Diferenciação Social e Mercado De Trabalho Rural No Rio Grande Do Sul: Um Estudo De Caso No Município De Barão

June 7, 2017 | Autor: Sergio Schneider | Categoria: Labour Market, Rio Grande do Sul
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DIFERENCIAÇÃO SOCIAL E MERCADO DE TRABALHO RURAL NO RIO GRANDE DO SUL: UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE BARÃO Guilherme Francisco Waterloo Radomsky1 Sergio Schneider2

Resumo O trabalho analisa o mercado de trabalho e a diferenciação social no meio rural do Rio Grande do Sul, através de um estudo de caso no município de Barão, localizado no Vale do Caí. A pesquisa combinou métodos quantitativos e qualitativos, coleta de dados primários com aplicação de 63 questionários padronizados e quatro entrevistas semi-diretivas com utilização de gravador. Os objetivos do trabalho são investigar as transformações nas formas de trabalho no meio rural, sobretudo a emergência das atividades não-agrícolas e como essas geram diferenciação social e modificações nas relações familiares. A partir de uma análise das transformações gerais na agricultura e nas formas de trabalho no mundo contemporâneo, o trabalho estuda as alterações ocorridas no mercado de trabalho rural gaúcho e a diferenciação social nas famílias rurais. A Teoria da Estruturação de Giddens, recurso analítico utilizado nesse trabalho, permitiu analisar a conduta estratégica dos atores sociais e a forma como as estruturas sociais são reproduzidas ou modificadas como conseqüência da ação. Os resultados indicaram que as famílias que combinam dois ou mais tipos de ocupação – chamados de pluriativos – diferenciam-se das famílias exclusivamente agrícolas no que diz respeito aos aspectos socioeconômicos e no modo de organizar o trabalho familiar. As famílias pluriativas apresentam melhores condições socioeconômicas comparadas às famílias exclusivamente dedicadas à atividade agrícola, como maiores rendimentos e níveis de escolaridade. Também se observaram diferenças nas relações familiares. As famílias pluriativas apresentavam maior individualidade no uso das rendas, menor interesse pela partilha da propriedade agrícola, maior número de membros por família, muitos desses já afastados das atividades agrícolas. Concluiu-se que o mercado de trabalho não-agrícola constituiu-se num estímulo a pluriatividade, que passa a modificar a situação socioeconômica, as rotinas e as relações familiares, bem como gerar diferentes posturas dos membros familiares quanto às relações de gêneros e entre gerações.

Palavras-chave: diferenciação social; mercado de trabalho rural; pluriatividade

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Sociólogo, mestrando no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Os autores agradecem o apoio do CNPq e da FAPESP para a realização da pesquisa. 2 Sociólogo, Mestre e Doutor em Sociologia. Professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural – Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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1. INTRODUÇÃO O tema deste trabalho insere-se no âmbito dos estudos sociológicos recentes sobre as relações sociais no meio rural e os mercados de trabalho. O tema da diferenciação social proposto para esse estudo é originário da observação sociológica de que os indivíduos ocupam posições na sociedade em que vivem, nascem em grupos sociais específicos e suas vidas são estruturadas por meio dessa posição, apesar das características pessoais de cada um. A diferenciação social aqui analisada é relativa sobretudo à situação socioeconômica dos indivíduos e famílias e pode-se afirmar que ela é tributária da divisão social do trabalho, elemento central e estruturante das relações sociais na sociedade capitalista. No esforço de unir os temas do mercado de trabalho, agricultura e relações sociais, pode-se dizer que o trabalho se aproxima de uma sociologia das relações de trabalho no meio rural. Partiu-se primeiramente da constatação de que o meio rural brasileiro vem sofrendo transformações estruturais na agricultura e na composição do mercado de trabalho nas últimas décadas que teve efeito nas famílias e na forma de organização do trabalho familiar. Os estudos sobre “expulsão” de mão-de-obra agrícola para outros setores de atividades, como indústria, comércio e serviços no próprio meio rural iniciaram na década de 1980, mas desenvolveram-se principalmente na década de 1990. Portanto, o que passou a chamar a atenção dos pesquisadores a partir de meados da década de oitenta foi a então migração setorial e levou alguns estudiosos a afirmar que aí se instalava um “novo rural brasileiro”3 – não mais essencialmente agrícola. A pluriatividade passou a ser elemento essencial nesses estudos. Enquanto o olhar sobre as atividades agrícolas e não-agrícolas de um município ou território diz respeito a como está estruturado o mercado de trabalho, a pluriatividade é uma estratégia das famílias de combinação de atividades. Ela pode ser caracterizada pela combinação de mais de um tipo de ocupação (agrícola e não-agrícola) por membros de uma única família rural. Dessa forma, uma família cujos membros combinarem distintas ocupações será pluriativa. Essa pesquisa pretende analisar uma dupla dimensão decorrente do fenômeno da alteração dos tipos de trabalho das famílias nas áreas rurais: de um lado, a diferenciação social dos agricultores e, de outro, as mudanças internas às famílias que se inserem nos mercados de trabalhos não-agrícolas. Sucintamente, a problemática pode ser exposta a partir da indagação sobre em que medida o tipo de trabalho dos membros das famílias (se exclusivos na agricultura ou pluriativos) exerce efeito na situação socioeconômica das famílias de agricultores? De que forma o tipo de trabalho dos membros das famílias tem influência para modificações internas às famílias, ou seja, das relações familiares (relações entre gerações e entre homens e mulheres)? Os objetivos do trabalho são verificar o papel do tipo de trabalho das famílias na diferenciação social dos agricultores familiares. Analisar o fenômeno da pluriatividade e como ele ocorre nas diferentes famílias rurais. Comparar as famílias pluriativas e as exclusivamente agrícolas quanto à forma de organização do trabalho familiar, obtenção de 3

Conforme termo utilizado por Graziano da Silva (1999).

