Dinâmica Populacional da Onça-Pintada (Panthera onca) no lago Mamirauá e conflitos entre onças e populações tradicionais nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, AM.

July 24, 2017 | Autor: Joana Macedo | Categoria: Population ecology, Human-wildlife conflicts
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Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM

Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá IDSM-OS/MCT Processo n.° 680.021/2006-0 Programa de Pesquisas

RELATÓRIO TÉCNICO FINAL DAS ATIVIDADES DE BOLSA/CNPq

Título: Dinâmica Populacional da Onça-Pintada (Panthera onca) no lago Mamirauá e conflitos entre onças e populações tradicionais nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, AM.

Bolsista: JOANA SILVA MACEDO Número do Processo Individual: 382329/2007-4 Modalidade de bolsa exercida: DTI-7C Período de Vigência da Bolsa: 01/10/2009 a 01/04/2011

RESPONSÁVEIS: HELDER LIMA DE QUEIROZ Coordenador do PCI do IDSM Diretor Geral do IDSM

JOÃO VALSECCHI Orientador da Bolsa Diretor Técnico-Científico do IDSM

Tefé/AM

Abril/2011 1 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Sumário

Histórico

3

Atividades desenvolvidas

4

Resumo

5

Capítulo I - Dinâmica Populacional da Onça-Pintada (Panthera onca) no lago Mamirauá

6

Introdução

6

Objetivos

8

Área de estudo

8

Métodos

9

Resultados

13

Discussão

18

Bibliografia

20

Capítulo II - Conflitos entre onças e populações tradicionais nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, AM.

26

Introdução

26

Objetivos

29

Área de estudo

30

Métodos

31

Resultados

32

Discussão

41

Bibliografia

43

Conclusões gerais

47

2 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Histórico

Este projeto teve início em setembro de 2007, com o objetivo de implantar um monitoramento de parâmetros populacionais de onças-pintadas (Panthera onca) na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Em 2009 foi pedida a renovação da bolsa de pesquisa para dar continuidade ao monitoramento de densidade e abundancia de P. onca e implementar um monitoramento de conflitos entre a população ribeirinha residente da reserva e as onças. O projeto tinha originalmente o título “Dinâmica Populacional da Onça-Pintada (Panthera onca) na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, AM”, que foi modificado para se adequar a algumas mudanças. O monitoramento da dinâmica populacional de onças-pintadas, que era o objetivo principal, ficou prejudicado, especialmente no ultimo ano, em virtude do mau funcionamento do equipamento utilizado para detectar os animais (armadilhas fotográficas). Já a implementação do monitoramento de conflitos entre as populações tradicionais e as onças-pintadas na RDS Mamirauá, que era o objetivo secundário do projeto, foi alcançada e estendida para a área da RDS Amanã. Em virtude das mudanças relatadas acima, o título do trabalho foi alterado para “Dinâmica Populacional da Onça-Pintada (Panthera onca) no lago Mamirauá e conflitos entre onças e populações tradicionais nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, AM”. O relatório foi redigido em dois capítulos para facilitar a leitura, o primeiro trata da dinâmica populacional de onças e o segundo de conflitos entre onças e populações tradicionais.

3 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Atividades desenvolvidas

Durante a vigência da bolsa foram desenvolvidas atividades para a obtenção dos resultados que serão apresentados neste relatório, incluindo a preparação da logística para o trabalho de campo; o armadilhamento e a verificação semanal das armadilhas fotográficas; a revelação das fotografias e identificação dos animais; elaboração e distribuição do questionário para monitoramento de conflitos; reuniões com os Agentes Ambientais Voluntários que coletaram dados para o monitoramento de conflitos; elaboração de relatório e retorno dos dados para os Agentes Ambientais Voluntários. Foram apresentados dois trabalhos em reuniões científicas relacionados ao projeto de pesquisa desenvolvido, listados abaixo:

MACEDO, J. ; RAMALHO, E. 2010. Conflitos entre felinos silvestres e populações humanas nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, AM. In: VII Seminário Anual de Pesquisa do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, 2010, Tefé. Seminário Anual de Pesquisa - SAP7, 2010 GONCALVES, R. M. ; MACEDO, J. ; RAMALHO, E. 2010. Dieta da onça-pintada (Panthera onca) em uma área de várzea da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, AM. In: XXVIII Congresso Brasileiro de Zoologia, 2010, Belém. XXVIII Congresso Brasileiro de Zoologia

Está em preparação um artigo abordando a dinâmica populacional de P. onca na área do Lago Mamirauá. O conflito entre felinos e populações tradicionais nas RDS Mamirauá e Amanã será tema da minha tese de doutorado.

4 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Dinâmica Populacional da Onça-Pintada (Panthera onca) no lago Mamirauá e conflitos entre onças e populações tradicionais nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, AM. Resumo Entender a ecologia, tendências populacionais da onça-pintada (Panthera onca) é fundamental para o desenvolvimento de estratégias eficientes de conservação da espécie. Os objetivos deste estudo foram dar continuidade ao monitoramento populacional de P. onca na RDS Mamirauá e iniciar o monitoramento dos conflitos entre onças e populações tradicionais. O monitoramento populacional foi feito de agosto a dezembro de 2009 e 2010, período correspondente a estação seca, com o uso de armadilhas fotográficas na área de entorno do Lago Mamirauá. As estações de captura foram instaladas em trilhas já abertas e em cada uma foram instaladas duas armadilhas fotográficas. A identificação dos indivíduos foi feita com base no padrão da pelagem dos animais. Foram identificados no total 13 indivíduos em 15 capturas. Como o número de capturas e recapturas foi baixo, não foi possível gerar estimativas de abundância. O número de indivíduos capturados foi de sete em 2009 e seis em 2010, com uma densidade de 8,7 ind/100 km² e 7,4 ind/100 km², respectivamente. O monitoramento de conflitos teve início com a distribuição de questionários entre comunitários que exercem a função de Agentes Ambientais Voluntários (AAVs). O questionário foi aplicado pelos AAVs e abordou as seguintes questões: predação de animais domésticos por onças, abates, avistamentos e vestígios (pegadas e esturros) na área das comunidades, ataques a pessoas e captura de filhotes de onças. Em 115 questionários foram relatados 145 eventos de conflitos, sendo os avistamentos e vestígios próximos a comunidades os mais freqüentes. Os porcos foram os animais domésticos mais predados por P. onca (65,5%), e a maior parte dos abates foi em retaliação por predação de animais domésticos (63%). A partir desses resultados podemos inferir que, a despeito do número de abates, a população de P. onca na área das reservas é alta, e que mudanças no manejo de animais domésticos e a produção de material informativo sobre como evitar conflitos com felinos silvestres podem ter efeito tanto na diminuição do número de animais domésticos predados como no número de onças abatidas. A manutenção de ambos os monitoramentos é importante para verificar tendências populacionais ao longo do tempo e averiguar a efetividade do trabalho de mitigação de conflitos que será desenvolvido no futuro. Palavras chave: onça-pintada, Panthera onca, várzea, Amazônia, densidade, conflito.

