DIRETRIZES PARA A PRESERVAÇÃO DE COBERTURAS METÁLICAS DO PERÍODO ECLÉTICO NO RIO DE JANEIRO

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DIRETRIZES PARA A PRESERVAÇÃO DE COBERTURAS METÁLICAS DO PERÍODO ECLÉTICO NO RIO DE JANEIRO

Carina Mendes dos Santos Melo (1); Rosina Trevisan M. Ribeiro (2) (1) Proarq FAU/UFRJ Rua Lauro Müller, 56/1005 – Botafogo; Tel.: (21) 2295-9021 e-mail: [email protected] (2) Proarq FAU/UFRJ Rua Valparaíso, 80/501 – Tijuca; Tel.: (21) 2204-2848 e-mail: [email protected]

RESUMO

A preservação de bens imóveis que constituem parte do patrimônio histórico e artístico brasileiro é uma preocupação que se mostra expressivamente presente nos dias atuais, gerando diversos debates e discussões acerca do tema. A permanência destes monumentos representantes de nossa cultura é de fundamental importância para a memória e identidade do país. Neste sentido, as ações de conservação e restauração nestes bens devem ter como princípio a manutenção da sua autenticidade. O conhecimento a respeito das técnicas construtivas de um determinado período torna-se essencial na delimitação destas diretrizes de intervenção, na medida em que possibilita ao profissional estabelecer a distinção entre os elementos que são originais da época da construção daqueles que foram fruto de modificações posteriores, além de obter conhecimento a respeito dos materiais. As coberturas com revestimentos metálicos são recorrentes na arquitetura eclética no Rio de Janeiro e constituem uma particularidade do estilo. As chapas metálicas apresentam certas particularidades na sua constituição, execução e desempenho que são dados importantes para o estabelecimento de diretrizes para a sua preservação. Deste modo, tem-se por objetivo revelar estas particularidades, apontando as principais causas da sua deterioração, os métodos de tratamento, a importância da conservação preventiva e alguns exemplos de restauração. ABSTRACT

The preservation of buildings that constitute part of Brazil's historical and artistic patrimony is a concern that shows itself to be very relevant nowadays, generating many debates and discussions concerning the subject. The permanence of these monuments that represent our culture is fundamentally important to the memory and the identity of the country. Therefore the conservation and restoration of these buildings must, firstly, be concerned with maintaining it's authenticity. Knowledge regarding the construction techniques of a certain period becomes essential in the delimitation of these intervention directives, in that it allows the professional to establish a distinction between the original elements from the period of construction and those that are fruit of later modification, as well as allowing the professional to obtain knowledge about the

materials.

The roofs with metallic coverings are recurrent in the eclectic architecture in Rio de Janeiro and constitute a particularitity of the style. The metallic plates present certain particularitities in its constitution, execution and performance that are important informations for the establishment of preservation directives. In this way, the objective is reveal these particularitities, pointing the main causes of its deterioration, the treatment methods, the importance of the preventive conservation and some examples of restoration.

1. INTRODUÇÃO

A arquitetura eclética que se desenvolve a partir de meados do século XIX e que se estende até princípios do século XX, possui expressiva presença na cidade do Rio de Janeiro, sobretudo devido à sua condição de capital, no primeiro momento do Império e posteriormente da República. Desta forma, as novidades chegavam primeiramente na capital, onde a população ávida por novidades, adotava como referência os padrões europeus, paradigmas de modernidade e civilidade.

O contexto político, econômico e social da época são propícios à difusão deste estilo. Caracterizado pelo excesso decorativo, o ecletismo introduz certas inovações técnico-construtivas e resulta num aperfeiçoamento geral nos diversos setores das construções. A modificação no modo de construir deve-se sobretudo à liberação da entrada de capitais estrangeiros, abertura que vem de encontro aos interesses dos países europeus que passam a exportar tecnologias para modernizar o país, e ao fim do trabalho escravo (em 1888) e início de uma política imigrantista, que introduz uma nova classe de trabalhadores assalariados e por conseqüência mais especializados. Neste contexto, as coberturas com revestimentos metálicos configuram uma das inovações técnicoconstrutivas da época, onde a mão-de-obra, dotada de um novo saber-fazer, já era capaz de empregar os novos materiais importados de forma sistemática. Devido ao elevado preço destes revestimentos, o seu uso limitava-se normalmente às residências das classes mais abastadas e edificações de maiores portes, onde tornavam-se um indício da importância social e econômica das pessoas ou funções que ali residiam.