3 rendimentos, forma de gerenciar rendas, escolaridade e a composição das famílias. Observar como se comportam as diferenças entre gêneros quanto ao fenômeno da pluriatividade. A primeira hipótese é de que o tipo de trabalho dos membros das famílias rurais (se agrícolas exclusivos ou pluriativos) tem contribuído para diferenciar socialmente as famílias rurais do ponto de vista socioeconômico. Os pluriativos apresentam melhores condições socioeconômicas (renda e escolaridade) que os agricultores exclusivos. A segunda hipótese está relacionada às mudanças ocorridas nas famílias. Supõe-se que o uso das rendas individuais, tanto por mulheres como por homens, é um fator que cria uma transformação na relação familiar. Estão em questão nesse processo social elementos fundamentais da análise sociológica como ação social, estrutura e poder. Nesse sentido, o referencial teórico utilizado, que procura explicar os processos sociais que envolvem diferenciação e mobilidade social no mundo contemporâneo, é a Teoria da Estruturação, desenvolvida por Anthony Giddens. A diferenciação social pode ser observada com base no tipo de trabalho (cujo sentido sociológico vem a ser a divisão social do trabalho), na distinção socioeconômica e no modo de vida dos indivíduos e famílias. Alguns conceitos como “agência”, “poder”, “consciência prática”, “consciência discursiva”, “estrutura” e “dualidade da estrutura”, referentes à Teoria da Estruturação de Anthony Giddens, auxiliam na compreensão desses fenômenos. O trabalho é composto dessa introdução, referencial teórico, metodologia da pesquisa, resultados alcançados e considerações finais. 2. MODERNIDADE, FORMAS DE TRABALHO E DIFERENCIAÇÃO SOCIAL NO MEIO RURAL 2.1. Análise da diferenciação social através da Teoria da Estruturação A Teoria da Estruturação, cuja principal referência é o sociólogo britânico Anthony Giddens, tem sido utilizada de forma bastante razoável para compreender a ação social, o contexto, a produção e a reprodução das estruturas sociais existentes. Segundo Giddens, a sociedade só existe por que existem indivíduos e ações individuais que são motivadas subjetivamente, ou seja, o que concretiza as relações sociais na sociedade é o caráter da conduta particular dos atores em relação aos outros. Entretanto, essa conduta cria regularidades, regras baseadas em recursos entre os atores, e essas regras tornam-se estruturas as quais os atores nem sempre tem uma mobilidade de transformar, isto é, os atores sequer percebem que as estruturas agem de forma coercitiva. Giddens chama isso de dualidade da estrutura e essa é reproduzida na atividade cognoscitiva e na ação “de atores localizados que se apóiam em regras e recursos” (Giddens, 2003: 30). A conduta estratégica dos atores, que reproduz as estruturas sociais existentes, acaba por ter conseqüências impremeditadas na sociedade, pois os atores não possuem total consciência das conseqüências dos seus atos, mas somente uma consciência prática (Giddens, 2003: 8) do mundo em que vivem e dos contextos locais de interação. É como se o alcance do olhar dos atores fosse limitado pelo próprio ambiente de relações sociais no qual estão inseridos. As conseqüências sociais desse fenômeno são a reprodução das condições e posições sociais já existentes na sociedade. Ainda assim, através da teoria de Giddens é possível pensar a mudança social através da ação estratégica dos atores, ou seja, nenhuma pessoa está “presa” às estruturas, pois essas são construídas e reconstruídas na ação, mas isso só corrobora a regra de que a reprodução social das posições sociais é a mais provável conseqüência das ações práticas (pela consciência prática) dos atores sociais. Um dos conceitos mais importante para se entender a diferenciação social através da

4 Teoria da Estruturação é o de recursos e sua estreita ligação com o poder e a estrutura. Giddens escreve que poder e agência estão relacionados de modo que isso se manifesta na capacidade do indivíduo de “atuar de outro modo”, criar uma diferença ou intervir no mundo. Essa capacidade transformadora está dada no âmbito da ação estratégica dos agentes, mas ela é condicionada por recursos. É nesse sentido que Giddens contribui para elaborar o problema de pesquisa aqui proposto: os mercados de trabalho agrícolas e não-agrícolas podem ser interpretados através do conceito de “estrutura”. A transformação do mercado de trabalho rural (a “estrutura”) é conseqüência de atores sociais diversos (individuais, coletivos) e as estratégias adotadas pelas famílias são de caráter prático, embora mediadas pela reflexividade que marca a modernidade4. Isto significa que os atores sociais precisam articular condutas estratégicas coerentes para reprodução material de suas vidas, porém nem todas famílias são dotadas de recursos5, nem sabem qual é a melhor maneira de ascender socialmente e agem com aquilo que possuem. As estratégias de trabalho agrícolas e não-agrícolas e o sucesso na reprodução material são dependentes da capacidade dos indivíduos que compõem as famílias de perceberem qual a melhor maneira para atingir o nível de vida que desejam possuir ou manter. 2.2. A modernidade e o mundo do trabalho Após os anos setenta do século XX, a economia capitalista teve a capacidade de se transformar e adquirir novas formas de extração de lucros, através de uma reorganização dos padrões de acumulação. Os territórios são reconfigurados com novos papéis no sistema internacional, no qual “a transformação local é tanto uma parte da globalização quanto a extensão lateral das conexões sociais através do tempo e do espaço” (Giddens, 1991: 70). Um dos aspectos que marca a modernidade - em oposição ao mundo pré-moderno - é a transformação do espaço e dos contextos de interação em função da “diminuição do tempo” de mediação na ação (fato que é evidente com a globalização das comunicações e da economia). Ao mesmo tempo, o “monitoramento reflexivo da ação” por parte dos atores sociais passa a ser radicalizado para todos os aspectos da vida humana, o que significa afirmar que “as práticas sociais são constantemente examinadas e reformadas à luz de informação renovada sobre estas próprias práticas, alterando [...] seu caráter” (Giddens, 1991: 45). A importância desses conceitos para esse trabalho é que as mudanças sociais e econômicas na modernidade são bastante velozes e a resposta dos atores sociais deve ser imediata, havendo assim a possibilidade real de que nem todos os atores tenham recursos para responderem de forma satisfatória ao que o mercado de trabalho (agrícola ou não-agrícola) exige, embora estejam monitorando reflexivamente o sistema social e a ação dos outros. David Harvey é outro pesquisador cujas idéias vão ao encontro do exposto por Anthony Giddens. Para Harvey também há uma transformação e compressão no espaçotempo, mas Harvey salienta a importância das transformações no seio do capitalismo no fim do século XX e uma reestruturação do padrão de acumulação de capital. De uma rigidez no modo de produção que ocorreu entre os anos de 1945 e 1973 aproximadamente, passa-se a um padrão flexível que muda as relações de trabalho, as taxações sobre o capital e a administração do estado-nação. Na raiz da mudança estaria um processo de estagflação desencadeado por crises no Estado de Bem-estar (1992: 136), choque do petróleo em 1973, 4

Enquanto monitoramento reflexivo da ação é “o caráter deliberado, ou intencional, do comportamento humano, considerado no interior do fluxo de atividade do agente [...], um processo contínuo” (Giddens, 2003: 443), reflexividade é essa mesma conduta de monitoramento, porém característica da modernidade. 5 Recursos, analisados empiricamente nessa pesquisa, são educação elevada, propriedades, empreendendorismo e outros.

