Dinamizar a biblioteca escolar com dispositivos móveis: um estudo com alunos do 9º ano de escolaridade

May 26, 2017 | Autor: Sónia Cruz | Categoria: Education, Mobile Learning, Biblioteca
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Dinamizar a biblioteca escolar com recurso a dispositivos móveis: uma experiência com alunos do 9º ano Sónia Cruz

Hugo Costa

Universidade Católica Portuguesa Campus Camões 4710 - 362 Braga

Universidade Católica Portuguesa Campus Camões 4710 - 362 Braga

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RESUMO

A presente comunicação dá a conhecer uma iniciativa levada a cabo numa escola do norte do país onde se procurou dinamizar o Projeto ‘Ler + com recurso a dispositivos móveis’, refletindo sobre a sua utilidade em contexto educativo. Este estudo preliminar foi desenvolvido durante o Mestrado de Ensino de Informática, realizado na Universidade Católica Portuguesa (Braga). De seguida, apresentam-se os objetivos para a utilização desta iniciativa, bem como a sua dinâmica. Descreve-se o estudo efetuado e reflete-se sobre os resultados obtidos enunciando as conclusões.

Palavras-chave

m-Learning, bibliotecas, Projeto Ler +, aprendizagem.

1. INTRODUÇÃO

A era em que vivemos é predominantemente constituída pela informação que circula em grande velocidade e quantidade. Mais do que nunca, a informação é um bem essencial. Esta sociedade exige uma formação permanente dos seus indivíduos, pois a informação cresce com rapidez e o que era novidade ontem pode não o ser hoje [1]. Encontramo-nos numa época de mudanças sociais profundas, em que a escola está a sofrer o efeito destas alterações e que trazem consigo novas necessidades educativas. Se as escolas e os professores não saírem da sua zona de conforto e alterarem as suas perspetivas e metodologias, poderão perder a essência da sua missão. Uma vez que os alunos com quem interagimos hoje, designados de nativos digitais, trazem a tecnologia no bolso e para quem os diferentes dispositivos móveis são mais do que meros acessórios, importa que se criem oportunidades para rentabilizar as tecnologias que os alunos trazem consigo o que implica que os professores têm de as dominar para se aproximarem dos jovens e destas novas tecnologias, a fim de proporcionarem aos seus alunos uma “digital wisdom” [2]. Nesse sentido, nesta realidade em que nos inserimos procurámos dinamizar na escola um projeto que designamos “Ler + com recurso a dispositivos móveis”. A nossa intenção visava revitalizar o espaço da biblioteca escolar ao mesmo tempo que pretendíamos dar a conhecer o uso de alguns equipamentos tecnológicos da mesma mas tendo como principal meta fomentar o gosto pela aprendizagem de conteúdos relacionados com autores e obras aconselhadas pelo Plano Nacional de Leitura (PNL). Apresentamos seguidamente o modo como os dispositivos

móveis podem desempenhar um papel de relevo na promoção de hábitos de leitura e, em particular, refletimos de que modo a biblioteca escolar pode rentabilizá-los, apresentado o projeto “Ler + com recurso a dispositivos móveis”. Seguidamente apresentamos o modo como estruturamos o estudo, as técnicas e instrumentos de recolha de dados para, posteriormente, analisarmos os dados mais relevantes e tecermos algumas conclusões, não deixando de refletir sobre as limitações do estudo.

