Dimensões Individuais e Ambientais na Intenção Empreendedora de Estudantes Universitários no Brasil

June 29, 2017 | Autor: R. Silveira Fonte... | Categoria: Entrepreneurship, Empreendedorismo
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Dimensões Individuais e Ambientais na Intenção Empreendedora de Estudantes Universitários no Brasil Autoria: Antonia Márcia Rodrigues Sousa, Raimundo Eduardo Silveira Fontenele

Resumo Este estudo tem como objetivo central dimensionar a influência dos fatores individuais e ambientais na intenção empreendedora de estudantes universitários na criação de empresas. Embasada no construto do empreendedorismo, na teoria do comportamento planejado como enfoque inicial para os demais modelos empíricos de intenção empreendedora, as dimensões da influência na intenção empreendedora de estudantes universitários na criação de empresas foram representadas por seis blocos, divididos entre os fatores individuais representados pelas dimensões antecedentes pessoais, motivação empreendedora e autoeficácia empreendedora e pelos fatores ambientais formados pelas dimensões contexto econômico, contexto cultural e incentivo institucional. O objetivo do estudo foi atingido pelo emprego do método quantitativo, desenvolvido em duas etapas. Na etapa inicial utlizou-se a análise fatorial, com o método de rotação Varimax, para conhecer a carga fatorial de 43 variáveis, incluindo a caracterização dos respondentes, com uma amostra de 540 casos, coletados por meio de um questionário com escala likert de cinco pontos, junto aos estudantes do último ano do curso de administração nas cinco capitais mais populosas do Brasil. Na segunda etapa, utilizou-se a análise de regressão logística, que tornou possivel conhecer a correlação significativa das variáveis independentes com a variável dependente. Os resultados mostram uma maior influência dos fatores individuais representados pela motivação empreendedora e autoeficácia empreendedora na intenção na criação de empresas. Palavras-chave: Empreendedorismo. Intenção empreendedora. Criação de empresa. Introdução O empreendedor ganha destaque nos cenários acadêmico e empresarial, como ator social, por fomentar alternativas de mudança econômica, por meio da criação de novos empreendimentos e da formação de redes e arranjos organizacionais que promovem a competitividade entre setores e a geração de vantagem competitiva para a economia. Nesse sentido, os estudos de Gartner (1988) salientam que a distinção entre um indivíduo com propensão empreendedora e outro não propenso a empreender é que o empreendedor busca permanentemente oportunidades disponíveis no ambiente (SHANE, 2000), e, por meio das suas atitudes, motivações e intenções, transforma-as em produtos inovadores, agregando valor econômico (KIRZNER, 1973) e gerando riqueza e desenvolvimento social. As particularidades que envolvem as motivações e os comportamentos externalizados pelos indivíduos que idealizam criar seu próprio negócio têm recebido relevante atenção dos governos na destinação de recursos para investimentos educacionais e de infraestrutura. Em outra ótica, tornaram-se objetos de estudos por suas indefinidas atuações regionais (GOETHNER, 2012; HUNJRA; AHMAD; SAFWAN et al., 2011; RASLI et al., 2013;). Entretanto, as razões que direcionam o indivíduo para criar ou reestruturar uma empresa ainda apresentam certas indefinições, que podem estar associadas aos fatores individuais, ambientais ou estruturais. Porém, o que se pode destacar é que a percepção visionária do empreendedor o leva a permanente busca de novas oportunidades e as transforma em negócios que geram valor econômico e promovem o desenvolvimento local. Segundo Shane (1992), as distintas situações encontradas entre as regiões indicam que o processo de criação de empresas é permeado por uma diversidade de variáveis e particularidades de cada ambiente. Tais enunciações revelam que as motivações comportamentais e econômicas que influenciam o indivíduo a ingressar na carreira 1

empreendedora ainda vêm sendo constantemente estudadas, por meio dos modelos de intenção empreendedora de Shapero e Sokol apresentado na academia na década de 1980; Fishbein e Ajzen; Krueger e Brazeal e Davidsson na década de 1990 e os modelos de Liñan e Chen e Carvalho no ano 2000, que são referências nas pesquisas sobre a intenção de ingressar na ambiência do empreendedorismo corporativo (FINE et al., 2012), do empreendedorismo social (INGA; SHAMUGANATHAN, 2010), do empreendedorismo acadêmico (GOETHNER et al., 2012) e do empreendedorismo familiar (ZELLWEGER; SIEGER; HALTER, 2011). Ajzen (1991) defende que as crenças influenciam as atitudes que diretamente estimulam as intenções, e que estas determinam o comportamento. Porém, essa decisão exige do indivíduo uma avaliação das suas crenças e valores, por estarem agregadas às suas condições cognitivas e emocionais (HISRICH; PETERS, 2004; MARTINELLI; FLEMING, 2010). Nesse sentido, surgem os modelos de intenção empreendedora que se apresentam como instrumentos norteadores, com alta capacidade para explicar o comportamento do indivíduo em relação à sua atuação empreendedora (AJZEN, 1991; DAVIDSSON, 1995; KRUEGER; BRAZEAL, 1994; SHAPERO; SOKOL, 1982). Portanto, a questão central do estudo envolve saber: Qual a influência dos fatores individuais e ambientais na intenção empreendedora de estudantes universitários na criação de empresas? Partindo dessa abordagem, este estudo tem como objetivo analisar a influência dos fatores individuais e ambientais na intenção empreendedora de estudantes universitários na criação de empresas. O artigo está assim estruturado: inicialmente, apresenta-se uma breve fundamentação teórica, onde serão discutidos aspectos relacionados aos construtos que nortearam a pesquisa. Em seguida, expõem-se os procedimentos metodológicos adotados. Posteriormente, análise da pesquisa empírica, os resultados alcançados e as considerações finais sobre o estudo e as referências utilizadas. Modelos Explicativos de Intenção Empreendedora O estudo do empreendedorismo na perspectiva da intenção empreendedora se consagrou na literatura acadêmica pela publicação dos trabalhos seminais de Shapero e Sokol (1982). Durante todo esse percurso, outros estudos foram apresentados, tornando-se crescente sua aplicabilidade em relação a quaisquer aspectos motivacionais que antecedem o comportamento humano. Nesse sentido, os novos modelos foram surgindo com abordagens direcionadas para entender o indivíduo na perspectiva comportamental e econômica, conforme inserção cronológica apresentada na Figura 1. Considerando o extenso número de variáveis apresentadas nesses modelos e suas respectivas influências na intenção empreendedora do indivíduo, apresenta-se, no Quadro 1, as associações e influências das variáveis independentes com a variável dependente - intenção empreendedora apresentada em cada modelo descrito da Figura 1. Portanto, no sentido de que a criação de uma empresa é precedida por uma associação de componentes que influenciam antecipadamente a intenção empreendedora do indivíduo e que podem ser planejados ou formados a partir de situações contextuais, foram escolhidas seis dimensões mais citadas na literatura e que são representadas por fatores individuais, como antecedentes pessoais, motivação empreendedora e autoeficácia empreendedora; e por fatores ambientais como contexto econômico, contexto cultural e incentivo institucional – viabilizam novos direcionamentos para a formação do indivíduo.

