Diálogos entre a Meditação Laica Educacional e as ciências sociais na educação básica: entre a estratégia autobiográfica e a argumentação teórico-conceitual

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Estagiário do projeto "Telecentro: Inclusão Digital e Educação", da Prefeitura de Niterói.
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Filosofia Política e Educação – NUFIPE.
Núcleo de Estudos e Pesquisas Observatório Fundiário Fluminense – OBFF.
Projeto de extensão universitária Mutirão de Agricultura Ecológica (MAE), do Instituto de Geociências.
Pré-Vestibular Popular do Morro do Estado – Niterói.
Projeto "Educação para a Paz", Organização da Sociedade Civil de Interesse Público "Parceiros Brasil – Centro de Processos Colaborativos" e Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (SME – RJ).
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, sub-projeto de Sociologia no Ensino Médio (PIBID – Sociologia), do Departamento de Sociologia do Curso de Licenciatura em Ciências Sociais.
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/09/mp-denuncia-ex-secretaria-do-rj-por-prejuizo-de-r-8-milhoes-ao-estado.html, acessado em 27/09/2015.
http://seperj.org.br/ver_noticia.php?cod_noticia=5729, acessado em 27/09/2015.
http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/06/professor-estadual-com-licenciatura-ganha-em-media-r-1695-por-hora.html, acessado em 27/09/2015.
http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/04/professores-no-brasil-estao-entre-mais-mal-pagos-em-ranking-internacional.html, acessado em 27/09/2015.
http://www.comerciarios.org.br/index.php/post/7633-Mercado-consolida-previsao-de-9--para-a-inflacao-em-2015, acessado em 28/09/2015.
http://oglobo.globo.com/opiniao/alem-do-corporativismo-9766376, acessado em 27/09/2015.
http://oglobo.globo.com/opiniao/fraude-na-educacao-9766388, acessado em 27/09/2015.
http://www.brasildefato.com.br/node/25869, acessado em 27/09/2015.
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/04/documento-secreto-revela-papel-da-globo-na-ditadura.html, acessado em 27/09/2015.
http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/helena/2014/04/eua-confirma-acao-de-roberto-marinho-nos-bastidores-da-ditadura-3931.html, acessado em 27/09/2015.
http://www.cartacapital.com.br/blogs/intervozes/globo-admite-erro-sobre-ditadura-e-o-resto-3841.html, acessado em 27/09/2015.
"[...]A autocensura institucional foi a forma mais comum de controle da opinião pública. A TV Globo manteve um grupo interno de censura, contratando um ex-diretor da Divisão de Censura e Diversões Públicas do Departamento de Polícia Federal e outro que havia dirigido órgão equivalente no então Estado da Guanabara, além do necessário pessoal auxiliar. Ou seja, arcou, integralmente, com o ônus financeiro desta censura interna, sob a justificativa de que este ônus seria inferior aos custos de produção de programas, particularmente de novelas, cuja censura seria evitada. O primado da rationale econômica, que exclui qualquer consideração ética, fez com que a TV Globo censurasse os seus próprios telespectadores e ainda arcasse com o ônus da operação, ilustrando o efeito multiplicador da censura." http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_10/rbcs10_02.htm, acessado em 27/09/2015.
"[...]O documentário ("Cidadão Boilesen" - Direção de Chaim Litewski, Brasil, 2009, 92 minutos) também sugere o apoio material e o suporte ideológico emprestado por grandes jornais às práticas repressivas, menciona especialmente a Folha de São Paulo e seu proprietário Octávio Frias de Oliveira, que cedeu automóveis para serem utilizados por agentes da repressão em ações de busca de captura de militantes de organizações políticas. Por um lapso, deixa de mencionar a Rede Globo, o império midiático, que se forma a partir da década de 1960. Será o maior beneficiário do regime militar neste campo e lhe prestará incondicional apoio." http://www.ufcg.edu.br/prt_ufcg/assessoria_imprensa/mostra_noticia.php?codigo=10726, acessado em 27/09/2015.
"[...]O artigo discorre sobre o desenvolvimento das indústrias culturais no Brasil no período da ditadura militar (1964-1985). Abordando como o regime vigente atuou no controle da informação, da nacionalização e da modernização do setor de mídia, busca-se demonstrar o ambiente propício à formação dos conglomerados. Aproveitando-se das oportunidades concedidas pelo Estado, muitas empresas de comunicações estreitaram laços com o modelo político, formando verdadeiros impérios." http://www.compolitica.org/home/wp-content/uploads/2015/04/GT8-Sanglard.pdf, acessado em 27/09/2015.
http://www.rj.gov.br/web/seeduc/exibeconteudo?article-id=1149929, acessado em 28/09/2015.
Apesar de me dedicar exclusivamente, e do Estado orientar essa postura, a remuneração não condiz com essa demanda, de modo que o Estado é obrigado a flexibilizar o contrato, permitindo outras associações trabalhistas, desde que não se sobreponha aos horários fornecidos ao serviço público.)
"boas vibrações", tradução livre do autor do inglês para o português.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Vedas, acessado em 30/09/2015.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hinduísmo, acessado em 30/09/2015.
Complexa, Holística, Pós-Moderna, Pós-Crítica, Humanista Radical. (VASCONCELLOS, 2011, p. 36)



COLÉGIO PEDRO II
PROGRAMA DE RESIDÊNCIA DOCENTE – PDR
II SEMINÁRIO DE MEDITAÇÃO LAICA APLICADA- 2015




II SEMINÁRIO DE MEDITAÇÃO LAICA APLICADA


Diálogos entre a Meditação Laica Educacional e as Ciências Sociais na educação básica: entre a estratégia autobiográfica e a argumentação teórico-conceitual

Leonardo de Abreu Voigt
Centro Familiar de Formação por Alternância Colégio Estadual Agrícola Rei Alberto I
[email protected]

"A memória é, na base, uma memória
de surpresas e espantos. A memória
não é calma lembrança. É também
luta, tensão, sofrimento."
(José de Souza Martins, 2011)

"O caminho do Não-ser conduz à
contemplação da essência maravilhosa.
O caminho do Ser conduz à
contemplação do espaço e seus limites."
(Lao-Tse, IV a.c.)