2. AS COBERTURAS METÁLICAS

As coberturas com revestimentos metálicos eram empregadas mais comumente em telhados cônicos, piramidais, cúpulas, mansardas, entre outros, e eram normalmente estruturadas com peças de madeira ou de metais ferrosos, podendo ainda, apresentar uma combinação entre os dois sistemas. Os revestimentos externos são diversos e constituem o tópico que nos interessa nesta comunicação, por serem mais escassas as informações a respeito. Apesar de extensa variedade de formas e revestimentos que podem ser verificados nas coberturas ecléticas, trataremos aqui, somente, daquelas que empregam elementos metálicos.

Em geral, as chapas metálicas constituem coberturas mais leves, se comparadas àquelas de telhas cerâmicas e de ardósia, sendo necessário, portanto, um madeiramento menos reforçado para a armação dos telhados. Podem apresentar superfícies lisas e de acentuadas inclinações. Possuem elevado coeficiente de dilatação, exigindo que se deixem juntas livres ou de expansão, para evitar danos ao revestimento. Têm o inconveniente de serem boas condutoras de calor, tornando o ambiente que cobrem demasiado quente no verão e demasiado frio no inverno. No caso do Rio de Janeiro, talvez devido às elevadas temperaturas que se atinge no verão, as coberturas metálicas, em geral, limitaramse a cobrir pequenos trechos, como cúpulas sobre torreões, por exemplo.

3. PRINCIPAIS REVESTIMENTOS METÁLICOS EMPREGADOS

Dentre os revestimentos metálicos, aqueles mais utilizados em coberturas, e que serão aqui tratados, são o zinco, o chumbo e o cobre, que podem ser empregados na forma de chapas ou lâminas.

3.1 Zinco

O zinco é, dentre os metais aqui tratados, o mais leve e de preço mais acessível na época, podendo ser utilizado puro ou sob a forma de ligas, associado a outros materiais. Este material oferece vantagens tanto em relação às telhas cerâmicas e ardósias quanto a outros metais no que diz respeito ao peso por metro quadrado, permitindo acentuadas inclinações, devido à sua leveza. Seu coeficiente de dilatação linear é elevado, sendo necessário, nos seus detalhes de assentamento, prever encaixes que permitam a sua livre dilatação.

O zinco em contato com a atmosfera forma uma pátina branco-azulada, de característica protetora e de agradável aspecto estético. Esta camada protetora é constituída pelos carbonatos básicos de zinco, quando este metal é exposto a atmosferas secas e não poluídas, produtos que reduzem significativamente a velocidade da corrosão. Na presença do ar seco a estabilidade da pátina é acentuada e a camada de óxido de zinco formada é aderente, não porosa e protetora.

3.2 Chumbo De acordo com Pinheiro (s/d) o chumbo possui emprego mais restrito devido ao seu preço mais elevado em relação ao zinco e por ser ainda, expressivamente mais pesado que este. É preciso que a sua espessura seja significativa, para que este se possa cobrir de uma leve camada de óxido, evitando posterior degradação e para que possa dilatar e contrair sob as variações de temperatura, sem fender. O chumbo é quatro vezes menos tenaz que o zinco, fazendo com que, para obter igualdade de resistência, seja necessário empregar uma peça de chumbo quatro vezes mais grossa. No caso de revestimento em chumbo, a estrutura de armação do telhado precisa ser mais reforçada. Contudo, em termos de durabilidade, o chumbo é superior ao zinco, apresentando maior resistência a choques acidentais. Adapta-se mais facilmente aos forros de madeira, sendo necessário para a sua fixação um limitado número de colchetes ou orelhas. Seu peso é tal que o vento dificilmente levanta suas placas (PINHEIRO, s/d). Devem-se usar as chapas de chumbo com dimensões restritas, devido à sua expressiva dilatação, e com espessura bem proporcional. Estas são fixadas por meio de orelhas de ferro ou de cobre estanhado, sendo conveniente que sejam fixadas somente por um lado, para facilitar a sua livre dilatação. Assim, as soldaduras devem ser reduzidas ao mínimo, dando preferência às juntas de expansão livre, mas sendo necessário, podem ser executadas com solda ordinária (liga de chumbo e estanho) ou autogeneamente, isto é, de chumbo sobre chumbo (ibid.).

