DIGRESSÃO METODOLÓGICA: SOBRE O MODELO TOPOLÓGICO DA EPISTEMOLOGIA DE SÍNTESE

June 1, 2017 | Autor: Eduardo Aydos | Categoria: Epistemology, Research Methodology, Heuristics, Epistemología
Share Embed


Descrição do Produto

DIGRESSÃO METODOLÓGICA: SOBRE O MODELO TOPOLÓGICO DA EPISTEMOLOGIA DE SÍNTESE1 Por Eduardo Dutra Aydos A semântica de ‘modelo topológico’ refere um conceito de ‘lugar’, ou seja, o ‘limite fixo do corpo físico continente’2, que corresponde à noção contemporâneo de espaço – em jargão metodológico, espaço de propriedades. Modelos topológicos, que referem espaços de propriedades, são amplamente utilizados na pesquisa científica, enquanto representações formais de objetos naturais, que asseguram a compreensão mais precisa e unívoca da sua formulação teórica (explicação) e promovem a derivação de suas propriedades empíricas (previsões), seja como expectativa de resultados no ambiente natural, seja como formulação heurística de extensões hipotéticas do respectivo campo teórico, a serem validadas pela experiência. As operações mentais que permitem formular modelos topológicos preditivos não são necessariamente as mesmas que sustentam a formalização de modelos topológicos explicativos. E, assim também, modelos topológicos podem ser formulados por processos indução (enquanto representação mimética de objetos naturais - mapas geográficos, desenhos de objetos, etc.), por dedução (projetos arquitetônicos, industriais, formulações lógicas ou matemáticas avançadas, etc.) ou por abdução (figurações intuitivas, momentos de iluminação no labor intelectual). Exemplo destes últimos, bem conhecido e documentado na história e na filosofia da ciência, foi sonho de Dmitri Ivanovich Mendeleev (1834-1907) que originou a tabela periódica da composição atômica dos elementos. Uma sequência de cinco quadros elucidativos evidencia a função e o impacto desse modelo topológico no desenvolvimento da ciência. A forma preexistente à intuição criadora de Mendeleev foi a de uma simples tabela estatística com nove espaços de propriedades.

1

Digressão metodológica sobre a tese doutoral do autor, parcialmente publicada: AYDOS, Eduardo Dutra. A Planície de Alétheia: contribuição para a (re)construção teórica de uma epistemologia de síntese. – Editora da UFRGS, Porto Alegre, 2002. 2 “O termo ´tópos’ em sua semântica originária e primígena, significa lugar”. (...) O termo topos é originariamente físico, indicando o ‘limite fixo do corpo continente’ (Phys., IV, 212a)”, BITTAR, Eduardo C. B., Curso de filosofia aristotélica: leitura e interpretação do pensamento aristotélico. Barueri, SP, Manole 2003, pag. 291.

Sobre essa figuração mental, Mendeleev projetou em sonho uma distribuição qualitativamente ordenada das propriedades atômicas de nove elementos.

Mendeleev trabalhou no substrato dessa intuição, nos anos de 1869 a 1871, ampliando o número e a relação dos seus componentes, identificando e corrigindo o locus de cada elemento químico conhecido à sua época, como se visualiza nas suas anotações reproduzidas no quadro abaixo.

A formalização desses desenvolvimentos, permitiu formalizar extensões hipotéticas da existência de elementos, até então desconhecidos enquanto objetos naturais. Isso que, evidencia o potencial heurístico do modelo topológico para o desenvolvimento da pesquisa científica.

Já em 1871, a Tabela Periódica de Mendeleev tornou-se um paradigma do conhecimento científico em química que, pela sua genialidade poiética,

consistência teórica e utilidade prática para a experiência, clarificação e validação dos seus espaços de propriedade em aberto, resultou nos avanços e na consolidação do conhecimento neste campo de investigação, que se evidenciam no desenvolvimento atual do modelo topológico, como figurado a seguir.

