Diálogos entre educação musical e musicoterapia na promoção do ensino de música para pessoas autistas

May 25, 2017 | Autor: Rosangela Carmo | Categoria: Educação Musical, Musicoterapia, Autismo, Educação Especial
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Diálogos entre educação musical e musicoterapia na promoção do ensino de música para pessoas autistas Rosângela Silva do Carmo1 Kátia Daniela Cucchi 2 RESUMO: Este trabalho tem por objetivo apresentar reflexões sobre o ensino de música para pessoas autistas, a partir das experiências de duas professoras da rede municipal de ensino de Salvador em duas instituições especializadas distintas. Na prática diária, tem-se buscado compreender de que forma atividades musicoterápicas e de musicalização podem contribuir para formatar o ensino de música nestes espaços, preservando, entretanto, os objetivos da Educação musical e da Musicoterapia. É sob o ponto de vista de Bruscia e Gainza, que se busca esta compreensão. Serão trazidos os caminhos percorridos e as estratégias que estão sendo utilizadas neste processo, a fim de ampliar as reflexões sobre o ensino de música para pessoas autistas bem como de identificar as contribuições dessas duas áreas para a construção dessa prática. Palavras-chave: Ensino de música. Práticas musicoterápicas. Autismo.

INTRODUÇÃO É curioso observar as diversas formas que a pessoa autista reage à música. A surpresa talvez resida em algumas expectativas que, às vezes, desavisadamente são criadas e que, felizmente, muitas vezes, enganam. E ainda que padrões se prestem a estabelecer grupos determinando seus integrantes, em alguns momentos certas realidades colocam estes padrões e sua lógica à prova. Costuma-se dizer, e não sem razão, que a pessoa com autismo não abraça, não responde quando alguém chama seu nome, não reconhece o outro, não interage socialmente, dentre outros comportamentos. Entretanto, apesar da força que tem as bases que sustentam tais afirmações, as respostas que alguns alunos tem trazido diante das atividades realizadas nas aulas de música estão pondo um ponto de interrogação em algumas delas. 1

Professora de música da rede pública de ensino do município de Salvador. Mestre em Música pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Licenciada em música pela UFBA. Bacharel em Teologia/Filosofia pelo Centro Evangélico Universitário de Salvador. Especialista em Musicoterapia pela Faculdade Olga Metig. Especialista em Educação Inclusiva e Especial pelo Instituto Pro Saber. Especialização em Educação infantil especial e Transtornos globais do desenvolvimento (em curso). 2

Professora de música da rede pública de ensino do município de Salvador. Doutoranda em Ciências da Educação pela Universidade Nacional de Rosário, Argentina, mestre em Música pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Licenciada em Regência e Educação Musical pela UFBA. Especialista em Educação Especial pela FACINTER. Especialista em Musicoterapia pela Faculdade Hélio Rocha.

O ensino de música direcionado a pessoas autistas vem sendo inserido em instituições especializadas no município de Salvador, por professoras do quadro efetivo da rede municipal de ensino. E alguns questionamentos vêm chamando a atenção sobre a possibilidade de ensinar música para essas pessoas: de que forma apreendem os sons? Como respondem a eles? De que maneira conteúdos musicais podem ser introduzidos e quais deles podem ser explorados? Que instrumentos utilizar? Dentre outros. Embora o tempo em que este trabalho está sendo realizado seja curto para se obter algumas respostas, não o é para a quantidade de questionamentos suscitados até aqui, bem como para os resultados até então obtidos. O que se tem buscado é ampliar os estudos sobre a temática com vistas a avançar nas reflexões, melhorar a prática do professor de música nestes contextos e consequentemente tentando fornecer aos alunos possibilidades de experimentarem a música de forma própria e significativa. Embasado nos teóricos Bruscia e Gainza, o trabalho está sendo realizado a partir da combinação