O chumbo é um metal tóxico, macio e altamente maleável, apresentando boa trabalhabilidade para o revestimento de coberturas. De coloração inicial branco-azulada, oxida-se quando exposto ao ar, formando uma pátina protetora de coloração acinzentada.

3.3 Cobre

O cobre é um metal que pode ser utilizado puro ou sob a forma de ligas com outros materiais, conferindo-lhe distintas propriedades químicas e físicas. Este material apresenta boa resistência e excelente maleabilidade, fatores importantes para os processos de dobra, redobra, encaixe e formas variadas a que se submetem as chapas ou faixas para dar conformidade às coberturas e telhados que se utilizam deste metal (SIMÕES, 1998).

O cobre quando exposto a condições atmosféricas (umidade, poluição, variação de temperatura) adquire coloração natural distinta, de acordo com as características do meio em que está inserido. A superfície do cobre em contato com o ar atmosférico se oxida lentamente e forma uma película protetora que mescla cobre (Cu) e óxido de cobre (Cu2O), entre os quais se processam reações químicas. Os gases presentes na atmosfera atuam sobre estes compostos, de modo que a ação do oxigênio, do dióxido de carbono e do anidrido sulfuroso, entre outros, formam sobre a superfície uma

película negra, mescla de óxido de cobre e sulfuroso de cobre, que cresce e, ao reagir com os sais presentes no ar, se transforma, formando uma pátina natural estável (ibid.).

Este processo se desenvolve por etapas, formando várias colorações, que se distinguem geralmente na forma de três películas básicas: a inicial, uma primeira capa óxida cor café mate e uma final verde água. O período de formação da pátina final é variável, em consonância com o clima ao qual o cobre está exposto. Em geral, este período varia de 4 a 6 anos em atmosferas oceânicas; de 8 a 12 anos em áreas industriais e urbanas agressivas; 20 anos em áreas urbanas normais e 30 anos em áreas montanhosas com pouca umidade atmosférica (ibid.).

4. PRINCIPAIS CAUSAS DA DETERIORAÇÃO

De um modo geral, os metais aqui apresentados constituem elementos duradouros, apresentando boa resistência mecânica, bem como aos agentes biológicos e ao fogo, sobretudo o cobre, que dentre os metais expostos é o que apresenta maior ponto de fusão (1.085ºC). Assim, entre as principais causas da deterioração apontamos a corrosão, a formação de pares galvânicos e os erros de construção.

4.1 Corrosão

Os metais apresentados constituem elementos estáveis que apresentam elevada resistência à corrosão. Formada a pátina, estes metais resistem a condições adversas, pois a camada oxidada funciona como uma proteção que impossibilita o prosseguimento da corrosão. Contudo, em alguns casos, sob determinadas condições ambientais, esta corrosão pode mostrar-se nociva, propagando-se e causando maiores danos ao metal.

Assim, o cobre, quando exposto a atmosferas com alto grau de salinidade, pode se apresentar mais ou menos transmutado em cloretos que se depositam sobre a camada de óxido. Os cloretos de cobre podem continuar a corroer-se e sob determinadas condições ambientais, acarretar na desagregação pulvérea do metal, fenômeno conhecido por doença do bronze. Neste caso, a pátina que se forma é então instável e se manifesta pelo aparecimento de pústulas finíssimas ou por indícios semelhantes às eflorescências (RIEDERER, s/d). A corrosão do chumbo também pode ser nociva quando são formados os carbonatos de chumbo. Atmosferas de alta salinidade e o contato com madeira de carvalho, onde a presença do ácido tânico segregado por esta madeira favorece a rápida formação dos carbonatos, podem apresentar o ambiente propício para a rápida corrosão. Além disso, o chumbo também é muito sensível ao ataque de gás carbônico, que pode provocar sérios danos quando não são tomadas as devidas medidas de conservação (ibid., s/d).