5 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Capítulo I

Dinâmica Populacional da Onça-Pintada (Panthera onca) no Lago Mamirauá.

Introdução

A espécie alvo A onça-pintada (Panthera onca) é o maior felino das Américas, predador do topo da cadeia alimentar, e espécie-chave nos ecossistemas onde ocorre (Terborgh, 1988, 1990). Historicamente, a distribuição da espécie se estendia do sul dos Estados Unidos ao norte da Patagônia, na Argentina (Seymour, 1989). Hoje, está reduzida a 33% da distribuição histórica na América Central e 62% na América do Sul (Swank & Teer, 1989), apenas 46% de sua distribuição original (Sanderson et al., 2002). Com a exceção de animais em dispersão, foi extirpada do sul dos Estados Unidos, norte do México, sul da Argentina, entre outras regiões (Sanderson et al., 2002). Por existir em baixas densidades, ocupar grandes áreas, e necessitar de um número considerável de presas de grande e médio porte para sobreviver, a onça-pintada é uma das primeiras espécies de mamíferos a sofrer extinção local quando ocorrem alterações no ambiente (Arita et al., 1990). Por isso, é indicador da integridade ambiental (Leite, 2000). A extinção ou redução populacional da espécie tem efeito direto sobre a densidade de suas presas, e, a longo prazo, pode afetar indiretamente organismos aparentemente distantes tanto ecologicamente quanto taxonomicamente (Terborgh, 1988). As principais causas da diminuição da área de ocorrência da espécie são destruição de habitat e caça (Thornback & Jenkins, 1982; Mondolfi & Hoogesteijn, 1986; Swank & Teer, 1989; Quigley & Crawshaw, 1992; Nowell & 6 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Jackson, 1996; Perovic & Herrán, 1998), além da diminuição da densidade de suas presas (Emmons, 1987). O impacto destas atividades sobre as populações de onça-pintada varia regionalmente devido à diferença de habitat, abundância de presas e características culturais das populações humanas locais (Quigley & Crawshaw, 1992). Consequentemente, em muitas áreas a onça-pintada requer estratégias de conservação específicas, e abordagens regionais têm maiores chances de sucesso (Dourojeanni, 1980). Hoje, apesar de protegidas internacionalmente (IUCN, 2010), populações de onça-pintada continuam diminuindo (Quigley & Crawshaw, 1992). Além da maioria das populações estar insuficientemente protegida pelo atual sistema de reservas e parques nacionais da América Latina (Quigley & Crawshaw, 1992; Hoogesteijn et al., 1993; Nowell & Jackson, 1996), não existem informações sobre o status e ecologia da espécie em grande parte da sua distribuição (Sanderson et al., 2002).

O monitoramento da densidade de onças-pintadas A Amazônia tem a maior população de onça-pintada (Thornback & Jenkins, 1982) e atualmente, a Amazônia e o Pantanal, são as únicas áreas onde existem populações viáveis no Brasil (Fonseca et al., 1994). Estudos desenvolvidos na Amazônia brasileira com onça-pintada são escassos (Ramalho, 2006; Michalski et al., 2006), pretendemos neste trabalho aumentar o conhecimento acerca da ecologia desta espécie em ambiente de várzea amazônica. Programas de monitoramento populacional de longo prazo são fundamentais para detectar tendências populacionais e os fatores influenciando estas tendências. O monitoramento de parâmetros e tendências populacionais da onça-pintada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá não só contribuirá para o melhor entendimento da espécie e da dinâmica populacional na região, mas fornecerá base indispensável para o desenvolvimento de 7 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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estratégias eficientes de manejo e conservação da espécie na Amazônia e em outras áreas de sua distribuição.

Objetivos

O objetivo deste estudo foi levantar informações sobre a ecologia da onçapintada e dar continuidade ao monitoramento populacional no lago Mamirauá, abordando as seguintes questões: 

Estimativa da abundância e densidade populacionais de onças-pintadas;



Padrões de uso do espaço e do tempo;

Área de estudo A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM – 2° 51' S, 64° 55' W), está localizada a aproximadamente 70 km noroeste da cidade de Tefé, na parte ocidental da Amazônia central (figura 1.1). Toda a reserva é constituída de floresta de várzea, que é alagada sazonalmente (Sociedade Civíl Mamirauá, 1996). O clima é tropical úmido, com pluviosidade anual média de 2373 mm (Ayres, 1993). A RDSM cobre uma área de 1.124.000 ha entre os rios Japurá, Solimões e canal Auati-paranã (figura 1.1). Por ser formada inteiramente por floresta de várzea, possui uma biodiversidade única, abrigando várias formas da flora e da fauna com distribuições restritas, inclusive algumas espécies ameaçadas de extinção. Diferente de outras áreas, onde a fauna terrestre pode usufruir da várzea durante a seca e migrar para terras mais altas durante a inundação, na RDSM só as espécies arborícolas e/ou de boa capacidade natatória podem sobreviver, por que a área não é contígua a áreas de terra firme, ficando isolada destas por dois grandes rios e um canal.

8 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Figura 1.1. Localização da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Este trabalho foi desenvolvido na área do Ecoturismo, destacada em amarelo.

