processos químicos e físicos, retirar o excesso de sal e outros minerais das peças. Há também o processo de consolidação, que pode ser definido como um tratamento de conservação destinado a devolver a coesão ou consistência dos materiais ou das técnicas decorativas que apresentam. Considera-se consolidação a aplicação de produtos adesivos, por impregnação, pulverização, injeção e imersão, de forma a assegurar a sua penetração na peça, podendo ser aplicados pontualmente ou na totalidade das peças. Porém, o produto consolidante não deve alterar a estética dos objetos, mas sim permitir a execução de tratamentos posteriores e ser o mais irreversível possível. Um dos métodos conservativos curativos mais aplicados nas reservas técnicas de acervos arqueológicos é a reconstituição, embora muitas vezes erroneamente. Caracterizado pela aplicação de uma cola de pH neutro diretamente nas zonas de fratura, empenhando alguma pressão para garantir a aderência, o processo de reconstituição precisa levar em consideração alguns fatores no momento da escolha da cola, a saber: a força de ligação, a viscosidade, a reversibilidade, a compatibilidade, a cor e translucidez e a durabilidade e sensibilidade às condições ambientais. Caso este procedimento seja realizado com produtos adesivos inadequados, poderá causar danos futuros à integridade do patrimônio arqueológico. Há também outros métodos que atuam diretamente sobre os objetos na tentativa de interromper ou atrasar sua degradação: a desinfestação de vestígios orgânicos, a desacidificação, desidratação de materiais arqueológicos úmidos, estabilização de metais corroídos, o preenchimento de lacunas e a reintegração cromática. Neste sentido, o presente capítulo pretendeu mostrar a todos que participam da preocupação e responsabilidade de conservar uma importante parcela do patrimônio cultural uma gama destes problemas que afetam a existência das coleções arqueológicos. A gestão de acervos possui vários desafios que vão desde as condições de armazenamento e exposição de objetos, até o controle ambiental e os fatores de deterioro aos quais os materiais podem estar submetidos.

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Portanto, a qualificação profissional contínua e a viabilização de metodologias que permitam a práxis adequada ao acervo são aspectos fundamentais a serem considerados por qualquer instituição de salvaguarda de patrimônios arqueológicos.

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CAPÍTULO 3 - ANÁLISES DOS MÉTODOS

Neste último capítulo, será tratado a descrição dos métodos curatoriais e conservativos que foram aplicados no LEPA-UFSM, no recorte temporal selecionado, através da análise dos trabalhos acadêmicos cujo acervo formado está sob a guarda do Laboratório, logo, as campanhas de campo que geraram coleções que não se encontram mais neste local da mesma forma não serão mencionados aqui. É importante ressaltar que a constituição de um acervo exige um cuidado metodológico rigoroso acompanhado do registro detalhado, tanto no momento da pesquisa de campo, como na posterior organização da informação. Caso contrário não se trata de acervo, e sim de artefatos e peças descontextualizadas. Neste sentido, na primeira parte, intitulada “Arrolamento e descrição dos métodos desenvolvidos no LEPA”, identifica-se os procedimentos curatoriais e conservativos aplicados nas coleções em laboratório, mencionados nos trabalhos acadêmicos publicados, bem como, uma breve análise destes métodos a partir das imagens apresentadas pelos autores em seus trabalhos. No subcapítulo final, intitulado “Análise empírica dos procedimentos” se apresentará um quadro comparativo do registro das informações coletadas no LEPA sobre a curadoria realizada na época e o atual estado de conservação das peças arqueológicas provenientes das campanhas de campo que culminaram em monografias, dissertações e teses e ainda estão sob salvaguarda do Laboratório.

3.1 ARROLAMENTO E DESCRIÇÃO DOS MÉTODOS DESENVOLVIDOS NO LEPA Nesse tópico, grande parte das análises realizadas foram executadas a partir das fotografias do material arqueológico, presentes nos trabalhos acadêmicos publicados, uma vez que grande parte destes apresentam referência superficial ou ausência de informações relacionadas aos processos de curadoria. Neste sentido, é importante ressaltar que os pesquisadores responsáveis por esses registros fotográficos enfocavam outros aspectos relativos estritamente à pesquisa arqueológica, e não às informações relevantes para a curadoria do acervo, dificultando, portanto, na maioria dos casos, a análise mais profunda dessas questões.

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3.1.1 Estância Velha do Jarau

Dos três trabalhos publicados a respeito da Estância Velha do Jarau, a saber GOMES (2001), que analisa as cerâmicas coloniais de função utilitária louçaria, NOBRE (2011), que estuda os ossos do mesmo sítio arqueológico e THOMASI (2010), este último, descreve de maneira mais ampla, em relação aos demais, os procedimentos curatoriais e conservativos aplicados no LEPA, embora se atenha apenas às peças metálicas, que são o alvo de suas pesquisas. A curadoria e a conservação oferecidas aos materiais provenientes deste sítio mencionadas nestes trabalhos, serão analisadas, em conformidade com suas tipologias, nos subtópicos a seguir.

3.1.1.1 Metais

Thomasi em sua dissertação de mestrado descreve detalhadamente as várias etapas de limpeza e conservação utilizadas na coleção ao longo do espaço de tempo compreendido entre 2003 e 2010, escrevendo inclusive um subcapítulo intitulado “Método de Limpeza e Preservação do Material: Metais da Estância Velha do Jarau”, dedicado apenas a explicitá-las. A autora propôs, em 2003, um processo de higienização e preservação do material por limpeza mecânica, e posteriormente, submersão em óleo diesel com o objetivo de facilitar o desprendimento da crosta e manter o material longe do contato com o oxigênio, responsável pela oxidação dos metais. No entanto, Thomasi reconhece que este método não trouxe vantagens significativas, pois a proteção proporcionada à peça pela aplicação do Diesel é temporária, além de dificultar o manuseio das peças e necessitar de repetição contínua (2010, p. 75). O resultado da aplicação desta metodologia no material arqueológico pode ser observado na Figura 15.

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Figura 15: Ferradura de Mula com aplicação de óleo Diesel. Sítio Arqueológico do Jarau (Quaraí- RS).

Fonte: THOMASI, D. I. (2010, p. 85).

A pesquisadora, ao utilizar este método, cometeu um equívoco, uma vez que o óleo Diesel contém propriedades químicas danosas a algumas tipologias de metal e que oferecem alta periculosidade à quem o manuseia. Tais propriedades são mais explicitadas na Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico (ANEXO A), disponibilizada pela Petrobrás no site da BR. No ano de 2006, Thomasi passa a utilizar o Convertedor de Ferrugem, que segundo ela “forma uma fina camada sobre a peça que a protege da umidade e a mantém intacta, entretanto o Convertedor já se mostrava ineficaz para ligas de cobre, ouro, prata e outros metais nobres, além de interferir na coloração do material, independente da matéria-prima, além disso, com o passar do tempo e o manuseio, essa fina camada se desprende do material, perdendo seu propósito” (2010, p. 75).

Infelizmente, o produto químico referido foi aplicado em grande quantidade de peças da coleção do Jarau, que voltaram a corroer e apresentam uma coloração negra que dificulta a análise arqueológica por cobrir as características extrínsecas da peça, como marca do fabricante e sinalização de uso. No mesmo ano, a autora recebeu orientações da arqueóloga Fernanda Tocchetto no V Encontro Regional da SAB Sul sobre como usar a Cera Microcristalina para preservação de

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metais e, associadas às explicações de Costa (1991) e Cézar (1997) “o material foi submetido a uma raspagem atenta e delicada, com bisturis, lixas e escovas de cerdas macias, além de uma broca de rotação controlável, a fim de retirar a crosta de sujeira e oxidação impregnadas na peça” (THOMASI, 2010, p. 75). Para finalizar o procedimento, a Cera Microcristalina foi empregada, usando como referencial Costa (1999), dissolvida em querosene até se tornar pastosa e aplicou-se no material “criando uma camada fina, neutra, transparente e imperceptível ao toque, o que facilita o manuseio das peças bem como promove uma proteção completa da peça frente aos variados agentes oxidantes, tais como o oxigênio e a umidade do ar” (THOMASI, 2010, p. 76). O resultado final do procedimento pode ser observado através da Figura 16. Thomasi comenta que algumas peças em que o Convertedor de Ferrugem foi aplicado ainda apresentavam um alto grau de degradação e que por isso a camada deste produto foi mantida “a fim de não interferir mais em sua estrutura, sendo então passada a Cera Microcristalina sobre essa camada de convertedor, o que selou a peça, evitando o desprendimento deste produto anteriormente aplicado da peça” (Idem, p. 76).