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Figura 1 – Evolução dos modelos de intenção empreendedora

M O D E L O S

Modelo de Fishbein e Ajzen

I N T E R N A C I O N A I S

Fonte: Elaborada pelos autores.

Antecedentes pessoais As escolhas profissionais são fundamentadas por aspectos sociais, econômicos e culturais que determinam as atitudes dos indivíduos em relação às suas atividades laborais. Portanto, a identificação ou a criação de novas oportunidades no contexto profissional requer conhecimento, habilidade e experiência, que, somados aos fatores exógenos, formam a intenção de empreender. Quadro 1 – Variáveis de influências entre os modelos de intenção empreendedora Modelo Fishbein e Ajzen

Ano 1967

Shapero e Sokol 1982 Ajzen 1991 Krueger e Brazael

1994

Davidsson

1995

Autio, Keeley, Klofsten e Ulfstedt

1997

Variáveis de influência entre os modelos As crenças influenciam as atitudes e as normas, formando a intenção empreendedora do indivíduo. A desejabilidade associada à viabilidade e a propensão para agir influencia na intenção empreendedora do indivíduo. As crenças influenciam as atitudes, as normas e o controle comportamental percebido, que associados geram a intenção empreendedora do indivíduo. A desejabilidade e a viabilidade percebida influenciam na credibilidade que, com a interação da propensão a agir estimula o potencial e com base nos acontecimentos antecipados formam a intenção empreendedora do indivíduo. As atitudes gerais em congruência com as atitudes empreendedoras influenciam a convicção que associada à situação relativamente ao emprego, geram intenção empreendedora do indivíduo. Os antecedentes pessoais influenciam as atitudes e a imagem do empreendedorismo que por sua vez influencia a convicção e as variáveis representativas do contexto social, alinhada a convicção promove a intenção empreendedora do indivíduo.

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Liñan e Chen

2009

As premissas que forma o capital humano e as variáveis demográficas influenciam na atitude pessoal, norma subjetiva e na percepção de controle do comportamento motivando a intenção empreendedora do indivíduo. Carvalho 2006 As variáveis antecedentes pessoais, conhecimentos empresariais, motivações empreendedoras, autoeficácia empreendedora e a envolvente institucional e seus componentes de orientação influenciam na intenção empreendedora do indivíduo. Fonte: Elaborado pelos autores (2014).

No sentido de identificar argumentos que comprovem uma relação significativa entre a intenção empreendedora do indivíduo e seus antecedentes pessoais, Basu e Virick (2008) realizaram uma pesquisa com estudantes da San Jose State University, cujos resultados apontaram que o comportamento de indivíduos com vínculos afetivos, quando transformado em ações, transforma-se em uma direção de referência para o indivíduo. No mesmo direcionamento, outras evidências empíricas mostram que a experiência familiar, alinhada a situações de vivência social, com os antecedentes pessoais, produz considerável impacto nos aspectos motivacionais e no desejo do indivíduo de seguir uma carreira empreendedora (CARR; SEQUEIRA, 2007; CHAN, 2004). No modelo de intenção empreendedora de Davidsson (1995), o conjunto de antecedentes pessoais do empreendedor, como idade, educação, experiência profissional e sexo, são aspectos que influenciam as atitudes e a imagem do empreendedorismo. Raijman (2011) desenvolveu uma pesquisa com imigrantes mexicanos em estágio embrionário na criação do seu próprio negócio; dentre as especificidades encontradas, destacam-se os recursos da família, na forma de investimentos financeiros, como determinantes na motivação e decisão de iniciar um novo negócio. Outros estudos evidenciam a área científica do curso, o ano frequentado, os conhecimentos práticos, as características familiares, o reconhecimento de oportunidades, os recursos financeiros disponíveis e, sensivelmente, a educação como fontes de impacto na intenção empreendedora ou na propensão a criar novos negócios (AHMED; MUSARRAT; MUHAMMAD, 2012; CARVALHO, 2004; SOUITARIS; ZERBINATI; AI-LAHAM, 2007). As oportunidades empreendedoras surgem da heterogeneidade sociocultural dos indivíduos, que, orientados por suas crenças e valores, exercem um caráter de liderança. E, associados às características individuais, programam ações inovadoras com habilidade e dinamismo, transformando o ambiente socioeconômico por meio da geração de emprego e renda. As aspirações dos estudantes em relação ao futuro profissional são permeadas por aspectos superficiais que geram diferentes expectativas comportamentais. Nesse sentido, a ação empreendedora atua como mecanismo de orientação para esses indivíduos que se encontram em processo de formação universitária. Motivação empreendedora O comportamento humano é guiado por uma multiplicidade de aspectos que salientam a necessidade do indivíduo de viver impulsionado por fatores internos e externos, que estimulam diariamente seu cotidiano pessoal e profissional. Nesse sentido, a importância da motivação empreendedora na influência da intenção do indivíduo de abrir uma empresa é destacada nos estudos de McClelland (1961), por meio de comportamentos provenientes do desejo de liberdade, independência e necessidade de realização. A motivação para empreender diverge da interpretação dos fatores individuais de cada empreendedor, e também existe a unicidade entre as características de personalidade. Entretanto, a teoria destaca que as variáveis reconhecimento pessoal, aprovação social, 4