RESUMO

O presente artigo tem como objetivo refletir dialógica e dialeticamente sobre a relação construída pelo autor entre a técnica da Meditação Laica Educacional e as Ciências Sociais na educação básica. Metodologicamente, me basearei em minhas vivências e experiências como professor das disciplinas Sociologia e Filosofia do ensino básico, de nível médio, público do Estado do Rio de Janeiro, através de uma estratégia composta de um primeiro momento autobiográfico e de memória social, seguido de uma argumentação teórico-conceitual apropriada, finalizando com alguns apontamentos e conclusões.
No início de minha exposição, utilizarei a estratégia autobiográfica de modo a situar a realidade a qual este artigo visa tratar. O território sobre o qual esta história se passa pode ser espacialmente delimitado, a princípio, entre 2 municípios vizinhos do Estado do Rio de Janeiro, nomeadamente, Casimiro de Abreu e Nova Friburgo. Contudo, em termos geográficos mais específicos, tanto como também econômicos e culturais, estaremos a tratar de um território total que abarca, mesmo que tangencialmente, quase 7 municípios, pois compreenderá localidades tão distantes quanto Rio Dourado (limite entre os municípios de Casimiro de Abreu e Rio das Ostras), São Pedro da Serra (próximo ao limite entre Nova Friburgo, Bom Jardim e Trajano de Moraes) e Baixada de Salinas – Três Picos (próximo ao limite entre Nova Friburgo, Teresópolis e Cachoeiras de Macacu).
Após apresentar meu percurso docente e os Colégios Estaduais onde lecionei, a saber, Colégio Estadual Casimiro de Abreu (CECA), Colégio Estadual Mataruna (CEM), Colégio Estadual José Martins da Costa (CEJMC), Colégio Estadual Rio Dourado (CERD) e Centro Familiar de Formação por Alternância Colégio Estadual Agrícola Rei Alberto I (CEFFA CEA RAI), abordarei minha aplicação, mais ou menos eficiente, da técnica de Meditação Laica Educacional nas distintas realidades trabalhadas, desde minha entrada para o serviço público da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC – RJ), em março de 2014, até os dias de hoje, setembro de 2015. Avançarei apresentando as características gerais dessa técnica, juntamente com alguns apontamentos sobre relevantes pesquisas e consensos acerca do fenômeno humano da meditação e alguns dos benefícios já descobertos decorrentes de sua prática regular.
Finalizo, à guisa de conclusão, por apresentar o que me parecem ser as duas principais potencialidades do desenvolvimento da técnica da Meditação Laica Educacional em colégios e escolas, entre educadores e educandos, como dispositivo político-pedagógico-terapêutico: o desenvolvimento de um trabalho de educação emocional escolar contínuo, promotor de saúde física e mental, além de vários outros benefícios possíveis entre os praticantes e seu meio; e sua vocação como instrumento de uma necessária militância pedagógica no sentido da luta pela valorização docente-discente e pela libertação das práticas, atividades e estruturas pedagógicas humanas da hegemonia do Currículo Disciplinar Instrucionista.