Métodos Para estimar a abundância e densidade populacionais foram usadas armadilhas fotográficas. Através do método de marcação e recaptura os dados obtidos com as armadilhas fotográficas podem gerar estimativas confiáveis de abundância e densidade para animais que possuem marcas que permitem a identificação de indivíduos (Karanth & Nichols, 2000). O monitoramento com armadilhas fotográficas foi feito nos arredores do lago Mamirauá, em uma área de uso do Programa de Turismo de Base Comunitária do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. As campanhas de armadilhamento foram sempre realizadas no período da seca, já que a área é inteiramente formada por florestas de várzea que sofrem alagamento sazonal. A campanha de 2009 teve duração de setembro a dezembro. Foram montados 17 pontos com armadilhas fotográficas (figura 1.2). Em cada ponto 9 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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de captura foram instaladas duas armadilhas fotográficas (figura 1.3) com uma isca de cheiro entre elas, composta de sardinha em conserva e ovos crus. Semanalmente todas as armadilhas foram verificadas para conferir o funcionamento e trocar pilhas e filmes, quando necessário. A campanha de 2010 teve duração de agosto a dezembro. A verificação das armadilhas foi interrompida por três semanas, entre setembro e outubro, devido a severa seca na calha do Rio Solimões, que tornou o acesso a área de estudo muito difícil. As armadilhas fotográficas usadas no ano anterior estavam quase todas apresentando mal funcionamento, de modo que só foi possível montar cinco pontos de captura. Para amostrar todos os locais armadilhados nos anos anteriores, foi feito um rodízio com as armadilhas fotográficas, que eram mudadas de lugar semanalmente. Foram considerados para a abundância e densidade, além dos indivíduos capturados com armadilhas fotográficas, os animais capturados em armadilhas de laço, em um estudo desenvolvido em paralelo para equipar onças-pintadas com rádio colares. As armadilhas de laço foram armadas concomitantemente com as armadilhas fotográficas em 2008, 2009 e 2010, usando as mesmas trilhas. Para detalhes sobre o método usado para a captura com armadilha de laço ver Cabral e colaboradores 2009. As armadilhas fotográficas foram dispostas aos pares nos pontos de captura para assegurar que os animais fossem fotografados dos dois lados do corpo, o que possibilita a identificação dos indivíduos. A identificação foi feita com base no padrão da pelagem dos animais, posto que cada indivíduo tenha um padrão diferente de pintas e rosetas (figura 1.4). A partir do histórico de capturas e recapturas dos indivíduos identificados, foi feita uma matriz de presença e ausência onde se atribuía 1 para presença e 0 para ausência. A abundância a princípio seria estimada com o uso do software livre CAPTURE. Além da estimativa de abundância, este programa calcula o erro 10 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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padrão da estimativa, a probabilidade de captura e realiza um teste para saber se o pressuposto de população fechada foi quebrado e indica qual o modelo de variação na probabilidade de captura mais se ajusta aos dados. Apesar da reconhecida importância de se considerar as variações na probabilidade de captura e da elegância das estimativas, o baixo número de recapturas restringe o uso do estimador de abundância do programa CAPTURE (Costa et al., 2005). Por conta do baixo número de capturas e recapturas, não foi possível fazer estimativas de abundância nos anos de 2009 e 2010. O tamanho da população na área amostrada foi então dado pelo número de indivíduos capturados em cada ano. A estimativa de densidade foi feita com base na abundância usando um buffer de 2,5 km em torno das armadilhas para calcular a área amostrada (figura 1.2). Esse buffer foi obtido com base na metade das distâncias máximas movidas pelos indivíduos (half MMDM). A área amostrada foi de 80,5km². A partir das fotografias foram registradas as sobreposições de área de uso entre indivíduos, e sempre que possível foi observado se as sobreposições envolveram animais do mesmo sexo ou de sexo diferente. As armadilhas fotográficas foram programadas para registrar a data e a hora em que as fotografias foram tiradas. A partir dos horários de captura foi determinado o período de atividade, utilizando os registros deste estudo em conjunto com dados de 2005, 2006, 2007 e 2008.

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Figura 1.2. Área amostrada por armadilhas fotográficas. As estações de captura estão representadas por quadrados pretos e o buffer mostra a área efetivamente amostrada, calculada por ½ MMDM.

Figura 1.3. Estação de captura, com um par de armadilhas fotográficas e isca de cheiro entre as armadilhas.

12 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Figura 1.4. Indivíduo de P. onca fotografado simultaneamente de ambos os lados do corpo, o que permite a correta identificação pelo padrão das rosetas.

Figura 1.5. Identificação do sexo de animais com base nas fotografias. Na foto de cima a fotografia de uma fêmea e na de baixo um macho.

13 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Resultados Foram capturados no total 13 indivíduos de P. onca, sete indivíduos em 2009 e seis indivíduos em 2010, sendo que destes, oito já haviam sido capturados em anos anteriores. No total foram 15 capturas e duas recapturas em 205 dias de amostragem. As tabelas 1.1 e 1.2 mostram o número de indivíduos capturados, bem como o número de capturas e recapturas ao longo do período de monitoramento, de 2007 a 2010. Tabela 1.1. Indivíduos de P. onca capturados ao longo do monitoramento, com o respectivo sexo e número de capturas por ano.

indivíduo sexo Grávida F Caolha F Kisser M Medroso Anjo F Caracol M Filhotona F Jandiá F Mamãe F Pingo M Ronaldo M Cara preta M Morde Câmera M Bola Preta M Iauaretê F Onix F Preto M 01 02 M 03 04 05 06 08 09 10 M total

2007 1 1 2 1 4 4 1 5 3 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 0 30

2008 2009 2010 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 2 0 3 1 1 2 0 1 2 1 0 3 0 1 1 1 1 5 0 0 2 0 0 3 2 0 1 0 0 1 0 1 0 1 0 0 0 1 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 27 9 6

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Tabela 1.2. Número de indivíduos de P. onca capturados, número de capturas, número de recapturas, densidade e número de dias de amostragem de 2007 a 2010.

n° de indivíduos capturados n° de capturas n° de recapturas estimativa do n° de indivíduos por 100km² n° de dias de amostragem

2007 16 30 14 10,6 195

2008 13 27 14 16 144

2009 7 9 2 8,7 93

2010 6 6 0 7,4 112

A abundância foi de sete indivíduos em 2009 e seis indivíduos em 2010. A densidade foi de 8,7 indivíduos por 100km² em 2009 e de 7,4 indivíduos por 100km² em 2010. O sexo foi identificado em todos os indivíduos capturados em 2009 e 2010, no total foram seis fêmeas e sete machos (figura 1.5). Não foram capturadas fêmeas com filhotes, mas em 2010 uma fêmea grávida foi registrada. Houve sobreposição de uso de área tanto para indivíduos de sexo oposto quanto para indivíduos do mesmo sexo (tabela 1.3 e figura 1.6). O período de atividade, embora predominantemente diurno, apresentou um padrão catemeral, que é caracterizado por períodos de atividade independentes do fotoperíodo (figura 1.7). Em um total de 90 fotografias com horário registrado obtivemos 37,8% de capturas no período da manhã, 26,7% de tarde, 23,3% de madrugada e 12,2% a noite (figura 1.8). 64,4% das capturas ocorreram durante o dia enquanto 35,6% ocorreram à noite (figura 1.9). Tabela 1.3. Sobreposição no uso das trilhas entre indivíduos por ano e por sexo.

estação de captura Trilha Guariba Trilha Iuiri Trilha Onça Trilha Jacaré Trilha Juruá Grande Trilha Pagão Trilha Apara Trilha Rato

2007 M F

1 1

2008 M F 2 1 1 2 3 2

2 1 1

2009 M F 2 1

2010 M F

1 2

2

15 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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a)

b)

Figura 1.6. Pontos de captura dos indivíduos de P. onca em 2009 (a) e 2010 (b). As figuras amarelas representam os machos e as vermelhas as fêmeas. Quadrados pretos – estações de captura; triangulo – Pingo; estrela 5 pontas – Jandiá; estrela 4 pontas – Anjo; losango – Caracol; círculo – Caolha; coração – Ônix; lua – Preto; raio – Mamãe; cruz – Iauaretê; cubo – Filhotona; pentágono – 10. O buffer representa a área amostrada.