Figura 16: Cartuchos le-fecheaux após limpeza mecânica e aplicação de Cera Microcristalina. Sítio Arqueológico Estância Velha do Jarau (Quaraí - RS).

Fonte: THOMASI, D. I. (2010, p. 81)

Porém, analisando as peças em que se aplicou a Cera em cima do Convertedor de Ferrugem, percebeu-se que ambos os procedimentos foram ineficazes, uma vez que por baixo

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da cera o material continuou oxidando, como pode-se contemplar na Figura 17, e na Figura 18, onde a cera aparentemente foi aplicada por cima do óleo diesel. As duas imagens a seguir também foram retiradas do trabalho de Thomasi.

Figura 17: Ferraduras de cavalo com aplicação de Cera Microcristalina por cima do Convertedor de Ferrugem. Sítio Arqueológico Estância Velha do Jarau (Quaraí – RS).

Fonte: THOMASI, D. I. (2010, p. 88).

Figura 18: Fragmento de arado com aplicação de óleo Diesel e Cera Microcristalina. Sítio Arqueológico Estância Velha do Jarau (Quaraí – RS).

Fonte: THOMASI, D. I. (2010, p. 89).

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A pesquisadora finaliza esta parte de seu trabalho afirmando que “todo o material foi acondicionado em envelopes de papel de pH neutro, visto que papeis ácidos podem reagir com os metais, ocasionando perdas parciais ou totais do material já limpo e conservado” (Idem, p. 76). Ao procurar esta coleção na reserva técnica do LEPA para a análise empírica do subcapítulo seguinte, percebeu-se que estes já não se encontram mais na forma de acondicionamento mencionado por Thomasi e isso se dá ao fato do material ter sido pesquisado posteriormente por outros alunos do curso de História da UFSM que já integraram a equipe do Laboratório, mas não publicaram os resultados de suas pesquisas. Segundo a referida autora,

a utilização desse método de limpeza e preservação se mostrou bastante válida, inclusive do ponto de vista financeiro, visto que se utiliza da infra-estrutura já presente no LEPA, não necessita de treinamento prévio tampouco da presença de especialistas, e o mais importante, preserva o material arqueológico de forma efetiva (Idem, p. 76).

Apesar de todos os procedimentos curatoriais e conservativos inadequados utilizados na pesquisa do material metálico do sítio Jarau, a justificativa utilizada para a aplicação destes foi vinculada aos “métodos de limpeza como o ultra-som, eletrólise, e as decapagens ácidas e alcalinas, (...) não se mostram vantajosas à realidade do LEPA e dos metais advindos das escavações na Estância”. A pesquisadora reconhece que tais metodologias são eficazes mas ressalta que estas necessitam de “uma infra-estrutura mais especializada que possua equipamentos bastante específicos, tais como instalações de câmaras de isolamento de gases e aparelhos como o ultra-som, estruturas essas que o LEPA não possui”. Ademais, Thomasi complementa que “os metais arqueológicos possuem, em sua grande maioria, a infra-estrutura já comprometida, sendo impossível submetê-los a certos processos de limpeza” (2010, p. 76).

3.1.1.2 Cerâmica Colonial

Esta tipologia de material arqueológico foi pesquisada por Flamarion Gomes, que faz um registro escasso, em termos de curadoria e conservação, sobre quais foram os procedimentos aplicados especificamente, e isso é compreensível pelo fato de sua pesquisa ser estritamente arqueológica. Gomes afirma que “em laboratório, procedeu-se as etapas de lavagem, numeração, catalogação, separação do material em categorias de acordo com a matéria-prima, seguindo-se de

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restauração, análise tecnotipológica dentro de cada categoria de material, fotografia e desenho das peças mais importantes, e por fim, interpretações quanto ao seu aspecto funcional e simbólico e sua relação com a estrutura correspondente” (2001, p. 97).

O autor também não inseriu fotografias em sua dissertação de mestrado, fazendo com que a análise dos métodos aplicados por ele se desse de maneira empírica e apresentados os registros na segunda parte deste capítulo.

3.1.1.3 Vidros Infelizmente, não foram citados processos de intervenção nem registros fotográficos nesse tipo de material nos trabalhos acadêmicos realizados junto ao acervo LEPA. Isso fez com que a pesquisadora coletasse dados empiricamente para apresentar no subcapítulo seguinte. Sabe-se que até o final do ano de 2016 será defendida uma monografia de conclusão de curso relacionada ao estudo dos vidros provenientes da Estância Velha do Jarau.

3.1.1.4 Ossos Estes materiais foram alvo das pesquisas de NOBRE (2011) que, apesar de fornecer pouquíssimas informações, realizou um registro fotográfico passível de análise dos procedimentos de curadoria. Segundo esta autora, “todo o material resgatado durante as campanhas de escavação foi limpo, identificado, catalogado por ano e locus de escavação, bem como, acondicionado adequadamente conforme a sua natureza” (p. 101). Na Figura 19, percebe-se que a marcação é realizada com aplicação de tinta nankin e auxílio de uma pena, não permitindo assim a uniformidade dos números. Observa-se também que se utilizou na época duas numerações, indicando a intenção do registro de duas informações diferentes na peça.

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Figura 19: Metatarso apresentando método de catalogação utilizado na época.

Fonte: NOBRE (2011, p. 109).

A autora registra ainda a fratura ocorrida em uma peça durante o resgate na escavação (Figura 20), destacando que no lado esquerdo pode-se observar a vista dorsal do material arqueológico, e do lado direito a degradação antrópica.

Figura 20: Falange mesial apresentando marcação e a fratura ocasionada no ato de coleta.

Fonte: NOBRE (2011, p. 111).

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3.1.2 São Martinho da Serra

Este sítio arqueológico foi analisado na tese de doutorado da pesquisadora Neli Machado (2004) e não traz registros de curadoria e conservação dos materiais coletados em campo. Todavia, seu trabalho conta com registros fotográficos que servirão neste trabalho para fins de breve análise dos procedimentos.

3.1.2.1 Líticos

Esta tipologia de material aparenta ter sido bem higienizada e mostra uma marcação numérica realizada com aplicação de tinta nanquim diretamente sobre as peças e auxílio de um instrumento conhecido como pena, que acaba por não gerar números uniformes (Figura 21).

Figura 21: Pederneiras Crioulas apresentando método de marcação. Sítio Arqueológico São Martinho da Serra (RS).

Fonte: MACHADO (2004, p. 106).

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3.1.2.2 Cerâmica Pré-Colonial

Machado não faz nenhuma referência em seu trabalho sobre a higienização, catalogação, conservação preventiva, restauração ou acondicionamento das peças de Cerâmica Pré-Colonial. Tampouco é passível de observação dessas características a imagem inserida em sua tese (Figura 22).

Figura 22: Evidências arqueológicas cerâmicas dos sítios Lava Pés e Guarda de San Martin, sem apresentar procedimentos curatoriais. (São Martinho da Serra - RS).

Fonte: MACHADO (2004, p. 103).

3.1.2.3 Metais A partir do registro fotográfico de Machado, percebe-se que a numeração foi realizada através da aplicação direta de corretivo líquido no material arqueológico metálico, e posteriormente escrito os números com tinta nanquim e pena, como observa-se nas imagens 23 e 24. Esta metodologia é inadequada pois o produto contém substâncias danosas à estrutura dos metais.

