Dinâmica Territorial da Indústria e da Circulação no Estado de São Paulo: O papel de Jundiaí

June 21, 2017 | Autor: Aline Oliveira | Categoria: Geography, Economic Geography
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Dinâmica Territorial da Indústria e da Circulação no Estado de São Paulo: O papel do município de Jundiaí.

Aline Oliveira Silva Universidade de São Paulo [email protected] Orientadora: Profª. Drª Mónica Arroyo

INTRODUÇÃO O Estado de São Paulo mostrou ao longo da história ser o mais industrializado da nação brasileira. Boa parte da indústria nacional e transnacional fixou-se em território paulista, principalmente na região metropolitana da capital. Esta concentração industrial contribuiu para a projeção hegemônica deste estado no conjunto da economia e das relações sociais brasileiras. O que não foi alterado com o passar dos anos, assim ele permanece como o mais desenvolvido, possuindo elevada concentração industrial, isto é comprovado pela exportação paulista que ainda corresponde a aproximadamente 35% da nacional, sendo a pauta basicamente de produtos industrializados e pelo fato de deter um terço da produção nacional e os setores econômicos mais modernos do país (ARROYO, 2004; SELINGARDI-SAMPAIO, 2009). Porém a indústria paulista vem nos últimos anos passando por transformações no que se diz respeito à estratégia territorial das empresas, que separam a planta industrial e a gestão empresarial em municípios distintos, em outras palavras, as empresas separam o parque industrial, o “chão da fabrica“, das sedes administrativas. (LENCIONI, 2003). Este processo chamado de “cisão territorial” não é uma novidade, mas segundo Lencioni (2003) o novo está presente no fato da ampliação da prática para outros territórios e no fato da gestão superior da empresa também se localizar fora da capital paulista, o que indica que outras cidades passam a desenvolver atividades que somente São Paulo desenvolvia. Segundo esta mesma autora o que vem ocorrendo é a formação de uma gigantesca mancha urbana, formando uma “região metropolitana desconcentrada“, enfatizando que está ocorrendo uma desconcentração da indústria e não uma descentralização, um processo de

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expansão da concentração, no qual a cidade de São Paulo se afirma e desenvolve sua centralidade, se inserindo como um nó na rede de cidades globais (LENCIONI, 2004). O que ocorre com a cisão territorial é a formação de um espaço industrial no interior do Estado, que acaba se posicionando como segundo “local” mais importante da indústria no Brasil, sendo, portanto superado apenas pela Região Metropolitana da capital paulista. Segundo Arroyo (2004) o processo de concentração e centralização do capital, que se aprofunda a passos largos, leva a uma acentuação do uso hierárquico do território na medida em que as empresas mais concentradas dispõem de maiores vantagens para usufruir das virtualidades técnicas e políticas oferecidas pelos lugares. O uso hierárquico do território é acentuado por meio da circulação, já que esta possui extrema importância no processo de formação e integração do mesmo (ARROYO, 2006). O conjunto de vias de transporte outorga fatores básicos para a localização industrial que levam a uma densidade de infraestrutura, capitais, pessoal especializado e fluxos de informação e de mercadorias que consolidam as decisões de localização (SPOSITO, 2007). A circulação leva à diferenciação de territórios, e sendo assim ela se torna tão importante quanto às condições de produção. Um território acaba recebendo “poder” político e econômico, por meio da circulação. Portanto, a circulação diferenciada do excedente, cria uma hierarquia entre os lugares (ARROYO, 2006). Com o capital concentrado na Região Metropolitana de São Paulo, e com a descentralização espacial das unidades de produção industrial, que são ligadas por meio da circulação, o jogo de forças políticas e sociais se altera, incidindo sobre o uso do espaço urbano e sobre as redes de relações na dinâmica econômica e nas dinâmicas territoriais das cidades de médio porte, instaurando um novo desenho estrutural que pode ser definido pelo paradigma dos eixos, nas áreas com maior densidade econômica, e pelo paradigma de área em locais de menor densidade urbana e econômica (SPOSITO, 2007). A integração das cidades médias e das cidades de porte médio, com as cidades de grande porte e a capital paulista ocorre devido às redes materiais, imateriais e aos circuitos produtivos, que ao se juntar com o fato da indústria da cidade de São Paulo estar se desconcentrando para o interior, através do processo de cisão territorial, leva a ocorrência de um território altamente urbanizado e homogêneo, pois segundo Selingardi- Sampaio (2009) a interiorização da indústria ocorre ligada a uma interiorização da urbanização

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fazendo com que as cidades médias e pequenas cresçam.