segurança financeira e autonomia são consideradas recorrentes do indivíduo empreendedor (DAVIDSSON, 1995; MAALU; NZUVE; MAGUTU, 2010). Muitos fatores internos e externos contribuem para a adoção de atitudes que motivam o indivíduo a criar sua própria empresa. O desejo de liberdade e independência, a resistência a trabalhar em organizações hierárquicas, junto com a autoconfiança e a capacidade de conceber ideias, para transformá-las em oportunidades de negócios, estimulam o empreendedor a trocar a segurança do salário estável pelo risco de um negócio próprio ( MCCLELLAND, 1987). Adicionalmente, Dej (2007) atribui que as intenções empreendedoras com tendência ao sucesso empresarial estão diretamente relacionadas com as características pessoais dos empreendedores, como a necessidade de realização, que indica a intensidade de esforços que o indivíduo é capaz de despender para alcançar o sucesso. Essa percepção reflete as ideias de McClelland (1972, p. 253), ao afirmar que “uma sociedade que tenha um nível elevado de realização produzirá um maior número de empresários ativos, os quais, por sua vez, darão origem a um desenvolvimento econômico mais rápido”. Nessa acepção, os dados encontrados em uma pesquisa realizada com estudantes universitários em Nairóbi mostraram que as razões eminentes para a criação de novos empreendimentos estão associadas às características empreendedoras dos indivíduos que apresentam mais propensão ao controle interno, tolerância ao risco, segurança financeira, autonomia, valores pessoais, inovação, criatividade, busca de oportunidades e qualidade de vida (MAALU; NZUVE; MAGUTU, 2010). Autoeficácia Empreendedora Os estudos sobre autoeficácia empreendedora são centrados no aspecto cognitivo-social definido por Bandura (1997) e complementado pela Teoria do Comportamento Planejado (AJZEN, 1985), os quais, por meio das crenças, formam a convicção do indivíduo em relação aos padrões de pensamento e reação emocional. Bandura (1997) apresentou a teoria da autoeficácia, considerada fator-chave para o sucesso da gestão comportamental, sendo testada e comprovada em vários estudos acadêmicos (BOYD; VOZIKIS, 1994; CHEN; KRECAR; CORIC, 2013; KRUEGER; BRAZEAL, 1994; KRUEGER; REILLY; CARSRUD, 2000), que evidenciaram o potencial preditivo da autoeficácia em relação às variáveis motivação, competência e intenção empreendedora. Bandura (1986) defende que o indivíduo tem seus comportamentos guiados por suas crenças de autoeficácia, que são julgadas conforme o nível de confiança e a capacidade de realização de uma tarefa que exige certo grau de performance. Assim, quanto maior a confiança em adotar um comportamento que envolve propensão ao risco, maiores as chances de enfrentar um ambiente de riscos e incertezas. Evidências empíricas mostram que a autoeficácia representa um alto fator explicativo na intenção empreendedora do indivíduo e na probabilidade de essa intenção ser concretizada por meio da efetivação de uma ação empreendedora (BOYD; VOZIKIS, 1994; KOLVEREID, 1996; KRUEGER; BRAZEAL, 1994). Na perspectiva de compreender a relação da autoeficácia com a intenção empreendedora, uma investigação feita com estudantes de graduação apresentou uma concepção positiva e significativa, ao revelar uma alta correlação de autoeficácia empresarial, marketing, inovação, gestão, controle financeiro e reconhecimento de oportunidades com a intenção empreendedora ( DE NOBLE; JUNG; EHRLICH, 1999). Hashemi et al. (2012) desenvolveram uma pesquisa com estudantes de graduação na Universidade de Ahvaz, no Irã, para investigar os efeitos da autoeficácia empresarial e da 5