16 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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12

nº de capturas

10

8

6

4

2

23:00 - 00:00

22:00 - 23:00

21:00 - 22:00

20:00 - 21:00

19:00 - 20:00

18:00 - 19:00

17:00 - 18:00

16:00 - 17:00

15:00 - 16:00

14:00 - 15:00

13:00 - 14:00

12:00 - 13:00

11:00 - 12:00

10:00 - 11:00

09:00 - 10-00

08:00 - 09:00

07:00 - 08:00

06:00 - 07:00

05:00 - 06:00

04:00 - 05:00

03:00 - 04:00

02:00 - 03:00

01:00 - 02:00

00:00 - 01:00

0

Figura 1.7. Horário de captura dos indivíduos de P. onca registrados por fotografias.

40

70 35

60 50 25

% de captura

% de capturas

30

20 15

40 30

10

20

5

10

0

0

madrugada

manhã

tarde

noite

dia

Figura 1.8. Número de registros fotográficos de P. onca no período da madrugada (23,3%), da manhã (37,8%), da tarde (26,7%) e da noite (12,2%)

noite

Figura 1.9. Número de registros fotográficos de P. onca no período do dia (64,4%) e da noite (35,6%).

17 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Discussão A densidade de P. onca encontrada neste estudo foi alta em relação a densidades descritas em outros trabalhos (tabela 1.4) (Schaller & Crawshaw, 1980; Rabinowitz & Nottingam, 1986; Janson & Emmons, 1990; Crawshaw & Quigley, 1991; Aranda, 1992; Crawshaw, 1995; Zuloaga, 1995; Nunez et al., 2000; Silveira, 2004; Silver et al., 2004; Maffei et al., 2004; Cullen et al., 2005; Soisalo & Cavalcanti, 2006; Paviolo et al., 2008; Payan, 2008; Silveira et al., 2010; Sollmann et al., 2011; Núñez-Pérez, 2011). Esta alta densidade provavelmente está associada a alta densidade de jacaré-tinga (Caiman crocodilus) e jacaré-açú (Melanosuchus niger) (Silveira, 2002; Botero-Arias, 2009), que são as principais presas na área de estudo (Ramalho 2006). Essas altas densidades de predadores de topo de cadeia são propiciadas pela alta densidade de peixes no lago Mamirauá, sendo um exemplo de regulação botton-up. As áreas de preservação integral e a proibição da pesca predatória na RDSM têm papel fundamental no suporte desse sistema. Tabela 1.4. Quadro comparativo de estimativas de densidade de P. onca, dada em indivíduos por 100km², em diferentes biomas e países. Pais Bioma Densidade - indivíduos por 100km² Referência Brasil Mata Atlântica 3,7 Crawshaw 1995 Brasil Mata Atlântica 2,22 ± 1,33 Cullen et al . 2005 Brasil Pantanal 2,9 Schaller & Crawshaw 1980 Brasil Pantanal 4 Crawshaw & Quigley 1991 Brasil Pantanal 6,7 ± 1,13 Soisalo & Cavalcanti 2006 Brasil Cerrado 0,29 Sollmann et al 2011 Brasil Cerrado 2 Silveira 2004 Brasil Amazônia 16 a 7,4 Este estudo Brasil Caatinga 2,67 ± 1,00 Silveira et al 2010 0,93 ± 0,2 a 1,74 ± 0,34 Paviolo et al . 2008 Argentina & Brasil Mata Atlântica Peru Amazônia 3,5 Janson & Emmons 1990 Colômbia Amazônia 4,5 a 2,5 Payan 2008 Colômbia Caribe - Floresta inundável 2,5 Zuloaga 1995 Belize Caribe - Floresta inundável 6a8 Rabinowitz & Nottingam 1986 Belize Floresta tropical 7,5 a 8.8 Silver et al 2004 México Floresta tropical 3,3 Aranda 1992 México Floresta tropical 5,3 Núñez-Pérez, 2011 México Chaco 1,7 Nunez et al. 2000 Bolívia Chaco 3,9 a 5,11 Silver et al 2004 Bolívia Chaco 1,8 a 5,3 Maffei et al . 2004 Silver et al 2004 Bolívia Amazônia 2,8

18 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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O aumento na densidade de 2007 para 2008, que passou de 10,6 ind/ 100 km² para 16 ind/ 100 km², pode ter tido influência do aumento da capturabilidade com o uso de trilhas. No ano de 2007 apenas um terço da área usada no monitoramento aproveitava trilhas já abertas, enquanto em 2008 todas as armadilhas foram postas em trilhas previamente abertas usadas pelo programa de Turismo de Base Comunitária do IDSM. Como os felinos usam preferencialmente trilhas nos seus deslocamentos (Karanth & Nichols, 2000; Silveira, 2004; Silver et al., 2004), o uso de trilhas para o armadilhamento aumentou a capturabilidade dos mesmos, introduzindo essa tendência na estimativa de abundância e na densidade. Já o decréscimo na densidade nos anos de 2009 e 2010 pode ser reflexo do mal funcionamento do equipamento usado para fotografar os animais. Não foram capturados filhotes e jovens. A alta densidade de indivíduos adultos e com território estabelecido deve forçar a migração de jovens para áreas adjacentes. Onças-pintadas são animais de hábitos solitários e territorialistas, a sobreposição de territórios é esperada entre machos e fêmeas, com o território de um macho sobrepondo em parte com o de fêmeas. Em recente revisão, Astete e colaboradores (2008) chegaram a um valor médio (reunindo vários trabalhos) de 16,5% de sobreposição de área entre fêmeas e 6% de sobreposição de área entre machos. Aqui registramos quatro sobreposições de área entre indivíduos de sexo oposto. Entre indivíduos do mesmo sexo houve três sobreposições entre território de fêmeas (uma delas foi entre mãe e filha, esta já independente) e cinco sobreposições de territórios de machos, sendo que em uma delas foram registrados três machos e uma fêmea usando a mesma trilha. Existe um trade-off entre o custo de defender um território sendo agressivo com invasores e o benefício de garantir um bom estoque de presas. Sabe-se que a alta concentração de presas, formando manchas de habitat ótimo, faz com que os predadores utilizem territórios menores (Sinclair 1989, 19 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Crawshaw & Quigley 1991). Essa alta concentração de recursos pode também fazer com que os indivíduos se tornem mais tolerantes com a sobreposição de território. Cavalcanti e Gese (2009) também encontraram grande sobreposição de área entre indivíduos e concluíram que as onças-pintadas podem ter um comportamento mais sociável do que previamente se acreditava. O período de atividade de onças pode variar de forma que coincida com o período de atividade das suas principais presas (Emmons 1987, Schaller & Crawshaw 1980, Crawshaw & Quigley 1991). De maneira geral os hábitos são predominantemente

noturnos

e

crepusculares

(Astete

et

al.,

2008).