Surge um aglomerado

metropolitano de grande extensão que abrange áreas para além da Região Metropolitana de São Paulo, incluindo seu entorno que são as cidades densamente urbanizadas, como Campinas, Baixada Santista e regiões administrativas de Sorocaba e São José dos Campos. Neste entorno metropolitano são múltiplas as possibilidades de ocorrência e absorção de inovações e de consumo de serviços especializados sem se ter compartilhamento dos efeitos perversos do centro da aglomeração metropolitana que segundo Lencioni (2004) são os congestionamentos e os altos preços da terra. Dada a proximidade dos mercados fornecedores e consumidores, reduz-se os custos de transporte na distribuição e também aumenta o oferecimento de infra-estrutura, quer para dar suporte aos fluxos materiais, como aos fluxos imateriais de informação, que são fundamentais no processo de dispersão territorial da indústria, integrando capital e espaço, o entorno metropolitano se firma como importante região industrial do país (LENCIONI, 2004). É nessa região de elevada densidade industrial que concentram os ramos mais dinâmicos e inovadores da indústria brasileira; a indústria química, de material de transportes, material elétrico, de comunicação e de mecânica. Sobretudo, no núcleo dessa região: a Região Metropolitana de São Paulo e a de Campinas. E é neste contexto de criação de uma área fortemente urbanizada que a cidade de Jundiaí está localizada; sua presença entre as Regiões Metropolitanas de São Paulo e Campinas faz com que ela se torne um forte elemento na integração destas metrópoles, ajudando a formar um continuo urbano compacto.

OBJETIVOS

No contexto da industrialização e urbanização do Estado de São Paulo nas últimas décadas, nossa pesquisa tem por objetivo buscar compreender o papel que o município de Jundiaí representa para a indústria estadual e para a integração das cidades de Campinas e São Paulo, bem como, a análise das indústrias dos circuitos espaciais de produção de alimentos e de bebidas, presentes no município pois nele há um número significativo de unidades fabris destas produções, muitas das quais pertencentes a empresas multinacionais.

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Para isto, consideramos central estudar o papel dos circuitos produtivos na constituição dessa área densamente urbanizada bem como a relação destes com os eixos de circulação que a atravessam.

METODOLOGIA

A metodologia que utilizamos consiste em levantamento bibliográfico e de dados estatísticos, realização de trabalhos de campo com visitas à prefeitura da cidade de Jundiaí e as principais indústrias dos ramos de bebidas e alimentos, pois o município possui forte presença de indústrias nacionais e multinacionais, como a Coca-Cola e a AmBev do setor de bebidas e a Parmalat, a Vinagre Castelo, entre outras e a confecção de tabelas, gráficos e mapas que utilizaremos como ferramentas para a redação dos relatórios e textos sobre a temática. No presente trabalho focamos na apresentação dos resultados preliminares obtidos em nossa pesquisa que se encontra em estágio inicial. Estes resultados se baseiam no levantamento bibliográfico e de dados estatísticos realizados até agora.

RESULTADOS PRELIMINARES Como já observamos Jundiaí não fica de fora da grande área urbanizada, estando entre as duas metrópoles mais dinâmicas do estado de São Paulo (Campinas e São Paulo). O município possui um grau de urbanização de 92,83 %. Desde a primeira metade do século XX, a cidade descobriu sua vocação para a atividade industrial, o que perdura até hoje, pois o município possui um grande parque industrial. Participando ativamente da rede de produção industrial do Estado de São Paulo, pois abriga 918 indústrias, multinacionais e nacionais, de diversos setores, destacando-se a produção de bebidas, alimentos, louças e cerâmicas, papel e embalagens, máquinas e equipamentos, produtos químicos, entre outros, empregando formalmente 42.892. Em 2003, o valor agregado da indústria da região administrativa de Campinas, onde se localiza o município de Jundiaí, estava concentrado na Região de Governo de Campinas

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(66,5%) seguido da Região de Governo de Jundiaí (11,2%) o que nos mostra a importância do município, pois é ele o principal município da região de governo que leva seu nome (CANO, 2007). Além da atividade industrial o município também possui um dinâmico setor de serviços e comércio, bem como atividade agropecuária. Somando-se todas as empresas, dos diversos setores tem-se o total de 8.355 estabelecimentos que emprega 145.285 trabalhadores (Tabela 1).