de

práticas

musicoterápicas

e

de

musicalização,

buscando

possibilidades de diálogo entre a musicoterapia e a educação musical que contribuam para a construção da formatação do ensino de música para esta clientela. CONCEITOS Musicoterapia Ante a afirmação de que “Musicoterapia é um processo sistemático de intervenção em que o terapeuta ajuda o cliente a promover a saúde utilizando experiências musicais” (BRUSCIA, 2000, p.22), é possível notar a presença de terminologias que não fazem parte do contexto de instituições educacionais. Nelas não existem clientes sendo atendidos nem se pretende promover saúde, embora em alguns momentos ocorram situações em que a música proporciona esta promoção. Entretanto processos sistemáticos de intervenção encontram-se presente nas vivências musicais planejadas.

Reafirmando que o trabalho desenvolvido nas instituições de que trata este artigo não é musicoterapia – apesar de ambas as professoras serem também musicoterapeutas - em certos momentos é necessário lançar mão de algumas de suas práticas para favorecer a vivência musical desejada. De acordo com a Federação Mundial de Musicoterapia, Musicoterapia é a utilização da música e/ou seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) por um musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou grupo, em um processo destinado a facilitar e promover comunicação, relacionamento, aprendizado, mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, a fim de atender às necessidades físicas, mentais, sociais e cognitivas” (BRUSCIA, 2000, p. 286).

De acordo com as definições encontradas na literatura, a função da musicoterapia centra-se no processo terapêutico e em atender às necessidades físicas, mentais, sociais e cognitivas do cliente, diferindo-a da Educação Musical Especial que pretende promover a aprendizagem musical de pessoas com deficiência. Entretanto, existe uma relação de colaboração entre elas, uma vez que a musicoterapia se utiliza de recursos da educação musical na busca pela promoção da saúde dos clientes,

enquanto

a

educação

musical

especial

se

utiliza

de

práticas

musicoterápicas a fim de favorecer a aprendizagem musical dessas pessoas. Educação musical De acordo com Gainza, (1988, p.101), a educação musical tem como objetivo específico “Musicalizar, ou seja, tornar um indivíduo sensível e receptivo ao fenômeno sonoro, promovendo nele, ao mesmo tempo, respostas de índole musical”. Neste conceito estão presentes dois processos distintos, um de recepção que corresponde às formas como o fenômeno musical é apreendido e outro de projeção referente à capacidade de expressar-se através da música. Ambos realizam-se de maneira particular na medida em que cada pessoa vivencia o fenômeno musical de forma distinta. É

através

dela

que

pode-se

desenvolver

competências

(conhecimento,

procedimentos e atitudes), criando estratégias para colaborar e apoiar às diversas necessidades que o aluno apresenta, de formas prazerosa e dinâmica. Segundo Swanwick (2003) e Gainza (1988), o fazer musical, deve ser prazeroso e ambos entendem que no momento em que a criança canta ou brinca musicalmente, além

de ativar o desenvolvimento psicomotor, estimula os princípios cognitivos e emotivos deste indivíduo participante. Educação Musical Especial Por educação musical especial entende-se o ensino de música direcionado para pessoas com deficiências físicas ou mentais. Bruscia (2000, p. 186) a define como sendo aquela que: Situa-se na fronteira entre a educação musical e a musicoterapia. A principal razão pela qual não é considerada musicoterapia propriamente dita é porque seus objetivos são mais instrucionais do que terapêuticos. O aprendizado musical é um fim em si mesmo, mais do que um meio para alcançar um determinado fim. Além disso, a relação que se estabelece entre o estudante e o professor não tem conotação terapêutica.