orientação empreendedora universitária na formação da intenção empreendedora. Os achados demonstraram que a correlação entre a intenção empreendedora e a autoeficácia empresarial se revelou positiva e significativamente maior do que a orientação empreendedora universitária. Nesse sentido, a autoeficácia empreendedora qualifica o comportamento do indivíduo para a implementação de ações que fomentem a intenção de empreender, e, posteriormente, faz aumentar a convicção de que a carreira empreendedora apresenta uma relação positiva com seus ideais futuros. Contexto Econômico Pesquisadores e economistas reconhecem que as mudanças econômicas nos pequenos e nos grandes centros vêm sendo motivadas pelas ideias inovadoras e criativas, gestadas pelos empreendedores que, com sua capacidade empreendedora, atuam como uma mola propulsora e vital para o progresso econômico (ACS; AUDRETSCH, 2003; CARREE et al., 2002; KIRZNER, 1973; OGHOJAFOR et al., 2009; SAY, 1971; SCHUMPETER, 1934). Entretanto, as contribuições seminais do papel do empreendedor para a economia são destacadas por Schumpeter (1942) ao correlacionar a figura do empreendedor como agente responsável pela destruição criativa, ou seja, o inovador, que mobiliza e mantém em marcha o motor do capitalismo, criando novos produtos e diferentes métodos inovadores de produção, propiciando o surgimento de novos mercados e, consequentemente, destruindo a ordem econômica vigente, via inserção de modelos organizacionais contemporâneos. Os estudos de Wennekers e Thurik (1999) apontam para uma consonância entre o empreendedorismo e o crescimento econômico, ao apresentar em três níveis distintos as suas respectivas funções no contexto social: o nível individual, representado pelos empreendedores que atuam sozinhos, em redes ou parcerias; o nível das empresas ou indústrias, definido pela geração de emprego, capacidade de inovação e avanços tecnológicos; e o nivel macro, orientado pela vantagem competitiva frente às economias de mercado. De acordo com uma pesquisa realizada na Nigéria, com estudantes de graduação no curso de empreendedorismo, foi possível perceber que Estados Unidos, Ásia, Reino Unido, África, Austrália e América Latina vêm promovendo o empreendedorismo como forma eficaz de estimular o crescimento econômico por meio da geração de emprego e do desenvolvimento de tecnologia local, que gera fonte renda e ganhos de divisa (OGHOJAFOR et al., 2009). As contribuições empíricas de Mazarrol et al. (1999) afirmam que as variáveis demográficas, como capital humano, origem étnica, nível de educação, tamanho da família, situação de emprego, experiência, idade, status socioeconômico, religião e traços de personalidade, são aspectos importantes, porém com níveis diferenciados de influência para o desenvolvimento econômico. De forma mais específica, os estudos de Fontenele (2010) sobre empreendedorismo, competitividade e crescimento econômico revelaram que os pilares da competitividade do Growth Competitiveness Index (GCI) parecem atuar em direção contrária à da promoção do empreendedorismo nos países com renda per capita até US$ 30,000.00, e de forma positiva, mas insignificante, nos países com renda per capita superior a US$ 30,000.00. Contexto Cultural As proposições conceituais sobre cultura e suas possíveis influências na ação empreendedora, enfatizadas neste estudo, estão embasadas nas fundamentações teóricas de autores como Basu e Altinay (2002), Fayolle e Boucharda (2010), Linãn e Chen (2009), Mueller e Thomas (2011) e Suddle, Beugelsdijk e Wennekers (2007). Short et al. (2010) defendem que as diferenças culturais apresentam implicações para a natureza das oportunidades. Assim, um indivíduo com potencial empreendedor percebe os 6

artefatos culturais de uma região como um celeiro de identificação e exploração de oportunidades para a criação de novos negócios. Uma pesquisa realizada por Basu e Altinay (2002) com seis diferentes grupos étnicos em Londres, comparando os atributos culturais e sua influência no comportamento empreendedor, os resultados revelaram que a cultura predominante dessas pessoas orienta a ingressar em diferentes atividades empresariais. Ainda segundo os autores, os estudos evidenciam que a interação da cultura com a atuação empreendedora tem mais representatividade em alguns grupos étnicos do que em outros. Entretanto, os padrões culturais são nitidamente manifestados nas tradições familiares para criação e gerenciamento de atividade empresarial. Uma segunda influência cultural foi percebida no contexto educacional, em que grupos onde não existe o controle familiar sobre a formação educacional, as possibilidades de bons postos de trabalho são notoriamente deficientes, e, como mecanismo de sobrevivência, criam pequenos negócios (BASU; ALTINAY, 2002). Rauch et al. (2004) defendem que os reflexos da cultura podem influenciar o comportamento do indivíduo, pois o comportamento da empresa é, em certa medida, uma fotografia ampliada do comportamento e das orientações dos seus membros; portanto, pode-se supor que a cultura nacional também produz forte impacto sobre as orientações empreendedoras dos indivíduos. De acordo com estudos realizados por Linãn e Chen (2009) com estudantes de Taiwan e da Espanha, foi possível identificar que, ao se comparar as intenções empreendedoras, os fatores comportamentais apresentaram similaridades em culturas diferentes. Todavia, as particularidades nacionais se manifestaram no modo como as pessoas percebem a realidade e as transformaram com base nas suas percepções. Incentivo Institucional As universidades vêm desempenhando papel fundamental no desenvolvimento da intenção empresarial, ao explorar fatores que influenciam o comportamento dos estudantes com a difusão de conteúdos, laboratório de práticas e simulação empresarial que estimula a orientação empreendedora dos alunos (AUTIO et al., 1997; HANNON, 2005; LÜTHJE; FRANKE, 2003; REITAN, 1997). Venesaar, Kolbre e Piliste (2006) propõem que as IES apresentem, em caráter de urgência, mecanismos que ajudem a direcionar o comportamento dos estudantes para o empreendedorismo, oportunizando mais conhecimentos técnicos por meio de ações que estimulem a geração de ideias para a formação de novos negócios. Evidências empíricas encontradas nos estudos de Lima, Santos e Dantas (2006) revelam que a educação empreendedora promove o crescimento de novos negócios e a formação da personalidade empreendedora (PAÇO et al., 2010), que influencia diretamente a atitude e as aspirações do indivíduo (WANG; WONG, 2004), estabelecendo uma relação positiva com a intenção de empreender (CARVALHO, 2004). Binotto, Büllau e Roese (2004) preconizam que o empreendedorismo é um fenômeno global com especificidades culturais, que, nas últimas décadas, está fortemente relacionado com o processo educacional, por sua contribuição na formação de comportamentos que estimulam a intenção do indivíduo na criação de empresas que geram riqueza e fortalecem o desenvolvimento local e regional. Nessa perspectiva, investigações realizadas por Aponte, Urbano e Veciana (2006), e Toledano (2006) com estudantes nas universidades da Beira, em Portugal, Porto Rico, Extremadura, Huelva e Catalunha, na Espanha, apontaram para a relevância dos fatores contextuais e educacionais na intenção e motivação dos estudantes universitários na criação de uma empresa. 7