2. DISPOSITIVOS MÓVEIS E A LEITURA

Como a informação é um bem essencial, para aprender a lidar com ela é fundamental desenvolver o gosto pela leitura. É através dela que o ser humano comunica, conhece e reflete sobre o mundo [3]. Porém, hoje em dia, ler não se limita à descodificação e reconhecimento das palavras, mas significa, essencialmente, compreender a mensagem escrita de um texto, tendo como finalidade a sua compreensão [4]. Como tal, o hábito de ler deve ser estimulado desde cedo, para que o indivíduo se consciencialize da sua importância, tornando-o num adulto culto, mais informado, dinâmico e crítico. Assim, a escola deve ter a preocupação de fornecer uma educação de qualidade promovendo o gosto pela leitura. Nesse sentido, a leitura não deve ser encarada como uma obrigação, mas como um prazer. De acordo com [5] “o verbo ler não suporta o imperativo” (p.11), pois pode tornar-se algo enfadonho. O Plano Nacional de Leitura, através de várias iniciativas, procura contemplar a população em idade escolar, desde a infância até à idade adulta promovendo o gosto e o hábito da leitura. De acordo com vários autores [6], a escola está desajustada da realidade revelando, os alunos, um desinteresse pelas atividades escolares tradicionais. Ora, sendo os alunos já frequentemente designados por vários autores como nativos digitais, o contexto escolar deverá ter em consideração a introdução de novas tecnologias nas práticas pedagógicas. Elas fazem parte do dia-a-dia dos jovens, funcionando como uma extensão do próprio corpo (telemóvel, ipad, ipod,..). De acordo com Moura [7], as tecnologias estão cada vez mais a criar novas oportunidades de aprendizagem que desafiam as instituições educativas tradicionais. Recentemente, as TIC começaram a fazer parte das iniciativas de promoção da leitura, como é o caso do Plano Nacional de leitura. As bibliotecas escolares, consideradas centros de conhecimento e de promoção de leitura e literacia, deverão acompanhar essas constantes mudanças para que a sua missão de formar leitores críticos e competentes seja cumprida. A biblioteca escolar pode e

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deve atuar como elemento de ligação entre a casa e a escola, a fim de promover hábitos de leitura. Com efeito, pensamos que aliar as vantagens pedagógicas dos dispositivos móveis às bibliotecas escolares, poderá ser uma forma de as rentabilizar para a promoção dos hábitos de leitura. Usando as diversas tecnologias existentes integradas num meio como uma Biblioteca Escolar, acreditamos que conseguiremos potencializar o ensino/aprendizagem dos alunos e trazê-los para um ambiente digital, que potencie a leitura bem como o espaço físico da biblioteca escolar.

3. O PAPEL DA BIBLIOTECA 3.1 A biblioteca escolar

Cada escola tem uma biblioteca e é nesse espaço que os alunos podem desenvolver o seu gosto pela leitura, visto aí possuir um vasto leque de livros para todos os gostos, tendos os alunos a liberdade de escolher um livro para ler de forma autónoma e sem a orientação do professor. É também um local que procura proporcionar um complemento e/ou aprofundamento das atividades realizadas em sala de sala de aula, desempenhando, a par disso, um papel importante na promoção dos hábitos de leitura [8]. Com o avanço das tecnologias de informação e das ferramentas da Web 2.0, somos da opinião que as bibliotecas escolares deverão adaptar-se a esta realidade e usá-las para, por um lado, incentivar os alunos a frequentarem esse espaço e, por outro, fomentar o gosto pela leitura, através do desenvolvimento de atividades que envolvam a leitura e a escrita. A biblioteca pode, pois, ser um espaço que agregue a era digital e os livros, sendo um “local implicado na mudança das práticas educativas, no suporte às aprendizagens, no apoio ao currículo, no desenvolvimento da literacia da informação, tecnológica e digital, na formação de leitores críticos e na construção da cidadania” [9].

Figura 1. Página Inicial do Site Na página inicial do website2, no menu superior, o aluno tem acesso às obras de leitura integral que a escola escolhera abordar, no presente ano letivo, bem como recursos variados, sítios com interesse e mais indicações sobre o projeto. O aluno tem a oportunidade de selecionar, de acordo com o ano que frequenta, as obras trabalhadas na disciplina de Português e propostos no PNL (v. figura 2).

Figura 2. Obras de leitura integral do 9.º ano

3.2 Real Biblioteca

Partindo do pressuposto que a biblioteca escolar está desajustada da realidade, que estamos na era do digital e da ideia que os alunos trazem no bolso uma panóplia de tecnologias, que fazem parte integrante do seu quotidiano, tal realidade fez-nos desenhar um projeto de modo a rentabilizar a biblioteca escolar da escola situada na localidade de Real (Braga). Esse projeto visa abrir as portas da biblioteca às tecnologias de informação tendo como objetivos: i) despertar a curiosidade, o interesse e o gosto pela leitura, ii) valorizar a importância das aprendizagens conseguidas apresentando conteúdo sobre autores e obras do PNL; iii) e valorizar o espaço da biblioteca e dos seus recursos.