Encontramos aqui um padrão de uso do tempo catemeral, ou seja, independente do fotoperíodo. Apesar de ter atividade registrada em todos os horários, as onças foram mais ativas no período da manhã e menos ativas no período da noite. As principais presas das onças na área são os jacarés (Ramalho, 2006), que têm atividade predominantemente noturna, contrariando o que seria esperado. É possível que para as onças seja mais fácil caçar jacarés durante o dia, quando estes estão menos ativos, do que durante a noite, quando vão para a água forragear. Os resultados, mesmo que preliminares, apontam para a importância da várzea, que mesmo sendo um ambiente alagável, comporta uma grande população de onças-pintadas. A manutenção do monitoramento dessa população é importante para verificar tendências ao longo do tempo. Concluímos que é importante para a conservação da espécie na Amazônia a proteção de áreas de várzea e de suas populações de onça e de presas, a exemplo do que foi feito na RDSM.

Bibliografia ARANDA M, 1992. El Jaguar (Panthera onca) en la Reserva de Kalakmul, Mexico: Morfología, Hábitos Alimentarios y Densidad de Población. Memorias 20 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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25 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Capítulo II Conflitos entre onças e populações tradicionais nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, AM.

O crescimento populacional e o conseqüente aumento na taxa de uso de recursos naturais e conversão de habitat aumentam a proximidade entre populações humanas e a fauna silvestre (Conforti, 2006; Walpole et al., 2003). A competição por espaço e recursos freqüentemente leva ao surgimento de conflito, que pode ser definido como situações em que o comportamento de uma espécie silvestre provoca uma ameaça direta e recorrente a subsistência ou segurança de pessoas, e, em resposta, a espécie passa a ser perseguida (Inskip & Zimmermann, 2009). Carnívoros de maneira geral e grandes felinos em particular são propensos a gerar relações conflituosas devido a predação de animais domésticos e, no caso de algumas espécies, ataques a pessoas (Macdonald & Sillero-Zubiri, 2002; Brown & Conover, 2008). É um problema complexo que deve conciliar as necessidades humanas e a manutenção de populações de felinos. Nesse cenário, diversos estudos têm abordado a questão e alguns têm proposto técnicas para minimizar esse tipo de conflito em diversas partes do mundo (Treves & Karanth, 2003; Hussain, 2003; Verdade & Campos, 2004; Marker et al., 2005; Treves & Naughton-Treves, 2005; Treves et al., 2006; Maden, 2004; Hoogesteijn & Hoogesteijn, 2008; Nelson, 2009; Dickman, 2010). Contudo o manejo apropriado do conflito depende de características locais, como o tipo de ambiente, as práticas de produção, a escala e o tipo de conflito e particularidades sociais, culturais e econômicas (Macdonald & Sillero-Zubiri, 2002; Maden, 2004). O manejo efetivo de conflitos entre humanos e felinos é justificado pelo status crítico de conservação de várias espécies (Chiarello et al., 2008; IUCN, 26 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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2010) e pelo custo infringido a populações tradicionais, já que perdas de rebanho podem ter um impacto severo na subsistência das mesmas (Marker et al., 2005; Treves et al., 2006).

Contextualização do conflito Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) é uma categoria prevista no Sistema Nacional de Unidades de Conservação que concilia a conservação de dada área com a manutenção de populações que tradicionalmente vivem nela e fazem uso de seus recursos naturais. As RDS Mamirauá e Amanã têm juntas uma área total de 3,474 milhões de hectares e abrigam uma população de cerca de 10.000 pessoas. Embora haja por parte das populações locais um entendimento e até um grau de comprometimento com a conservação da área das reservas, algumas espécies são perseguidas em razão de usos tradicionais, consumo, venda ilegal e conflitos. Em uma análise preliminar foi constatado que dentre os felinos que ocorrem na área das reservas, a onça-pintada e a onça-vermelha (P. onca e Puma concolor, respectivamente) são os que mais provocam prejuízos econômicos, causados pela predação de porcos, carneiros, bois, cães, patos e galinhas. Além do prejuízo com ataques a criações, os moradores temem ataques de onças, principalmente em relação a crianças. O abate anual de onças nas áreas focais1 das duas reservas foi estimado em 20,2 indivíduos de P. onca e 4,5 de P. concolor, com base em comunidades onde ocorre monitoramento de uso de fauna (Valsecchi et al., em preparação).

1

As Reservas dividem-se em duas áreas principais: uma área focal, onde foram iniciados os trabalhos de zoneamento e implementação de práticas voltadas ao uso sustentado dos recursos naturais e uma área subsidiária, onde o zoneamento e o manejo de recursos ainda estão em fase de acordo e implementação.

27 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Nesse contexto, a questão do conflito entre onças e populações tradicionais nas Reservas tem relevância para subsidiar tanto estratégias de conservação desses animais quanto planos de educação, informação e boas práticas de manejo de criações.