Essa percepção pode ser confirmada nos estudos de Franke e Lüthje (2004), com base em uma pesquisa realizada com profissionais graduados na área de gestão em negócios, cujos resultados revelaram que essa formação apresenta uma significativa relação entre a carreira empresarial e a intenção empreendedora. Metodologia O design metodológico se apoiou em um conjunto de investigações teóricas que possibilitou testar a influência dos fatores individuais, representados pelas dimensões antecedentes pessoais, motivação empreendedora e autoeficácia empreendedora, e por fatores ambientais, compreendendo as dimensões contexto cultural, contexto econômico e incentivo institucional, como componentes que dimensionam a intenção empreendedora dos estudantes. Dessa forma, para maior entendimento, apresentam-se, na Figura 2, as seis dimensões distribuídas pelos fatores individuais e ambientais, que dimensionam a intenção empreendedora para estudantes universitários no cenário de uma escolha futura. Uma vez definidas as estratégias técnicas da pesquisa, estabeleceram-se as seguintes hipóteses do estudo representadas pelas dimensões antecedentes pessoais, motivação empreendedora e autoeficácia empreendedora, e por fatores ambientais, compreendendo as dimensões contexto cultural, contexto econômico e incentivo institucional, como componentes orientadores para a construção de um modelo explicativo de intenção empreendedora. Figura 1– Modelo da Pesquisa FATORES INDIVIDUAIS

FATORES AMBIENTAIS

Contexto cultural 1

H+ Motivação empreendedora

H2+

3

H+

4

H+ H5+

6

H+

Fonte: Elaborado pelos autores (2014).

H1: Existe uma correlação positiva entre os antecedentes pessoais do estudante e a sua intenção empreendedora H2: Existe uma correlação positiva entre a motivação empreendedora do estudante e a sua intenção empreendedora. H3: Existe uma correlação positiva entre a autoeficácia empreendedora do estudante e a sua intenção empreendedora H4: Existe uma correlação positiva entre a percepção do estudante sobre o contexto econômico e a sua intenção empreendedora H5: Existe uma correlação positiva entre a percepção do estudante sobre o contexto cultural e a sua intenção empreendedora H6: Existe uma correlação positiva entre a percepção do estudante sobre o incentivo institucional e a sua intenção empreendedora Partindo desse direcionamento, definiram-se como amostra, 540 estudantes de Instituições de Ensino Superior pública e privada do último ano dos cursos de Administração 8

com média acima de três no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE), por ser um dos procedimentos de qualificação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES). No sentido da representação geográfica, definiram-se as cinco unidades federativas do Brasil com mais habitantes, representadas por São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Salvador e Brasília, por concentrar maior número de IES, em suas respectivas naturezas pública e privada. Os dados foram coletados por meio da aplicação de um questionário com uma escala Likert de cinco pontos, variando entre 1, para “discordo totalmente”, e 5, para “concordo totalmente”, comumente usada para medir atitude, proporcionando uma gama de respostas ou associações a uma determinada pergunta ou afirmação. Para estabelecer as relações entre as dimensões apresentadas no framework, utilizou-se a regressão logística, que, segundo Hair et al. (2009), tem como principal objetivo determinar a probabilidade de ocorrer determinado evento, levando em conta a variável dependente em função das variáveis independentes. Esses mesmos autores referem como finalidade da regressão logística prever a ocorrência de um evento. Assim, se a probabilidade de ocorrência de um evento for superior a 0,5, então a previsão se confirma; por outro lado, se a probabilidade de ocorrência de um evento for inferior a 0,5, então a previsão não se confirma. Para este estudo, o teste de regressão logística tem como variável dependente a intenção empreendedora, medida pelas variáveis “eu tenho planos para criar minha empresa” e “farei todos os esforços para criar e manter o meu próprio negócio”. Para efeito de análise, foi gerada uma variável artificial representando a intenção empreendedora. A variável artificial resulta da divisão da soma das variáveis medidoras de intenção pelo número de variáveis que compõem essa dimensão, isto é: (Eu tenho planos para criar minha empresa + Farei todos os esforços para criar e manter o meu próprio negócio) / 2. Essa variável foi gerada por meio da ferramenta SPSS – “Transform Compute variable”, com o objetivo de transformar a intenção empreendedora em variável dependente dummy. Para efetivação de tal processo, utilizou-se a seguinte equação: (média mais desvio-padrão) dividido por 2 = alta intenção empreendedora. Para obtenção de tais resultados, os dados foram lançados na planilha eletrônica Excel. Posteriormente, utilizou-se o aplicativo Statistic Package for Social Sciences (SPSS®), versão 26. Análise e discussão dos resultados a) Análise Fatorial Essa etapa consistiu na aplicação do teste para a verificação da confiabilidade dos constructos. Para isso utilizou-se o de Cronbach. Para autores como Hair et al. (2009), valores inferiores a 0,60 são tidos como questionáveis. Avaliou-se a confiabilidade das dimensões do modelo da pesquisa, usando o Coeficiente de Alfa de Cronbach, e aceitos por apresentarem um alfa superior a 0,7%, seguindo as orientações estatísticas de HAIR et al. (2009), que consideram como padrão de fidedignidade um alfa igual ou superior a 0,7% (Tabela 1). Tabela 1– Coeficiente de Alfa de Cronbach Fator Dimensão 1 Antecedentes pessoais 2 Motivação empreendedora 3 Autoeficácia empreendedora 4 Contexto cultural 5 Contexto econômico 6 Incentivo institucional Fonte: Elaborado pelos autores (2014).