Ao falar sobre o ensino de música no âmbito da educação especial LOURO (2012, p. 131) afirma que existem certos pré-julgamentos sobre a pessoa com deficiência que não necessariamente correspondem à verdade, como, por exemplo, a idéia de que são pessoas para as quais a aprendizagem significa algo inalcançável. A autora discorre sobre a aprendizagem musical da pessoa com deficiência, assinalando que é tão possível quanto o é para quem não tem tais limitações. Entretanto, chama a atenção para a importância de “lembrar que sempre haverá necessidade de adaptações, tanto do material utilizado em aula, como também da metodologia empregada” (LOURO, 2012, p. 57). A música direcionada para o âmbito da educação especial pode contribuir para o desenvolvimento integral do ser humano, e as características que fazem dela um elemento catalisador neste processo, destacam-se em casos de “indivíduos que apresentam deficiências ou problemas físicos, afetivos, mentais ou de integração social” GAINZA (1988, p. 87,88), Segundo a autora, A educação musical constitui uma contribuição significativa e sistemática ao processo integral do desenvolvimento humano. Uma de suas principais tarefas consiste em estudar para chegar a influenciar positivamente a conduta do homem em relação ao som e à música, não apenas ao longo de todo o processo vital, mas também diante da enorme diversidade de circunstâncias humanas (Ibidem, pg. 87).

Esta reflexão se ajusta ao ensino de música para pessoas com deficiências ao determinar sua contribuição para o processo integral do desenvolvimento humano e a tentativa de influenciar positivamente a conduta do homem em relação ao som. Ao propor seu direcionamento também para a diversidade de circunstâncias humanas, entende-se que incluem aquelas condições humanas cujas características diferem daquelas enquadradas dentro da normalidade como o autismo, por exemplo. A Associação de Amigos do Autista - AMA/Ba Pode-se dizer que a história da AMA/Ba teve seu início a partir da formação de um grupo de pessoas interessadas pela causa do autismo, entre elas profissionais e pais de autistas que, após buscarem sem êxito escolas que atendessem às necessidades de seus filhos, resolveram criar um grupo de estudos sobre o autismo e formar uma associação. Inicialmente o grupo se reunia na Clínica de Estudos e Atendimento Neurológico, espaço cedido pela Fonoaudióloga Ivalda Cesarino. Em 2003 teve seu registro em cartório e após o aluguel de uma casa, buscou parcerias com empresas públicas e privadas com vistas a organizar a estrutura física do espaço, o que conseguiu por meio da parceria com a Petrobras, possibilitando daí o atendimento aos primeiros alunos. Diversos eventos marcaram o ano de 2004 como a realização do primeiro curso do Programa TEACH, a parceria com a Secretaria do Estado da Bahia com publicação no Diário Oficial, início do atendimento com base na avaliação individual dos alunos, dentre outros. Em 2007 a AMA/Ba monta do primeiro Centro de Intervenção Precoce filantrópico de Salvador e em 2008 ganha, do então Prefeito da cidade João Henrique Carneiro, um terreno em um bairro de Salvador. Sendo uma Organização sem fins lucrativos que tem por objetivo atender pedagogicamente pessoas com autismo, proporcionando saúde, lazer, trabalho e inserção na sociedade, a AMA/Ba atualmente atende 201 alunos e nela atuam professores das redes municipal e estadual. Seu funcionamento continua no mesmo local inicial e segue buscando parcerias a fim de alcançar recursos para a construção do tão sonhado Centro Educacional da AMA/Ba.