PALAVRAS-CHAVE

Meditação Laica; Ciências Sociais; Autobiografia



INTRODUÇÃO

Após 7 anos (2006 – 2012) de um intenso processo de formação e autoformação na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, cursando a licenciatura e o bacharelado em Ciências Sociais desta universidade, e tendo passado por experiências tão distintas e diversas como educador comunitário, bolsista de iniciação científicana Faculdade de Educação; estagiário no Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, estudante e praticante de agroecologia, educador popular, professor/facilitador de mediação e resolução de conflitos escolares, e bolsista de iniciação à docência da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) do Ministério da Educação (MEC), enfim, no Diário Oficial número 242 do dia 30/12/2013, é publicada oficialmente minha convocação para o cargo público de Professor Docente I do Estado do Rio de Janeiro.
Tendo sido o 3º colocado para o cadastro de reserva da disciplina Sociologia para o município de Nova Friburgo, fui convocado, como prevê o edital, para ocupar vagas ociosas em outros municípios da mesma regional, sendo "delicadamente" informado que, caso não concordasse em ocupar nenhuma das vagas oferecidas naquele momento, perderia a convocação e a matrícula de Professor Docente I. Até hoje, sinceramente, não tenho clareza sobre a legalidade do assédio que sofri para que assumisse algum dos municípios que me foram apresentados naquele momento, porém, no furor de ligação tão tensa, me restou escolher. Após algumas breves pesquisas no Google, em tempo real, enquanto buscava ganhar tempo para procurar informações mínimas sobre os diferentes municípios ofertados, termino optando pelo município mais próximo à minha primeira escolha, distando cerca de 98km do centro de Nova Friburgo, e aproximadamente 77km do que seria minha futura moradia em São Pedro da Serra: Casimiro de Abreu.
O passo seguinte foi me submeter a todos os exames médicos solicitados e providenciar todos os documentos necessários, de modo que, em março de 2014, fui finalmente liberado pela Coordenadoria Regional Serrana II da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC – RJ) para me apresentar às Unidades Escolares Colégio Estadual Casimiro de Abreu (CECA) e Colégio Estadual Mataruna (CEM), sendo o primeiro minha unidade de lotação.
Poucas semanas após assumir nos colégios de Casimiro de Abreu, descubro que a então professora de Sociologia e Filosofia do Colégio Estadual José Martins da Costa (CEJMC), em São Pedro da Serra, próximo ao limite do município de Nova Friburgo com os municípios de Bom Jardim e Trajano de Moraes, Drª Virgínia Villas Boas Sá Rego, acabara de se aposentar, tornando ociosas as vagas para professor dessas disciplinas. Nesse momento descubro a famosa "GLP" (Gratificação por Lotação Prioritária), que funciona, grosso modo, como um sistema de contabilização e remuneração de hora extra do professor do Estado, porém, que não leva em conta o tempo de trabalho do professor na rede, mas estabelece, por baixo, um valor pelas horas trabalhadas além das previstas pelo contrato com a SEEDUC - RJ.
Por fim, em setembro de 2014, sou indicado pela diretora do CEM para ocupar as vagas ociosas tanto de Sociologia como de Filosofia do Colégio Estadual Rio Dourado, situando-se próximo ao limite entre os municípios de Casimiro de Abreu e Rio das Ostras.
Nesse momento, já estou trabalhando em 2 municípios distintos, em 4 diferentes escolas, 4 dias na semana em sala de aula (sem contar tempos de planejamento e correção), com 35 tempos de aula na semana e 19 turmas entre as disciplinas de Sociologia e Filosofia dos três anos do ensino médio. Quando entendemos que grande parte dessas turmas se multiplicam por dois, por terem aulas tanto de Sociologia como de Filosofia, concluímos que o número de turmas mais próximo do real trabalho empregado pelo professor sobe para impressionantes 29 turmas. Outra possibilidade de tradução desses números é a atenção à aproximadamente 434 estudantes, em momentos distintos e com disciplinas distintas, contando apenas com 50 minutos por semana em 22 das 29 turmas trabalhadas. Todavia, se compreendermos que para mais da metade desses alunos eu lecionava tanto Sociologia como Filosofia, compreenderemos que esses números ainda não representam fielmente a realidade, pois, dentre esses 434 alunxs, vários deles precisavam fazer avaliações para as duas disciplinas, o que, de uma forma bem simples, nos fará concluir que empregavam o dobro do trabalho do professor, equivalente às duas disciplinas. Contando cada aluno por disciplina como sendo uma unidade, mesmo que ele se repita e isso não impeça o avanço de nossa soma, buscando um número que represente mais fielmente a quantidade de trabalho de acordo com a quantidade de alunos por disciplina, chegamos à 434 estudantes que, ao se repetirem nas diferentes disciplinas, se transformam em aproximadamente 650 estudantes.
Finalmente, explorando um pouco mais o potencial de tradutibilidade alternativa dessas quantificações, caso queiramos transformar os números acima em quantidade de avaliações, sabendo que a SEEDUC exige ao menos 3 avaliações por aluno, por bimestre, por disciplina, chegamos ao montante, no meu caso, de 1950 avaliações para corrigir por bimestre. Se cada avaliação tiver, ao menos, uma página, teremos 1950 páginas para serem examinadas e corrigidas, e não apenas lidas. Supondo que eu seja um professor que desejasse que meu aluno produzisse mais do que isso, e que não apenas marcasse "X" em alternativas corretas ou falsas, os números avançariam assustadoramente, de modo que nem vou me atrever a continuar com essa ingrata matemática.
Em uma palavra, este é o nível de precarização a que chega o trabalho de um Professor Docente I de Filosofia e Sociologia do Estado do Rio de Janeiro, na tentativa de incrementar seu parco salário. Porém, a precarização, infelizmente, não para por aí.
Qualquer pessoa que já tenha conversado com professoras e professores das redes públicas de ensino, seja do Estado do Rio de Janeiro ou de algum de seus munícipios, certamente já se deparou com uma série de declarações sobre os desafios e as dificuldades vividas cotidianamente por alunos, professores e funcionários. Falta de materiais básicos; estruturas precárias; salas de aula com mais estudantes do que o adequado; ausência de ares-condicionados ou a proibição da utilização destes para economizar energia (sem falar da improbidade administrativa na contratação dos mesmos); padronização curricular sem consultas às localidades e independentemente das especificidades e demandas locais; avaliações externas de alto custo que não dialogam com as distintas realidades escolares e não visam à melhoria real dos processos pedagógicos de ensino-aprendizado; falta de democracia nas escolas e colégios onde não existem eleições para os cargos de direção; tempo de planejamento insuficiente para planejamentos e correções, acarretando a necessidade de trabalho não pago para atender as demandas pedagógicas ou, no limite, a precarização da qualidade do processo pedagógico; carga horária extra obrigatória não paga nos finais de semana com os famosos "sábados letivos"; competitividade entre e com educadores e estudantes através de sistema meritocrático de bonificação por desempenho, o qual no caso dos educadores falseia a renda real e não pode ser incorporado em sistemas de previdência social; educadores trabalhando em várias escolas e colégios, inclusive da rede privada, para complementar suas cargas horárias básicas ou horários extras remunerados (GLP) para incrementar a renda; educadores com problemas graves de saúde, decorrentes da precarização das condições de trabalho, com recorrentes dificuldades de obter licenças médicas, entre tantos outros.
Isso sem falar nas questões propriamente salariais, que no início de 2015 já acumulavam cerca de 21% de perdas históricas para a inflação, além da defasagem também histórica na comparação com o salário médio de outros trabalhadores com diploma de nível superior, o que coloca os professores brasileiros, em geral, entre os mais mal pagos do mundo em ranking organizado pela Organização pela Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Mais ainda, caso a promessa do atual governador Luiz Fernando Pezão se concretize, finalizaremos o ano sem o aumento salarial anual obrigatório (que acompanha a taxa anual de inflação) não somente nesse ano, mas também no ano de 2016. Nesse caso, trabalhando com uma projeção onde os números e estatísticas se mantenham aproximadamente como estão atualmente, teremos uma perda de 9% em 2015, com projeção para perda aproximada de 9% também para 2016. É Bem verdade que sempre existirá a possibilidade de mudança na conjuntura, porém, se tudo se manter próximo do atual, finalizaremos 2015 com uma perda acumulada para a inflação de 30%, chegando a 39% no final de 2016. Em uma palavra, a precarização é tanto pedagógica quanto econômica.
A lista poderia continuar, e, ao olhar para este quadro, não nos podem restar dúvidas sobre as razões, como atesta a opinião do Jornal O Globo durante a greve dos professores do estado e do município do Rio de Janeiro de 2013, da "constância com que o magistério recorre a greves para pressionar o poder público".
Quem lê na íntegra a opinião emitida por esse império midiático, de forma um tanto leviana, diga-se de passagem, tem a clara impressão de que a constância com a qual Mestres fazem suas reivindicações e paralizações são, na melhor das hipóteses, desmedidas, se não, absurdas.
Felizmente, nós, educadores, não costumamos fugir à luta, e, à época, em resposta a esse descalabrado editorial, Gesa Linhares escreveu resposta intitulada "Fraude na educação", onde descontrói a falsa retórica de O Globo e, mais uma vez, desnuda as vinculações de classe por trás deste conglomerado midiático filho e herdeiro da ditadura civil – militar brasileira – estadunidense .
Todavia, não demanda mais do que um dia de "trabalho de campo" para se tornar compreensível, e até entender como eminentemente necessário e louvável, as posturas de enfrentamento político de educadores frente ao tamanho descaso e desrespeito com os quais a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC) trata inúmeras comunidades escolares e seus membros por todo o estado.
Mediante esse quadro, se torna imperativo, tanto para educadores como para estudantes, o desenvolvimento de estratégias que possam recolocar os sujeitos envolvidos diretamente na vivência e experiência dos processos de ensino-aprendizagem no centro dos processos político-pedagógicos escolares. E é justamente nesse ponto que a técnica da Meditação Laica Educacional, da forma como experimento e observo, me parece um instrumento privilegiado que, para além de certamente colaborar com todos os momentos dos processos de ensino-aprendizagem escolares, poderá ter o poder de elevar os processos político-pedagógicos escolares à também processos, de certo modo, terapêuticos, de autoconhecimento, de regulação emocional e, em uma palavra, de cura. Inclusive social.

