Diálogos Híbridos em Fotografia Analógica, Tipografia e Poesia Autoral

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Diálogos Híbridos em Fotografia Analógica, Tipografia e Poesia Autoral Laís Akemi Margadona | Graduanda em Design, Universidade Estadual Paulista (UNESP); [email protected]

Fernanda Henriques | Professora Assistente-Doutora em Design, Universidade Estadual Paulista (UNESP); [email protected]

Ana Beatriz Pereira de Andrade | Professora Assistente-Doutora em Design, Universidade Estadual Paulista (UNESP). [email protected]

Resumo: Trata-se de pesquisa experimental em Design Gráfico com a intenção de estabelecer diálogos híbridos entre alguns elementos. A saber: fotografia analógica, tipografia e poesia autoral. A fotografia analógica será o processo para a obtenção de imagens. Em tipografia, o recorte é o de caligrafias produzidas manualmente, e a poesia autoral tem a função de estabelecer as pontes necessárias para tecer os objetivos estabelecidos. Pretende-se desenvolver produto final no campo do Design Editorial. Palavras-chave: Hibridismo, Fotografia analógica, Tipografia, Poesia, Design Gráfico.

Abstract: This work consists of an experimental research in Graphic Design, which intends to establish hybrid dialogs between some elements, namely: analog photography, typography and authorial poetry. The Analog Photographic Process will be the source for the obtainment of images. In Typography, the cutout is focused on handwriting, while the authorial poetry will have the function of set the necessary bridges to achieve the objectives of this hybrid project. We intend to develop the final product in the field of Editorial Design. Keywords: Hybridism, Analog Photography, Typography, Poetry, Graphic Design.

I. Introdução e justificativa O presente projeto investiga as possibilidades de diálogos visuais entre três linguagens em Design Gráfico. Tratam-se de ferramentas e sistemas singulares: a fotografia analógica, capturada em filme; a tipografia como expressão visual da escrita, e a poesia compreendida como maifestação literária em forma de versos. Parte-se do princípio de que fotografia e tipografia, historicamente, são sistemas imagéticos fundamentais de comunicação e expressão. A interseção com a poesia se dá pelo fato de poder ser compreendida sob forma visual e escrita. Considera-se que as três linguagens apresentam inúmeras alterações ao longo do tempo, e sobretudo, diante das inúmeras possibilidades que os sistemas digitais oferecem. É característico da contemporaneidade um amálgama de conceitos, estéticas e tecnologias que permita o hibridismo entre linguagens e sistemas de produção. Foi a partir da segunda metade do

século XX, em que “os designers tinham maior oportunidade de autoexpressão, criavam imagens mais pessoais e exploravam novos estilos e técnicas. Não era mais possível identificar as tradicionais fronteiras (...). ” (MEGGS e PURVIS: 2009, p.548). A obra “A contemporaneidade híbrida nas Artes e no Design” (MOURA: 2014, p.69) acrescenta que a contemporaneidade carrega consigo o conceito do híbrido, força-motriz de convergências e multiplicidades, sobretudo nos processos e produtos da cultura. Torna-se difícil detectar os sistemas envolvidos em uma expressão imagética, visto que são todas as ferramentas são utilizadas simultaneamente e entrelaçadamente. Acredita-se que neste contexto, cabe ao designer o papel de mediador entre os sistemas. Para o designer gráfico e tipógrafo Claudio Rocha (CAMPOS et alli.: 2011, p.152), estamos em um momento de subordinação dos códigos visuais a uma nova abordagem técnico-artística. Um importante ponto de convergência entre a fotografia em filme e a tipografia, mais especificamente a caligrafia, é o cunho saudosista e inclusive artesanal que ambos os processos inspiram. A fotografia analógica, após sua etapa mecânica, passa pela manipulação cuidadosa em laboratório e posterior ampliação dos resultados. A caligrafia, tradução da língua pelas mãos, também se relaciona a um processo não-digital, embuído da expressão pessoal de quem caligrafa. Nesse sentido, a poesia autoral, terceiro sistema a ser hibridizado, pode agir como elemento unificador entre a fotografia e a tipografia manual.

Figura 1. Fotografia “Espiral”, capturada com câmera Asahi Pentax K1000 e filme p/b Kodak 400TX. Fonte: Concurso Fotografe o Campus 2012 / UNESP. Autoria de Laís Akemi.