As aulas de música na AMA/Ba As aulas de música na AMA-BA acontecem em um encontro semanal com duração de 20 minutos, tanto coletivamente nas salas e em oficinas como individualmente onde dois alunos são atendidos. Vale informar que nem todos os alunos são contemplados com a aula de música devido ao número limitado de professores; no momento há apenas uma professora atendendo aproximadamente 80 alunos. Por se tratar de uma prática introdutória o ensino de música aí desenvolvido encontra-se ainda em construção, buscando-se conhecer algumas especificidades do autismo e dos alunos, a fim de identificar de que forma eles se relacionam com a música e como respondem a ela. Dentre as atividades desenvolvidas citam-se a escuta e apreciação musical, movimento e expressão corporal, execução instrumental, jogo do espelho3, jogos de mãos e copos, percussão corporal entre outras. Algumas dessas práticas são realizadas individualmente e sempre que possível, em duplas. O principal objetivo deste trabalho é proporcionar vivência e aprendizagem musical aos alunos, explorando as potencialidades de cada um. Na busca deste objetivo alguns alunos apresentam condição que não favorece de imediato esses resultados. Quando isso acontece, faz-se necessário caminhar inicialmente pelas vias da interdisciplinaridade, a fim de promover o desenvolvimento de habilidades prévias sem as quais as musicais não seriam alcançadas. Por exemplo, antes de realizar alguma atividade musical em dupla é preciso ter certeza se eles já desenvolveram a identificação da imagem e do esquema corporal. Caso contrário, será preciso mediar a aprendizagem a fim de ajudá-los a desenvolver primeiro esta habilidade, para que se tornem aptos a trabalhar em dupla. Na literatura disponível sobre a aprendizagem mediada, abordada por Feuerstein, consta que ela, deve ser compreendida diferentemente da aprendizagem pela exposição direta do sujeito ao objeto ou estímulo. Ou seja, há a necessidade da intervenção de um mediador humano [...]. Ele se interpõe entre o sujeito (mediando/aprendiz) e o mundo (no sentido amplo – conteúdo, estímulo, objeto, etc.), conduzindo a reflexão e interação tendo em vista a introdução de pré-requisitos ou recursos cognitivos (da dimensão do pensar) que potencializarão 3

Observação e posterior reprodução de células rítmicas.

progressivamente a capacidade de aprendizagem deste sujeito. (Wikipédia).

Ao desenvolver sua teoria da Experiência de Aprendizagem Mediada, o autor defende que para a mediação acontecer faz-se necessário a presença dos critérios: Intencionalidade e Reciprocidade, Transcendência e Mediação de significado. Na visão da AMA-Ba, apesar de os três critérios permearem o trabalho a ser desenvolvido, dá-se especial atenção ao da Transferência. Por transcendência, entende-se algo que foi aprendido e logo foi extrapolado para outras dimensões espaço-temporal da vida do mediado. Ou seja, no processo de mediação o mediador deve ter a capacidade de conduzir o aprendiz para além do problema a ser resolvido. Universalizando ou transcendendo as soluções adquiridas ante uma situação-problema imediata, conduzindo-o a pensar sobre a aplicabilidade destes conceitos em outras situações de sua realidade. (CLEMENTE, 2016).

Algumas atividades musicais desenvolvidas nas aulas de música na AMA-Ba se desdobram em outras aprendizagens por parte dos alunos, aproximando-se dessa forma, da idéia da transcendência. Neste ponto, volta-se para aquela questão do objetivo do ensino de música que nem é terapêutica e nem busca melhorar a comunicação e interação social dos alunos. Entretanto, considerando o público em questão, para se ter a execução satisfatória de determinadas práticas musicais, as vezes é necessário trabalhar de forma a desenvolver no aluno habilidades prévias afim de alcançar êxito no que se pretende musicalmente. A música vem contribuindo significativamente para ampliar a comunicação destes alunos, visto que ela não exige a presença da voz falada para realizar-se, o que favorece a comunicação principalmente daqueles que tem comprometimento da fala, considerando a diferença que existe entre falar e se comunicar. Às vezes o aluno fala, mas por ter a fala desconexa ele não consegue se comunicar e o contrário também acontece quando o aluno não fala mas se comunica por outros meios como os gestos, o olhar as expressões corporais. Nesse aspecto a música é bastante oportuna e eficaz por favorecer a comunicação. O instituto de cegos da Bahia Fundado em 1933, o Instituto de Cegos da Bahia (ICB) tem como missão contribuir com a inclusão social da criança, do jovem e do adulto com deficiência visual