5 crise financeira (fundos de investimento, mercados imobiliários) e uma mudança significativa do padrão tecnológico. Inicia-se um processo de maior racionalização e controle do trabalho. Para Harvey, as transformações atingem a produção, o consumo, a cultura e os mercados de trabalho (1992: 140 e 148). Especificamente no mercado de trabalho ocorre uma reestruturação, a partir de uma massa crescente de mão-de-obra excedente (desemprego estrutural), como o crescimento do trabalho a tempo parcial, os trabalhadores contratados temporariamente e os subcontratados, além dos trabalhos por conta-própria, informais, pequenos negócios, trabalho doméstico, familiar (1992: 143-45). No que diz respeito às formas de consumo e produção, Harvey escreve que há um crescimento do mercado de bens de serviços, sobretudo de mercadorias efêmeras, eventos, espetáculos, cuja marca é a instabilidade e qualidades fugidias (1992: 148). Quanto às modificações no espaço e na produção capitalista, esse foi reorganizado através de focos de acumulação flexível em locais que careciam de tradições industriais (Harvey, 1992: 141), isso alocou portanto uma reestruturação que irá ter conseqüências na agricultura e no meio rural. 2.3. Processos globais versus impactos locais: transformações recentes nas formas de trabalho no espaço rural e a emergência da pluriatividade Marsden é um dos principais autores que têm estudado as alterações ocorridas nas formas de produção e consumo que envolvem o meio rural. Marsden escreve que a dissolução das formas fordistas de produção e consumo possibilita a emergência de um ambiente de agricultores pluriativos, em oposição às convencionais categorias de trabalho rural. Esse novo modelo é caracterizado por mudanças no padrão do tempo de trabalho, trabalhos casuais, trabalhos por conta-própria, uma vulnerabilidade maior ao desemprego, alto nível de exploração e baixos níveis de direitos sociais (Marsden, 1992: 222). Citando pesquisas de Bye & Fonte, Marsden afirma que a urbanização, as mudanças no consumo de alimentos e o estilo de vida na sociedade pós-industrial transformaram rapidamente os modelos de uso do território e o espaço rural não pode somente satisfazer a função agrícola. O rural torna-se “maior”, com a possibilidade de prover serviços, consumo de bens não-tangíveis e produtos que são relativamente não mercantilizados, como o ar, a água, turismo, lazer e bens de saúde (Marsden, 1992: 219). Com base no diálogo entre Giddens, Harvey e Marsden, pode se propor que a nova divisão internacional do trabalho tem impactos na forma de organizar o espaço rural, o que causa mudança nos papéis entre o rural e o urbano, que desencadeia novas formas de divisão social do trabalho no meio rural, entre ocupações agrícolas e não-agrícolas. Assim, o rural passa a ter um papel diferenciado daquele de especializado exclusivo na produção de alimentos e a mercantilização das formas de produção e consumo é uma característica que se faz presente não somente nas tradicionais culturas agrícolas, mas marca de forma polivalente os mais variados tipos de produtos vendáveis do rural (descritos acima). Conforme Schneider (2003: 89), Marsden analisa a “pluriatividade como uma configuração [...] das relações de trabalho contemporâneas, decorrentes dos processos de relocalização econômica”. Deste modo, a importância reside em estudar as mudanças societárias contemporâneas a partir da análise das formas de ocupação e trabalho. No meio rural, isto nos leva a discutir a diferenciação do mercado de trabalho e a emergência da pluriatividade nas famílias. Segundo Schneider, as obras de Kautsky e Chayanov já faziam menção às atividades fora dos estabelecimentos agrícolas que exerciam os membros das famílias agrícolas, no entanto a produção sociológica passou a investir no estudo das atividades não-agrícolas e da pluriatividade apenas mais recentemente (Schneider, 2003: 80).

6 Segundo o debate teórico recente, pode-se afirmar que a “pluriatividade” consiste na combinação de duas ou mais atividades por indivíduos que pertencem a uma mesma família. O fundamental na análise desse fenômeno é que haja combinação entre atividades agrícolas com atividades em outros setores da economia. Anjos insiste que é preciso deixar claro que não se considera pluriativo um indivíduo morador de metrópole, um intelectual com duas profissões, um agricultor patronal com dois negócios e assim por diante (Anjos, 2002: 6). A pluriatividade, portanto, é específica de uma realidade social, tendo a agricultura familiar como categoria de análise. Schneider (1999b) escreve que esses conceitos se modificaram ao longo dos últimos vinte anos. A idéia de uma agricultura em tempo parcial, predominante nos anos 70 e parte dos 80, era um termo vinculado a uma noção de que essa categoria de agricultores em tempoparcial estaria em estado de transição, em direção a largar a atividade agrícola e tornarem-se assalariados. Esses agricultores eram vistos como “um obstáculo à modernização produtiva das unidades agrícolas” (Schneider, 1999b: 180). Esse cenário mundial começa a transformarse a partir do final dos anos 70 e com o surgimento dos modelos mais flexíveis de acumulação, o termo “agricultura em tempo parcial” é aos poucos abandonado e a pluriatividade passa a ser vista com seriedade – e não como fenômeno transitório. Diversos são os aspectos que geraram o crescimento das atividades rurais nãoagrícolas, como a modernização da base produtiva, mudanças no papel da mulher na sociedade e crescimento dos serviços. Destaca-se aqui o papel fundamental da modernização tecnológica, que foi responsável por tornar excedente grande parte da mão-de-obra agrícola das famílias. O papel do progresso técnico e da modernização produtiva é evidente na transformação social quando se analisa o mercado de trabalho e as estratégias das famílias rurais, mas concorda-se com Giddens quando esse afirma que os atores sociais não são produtos passivos, e sim agentes ativos da transformação. Os atores sociais estão sempre agindo reflexivamente em relação aos outros e às mudanças gerais da sociedade, ou seja, monitorando as ações dos outros e modificações da estrutura. Portanto, embora haja a possibilidade de que as famílias rurais sofram uma descaracterização enquanto agricultores, em virtude das atividades não-agrícolas praticadas, não necessariamente isso acontece e a literatura tem mostrado o contrário6. Assim, Schneider (2003: 97) atribui significativa importância à idéia de que a pluriatividade no meio rural é uma “nova estratégia de reprodução social das unidades familiares”. 2.4. Os atores e as estruturas: famílias rurais em transformação As transformações na estrutura, segundo Giddens, decorrem e influenciam um novo conjunto de ações e estratégias. Estas iniciativas, se estudadas a partir da unidade familiar, revelam as novas configurações sociais do período atual. Aí reside a importância de considerar-se a família como unidade de análise. Parte-se da idéia de que as famílias rurais também sofrem impactos das mudanças culturais da sociedade globalizada, seja pelos meios de comunicação – aspecto da globalização da cultura - ou mudanças pelas formas de trabalho, engendradas com a globalização econômica. Hobsbawm (1995: 305-7) aponta alguns elementos para compreender as transformações nas relações de gênero, como a entrada das mulheres no mercado de trabalho, o crescente papel público das mulheres (política), os

6

Anjos, pesquisando o caso de Massaranduba em Santa Catarina, escreve que os colonos que exercem atividades não-agrícolas na fábrica de motores elétricos “... objetivam é a reprodução de um ‘modo de vida’ personificado no conjunto das relações estabelecidas com a terra que se constitui no sustentáculo e no referencial de suas tradições culturais” (Anjos, 1995: 138).

