Dialogando com a crise de interpretação é nossa

July 15, 2017 | Autor: M. Bastos da Cunha | Categoria: Favelas, Educação popular
Share Embed


Descrição do Produto




(...) tanto a relação social é datada quanto o conhecimento ( e o auto conhecimento) a seu respeito é datado.


Estamos diante de uma crise de interpretação, que se manifesta na necessidade histórica dessa mudança de perspectiva. Tal mudança significa reconhecer como sujeitos da história e sujeitos do conhecimento os grupos e classes subalternas.
Movimento e visibilidade : novas configurações de participação?

Contrapondo-se à provisoriedade presente nas políticas públicas voltadas para as favelas, as ações coletivas criam MOVIMENTO no território. Um movimento que está voltado para interrogar as soluções pontuais, provisórias e a valorizar o pertencimento dos moradores, e suas relações de sociabilidade, destacando suas raízes. Foi este o sentido das lutas contra as remoções em Manguinhos e as denúncias da dor vivida pelos moradores que sofriam ao abandonar suas casas. Este tem sido o sentido das articulações e diálogos: valorizar a vida, ameaçada cotidianamente pelas soluções provisórias

Lutando contra o anonimato, contra o desencontro e falta de informações, estimulados pela gestão das políticas públicas, e, sobretudo, contra a invisibilidade dos dramas cotidianos dos moradores, as ações coletivas têm buscado vários caminhos para tornar visíveis as lutas e experiências de seus moradores. Além dos caminhos usuais, de encontros, atos e manifestações, listas de e-mails, jornais informativos, sites na internet, redes sociais como o facebook tem sido os caminhos encontrados.


Discutindo saúde no complexo de Manguinhos


Subalternização
Expressa não apenas a exploração mas também a dominação e a exclusão econômica e política.

A subalternização é parte integrante da forma através da qual o capitalismo se desenvolve articulando uma diversidade de relações, trazendo para as determinações de seu tempo, "os tempos das diferentes relações que foi reproduzindo na sua própria lógica ou, mesmo, produzindo"


As interrogações atuais
O que mudou nas relações sociais e nos processos de subalternização?

O que mudou nos processos de conhecimento (auto conhecimento) ?




Conhecimento popular e conhecimento científico
Se o conhecimento científico não passar por aí, não resgatar como momento necessário o conhecimento popular, o ponto de vista dos subalternos, cairá necessariamente no ponto de vista do outro, isto é, do objeto constituído pelo próprio processo histórico ao estabelecer o divórcio entre o sujeito e o objeto, o produtor e o produto, em nome da suposta universalidade do outro, do mais "mais avançado", sem considerar que a universalidade está na superação de ambos.

(José de Souza Martins, As classes subalternas na Idade da Razão, Caminhada no Chão da Noite)
O conhecimento de que são portadores as classes subalternas é mais do que ideologia, é mais do que interpretação necessariamente deformada e incompleta da realidade do subalterno. É nesse sentido, também que a cultura popular deve ser pensada como cultura, como conhecimento acumulado, sistematizado, interpretativo e explicativo, e não como cultura barbarizada, forma decaída da cultura hegemônica, mera e pobre expressão do particular.
(José de Souza Martins, As classes subalternas na Idade da Razão, Caminhada no Chão da Noite)
Cultura e Conhecimento
Convém ter presente que índios e camponeses não foram apresentados à sociedade pelos sociólogos. Foram eles que se apresentaram como sujeitos e agentes de conhecimento e da História, falando através de suas lutas e confrontos com a "nossa" sociedade, matriz da "nossa" sociologia". Eles estão nos pondo, portanto, diante de indagações que são fundamentais para entendermos a sociedade, não só a realidade deles, mas também a nossa.

(José de Souza Martins)

Invisibilidade
(...) os modos de vida, as formas culturais, as redes sociais e o cotidiano da favela sempre foram pouco visíveis. Sabemos que há algumas décadas o trabalho de muitos profissionais que atuam nos serviços, em especial de saúde e educação, e muitos estudos e pesquisas, têm contribuído para reverter esse quadro. No entanto, ainda há muita invisibilidade em relação ao cotidiano das favelas (...) Algumas das causas de adoecimento e morte nos vários territórios nos mostram que o drama cotidiano dos moradores não é visível, nem para muitos pesquisadores, nem para os profissionais que atuam junto a esta população, e nem para os sistemas de informação. Não são visíveis também muitas respostas que os moradores têm dado a esses dramas ignorados.
A configuração social na favela hoje e as novas formas de participação
A produção de novas desigualdades: antigas e novas formas de pobreza
A militarização e violência cotidiana
Os vários agentes sociais e "espaços de ponto de vista"
As mudanças nas relações entre os vários agentes sociais
Disputas do "popular" na favela?
Desafios do "popular" na atualidade
Novas configurações na participação popular
Dialogando com Valla: eixos para o pensamento

Diálogo com situações vividas no trabalho de campo, buscando aí elementos para repensar a teoria. Reflexão teórica é produzida em diálogo com a prática.
Dificuldade de ver e de compreender o que estão nos dizendo
O conhecimento popular como caminho compreender as mudanças sociais