Alfa de Cronbach 0,85 0,75 0,71 0,77 0,84 0,81

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A disposição dos dados da matriz com rotação Varimax na Tabela 2 segue a coerência teórica de Corrar, Paulo e Dias Filho et al. (2012), ao considerar significantes as cargas fatoriais superiores ou iguais a 0,6, por representar o impacto real mínimo das variáveis. Utilizando-se do método de Componentes Principais, a Tabela 2 mostra as variáveis que formam cada fator, com suas respectivas cargas. Tabela 1 – Matriz de rotada de fator Variável Enunciado Fator 1 V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 V10 V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V20

A tradição empresarial da minha família influencia a decisão de criar minha própria empresa Minha experiência profissional permite criar minha própria empresa O reconhecimento social da minha família influencia a minha decisão de criar uma empresa O patrimônio da minha família influencia a decisão de criar minha própria empresa O patrimônio criado pela minha família com atuação empreendedora influencia a decisão de criar minha própria empresa Minha idade influencia a decisão de criar minha própria empresa Pretendo abrir minha empresa para realizar uma missão social Pretendo abrir minha empresa porque quero seguir exemplos de pessoas de sucesso que admiro Pretendo abrir minha empresa porque quero ter mais segurança no futuro Pretendo abrir minha empresa porque quero construir algo que possa ser reconhecido socialmente Pretendo abrir minha empresa para pôr em prática minhas próprias ideias Se eu criasse minha empresa, teria alta probabilidade de sucesso Conheço os detalhes técnicos necessários para criação de uma empresa Tenho conhecimento suficiente para iniciar um negócio com alta viabilidade Considero a carreira de empreendedor adequada para minha personalidade A cultura familiar influencia a minha decisão de abrir uma empresa A religiosidade influencia a minha decisão de abrir uma empresa A diversidade cultural da região influencia a minha decisão de criar uma empresa As manifestações culturais (Carnaval, festas juninas) influenciam a minha decisão de criar uma empresa Uma referência social (empreendedor) influencia a minha decisão de criar uma

Dimensões de Análise Fator Fator Fator Fator 2 3 4 5

Fator 6

0,775 0,401 0,726 0,778 0,804 0,337 0,707 0,760 0,694 0,663 0,408 0,548 0,812 0,782 0,405 0,346 0,679 0,772 0,645 0,377

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Tabela 1 – Matriz de rotada de fator Variável Enunciado Fator 1 empresa Incentivos oferecidos pelo governo influenciam a minha decisão de criar V21 uma empresa O desenvolvimento local influencia a V22 minha decisão de criar uma empresa A diversidade da cadeia produtiva da região influencia a minha decisão de V23 criar uma empresa A estabilidade da moeda influencia a V24 minha decisão de criar uma empresa A infraestrutura regional influencia a V25 minha decisão de criar uma empresa O acesso a novas tecnologias influencia V26 a minha decisão de criar uma empresa Algumas disciplinas de meu curso ofertam conhecimentos suficientes para a V27 criação de uma empresa Minha instituição de ensino me prepara V28 para seguir uma carreira empreendedora As atividades práticas desenvolvidas no meu curso me possibilitam V29 oportunidades para ser empreendedor O curso me oportuniza ações de incentivo para criar a minha própria V30 empresa A Instituição de ensino apoia a criação V31 de empresas pelos estudantes As parcerias da minha instituição de ensino com instituições que representam a classe empresarial e as pequenas e V32 médias empresas fortalecem a decisão dos alunos de criar suas próprias empresas Fonte: Elaborada pelos autores (2014).

Dimensões de Análise Fator Fator Fator Fator 2 3 4 5

Fator 6

0,638 0,722 0,708 0,696 0,737 0,554 0,599 0,744 0,693 0,77 0,624

0,599

b. Regressão Logística Com os dados obtidos, desenvolveu-se a construção dos modelos de regressão logística, utilizando-se o software estatístico SPSS. Foram testadas várias simulações de modelos estocásticos. Em cada simulação foi realizado o teste de qualidade de ajuste de Hosmer e Lemeshow, que indicou a possibilidade de realização da regressão logística em cada uma delas. A aplicação da técnica estatística da regressão logística, com a finalidade de analisar a existência de uma relação entre os determinantes do modelo apresentado e a sua intenção para a criação de uma empresa, permitiu confirmar só algumas das hipóteses formuladas. A partir dos fatores resultantes da Análise Fatorial (Tabela 2), a simulação escolhida utilizou como variáveis independentes os constructos referentes à: Antecedentes Pessoais (Fator 1), Motivação Empreendedora (Fator 2), Autoeficácia empreendedora (Fator 3), Contexto Cultural (Fator 4), Contexto Econômico (Fator 5) e Incentivo Institucional (Fator 6).