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Figura 23: Bijouterias (brinco, anel), parte de um cinto masculino, medalhas e outro acessório masculino (cinto); nota-se a marcação feita com corretivo líquido e nanquim. (São Martinho da Serra - RS).

Fonte: MACHADO, N. T. G. (2004, p. 105).

Figura 24: Projéteis e cartuchos estourados, apresentando procedimento de marcação inadequado. (São Martinho da Serra - RS).

Fonte: MACHADO, N. T. G. (2004, p. 105).

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3.1.2.4 Cerâmica Colonial

No que tange aos registros fotográficos realizados pela pesquisadora Neli Machado das cerâmicas coloniais, estas pouco revelam sobre os procedimentos de Laboratório. Nas imagens das louças observa-se que houve reconstituição das peças (Figuras 25), e na do tinteiro é perceptível que a marcação foi realizada com aplicação direta de nanquim no material arqueológico (Figura 26). Esta metodologia não é adequada porque pode causar danos ao objeto, raspando-o com a pena no ato da numeração. Figura 25: Terrina em shell edge e tigela floral, ambas reconstituídas (São Marinho da Serra – RS).

Fonte: MACHADO, N. T. G. (2004, p. 114).

Figura 26: Tinteiro feito em grés com marcação inapropriada (São Martinho da Serra - RS).

Fonte: MACHADO, N. T. G. (2004, p. 119).

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3.1.2.5 Vidros

As imagens dos materiais vítreos revelam o início do processo de iridescência (Figura 27), e não há menção sobre a possibilidade de ter sido coletado assim ou ter se desenvolvido na reserva técnica do LEPA. Há também um pouco de sujidade, apresentando provável higienização inapropriada ou ainda não realizada. O método de marcação se mostrou igual ao aplicado nos metais, com uma camada de corretivo e posterior escrita em tinta nanquim preta (Figura 28).

Figura 27: Recipientes de perfumes ou remédio, com sujidade e início de iridescência. (São Martinho da Serra - RS).

Fonte: MACHADO. N. T. G. (2004, p. 108).

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Figura 28: Gargalos com sujidade e marcação inadequada (São Martinho da Serra - RS).

Fonte: MACHADO. N. T. G. (2004, p. 108).

3.1.2.6 Ossos

Não possui nenhuma imagem documentada nem comentários a respeito. No subcapítulo seguinte serão apresentadas fotografias contemporâneas desta tipologia de material arqueológico.

3.1.3 Pedra Grande

Neste item retratar-se-á uma análise dos procedimentos curatoriais e conservativos aplicados nos materiais resgatados nas campanhas de campo a partir do registro fotográfico presente no trabalho de Silvana Zuse. As tipologias coletadas e tratadas aqui, a saber, são líticos, cerâmica pré-colonial e ossos.

3.1.3.1 Líticos

As imagens registradas por ZUSE (2009) a respeito dos materiais líticos demonstram que houve higienização nas peças e que a marcação foi realizada mais uma vez com submersão da ponta de uma pena em tinta nanquim, revelando um padrão dos métodos de catalogação no LEPA, visto que este procedimento se repete em objetos resgatados em

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diferentes campanhas de campo realizadas em anos distintos. Também se observa que os pesquisadores têm utilizado com frequência etiquetas adesivas com números escritos ou flechas indicando a direção do lascamento, e isto, do ponto de vista da conservação, é um equívoco, salvo se as etiquetas sejam Acid free, principalmente porque, não é usual, após o encerramento do estudo das coleções, as etiquetas serem removidas, submetendo assim o material à condições próprias para a proliferação de microrganismos. Ambas as situações podem ser contempladas na Figura 29.

Figura 29: Instrumento Plano Convexo com marcações e colagens de etiquetas adesivas inadequadas. Sítio Arqueológico Pedra Grande (São Pedro do Sul – RS).

Fonte: ZUSE, S. (2009, p. 102).

3.1.3.2 Cerâmica Pré-Colonial

As fotografias presentes no trabalho de ZUSE indicam várias falhas no que tange à curadoria e à conservação de artefatos arqueológicos. Dentre elas podem ser citadas a marcação (comumente chamada pelos arqueólogos de catalogação, o que é um equívoco do ponto de vista museológico, pois o ato de catalogar está ligado ao processo de documentação, que é muito mais abrangente) inapropriada e apresentando desgaste, comprometendo assim o registro das informações que se pretendia na época; reconstituição realizada com goma que

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ocasionou um aspecto de umidade à composição das peças; e o mais grave, imagens de uma vasilha fragmentada com musgos (Figura 30), apresentando que não houve uma higienização eficaz, no caso de terem chegado nas dependências do LEPA desta maneira, ou que não houve nenhum processo de conservação preventiva ou vistoria periódica do acervo.

Figura 30: Fragmentos de vasilha com presença excessiva de musgos. Sítio Arqueológico Pedra Grande (São Pedro do Sul - RS).

Fonte: ZUSE (2009, p. 156).

3.1.3.3 Ossos

Embora só haja uma imagem dos ossos salvos em escavação no sítio Pedra Grande, provenientes de um sepultamento em urna funerária yapepó, esta revela o acúmulo de sujidade em algumas partes dos remanescentes humanos, sinalizadas em vermelho na Figura 31, indicando que o material não foi higienizado adequadamente, ou ainda que foi analisado antes da finalização do procedimento de limpeza e retirada completa dos sedimentos.

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Figura 31: Ossos encontrados no interior de urna funerária, com acúmulo de sedimento nas extremidades. Sítio Arqueológico Pedra Grande (São Pedro do Sul - RS).

Fonte: ZUSE (2009, p. 162).

3.1.4 Cerritos

Dos três sítios cerritos pesquisados pelo LEPA e que o material continua sob sua salvaguarda, o único que resultou em trabalho acadêmico publicado foi o intitulado “Corredor do Bolso”, localizado no município de Santa Margarida do Sul – RS. Entretanto, no que cabe às atividades curatoriais exercidas sobre o acervo coletado, Ricardo Pellegrin Marion pouco enfoca em sua dissertação de mestrado a metodologia aplicada nas peças arqueológicas quando na chegada ao Laboratório. Segundo o pesquisador, ainda sobre os materiais, “na chegada ao Laboratório, estes passaram por processos de higienização e catalogação e foram analisados a fim de se identificar características preliminares” (MARION, 2008, p. 11). A seguir serão analisados os registros fotográficos do referido autor com intuito de identificar estes procedimentos, no lítico e cerâmica pré-colonial, respectivamente.

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3.1.4.1 Líticos

As imagens usadas por Ricardo Marion mostraram-se muito esclarecedoras, pois revelam uma marcação, assim como as anteriores, realizada com nanquim. Do ponto de vista conservativo, esta tinta não é considerada um problema, mas deve ser usada de maneira adequada: nunca diretamente sobre o material, mas sim com uma fina camada de verniz por baixo da escrita; além disso, o uso da pena deve ser abandonado em detrimento da utilização da caneta própria para nanquim, instrumento que possibilita o controle da quantidade do produto liberada por vez, e preferencialmente, com ponta de 0,1mm para possibilitar a uniformidade da numeração tanto no que diz respeito ao formato quanto ao tamanho dos caracteres, evitando deformidades ou registros incompreensíveis, uma vez que para remover a tinta e reiniciar o processo de marcação requer a aplicação de produto removedor específico, cujo desconhecimento do processo e utilização de químicos inadequados podem comprometer a integridade do objeto. Na Figura 32, observa-se que não houve a preocupação em utilizar o verniz ou a caneta própria para nanquim, e tão pouco, o cuidado com a extensão dos números, que ocupam muito espaço relativo ao tamanho da peça.

Figura 32: Exemplares de estilhas de matérias-primas diversas, apresentando catálogo com aplicação de tinta nanquim em tamanho desproporcional ao das peças. Sítio Arqueológico Corredor do Bolso (Santa Margarida do Sul - RS).

Fonte: MARION, R. P. (2010, p. 103).

