Diálogo com o Hip Hop

June 3, 2017 | Autor: Def Yuri | Categoria: Hip-Hop/Rap, Artigos, Viva Favela
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Diálogo com o Hip Hop?

Autor: Def Yuri | 20/10/2004 | Seção: Def Yuri

É engraçado, sempre quando escuto ou leio o termo diálogo penso logo em troca de conhecimentos, só que nem sempre quer dizer isso. Às vezes, pode ser algo feito na surdina e/ou com objetivos não tão claros, digo, escuros. O objetivo desse artigo é fazer considerações sobre um encontro realizado no Distrito Federal no dia 30 de julho do corrente ano e onde foram apresentadas várias propostas "oriundas do Hip Hop". Fiquei na dúvida se publicava todo o conteúdo do material (leia abaixo), porém como o título é "Relatório da Mesa de Diálogo Nacional com o Movimento Hip Hop", senti-me autorizado a divulgá-lo. Pois estavam falando dos meus e dos interesses de qualquer indivíduo adepto dessa cultura conseqüentemente. Salvo algo muito estranho - é de domínio público e como tal deve ser compartilhado. Creio que você, leitor, tem idéias e sugestões para o crescimento dessa cultura e que estas também merecem ser ouvidas, lidas, discutidas e apreciadas. Leitores, na atualidade acontece muita coisa em “prol” da cultura Hip Hop e uma dessas é a ação de algumas aglutinações “organizadas” no intuito de serem ou se tornarem os verdadeiros e reais interlocutores do Hip Hop junto ao restante da sociedade e, num caso mais especifico, ao governo federal. Todas essas articulações reunidas mesmo com a participação de grandes expoentes do meio não chegam a representar nem 1% do todo. Todo esse que, interessado ou não, fica mais uma vez excluído das discussões e decisões. Tendo que se contentar somente com aquilo que lhe é passado já mastigado ou com objetivo já direcionado. Isso acaba por transformar muitos quadros em mera massa de manobra, e a quem interessa isso? A quem interessa esse estado de inércia? E mesmo com a falta de compromisso por parte de muitos iguais acredito que estes também deveriam ser contemplados com a possibilidade de opinar e/ou decidir tendo em vista que o Hip Hop não tem donos. Ou estou errado? Posso estar desinformado, mas será que foi realizado algum debate público ou mesmo uma grande campanha para elucidação e/ou participação (realmente isenta) em todo o país? A “nossa” cultura não está restrita aos grandes centros urbanos ou às "panelas". Esqueçam as historinhas e os outros dogmas que foram inseridos na cartilha de conduta de como ser ou como fazer Hip Hop. No Brasil somos uma realidade e apesar de tudo representamos uma força da sociedade naturalmente e mesmo assim será que essa enorme nação não mobilizada dos Hip Hop’s vai continuar em silêncio acatando tudo o que é feito em nosso nome? Ou com o nosso nome? Será que estamos nos transformando num Frankenstein do sistema político vigente, devidamente cooptados? Se for, devemos nos lembrar que somos maiores que qualquer mandato, todos eles passarão e nós estamos aí batalhando no dia a dia. Portanto, quando falarem do "todo" que este realmente possa responder por si próprio sem a necessidade de traduções tortas que têm por objetivo deixar o pavão mais bonito do que é. Acredito que o maior valor do Hip Hop é a sua identidade, e lembrem-se que nós temos as nossas... Cada correria feita no Brasil demonstra isso. Já passou a hora de falar e brigar pelo que é nosso de fato e de direito. Será que não temos a capacidade de nos fazer representar? Será que alguns são maiores que os outros? Será que nos acostumamos a gostar daquilo que é imposto? Espero que não. E para realização dessas e de outras propostas ditas nacionais, vale lembrar que, diferente “de alguns eventos feitos pelos boys”, no caso citado é necessário o uso de dinheiro público - traduzindo, é o nosso dinheiro, o dinheiro das mais diferentes correntes da cultura Hip Hop. Para quem não está atento, vale

lembrar que também pagamos impostos e que parte destes serão destinados a iniciativas que não contemplarão o "todo". Existem muitas iniciativas espalhadas pelo Brasil e todas sem exceção merecem atenção e não devem de maneira nenhuma ser esquecidas mesmo que não estejam amparadas por promessas de campanha ou algo parecido. Na minha opinião, isso é um grave erro por parte daqueles que negociam ou articulam essas movimentações. Tenho que acreditar na capacidade dos governantes em perceber o cenário, caso contrário será apenas mais uma das inúmeras gafes cometidas... E o resultado poderá ser frustrante. Aos excluídos do processo lembro que, assim como os poderosos, alguns do que se auto-intitulam ou foram rotulados representantes do Hip Hop parecem não querer um povo instruído e bem informado sobre aquilo que lhe diz respeito. Mesmo existindo entre esses valiosas exceções, torço para que a partir de agora todos sem exceção observem e tentem mudar esse tipo de comportamento, caso contrário será a perpetuação de uma nação dos Hip Hop's sem opinião e sem atitude de fato. Também cabe aos excluídos se posicionarem, participarem, mostrarem a força que vem das sombras, digo, a força que se encontra fora dos holofotes. Aos que fazem muito, Asé. “Compromisso com o Hip Hop na prática.”