II. HISTÓRIA DE VIDA: O PROFESSOR, SUA REALIDADE E A MEDITAÇÃO
Se é verdade que existem realidades bem precarizadas no quadro da educação pública estadual, existe também um outro lado, que majoritariamente está representado pelas unidades escolares contempladas pelo programa chamado Dupla Escola da SEEDUC. Tal programa, de forma resumida, visa "transformar a unidade escolar convencional em um espaço de oportunidade para o aluno", com "jornada dupla" de "tempo integral", com "espaços atrativos", focando em "cursos de formação profissional", com maior possibilidade de escolhas para estudantes, estabelecendo um "trabalho em conjunto" com "parceiros da iniciativa privada"
Finalizando minha trajetória recente, chegamos no Centro Familiar de Formação por Alternância Colégio Estadual Agrícola Rei Alberto I (CEFFA CEA RAI), colégio técnico com os cursos de Agropecuária e Administração, que foi recentemente contemplado pelo Programa Dupla Escola. No caso do Rei Alberto I, a parceria é com o Instituto Bélgica – Nova Friburgo (IBELGA), onde este forneceu um terreno para a construção da escola, elaborou o projeto inicial e proporcionou a formação dos primeiros professores. Situado na região de Baixada de Salinas, Nova Friburgo, próximo ao monumento geológico que dá nome ao Parque Estadual dos Três Picos (PETP). Este situa-se, ainda, no limite, que acompanha a geografia montanhosa, entre os municípios de Teresópolis e Cachoeiras de Macacu.
Um ano após começar os trabalhos em Casimiro de Abreu, participo de uma seleção interna da SEEDUC, em março de 2014, para o único colégio agrícola, público e em Pedagogia da Alternância do Estado do Rio Janeiro. O fato de já ter investigado a referida pedagogia ainda na graduação, certamente pesou para ter ficado com a vaga de professor de Sociologia dessa unidade escolar, fato esse que elevou significativamente a qualidade de minhas condições de trabalho. Desse ponto em diante, trabalho no mesmo colégio, 3 dias na semana, com dedicação praticamente exclusiva, 30 horas por semana, com 6 turmas e 142 estudantes no total. Tendo em vista as especificidades da Pedagogia da Alternância, e sua adesão ao Programa Dupla Escola, cumpro essas 30 horas com 6 horas de aulas semanais, reuniões pedagógicas também semanais e aplicando os diversos instrumentos pedagógicos da Pedagogia da Alternância, mesmo que ainda com significativas precariedades estruturais, somando-se eventuais projetos pedagógicos paralelos, dependendo da iniciativa e das possibilidades de cada educador.
Após o período de 6 meses de experiências nessa nova unidade escolar, sinto-me capaz, e, de certo modo, com as responsabilidade e necessidade, de avaliar, "dar valor", de forma dialética, crítica e reflexiva, para minha experiência, no intuito de constituir o que Bondía chamará de "saber de experiência" (BONDÌA, 2002) acerca da própria história de vida, tendo como elemento central para esse olhar a experiência de implementação da técnica da Meditação Laica Educacional nos distintos espaços escolares por onde passei.
Tendo me formado definitivamente na técnica da Meditação Laica Educacional apenas em agosto de 2014, após ter feito uma primeira qualificação já em 2012, atualmente não mais me recordava claramente sobre o início de meu trabalho com a Meditação Laica nas escolas. Apesar dessa dificuldade de recordação, a qual atribuo, sem possibilidade de dúvidas, ao alto grau de precarização do trabalho que sofria naquele período, me rendendo ainda idas razoavelmente constantes aos postos médicos locais tanto de Casimiro de Abreu, como de Lumiar e São Pedro da Serra, registros fotográficos feitos por mim à época me ajudarão a reconstruir esse início e avançar até os dias de hoje. Provavelmente, uma das mais perversas implicações da precarização docente seja a dificuldade, mediante a estafante carga de trabalho, de conseguir tempo para refletir sobre sua própria prática, de poder fazer estudos e investigações sobre a própria realidade e sobre problemas, projetos ou desafios que ameacem ou instiguem os diversos espaços escolares.
Apesar de ter a consciência de que a professora Claudiah Rato já havia padronizado uma possibilidade de investigação da prática meditativa derivada da técnica que desenvolvera, me senti duplamente influenciado a seguir um caminho diverso, mesmo que reconhecendo a validade e importância de suas escolhas e orientações metodológicas.
Por um lado, sentia-me impossibilitado, pelo grau de precarização ao qual fui imposto, de conseguir reservar o tempo necessário e a preparação necessária para a aplicação dos questionários propostos por Rato, bem como de construir um "caderno de campo" onde deveria registrar minuciosamente esse processo, e, por outro lado, inspirado em Gramsci, preferi, mesmo assim, "elaborar a própria concepção do mundo de uma maneira consciente e crítica" escolhendo "a própria esfera de atividade" e buscando ser o "guia de si mesmo" nas elaborações tanto conceituais como metodológicas. (GRAMSCI, 2006, p. 94) Como amparo para o relato histórico-autobiográfico, os registros fotográficos de todas as vivências da técnica nos ajudam a refletir sobre a periodicidade, a quantidade de práticas e de praticantes em cada unidade escolar, e os distintos posicionamentos de diversos sujeitos, apreendidos ao longo dessa experiência.
Os registros fotográficos denunciam que foi no CEJMC, em São Pedro da Serra, onde apliquei pela primeira vez uma versão simplificada da técnica, ainda um mês antes de me capacitar oficialmente, como praticante e investigador da Meditação Laica Educacional, em 29 de julho de 2014. Já os resultados dessa primeira aplicação foram traduzidos em uma atividade artístico-pedagógica que denominei de "Quadro Livre". Neste, os alunos deveriam, após a prática da meditação, desenvolver um trabalho coletivo contendo desenhos ou palavras que definissem melhor seus sentimentos e sensações vivenciadas durante a prática ou que tenham acerca da meditação como um todo. Essa atividade foi desenvolvida com as turmas 3001 e 2001, sendo essas as únicas turmas de cada um desses anos do ensino médio do CEJMC. Abaixo, as fotos:




Por ordem cronológica, quadro da turma 3001, dia 29/07/2017, as 10:54.

Quadro da turma 2001, 29/07/2015, as 12:26.

Mediante, literalmente, esses "quadros", várias observações podem ser feitas, num primeiro momento. Na comparação entre os dois quadros, percebemos que o primeiro quadro acabou tendo baixo índice de participação da turma, onde vemos, por outro lado, um trabalho artístico dedicado e, a princípio, pelas palavras empregadas, um certo grau de satisfação com a prática, representada nas palavras "good vibes", "saúde", "paz", "harmonia", "prosperidade", "sabedoria", "amor", "solidariedade", "esperança", "união" e "felicidade". Referindo-se aos desenhos, ainda, notamos elementos da natureza, símbolos exotéricos (Ohm hindu) ou indígenas (filtro dos sonhos, amuleto indígena norte americano). É verdade que não nos é possível aqui, por não ser possível confiar na memória nesse momento, afirmar se as opiniões retratadas no quadro pareciam ser da turma como um todo ou apenas de estudantes específicos.
Já no outro quadro, porém, apesar de aparecerem elementos, de certo modo, contraditórios, a riqueza de colaborações dos diversos estudantes da turma 2001 acabou produzindo um quadro igualmente refinado artisticamente, em algumas contribuições, e ainda mais rico em termos de experiências, vivências e perspectivas.
Desaparece a unanimidade dos pensamentos tradicionalmente categorizados como "positivos", porém aparecem, tanto escritos quanto desenhados, distintos elementos da natureza (planetas, estrelas, lua, baleia, coruja, "caranguejo", árvores, planta, flor, "vento", "tempestade", "calmaria", "onda"), dos sentimentos/sensações/emoções ("fora de si", "longe da mente", "positividade", "tranquilidade", "plenitude", "paz", "cura", "dificuldade", "insignificância", "turbulência", "falsidade", "dúvida", "subconsciente", "loucura", "reflexão", "treva", "soberba", "viagem", "outro mundo", "realidade", "viagem interior", "tempo"), das filosofias exotéricas (símbolo do Ohm hindu e da espiral celta), palavras com menor ou nenhuma ligação com a prática em si ("rabisco", "cambada") ou ainda incompreendidas ("Erebos", e "Brainedr", ou algo próximo a isso).
A partir desse dia, mas principalmente após meu segundo e último curso de formação na técnica, no final de agosto de 2014, comecei a aumentar a frequência dos trabalhos com a meditação, em escolas distintas e com regularidade praticamente nenhuma. A dificuldade de planejamento e realização com tantas turmas, em tão diversos contextos, se impôs sobre minha capacidade de manutenção de alguma rotina meditativa com todas as turmas.
Das 19 turmas nas quais lecionava, fui apto a aplicar a Meditação Laica Educacional em apenas 9 dessas turmas, deixando a maioria delas sem conhecer e experimentar a técnica. Nas menores escolas, e nas quais trabalhei por mais tempo, fui apto a fazer, ao menos, uma experiência meditativa com cada uma das turmas trabalhadas, deixando a desejar mais, provavelmente, nos espaços onde as condições de trabalho se apresentavam como mais desafiadoras, ou seja, no CECA, onde em um dia de trabalho atendia a 7 turmas distintas, e no CERD, onde assumi já no final do ano, em meados de setembro, acumulando todas as dificuldades que isso representa para um professor.
Cronologicamente, fui apto a desenvolver uma vivência da técnica nas turmas 2001 (CEM – 03/09/2014), 1002 (CEM – 05/09/2014), 3004 (CECA – 05/09/2014), 3001 (CEJMC – 09/09/2014), 2001 (CEJMC – 09/09/2014), 2003 (CECA – 11/09/2014), 1001 (CEJMC – 16/09/2014), 3000 (CERD – 22/09/2014) e 1001 (CEM – 24/09/2014). Após o assoberbamento de trabalho que o fechamento do então 3º bimestre letivo me causou, que se acumulou, de certo modo, devido a minha inexperiência, para o 4º bimestre, não fui mais apto a desenvolver as meditações com os alunos de nenhuma escola, voltando a aplicar a técnica novamente apenas em meados de agosto do corrente ano, após me adaptar à escola nova, ao novo regime de trabalho, e me sentir à vontade para propor prática tão alternativa, principalmente em se tratando de uma região rural, de costumes e cultura tradicionais específicos.
Depois de uma primeira experiência despretensiosa com alunos de distintas turmas e duas professoras, durante um horário de intervalo, reiniciei o trabalho de difusão e divulgação da Meditação Laica Educacional, tendo, até o momento, conseguido oferecer, além dessa primeira vez não registrada, mais 3 momentos com 3 públicos distintos. No dia 11/08/2015 ofereci a prática aos estudantes da turma 3001 do curso de Administração, após o horário regular, tendo a adesão de 11 alunas, ou seja, 55% da turma (total – 20 estudantes). Já no dia 10/09/2015, a prática foi acolhida pela reunião pedagógica dos educadores do CEFFA CEA RAI, onde todos os 16 presentes participaram. Finalmente, no dia 28/09/2015 foi a vez da turma 2001 do curso de Agropecuária que, durante minha tentativa de inaugurar o instrumento pedagógico autoavaliativo coletivo que chamei de "balanço do bimestre", mediante uma turma pouco participativa e cansada, resolvi abdicar daquela proposta para o