Populações tradicionais nas RDS Mamirauá e Amanã No século XVI o processo de ocupação colonial da Amazônia estimulou as uniões entre os imigrantes portugueses e a população indígena, dando origem a uma população rural com características próprias, denominada ribeirinha ou cabocla (Lima-Ayres, 1992). As missões católicas, a economia da borracha e as grandes levas de imigrantes nordestinos foram eventos que marcaram a ocupação da Amazônia e formação da sua sociedade rural (Lima-Ayres & Alencar, 2001). A região onde hoje se encontram as RDS Mamirauá e Amanã foi influenciada pela economia da borracha, que tinha como alicerce o sistema de aviamento. Com a decadência da borracha, muitos trabalhadores abandonaram as áreas de extração e formaram assentamentos que produziam lenha para navios a vapor e forneciam peixes, quelônios e peixes-boi para os “patrões”, em troca de produtos manufaturados (Lima-Ayres e Alencar, 2000; SCM, 1996). Nos anos 70 foi iniciado um processo de estruturação social dos assentamentos da região, promovido pelo Movimento de Educação de Base (MEB), seguindo o modelo de comunidades (Queiroz & Peralta, 2006). O termo "comunidade" refere-se aos assentamentos que aderiram à proposta do MEB, e que possuem uma liderança política eleita pelos moradores (Lima-Ayres & Alencar, 2000). Há ainda núcleos populacionais menores, não organizados segundo o modelo de comunidade, denominados sítios, e famílias que moram isoladas (SCM, 1996). Conjuntos de comunidades organizam-se na área em setores, que são unidades políticas formadas por um conjunto de assentamentos localizados próximos uns dos outros, que tomam decisões 28 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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conjuntas sobre o manejo dos recursos e questões políticas locais (Queiroz e Peralta, 2006). Durante a implantação das Reservas procurou-se fortalecer este tipo de organização, reconhecendo sua validez e incentivando a divisão e utilização de recursos naturais de acordo com este nível organizacional (SCM, 1996). No último censo realizado em 2006, a população residente e usuária da área focal da RDS Mamirauá eram de 5.076 pessoas distribuídas em 78 localidades, enquanto na área focal da RDS Amanã havia 3.259 pessoas em 69 localidades. A produção econômica é tipicamente camponesa, caracterizada pela combinação de uma produção doméstica para consumo direto e uma produção para venda (Peralta et al., 2008). A atividade que predomina como fonte de renda para as comunidades de terra firme é a agricultura, enquanto a pesca é predominante nas comunidades de várzea. Bovinos, bubalinos, suínos, ovinos e galináceos são criados em geral de forma extensiva para subsistência (exceto bovinos e bubalinos) e venda. Os rebanhos são familiares e compostos por poucas cabeças. Bovinos e bubalinos raramente são abatidos para consumo nas comunidades, na maior parte dos casos são mantidos como reserva monetária (Gambogi & Richers, em preparação).

Objetivos

O objetivo deste estudo foi iniciar o monitoramento de conflitos nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, através de uma caracterização quantitativa e qualitativa do conflito entre onças e populações tradicionais, assim como análise espacial e temporal da sua ocorrência.

29 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Área de estudo As RDS Mamirauá e Amanã localizam-se na região do Médio Solimões, Estado do Amazonas (figura 2.1), e têm respectivamente, 1,124 milhão e 2,35 milhões de hectares. A RDS Mamirauá está situada na confluência dos rios Solimões e Japurá. É inteiramente formada por florestas de várzea. O alagamento sazonal dos rios Solimões e Japurá causa uma elevação do nível d’água de dez a doze metros da estação seca para a cheia, anualmente. Esta dinâmica é originada pela sazonalidade das chuvas nas cabeceiras dos rios, que têm ampla área de captação, associada ao degelo do verão andino (Ramalho et al., 2009). A RDS Amanã está localizada entre a bacia do Rio Negro e o Rio Japurá. A maior parte da área é constituída por florestas de terra firme, mas também apresenta áreas de várzea e igapó. Figura 2.1. Limites das Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (rosa) e Amanã (laranja).

30 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Métodos

Neste trabalho foram amostradas as comunidades, sítios e isolados das áreas focais das reservas Mamirauá e Amanã, que somam aproximadamente 145 assentamentos. Para a caracterização do conflito foi elaborado um questionário semiestruturado,

abordando

as

seguintes

questões:

predação

de

animais

domésticos por felinos, abates, avistamentos e vestígios (pegadas e esturros) na área das comunidades, ataques a pessoas e captura de filhotes de felinos. Para cada evento são registrados o mês e ano de ocorrência, o local, a distância aproximada da comunidade, entre outros dados. Os questionários foram aplicados por comunitários, que foram devidamente treinados para fazer as entrevistas. As vantagens de contar com comunitários para aplicar os questionários é que eles sempre ficam sabendo de eventos envolvendo onças, os entrevistados ficam mais a vontade de passar informações e o envolvimento das comunidades com a pesquisa é maior. Inicialmente

foram

escolhidos

três

comunitários

para

aplicar

os

questionários, dois na RDS Mamirauá e um na RDS Amanã. Posteriormente, com o intuito de aumentar o número de coletores de dados e a área de abrangência da pesquisa, foram envolvidos comunitários que exercem a função de Agentes Ambientais Voluntários (AAV), credenciados pelo IBAMA. Foram feitas três reuniões com os AAVs para explicar o porquê dessa pesquisa e passar instruções sobre o questionário.

31 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Resultados

Entre agosto de 2008 e janeiro de 2011 foram feitas 115 entrevistas e nestas foram relatados 199 eventos: 74 avistamentos de felinos próximos a comunidades, 42 casos de animais domésticos atacados por felinos, 53 casos de pegadas ou esturro de felinos próximo a comunidades, 28 felinos caçados, 1 filhote de felino capturado e 2 ataque de felino a pessoas. Destes relatos obtidos com o questionário, 70% foram sobre conflitos com onças-pintadas e os outros 30% referentes a conflitos com onças-vermelhas (Puma concolor), maracajá-açú (Leopardus pardalis) e maracajá-peludo (Leopardus wiedii). Foram registrados 63 avistamentos de onças-pintadas. Destes, 76,2% foram de um indivíduo e 23,8% de mais de um indivíduo. A maior parte dos avistamentos ocorreu a menos de 100 metros das comunidades (figura 2.2). A cheia foi o período onde houve o maior número de avistamentos (22), seguido pela enchente (15), seca (14) e vazante (12) (figura 2.3) (os períodos do ano foram definidos de acordo com Ramalho et al., 2009). A maior parte dos avistamentos ocorreu durante o dia, foram 17 de manhã, 20 de tarde e 12 a noite (figura 2.4). Foram relatados avistamentos em 30 comunidades diferentes, em quatro delas houveram mais de cinco eventos: Boa Esperança, Bom Jesus do Baré, Jarauá e Vila Alencar. Os registros de vestígios foram no total 32, 17 referentes a pegadas de onças-pintadas e 15 referentes a vocalizações ou esturros. Houve pouca diferença no número de vestígios de onças-pintadas entre as estações, foram 10 na cheia, oito na enchente, oito na seca e seis na vazante. Foram reportados vestígios de onças-pintadas em 22 comunidades, e o número máximo de eventos por comunidade foi três (Boa Esperança, Vila Alencar e Repartimento).

32 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Figura 2.2. Porcentagem dos avistamentos de P. onca entre 0 e 100 metros de distância da comunidade, entre 100 e 1000 metros de distância e entre 1000 e 6000 metros de distância.

Figura 2.3. Número de avistamentos de P. onca por período do ano (cheia, vazante, seca e enchente).

33 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Figura 2.4. Número de avistamentos de P. onca por período do dia (manhã, tarde e noite).