Dependendo da presença de determinadas substâncias na atmosfera, a corrosão do zinco também pode mostrar-se nociva, por originar outros sais básicos de zinco não tão protetores quanto os carbonatos. Em atmosferas úmidas e onde haja um confinamento da condensação da umidade atmosférica saturada de ácido carbônico, o ambiente pode não se tornar propicio à oxidação natural, acarretando num aumento acentuado da sua taxa de corrosão. Neste caso o produto gerado não protege a superfície, pois que não é aderente e se apresenta bastante poroso, sendo identificado através da presença de um pó branco – este processo é conhecido como oxidação ou corrosão branca (GENTIL, 1982). Ainda em relação ao zinco, Pinheiro (s/d) salienta que, para garantir sua duração, deve-se tomar algumas precauções, como evitar assentá-lo em madeira de carvalho úmida e com seiva que ataca o metal, assim como em ferro enferrujado ou gesso fresco.

4.2 Pares Galvânicos

O contato de dois metais diferentes em presença de um eletrólito, como a água ligeiramente ácida, produz entre eles um par galvânico, que resulta na destruição daquele metal mais eletronegativo.

Experimentalmente, estes processos concluem-se pela classificação eletrolítica dos metais mais usuais. Têm-se então, na escala de valores (índices) crescentes (SIMÕES, 1998): 1 – Alumínio

2 – Zinco

3 - Ferro

4 – Níquel

5 - Estanho

6 - Chumbo

7 - Cobre

Quando dois elementos da lista estão em contato, na presença de uma solução salina ou ar úmido, o metal que apresenta o índice mais baixo se corrói. A corrosão é tão mais rápida, quanto mais distantes se encontrem os metais na escala eletroquímica, sobretudo se o eletrólito for a água da chuva. Temos assim que, combinações como “cobre-ferro”, “zinco-cobre”, “chumbo-zinco”, “cobre-alumíno”, entre outros, usuais em coberturas, devem ser evitadas, sob risco de serem corroídas pelo metal de índice mais alto (ibid.).

4.3 Erros de execução

Erros de execução são passíveis de serem encontrados devido à tecnologia da época. Os viajantes admiravam o uso de determinado material em terras européias e queriam reproduzi-lo em suas residências e edifícios importantes, contudo, nem sempre se dispunha da tecnologia e mão-de-obra necessárias à correta execução. Assim, sistemas de encaixe, de impermeabilização e de escoamento podem apresentar soluções deficientes, que geram, por conseguinte, problemas de diversas naturezas. Intervenções descuidadas que se tenham feito posteriormente, em dissonância ao sistema original encontrado, também são possíveis fontes de patologias.

5. MÉTODOS DE TRATAMENTO 5.1 Corrosão

Se a pátina encontrada for estável, não é recomendável efetuar a sua retirada, pois além do aspecto estético e histórico, esta camada funciona, como já dissemos, como uma capa protetora. Assim, devese realizar apenas uma limpeza superficial com escovas, esponjas e água, se necessário. No caso do cobre, para a remoção da doença do bronze, existem dois meios de tratamento: um deixando a pátina e o outro removendo-a, conforme os procedimentos expostos por Riederer (s/d):

Deixando a pátina: o objetivo principal é a estabilização da pátina através da remoção da doença do bronze. Apesar de Riederer (s/d) apresentar três possibilidades, este autor refere-se basicamente a objetos, assim, para o caso de coberturas apresentamos apenas dois destes procedimentos, ressaltando que o segundo é mais conveniente, devido ao tempo de execução: •

Tratamento com sesquicarbonato de sódio - banhar a superfície com uma solução, constantemente renovável, de sesquicarbonato de sódio até efetuar a retirada de qualquer vestígio de cloretos (pústulas finíssimas ou indícios semelhantes às eflorescências), podendo este processo levar vários meses.