dia, postergando-a para o dia seguinte, e oferecendo-os a experiência da Meditação Laica Educacional. No dia seguinte, ao continuarem construindo seu "balanço do bimestre", já mais dispostos e participativos, decidiram incluir, como proposta, a realização de meditação no final de todas as aulas, assim como também o fez a turma 3001 do curso de Administração. Melhor ainda foi descobrir, ao realizar a mesma atividade com as outras turmas, que, mesmo em uma turma onde ainda não havia sido experimentada a técnica, havia o interesse para que eu desenvolvesse a Meditação Laica, caso da turma 1001 do curso de Agropecuária. Após a sinalização de interesse dessa última turma, finalizo essa seção contabilizando o interesse de 50% das turmas da escola para que o trabalho de Meditação Laica Educacional seja desenvolvido e aprofundado. (total – 6 turmas: 1001, 2001 e 3001 do curso de Agropecuária e 1001, 2001 e 3001 do curso de Administração).

III. A MEDITAÇÃO

Os primeiros registros históricos de práticas meditativas já aparecem nos clássicos Vedas, escrituras védicas hinduístas do subcontinente indiano, os quais datam, pelo menos, de 1000 a.c. os textos mais recentes, chegando até aproximadamente 2000 a.c. os textos mais antigos. Contudo, acredita a maioria dos indólogos que estas escrituras são, na verdade, a representação escrita de uma longa tradição oral, a qual pode se estender no passado, até aproximadamente 6000 a.c., ou até mesmo além desse período.
Como dirão os historiadores frente ao limiar dos caminhos imemoriais, nas palavras de Mourão em seu artigo "A invenção do saber", na primeira edição da Revista do Brasil da Secretaria de Ciência e Cultura do Governo do Estado do Rio de Janeiro, sob os auspícios de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro e Marcelo Alencar: "daí para lá, as coisas "se perdem na noite dos tempos". (MOURÃO, 1984, p. 68). Pois, será justamente "na noite dos tempos" que, de fato, segundo Johnson, depois de um amplo levantamento em diversas culturas, as práticas e exercícios meditativos ganharão seus primeiros registros. Segundo o referido autor, os primeiros estados alterados de consciência serão atingidos por nossos antepassados através de situações de indução espontânea, ao sentarem-se frente ao fogo e observarem suas labaredas por longas horas. (JOHNSON, 1990 apud, RATO, 2011, p. 86).
No caso da meditação propriamente dita, apesar de intuirmos que o processo de seu reconhecimento pelo ocidente seja muito complexo para conseguirmos abordá-lo precisamente neste espaço, sabemos que a atenção acadêmica voltada para práticas meditativas e seus benefícios tem como marco os estudos do cardiologista Herbert Benson (1935), desenvolvidos na década de 60 por este professor da Harvard Medical School e fundador do Mind/Body Medical Institute no Massachusetts General Hospital em Boston - EUA. Na época, meditadores foram expostos a experimentos onde pressão arterial, ritmos cerebrais, cardíacos, temperatura da pele e do reto foram monitorados. De lá para cá, muitos estudos foram realizados, de modo que os resultados mais impressionantes descobertos recentemente, para além dos já sabidos resultados no que tange a menor propensão ao estresse, somam-se, agora, mudanças fisiológicas (um volume alterado de tecido em algumas áreas), reorganizando circuitos cerebrais e produzindo efeitos salutares não apenas na mente e no cérebro, mas em todo o corpo. (DAVIDSON; LUTZ; RICARD, 2014, p. 30)
Na Meditação Laica Educacional, os processos de meditação são divididos em 3 tipos: a "atenção focada", o "monitoramento aberto" ou "atenção plena" e a "autotranscendência automática". (RATO, 2011, p. 88) Para efeitos de registro, um quarto tipo, que não é foco direto da Meditação Laica Educacional, mas pode ser atingido de forma indireta, é composto pela compaixão e bondade amorosa, promovendo uma perspectiva altruísta em relação aos outros, segundo a tradição budista. (DAVIDSON; LUTZ; RICARD, 2014, p. 30)
Desde o foco na respiração, nas partes do corpo, nos próprios pensamentos ou em outros objetos, como no budismo tibetano, na tradição chinesa e védica, que ativam ondas beta e atividade gama, passando pelo monitoramento aberto de sons e ruídos, como nas meditações vipassana, zazen, sahaja e qigong, ativando ondas teta frontal, chegando, finalmente, na autotranscendência automática, quando o meditador é, enfim, guiado por um ambiente natural construído a nível mental, ativando ondas alpha; eis de forma resumida o percurso da "variável independente" da Meditação Laica Educacional, da forma como a compreendo e pratico.
Enquanto as ondas beta representam um estado desperto e alerta, as ondas teta, por sua vez, indicam uma baixa atividade cerebral, passando por um estado quase ao ponto do sono, quando memórias antigas e imagens do inconsciente podem ser acessadas, chegando finalmente nas ondas alpha, as quais indicam um profundo estado de relaxamento sem, no entanto, chegar ao estado pré-sono, mantendo o estado alerta da consciência e proporcionando uma sensação de paz e bem-estar. (RATO, 2011, p. 88 – 89)