21 indivíduos de onça-pintada foram abatidos, em 19 eventos. A maior parte dos abates ocorreu na estação seca (figura 2.5) e durante o dia (figura 2.6). Dos motivos alegados para os 21 abates, 14 foram por retaliação a predação de animais domésticos (figura 2.7), dois por medo, dois para se defender de ataques e três não tiveram motivo. A espingarda foi utilizada para o abate de 18 das onças, sendo que em cinco ocasiões foram usados cães para a caça, e em outras cinco foi usado o método de “espera”, onde o caçador encontra a carcaça do animal morto pela onça e espera ela voltar para comer. Duas onças foram abatidas com o uso de arpões. A carne das onças abatidas foi consumida em 43,75% das ocasiões. Seis couros e sete cabeças dos animais abatidos foram retirados e mantidos pelos caçadores, mas nenhum desses itens foi vendido (figura 2.8). Foram registrados abates em 17 comunidades, e o número máximo de abates por comunidade foi de dois, nas comunidades Ubim, São José, Santa Isabel e Jurupari. 34 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Figura 2.5. Número de indivíduos de P. onca abatidos por período do ano (cheia, vazante, seca e enchente)

Figura 2.6. Número de indivíduos de P. onca abatidos por período do dia (manhã, tarde e noite).

35 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Figura 2.7. Número de indivíduos de P. onca que foram abatidos por atacar animais domésticos e abatidos por outras causas.

Figura 2.8. Aproveitamento de partes dos indivíduos de P. onca abatidos, divididos em carne (para consumo humano), cabeça (crânio), couro e nenhum aproveitamento.

36 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Foram coletados 28 relatos de predação de animais domésticos por onças-pintadas (foram excluídos os relatos em que não se tinha certeza se o ataque tinha sido de onça-pintada). Destes, 10 ocorreram na cheia, oito na vazante, sete na seca e um na enchente (figura 2.9). 13 ataques aconteceram à noite, 10 à tarde e cinco pela manhã (figura 2.10). Dos animais predados, 65,5% eram porcos, 11,5% bois, 10,3% carneiros, 6,9% cães e 5,7% galinhas e patos (figura 2.11). Dos eventos de ataques relatados, apenas um envolveu animais criados confinados, todos os outros eram criados de forma extensiva (figura 2.13). Em 37,5% dos relatos de predação a onça foi morta em retaliação (figura 2.12).

Figura 2.9. Número de ataques de onças-pintadas a animais domésticos por período do ano (cheia, vazante, seca e enchente).

37 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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período do dia em que aconteceram os ataques

número de animais atacados

20

13 10 10

5

0 manhã

tarde

noite

período do dia

Figura 2.10. Número de ataques de onças-pintadas a animais domésticos por período do dia (manhã, tarde e noite).

Figura 2.11. Número de animais domésticos atacados por onças-pintadas por espécie.

38 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Figura 2.12. Porcentagem de onças-pintadas que foram abatidas após predar animais domésticos.

Figura 2.13. Porcentagem de animais domésticos predados por onças-pintadas que eram criados soltos e presos.

Apenas um caso de captura de filhote de onça-pintada foi relatado. A captura ocorreu na comunidade Vila Alencar, quando um grupo de crianças encontrou o filhote na mata e levou para a comunidade. O filhote foi posteriormente devolvido ao mesmo local da captura. Houve dois relatos de ataques de onças-pintadas a pessoas. Em um deles um comunitário relatou ter se aproximado demais de um filhote de onçapintada e a mãe atacou para defender o filhote. O outro relato foi de um comunitário que estava pescando e foi atacado, mas consegui se esquivar da onça pulando na água. Nenhum dos dois comunitários ficou ferido, mas as duas onças foram mortas. Das 32 comunidades que tiveram conflitos com onças-pintadas, 10 tiveram mais de 6 eventos registrados (tabela 2.1). Para fazer uma análise exploratória da relação entre os tipos de conflitos foi feita uma correlação de Spearman. Os avistamentos apresentaram correlação positiva com os vestígios (N=32, R=0,44, p=0,01) e as predações de animais domésticos também tiveram correlação com os vestígios (N=32, R=0,54, p=0,001). 39 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Tabela 2.1. Ocorrência de conflitos entre onças-pintadas e populações tradicionais por comunidade. As comunidades que tiveram mais de seis ocorrências de conflitos estão em negrito. Reserva Setor Comunidade avist. vestígios abates predação ataques captura total RDSM Mamirauá Vila Alencar 5 3 2 1 11 Sitio Promessa do Apara 2 1 1 4 8 Boca do Mamirauá 1 1 1 3 Tapiíra 2 1 1 4 Macedônia 1 1 1 1 4 Jurupari 2 2 1 5 Mateiro (isolado) 1 1 1 3 Sítio São José 1 1 2 Caburini 2 1 1 4 Jarauá Jarauá 5 1 1 7 Manacabi 1 1 2 Nova Colombia 1 1 2 Tijuaca Nossa Senhora de Fátima 2 1 3 Betel 3 3 Santa Maria do Cururu 1 1 São Francisco do Cururu 1 1 Barroso São José do Aparo 1 1 1 3 Aranapú Maguari 2 1 1 4 Pentecostal 1 1 2 Acará 1 1 RDSA Amanã Boa Esperança 6 3 2 11 Bom Jesus do Baré 8 1 9 Ubim 2 2 2 2 8 Santo Estevão 1 1 1 3 Bacaba 2 1 1 4 Nova Jerusalem 1 1 Calafate 1 1 São José São José 1 2 3 Repartimento 2 3 5 10 Varzea Alegre 2 2 1 2 7 Nova Samaria 3 2 1 2 8 Santa Isabel 2 1 2 1 1 7