7 movimentos sociais feministas de classe média nos países desenvolvidos e o número crescente de mulheres chefes de família. Castells (1998: 161-3) afirma que ocorre uma crise do sistema patriarcal de família e cita a evolução do número de divórcios no mundo como um indicador, além do adiamento (no ciclo de vida) do casamento e a formação de relacionamentos sem casamento. Estaria em jogo uma independização maior da mulher, que não estaria subjugada somente para seu “destino” de mãe e mulher reprodutora. Dessa forma, entram em cena também as mudanças das concepções sobre a sexualidade, como um relaxamento das práticas sexuais, visibilidade ao homossexualismo e outras liberdades, fatores todos que atingem e modificam as famílias. No conjunto desses processos gerais que ocorrem na sociedade - que não podem ser esgotados nesse artigo - é que analisamos o que ocorre especificamente nas famílias rurais. Zubizarreta (1997: 551) mostra que, tradicionalmente, as mulheres no trabalho agrícola em geral realizam tarefas subordinadas e muito poucas vezes são titulares da propriedade rural – são muito poucas as mulheres solteiras que trabalham na agricultura familiar, exceto filhas de agricultores antes de casar. Brumer (2000: 23) escreve que na agricultura ocorre “uma relativa invisibilidade do trabalho executado por crianças, jovens e mulheres nos trabalhos agropecuários mais especializados, tecnificados e mecanizados”. Essa situação pode estar mudando quando se alteram as formas de organização do trabalho e na inserção de membros das famílias em atividades não-agrícolas fora da propriedade. Blanc, apud Arnalte (1997: 507), afirma que estão ocorrendo mudanças naquilo que Chayanov chamou de unidade familiar (produção e consumo), do ponto de vista do trabalho e das transformações nas relações familiares, mudanças essas como as crises de ajuda familiar por parte dos jovens, principalmente das filhas de agricultores. Para Arnalte há uma ruptura do grupo de trabalho familiar e um menor controle dos recursos de trabalho por parte do chefe da família. A multiplicidade das rendas é um fator que modifica as relações familiares, sobretudo no que diz respeito ao controle por parte do chefe de família. Tanto os trabalhos de Arnalte (1997: 508) como de Schneider (2003: 115) apontam que há um crescimento de propriedades agrícolas individuais, nas quais somente o chefe trabalha com ajudas ocasionais dos outros membros. Para Schneider, aparentemente os estabelecimentos se apresentam como familiares, mas na verdade trata-se de propriedades que ocupam uma proporção muito pequena da força de trabalho da família e, não raro, funcionam de forma individualizada. Ou seja, embora haja uma família, não há correspondência ocupacional, pois cada indivíduo-membro vai se ocupar em uma atividade diferente. Quanto às relações entre homens e mulheres na agricultura, Arnalte menciona que as mudanças no trabalho familiar tradicional são uma forma de romper com formas prémodernas de desigualdade de relações sociais intrafamiliares. Em alguns casos a inserção das mulheres em trabalhos não-agrícolas e o fenômeno da pluriatividade é um resultado da vontade das mulheres de sustentar uma qualificação e um desenvolvimento profissional, mais do que razões econômicas que muitas vezes são apontados como primordiais (Arnalte, 1997: 509). Essas transformações no interior das unidades familiares parecem evidenciar e corroborar algumas das alterações sociais na fase atual da modernidade tardia, tal como indicado por Giddens. Nesse sentido, é possível afirmar que no espaço rural também se verificam as mesmas transformações que afetam as populações urbanas. As mudanças nos mercados de trabalho (flexibilização, múltiplas ocupações) e as alterações no seio das unidades familiares (pluriatividade, mudanças nas relações de gênero) parecem indicar que a globalização e as transformações na estrutura da sociedade contemporânea engendram diferentes reações, iniciativas e estratégias dos indivíduos.

8 3. FAMÍLIAS RURAIS E MERCADO DE TRABALHO: UM ESTUDO DE CASO A fim de compreender como ocorrem as inter-relações entre mercados de trabalho, tipo de ocupação das famílias, diferenciação social e transformação nas famílias foi escolhida uma região e um município do Estado do Rio Grande do Sul com a finalidade realizar um estudo de caso. Salienta-se que a existência de um mercado de trabalho não-agrícola pode ser um estímulo à pluriatividade, reafirmando que a dinâmica e a diversificação das economias locais são fundamentais para o aparecimento do fenômeno da pluriatividade, conforme estudos de Schneider (1999a) sobre a origem da indústria de calçados no Vale do Rio dos Sinos e Kageyama (1999) sobre a pluriatividade e sua relação com as economias locais. A seguir, apresenta-se o território estudado. O município de Barão, onde foi realizado o estudo de caso, é localizado entre as microrregiões do Vale do Caí e da Encosta Inferior da Serra do Nordeste, fora da região metropolitana de Porto Alegre como está representado no mapa abaixo. Uma descrição rápida sobre Barão, com base em dados do IBGE do Censo de 2000, indica que este município possuía 5.396 habitantes, sendo predominantemente rural, com 3.106 pessoas na área rural (57,6%) e 2.290 na área urbana (42,4%). Ainda com base nos dados do IBGE (Censo Agropecuário de 1995/96), as propriedades rurais são pequenas, com 45% delas com até 10 ha, 84% com até 20 ha e 17 % das propriedades com mais de 20 ha. Quanto à forma de ocupação da terra, 90,7 % são proprietários. As principais atividades agrícolas da região são a avicultura e a suinocultura integrada, o milho, a mandioca e a cultura da acácia. Barão fica na região do Vale do Caí no Rio Grande do Sul, à distância de 84 km da capital gaúcha. As terras são bastante declivosas, já que situa-se na Encosta da Serra Geral. É um município fortemente marcado pelos traços da colonização alemã e italiana, sendo uma área de expansão da colonização alemã, mas também é marcada por ser a transição entre a colonização alemã e italiana. No que diz respeito especificamente ao objeto de estudo, na região há diversos tipos de empregos não-agrícolas, gerando ocupações aos moradores das áreas rurais, destacando-se os de construção civil, fabricação de sapatos (inclusive em casa – atelier), e empregos em algumas fábricas da região, como as metalúrgicas. Diversas são as famílias rurais que possuem pelo menos um membro ocupado em atividades não-agrícolas e, em geral, essas atividades estão mais ligadas aos filhos jovens dos agricultores. É importante registrar que a dinâmica das atividades locais, econômicas e sociais é fortemente influenciada pela proximidade de municípios como Carlos Barbosa, Farroupilha e outras localidades que integram os chamados Vales dos Rios Sinos, Caí e Taquari. A proximidade com cidades de altas taxas de população urbana como Porto Alegre e Região Metropolitana significa um mercado consumidor de alimentos, ao mesmo tempo em que, tanto estando próximo de Porto Alegre quanto de Caxias do Sul, a região fica em torno dos maiores pólos industriais do Rio Grande do Sul. Além de ser pólo produtor de calçados, existem também indústrias que fabricam bolsas, equipamentos ortopédicos e serralherias. Com a própria dinâmica das atividades agrícolas e industriais, crescem as atividades do ramo de serviços, como transporte, comunicações e construção civil. Após breve caracterização do município, apresentam-se os métodos de pesquisa utilizados no estudo de caso. 3.1. Métodos de pesquisa: combinando técnicas quantitativas e qualitativas Para esse estudo, foi pesquisada somente a área rural do município de Barão. A unidade de análise é o domicílio e este deve ser localizado em área rural conforme definição do IBGE. De acordo com a ocupação de seus membros, os domicílios foram classificados em