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3.1.4.2 Cerâmica Pré-Colonial

Nas imagens dos objetos cerâmicos, observa-se que a numeração escrita provavelmente foi realizada com uma caneta para nanquim, a julgar pela uniformidade dos números, conforme Figura 33. Porém, é perceptível da mesma forma, que não foi aplicado verniz sob a tinta, o que é considerado inadequado, pois pode produzir danos, por “arranhar”, o material arqueológico e ainda, avariar a ponta da caneta; bem como, sobre o pigmento, que viria a dificultar a perda de registro durante o manuseio.

Figura 33: Fragmentos cerâmicos com decoração corrugada - Face interna, com provável marcação por caneta nanquim e sem aplicação de verniz. Sítio Arqueológico Corredor do Bolso (Santa Margarida do Sul - RS).

Fonte: MARION, R. P. (2010, p. 142).

3.1.5 Santa clara

Apesar dos pesquisadores deste sítio não mencionarem o trabalho de curadoria aplicado nos materiais quando na chegada ao Laboratório, pôde-se observar de perto as intervenções realizadas nos objetos, uma vez que a autora deste trabalho de conclusão de graduação já estava inserida na equipe do LEPA nas duas últimas campanhas de campo e se encarregou da realização da curadoria.

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A autora do presente trabalho observou que antes das escavações realizadas nos anos de 2012 e 2013, a higienização ocorria conforme os pesquisadores que trabalhavam com cada tipologia de material julgavam necessário, e no caso da catalogação, elas seguiam o “padrão” adotado pelo Laboratório de aplicar a tinta nanquim, fosse com o auxílio de uma pena ou com caneta própria para o uso, mas sem a utilização do verniz por baixo, para que não comprometesse a superfície do material, ou por cima, como forma de impermeabilização. O acondicionamento se dava por meio da inserção dos materiais em contêineres que se encontravam embaixo das mesas dos pesquisadores, sem o estabelecimento de uma reserva técnica onde se soubesse a localização dos materiais e sem o controle das condições ambientais as quais os objetos estavam submetidos. No entanto, todos os materiais arqueológicos resgatados neste sítio foram inseridos na reserva técnica do LEPA-UFSM, e os provenientes das duas últimas campanhas de campo passaram pelos devidos processos de curadoria e conservação preventiva logo na chegada ao Laboratório, antes mesmo do processo de análise, e serão explicitados ainda neste capítulo.

3.1.5.1 Líticos

Bruno da Silva, em sua monografia, disponibiliza imagens dos materiais arqueológicos já com a “nova metodologia” de marcação e higienização estabelecidas com a entrada de uma profissional da museologia no LEPA e aplicadas pela pesquisadora da área de curadoria e conservação arqueológica. Observa-se que o material não demostra acúmulos de sujidade, que confere com a higienização apropriada que foi realizada, e a marcação com aplicação de uma camada de verniz, antecedendo a marcação com caneta nanquim de ponta 0,1 mm e mais uma camada do produto, impermeabilizando o registro na peça, fazendo com que o mesmo não se perca durante o manuseio. A aplicação do verniz é perceptível na imagem utilizada por Silva através do reflexo típico que gera nas fotografias, como pode ser conferido na Figura 34. Apesar de todas as qualidades no trabalho de curadoria deste material, durante a pesquisa arqueológica, foram aplicadas fitas adesivas para maior compreensão arqueológica do processo de remontagem, mas que não são de pH neutro e podem vir a causar danos ao material com o passar do tempo.

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Figura 34: Processo de remontagem simples em material lítico, apresentando catalogação adequada e aplicação de etiquetas inapropriadas. Sítio Arqueológico Santa Clara (Quaraí RS).

Fonte: SILVA, B. G. da. (2014, p. 113).

3.1.5.2 Metais

A fotografia inserida na dissertação de Jaqueline Pes revela o estado de conservação dos metais, com processo oxidativo e aparente falta de higienização adequada ou não realizada (Figura 35). Não é possível verificar nenhum tipo de catalogação, indicando que esta tenha sido realizada no verso dos materiais ou apenas posteriormente ao registro fotográfico. Estas peças são oriundas das primeiras escavações no sítio Santa Clara.

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Figura 35: Facas e garfo com oxidação. Sítio Arqueológico Santa Clara (Quaraí - RS).

Fonte: PES, J. F. (2013, p. 59).

3.1.5.3 Cerâmica Colonial

O trabalho de Pes conta com um vasto registro fotográfico das cerâmicas coloniais, porém poucas apresentam algum agente de deterioro, sistema de catalogação ou higienização. Na figura 36, é possível visualizar o processo de craquelamento da superfície de um fragmento de louça, indicando superficialmente seu estado de conservação. Figura 36: Fragmento de louça com decoração trigal apresentando processo de craquelamento. Sítio Arqueológico Santa Clara (Quaraí - RS).

Fonte: PES, J. F. (2013, p. 85).

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3.1.5.4 Vidros e Ossos

Não foram inseridas imagens destas tipologias de materiais arqueológicos nos trabalhos acadêmicos, e da mesma forma, os pesquisadores não mencionaram os procedimentos de curadoria ou estado de conservação das peças.

3.1.6 Areal Lucio Lemes em sua dissertação de mestrado não faz menções específicas aos procedimentos laboratoriais, tais como higienização, catalogação, acondicionamento ou diagnóstico do estado de conservação dos materiais constituintes da coleção que foi alvo de suas pesquisas. Contudo, o registro fotográfico realizado pelo pesquisador indica informações relevantes sobre cuidados da conservação preventiva que não foram tomados.

3.1.6.1 Líticos

As imagens utilizadas por Lemes demonstram que foi realizada uma remontagem com apoio de espuma e barbantes (Figura 37) que é propícia aos ataques biológicos, se mantidos no acondicionamento pós-análise. É possível perceber também o uso de etiquetas adesivas nas retiradas dos líticos (Figura 38), utilizadas no estudo arqueológico para compreensão do processo de lascamento das peças, porém, estas fitas são de papel, podendo atrair traças e outros insetos que se alimentam dessa matéria orgânica, não causando danos propriamente ao lítico, mas uma vez infiltrados no acervo, podem atingir outras tipologias de material inseridas na reserva técnica do LEPA, causando danos a longo prazo nas superfícies líticas.

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Figura 37: Remontagem de seixo realizada com barbantes e espuma como suporte. Sítio Arqueológico Areal (Quaraí -RS).

Fonte: LEMES, L. (2008, p. 132).

Figura 38: Preensão do material lítico, apresentando colagem de etiquetas de papel adesivas. Sítio Arqueológico Areal (Quaraí - RS).

Fonte: LEMES, L. (2008, p. 136 e 139).

3.1.6.2 Cerâmica Pré-Colonial

Não foram inseridos registros fotográficos desta tipologia de material no trabalho de Lúcio Lemes, nem mesmo se mencionou se foram realizados procedimentos de curadoria e as condições de acondicionamento. No momento, esta coleção está sendo pesquisada por uma

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discente do mestrado da PUC-RS e o resultado de suas análises será divulgado em uma dissertação que será defendida entre dezembro de 2016 e março de 2017.

3.2 ANÁLISE EMPÍRICA DOS PROCEDIMENTOS

Neste último subcapítulo serão apresentados os resultados da análise dos procedimentos curatoriais e conservativos, a partir dos dados coletados empiricamente, a fim de estabelecer um quadro comparativo do estado atual de conservação dos materiais arqueológicos, bem como demonstrar a curadoria não mencionada nos trabalhos acadêmicos publicados sobre o acervo LEPA e que não pôde ser percebida pelo registro fotográfico constante nestes. Ademais, este subcapítulo se propõe também a auxiliar possíveis pesquisas a serem realizadas no LEPA, no sentido de as metodologias inadequadas não serem repetidas, bem como deixar um histórico dos processos curatoriais e conservativos como informativo para que um futuro profissional possa melhor decidir os procedimentos a serem executados após fazer um diagnóstico dos materiais que foram mal-curados.