(cegueira e baixa visão), surdo-cegueira e deficiência múltipla sensorial através de ações que favoreçam o acesso à escola, ao trabalho e à sociedade. O instituto foi responsável pelas primeiras iniciativas de integração escolar de pessoas cegas, na cidade de Salvador, figurando, até o final da década de 1990, como única instituição especializada com atuação nesta área, no Estado da Bahia. Nos últimos anos, houve notória ampliação dos serviços oferecidos pelo Instituto de Cegos da Bahia, bem como do público alvo atendido. Assim, o ICB promove ações que favorecem o acesso à escola, ao trabalho e à sociedade das crianças, jovens e adultos com deficiência visual, surdocegueira e/ou deficiência múltipla sensorial visual. Atualmente o Instituto de Cegos da Bahia constitui-se como única instituição especializada, em Salvador, a atuar no diagnóstico, tratamento, reabilitação e inclusão escolar de pessoas com deficiência visual, surdocegueira e/ou deficiência múltipla sensorial visual. As aulas de música no ICB As atividades musicais oferecidas no ICB são: iniciação musical, musicografia braile, aulas de técnica vocal, percussão, bateria, teclado e prática de conjunto. Estas atividades fazem parte das Oficinas de Música. As aulas de iniciação musical, são oferecidas a todos os alunos de seis a dez anos de idade, uma vez por semana, com duração de 50 minutos de aula, e dentro deste espectro de alunos com várias deficiências associadas à deficiência visual, estão os cegos/autistas, neste caso as aulas duram 30 minutos. Atualmente, relatos de pessoas com Transtornos do Espetro do Autismo (TEA) são reconhecidos através da literatura, não só pelo seu fascínio pela Música, como por serem portadores de aptidões musicais incomuns e talentos acústicos espantosos. Segundo Benenzon (1985, p. 258), …a música deve fazer parte integrante da educação geral do homem […] conforme a ordem e o impulso da música; porque o ritmo musical e o corporal são o resultado de movimentos sucessivos, ordenados, modificados e estilizados, que formam uma verdadeira identidade.

Para Ruud (1990, p. 69),

…o estímulo musical representa um canal alternativo para a comunicação caso a pessoa não responda aos canais de comunicação normais. A Música/Canto associados ao movimento (rítmico), podem contribuir para a iniciação da fala e podem, também, criar uma estrutura no tempo que facilite a resposta motora.

Oportuno mencionar Bréscia (2003, p. 50), quando ele afirma que as crianças mentalmente deficientes e autistas geralmente reagem à música, quando tudo o mais falhou. A música é um veículo expressivo geralmente para o alívio da tensão emocional, superando dificuldades de fala e de linguagem. A terapia musical foi usada também para melhorar a coordenação motora (…) também é usada para ensinar controle de respiração.

O atendimento é direcionado a um grupo de 07 crianças cegas e autistas, três delas são atendidas individualmente, pois ainda não foi possível desenvolver um trabalho em grupo com estes alunos, devido à necessidade de dar atenção exclusiva. Os outros quatro alunos são atendidos em grupo, pois já foi possível desenvolver um trabalho de socialização com eles. As atividades desenvolvidas sempre seguem a mesma rotina. As aulas acontecem da seguinte forma: a) primeiro cantamos uma música de bom dia, que diz que a professora está feliz por vê-lo novamente; b) em seguida cantam-se outras canções, com acompanhamento instrumental; c) tocam-se diversos instrumentos; d) alguns são contemplados com a contação de histórias musicadas; e) e a aula é encerrada com a música de despedida. Vale lembrar que como as crianças não enxergam tudo tem que ser explorado de forma tátil, e quando eles não gostam jogam no chão. Com isso, se trabalha bastante a ação de pegar, por se tratar de uma dificuldade que o autista tem, visto que alguns têm a conduta de jogar objetos no chão. Através deste trabalho, temos certeza que a música contribui significativamente para o desenvolvimento da pessoa com deficiência, especificamente com crianças cegas/autistas, favorecendo o processo de inclusão das mesmas.

