Dibujos de teléfono

July 27, 2017 | Autor: Márcio Pereira | Categoria: Performativity, Desenho, Estudos Em Corporalidade, Doodles, Corporality
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O artista de Sevilha Luis Gordillo , vencedor do Prêmio Nacional de Artes Plásticas da Espanha , em 1981 , criou um bloco de desenho exclusivo composto por 23 obras feitas em técnica mista . Este sketchbook foi publicado com Volume I do Matador .

Universidade do Porto
Faculdade de Belas Artes















Dibujos de teléfono
Paper apresentado para a disciplina de Teoria e história do desenho do curso de mestrado em Desenho e técnicas de impressão .




















Márcio Otávio Ferreira Pereira
Porto, 15 de janeiro de 2015















Dibujos de teléfono

Palavras chaves: desenho, automatisto e acto perfomativo.

O presente paper pretende abordar estrátegias de criação em desenho que se utilizam mais de um impulso corporal imediato do que um planejamento mental mais elaborado. Dessa forma, intenciona-se estabelecer uma relação de proximidade entre os movimentos do corpo e o registro deste movimento através do desenho. Utilizou-se a expressão dibujos de teléfono para criar a alusão a um ato executado enquanto o próprio pensamento está concentrado em realizar uma outra acção, como no caso específico da mão que desenha livremente enquanto se fala ao telefone.

Essa expressão foi muito utilizada pelo artista Luis Gordillo ao se reportar a seus próprios desenhos e que Guilherme Lledó caraceriza da seguinte forma:

Dibujos "que se realizam por dar gusto a la mano, sin una intención precisa nin una orientación concreta salvo de hacer possible la própia necesidad incontrolada que en ese instante se manifesta (...) siendo resultado de una actud que al principio sólo busca la liberación de las tensiones acumuladas y más tarde, também la expresión de una vivencia que, sin interferências ni controle de la razón, pudieram emerger e hacerse forma con toda su potencialidad." (LLEDÓ, 1999 pág. 415)



Uma das páginas do "Cuadernos de artista de Luis Gordillo", 30 x 40 cm
Fonte: http://tienda.lafabrica.com/en/matador/766-cuaderno-de-artista-de-luis-gordillo.html, acesso em: 11/01/2015 às 15hrs


Este tipo de desenho nos permite perceber as hesitações que revelam o tremor da respiração, do rítmo do movimento da mão do artista, ou seja, podem ser percebidos como um registro documental da presença do desenhador naquele exato instante. Um traço, um vestígio que se inscreve no tempo e no espaço.








Marcelo Solá, Sem título, 2008
Óleo, aquarela, lapis de cor e monotipia sobre o papel
Fonte: http://www.fav.ufg.br/galeriadafav/artistas/marcelo_sola.html
Acesso em: 11/10/2015 às 20:00hrs

O trabalho do artista goianio Marcelo Solá está orientado para a área limítrofe do desenho, um desenho-pintura, ás vezes desenho-instalação, ou com participação de objetos, sempre como atividade ampliada, quase obsessiva, e explora através de vários materiais uma urgência expressiva que parece se dá no instante da própria acção. O artista transmite sua maneira de ver o mundo e a vida cotidiana nas cidades, com constantes destaques para a arquitetura. Explora seus traços em mídias diversas, como a serigrafia, a monotipia e até a instalação.
Ainda sobre o trabalho de Solá, podemos perceber que caligrafia e desenho se misturam e se confundem. Sua construção entrecortada e com um certo automatismo de pensamento e movimento, no entanto, não nos permitem afirmar com clareza o que representa cada imagem. A obra é aberta e pede assim, sua leitura.
Uma característica importante relativa a este tipo de desenho é a importância do seu caracter processual em detrimento a um resultado final. São desenhos que possuem uma relação vivencial muito forte com o instante em que são produzido e que sempre recorrem a uma memória processual, ou seja, correspondem a operações físicas e processos necessários para a realização de uma acção.

"Trabalhar o desenho como acção é fazer com que essa linguagem assuma certas características performativas ao privilegiar a acção do fazer ao invés do resultado final. (...) O conceito de performativo tem suas origens na filosofia da linguagem. Em 1955, durante conferências realizadas pela Universidade de Harvard, o filósofo britânico de linguagem John Lanshaw Austin (1990, p. 26) emprega o termo performativo para designar o proferimento de certas palavras (dentro de circunstâncias apropriadas e estando sujeitas a situações de felicidade e infelicidade e não de verdadeiro ou falso), como 'uma das ocorrências, senão a principal ocorrência na realização de um ato.' " (MENDONÇA, 2008, pág. 18)
Ao se referir a este tipo de desenho também podemos pensar o conceito de ato performativo, como afirma Mendonça acima. O ato performativo se utiliza da idéia de simultaneidade, ou seja, a acção de criar representações por marcas no espaço juntamento com o próprio ato de movimentar o corpo no espaço. O ato performativo no desenho coloca o desenhador na posição de observador, desenhador, interveniente nas experiências artísticas e pessoais com o seu corpo e em relação com os outros.