Outro importante paralelo entre a fotografia e a tipografia é a possibilidade de modificação e retrabalho com o uso de softwares de edição de imagem. O software também possibilita a conjugação e hibridização entre estes sistemas visuais. Caso as imagens estejam em suportes físicos, é possível valer-se do processo de digitalização, ou escaneamento, convertendo-as em substratos digitais facilmente modificáveis em ambientes virtuais. O projeto a ser apresentado para fins de conclusão de Curso em Design, com habilitação em Design Gráfico, é um desdobramento dos estudos de ressignificação de processos analógicos em tempos digitais desenvolvido como Iniciação Científica1.

II. Objetivos Os objetivos da pesquisa são:      

Investigar as subjetividades das expressões técnico-artísticas, com a proposição da possibilidade de estabelecer um diálogo híbrido entre fotografia, tipografia e poesia; Utilizar a poesia como elemento unificador entre as linguagens, a fim de guiar os caminhos estilísticos tanto da fotografia analógica quanto da tipografia; Documentar o processo criativo, com uso de dispositivos móveis, e registrar as etapas em relatório final da pesquisa; Desenvolver produto final em Design Editorial partindo do princípio do hibridismo; Propor desdobramentos a fim de ampliar discussões acerca das convergências entre sistemas e hibridismos no design gráfico contemporâneo, e Produzir material acadêmico-científico para submissão e participação em fóruns a fim de possíveis publicações.

III. Etapas metodológicas Para a execução da pesquisa considera-se algumas etapas, incluindo materiais e ferramentas. A saber:     

Para os processos fotográficos, utilização de câmera Canon EOS 3 e filme p/b Kodak “TriX” 400TX, ASA 400. Os processos de revelação estarão sendo executados no Laboratório de Fotografia da FAAC/UNESP; Para a execução tipográfica, emprego de pincel, penas e nanquim, canetas próprias para caligrafia e fontes digitais; Há possibilidade do emprego de referências poéticas externas, que inspirem o trabalho, devidamente creditadas; Utilização do processo de escaneamento para conversão de imagens físicas em arquivos digitais; Posterior uso de softwares gráficos de edição de imagem;

Trabalho de iniciação científica concluído em setembro de 2014, intitulado “Lomografia e Instagram: a retomada e atualização da fotografia analógica em tempos digitais” e entregue à Pró-Reitoria de Pesquisa da UNESP (PROPe), Programa Institucional de Iniciação Científica Sem Bolsa (ISB). O resumo do projeto foi publicado e apresentado no 11º Congresso Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento em Design (P&D) 2014, em Gramado, RS e foi selecionado para a final do XXVI Congresso de Iniciação Científica da UNESP. O artigo completo desenvolvido com os resultados da pesquisa obteve menção honrosa no I Simpósio Interdesigners. 1

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Documentação do processo, via dispositivos móveis, com criação de hashtag2 específica no aplicativo Instagram, e Elaboração de relatório final contendo referenciais teóricos e práticos devidamente revisados e analisados.

IV. Referencial Teórico Preliminar Para as questões adotam-se referências acerca de práticas em laboratório propostas por Robert Browner (1967). Agrega-se os estudos referentes às transições tecnológicas de Nelson Martins (2014). Também, as descrições da técnica digital de Thales Trigo (2012) e, especialmente, a análise de Millard Schisler (1995) acerca da revelação da fotografia em preto e branco. Quanto à história e projeto em Design, os autores de referência são: Gui Bonsieppe (1967, 1997 e 2011) e Phillip Meggs (2009). No que tange aos conceitos em processos híbridos da contemporaneidade, considera-se obras de Lucia Santaella (1996, 2007a e 2007b), Mônica Moura (2014), Gisela Campos e María Ledesma ([Orgs.], 2011). Por fim, as inspirações poéticas partem de Charles Bukowski (1920-1994) e Fernando Pessoa (heterônimo Álvaro de Campos – 1988, 1935). Encontram-se em andamento leituras, recortes e análises.