Ao aceder a uma obra, o aluno tem acesso a uma pequena sinopse. No final dessa sinopse, visualiza dois ícones: “A Obra”, onde encontra a obra integral para leitura em formato digital; e o ícone “Saber +”, onde tem acesso a todos os recursos associados à obra escolhida, podendo-os explorar como complemento e extensão da leitura (v. figura 3).

3.3 Ler + na biblioteca da minha escola

A implementação do projeto designado por “Ler + com recurso a dispositivos móveis”, pressupôs a construção de um website para a biblioteca da escola (através da plataforma online e gratuita “SnackWebsites”1), estando todos os layouts otimizados quer para serem visualizados em computadores quer em dispositivos móveis (v. Figura 1). 1

Disponível em www.snacktools.com

Figura 3. Obras estudadas no 9.º ano de escolaridade Procuramos que esses recursos associados, atempadamente escolhidos/criados, fossem apelativos, fazendo com que o aluno tivesse interesse em aprofundar os conhecimentos sobre a obra em questão. A obra escolhida para desenvolver o presente estudo e que acedemos com os alunos através dos dispositivos móveis a 2

Disponível em http://bookreal.mobilewebpage.net

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estes recursos, na biblioteca escolar, em colaboração com o docente da disciplina de Português, foi “O Auto da Barca do Inferno” de Gil Vicente. Para aumentar o conhecimento dos alunos sobre a obra, apresentamos recursos áudio, vídeo e apresentações multimédia (v. figura 4) uma vez que estes recursos e estas ferramentas nos pareceram relevantes para a abordagem que prendíamos realizar. No entanto, a exploração da obra poderia ter contado com outro tipo de recursos. Assim, esta atividade pode noutras obras contemplar recursos diferentes (jogos, Caças ao Tesouro, “E-books”…).

Figura 4. Página “Saber + sobre Auto da Barca do Inferno” Esta atividade foi apresentada aos alunos através de uma ficha de trabalho em que, com os dispositivos móveis, tinham que aceder aos recursos já mencionados através da leitura de QR codes, criados para o efeito de modo a evidenciarem qual o tipo de recurso com que se iriam deparar na atividade (v. figura 5).

Figura 5. QR codes criados para os recursos de exploração da obra em estudo Como é possível observar na figura 4, no final dessa página, disponibilizou-se um Quiz com o objetivo de aferir, no final, os conhecimentos dos alunos sobre o autor e a obra trabalhada, havendo questões que estavam nos recursos associados e outras que foram trabalhadas na aula da disciplina de Português. Não se pretendia, pois, com esta atividade substituir a leitura da obra integral.

serviu para caracterizar os participantes do estudo, aferir os seus hábitos de leitura e a utilização de dispositivos móveis.

4.1 Caracterização dos participantes

A amostra foi constituída por 18 alunos, inseridos numa turma do 9.º ano, 12 do sexo feminino (67%) e 6 do masculino (33%); treze dos alunos têm idades compreendidas entre os 13 e os 14 anos e cinco alunos têm mais de 15 anos de idade. As respostas desse questionário inicial revelaram que a amostra tem um grande gosto pelas tecnologias em geral, que as utilizam no seu quotidiano, sendo que nenhum aluno afirmou não gostar de tecnologias. Em termos de leitura, a maioria da amostra (72%) refere que o espaço privilegiado dedicado à leitura é em casa. Da amostra, 28% afirma não gostar de ler. Para além disso, nenhum aluno referiu que lê na biblioteca da escolar. Isto vai de encontro às nossas preocupações do projeto: a necessidade de se promoverem atividades que dinamizem a biblioteca escolar com recurso às tecnologias para que contribuam, de igual modo, para o processo de ensino e aprendizagem dos alunos. Uma das tecnologias que pretendemos abordar no nosso estudo e que tem diferentes aplicações no contexto educativo foi a tecnologia de QR codes. Quando questionados sobre se conhecem essa tecnologia, apenas 18% dos alunos afirmaram saber o que são e para que servem. A maioria dos alunos (82%) afirmou desconhecer esta tecnologia e as suas potencialidades.