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Tabela 2 – Apresentação do modelo de regressão logística Dimensões Beta Erro Padrão Sig. Antecedentes pessoais ,061 ,130 ,639 ,856 ,144 Motivação empreendedora ,000 ,977 ,159 Autoeficácia empreendedora ,000 Contexto cultural -,174 ,150 ,244 Contexto econômico ,175 ,147 ,232 Incentivo institucional -,224 ,145 ,121 Fonte: Elaborada pelos autores (2014) Nota: * Nagelkerke R Square = 0,318; (adequação da amostra) Hosmer and Lemeshow p=0,065

Exp(Beta) 1,063 2,353 2,657 ,840 1,192 ,799

Em relação ao nível de significância das variáveis de acordo com o , as dimensões com alto impacto no modelo foram representadas pela motivação empreendedora apresentaram significância 0,856, e a autoeficácia empreendedora ficou com 0,977, enquanto as demais não apresentaram significância representativa, razão pela qual somente os aspectos individuais se apresentaram com mais impacto na intenção empreendedora dos estudantes. Um valor do odds ratio é calculado para cada variável explicativa do modelo logístico, o que demonstra o valor de sua variação na medida em que o valor da variável explicativa é acrescido em uma unidade. Assim, uma variação positiva de uma unidade nas variáveis Fator: 2 (Motivação Empreendedora) e Fator 3: (Autoeficácia empreendedora) apresenta um elevado impacto positivo na probabilidade de um aluno ter intenção empreendedora, ou seja, quanto maior for o valor dessas variáveis, maior é a probabilidade do aluno ter intenção empreendedora e, logo menor é a probabilidade de não a ter. Esses achados apresentam consonância com os resultados da pesquisa realizada por Hunjra, Ahmad e Safwan et al. (2011) com estudantes em diferentes universidades de Islamabad e Rawalpindi, no Paquistão, ao revelarem que os principais fatores que direcionam o indivíduo para a criação de uma empresa estão diretamente vinculados aos aspectos motivacionais, fatores econômicos, autoindependência e segurança. Os resultados encontrados mostram que os estudantes têm crenças cognitivas em relação às suas escolhas e executam com sucesso determinado comportamento em prol da obtenção do desempenho esperado. Para Krueger, Reilly e Carsrud et al. (2000), a motivação para agir ocorre à medida que o indivíduo se percebe psicologicamente preparado para a função. Assim, quanto maior o grau de competência reconhecida pelo indivíduo, maior a probabilidade de crescimento da sua autoeficácia empreendedora. Para Leite (2011), quanto maiores as crenças de autoeficácia de um indivíduo, maior a sua intenção empreendedora. Nesse sentido, Boyd e Vozikis (1994, p. 73) afirmam: "as pessoas que têm crenças fortes sobre as suas capacidades serão mais persistentes em seus esforços e vão exercer maior desempenho para dominar um desafio". Com relação ao contexto cultural, os resultados demonstram que os estudantes tem uma percepção limitada dos efeitos sobre a influência das variáveis cultura familiar, religiosidade, diversidade cultural, manifestações culturais e referência social como elementos norteadores para a sua intenção empreendedora. Nesse sentido, observa-se uma convergência entre o estudo de Krueger, Reilly e Carsrud (2000) ao referenciar que a decisão de se tornar empreendedor pode ser atribuída a comportamentos voluntários, conscientes e intencionais. Adicionalmente, Basu e Altinay (2002) desenvolveram uma pesquisa com empreendedores imigrantes de Londres, Índia, Paquistão, Bangladesh, Turquia e África do Sul, cujos resultados apontaram para os valores familiares, religião e memórias históricas como aspectos de interação da cultura com o empreendedorismo. Porém, o que foi possível mensurar no estudo é que mesmo diante de artefatos culturais diversificados, os estudantes não expressaram relevância do contexto cultural como mecanismo de orientação empreendedora. 12