3.2.1 Estância Velha do Jarau Segue as observações e análises curatoriais realizadas na coleção do referido sítio arqueológico, inserida no LEPA, com finalidade de contribuir academicamente através da indicação do atual estado de conservação dos materiais provenientes de suas campanhas de campo.

3.2.1.1 Metais

A análise empírica dos objetos inseridos nesta coleção será apresentada com imagens espelhadas dos objetos selecionados por THOMASI (2010), indicando se os métodos de conservação aplicados pela autora foram eficazes ou não. Deste modo, a Figura 39 é a versão contemporânea da imagem 15, onde fica claro o que foi mencionado sobre a aplicação da Cera Microcristalina em cima dos métodos utilizados anteriormente. Observa-se também,

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marcação realizada provavelmente com caneta para nanquim, que garantiu a uniformidade da escrita pelo sistema de catalogação alfanumérico. Da mesma forma, a Figura 40 é uma tentativa de reprodução da imagem 18, que também apresentava aplicação da Cera Microcristalina por cima do Óleo Diesel, mas que agora tem sua superfície em estágio de salinização. Durante a busca dos materiais arqueológicos para se fazer uma análise comparativa, foi diagnosticado um ataque biológico em um dos metais da coleção, onde havia sido aplicado por Thomasi o Convertedor de Ferrugem. Este agente de deterioro pode ser melhor observado nas Figuras 41 e 42.

Figura 39: Ferradura de mula com aplicação de Cera Microcristalina em cima do óleo diesel e marcação com caneta nanquim branca. Sítio Arqueológico Estância Velha do Jarau. (Quaraí RS).

Fonte: Foto da autora. 18/05/2016.

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Figura 40: Fragmentos de arado com processo de salinização em superfície. Sítio Arqueológico Estância Velha do Jarau. (Quaraí - RS).

Fonte: Foto da autora. 18/05/2016.

Figura 41: Metal com aplicação de Convertedor de Ferrugem apresentando agente biodegradativo. Sítio Estância Velha do Jarau (Quaraí - RS).

Fonte: Foto da autora. 18/05/2016.

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Figura 42: Metal com aplicação de Convertedor de Ferrugem apresentando agente biodegradativo, registrado com microscópio USB digital com zoom 800x. Sítio Estância Velha do Jarau (Quaraí - RS).

Fonte: Foto da autora. 19/05/2016.

3.2.1.2 Cerâmica Colonial

Analisando as louças provenientes deste sítio foi possível identificar duas formas de organização interessantes do ponto de vista curatorial. Na Figura 41, observa-se que os materiais foram acondicionados juntamente com uma “ficha”, descrevendo informações básicas sobre sua proveniência e seu catálogo. Por mais vantajosa que essa prática possa parecer, é preciso ter atenção com dois fatores: a umidade, que pode “molhar” o papel, aderindo-se ao objeto, além de propiciar a perda de informações de registro; e os agentes biodegradativos, uma vez que o papel é orgânico e serve de alimento para diversas formas de vida que podem estar presentes no local onde está acondicionado o acervo. Outro ponto interessante está relacionado à forma de marcação, em grande parte das peças, realizada na pasta da cerâmica (Figura 42). Isso não é aconselhável, uma vez que prejudica a análise arqueológica e corre-se o risco de perder a informação no caso de reconstituição dos fragmentos.

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Figura 41: Material acondicionado juntamente com uma "ficha" informacional. Sítio Estância Velha do Jarau (Quaraí - RS).

Fonte: Foto da autora. 20/05/2016.

Figura 42: Fragmentos com marcação na pasta. Estância Velha do Jarau (Quaraí – RS).

Fonte: Foto da autora. 20/05/2016.

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3.2.1.3 Vidros

Dos materiais vítreos que integram a coleção do sítio Estância Velha do Jarau, encontra-se muitas peças inteiras e algumas inclusive em exposição no LEPA-UFSM. Porém, há uma grande quantidade de materiais com acúmulos de sujidade, indicando que não foram realizados procedimentos de higienização adequados. Neste sentido, é importante ressaltar que nesta coleção há um grande quantitativo de objetos em processo de iridescência e o caso mais grave pode ser observado na Figura 43. A marcação era realizada com aplicação de corretivo líquido diretamente sobre a peça e posterior escrita com caneta esferográfica.

Figura 43: Gargalo em estágio avançado de iridescência e aplicação de catálogo inadequadamente. Estância Velha do Jarau (Quaraí - RS).

Fonte: Foto da autora. 20/05/2016.

3.2.1.4 Ossos

Apesar de Nobre não fazer nenhuma menção aos procedimentos de curadoria na coleção analisada por ela em suas pesquisas, os ossos em geral se mostraram bem higienizados e com numeração uniforme, mesmo que com uso de pena e nanquim diretamente

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sobre material. O estado de conservação da peça e a metodologia de catalogação podem ser conferidos na Figura 44.

Figura 44: Fragmento ósseo apresentando metodologia de marcação. Estância Velha do Jarau (Quaraí - RS).

Fonte: Foto da autora. 20/05/2016.

3.2.2 São Martinho da Serra

Os materiais advindos das intervenções realizadas neste sítio arqueológico, e os processos de curadoria e conservação a que foram ou não submetidos serão apresentados neste tópico através de registro fotográfico e microscópico, a fim de explicitar as metodologias utilizadas na época e identificar se eram adequadas, e caso contrário, o porquê.

3.2.2.1 Líticos

Durante a análise da curadoria realizada nos materiais líticos, foi possível observar que uma quantidade significativa de peças não passaram pelo processo de higienização, apresentando acúmulo de sujidade nas reentrâncias da peça, e em algumas nota-se também uma presença inicial de formação de líquens. No que tange à marcação dos materiais, observou-se que os pesquisadores costumavam realizá-la no talão da peça, o que hoje em dia não é recomendado pelos próprios arqueólogos por interferir na análise. Esta marcação era

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sempre realizada com aplicação de tinta nanquim preta, e no caso dos materiais com superfície escura, improvisava-se o registro na peça com colagem de papel branco e fita adesiva, como pode ser percebido na Figura 45. Este procedimento é inadequado, do ponto de vista da conservação, porque a cola contém substâncias nocivas, pode perder a aderência, e o papel atrai microrganismos.

Figura 45: Material lítico com marcação improvisada, feita por papel e fita adesiva. (São Martinho da Serra - RS).

Fonte: Foto da autora. 20/05/2016.

3.2.2.2 Cerâmica Pré-Colonial

Os materiais arqueológicos desta tipologia apresentaram procedimentos de curadoria bastante curiosos, tais como reconstituição de urnas por resina epóxi (Figura 46), e algumas com esta metodologia mais o auxílio de uma goma desconhecida, que acabou por sofrer ataques biológicos e apresentar um aspecto esverdeado nas peças (Figuras 47 e 48). Em se falando de conservação, uma questão importante a se considerar para realização de uma

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intervenção é o princípio da reversibilidade, ou seja, o profissional ou pesquisador precisa saber que a metodologia escolhida e aplicada pode ser reversível no caso de não ficar como o planejado. Uma vez reconstituído um material com poliepóxido, dificilmente a peça poderá voltar ao estado original pois esta resina resiste às temperaturas de -50 à 150°C e não é solúvel em água, portanto, esta prática não é adequada e para ser retirada, é necessária aplicação de solventes, podendo danificar ainda mais o objeto.

Figura 46: Reconstituição em vasilha cerâmica com resina epóxi. (São Martinho da Serra RS).

Fonte: Foto da autora. 20/05/2016.

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Figura 47: Reconstituição inapropriada com resina epóxi e goma desconhecida, apresentando ataque biológico. (São Martinho da Serra - RS).

Fonte: Foto da autora. 20/05/2016.

Figura 48: Reconstituição apresentando ataque biológico, registrado por microscópio USB digital de zoom 800x. (São Martinho da Serra - RS).

Fonte: Foto da autora. 20/05/2016.