5.2 Descrição do Estudo

Para a concretização do estudo (de natureza qualitativa com algum tratamento quantativo) foi necessário criar o website, pesquisar e elaborar um conjunto de recursos multimédia que foram associados à obra, assim como os meios de acesso a esses recursos e o planeamento da atividade para exploração dos mesmos. Como recurso multimédia, criamos um ficheiro de áudio, onde se faz uma pequena apresentação da obra e o seu enquadramento nas obras de Gil Vicente, bem como contextualizando temporalmente e espacialmente a obra. Utilizamos uma apresentação multimédia disponível na Web, onde se apresenta a envolvência da obra e alguns elementos, nomeadamente, as personagens e as barcas e um vídeo, onde os alunos puderam visualizar uma animação com personagens da obra. Por fim, foi criado um Quiz3, com questões que envolviam informação desses recursos multimédia e conhecimentos adquiridos nas aulas de Português, aquando da lecionação dessa obra vicentina. Esse Quiz assumiu um caráter de jogo, uma vez que no final de todos os alunos terem respondido, a plataforma onde foi desenvolvido apresentou um ranking com as melhores pontuações e os melhores tempos por resposta (v. figura 6).

4. O ESTUDO

O presente estudo foi desenvolvido numa escola da periferia de Braga. Procuramos, essencialmente, desenvolver um dos espaços escolares fundamentais da escola – a biblioteca - , através da implementação de atividades que potenciam a leitura, ao mesmo tempo que se utilizavam e rentabilizavam os dispositivos móveis. Inicialmente os alunos preencheram um questionário inicial que

Figura 6. Plataforma Learning Quiz e Exemplo de Quiz 3

Disponível em http://www.learningquiz.org

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A atividade foi orientada através de uma ficha de trabalho (v. figura 7). Nela foram incluídos os QR codes de acesso a cada um dos recursos anteriormente referidos e as respetivas questões de cada recurso, tendo sido distribuída aos alunos, dispostos em grupos, nas mesas da biblioteca escolar.

Figura 7. Ficha de Trabalho com os recursos para exploração da obra Na biblioteca distribuíram-se as obras (em livro) pelos diferentes grupos, que incluíam no seu interior uma folha com o QR code de acesso ao website onde se encontravam disponibilizados os recursos (v. figura 8).

4.3 Técnicas e instrumentos de recolha de dados

As técnicas de recolha de dados utilizadas neste estudo foram o inquérito por questionário, a observação e a análise documental. Assim, foram criados dois questionários: o “Questionário Tecnologias Móveis”, lançado antes do estudo que procurou inquirir a amostra sobre os seus conhecimentos no que respeita ao uso de dispositivos móveis e aos hábitos de leitura; e o questionário “Saber + com Tecnologias Móveis”, preenchido no final do estudo e que visava inquirir a opinião dos participantes sobre a atividade desenvolvida, incidindo nos hábitos de leitura e no uso das tecnologias móveis. A grelha de observação permitiu registar notas relativas ao interesse na atividade, comportamentos e interações desenvolvidas, comentários, falhas técnicas, entre outros aspetos. Além desta grelha de observação, foi nossa intenção recolher num registo escrito a perceção que os alunos tiveram da atividade no que respeita ao uso dos dispositivos móveis para potenciar a leitura, incluídos nas obras analisadas na disciplina de Português. Com este instrumento, que designamos de ‘Memória descritiva’, pudemos ter uma noção escrita pelos alunos do que consideraram como interessante ou pouco interessante relativamente à atividade proposta. O objetivo era que os alunos respondessem livremente até porque a realização desta memória descritiva foi feito num momento posterior, tendo sido solicitado pelo professor de Português.

5. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS

Neste ponto reflete-se sobre os resultados obtidos através: a) do questionário “Saber + com Tecnologias Móveis”, que permitiu aferir a opinião dos participantes sobre a atividade desenvolvida, incidindo nos hábitos de leitura e a utilização dos dispositivos móveis; b) sobre os conhecimentos adquiridos, através de uma análise documental e c) a percepção dos alunos sobre esta atividade, através do instrumento “Memória descritiva”.