O fator contexto econômico também evidenciou uma baixa influência com a intenção empreendedora. Portanto, as variáveis formadas pelos incentivos governamentais, desenvolvimento local, diversidade da cadeia produtiva, estabilidade da moeda, infraestrutura regional e acesso a novas tecnologias não apresentaram um efeito norteador capaz de orientar positivamente a intenção empreendedora dos estudantes pesquisados. Nesse sentido, a percepção dos estudantes brasileiros converge com o posicionamento dos estudos de Naudé (2009) realizados em países em desenvolvimento que acreditam na implementação de ações empreendedoras como mecanismo de recuperação para o atraso que assola o crescimento e desenvolvimento socioeconômico desses países. Em complemento, Oghojafor et al. (2009) advogam que em todo o mundo, dos EUA para a Ásia, do Reino Unido para a África e da Austrália para a América Latina, o empreendedorismo tem sido promovido como um meio eficaz de estimular o crescimento econômico através da geração de mais oportunidades de emprego, desenvolvimento da base tecnológica local e ganho de divisas. No que se refere ao incentivo institucional, os resultados da pesquisa demonstraram não inferir na intenção empreendedora dos estudantes. Portanto, essa hipótese foi refutada por apresentar uma baixa correlação com a intenção empreendedora dos estudantes pesquisados. Nesse sentido, as variáveis, conhecimentos adquiridos nas disciplinas, atividades práticas, preparo técnico, parcerias empresariais, incentivo e apoio da instituição mostraram baixa representatividade na intenção empreendedora, implicando que essas variáveis não estimulam os estudantes para a intenção empreendedora. Os resultados diferem dos achados de Sivarajah e Achchuthan (2013), que destacaram que os estudantes, quando envolvidos em um ambiente de incentivos, desenvolvem habilidades e competências empreendedoras tornando perceptível sua capacidade de identificar oportunidades e determinar o nível de viabilidade. No mesmo direcionamento, Olufunso (2010) revela que os resultados encontrados em uma pesquisa com estudantes na África do Sul mostraram que a orientação e o encorajamento no desenvolvimento de ações empreendedoras possibilitam uma gestão promissora de negócios. Contudo, não foi essa a percepção dos estudantes pesquisados em relação às ações de cunho empreendedor que vêm sendo desenvolvidas no ambiente das instituições de ensino pesquisadas. Conclusão A intenção empreendedora é uma área em ascensão de pesquisa dentro do campo do empreendedorismo, sendo que no Brasil ainda é uma área com pouca visibilidade em relação a resultados empíricos, o que provocou forte impacto em relação à comparação deste estudo com outros resultados nacionais. A relação dessas duas temáticas tem se apresentado como um campo promissor de discussão teórica e empírica no contexto da Administração, ao proporcionar expressivas contribuições para o conhecimento na área de criação de novos negócios o que consequentemente, gera emprego renda e melhoria na qualidade de vida das mais diversas regiões dos mais diferentes e um país. O conjunto de hipóteses resultou na proposição de um framework com as variáveis independentes formadas pelos fatores individuais, representadas pelas dimensões antecedentes pessoais, motivação empreendedora, autoeficácia empreendedora, e pelos fatores ambientais, que reúnem as dimensões contexto cultural, contexto econômico e incentivo institucional, e a variável dependente intenção empreendedora. Conforme já apresentado, os resultados deste estudo permitem confirmar que somente as dimensões motivação empreendedora e autoeficácia empreendedora dos fatores individuais apresentaram relevantes na predição da intenção, com uma alta correlação positiva, 13

confirmando que os estudantes possuem controle sobre sua vontade de realizar o comportamento e também se consideram capazes de realizar determinado comportamento, se assim o desejarem. As demais dimensões apresentam correlação média e baixa, analisadas separadamente, quando avaliadas no conjunto onde se verifica que a associação entre todas as dimensões não impacta a variável dependente. No que se refere á dimensão cultural, é possível observar a existência de uma lacuna em relação a percepção dos estudantes quanto as oportunidades de caráter empreendedoras oportunizadas a partir dos artefatos culturais presentes em suas regiões, das potencialidades e estratégias do mercado e dos valores familiares para empreender. Sobre a dimensão contexto econômico, pode-se afirmar que mesmo diante de vários mecanismos informacionais do poder público em concomitância com os resultados dos investimentos apresentados por meio do crescimento e desenvolvimento econômico da região, ainda mostram incipiência em relação aos indicadores essenciais, capazes de influenciar na intenção empreendedora dos estudantes pesquisados. Quanto à dimensão incentivo institucional, os resultados indicam que, em geral, os estudantes se envolvem com as atividades práticas, mas não apresentam uma atitude positiva em relação aos mecanismos pedagógicos de aprendizagem e aos recursos didáticos desenvolvidos pelas instituições de ensino como elementos norteadores da prática empreendedora. Nesse sentido, este estudo, ao atender ao objetivo proposto, confirma sua relevância como instrumento norteador para as pesquisas sobre a intenção e os comportamentos imprimidos pelos indivíduos que visam à carreira empreendedora. Percebe-se, que, embora, estudos consolidam o ambiente de ensino superior como um espaço promotor de ações práticas que evidenciam o comportamento dos estudantes em relação à educação para o empreendedorismo, os resultados apontam uma baixa implicação na influência dos estudantes pesquisados de se tornar empreendedor. Entretanto, os resultados mostram que os fatores individuais representados pela motivação empreendedora e pela autoeficácia empreendedora ampliam a relevância dos aspectos cognitivos na formação de comportamentos empreendedores. Em relação a outros estudos, sugere-se a inclusão de um construto relacionado à inovação e tecnologia, bem como a implementação de pesquisas que relacionem estudantes de outras áreas do conhecimento em outras regiões do país. Preconiza-se, ainda, o desenvolvimento de outros estudos comparativos entre o Brasil e outros países emergentes. Recomendam-se, assim, estudos com o intuito de replicação do modelo proposto por este estudo, levando em conta os aspectos sociais das menores regiões do país, bem como a verificação da sua aplicabilidade em outros contextos institucionais. Referências AUDRETSCH, D. B. Handbook of entrepreneurship research. Springer, London, p. 437471, 2003. AHMED, I.; MUSARRAT, M.; MUHAMMAD, N. Do External Factors Influence Students’ Entrepreneurial Inclination? An Evidence Based Approach. Hailey College of Commerce, University of the Punjab, Pakistan, 2012. AUTIO, E.; KEELEY, R. H.; KLOFSTEN, M.; ULFSTEDT, T. Entrepreneurial intent among students: testing an intent model in Asia, Scandinavia and USA. In: FRONTIERS OF ENTREPRENEURSHIP RESEARCH CONFERENCE, Babson College, Wellesley, MA, 1997. AJZEN, I. From intentions to actions: a theory of planned behaviour. In: KUHL, J.;

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