40 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Discussão

Os resultados obtidos a partir do questionário são ainda preliminares, mas já apontam questões importantes para um trabalho posterior de mitigação de conflitos. Onças-pintadas

normalmente

apresentam

comportamento

elusivo

(Harmsen et al., 2010), e avistamentos em áreas florestadas são relativamente raros, visto que os animais costumam se afastar com a aproximação de seres humanos. O número de relatos de avistamentos e vestígios de onças-pintadas nas proximidades das comunidades sugerem que os animais estão sendo atraídos para essas áreas, provavelmente por causa da criação extensiva de animais domésticos. Os abates de onças-pintadas foram atribuídos principalmente a retaliações pela predação de animais domésticos. Outros dois fatores foram identificados como motivação para os abates, ambos ligados a percepção em relação as onças. O primeiro foi declarado em três ocasiões: o medo de ser atacado pelo animal. O segundo fator foram os abates onde não houve nenhuma motivação declarada, e que dá a entender que o motivo pode ser uma demonstração de força, em que o caçador se satisfaz subjugando um animal que ele reconhece como forte ou potencialmente perigoso. É interessante notar que o medo de ataque a pessoas também motiva os abates que são atribuídos a predação de animais domésticos, principalmente nos casos em que a predação ocorre na comunidade. Como foi o caso da comunidade Santo Estevão, na RDS Amanã, onde uma onça-pintada atacou duas porcas em baixo da escola da comunidade. A motivação declarada para o abate foi a predação dos animais, mas todas as famílias da comunidade ficaram apreensivas pelo ataque ter ocorrido em baixo da escola, onde circulam as crianças. Um estudo focado na percepção e atitude em relação às onças está 41 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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sendo preparado para entender como os comunitários vêem e reagem a esses animais, e o que pode ser trabalhado para diminuir o número de abates. Os relatos de predação de animais domésticos apontam questões importantes, que podem ajudar num futuro trabalho de mitigação de conflitos. A preferência por suínos, o fato dos animais serem criados de forma extensiva e dos ataques ocorrerem mais durante a tarde e a noite, sugerem que mudanças no manejo das criações podem reduzir o risco de predação. No entanto, soluções para proteger as criações de predadores devem ser economicamente viáveis e levar em conta a sazonalidade do ambiente, visto que a maior parte das comunidades estão em áreas de várzea. O caráter de pequenas criações familiares faz com que a perda de animais tenha grande impacto econômico e ao mesmo tempo limita o número de soluções economicamente viáveis. Estratégias desenvolvidas para minimizar a perda do rebanho para predadores, como cerca elétrica, luz elétrica nos currais, cães pastores, búfalos para proteger o rebanho, confinamento da criação, compensação financeira pelas perdas e controle letal (Clark et al., 1996; Marker et al., 2005; Distefano 2005; Treves & Naughton-Treves 2005; Sillero-Zubiri et al., 2006; Silveira et al., 2008; Hoogesteijn & Hoogesteijn 2008) dificilmente poderiam ser aplicadas no caso das RDS Mamirauá e Amanã, por questões práticas, financeiras e legais. É preciso um estudo aprofundado de como é feito o manejo das criações nas reservas e discussões participativas para pensar no desenvolvimento de tecnologias de boas práticas de manejo. O ataque de onças-pintadas a pessoas, apesar de ter ocorrência rara, é um ponto importante a ser trabalhado, porque uma pessoa ferida ou morta pode ter um acentuado impacto negativo na percepção e atitude local em relação as onças, e o reflexo disso seria o aumento no número de abates desses animais (Kruuk 2002; Quammen 2007). Dos dois relatos obtidos com o questionário, onde felizmente as pessoas envolvidas não ficaram feridas, um dos ataques ocorreu porque o comunitário se aproximou demais, por 42 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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curiosidade, de um filhote de onça. Já ouvi relatos (que não constam nas informações obtidas com o questionário) de ataques em que a onça é ferida e se volta contra o agressor. Para diminuir o risco de ataques de onças, pode-se produzir material educativo que explicite as situações de risco, para que os comunitários evitem confrontos com esse animal potencialmente perigoso. O relato de captura de filhote de onça-pintada foi um claro exemplo de situação de risco de ataque, pois o filhote foi pego por crianças e levado até a comunidade. Por sorte a mãe do filhote não estava por perto e o filhote foi devolvido em seguida, mas o risco que as crianças inadvertidamente correram foi alto. A captura de filhotes de onças-pintadas, embora só tenha tido um relato a partir das informações coletadas com o questionário, é um problema preocupante e recorrente. A criação de onças como animais de estimação em comunidades é prática que expõe a risco os comunitários (especialmente crianças, já que o porte e o habito de correr estimula o instinto predatório) e suas criações. Uma vez “adotado”, um filhote de onça não pode ser reintroduzido sem que passe por um longo, dispendioso e muitas vezes infrutífero processo de adaptação (Kelly & Silver, 2009), e acaba sendo encaminhado para Centros de Triagem de Animais Silvestres, que em geral não têm condições para receber esses animais. Por isso é importante orientar as pessoas para que essas capturas não aconteçam. A criação extensiva de suínos parece ser o principal ponto a ser trabalhado para diminuir tanto a predação de animais domésticos como os abates de onças e avistamentos e vestígios nas comunidades. Também foi possível identificar comunidades com maior incidência de conflitos com onças-pintadas, e as causas dessa maior incidência serão investigadas posteriormente.

43 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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Conclusões gerais A densidade de P. onca encontrada no entorno do Lago Mamirauá nos últimos quatro anos de monitoramento populacional, apesar de ter apresentado um decréscimo (provavelmente pela diminuição da capturabilidade por conta do mal funcionamento das armadilhas fotográficas), ainda é alta se comparada com outros estudos. O número de relatos de conflitos, especialmente avistamentos e vestígios próximo as comunidades, indicam que a alta densidade encontrada no lago Mamirauá pode ser extrapolada para a área das RDS Mamirauá e Amanã. O número de abates de onças-pintadas foi igualmente alto, mas aparentemente não resulta numa depleção significativa da população de onças. Isso pode ser devido ao fato das áreas amostradas serem contíguas a uma grande extensão de terra firme não habitada e protegida (que poderia formar um sistema source-sink com as áreas habitadas) aliado a alta disponibilidade de recursos alimentares. Apesar do abate de onças nessa situação específica não comprometer a manutenção da população de onças nas reservas, um trabalho de mitigação de conflitos teria importância para diminuir as perdas causadas pela predação de animais domésticos e diminuir os riscos da convivência tão próxima com esses animais. Para isso será preciso um estudo detalhado do rebanho doméstico e do manejo das criações nas comunidades e da percepção e atitude em relação às onças, além da manutenção do monitoramento do conflito para consolidar a caracterização do mesmo. A partir das informações geradas por esses estudos pode-se trabalhar a questão da prevenção de predações de animais domésticos, com a adoção de práticas de manejo que sejam viáveis logística e financeiramente. Aliado a isso seria necessária a produção de material informativo e educativo, com versão voltada para o publico adulto e infantil, 47 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá CNPJ: 03.119.820/0001-95 – Inscrição Estadual: Isenta Estrada do Bexiga, nº 2584 - Bairro Fonte Boa - CEP 69470-000 - Tefé/AM - Brasil PABX: +55-97-3343-4672 - FAX: +55-97-3343-4672 E-mail: [email protected] HOME-PAGE: www.mamiraua.org.br

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com intuito de melhorar a convivência, explicando a importância das onças para o sistema, os aspectos legais que envolvem o abate e a captura e explicitando as situações de risco, para que os confrontos sejam evitados.

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