6.1 Análise dos Dados da Atividade

Figura 8. Recurso incluído em todos os exemplares da obra Após a distribuição das obras, através da folha dos QR codes no seu interior, os alunos puderam aceder ao site (via QR code) e foi-lhes dado tempo para a exploração e ambientação ao mesmo. Após esse momento inicial caracterizado pela novidade, os alunos deveriam explorar as diferentes ferramentas (v. figura 9).

Figura 9. Dinamização do Projeto “Ler + com recurso a dispositivos móveis” na biblioteca

Os alunos haviam sido inquiridos sobre quantas vezes, em média, iam à biblioteca da escola para ler um livro. A maioria dos participantes (72%) referiu que não ia; 22% respondeu que ia entre uma a duas vezes por semana; e 6% respondeu que ia entre 3 a 4 vezes por semana. Sentimos, pois, que haveria a necessidade de se dinamizar a biblioteca escolar e promover o gosto pela leitura. De acordo com os resultados, foi também possível observar que 72% afirmaram ter gostado muito e 28% afirmaram ter gostado da atividade em que o tablet/smartphone foi utilizado como meio de exploração de recursos associados à obra Auto da Barca do Inferno. Relativamente à questão sobre a contribuição dos recursos associados à obra através de QR codes, a grande maioria considerou que os recursos explorados contribuiu para conhecer melhor a obra (94%). Apenas um aluno referiu que os recursos contribuíram apenas em parte para conhecer melhor a referida obra (6%). Acerca da opinião dos alunos sobre se a atividade contribuiu para a aprendizagem, os alunos, em resposta aberta, referiram que através de atividades como esta a leitura pode ser divertida

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(28%); através das tecnologias é possível aprender (28%); aprenderam quando a obra foi pela primeira vez apresentada ao público (28%) (v. tabela 1). Tabela 1 – Aprendizagem proporcionada pela atividade "Auto da Barca do Inferno" (N=18) Com esta atividade sobre o "Auto da Barca do Inferno", aprendi: Fiquei a saber quando é que o Auto foi apresentado a público pela primeira vez

sendo que 22% dos alunos optariam por esse tipo de livros pelo facto de incentivar/orientar a leitura; 22% dos alunos consideram ser mais apelativo; 17% escolheriam um livro com recursos digitais por ser mais divertido; 11% por ser mais prático e outros 11% não emitiu opinião. Os recursos digitais associados a um livro é uma mais-valia pois como afirmam os alunos “incentiva mais à leitura” (004) e “cativa mais” (011).

f

%

5

28

A leitura pode ser divertida

5

28

Escolherias um livro com recursos digitais associados porque:

f

%

Pela tecnologia pode-se aprender

5

28

Incentiva mais a ler / orienta a leitura

4

22

Fiquei a perceber melhor os argumentos de defesa de cada personagem

3

17

4

22

Fiquei a conhecer mais sobre Gil Vicente

1

6

3

17

2

11

2

11

Acerca dos recursos utilizados, globalmente, as opiniões dos alunos foram mais a favor dos audiovisuais em detrimento dos escritos: 27% apreciou mais o vídeo; 25% o áudio; 21% gostou das imagens; 20% referiu o recurso textual e 7% mencionou as apresentações dinâmicas. Quando questionados sobre o uso das tecnologias móveis na escola como auxiliar da aprendizagem, os alunos, maioritariamente, encaram de forma positiva essa introdução em contexto educativo. A totalidade da amostra concorda que as tecnologias móveis podem servir como forma de consolidação dos conteúdos; 94% considera que podem contribuir para o aumento do gosto dos conteúdos; e 78% é da opinião que poderão contribuir para uma melhoria dos resultados escolares. Relativamente à questão se este tipo de atividades fosse mais usual na biblioteca os alunos seriam utilizadores mais assíduos, 78% respondeu afirmativamente. Assim sendo, o recurso às tecnologias móveis e aos QR codes, poderia ser uma forma de dinamizar esse espaço escolar reconhecendo neles capacidades que potenciem a aprendizagem (v. gráfico 1).