Contribuição de Valla para o campo da educação popular
Coloca em questão os referenciais teóricos e políticos dos pesquisadores e mediadores
Contribui para discutir o estatuto epistemológico da ciência e trazer o conhecimento popular para a construção científica
Pensa a potencialidade da cultura e conhecimento popular
Interroga o conceito de participação em diálogo com o que as classes populares são e estão fazendo

As dificuldades de compreensão recíproca não decorrem apenas de problemas metodológicos, mas do próprio estatuto epistemológico das ciências e dos saberes populares, assim como da configuração das relações de poder que se tecem dinamicamente na sociedade como um todo. Na conjuntura política daquele período, esboroava-se o mito do governo centralizado a partir de um projeto único de sociedade (com a queda do Muro de Berlim). Paralelamente, em nível de elaboração científica, o modelo hegemônico de ciência estava sendo colocado em cheque pela multiplicidade e pela vitalidade de saberes que circulam na sociedade e interagem conflitualmente na constituição dos discursos de verdade. Se o Estado parecia não mais ser o ponto privilegiado para gerir a sociedade, a ciência estava sendo questionada como ponto de vista privilegiado para compreender a pluralidade dos conhecimentos produzidos socialmente.
(Reinaldo Matias Fleuri, A contribuição de Victor Valla ao pensamento da educação popular )


Valla trouxe um aporte teórico que se constituiu em fecundo eixo articulador do processo de investigação do grupo, ao problematizar a dificuldade que os profissionais e intelectuais têm para compreender o que as classes populares estão querendo lhes dizer.

é preciso reconhecer as culturas populares, no plural, que constituem as diferentes formas de organização social e de interpretação da realidade construídas pelos diferentes grupos sociais que constituem as chamadas "classes subalternas". São culturas com representações sociais e visões de mundo específicas, elaboradas segundo lógicas e categorias próprias. Ao ignorá-las ou desqualificá-las, os intelectuais e operadores sociais correm o risco de não entendê-las, de invalidar esses saberes e reforçar a trama de poder que, em nossa sociedade, subjuga essas culturas.

(Reinaldo Matias Fleuri, A contribuição de Victor Valla ao pensamento da educação popular )

Participação: seguindo o movimento da população
(…) freqüentemente as autoridades querem a participação da população para poder solucionar problemas para os quais não dão conta. Nesta concepção está incluída a idéia de que o aceite do convite de participar seria uma forma dos governos se legitimarem. Justamente a descrença da população, tal como manifestada acima pela liderança da favela, no interesse dos governos de resolver os seus problemas, faz com que sua forma de participar seja diferente do que a suposta pelo convite. E embora muitos profissionais sejam sinceros na sua intenção de colaborar com uma participação mais efetiva e de acordo com os interesses populares, mesmo assim a população vê estes profissionais como sendo atrelados às propostas das autoridades em que não crê. Daí sua aparente falta de interesse em "participar"

Há, no pensamento e nas ações de Valla, uma concepção inconformista de público que afirma incondicionalmente a participação de todos os segmentos sociais nos processos que resultam em definição de noções e de formas de exercício de direitos. É uma concepção que recusa pesos e medidas diferenciados para os diversos grupos sociais e que, no entanto, não se assenta em idealizações da participação popular. Entendo assim porque ele não lamenta os limites à participação popular a partir da ausência ou presença atenuada das classes populares nos conselhos ou nas práticas político-partidárias, por exemplo. Seu ponto de partida são as práticas participativas mais banais, como a participação difusa nas relações escolares e nas tentativas de acesso ao atendimento à saúde, em que formas diversas de cassação da fala e de interdição de ações são realizadas sistematicamente sem que, no entanto, seja totalmente visível essa sistematicidade e sem que percebamos as formas capilares de nossa adesão ou consentimento a essa matriz de ação.


(Eveline Bertino Algebaile , A contribuição de Victor Valla ao pensamento da educação popular )

Há, aqui, uma concepção de público que não se destina a ser venerada como utopia, mas a ser exercida no tempo presente, sustentando desde já a reconstrução profunda das condições de participação dos sujeitos na produção histórica das noções e das formas de exercício de direitos. Participar é participar, por qualquer meio, pelos meios disponíveis, por todos os meios. É um jogo em que não cabem prévias nem ensaios. O "aquecimento" é a própria ação.
Essa concepção de público, para Valla, não é um princípio a ser aplicado normativamente sobre as práticas. É conhecimento em ato, encarnado em ações e indissociável delas. Quase inexplicável, seu modo de se fazer compreensível é realizar-se. Inscrita na própria prática e por ela formulada, essa concepção resulta em instigantes interrogações sobre as formas de organização institucional vigentes e nossa disposição para pensar e exercitar possibilidades de um fazer institu- cional de novo tipo, referenciado no aproveitamento de possibilidades e fissuras nos modos de funcionamento das instituições para fomentar agregações, invenções, derivas e coesões que, novamente lembrando Gramsci, possam se tornar matrizes de novas modificações.