Monika Weiss, VIDEO & SOUND: Anamnesis (Swiatlo Dnia), 2006
Fonte: http://www.monika-weiss.com/articles/works/1
Acesso em: 12/01/2015 às 09:35

O trabalho da artista polaka Monika Weiss é muito conhecido pela imersão de todo o corpo no ato de desenhar. Ela descreve esta acção acima apresentada da seguinte maneira:
"Deito-me no interior da superfície de um desenho entendido como um lugar e como uma paisagem, um território, marcando cegamente o espaço em volta do meu corpo, manchando a superfície branca da folha, e mapeamento momento a momento, a sua transição gradual, os estados de em silêncio, vazio e retirada." (WEISS, 2014, pág. 27)
A artista se utiliza do termo performativo para qualificar um estado do seu desenho que busca realizar "o ato impossível de se delinear o mundo" (WEISS, 2003) sendo o desenho a evidência do interstício existente entre o corpo do produtor e o corpo produzido.
Em outro texto, Lino Cabeza fala sobre esses desenhos de representação dos movimentos do corpo como uma manifestação da personalidade do autor e os compara com os movimentos da dança em busca de uma certa harmonia:
"No obstante, el dibujo como representación de los movimentos del cuerpo al trazar sobre el papel, igual que en la danza, es también, la expression de la armonía. Pero además, los trazos como huella de una accíon son la manifestación de la personalidad del autor, tal y como la gafología busca descubrir en la escritura. Los dibujos que comentamos gozam de una extraordinária libertad expressiva, , que los hace reconocibles con facilidad. (CABEZA, 1999, pág. 103)

É importante também citar aqui o trabalhos gráficos da dançarina e coreógrafa americana Trisha Bronw. Em conexão com seu trabalho como dançarina e coreógrafa, Trisha Bronw desenvolveu uma série substancial de desenhos. Ela chamava esses trabalhos de desenhos de notaçoes. São notaçoes de movimentos que serviam como uma espécie de prolongamento coreográfico. A artista afirma o seguinte sobre esse desenhos:

"Descubro nos desenhos ideias, que se infiltram todas elas no processo de criação coreográfica. Quando insisto, por exemplo que os bailarinos tomem um certo tipo de posição da qual nunca ninguém ouviu falar antes ou que não é excessivamente confortável, vejo o corpo deles a interrogar-me. Mas explico-lhes que lhes peço que tomem essa posição, é para formarem, através de seu corpo, um certo desenho. Os seus braços percorrem todo o espaço até eu dizer que há um desenho. Eles não sabem o que é esse desenho, mas como eu percebo como um desenho tentam conformar-se com ele. O movimento funciona então como um desenho. É apaixonante!" (BRONW, 1998, op. Cit., pág 32)








Trisha Brown performing It's a Draw/Live Feed, 2003, Philadelphia Museum of Art. Photos: Kelly & Massa Photography, Philadelphia.
FONTE: http://www.walkerart.org/collections/publications/performativity/drawings-of-trisha-bronw acesso em :14/10/2015 às 12:50


Os dibujos de teléfono em um campo mais ampliado podem captar a transitoriedade do tempo no espaço através das marcas geradas em um dado suporte mediante a acção do corpo, nos quais "uma memória somática do corpo é evidenciada através de uma acção cinética de depósito do traço". (NOLAND apud MENDONÇA, 2003: 40).

Aqui se coloca também a aproximação do desenho ao estatuto de jogo, onde se estabelecem regras e disposiçoes iniciais, mas que não é possível saber de antemão o resultado final. Como em um lance de dados, onde apenas podemos prever possibilidades e que o lado do dado em que vai ser apresentado o número exato só aparece quando é realizado a ação de se lançá-lo sobre o espaço.

O trabalho gráfico do artista Tom Marione pode ser entendido também a partir deste estatuto de jogo, no qual o artista estabelece regras para a acção e permite que seu corpo atue a partir dessas regras, gerando registros desta acção.


Tom Marioni performing Drawing a Line As Far As I Can Reach, Reese Palley Gallery, San Francisco, 1972. Photo: Larry Fox, courtesy Tom Marioni.
Fonte: http://www.walkerart.org/collections/publications/performativity/drawings-of-trisha-brown acesso em: 13/01/2015 às 13:30

Neste trabalho acima apresentado, da série Drawing a line as far as you can, o artista repete incessantemente o retraçar de uma linha até o limite da extensão dos seus braços. Estes desenhos parecem ter uma certa urgência em se manifestar, não obedecendo a um rigor de planejamento usual, recorrendo muitas vezes a movimentos espontâneos e involuntários do corpo.

A importância desses desenhos se faz notar pelas diferentes configurações introduzidas no entendimento sobre desenho e na maneira de se processar o desenho a partir do corpo. O desenho pode se apresentar como uma maneira de explorar os movimentos gestuais em direções e intensidades distintas. Aqui o desenho seria o registro do resíduio da passagem do corpo. Através deste procedimentos o artista não simplesmente desenha, mas habita o espaço do desenho com o seu corpo.





Referências bibliográficas:


ELEEY, Peter. If You couldn't see me – The drawings of Trisha Brown in http://www.walkerart.org/collections/publications/performativity/drawings-of-trisha-brown, acesso em 11/01/2015

GÓMEZ MOLINA, J.J. (Coord.). Las lecciones del dibujo. Madrid, Cátedra, 1995.

GÓMEZ MOLINA, J.J. (Coord.).Estrategias del Dibujo en el Arte Contemporáneo. Madrid, Cátedra, 1999.

MENDONÇA, Yara de Pina. Desenho em ação: a poética gestual de inscrever performativos. Trabalho de conclusão de curso. Universidade Federal de Goiás. Área de concentração: poéticas visuais. Orientação: Prof. Dr. Bianca Knaak.

TEICHER Hendel (entretien avec), in Danse et dessin. Trisha Brown : danse, précis de liberté, catalogue d'exposition, Musées de Marseille, Réunion des Musées Nationaux, 1998

WEISS, Monika. Performing the drawing – Performing lament in public domain in ALMEIDA, Paulo L.; DUARTE, Miguel B.; BARBOSA, José M. (Eds.) Drawing in the university today. Porto: FBAU – I2ADS, 2014


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