IV. CONCEPÇÕES MODERNA E CONTEMPORÂNEAS DE EDUCAÇÃO

Após avançar significativamente sobre minha trajetória autobiográfica, suas implicações, a técnica da Meditação Laica Educacional e os benefícios da meditação em geral, finalizo os aportes teóricos mais formais, racionais clássicos, conceituais e lógico-abstratos, com um breve apanhado das concepções de educação das Idades Moderna e Contemporânea, no sentido de sermos capazes de observar, de forma mais clara, as heranças deixadas por essas concepções pedagógicas na sociedade em geral, e em nossas próprias propostas pedagógicas, especificamente.
Num primeiro olhar, temos, segundo Vasconcellos, entre a modernidade e a contemporaneidade, 7 principais concepções de educação mais consolidadas que, grosso modo, serão o resultado direto dos impactos da história recente da humanidade sobre seus próprios processos de produção e reprodução da vida material, espiritual e de conhecimentos socialmente relevantes em cada época distinta. Estas concepções são a Tradicional da Idade Moderna, a Tradicional do início da Idade Contemporânea, a Moderna/Escola Nova da Idade Contemporânea, a Tradicional da Idade Contemporânea, a Crítica da Idade Contemporânea, a Neotecnicista da Idade Contemporânea, e a Dialética-Libertadora da Idade Contemporânea. (VASCONCELLOS, 2011, p. 36)
No que tange as ênfases dos distintos currículos dessas concepções de educação, temos, nas concepções Tradicionais tanto da Idade Moderna, do início da Idade Contemporânea como da Idade Contemporânea avançada uma unidade em torno do Saber Conceitual, onde apenas a concepção do início da Idade Contemporânea se diferencia dos outras duas por incluir Saberes Procedimentais, Atitudinais, com caráter instrumental. (VASCONCELLOS, 2011, p. 34 – 35)
Cabe ressaltar, neste momento, que a emergência do caráter instrumental da educação se estrutura como fundamental para a emergência do atualmente hegemônico Currículo Disciplinar instrucionista.
Na concepção Moderna/Escola Nova, por sua vez, teremos uma ênfase no sujeito, mesmo que, muitas vezes, não problematizada politicamente. Na concepção Crítica teremos uma ênfase na realidade, na perspectiva de transformação política, na estreita vinculação da atividade escolar com o objetivo de criação de uma nova ordem social, com a revolução. Por sua vez, a concepção Neotecnicista terá seu foco curricular no objeto, no saber fazer, entusiasmada com as mudanças tecnológicas e tendo como horizonte a luta individual pela sobrevivência. Finalmente, na concepção Diálética-Libertadora, Complexa ou Holística, seu foco seria no sujeito concreto, daí ampliando seu escopo compreendendo o sujeito como constituído por sua atividade, com a necessidade de conhecer para entender, usufruir ou transformar sua realidade, contemplando o educando, educador, membros da comunidade educativa, assim como o gênero humano como um todo, tendo como diferencial o resgate da história de vida (os curricula) de educadores e educandos, captando seu movimento e suas contradições em sua trajetória de desenvolvimento histórico. (VASCONCELLOS, 2011, p. 34 – 37)
Por fim, após identificar superficialmente as concepções pedagógicas preponderantes das Idades Moderna e Contemporânea, gostaria de salientar sua consequência marcante, enquanto processo histórico, para a hegemonia atual do Currículo Disciplinar Instrucionista. Este se define pela "organização do currículo em séries, matérias, grades, decorrentes da lógica disciplinar e da centralidade do conteúdo" – ao invés do educando ou do processo ensino-aprendizagem – provocando "distorções no uso dos tempos, espaços, saberes e recursos, uma vez que há uma fragmentação geral". Inclui-se nessa noção de currículo a compreensão do seu uso político como instrumento de poder, bem como sua profunda articulação com a avaliação classificatória excludente. Entre os problemas gerados especificamente por essa forma de avaliação, preponderam: 1 – o desvio de objetivos, verificando-se cotidianamente uma preocupação com a nota a ser alcançada e não com o próprio processo de ensino-aprendizagem; 2 – a distorção da prática pedagógica, onde a preparação para os exames direciona um cumprimento do programa a todo custo, levando, na larga maioria das vezes, a uma metodologia meramente expositiva; e 3 – a deformação ética, de modo que o aluno é tratado como uma "coisa" a ser classificada, e não como ser humano a ser formado. (VASCONCELLOS, 2011, p. 22 – 23)