Tratamento com benzotriazol – segue o mesmo procedimento indicado, aplicando-se uma solução de benzotriazol com metanol. Tratamento realizado em curto espaço de tempo. Segundo Riederer, o conveniente para remover os cloretos é tratar inicialmente com sesquicarbonato de sódio e, a seguir, com benzotriazol, que funciona como uma camada de proteção.

Removendo a pátina: quimicamente, pode-se empregar soluções tanto ácidas (ácido fórmico, ácido cítrico, ácido tratárico) - podendo-se adicionar anticorrosivos para evitar que o metal se corroa -, como básicos (hidróxido de sódio, pirofosfato de sódio e naftol β). Além disso, também poderá remover-se a pátina com complexificantes à base de tetracetato de diamina de sódio e metileno. Para a remoção dos carbonatos de cobre utilizam-se: sal-de-rochela, um tártaro de sódio e potássio, ou glicol numa solução aquosa alcalificada com hidróxido de sódio. A escolha pelo procedimento mais adequado se baseará no estado de conservação da peça e dos agentes corrosivos presentes, devendo estes ser atentamente apreciados. Tais dados é que guiarão as

concentrações das soluções e o tipo de anticorrosivo mais indicado para cada situação, sendo sempre necessário contar com a consultoria de um profissional especializado. Após a limpeza do cobre, a superfície pode ser coberta com uma camada protetora de benzotriazol para evitar que se oxide ou que apresentem eflorescências. (ibid.).

Já para elementos de chumbo, Riederer (s/d) expõe quatro maneiras de se remover seus carbonatos, no entanto o autor também se refere a objetos. No caso de coberturas metálicas pode-se aplicar o tratamento electrolítico, que permite remover os carbonatos básicos de chumbo ou transmutá-los em chumbo; ou o tratamento com ácidos, que consiste na aplicação de ácido clorídrico diluído, que dissolve o carbonato, devendo-se seguir o tratamento com a aplicação do acetato de amônio para remover o óxido, se for o caso; ou o tratamento com complexificantes, que é a remoção com o uso de complexificantes, prestando-se bem o complexônio III.

No caso do zinco, quando a oxidação branca é detectada logo no início não há motivos para proceder à troca do material, visto que a corrosão é superficial e, eliminando-se os agentes causadores – a umidade elevada e as áreas confinadas – é possível evitar a sua continuidade. Nos estágios mais avançados de corrosão recomenda-se medir a espessura da chapa de zinco e verificar o estado do revestimento antes de se realizar a troca. No caso de superfícies galvanizadas, como medida de proteção, pode-se fazer a umectação das superfícies com óleo protetor, contendo inibidor de corrosão e providenciar uma cromatização após a galvanização (GENTIL, 1982).

5.2 Pares galvânicos

Os pares galvânicos devem ser evitados, contudo se for constatada a sua presença, o primeiro passo é avaliar a possibilidade de troca do material oxidado. Se não for possível evitar o contato entre pares galvânicos, um recurso é colocar entre ambos um elemento isolante, que pode ser, no caso do cobre, por exemplo, uma chapa de chumbo, uma camada de feltro asfalto ou uma pintura betuminosa. Contudo, no cobre, estes isolantes perdem sua função quando a água da chuva se faz presente nas chapas e passam para o outro metal, visto que resultará na rápida corrosão deste último (exceto se este outro metal for o chumbo – metal próximo ao cobre na escala eletrolítica) (SIMÕES, 1998).

A ação da umidade atmosférica e da água sobre o cobre forma os sais de cobre, que parcialmente lavados pela água das chuvas, podem entrar em contato com as calhas e condutores, de outro metal distinto, formando pares galvânicos e, acarretando então, num processo de corrosão. No entanto, o contrário pode funcionar bem: em uma cobertura de zinco, por exemplo, as calhas podem ser de cobre, contanto que se evite o contato direto entre os metais. Face ao exposto, deve-se evitar no caso das coberturas de cobre, o uso de calhas, condutores e outros acessórios, de materiais distintos, como o zinco, o alumínio, o ferro galvanizado ou fundido (SIMÕES, 1998).

Este é um fator importante a ser avaliado na restauração de coberturas metálicas, pois é preferível substituir um material de calha ou outro acessório, por exemplo, evitando a sua oxidação, do que manter o original, que pode acarretar em danos maiores. A preferência é a manutenção do material original das águas do telhado, aquele que visualmente é mais marcante no edifício como um todo.