9 agrícolas, pluriativos e não-agrícolas. Para que pudesse ser realizada uma amostra, seria importante obter um cadastro de todos os moradores da área rural de Barão. Isto foi possível devido a um cadastro obtido no escritório local da Emater na forma de um mapa com a indicação de todas comunidades rurais e a localização dos respectivos domicílios. O município de Barão apresentava, em 2001, 890 domicílios rurais que foram pesquisados através de uma seleção por amostragem. Já se sabia de antemão que deveriam ser feitos 63 questionários e optou-se por uma amostragem sistemática para que se esta pudesse apreender todas as localidades do município, dezoito no total. Pelo fato de algumas localidades possuírem mais domicílios que outras, a participação foi relativa a esse critério (autoponderada com 6,74 % em cada localidade). Essa ponderação ocorreu de acordo com o número total de domicílios rurais. Para que a aleatoriedade fosse mantida, o cálculo da numeração de cada localidade assim como os números de início de contagem de cada localidade foram estipulados pela geração de um número aleatório. Numa amostragem sistemática é necessário estipular o intervalo dentro do universo e isso é feito dividindo o número total de domicílios rurais (890 nesse caso) pelo número de questionários antecipadamente definido (63 questionários). O intervalo é 14 e, assim, deve-se saltar 14 domicílios ao longo de toda a população, após geração de número aleatório do primeiro número na série, obtêm-se os números dos domicílios sorteados. O estudo qualitativo compreendeu quatro entrevistas semi-diretivas com utilização de gravador. Foram entrevistadas famílias pluriativas e exclusivas agrícolas que tinham a seguinte composição: pais com idade entre 40 e 60 anos, com filhos de idades entre 13 e 35 anos. O motivo de pesquisar esse tipo de família é que deste modo é possível obter informações sobre o futuro profissional (ou a já escolhida carreira) dos filhos e observar os anseios dos pais. Também podemos assim obter informações sobre como os pais percebem as relações familiares agora e na época que eles tinham a idade que os filhos têm agora, como era o trabalho na agricultura e os trabalhos não-agrícolas. Nessa etapa buscaram-se elementos de transformação social histórica do município de Barão. Ainda que o problema de pesquisa seja feito por meio de uma análise no momento atual, as mudanças sociais familiares e nas formas de trabalho estão diretamente ligadas ao contexto histórico. O objetivo principal da aplicação de técnicas de análise qualitativa é poder captar aquilo que não foi possível obter com os questionários estruturados e aspectos que são observados com análises em profundidade (detalhes). Para Michelat, naquilo que é mais individual, encontraremos o que é sociológico (1980: 197). A opção por dar ênfase a discursos verbais é que há uma provocação do pesquisador para que o pesquisado produza algo coerente, algo que pode ser construído no momento da entrevista. O conceito de consciência discursiva de Giddens (2003) é recurso teórico importante, pois permite que se confronte aquilo que os agentes elaboram discursivamente na entrevista com as práticas cotidianas que eles estão explicando/interpretando. Para Giddens, a consciência discursiva está em outro nível quando comparada à consciência prática, por que há uma diferença entre o que é dito e o que é “simplesmente feito”, sendo que a consciência prática, aquilo que se faz, poderia ser tomada como um pré-consciente (2003: 8). O conteúdo das entrevistas foi analisado com o auxílio do software QSR NUD*IST versão 4.0. principalmente para a organização das informações e consulta de trechos de entrevistas que satisfaziam à problemática proposta no estudo. 4. PLURIATIVIDADE E DIFERENCIAÇÃO SOCIAL EM BARÃO

10 A análise da diferenciação social, que segundo nossa definição compreende a diferença entre grupos sociais com base na situação socioeconômica e nas características das relações familiares, se deu através de indicadores de rendimento familiar, educação formal, número de membros por família, forma de organização do trabalho familiar, papel das mulheres e jovens nas decisões, autonomia dos membros e gerenciamento das rendas no interior da família. Com relação aos dados referentes aos questionários aplicados, os resultados preliminares da pesquisa de campo indicam que a estrutura ocupacional das famílias residentes na área rural do município apresenta uma configuração de acordo com o que está exposto na Tabela 1, a seguir. Dos 63 domicílios que compunham a amostra, 29 eram pluriativos, 23 agrícolas, e 9 não-agrícolas, o que demonstra a importância das atividades nãoagrícolas e da pluriatividade, que se sobrepõe ao número de domicílios exclusivamente agrícolas. Obviamente, quando se afirma que os domicílios são agrícolas, não-agrícolas e pluriativos, está se referindo sempre aos membros residentes desses domicílios. Tabela 1. Distribuição dos domicílios amostrados segundo o número de residentes. Barão. Tipos de Famílias/ Atividade da Família na Semana Agrícola Pluriativo Não-agrícola Não-ocupado Total

Domicílios Número %

23 29 9 2 63

36,5 46,0 14,3 3,2 100,0

Pessoas Número

65 118 39 4 226

%

28,8 52,2 17,3 1,8 100,0

Fonte: Pesquisa de Campo, setembro de 2001.

A Tabela 1, acima, indica a expressiva presença de domicílios pluriativos no município. Em Barão, essa pode estar sendo uma importante forma de reprodução social dentre agricultores familiares, como indica Schneider (2003). Essas atividades se devem em grande parte às ocupações no ramo industrial, que, em Barão e proximidades, é acentuada pela importante presença de indústrias de calçados, inclusive nas áreas rurais. A Tabela 2, a seguir, apresenta as rendas anuais médias domiciliares, do trabalho (ocupações principais e secundárias), de outras fontes (aluguéis, poupança, juros e outros), dos inativos (transferências em geral) e renda líquida domiciliar total, separadas segundo a atividade da família. Pode-se perceber que as rendas dos domicílios agrícolas são as mais baixas, enquanto as rendas dos pluriativos e não-agrícolas são superiores, tendo até mesmo um valor monetário próximo, ligeiramente liderado pelas rendas dos domicílios não-agrícolas. As rendas anuais líquidas domiciliares totais médias dos domicílios agrícolas somavam R$ 5.769,45, dos domicílios pluriativos R$ 10.199,25 e dos não-agrícolas estava em R$ 11.840,41. Tabela 2. Rendimentos anuais médios dos domicílios da amostra no ano de outubro/2000 a setembro/2001. Barão. Tipos de Famílias/ Atividade Família Semana

Agrícola Pluriativo Não-agrícola Não-ocupado

Renda Domiciliar Renda Domiciliar Renda Domiciliar Renda Domiciliar Renda Líquida Total do Trabalho de Outras Fontes dos Inativos Domiciliar Total Média (R$)

Média (R$)

Média (R$)

Média (R$)

Média (R$)

7.716,00 13.692,90 15.784,44 5.037,50

4.265,57 10.197,90 14.166,67 0,00

3.356,52 2.950,45 1.617,78 3.762,00

93,91 544,55 0,00 1.275,50

5.769,45 10.199,25 11.840,41 4.799,25

11 Fonte: Pesquisa de Campo, setembro de 2001.

Com base na Tabela 2, pode-se afirmar que a situação socioeconômica das famílias pluriativas e das famílias não-agrícolas é bastante distinta das famílias exclusivamente ocupadas na agricultura. A Tabela 3, a seguir, apresenta resultado sobre um dos cruzamentos de dados realizados no processamento das informações coletadas na pesquisa. Entendendo que a escolaridade é um indicador importante para o tipo de ocupação e emprego das pessoas, procurou-se demonstrar que escolaridade e tipo de ocupação dos membros dos domicílios estão relacionados. A escolaridade dos membros pertencentes aos domicílios agrícolas tende a ser menor, enquanto os membros dos domicílios pluriativos e não-agrícolas apresentam escolaridade relativamente mais alta. Ocorre que, para se poder obter ocupações não-agrícolas, é necessário ter um mínimo de qualificação formal (escolaridade), fato que ocorre com menos freqüência no setor agrícola em geral. Tabela 3. Distribuição dos domicílios amostrados segundo a escolaridade dos residentes. Barão. Tipos de Famílias

Somente Pelo menos 1 Pelo menos 1 Pelo menos 1 Outras analfabetos ou membro com membro com membro com semi1o grau e 2o grau e combinações curso superior (%) analfabetos nenhum acima nenhum acima (%) (%) (%) (%)

Atividade da Família na Sem.