V. CONCLUSÃO

Apesar das dificuldades encontradas durante o primeiro ano de tentativas de implementação da Meditação Laica Educacional em minhas aulas de Sociologia e Filosofia, nos diversos colégios do ensino médio público por onde passei, avalio a experiência, e toda construção de conhecimentos derivados dela, como extremamente positiva e potencial, fazendo-me concluir que, de certo modo, todo esse "saber da experiência" tem grandes chances de facilitar esse processo em curso no colégio que atualmente trabalho, o CEFFA CEA Rei Alberto I.
Pelo que conseguimos avaliar da pouca experiência nessa nova unidade escolar, temos bons motivos para acreditar que o trabalho está apenas começando, e que, em breve, teremos mais resultados positivos para compartilhar e problematizar. Anima-me, especialmente, mesmo com o pouco tempo de trabalho, já contar com turmas sinceramente interessadas na prática, contar com, ao menos, uma outra turma curiosa, e, principalmente, já ter a Meditação Laica Educacional como demanda de metade das turmas do colégio. Outro ponto extremamente positivo, e que, de certa forma, é inédito em minha experiência, é poder contar com um universo de educadores abertos e interessados na proposta, conferindo um estímulo especial.
Mediante a revisão bibliográfica, e os relatos de diferentes praticantes, tanto colegas educadores como estudamtes, concluímos por inegáveis os resultados benéficos das práticas de meditação em geral e da Meditação Laica Educacional especificamente, constituindo-se extremamente estratégico o desenvolvimento desta prática em ambientes escolares, tanto com educadores como com estudantes e eventuais funcionários interessados.
Finalmente, tendo em vista a Meditação Laica Educacional como um dispositivo político-pedagógico-terapêutico, identificamos que sua prática regular e periódica pode contribuir significativamente com a atividade docente, seja em ambiente formalmente pedagógico, como a sala de aula, seja em ambiente formalmente político, como em Conselhos de Classe, Conselhos Escolares, assembléias de categoria e até marchas públicas de reivindicação ou manifestações políticas.
No dia 15 de outubro de 2014, fui convidado, juntamente com David Salvador, também professor de nosso então Colégio Estadual Casimiro de Abreu (CECA), para darmos uma palestra conjunta para alunos do curso de Pedagogia da Faculdade Cenecista de Rio das Ostras (CNEC), sobre a conjuntura de então, potencialidades e limites da educação pública na região de Casimiro de Abreu e Rio das Ostras.
Enquanto eu foquei minha explanação em expor o desenvolvimento e aplicação da Meditação Laica Educacional, mediante o contexto de precarização profunda e desafios diversos, David Salvador, por sua vez, trouxe a perspectiva sobre a necessidade de uma militância docente, buscando apoio popular na sociedade, de modo a encampar uma luta social pela valorização de educandos e educadores públicos, reforçando a responsabilidade social destes mediante uma conjuntura severamente aviltada pelo descaso e má índole dos administradores públicos.
Após nossa exposição, uma aluna da Faculdade pede a palavra e, quase em tom profético, afirma que o que mais lhe agradou em toda a palestra foi a possibilidade de, numa mirada, poder ver juntas a meditação e a militância, apontando, mesmo que a princípio de forma superficial, para uma possível apropriação estratégica política das práticas meditativas pelos educadores. Estas auxiliar-nos-iam não somente em regular nossas emoções nos proporcionando maior bem-estar e menos estresse ao lidar com jovens em desenvolvimento, mas também, e acima de tudo, nos tornando Mestres capazes de regular emoções e sentimentos também em contextos tão desafiadores como de Conselhos de Classe, Conselhos Escolares, assembléias da categoria, onde diferentes e divergentes pontos de vista entram em conflito, bem como em situações mais extremas como de manifestações e marchas públicas, onde, certamente, serenidade, consciência, calma, sabedoria e ações ponderadas e eficazes podem fazer toda a diferença.
Assim, a milenar prática da meditação poderia vir a cumprir uma valorosa contribuição social, tornando não somente nossos jovens mais tranquilos, conscientes e sensíveis, como também nossos Mestres mais equilibrados e saudáveis. Equilibrados e saudáveis não somente para suas necessidades pedagógicas cotidianas, mas, especialmente, para os desafios políticos dessa categoria tão importante quanto desvalorizada.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DAVIDSON, Richard J.; LUTZ, Antoine; RICARD, Matthieu. "A mente (burilada) do meditador: práticas contemplativas milenares mostram uma infinidade de benefícios para o corpo e a mente", Rio de Janeiro, número 151, p. 28-35, Dezembro, 2014

BONDÍA, Jorge L. "Notas sobre a experiência e o saber de experiência", In: Revista Brasileira de Educação , número 19, 2002, p. 20-28.

GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. Volume 1. 4ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

MOURÃO, Gerardo M. "A invenção do saber", In: Revista do Brasil, Governo do Estado do Rio de Janeiro / Secretaria de Ciência e Cultura, 1984, p. 68-77.

RATO, Claudiah. "Meditação Laica Educacional: para uma educação emocional", Jundiaí: Paco Editorial, 2011, 156p.

VASCONCELLOS, Celso dos S. "Currículo: a atividade humana como princípio educativo", 3ª ed. São Paulo: Libertad, 2011. (Coleção Cadernos Pedagógicos do Libertad; v.7)

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