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3.2.2.3 Metais

Ao analisar os objetos metálicos, observou-se que estes se encontram em mau estado de conservação e precisariam passar por processos interventivos urgentemente. Todos os materiais registrados por MACHADO (2004) e apontados no primeiro subcapítulo foram localizados e muitos deles perderam suas características extrínsecas. Na Figura 49 é possível estabelecer uma comparação do antes e depois de um dos cartuchos estourados constante na Figura 24 deste trabalho. Nota-se que foi realizada uma consolidação inapropriada utilizando gesso como liga. Nas caixas que haviam sido preparadas como mostruários dos metais provenientes deste sítio, grande quantidade das peças apresentam estágio avançado de degradação, uma vez que a eles não se ofereceu procedimentos de conservação preventiva e foram submetidos a um acondicionamento com espuma inadequada, com propriedades químicas que aceleraram a oxidação e corrosão, como pode ser observado na Figura 50.

Figura 49: Processo inadequado de consolidação com gesso. (São Martinho da Serra - RS).

Fonte: Foto da autora. 20/05/2016.

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Figura 50: Mostruário de artefatos metálicos em alto grau de deterioração. (São Martinho da Serra - RS).

Fonte: Foto da autora. 20/05/2016.

3.2.2.4 Cerâmica Colonial

Grande parte das cerâmicas coloniais desta coleção encontram-se em bom estado de conservação, embora apresentem metodologia de marcação inadequada, contando com aplicação de corretivo líquido diretamente sobre a peça e posterior escrita com tinta nanquim. É comum verificar também a colagem de etiquetas adesivas de papel com números de catálogos ou setas, como pode ser observado na Figura 51.

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Figura 51: Tinteiro em grés com metodologia de marcação inadequada e colagem de fita adesiva em papel.

Fonte: Foto da autora. 21/05/2016.

3.2.2.5 Vidros

Durante a análise empírica dos procedimentos curatoriais aplicados nos vidros da coleção, procurou-se reproduzir a Figura 27, inseridas na tese de Machado apresentando sujidade iridescência e que hoje, um dos frascos encontra-se fragmentado (sem o gargalo) devido ao manuseio ou acondicionamento irregular (Figura 52). Quando os objetos tiveram suas bases fotografadas, revelaram ainda a metodologia de marcação da época, com aplicação de uma tinta provavelmente acrílica branca, e sobre essa camada a numeração em nanquim ou em caneta esferográfica, que acabou tendo o registro desgastado com o tempo e o manuseio em uma das peças, como observa-se na Figura 53.

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Figura 52: Frascos com sujidade, iridescência e fratura por manuseio inadequado (São Martinho da Serra – RS).

Fonte: Foto da autora. 19/05/2016.

Figura 53: Bases dos frascos com marcação inapropriada e perda do registro em uma das peças (São Martinho da Serra - RS).

Fonte: Foto da autora. 19/05/2016.

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3.2.2.6 Ossos

No ato de conferência da coleção óssea do sítio São Martinho, ficou evidente que nenhum material passou por processos de higienização, marcação ou conservação. No registro fotográfico a seguir (Figura 54), identifica-se o acúmulo de sedimento na peça e o avançado estágio de decomposição, e isso se repete em todas as outras, que foram acondicionadas ainda com as propriedades do contexto em que estavam inseridas, tornando o ambiente próspero a infestações biológicas.

Figura 54: Fragmento ósseo sem ter passado por processos de curadoria (São Martinho da Serra - RS).

Fonte: Foto da autora. 20/05/2016.

3.2.3 Pedra Grande

A análise da curadoria realizada nos materiais deste sítio se deu de maneira relativamente facilitada pelo fato de não ser uma coleção muito grande e também pela percepção de que os procedimentos seguiram um “padrão” exercido pelo LEPA, visto que alguns itens identificados já haviam sido verificados em outros sítios anteriormente.

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3.2.3.1 Líticos

Dentre os materiais líticos, observou-se que todos os exemplares foram higienizados e que alguns não possuem marcação na peça. Identificou-se que a numeração era aplicada com uso de tinta nanquim diretamente sobre a superfície dos materiais e auxílio de pena, que conferiu aos caracteres formatos irregulares. Em alguns casos, percebe-se o desgaste da tinta, indicando possível perda das informações (Figura 55).

Figura 55: Boleadeira com desgaste na marcação. Sítio Pedra Grande (São Pedro do Sul RS).

Fonte: Foto da autora. 20/05/2016.

3.2.3.2 Cerâmica Pré-Colonial

A análise sobre o material cerâmico revelou uma prática muito comum entre os arqueólogos, que é a aplicação de etiquetas adesivas de papel. Porém, no caso da Figura 56 observa-se que utilizou-se papéis simples com informações em tinta esferográfica e posteriormente colados com goma escolar. No âmbito da curadoria, essa não é uma metodologia aconselhável, pois a cola pode perder a aderência e o papel tem propriedades

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ácidas prejudiciais ao material arqueológico, tornando-se também um atrativo para os insetos nas peças cerâmicas, que já são alvejadas naturalmente por traças e brocas.

Figura 56: Fragmentos cerâmicos com papeis colados. Sítio Arqueológico Pedra Grande (São Pedro do Sul - RS).

Fonte: Foto da autora. 21/05/2016.

3.2.3.3 Ossos

Neste item buscou-se realizar um espelho da Figura 31, inserida no trabalho de Zuse, que apresentava um sepultamento, e alguns dos ossos identificados com sujidade ainda se encontram desta maneira (Figura 57). Porém analisando mais atentamente as peças, foi possível observar também um ataque biológico (Figura 58), que foi confirmado durante a verificação com o microscópio, que resultou na Figura 59.

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Figura 57: Remanescentes humanos com acúmulo de sedimentação. Sítio Arqueológico Pedra Grande São Pedro do Sul - RS).

Fonte: Foto da autora. 21/05/2016.

Figura 58: Material ósseo com ataque biológico. Sítio Arqueológico Pedra Grande (São Pedro do Sul - RS).

Fonte: Foto da autora. 21/05/2016.

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Figura 59: Material ósseo com ataque biológico, registrado por microscópio USB digital de zoom 800x. Sítio Arqueológico Pedra Grande (São Pedro do Sul - RS).

Fonte: Foto da autora. 21/05/2016.

3.2.4 Cerritos

Verificando as coleções formadas a partir de escavações em sítios cerrito, em especial o sítio Corredor do Bolso, alvo da única pesquisa publicada com fins de titulação acadêmica, identificou-se que o acondicionamento de todo o material se deu de maneira muito organizada, dividindo-se os materiais a partir de informações relevantes sobre o trabalho de campo e catálogo.

3.2.4.1 Líticos

Apesar da notável organização deste acervo, observou-se equívocos que já haviam sido percebidos no primeiro subcapítulo, como marcação inadequada e uso de fitas adesivas para facilitar a pesquisa arqueológica. Por outro lado, foram encontrados sacos plásticos com líticos e papéis, provavelmente com informações do catálogo, que foram umedecidos e

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acabaram por se aderir às peças. Este fato comprometeu o registro que continha no papel e ainda prejudicou a integridade dos materiais arqueológicos, conforme Figura 60.

Figura 60: Líticos com aderência de papéis umedecidos. Sítio Arqueológico Corredor do Bolso (Santa Margarida do Sul – RS).

Fonte: Foto da autora. 21/05/2016.

3.2.4.2 Cerâmica Pré-Colonial

Na análise do material cerâmico se confirmou o que foi apontado como uma possibilidade durante as observações das imagens usadas por Marion, sobre as marcações terem sido realizadas com canetas próprias para nanquim, porém sem nenhum vestígio de aplicação de verniz, sob ou sobre a numeração. Outra interessante verificação foi que a marcação está localizada na face interna e nas extremidades dos fragmentos (Figura 61), que é um procedimento bastante aceito e utilizado no que tange à curadoria de materiais arqueológicos, uma vez que se realizada na face externa ficaria visível em uma possível exposição, e se aplicada na pasta prejudicaria as reconstituições.

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Figura 61: Fragmentos cerâmicos reconstituídos e com marcações nas localidades adequadas. Sítio Arqueológico Corredor do Bolso (Santa Margarida do Sul - RS).