Agrícola Pluriativo Não-agrícola Não-ocupado

17,4 0,0 0,0 0,0

13,0 13,8 0,0 50,0

13,0 17,2 44,4 0,0

0,0 10,3 11,1 0,0

56,5 58,6 44,4 50,0

Fonte: Pesquisa de Campo, setembro de 2001.

Observando-se a Tabela 3, acima, percebe-se que 13 % dos domicílios agrícolas possuíam pelo menos um membro com segundo grau (ensino médio), e este percentual sobe para 17,2 % dos pluriativos e 44,4 % dos não-agrícolas. Nas categorias pluriativos e nãoagrícolas, 10,3% e 11,1% dos domicílios, respectivamente, apresentavam pelo menos algum membro com curso superior, enquanto nos domicílios agrícolas esse percentual caía para zero. As Tabelas 2 e 3 acima mostram que a pluriatividade pode estar sendo um recurso à mobilidade social e que é capaz de diferenciar os agricultores da região. Os dados socioeconômicos (renda e educação) permitem inferir que essa característica é diferente nos domicílios que possuem pelo menos um membro ocupado em atividade não-agrícola. Fazendo referência aos processos sociais históricos recentes que marcaram o município de Barão, a diferenciação social entre os agricultores familiares de Barão é percebida quando os atores sociais discorrem sobre a história de sua família. Os relatos indicaram que já havia desde três ou quatro décadas atrás uma integração peculiar entre a agricultura familiar, mercados agrícolas e oportunidades de trabalho não-agrícola. As estratégias de reprodução social foram diversas. Num dos depoimentos, o agricultor e professor de escola na comunidade afirma que seu pai associou-se ao sogro, na década de 1950, para trabalhar em beneficiamento de queijo, para a venda desse produto em Porto Alegre. Noutro relato, um agricultor informou que recebeu dinheiro do sogro para obter terras e conseguia plantar trigo para vender, produto que há muito desapareceu da região. Isso também indica que as formas de reprodução social e o parentesco são recursos importantes no

12 meio rural e não precisam ser dissociados dos elementos contextuais e econômicos (mercados). As narrativas dos entrevistados indicam também que a proximidade com centros urbanos maiores é importante para a comercialização da produção agropecuária, que é caracterizada pelas cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre e acontece na própria região mais notadamente a partir da industrialização, sobretudo nos municípios de Carlos Barbosa e Salvador do Sul, que ficam a cerca de 10 km de Barão. O trabalho na agricultura no município é percebido pelos agricultores como penoso e extenuante, pois as terras são declivosas (morros) e as propriedades de tamanho pequeno. Afirma um agricultor que “[as terras] são 15 ha. (...) e mais é aqui na frente a terra boa, lá pra cima é tudo morro” (V. D. agricultor). Outros entrevistados também relataram que da agricultura é muito difícil viver, e que às vezes “derrubavam mato” (L. B., operária de fábrica). “Derrubar mato” é como os agricultores locais chamam a venda da acácia-negra e do eucalipto7. A lenha é utilizada para queimar como fonte de energia calorífica nas indústrias de papel e calçados. Entretanto, essa cultura parece não ser considerada agrícola strictu sensu, pois alguns entrevistados informaram que “não praticavam agricultura” mas “plantavam e vendiam lenha”. Um dos aspectos mais interessantes da ligação entre a agricultura familiar e o processo de industrialização local foi exatamente o papel da produção de madeiras. A madeira era utilizada para fabricar solados de calçado feminino nas primeiras fábricas e famílias que tiveram a possibilidade de se incorporar no mercado dessa forma diferenciaram-se social e economicamente das outras. Conforme família entrevistada, quando a agricultura não ia bem ... aí que surgiu a idéia da serraria. No começo foi um caos também. Por que não havia como revender a madeira. Então ele [o pai] serrava a madeira só para o pessoal daqui, pra fazer paiol, (...) então surgiu o mercado de calçados de madeira. (...) Essa madeira era utilizada para fazer a sola dos calçados das mulheres (...), nós tirávamos a madeira e vendíamos, era um bom mercado e a partir daí a serraria cresceu...foi a primeira ligação que essa região teve com a indústria do calçado. (R. S., 45 anos).

O mesmo agricultor relata que “os onze filhos dele, ele [de seu pai] fez com que saíssem daqui e fossem se formar fora, o único que ficou fui eu, os outros dez irmãos moram em Porto Alegre, Pelotas, Brasília e estão todos formados”. Os processos de transformação econômica possibilitam, em certas ocasiões, diferenciação e ascensão social. As famílias que não se integraram à indústria local através do fornecimento de madeira e casca de acácia se vincularam através da formação da força de trabalho fabril. A indústria nascente precisava de trabalhadores. Como as propriedades eram pequenas desde as primeiras partilhas, o mercado de trabalho não-agrícola local veio a suprir essa demanda. Quase todos os entrevistados relataram que havia a possibilidade de conseguir emprego nas firmas de calçados, não era difícil arranjar. Mesmo os entrevistados que não foram trabalhar na fábrica, afirmaram que era possível conseguir o emprego se quisessem. Um dos entrevistados, jovem que foi estudar na Região Metropolitana, contou que poderia ter ido trabalhar na fábrica, mas o trabalho ia “ficar sempre a mesma coisa e a pessoa não evolui profissionalmente”, então ele preferiu estudar. Outro afirmou que preferiu ficar na agricultura e comprar uma caminhonete para vender sua produção agrícola diretamente na cidade, obtendo um preço de venda melhor.

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Segundo Schneider, a acácia é uma “cultura de abandono”, isto é, pode permanecer sem cuidados (Schneider, 1999a).