Considerações Por se tratar de uma prática ainda em construção, o ensino de música na AMA-Ba requer avanço nas reflexões a fim de compreender a relação dos alunos com a música como também de buscar alternativas para a elaboração das aulas, a partir da utilização de práticas musicais presentes na Educação musical bem como em Musicoterapia. Com isto busca-se proporcionar aos alunos contato com vivências musicais da forma mais aproximada possível dos objetivos pretendidos pela educação musical especial Com esta experimentação e por meio do universo sonoro disponível, se pretende envolver os alunos em situações que propiciem a interação social, afetividade, expressividade, lateralidade, espacialidade, o reconhecimento do esquema corporal, dentre outras habilidades, estimulando sua capacidade de expressar respostas de índole musical. Isto porque, algumas vezes, a fim de alcançar determinados objetivos musicais, algumas vezes, num primeiro momento é necessário direcionar o trabalho para outras práticas, anteriores e interdisciplinares, necessárias para tornálos aptos a responder positiva e musicalmente a eles. Apesar de se esperar resultados relacionados ao que é objetivado no ensino, entende-se que, partindo das potencialidades do aluno autista, todas as respostas são consideradas e compreendidas como de índole musical, visto que cada um deles vivencia a música e expressa-se dentro de suas possibilidades e de forma bastante específica. É através da música que se pretende ajudá-los, criando um ambiente favorável para a aquisição de conceitos, não só musicais mas principalmente no fortalecimento de atitudes, comportamentos, desenvolvimento da fala, enfim, o que se pretende é desenvolver ações para que a qualidade de vida destes educandos melhore através de experiências musicais prazerosas. Observa-se ainda a notável diferença entre as duas instituições no que diz respeito ao tempo de existência, a AMA-Ba com aproximadamente 15 anos e o ICB com mais de 80. Isto reflete na consolidação do ensino de música nelas realizados, visto que na primeira, estando ainda em construção, conta apenas com a musicalização e algumas oficinas onde se desenvolve a atividades envolvendo jogos de mãos e

copos, enquanto o ICB já oferece aulas de iniciação musical, musicografia braile, técnica vocal, percussão, bateria, teclado e prática de conjunto. Entretanto, conforme relatado pelas professoras, o ensino de música para alunos autistas é uma prática que suscita constantes reflexões e levanta questionamentos, onde ainda se busca compreender quem é este aluno, como ele se relaciona com a música bem como se pretende identificar estratégias que contribuam para a construção da formatação deste ensino para este público. A literatura concernente ainda é escassa sendo, portanto, necessária a ampliação da reflexão e dos estudos sobre esta temática a fim de melhorar a qualidade do ensino de música para esta clientela. Referências BENENZON, Rolando. Manual de musicoterapia. Baralana. Paidós, Ibéria S.S, 1985 BRÉSCIA, Vera Pessagno. Educação musical: bases psicológicas e ação preventiva. São Paulo: Átomo, 2003. BRUSCIA, Keneth. Definindo musicoterapia. 2. ed. Tradução de Mariza Velloso F. Conde. Rio de Janeiro: Enelivros, 2000. CLEMENTE, Marcelo. Teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural. Disponível em: . Acesso em: 01 de Setembro de 2016. GAINZA, Violeta Hemsy. Estudos de psicopedagogia musical. São Paulo: Summus editorial, 1988. LOURO, Viviane. et al. Fundamentos da aprendizagem musical da pessoa com deficiência. São Paulo: Editora Som, 2012. REUVEN Feuerstein. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2016. Disponível em: . Acesso em: 1 set. 2016. RUUD, Even. Caminhos da musicoterapia. São Paulo: Summus, 1990. SWANWICK, Keith. Ensinando Música Musicalmente. Trad. Alda Oliveira e Cristina Tourinho. São Paulo. Moderna, 2003.

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