V. Discussão e desafios Estabelecer diálogo entre três linguagens que utilizam sistemas estéticos e ferramentas distintas, constitui um complexo desafio técnico e criativo, exigindo manipulação adequada de cada sistema, bem como o entendimento de potencial expressivo, separadamente e em conjunto. A esta complexidade adicionam-se ainda conceitos mestiços, na medida em que requer o hibridismo. Coloca-se em cena o proposto por Serge Gruzinski (2001) quando afirma que "a compreensão da mestiçagem choca-se com hábitos intelectuais que levam a preferir os conjuntos monolíticos aos espaços intermediários". A mestiçagem, ou hibridismo, não é conceito de fácil aceitação, pois a complexidade das informações pode aludir a ideias relacionadas com impureza e desordem, quando analisado sob ótica dualista ou maniqueísta. Recorre-se a Monica Moura (et alli, 2014) que considera que os termos “hibridismo” e “contemporaneidade” são complexos, e exigem ser definidos sempre que empregados. Manter um arranjo imagético coeso será fundamental ao longo de todo o processo projetual. Assim como dizem Meggs e Purvis (2009), acerca de que a organização visual elementar e simétrica é capaz de permitir que os arranjos dos projetos não se desviem da apresentação direta da ideia. Portanto, acredita-se na possibilidade de adotar estética focada na criatividade e no minimalismo para a representação dos conceitos de hibridismo e contemporaneidade.

Hashtags são palavras-chaves precedidas por antífen (“#”), criadas pelos próprios usuários e capazes de catalogar imagens postadas em mídias sociais, para posterior busca. 2

Por fim, a pesquisa encontra-se em desenvolvimento em um espaço e tempo, cujas questões ainda não se encontram plenamente, absorvidas e assimiladas. Isto constitui outro desafio quanto às possíveis expressões de subjetividades desejadas.

VI. Considerações (ainda não) finais Este é um trabalho de design gráfico contemporâneo, executado em um espaço e tempo complexo, repleto de novas questões trazidas pela plataforma digital. Espera-se que o produto final, voltado ao design editorial, possa dialogar hibridamente três diferentes sistemas e ferramentas com eficiência. O projeto encontra-se em plena execução e tem sua apresentação prevista ao final do primeiro semestre de 2015.

VII. Referências Bibliográficas BONSIEPE, Gui. Design: como prática de projeto. São Paulo: Blucher, 2012. ______________. Design, cultura e sociedade. São Paulo: Blucher, 2011. _____________. Design do material ao digital. Florianópolis: FIESC/IEL, 1997. BROWNER, Robert E. Fotografia: Arte e Técnica. São Paulo: Agência Editora Iris, 1967. CAMPOS, Gisela Belluzzo de; LEDESMA, María (Org.). Novas Fronteiras do Design Gráfico. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2011. GRUZINSKI, Serge. O pensamento mestiço. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. KOSSOY, Boris. Fotografia e História. São Paulo: Ateliê Editoral, 2000. MARTINS, Nelson. Fotografia: da analógica à digital. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2014. MEGGS, P. B.; PURVIS, A. W. História do design gráfico. São Paulo: Cosac Naify, 2009. MOURA, Monica (Org). Design Brasileiro Contemporâneo: Reflexões. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2014. SANTAELLA, Lucia. Linguagens líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Paulus, 2007. _________________. Por que as comunicações e as artes estão convergindo? São Paulo: Paulus, 2007. _________________. Produção de linguagem e ideologia. São Paulo: Cortez, 1996. SCHISLER, Millard W. L. Revelação em preto-e-branco: a imagem com qualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1995. SILVA JUNIOR, José Afonso da Silva. Da fotografia Expandida à Fotografia Desprendida:

Como o Instagram Explica a Crise da Kodak e Vice-versa. in: Anais do Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Fortaleza: Intercom, 2012. TRIGO, Thales. Equipamento fotográfico: teoria e prática. São Paulo: Editora Senac, 2012.

VIII. Agradecimentos Às orientadoras Profa. Dra. Fernanda “Ferdi” Henriques e Profa. Dra. Ana Beatriz “Ana Bia” Pereira de Andrade, pela amizade e precioso direcionamento acadêmico; à Pró-Reitoria de Pesquisa (PROPe) da UNESP, pela oportunidade de desenvolvimento por meio do Programa Institucional de Iniciação Científica sem Bolsa, projeto nº 26748; a José Roberto Reginato, assistente de apoio acadêmico do Laboratório de Fotografia da FAAC/UNESP; à equipe da Foto Nakamura, laboratório de Ibitinga – SP; e finalmente, à minha família e amigos, pela eterna paciência e apoio durante a execução desta pesquisa.

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