13 Os depoimentos e as observações feitas a campo mostraram que o meio rural de Barão é um local de moradia, não necessariamente um local de produção agrícola. Muitos jovens têm preferido ficar no meio rural, construir sua casa ao lado da casa dos pais e trabalhar nas firmas. Isso permite viver melhor e foi relatado que “eles procuram se manter no interior e ao mesmo tempo conseguir um emprego. Por que, se mantendo no interior, o custo de vida é bem mais baixo” (R. S., 45 anos). Já o agricultor V. D. falou que “a colônia vai ser tomada de chácaras de pessoas que trabalham na fábrica e plantam alguma coisa para comer”. Quando perguntados se havia diferença entre os pluriativos e os agricultores exclusivos todos entrevistados afirmaram que sim, segundo suas percepções. As famílias que possuíam membros ocupados em fábricas conseguiram se equiparar (comprar carro, casa completa) e os que não possuem são pobres, conforme depoimento. O fato de que a situação socioeconômica dos pluriativos seja diferente dos exclusivos agrícolas é percebido tanto pelos dados primários quantitativos como os qualitativos. Entretanto, o mesmo relato afirma que os integrados às agroindústrias e os que possuem áreas de terra maiores (cerca de 30 ha) para plantação de madeira estão “bem de vida”. Com base nos referenciais teóricos aqui utilizados, pode-se afirmar que isso confirma uma das teses sobre a atual transformação do rural e das formas de trabalho: de um lado existe a especialização crescente da agricultura e do outro lado a flexibilização do trabalho, a pluriatividade, a descentralização industrial e a possível precarização das relações de trabalho, como o caso dos trabalhos a tempo parcial. Um dos temas investigados foi obter informações sobre as possíveis migrações nas famílias. A hipótese, que foi confirmada, é de que o mercado de trabalho agrícola foi responsável por absorver mão-de-obra que não podia ser aproveitada na agricultura. Quando indagados sobre migrações, todos os entrevistados afirmaram que membros de suas famílias não saíram de perto do município, com a exceção de uma família que relatou deslocamento de membros para Porto Alegre. Conforme as entrevistas, a maior parte dos que saíram do município estavam envolvidos em trabalhos não-agrícolas nas pequenas cidades da região, muitos residindo no meio rural e muitos mantendo algum tipo de produção agrícola. Portanto, em Barão e proximidades há a possibilidade de se obter uma ocupação no mercado de trabalho local, o que diferencia essa dinâmica econômica de algumas outras áreas rurais do Rio Grande do Sul (do norte do Estado, por exemplo). Nas proximidades de Barão, onde há muitos municípios pequenos e com altas taxas de população rural, o ramo de serviços e o ramo industrial são importantes para empregar essa população residente. Sobre a agricultura especificamente, embora as terras do município não propiciem uma entrada de tecnologias de máquinas na produção, não se pode menosprezar o papel do progresso técnico na diferenciação social. A tecnologia dos agrotóxicos e outros produtos químicos nas lavouras e, principalmente, o maquinário para produção de leite são consideráveis para uma boa produção. A produção de leite é o típico caso ilustrado por Abramovay (1992: 216-7) sobre a “corrida” dos agricultores atrás do treadmill tecnológico. O mesmo se pode afirmar com base no referencial teórico fundamentado na perspectiva de Giddens, isto é, “a estrutura” é modificada por ações individuais generalizadas, mas os atores sociais não possuem a consciência (plena) de que as conseqüências impremeditadas da ação são o que reproduz a própria estrutura da sociedade e então os agricultores estão sempre procurando modernização da produção agropecuária para melhorar a sua capacidade de responder aos mercados agrícolas, o que gera novas ações. 5. AS MUDANÇAS SOCIAIS E AS REPERCUSSÕES NAS FAMÍLIAS RURAIS As mudanças sociais e econômicas alteram a sociabilidade e o ritmo de vida familiar, esse é o caso da região estudada, que passou por um processo de industrialização. As

14 indústrias de calçados são as principais, embora haja também indústria de metal e aparelhos ortopédicos. São as relações entre a agricultura familiar e a indústria que criaram oportunidades de distintas atividades laborais e de estratégias de reprodução social como a pluriatividade. É nesse ambiente social e econômico em transformação que as relações sociais e familiares passam a adquirir novas formas e significados. Conforme Schneider, É preciso ver na industrialização um processo social de longo prazo, com um caráter multidimensional, um processo que além de modificar a estrutura da produção e alterar as formas de trabalho, transforma o ritmo de vida das pessoas envolvidas, gera novos valores e normas sociais e, acima de tudo, vai moldando o espaço em que e desenvolve a atividade laborativa dos indivíduos até separá-los da sua ligação original com a natureza (Schneider, 1999a: 48-9).

Os relatos indicaram que os empregados nas fábricas de calçados são estimulados pelos pais a irem trabalhar fora, não havendo diferenças entre filhos e filhas. Entretanto, um depoimento de uma entrevistada indicou que as mulheres são mais compelidas a deixar o dinheiro ganho na fábrica com os pais, caso que não ocorria com os homens de sua família. Sendo entrevistada junto ao seu irmão, esse não desmentiu o fato. Afirmava ela que os homens tinham mais liberdade para gastar o seu dinheiro ganho e que as moças deviam dar o dinheiro e ficar mais em casa e não gastar na rua. Nos outros depoimentos, ficou claro que os homens é que entram na disputa e nas discussões familiares acerca da partilha, já que as mulheres “sabem” que não vão ficar com a terra. Elas, em geral, somente terão essa possibilidade se casarem com um agricultor. O fato de entrar no mercado de trabalho não-agrícola cria a independência das moças, que apesar de contribuir com dinheiro para o sustento da casa, têm seus rendimentos próprios. Muitos jovens casam com idade de 20 a 25 anos, pois trabalham desde os 14 anos e possuem algum tipo de recurso financeiro para viver como um jovem casal. Portanto, a independência pelo trabalho e pelas rendas gera uma diferenciação social quando esses jovens são comparados aos jovens agricultores da sua idade, que em geral ainda estão sob a tutela dos pais. Observa-se um grau de independência muito maior entre os filhos que tem sua ocupação na indústria e/ou fora da propriedade, comparados aos filhos que ficam junto aos pais trabalhando na agricultura. Foi visitada uma família em que os três filhos (dois moços e uma moça com idades de 28, 36 e 40 anos, respectivamente) estão na propriedade e o pai centraliza toda a renda obtida. Quando um filho precisa de dinheiro, ele precisa pedir ao pai e as decisões sobre a produção são tomadas pelo pai, na maior parte das vezes. Já nas famílias em que o filho trabalha fora, muitas vezes este dá algum dinheiro para a família (chamado por um entrevistado de “taxa”), mas fica com boa parte para gasto próprio no que ele decidir. Portanto, filhos, mesmo sendo mais velhos, que ainda moram e trabalham com os pais são muito dependentes do controle familiar, enquanto os que trabalham fora e têm rendimentos próprios têm uma possibilidade de escapar a esse dirigismo, mesmo que sejam muito mais novos. Outra variável analisada foi o número de pessoas por domicílio. A ocupação da família varia de acordo com número de pessoas, ou seja, conforme a composição dos domicílios8. Os domicílios que possuem membros ocupados em atividades agrícolas e não-agrícolas (os

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Em um estudo clássico, Chayanov (1974) já havia mostrado a importância da diferenciação demográfica da família (ciclo de vida) para explicar a disponibilidade de mão-de-obra e o balanço entre o trabalho e o consumo na família. Conforme Chayanov, as famílias costumam computar a satisfação pela produtividade do trabalho e a penosidade desse trabalho, e nisso, o número de membros nas famílias e a idade desses é determinante para as decisões, por que ao mesmo tempo em que são “braços para o trabalho”, também são “bocas para alimentar”.