Fonte: Foto da autora. 21/05/2016.

3.2.5 Santa Clara

De todos os materiais arqueológicos levantados para esta pesquisa, aqueles provenientes do Sítio Arqueológico Santa Clara foram os mais bem compreendidos, mesmo com o grande quantitativo de peças, resultado de cinco campanhas de campo. Isso se dá ao fato desta coleção já ter sido alvo de pesquisas curatoriais durante a graduação, que acabou por motivar trabalhos mais intensificados. Neste sentido, tratar-se-á os procedimentos utilizados nos objetos e, mais detalhadamente, naqueles advindos das campanhas de 2012 e 2013.

3.2.5.1 Líticos

Os materiais líticos do Sítio Arqueológico Santa Clara, antes das duas últimas campanhas de campo, recebiam curadoria de acordo com o “padrão” exercido pelo LEPA, ou seja, higienização superficial e marcação com aplicação de tinta nanquim diretamente sobre a

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peça, fosse com o auxílio de pena ou com caneta própria para o produto, conforme observa-se na Figura 62, com etiquetas adesivas de papel.

Figura 62: Marcação em material lítico. Sítio Arqueológico Santa Clara (Quaraí - RS).

Fonte: Foto da autora. 21/05/2016.

No entanto, quando se iniciaram as pesquisas curatoriais com o acervo deste sítio, os materiais líticos passaram a ser lavados em água corrente com o auxílio de uma escova de dentes de cerdas macias para a retirada total de sedimentação. No caso dos objeto muito pequenos, usava-se uma peneira de numeração 2 mm do tamanho da pia, evitando assim que o material caia no ralo (DIAS, 2013, p. 107). A marcação realizada nesses materiais só se realizava após a aplicação de uma fina camada de verniz nas extremidades da face inferior do lítico (nunca no talão, bulbo ou região central), com o uso de caneta nankin (tinta chinesa de alta durabilidade) - ponta 0,1 mm – recebendo posteriormente outra camada de verniz para fins de impermeabilidade (Figura 63).

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Figura 63: Marcação adequada em material lítico. Sítio Arqueológico Santa Clara (Quaraí RS).

Fonte: Foto da autora. 20/05/2016.

Apesar dos inúmeros cuidados em se realizar os procedimentos de curadoria e após um longo trabalho de conscientização para com os pesquisadores, um grande quantitativo dos materiais líticos do Sítio Santa Clara encontram-se hoje tomados por etiquetas adesivas inapropriadas, como pode-se perceber na Figura 64.

Figura 64: Todos os materiais líticos na foto contém, pelo menos, uma etiqueta adesiva em papel. Sítio Santa Clara (Quaraí - RS).

Fonte: Foto da autora. 23/05/2016.

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3.2.5.2 Metais

Ao observar os materiais arqueológicos desta tipologia, percebe-se que a higienização era realizada conforme a metodologia de Thomasi para o sítio Estância Velha do Jarau. Em conversa informal com pesquisadores que já estudaram os metais do sítio Santa Clara, comentou-se que as peças eram lixadas para a retirada da oxidação e posteriormente aplicavase a Cera Microcristalina. Também não havia uma padronização de marcação para os objetos e dependia muito do que o pesquisador de cada tipologia julgava interessante de se registrar na peça. Dentre os procedimentos de marcação, constavam a aplicação de tinta nanquim sobre a peça, fixação de etiquetas “de preço”, e ainda, nos casos dos materiais pequenos, amarravase um cordão no objeto e em papel, que por sua vez levava a numeração. Todas estas metodologias podem ser observadas na Figura 65.

Figura 65: Marcações em metais. Sítio Arqueológico Santa Clara (Quaraí - RS).

Fonte: Foto da autora. 09/10/2012.

A partir de 2012, passou-se a higienizar os metais com uma retífica de cerdas de aço, que conserva as informações intrínsecas ao objeto, retirando a sujidade e oxidação da peça, uma vez que o LEPA não tem recursos, infraestrutura e profissional da área de conservação e

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restauro para realizar os procedimentos adequados. Uma micro retífica pode ser mais eficiente, principalmente na limpeza das reentrâncias do objeto. Pelo fato do material não estar em condições climáticas próprias para salvaguarda, depois de ser higienizado, aplica-se a Cera Microcristalina para que se exclua o contato dos metais com o oxigênio, fazendo com que não voltem a enferrujar. O resultado final do processo pode ser comparado ao do sítio arqueológico Ruínas da Estância do 28 (Alegrete – RS), presente na Figura 66. Na marcação, envernizava-se uma pequena área nas extremidades e se escrevia, no local escolhido, o número de registro com caneta nanquim 0,1 mm, preta ou branca, de acordo com a superfície do objeto, impermeabilizando posteriormente com outra camada rasa de verniz.

Figura 66: Resultado do processo de higienização em metal. Sítio Arqueológico Ruínas da Estância do 28 (Alegrete - RS).

Fonte: Foto da autora. 25/10/2012.

3.2.5.3 Cerâmica Colonial

Não se tem registro dos procedimentos de higienização desta tipologia de material, mas percebe-se que a metodologia de marcação era aplicação de tinta nanquim nas laterais das peças, que não é indicado do ponto de vista curatorial, pois pode vir a interromper uma possibilidade de reconstituição, além de dificultar a análise da pasta. Na Figura 67, nota-se a irregularidade dos caracteres na marcação, devido ao uso de pena para realizá-la, bem como numeração na face lateral das peças.

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Figura 67: Marcação irregular na face lateral dos fragmentos cerâmicos. Sítio Arqueológico Santa Clara (Quaraí - RS).

Fonte: Foto da autora. 09/10/2012.

Em 2012, a higienização da cerâmica histórica passou a ser feita por meio de lavagem da superfície dos fragmentos, utilizando pincéis ou escovas do tipo para sapato com cerdas macias. Nas laterais também utilizou-se uma escova de dente macia para retirar o sedimento que ficava na fratura, auxiliando assim a análise da composição da pasta ou uma futura remontagem. A marcação, por sua vez, no caso das esmaltadas, aplicava-se uma etiqueta adesiva Acid Free com a numeração feita com caneta para nanquim. As peças não esmaltadas foram envernizadas nas extremidades do lado que não apresentavam decoração, depois do verniz seco, receberam o número de registro com caneta nanquim 0,1 mm e então impermeabilizadas com uma camada fina de verniz em cima da marcação. Como não foram realizados registros fotográficos desta metodologia nas peças do Santa Clara, pode-se contemplar na Figura 68 a aplicação do método em material do Sítio Ruínas da Estância do 28.

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Figura 68: Marcação apropriada em louça. Sítio Arqueológico Ruínas da Estância do 28 (Alegrete - RS).

Fonte: Foto da autora. 25/10/2012.

3.2.5.4 Vidros

Os materiais vítreos eram submersos em recipientes com água e friccionados com escova de dentes. A marcação, na maioria dos casos era feita apenas com tinta nanquim, mas há algumas poucas que envernizou-se antes deste processo (Figura 69). Há também peças que receberam corretivo branco embaixo da marcação feita com pena e nanquim. Segundo Dias, o vidro, em sua higienização, não pode passar pelo processo de lavagem com água, portanto utilizava-se pincel ou escova de cerdas macias, a seco, sem friccionar a peça, principalmente nas áreas frágeis. E, por ser um material translúcido, a marcação dos vidros históricos se dava com caneta para tinta nanquim de ponta 0,1 em uma etiqueta adesiva Acid Free transparente, para posterior colagem direta no objeto, sendo aplicado verniz para impermeabilização do número de registro (2013, p.108). Observa-se na Figura 70 um espelho deste procedimento.

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Figura 69: Marcação em material vítreo. Sítio Arqueológico Santa Clara (Quaraí - RS).

Fonte: Foto da autora. 22/10/2012.

Figura 70: Marcação com fita adesiva Acid Free transparente em vidro. Sítio Arqueológico Ruínas da Estância do 28 (Alegrete - RS).