5.3 Erros de execução

Os erros de execução devem ser minuciosamente analisados, a fim de determinar a real necessidade de se realizar a retirada de todo o revestimento metálico. Caso seja necessário proceder à retirada, os novos detalhes de encaixe, impermeabilização e escoamento devem ser atentamente estudados para que se resolva de forma satisfatória e definitiva os problemas detectados. No caso de ligas ou espessuras não satisfatórias que estejam incorrendo em danos às coberturas metálicas, a solução é a sua substituição por um material de qualidade superior que garanta a integridade física e mecânica do material por mais tempo. Por fim, caso a superfície da cobertura

metálica apresente pequenas lacunas, como furos e rachaduras, por exemplo, o fechamento destas poderá ser feita por meio de solda.

6. SUBSTITUIÇÃO INTEGRAL DO REVESTIMENTO

A substituição integral do revestimento só deve ser realizada em última instância, quando o mesmo se apresente demasiado frágil e deteriorado, não mais exercendo satisfatoriamente a sua função. Antes da retirada das chapas ou lâminas metálicas, deve-se realizar um levantamento atento dos tipos de encaixes realizados, recursos de escoamento e impermeabilização presentes, bem como os elementos acessórios empregados, analisando o estado de conservação dos mesmos e o desempenho efetivo dos detalhes encontrados.

A retirada das peças pode ser motivada pela substituição do material ou refeitura de detalhes construtivos, bem como pela necessidade de se proceder a uma restauração mais delicada nos elementos estruturantes. Assim, uma vez retiradas as peças metálicas, deve-se realizar uma minuciosa inspeção nestes elementos estruturantes, restaurando-os convenientemente. Caso sejam utilizadas as peças originais, deve-se procurar seguir os mesmos encaixes originais, salvo casos em que estes não estejam exercendo satisfatoriamente sua função. A substituição parcial ou integral deve ponderar alguns fatores, entre eles o coeficiente de dilatação, conforme já citado.

Os metais (zinco, chumbo e cobre), assim como todos os materiais, são sensíveis às variações de temperatura, se contraindo e se dilatando de maneira sensível. Nas coberturas, de um modo geral, esta variação torna-se menos visível, por serem empregados em superfícies relativamente extensas, contudo, as chapas ou faixas que a constituem, devem apresentar detalhes construtivos compatíveis com a necessária estanqueidade e impermeabilidade, deixando que as peças se movimentem livremente em todos os sentidos. Face ao exposto, deve-se evitar fixá-los diretamente à trama estrutural da cobertura ou ao suporte, seja por meio de pregos, parafusos ou outros sistemas que não permitam a suficiente movimentação, sob pena de provocar a degradação da cobertura, através do empenamento e/ou da ruptura das placas (SIMÕES, 1998). Deste modo, não se recomenda tampouco soldar ou impermeabilizar as juntas de dilatação, fatores que também impedem a sua livre movimentação.Segue abaixo uma tabela que orientará na adoção das folgas necessárias, representadas pelas juntas a serem previstas no detalhamento e execução de coberturas em cobre:

Um recurso importante na substituição de chapas ou lâminas metálicas é a execução da pátina artificial, obtida industrialmente por processos químicos, normalmente. No caso do cobre especificamente, este recurso é de suma importância, devido à cor peculiar que este adquire com o passar dos anos (verde água), marcando de maneira intensa a imagem do edifício. Deste modo, efetuar a substituição integral de toda uma cobertura de cobre em uma edificação histórica resultaria em um processo agressivo, visto que alteraria sua imagem “envelhecida”, sendo assim, a pátina artificial torna-se um recurso eficiente para este fim.

7. CONSERVAÇÃO PREVENTIVA

A conservação preventiva dos elementos metálicos de coberturas deve centrar as atenções nos processos de corrosão, pois que erros de construção e a existência de pares galvânicos requerem um estudo aprofundado de novos sistemas de fixação e encaixes, bem como de substituição de peças, sempre que necessário. Como todos os metais aqui tratados possuem a característica de formar uma pátina protetora na superfície, a conservação preventiva destes materiais deve buscar fornecer o ambiente propício à correta e contínua formação desta camada, sempre que possível.