Gráfico 1 - Interesse dos alunos pela atividade e a sua influência na assiduidade da biblioteca (N=18) Acrescente-se que a opinião dos alunos sobre livros com recursos digitais associados é bastante favorável dado que 83% dos alunos aquando do momento da escolha de um livro para ler em casa, optaria por um com recursos associados em detrimento dos livros sem recursos. Numa pergunta de resposta aberta, as opiniões sobre essa escolha foram categorizadas de acordo com a tabela 2

Tabela 2 – Opção pela escolha de um livro com recursos digitais associados (N=18)

É mais apelativo É mais divertido É mais prático Não justifica

Em síntese, foi possível observar que este tipo de atividades pode, por um lado, potenciar a aprendizagem de uma forma divertida recorrendo ao que as novas tecnologias nos oferecem e, por outro, dinamizar a biblioteca escolar. Estamos em crer que se este tipo de atividades se expandir a outros livros e a outras bibliotecas o interesse dos alunos pela aprendizagem, nomeadamente, das obras referenciadas pelo Plano Nacional de Leitura pode aumentar.

6.2 Resultados obtidos pela análise documental

Para testar os conhecimentos adquiridos sobre a obra, procurouse analisar as respostas dos alunos às atividades que realizaram durante a implementação do projeto, que decorreu na biblioteca da escola. Assim, relativamente à primeira atividade, audição de um trecho, a totalidade da amostra respondeu acertadamente às três questões formuladas; na segunda atividade, visualização de uma apresentação, a totalidade respondeu acertadamente às primeiras três questões formuladas. No entanto, a última questão foi respondida erradamente por 11% da amostra. Na terceira atividade, visualização de vídeo, 89% dos inquiridos respondeu acertadamente e 11% (correspondente a dois alunos), responderam erradamente. No que concerne ao Quiz, que tinha a envolvência de um jogo, toda a amosta respondeu num tempo máximo de aproximadamente seis minutos, sendo que o mais rápido (e com pontuação mais elevada) demorou pouco mais do que um minuto. Em suma, os resultados foram bastante positivos pautando-se pela predominância das respostas corretas. De referir também que com base nos registos da grelha de observação, foi possível constatar o interesse dos alunos à medida que a atividade ia sendo explorada e que culminou com a realização do Quiz. Cremos que esse interesse se alia ao facto de ser uma novidade o uso deste tipo de tecnologias em aula, mas também pelos

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comentários dos alunos, particularmente, factos/curiosidades do autor e obra em estudo.

sobre

6.3 Memória descritiva Na semana seguinte à implantação do estudo na biblioteca da escola, foi proposta a colaboração da docente da disciplina de Português da turma envolvida no sentido de, na sua própria aula, solicitar aos alunos uma memória descritiva sobre a atividade que realizaram com os dispositivos móveis na biblioteca escolar sobre a obra “Auto da Barca do Inferno” de Gil Vicente. Das contribuições, um número significativo das respostas dos alunos foi de encontro ao entendimento que a biblioteca deveria dispor de um catálogo em que os livros tivessem recursos digitais associados para aumentar o seu entendimento sobre as obras: “se toda a biblioteca estivesse equipada com estes recursos atrairia mais gente para lá, pois são atividades diferentes e também mais interessantes” (003). “gostava de repetir esta experiência novamente mas também sobre a obra dos Lusíadas de Luís Vaz de Camões, aqueles episódios a ser representados por forma digital” (011). “foi muito interessante ver obras que naturalmente vemos em papel e podermos vê-las inseridas nas tecnologias. É sinal de que quem está a criar as inovações não se está a esquecer da aprendizagem dos jovens como nós temos que ter” (001).