Modelos topológicos como se vê, são instrumentos de (re)construção teórica do significado, cuja validação não é intrínseca, mas relacional ao que se pretende compreender e conhecer num processo de auto-reflexão comunicativa. Uma figura geométrica é apenas uma figura geométrica, mas quando se pretende, com uma figura geométrica, designar uma determinada área territorial, seu conteúdo de validade torna-se decidível, permite que se denote a qualidade da sua representação enquanto tal, permite também que se formalize o cálculo da respectiva área, das suas divisões e contorno. E numa perspectiva mais amplificada, no confronto das áreas limítrofes já conhecidas, permite que se localizem espaços ignotos, ainda inacessíveis à respectiva exploração e ocupação. É neste exato sentido, que se pretende validar o modelo topológico da epistemologia de síntese trabalhado em “A Planície de Alétheia”3. Sua formulação pré-existente é uma interação de figuras geométricas, cujos

3

AYDOS, Eduardo Dutra. Op. Cit. – Nota 1.

créditos devem ser reconhecidos e remetem à obra esotérica de W.W. da Matta e Silva4, onde foi assim figurada:

A utilização do potencial heurístico desse modelo topológico conduziu-nos a uma formulação mais complexa, cujos espaços de propriedades conformam a seguinte figura geométrica:

4

MATTA E SILVA, Woodrow Wilson da: Umbanda de Todos Nós – Compêndio Hermético. Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1992. Mapa Chave nº 1.

E assim, pela clarificação da sua instrumentação metodológica, a tarefa que nos propomos realizar submete-se ao crivo da respectiva validação: o potencial de entendimento e conhecimento que esse modelo permite avançar. No seu empreendimento, ganham sentido e consequência os desenvolvimentos teóricos avançados nos cinco capítulos revistos de “A Planície de Alétheia” que anteciparam a publicação dessa digressão metodológica. O diagrama sintético teoricamente apropriado da obra de MATA E SILVA (Op. Cit., 1992), como expresso na primeira edição da nossa “Contribuição para a (re)construção teórica de uma epistemologia de síntese”, performou: “(...) a utilização heurística de uma idéia, de um modelo, de uma forma, como princípio de organização, em torno da qual, questiona-se o conhecimento estabelecido e se justifica a pesquisa exploratória - na perspectiva da sua consolidação como Saber ou, mesmo, na busca da sua corroboração. Não se confunda esse termo com a idéia expressa pelo conceito de “wishfullthinking”. Essa se constitui, provavelmente, na maior objeção que o trabalho de demonstração – pela argumentação persuasiva eee pela corroboração empírica – necessário à legitimação de um novo paradigma ou mesmo de uma teoria nova, precisa enfrentar no seu esforço legítimo de auto-confirmação. O “wishfullthiinking”, não obstante, apresenta duas características marcantes, que o afastam diametralmente da metodologia do nosso trabalho: trata-se de um ‘bias’ de fundo inconsciente, cujos pressupostos são velados à crítica; e trata-se de uma solução desejada para um problema não resolvido. A epistemologia de síntese, bem ao contrário, expõe sobre a mesa de trabalho todos os seus pressupostos e enfrenta decisivamente o problema de se constituir numa solução incômoda, para problemas teóricos que de há muito já se encontram equacionados.” (AYDOS, 2002, op. cit. Pags. 234/235). Esta digressão metodológica se conclui pela apresentação em anexo, do preenchimento, passo a passo, dos espaços teóricos que integram o modelo topológico básico do novo paradigma epistemológico. Forma e conteúdo assim articulados, integram-se à memória fundante e submetem-se à validação do seu conteúdo sintético pelos interlocutores da nossa autoreflexão comunicativa.5 Gravataí, 01 de julho de 2016.

5

A apresentação referida vai publicada em anexo deste texto, no acervo que se acessa através do endereço: https:/ufrgs.academia.edu/EduardoAydos.

,

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.