Deve-se prever uma rotina de inspeção periódica às coberturas para prevenir boa parcela dos problemas referentes à corrosão nociva dos metais. No caso da pátina mostrar-se estável, apenas uma limpeza com escovas, esponjas e água, se necessário, já é suficiente para retirar produtos que acelerem por demasiado a corrosão. Na existência de pequenos furos e rachaduras, estes podem ser fechados por meio de solda.

8. EXEMPLOS DE RESTAURAÇÃO 8.1 Museu Nacional de Belas Artes: Proposta de Restauração das Cúpulas de Zinco

O MNBA possui duas cúpulas em zinco (fig.1), que estão simetricamente localizadas em relação ao eixo central do edifício. Devido aos acréscimos posteriores feitos no museu, estas cúpulas foram se isolando, de modo que, hoje as suas superfícies externas encontram-se escondidas à visitação do público. A técnica construtiva adotada consiste no emprego de placas de zinco com desenhos em relevo de escamas, assentadas de tôpo, ou seja, sem transpasse, sendo as juntas então soldadas.

Fig. 1 – Vista superior da cúpula em zinco.

Fig. 2 – Detalhe do estado de deterioração da chapa de zinco (cedida pela equipe do MNBA).

Estas placas se encontram em avançado estado de deterioração, devido principalmente ao elevado grau de corrosão presente, fator que já resultou inclusive em perda física do material (fig.2). Os trechos soldados constituem pontos mais suscetíveis à corrosão, e acarretaram assim em problemas de infiltração no interior da edificação. Além disso, as placas sem transpasse e soldadas não permitem que estas trabalhem, visto que alcançam uma rigidez considerável.

A solução encontrada consiste na substituição integral do revestimento, as novas placas feitas sob encomenda por uma empresa especializada, seguirão o mesmo modelo original encontrado de placas de zinco estampadas. Pretende-se modificar o sistema, apenas pela execução de um transpasse das placas com o objetivo de garantir uma melhor estanqueidade do conjunto, no entanto, as peças a princípio serão soldadas, a fim de manter a aparência original da cúpula. Como a soldagem poderá atribuir rigidez ao sistema, a equipe de arquitetura responsável pela preservação do museu vem estudando a possibilidade de executar juntas elásticas (com silicone) em alguns trechos da cúpula.

8.2 Teatro Municipal: Restauração das Coberturas em Cobre

O Teatro Municipal do Rio de Janeiro possui seu sistema de cobertura todo revestido por chapas de cobre, seja em telhados ordinários de águas (chamados pela equipe de arquitetura do Teatro de áreas planas), e em cúpulas ou rotundas (fig.3). Devido ao estado de conservação destes telhados, são freqüentes os problemas de infiltração no interior da edificação. Há algum tempo que se estuda a melhor maneira de restaurá-lo devido aos problemas detectados serem de elevada complexidade.

Fig. 3 – Vista geral do telhado do Teatro Municipal (cedida pela equipe do TM). Segundo o relatório resultante dos levantamentos executados foram quatro os principais fatores que resultaram no deficiente funcionamento do sistema de cobertura: 1. adoção de pequena inclinação em áreas que, devido aos sistemas de encaixes existentes, deveriam ser superiores; 2. má qualidade dos serviços feitos em intervenções passadas; 3. posicionamento errôneo dos encaixes; 4. ventilação interna dos forros deficiente. Diagnósticos e soluções propostas pelo grupo do Teatro Municipal: - Os encaixes entre as chapas de cobre são mal executados e não obedecem à forma adequada. Eles não deveriam ser rebatidos sobre as chapas, assim, para as áreas planas o ideal seria o sistema de transpasse duplo (figs. 4-6).

Fig. 4 – Junta de transpasse simples encontrada no Teatro.

Fig. 5 – Junta de transpasse simples com parafuso embutido.

Fig. 6 – Junta de transpasse duplo com parafuso embutido.