Veja abaixo a íntegra do documento citado:

Secretaria-Geral da Presidência da República Subsecretaria de Articulação Social Relatório da Mesa de Diálogo Nacional com o Movimento Hip-Hop

Consoante reunião realizada no dia 30 de julho do corrente ano, entre integrantes do movimento hip-hop e a Secretaria-Geral da Presidência da República, tendo como convidados integrantes do Ministério da Cultura e da Radiobrás, segue abaixo a proposta de desdobramento da mesma, a partir da pauta colocada pelo movimento. 1. POLÍTICA NACIONAL DE JUVENTUDE Identificados com a temática de juventude, os integrantes do movimento hip-hop têm acompanhado os passos que o Governo Federal vem dando no sentido de constituir uma Política Nacional de Juventude. Além de apoiar tal iniciativa solicitam que o Governo tenha uma atenção especial com os jovens urbanos cujo recorte de gênero e raça são essenciais para abranger as especificidades do hip-hop. Localização do tema: Secretaria-Geral da Presidência da República 2. CIDADES SUSTENTÁVEIS Como o movimento tem foco essencialmente urbano, colocam a temática das cidades na agenda de ações possíveis. Neste sentido, reiteram a disponibilidade de levar através da linguagem do movimento as ações que vêm sendo desenvolvidas pelo Governo Federal, sejam elas na área da saúde, educação, drogas, sexualidade, dentre tantas outras.

Localização do tema: Ministério das Cidades Ministério da Justiça Secretaria de Direitos Humanos Secretaria de Promoção de Igualdade Racial Secretaria de Mulheres Ministério da Cultura SENAD Ministério dos Esportes Ministério da Saúde Ministério da Educação Ministério do Trabalho 3. ORÇAMENTO PARTICIPATIVO Propõe a criação de um fórum específico de juventude para tratar das questões do orçamento da União, seu monitoramento e a sua respectiva execução. Localização do tema: Secretaria-Geral da Presidência 4. SEM TRETAS, SEM ARMAS, HIP-HOP É A NOSSA CARA A rede do movimento hip-hop sugere ao governo a realização de uma grande campanha contra a violência juvenil. Neste sentido, colocam-se à disposição do Governo Federal para levar através da linguagem da periferia palavras de paz, solidariedade e esperança, bem como ajudar na reinserção social dos jovens em conflito com a lei. Localização do tema: Secretaria de Direitos Humanos Ministério da Justiça 5. PERIFERIA TRAMPA! O movimento e o conjunto de organizações que congregam o hip-hop propõem ao Governo Federal um projeto piloto de empreendorismo solidário, o qual utilizaria a sua rede para comercializar produtos produzidos em cadeia nacional e de acordo com as especificidades regionais e as demandas locais. Localização do tema: Ministério do Trabalho e Emprego 6. HIP-HOP QUILOMBOLA O centro desta questão é a identidade do povo brasileiro. Não fica explícito no documento a real intenção do movimento. Localização do tema: Secretaria de Promoção da Igualdade Racial Ministério da Educação

7. ANO DO BRASIL NA FRANÇA Dada a relação que o movimento hip-hop tem com a comunidade francesa e o intenso intercâmbio destes dois países e, face o ano de 2005 ser o ano do Brasil na França, solicitam ao governo o apoio para colocar a pauta do hip-hop na agenda oficial das atividades que serão realizadas. Localização do tema: Ministério de Relações Exteriores Ministério da Cultura 8. HIP-HOP NÃO REPETE A ESCOLA Dados os índices de abandono escolar nas grandes cidades do país e, em especial, nas periferias, o movimento coloca-se novamente à disposição do Governo para sensibilizar as comunidades sobre a importância da escola na formação cidadã dos jovens. Localização do tema: Ministério da Educação 9. FINANCIAMENTO DE CULTURA Em virtude do Governo Federal estar constituindo o Sistema Nacional de Cultura e revendo as formas de financiamento, solicitam que seja colocada a questão do hip-hop na mesma proporção que outras temáticas, levando ainda em consideração a descentralização dos recursos e a sua melhor distribuição territorial. Localização do tema: Ministério da Cultura Encaminhamentos a definir: 1. Localizar as áreas nos Ministérios e Secretarias Especiais que tratam dos temas colocados acima. 2. Reunir com os responsáveis destas áreas bilateralmente ou em uma única rodada com todos os órgãos, apresentando assim o conjunto das questões colocadas pelo movimento. 3. A partir do mapeamento realizado intra-governo e na distribuição das demandas colocadas pelo movimento, realizar uma reunião conjunta de todo o Governo com os seus respectivos representantes. 4. A totalidade dos temas abordados informam que a SECOM e a Radiobrás devem estar inseridas neste trabalho de forma mais consistente.

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