Fonte: RAIS 2007 – Relação Anual de Informações Sociais/MTE – Ministério do Trabalho e do Emprego. (in: Guia do Investidor de Jundiaí). Tabela 1: DISTRIBUIÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS E DA MÃO DE OBRA FORMAL – 2007 % DOS SETORES

Nº ESTABELECIMENTOS

Nº EMPREGOS

EMPREGOS

FORMAIS

FORMAIS

INDÚSTRIA

918

42.892

29,52

CONSTRUÇÃO CIVIL

308

6.508

4,48

COMÉRCIO

3.687

35.180

24,21

SERVIÇOS

3.268

60.159

41,41

AGROPECUÁRIA

174

546

0,38

TOTAL

8.355

145.285

100,00

O PIB gerado no município é 11.294.33 bilhões de reais, correspondendo á 1,4% do PIB estadual, tendo o 10º maior PIB municipal do Estado de São Paulo e o 25º maior PIB municipal do país. O PIB per capita da cidade é de 32.397,00 reais, este aspecto econômico, segundo Fonseca (2010) revela que Jundiaí está a frente sobre todas as capitais do país, com exceção de Vitória/ES e Brasília/DF. Percentualmente, o PIB per capita de Jundiaí em 2006 foi 155% maior que o índice brasileiro; 92% maior que o índice da região Sudeste e 66% maior que o índice do Estado de São Paulo, conforme observado na tabela 2. A cidade de Jundiaí está localizada em um ponto estratégico para o escoamento da produção, possuindo uma excelente logística para abrigar indústrias e demais circuitos da economia.

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Tabela 2: PIB Per Capita em 2006 (R$) Área

Valor Total

Percentual*

Brasil

12.688

155%

Região Sudeste

16.912

92%

Estado de São Paulo

19.548

66%

Jundiaí

32.397

* Percentual de elevação de Jundiaí frente às outras áreas. Fonte: IBGE

O município é cortado por duas importantes rodovias estaduais, o sistema Anhangüera - Bandeirantes e a vinte quilômetros do Rodoanel Mário Covas facilitando o escoamento por meio do transporte rodoviário. Possui também um excelente contato com a malha ferroviária paulista, por meio da ferrovia Santos-Jundiaí que hoje é coordenada pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), sendo assim pode-se enviar produtos diretamente para o exterior por meio do Porto de Santos. Além desta excelente malha viária e ferroviária, por sua localização estratégica entre as cidades de Campinas e São Paulo, o município possui fácil acesso aos aeroportos de Viracopos, a trinta quilômetros da cidade, Congonhas, a cinqüenta e cinco de quilômetros de distância e Cumbica, com distância de oitenta quilômetros e também um aeroporto próprio, que recentemente foi incluído na rota aérea do país, apresentando vocação para a aviação executiva e manutenção de aeronaves, há neste aeroporto um hangar de uma famosa companhia aérea brasileira. Além destes meios de escoamento é possível utilizar a hidrovia Tietê- Paraná. Segundo Sposito (2004) a cidade de Jundiaí se integrada aos processos de aglomeração urbana não metropolitana que não se definiram entre as décadas de 1950 e 1980, mas sim a partir das décadas finais do século XX, época quando em várias dessas áreas urbanas não metropolitanas (Jundiaí, São José dos Campos, Guaratinguetá, etc.) se percebe a tendência à formação de tecidos urbanos em descontínuo e/ou com indicadores de dispersão territorial, isto pode ser observado na figura 1.

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Figura 1: Fonte: SPOSITO, M.E, 2004.

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Sendo assim, Jundiaí desperta como uma cidade dinâmica no meio de duas cidades extremamente urbanizadas, o município se integra a elas por meio da circulação de mercadorias, informação e comunicação, frutos do período de reestruturação produtiva e de desconcentração industrial. A cidade é incluída em uma extensa área metropolitana e industrial, pois se localiza no meio das regiões metropolitanas de Campinas e São Paulo, em um processo de metropolização do espaço, que imprime ao território características da desconcentração.

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regiões. O desafio

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Paulo:

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SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão, O Chão em pedaços; Urbanização, economia e cidades no Estado de São Paulo. Presidente Prudente, UNESP, 2004. (Tese apresentada á faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista, Campus de Presidente prudente, com vistas á realização do concurso de Livre Docência).

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