- O cobre utilizado nas chapas é normalmente de uma liga excessivamente maleável – ½ dura. A liga ideal seria a ¼ dura, no entanto, nas áreas que não apresentem problemas graves, não haveria a necessidade de se realizar a troca dessas chapas, as existentes poderia ser mantida.

- Em elementos como calhas e rufos foram encontradas chapas de cobre recozidas. Visto que o recozimento aumenta a maleabilidade, favorecendo o aparecimento de trincas e amassando facilmente, estas chapas deveriam ser substituídas. - Os impermeabilizantes aplicados a fim de minorar os problemas de infiltração não são adequados. Além de esteticamente ruins, impedem a respiração e dilatação da cobertura, ocasionando fissuras. As juntas de dilatação não podem ser soldadas nem impermeabilizadas. Assim, deve-se remover os carbolásticos e silicones aplicados e, caso não seja possível, deve-se retirar o trecho correspondente inutilizando-o e refazê-lo tal como o original, executando os transpasses adequados.

- Pregos e parafusos aparentes, expostos às intempéries, também não são adequados. Os encaixes podem ser refeitos de modo que estes elementos fiquem embutidos.

- O papel betuminoso aplicado sobre as placas precisaria ser revisto. Na França, para obter o isolamento emprega-se um tipo de feltro.

Os problemas encontrados no Teatro Municipal estão relacionados a questões de execução e, principalmente, às intervenções feitas posteriormente que modificaram significativamente certos detalhes construtivos. Segundo informação da arquiteta Marisa Assumpção, a proposta atual para a restauração se baseia na idéia de se substituir todo o revestimento de cobre, a fim de aplicar uma chapa mais dura, e executar os devidos encaixes em transpasse duplo. Para tanto, está sendo feito um minucioso levantamento da cobertura, inclusive dos ornatos com scanner 3D, para que, caso necessário, possam ser executados tal como o original.

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As cúpulas metálicas podem apresentar elevada duração quando a formação da pátina protetora acontece lenta e gradualmente, garantindo assim, uma camada oxidada superficial e homogênea. De modo geral, o que percebemos é que devido principalmente a variações no clima e a crescente agressividade do meio, devido aos altos índices de poluição, associado ainda, à falta de uma manutenção periódica, tem acarretado em altas taxas de corrosão nocivas aos metais de coberturas históricas, tornando-os mais frágeis. Além disso, são recorrentes os problemas provenientes de soluções técnicas pouco elaboradas, como sistemas de encaixes ineficientes, calhas subdimensionadas (estas talvez tenham se tornado ineficientes também devido às alterações climáticas) e a adoção de chapas de pouca espessura, muito maleáveis, sendo estas mais suscetíveis à corrosão. As intervenções posteriores também têm se mostrado muitas vezes danosas ao sistema, sobretudo pelo emprego de pregos e parafusos expostos às intempéries.

Assim, o que se percebeu nos dois exemplos expostos é que a solução encontrada tem sido a substituição integral do revestimento, a fim de reexecutá-lo com melhores recursos e soluções técnicas, para que se possa assegurar sua integridade física e estanqueidade por mais tempo. Por fim, apesar de ainda bastante empregados, soldas e carbolásticos, por exemplo, devem ser sempre que possível evitados pois que impedem as chapas de trabalhar ou configuram pontos frágeis à ação da corrosão.

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CADERNO de encargos nº15 (1989): Cobertura de cobre II. Rio de Janeiro: Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro. GENTIL, Vicente (1982). Corrosão. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Dois. 2ª edição.

PINHEIRO, Thomaz Bordallo (s/d). Biblioteca de Instrução Profissional: Acabamentos das Construções. Lisboa: Livraria Bertrand.

RIEDERER, Josef (s/d). Restaurar e preservar. Trad. J.M. Rebelo de Faria. Colônia: Instituto Goethe. SIMÕES, João Roberto Leme (1998). Tecnologia do cobre na arquitetura: cobertura de edifícios. São Paulo: Pini: PROCOBRE.

11. AGRADECIMENTOS

À equipe de arquitetura responsável pela preservação do Museu Nacional de Belas Artes;

À equipe de arquitetura responsável pela preservação do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em especial à arquiteta Marisa Assumpção.

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