Fonte: Foto da autora. 25/10/2012.

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3.2.5.5 Ossos

Como quem fazia a curadoria dos objetos coletados eram os pesquisadores que analisavam determinado tipo de material, e, na época, não haviam pessoas que estudavam ossos, estes foram somente acondicionados, e pouquíssimos passaram por limpeza e receberam marcação (Figura 71).

Figura 70: Marcação em material ósseo. Sítio Arqueológico Santa Clara (Quaraí - RS).

Fonte: Foto da autora. 25/10/2012.

A partir de 2012, o processo de higienização dos ossos iniciava com a retirada do acúmulo de sedimentos com uma escova de cerdas macias. Por ser um material orgânico, o osso não pode entrar em contato com a água, pois ele a absorve e cria fungos. Por isso, a limpeza era ser feita com algodão umificado por álcool com alta volatilidade. As peças não são expostas à luz solar, nem mesmo no processo de secagem. Não foram realizados registros fotográficos.

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3.2.6 Areal

A coleção deste sítio arqueológico não apresentou dificuldades para a realização da análise da curadoria oferecida aos materiais depois de inseridos no acervo do LEPA, uma vez que as duas tipologias estão sendo pesquisadas por discentes de programas de mestrado, e portanto, encontram-se dispostos em mesas para análise, não sendo necessário buscá-los na reserva técnica.

3.2.6.1 Lítico

A análise empírica dos procedimentos curatoriais aplicados no material lítico do sítio Areal revelou que foi realizada higienização em todas as peças, uma vez que nenhuma apresenta qualquer tipo de sujidade. No entanto, foram coladas fitas adesivas com numeração e flechas para análise arqueológica que ainda se mantêm (Figura 72).

Figura 72: Planos convexos com etiquetas adesivas em papel. Sítio Arqueológico Areal (Quaraí - RS).

Fonte: Foto da autora. 23/05/2016.

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3.2.6.2 Cerâmica Pré-colonial

Conferindo o material arqueológico cerâmico do Areal, foi possível visualizar que se realizou uma reconstituição adequada nas peças, com utilização de cola de pH neutro, portanto sem conferir aspecto de “molhado” e garantindo a fixação dos fragmentos uns nos outros (Figura 73). Por outro lado, quando foi se observar a face interna das vasilhas, notou-se a aderência de etiquetas de papel no material arqueológico, bem como uma marcação em que os caracteres foram escritos nas extremidades das peças (Figura 74).

Figura 73: Cerâmica apresentando reconstituição apropriada. Sítio Areal (Quaraí - RS).

Fonte: Foto da autora: 20/05/2016.

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Figura 74: Marcação nas extremidades da face interna da peça e etiquetas adesivas. Sítio Areal (Quaraí - RS).

Fonte: Foto da autora. 20/05/2016.

Neste capítulo, buscou-se explicitar os procedimentos curatoriais e conservativos aplicados nos materiais arqueológicos provenientes das principais campanhas de campo acadêmicas realizadas pela equipe do LEPA-UFSM, com liberação de portarias concedidas pelo SPHAN e IPHAN, com o objetivo de demonstrar que nenhum material pode ser “esquecido” pela instituição que o abriga, pois esta tem o dever de lhe oferecer tratamentos periódicos independentemente das práticas aplicadas. Porém, se aplicadas técnicas especializadas no acervo, é possível alcançar um duradouro e bom estado de conservação dos materiais arqueológicos, possibilitando, através da preservação, que sejam alvos de diversas pesquisas posteriores. Após todos os esclarecimentos sobre os procedimentos curatoriais aplicados no LEPAUFSM ao longo dos anos de 1995 a 2014, demonstrando o estado de conservação dos materiais arqueológicos através de comparações com as imagens utilizadas nas monografias, dissertações e teses e o registro fotográfico atual realizado pela pesquisadora, conclui-se o último capítulo deste trabalho de conclusão de graduação.

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CONCLUSÃO

Este trabalho é o resultado de quatro anos como acadêmica do curso de história da UFSM, integrando a equipe LEPA e realizando pesquisas interdisciplinares na área de arqueologia, museologia e conservação, com enfoque na curadoria, de campo e de laboratório, auxiliando também no processo de documentação realizado no acervo. O tema central escolhido e a abordagem adotada, após uma breve busca do histórico do LEPA, ressaltam uma área ainda pouco reverenciada no que tange os acervos arqueológicos. Além disso, o que guiou todos esses anos de pesquisa que resultaram na elaboração deste trabalho de conclusão de graduação, foi a constatação da real necessidade de maior conscientização sobre a relevância da curadoria entre os pesquisadores, o reconhecimento de que nenhuma tipologia específica de material é mais importante que outra, e que justamente por isso se tornam interessante para o olhar indagador de pesquisa. Outra consideração a se fazer é que durante o processo de realização da pesquisa notou-se que os pesquisadores do LEPA não recebiam orientação sobre técnicas curatoriais e conservativas, e de igual forma, não executavam tais cuidados pois desconheciam a importância da interdisciplinaridade. A principal preocupação da equipe sempre foi o salvamento arqueológico e a realização das análises com brevidade e limitada preocupação quanto a durabilidade da cultura material estudada. Os profissionais que pesquisam acervos arqueológicos veem nas coleções uma fonte de conhecimento primária mas ainda sem promover a preservação máxima das informações de campo e dos objetos nele encontrados. Neste sentido, a relevância do trabalho se deu em pensar cada um dos sítios em seu contexto arqueológico próprio e isoladamente, e na semelhança da tipologia de materiais neles encontrados, para saber exatamente o tratamento que deve ser oferecido a cada um de acordo com suas especificidades, ou se for o caso, quando implantados no Laboratório, saber se podem receber o mesmo tipo de cuidados antes de serem submetidos a análises. A partir do trabalho desenvolvido no contexto do LEPA-UFSM, percebeu-se a importância da curadoria e conservação de acervos, que para serem efetivas, precisam não apenas de um profissional conservador qualificado, mas também de uma infraestrutura adequada, a qual o referido Laboratório nunca possuiu. Durante o desenvolvimento da pesquisa, principalmente na etapa de registro fotográfico comparativo, pude concluir que os materiais arqueológicos uma vez marcados ou higienizados sem as técnicas curatoriais adequadas, precisam de uma periodização muito mais frequente de repetição dos tratamentos oferecidos aos materiais.

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No decorrer do processo de estudo teórico-prático de curadoria e conservação de coleções arqueológicas, notou-se a necessidade de que o profissional ou pesquisador deve adquirir conhecimentos relativos sobre os diferentes agentes de deterioro, a importância do controle ambiental, os processos de intervenção, como também sobre a constituição de cada especificidade do acervo, compreendendo ainda os métodos de estudos arqueológicos aplicados. Neste sentido, esta pesquisa se propôs a se configurar como um levantamento dos métodos curatoriais e conservativos utilizados no Laboratório de Estudos e Pesquisas Arqueológicas, a partir da política de portarias e ao mesmo tempo, contribuir como referencial para trabalhos e possíveis pesquisas a se realizarem nesta área, permitindo que os registros realizados venham a ser usados como parâmetros para análises futuras de novas metodologias para aplicação nesse acervo. Cabe acrescentar que, em nenhum momento a pesquisa se propôs a estabelecer um padrão metodológico para os procedimentos a serem aplicados no LEPA, mas salienta-se a real necessidade de se elaborar, em seguida, um protocolo para o trabalho de campo e laboratório. Por isso é passível de afirmação que este estudo não só comparou as técnicas aplicadas e estabeleceu a importância do “saber cuidar” e do “como cuidar” dos patrimônios arqueológicos, importantes por revelar os hábitos socioculturais das civilizações, como abriu margem para outra necessidade: de se haver um bom sistema de registros de dados para que não se perca as informações adquiridas dos objetos, tanto de campo, como também as físicas, constituindo outra primordial etapa da patrimonialização.

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ANEXO A – FICHA TÉCNICA DE PRODUTO QUÍMICO

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