Antigas e novas desigualdades e O "POPULAR" em movimento
Pensando o popular e as configurações sociais do Brasil urbano contemporâneo através das favelas do município do Rio de Janeiro
a passagem do homem da condição de objeto à condição de objetivo
Isso passa pela nossa conversão à condição de objeto dele, no sentido de tomar como premissa o pensamento radical e simples das classes exploradas, meio e instrumento (ao invés de instrumentalizá-lo) para desvendar o lado oculto das relações sociais com os olhos dele, revelando-lhe aquilo que ele enxerga mas não vê; completando, com ele, a produção do conhecimento crítico que nasce da revelação do subalterno como sujeito, na medida em que lhe restituímos a condição de objetivo e lhe abrimos a possibilidade de resgatar o pleno sentido de conhecimento alternativo que ele representa e propõe na sua prática.

(José de Souza Martins, As classes subalternas na Idade da Razão, Caminhada no Chão da Noite)
Tempo e linguagem das lutas no campo: os objetos do conhecimento interpelando a ciência constituem-se como sujeitos

novos personagens que nos obrigam a repensar esquemas
O Diálogo com José de Souza Martins


Fonte: Caminhada no Chão da Noite e a Chegada do Estranho
Autor: sociólogo, professor da USP; grande parte de sua obra está voltada para os estudos dos movimentos sociais no campo; atua também como assessor de grupos populares.

DIALOGANDO COM A CRISE DE INTERPRETAÇÃO É NOSSA
1994 - 2015



Marize Bastos da Cunha
Ponto de partida
Experiência de pesquisa – UFF e CEPEL (1993-1999)

Questões acumuladas nas pesquisas em desenvolvimento nos últimos anos, em particular 2013/2014, com o LTM (Laboratório Territorial de Manguinhos) da ENSP

"Saúde, Ambiente e Políticas Públicas: um estudo das experiências de morar no território de Manguinhos"
"Políticas públicas, Moradia, Saneamento e Mobilidade: uma análise participativa do PAC na perspectiva da promoção da saúde e da justiça ambiental"
A crítica às interpretações sobre as classes populares
Pontos de partida:
Crítica a desqualificação teórica e política do campesinato.
Desencontro que marca as relações entre o pesquisador- sujeito e o pesquisado- objeto.
dilemas das interpretações sobre as classes subalternas.
diversidade de situações de "subalternidade" como fundamental à compreensão de suas lutas.
Ensaio produzido no âmbito da inserção do pesquisador no CEPEL e na ENSP, na UFF.
GT Educação Popular da ANPED – trabalho apresentado em 1994
Dialoga com situações vividas no trabalho de campo, buscando aí elementos para repensar a teoria. Reflexão teórica é produzida em diálogo com a prática.
Diálogo nas turmas da Pós Graduação da Ensp e da UFF


Produz uma mudança no concepção de pesquisa, temas de pesquisa e projetos do autor e do CEPEL
Pesquisa Redes Sociais de Solidariedade na Leopoldina
Apoio Social em uma conjuntura de crise

A CRISE DE INTERPRETAÇÃO É NOSSA: PROCURANDO COMPREENDER A FALA DAS CLASSES SUBALTERNAS
Victor Vincent Valla


Contexto de produção da reflexão

Primeira metade dos anos 90 – 1994/1995

A "nova ordem" mundial
Avanço neo liberal e globalização
"Crise" dos movimentos sociais

Forma de pensar as transformações sociais
Forma de pensar a educação popular e o trabalho comunitário

Click to edit Master title style
Click to edit Master text styles
Second level
Third level
Fourth level
Fifth level

10/04/15

#
Click to edit Master title style
Click to edit Master subtitle style
10/04/15

#
Click to edit Master title style
10/04/15

#
Click to edit Master title style
Click to edit Master text styles
Click to edit Master text styles
Second level
Third level
Fourth level
Fifth level
Click to edit Master text styles
Click to edit Master text styles
Second level
Third level
Fourth level
Fifth level
10/04/15

#
Click to edit Master title style
Click to edit Master text styles
Second level
Third level
Fourth level
Fifth level
Click to edit Master text styles
Second level
Third level
Fourth level
Fifth level
10/04/15

#
Click to edit Master title style
Click to edit Master text styles
10/04/15

#
Click to edit Master title style
Click to edit Master text styles
Second level
Third level
Fourth level
Fifth level
10/04/15

#
Click to edit Master title style
Click to edit Master text styles
Second level
Third level
Fourth level
Fifth level
Click to edit Master text styles
10/04/15

#
10/04/15

#
Click to edit Master title style
Click to edit Master text styles
Second level
Third level
Fourth level
Fifth level
10/04/15

#
3

Click to edit Master title style
Click to edit Master text styles
Second level
Third level
Fourth level
Fifth level
10/04/15

#
Click to edit Master title style
Drag picture to placeholder or click icon to add
Click to edit Master text styles
10/04/15

#

10/04/15

Click to edit Master text styles
Second level
Third level
Fourth level
Fifth level

#

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.