6. CONCLUSÃO DO ESTUDO

Concluído o estudo, tornou-se possível obviar sobre as possíveis vantagens da utilização deste recurso em contexto educativo. Tornou-se evidente que, para os alunos, o facto de desempenharem uma tarefa a partir dos dispositivos móveis que costumam lidar no quotidiano foi, per se, motivadora. Este estímulo evidenciado pelos alunos certamente foi decorrente do efeito “novidade”, mas pelo empenho e dedicação manifestados pelos alunos cremos que pode ser uma mais valia para o professor tirar partido das tecnologias, nomeadamente, dos recursos móveis em contexto educativo, desde que desafiantes e adequados à faixa etária dos alunos. Acreditamos, também, que este projeto permite dinamizar a biblioteca escolar. Importa que se promovam mais atividades nesta área para se analisar qual o verdadeiro impacto no processo de ensino e aprendizagem de mais alunos. A par disso, verificou-se entusiasmo por parte dos alunos bem como uma interação saudável entre os alunos no espaço da biblioteca escolar, apesar de estar presente o espírito de competição. Através da análise documental, depreendemos que os resultados dos alunos foram muito satisfatórios, o que superou as nossas expectativas. Consideramos que os alunos se sentiram envolvidos e construtores, estamos em crer, da sua própria aprendizagem. Entendemos que esta aprendizagem se revestiu de grande significado para os alunos porque foi construída através da sua descoberta e nós, enquanto professores, ficamos agradados com os resultados deles nas atividades propostas.

7. LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Embora sendo a amostra demasiado reduzida, esta foi a disponível para a realização do estudo. Tratando-se de uma amostra de conveniência, o estudo efetuado deve ser encarado

preliminar pois é necessário que outras atividades do género se produzam a fim de se alcançarem resultados que sejam passíveis de generalizações. Tal implica que outras obras literárias com recursos digitais associados, outras bibliotecas reproduzam/melhorem as dinâmicas que aqui apresentamos para efetivamente se puderem tirar ilações mais sólidas sobre as vantagens associadas aos recursos digitais que amplificam o conhecimento de uma obra. Não obstante, estamos conscientes que esta associação de recursos às obras poderia levar a um facilitismo maior ao permitir o conhecimento (geral) da obra sem que para isso o aluno proceda à leitura da mesma. Este é um aspecto que precisa de ser melhor estudado e debatido para que o factor tecnológico não se sobreponha à aprendizagem. É necessário, pois, ter em atenção aos conteúdos que integram os recursos digitais de modo a evitar que esses recursos sejam “manuais de auxílio ao estudo” de uma obra que apresentam a sua síntese e ideias fundamentais, evitando que se leia a obra integral. Este assunto levanta-nos problemas de outra natureza que procuraremos discutir após a realização de mais estudos.

8. REFERÊNCIAS

[1] Meirinhos, M. (2000). A escola Perante os Desafios da Sociedade da Informação. Instituto Politécnico de Bragança: Encontro As Novas Tecnologias e a Educação. Disponível em: www.ipb.pt/~meirinhos/EscolaSI.doc (acedido em. 14/03/2013). [2] Prensky, M. (2011). From Digital Natives to Digital Wisdom. In Digital Natives to Digital Wisdom: Hopeful Essays for 21stCentury Education. Corwin. Disponível em: http://marcprensky.com/writing/PrenskyIntro_to_From_DN_to_DW.pdf (consultado em: 29/01/2013) [3] Menezes, I. (2010). Hábitos de leitura de alunos dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e impacto na aprendizagem: concepções de alunos, professores e professores bibliotecários. Disponível em: http://repositorio.uportu.pt/dspace/bitstream/123456789/365 /1/TME%20447.pdf (acedido em: 22/01/2013). [4] Cruz, V. (2007) Uma abordagem cognitiva da leitura. Lisboa: Lidel. [5] Pennac, D. (1993). Como um romance. Porto: Edições Asa. [6] Bonilla, M. (2002). As tecnologias e as transformações das práticas educativas. In M. Nistal, M. Iglesias e L. Rifón (eds.), Actas di IE2002 L6 Congresso Iberoamericano, 4V Simpósio Internacional de Informática no Ensino, 7 Taller Internacional de Software Educativo (CD-ROM). Servicio de Publicacións da Universidade de Vigo. [7] Moura, A. (2010). Apropriação do Telemóvel como Ferramenta de Mediação em Mobile Learning: Estudos de Caso em Contexto Educativo em Contexto Educativo. Tese de Doutoramento em Tecnologia Educativa. Braga: Universidade do Minho. [8] Silva, A., & Araújo, I. (2009). Auxiliar de biblioteca: técnicas e práticas para formação profissional. Brasília: Thesaurus.

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