15 pluriativos) são os que têm mais residentes, ou seja, a composição demográfica da família indica a disponibilidade de mão-de-obra e de aproveitamento dessa na propriedade. Conforme a Tabela 4, abaixo, são percebidas algumas diferenças quando comparadas as famílias agrícolas, pluriativas e as não-agrícolas. As famílias com maior número de membros concentram-se nas pluriativas, atingindo dezessete famílias com três ou quatro residentes e nove famílias com cinco ou mais membros. Dentre as pluriativas não aparecem famílias com somente um membro. Isso não acontece nas famílias exclusivamente agrícolas, nas quais há a totalidade famílias de um residente e poucas (apenas três de um total quatorze) com cinco membros ou mais. Tabela 4. Distribuição domicílios amostrados segundo o número de residentes. Barão. Tipos de Famílias

1 residente

2 residentes

3a4 residentes

5 ou mais residentes

4 0 0 0 4

7 3 0 2 12

9 17 7 0 33

3 9 2 0 14

Atividade da Família na Semana

Agrícola Pluriativo Não-agrícola Não-ocupado Total

Fonte: Pesquisa de campo, setembro de 2001.

A força de trabalho das famílias é uma característica chave para entender os processos sociais em que aparece a pluriatividade. As famílias mais numerosas precisam empregar membros em atividades fora da agricultura, pois esses seriam força de trabalho ociosa na propriedade. Aqui fica demonstrado que, em Barão, a agricultura não tem conseguido absorver a força de trabalho disponível e que as pessoas continuam residentes no meio rural, porém ocupadas em atividades não-agrícolas, pois o mercado de trabalho local possibilita essa estratégia. Com base nas informações qualitativas da pesquisa, outra diferença encontrada entre as famílias agrícolas e pluriativas é o modo de trabalhar que tem efeito no cotidiano familiar, nas relações conjugais e com os filhos. Uma entrevistada afirmou que é uma vida diferente se a família toda trabalha em casa, na roça sempre estão todos juntos e, assim, não tem ninguém junto, nem marido, nem mulher, nem filhos...nada. Os filhos vão para a creche, a mulher vai para cá, o marido vai para lá, daí não tem como. Quem trabalha na roça fica junto. É praticamente uma outra vida (M. K, operária e agricultora).

Esse fato chama a atenção, pois, com base nesse aspecto mencionado acima, as famílias rurais pluriativas ou não-agrícolas estão cada vez mais parecidas com as famílias em geral, elemento que, do ponto de vista sociológico, tem conseqüências diversas como o questionamento da tradicional manutenção da dicotomia rural-urbano. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados da pesquisa apontam transformações importantes para o meio rural gaúcho. Há um número importante de pessoas ocupadas em atividades não-agrícolas e uma forte participação de famílias pluriativas no total de famílias rurais em Barão.

16 Embora o fator do aumento da produtividade agrícola seja importante explicação para a redução das ocupações na agricultura, o estudo no município de Barão mostrou que a redução do número de pessoas ocupadas na agricultura deveu-se menos à introdução de tecnologias e mais à estrutura fundiária de pequenas propriedades e a terras difíceis de plantar. Por sua vez, a industrialização em Barão e circunvizinhanças foi resultado de uma localização privilegiada, próxima à Porto Alegre, facilitando transportes, e é o que está sendo chamado na literatura de industrialização difusa ou descentralização industrial (Schneider, 1999a; Anjos, 1995). As fábricas dirigem-se em direção aos espaços rurais, num processo de “relocalização econômica” (Schneider, 2003: 89), mas também em busca de mão-de-obra mais barata e menos passível de tornar-se sindicalizada. Os agricultores produtores de madeira, através da acácia-negra e do eucalipto, foram integrados no processo de industrialização, pois como já se mostrou anteriormente, a madeira já foi e a casca da acácia é insumo da indústria de calçados. É nesse sentido que podemos confirmar que a constituição de um mercado de trabalho nãoagrícola local é um estímulo à pluriatividade das famílias rurais de Barão. A diferenciação social que ocorreu (e ocorre) na microrregião é resultado de diversos fatores, como a industrialização e a inserção dos membros de famílias agricultoras nos trabalhos não-agrícolas, como da própria especialização da atividade agrícola (divisão social do trabalho). A industrialização e o fenômeno da pluriatividade são variáveis-chave para entender a diferenciação social das famílias rurais de Barão. Do ponto de vista socioeconômico, as informações coletadas a campo permitem afirmar que os pluriativos, comparados aos agrícolas exclusivos, possuem maior escolaridade, têm rendimentos familiares maiores, conseguem adquirir bens e utensílios domésticos com mais facilidade (carros e etc). Isso confirma uma das hipóteses principais desse trabalho de pesquisa. No que se refere às transformações sociais, a diferenciação é percebida quando se observa que os domicílios pluriativos possuem mais membros morando junto, os membros são mais independentes entre si – como no uso das rendas individuais – as mulheres e os jovens são mais independentes do controle dos pais e do marido. Os processos sucessórios tornam-se diferenciados quando os membros das famílias são trabalhadores não-agrícolas, o que não diminui o conflito por partilha de bens, mas a terra não é fator fundamental. Além disso, as famílias pluriativas engendram rotinas de trabalho diferentes das famílias agrícolas, pelo fato de que cada membro possui uma ocupação e não passam o dia juntos. Percebeu-se até mesmo que, em alguns casos, o cuidado dos filhos pequenos de famílias pluriativas é mantido por escolas infantis. Esse conjunto de aspectos pode estar tornando as famílias pluriativas muito mais parecidas com as famílias em geral. Assim, a hipótese inicial, de que as famílias são distintas conforme a ocupação dos seus membros também foi observada. Portanto, a industrialização das áreas rurais de Barão e proximidades causou efeitos como possibilitar a estratégia da pluriatividade entre os agricultores familiares, processo que está ligado aos novos padrões capitalistas de acumulação (mais flexíveis), à globalização, aos novos usos do espaço rural e as novas formas de ocupações rurais. O aparecimento da pluriatividade, que não foi a única transformação, mas é bastante relevante, fez as famílias diferenciarem-se no plano econômico e social. Esses fenômenos geraram novos comportamentos sociais e diferentes posturas de como perceber as relações de gêneros e entre gerações. Esse conjunto de acontecimentos acima descritos possibilita afirmar que as mudanças ocorridas no espaço rural de Barão constituem-se em uma dimensão das transformações gerais da sociedade que aponta Giddens (1991; 2003). A modernidade e as novas formas de trabalho, a recente reordenação da divisão internacional do trabalho, a globalização econômica, cultural e as mudanças no espaço-tempo (conexão global-local), o caráter reflexivo da conduta estratégica dos atores sociais e as transformações na idéia de família e suas relações internas. Nesse sentido, a diferenciação social observada em Barão, que se

17 origina das transformações das formas de trabalho no meio rural, e as modificações na maneira como ocorrem as relações familiares, são expressão e ao mesmo tempo conseqüência do conjunto das questões sociais centrais na modernidade.

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