DISCRIMINAÇÃO SEXUAL NO PROCESSO DE SELEÇÃO

May 27, 2017 | Autor: R. Periódico dos ... | Categoria: Dominação Masculina, Discriminação, Mão-de-obra Feminina
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FOCO:  Revista  de  Administração  da  Faculdade  Novo  Milênio.  

DISCRIMINAÇÃO SEXUAL NO PROCESSO DE SELEÇÃO Bruna Silva Marques Rodrigues1 Patrícia Moreira Silva2

RESUMO A discriminação da mão-de-obra feminina no processo de seleção é uma questão que requer aprofundamento sobre as condições que favorecem a permanência de práticas discriminatórias no mercado de trabalho. A metodologia adotada é a revisão de literatura, sobretudo, uma revisitação à obra de Pierrer Bourdieu, “A dominação Masculina”, de 2002. Identificou-se que ainda existe uma discriminação sexual mantida pela cultura marcada pela dominação masculina, o que ainda resulta na discriminação sofrida pela mulher no processo de seleção, ainda que de forma sutil. PALAVRAS-CHAVE: Discriminação; Mão-de-obra Feminina; Dominação Masculina.

1. INTRODUÇÃO Nos últimos 50 anos, muitas transformações ocorreram no âmbito econômico, social e demográfico, das quais alterou de forma considerável a força de trabalho familiar, sobretudo a mão-de-obra feminina. Dentre as mudança que geraram maior impacto, está a composição da família. O antigo formato do padrão pai, mãe e filhos deu lugar para mãe e filhos, pai e filhos, filhos independentes, etc. Outro ponto foi a diminuiçao da taxa de fecudidade. Com o processo de urbanização, redução na taxa de fecundidade e aumento do nível de escolaridade a mulher passou a assumir um papel ativo como força de trabalho. A partir desse momento, intensificado pela nova organização estrutural familiar, pelo aumento crescente de mulheres divorciadas e a ampliação do consumismo, as mulheres tiveram necessidade de trabalhar para manter o sustento de si mesma e de seus filhos, assim como colaborar na renda extra para o consumo de sua família.                                                                                                                         1

Graduada em Psicologia/FAVI, especialista em Psicanálise Clínica pela Associação Brasileira de Psicologia e discente do curso de especialização em Gestão de Pessoas da Faculdade Novo Milênio. 2 Graduada em Recursos Humanos pela Faculdade Novo Milênio e discente do curso especialização em Gestão de pessoas da mesma IES.  

 

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O Movimento Feminista, movimento social que defende a igualdade de direitos entre homens e mulheres em todos os campos, iniciou na Revolução Francesa, período que as mulheres foram encorajadas a se manifestarem contra a sujeição aos homens, isso nos âmbitos político, econômico, social, familiar, educacional, jurídico, entre outros. Segundo Probst (2008, p. 2), “no século XIX, com a consolidação do sistema capitalista inúmera mudanças ocorreram na produção e na organização do trabalho feminino”. Porém, mesmo alcançado essas conquistas continuaram sendo discriminadas. A partir da década de 1960 a mão-de-obra feminina cresceu, marcado por mais uma ação do Movimento Feminista que continuava lutando contra a discriminação da mulher em todos os âmbitos da sociedade e, principalmente, no mercado de trabalho. As discriminações mais sofridas pelas mulheres no mercado de trabalho em relação aos homens são as desigualdades salariais, desigualdades relacianadas a função exercida, sendo elas vistas como tendo capacidade intelectual inferior, menor disponibilidade às necessidades da empresa, o que contribui para a (re)construção de uma imagem feminina fragilizada. Nos processos de Recrutamento e Seleção das empresas, em geral, é observado essa discriminação pelo profissional responsável que realiza a seleção de pessoas. Esta visão é mantida pela cultura de uma sociedade machista construída no decorrer dos anos. Nesse sentido, o presente trabalho3 pretende desenvolver uma reflexão crítica a respeito da discriminação contra a mão-de-obra feminina no processo de seleção, considerando que o aprofundar do conhecimento sobre as condições que favorecem a permanência de práticas discriminatórias no mercado de trabalho corroboram para a conscientização que tais práticas devam ser combatidas. A metodologia do presente trabalho está fundada em dois elementos que se entrelaçam: uma breve revisitação de literatura, sobretudo às contribuições de Pierre Bourdieu e a vivência                                                                                                                         3

  Agradecemos ao professor Cristiano das Neves Bodart pela orientação dispendida para que pudéssemos desenvolver o presente artigo.   Vol.6.  nº  1,  Novembro  de  2013.  

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e percepção das autoras do presente artigo que vem vivenciando quotidianamente o processo de recrutamento. O artigo está dividido em cinco (05) seções, sendo a primeira a presente introdução. Na segunda parte é apresentado algumas das fases da discriminação. A terceira parte objetiva discutir brevemente o tema “a mulher no mercado de trabalho” e algumas de suas dificuldades provocadas pela discriminação sexual. Na quarta parte desse artigo é realizado uma discussão referente a discriminação sofrida pelas mulheres no processo de recrutamento profissional. Por fim, na quinta parte, são realizada as considerações finais.

2. AS DIFERENÇAS ENTRE OS SEXOS E AS FACES DA DISCRIMINAÇÃO De acordo com o Artigo 5º da Constituição Federal Brasileira, “todos são iguais perante a lei”, e mais adiante no inciso I, “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”, porém, a nossa história nos mostra que ainda não foi possível colocar esta lei em prática. Desde o início da humanidade o homem se colocou numa posição de dominação, presume-se que, originalmente, o homem tenha dominado a mulher pela força física. Os primeiros homens utilizavam dessa força para impor sua liderança sobre a mulher. É observado que nas escrituras biíblicas que a mulher foi criada a partir da costela de Adão, o que sugere que a mulher pertence ao homem e que seu surgimento se deu para agradar a ele. No decorrer de toda a história a mulher culturalmente foi vista como submissa, frágil, dócil, companheira. Tal visão foi mantida pela dominação masculina. Desde bebês, os homens e mulheres são criados de forma diferenciada. Os homens aprendem desde cedo a ter uma postura ousada, como por exemplo, o tipo de brincadeiras que sempre foram mais desafiadoras, voltadas para um comportamento mais agressivo e dinâmico, postura física, como por exemplo, sentar-se com as pernas abertas, aceitação dos pais em relação a superioridade do orgão sexual  

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masculino e incentivo do apelo pela razão e menos da emoção, como por exemplo, o homem não pode chorar. É notado que os homens desde muito cedo aprendem a ter uma postura de liderança, incentivado pelos pais, escola e sociedade para garantir no futuro o desempenho da sua função de provedor. [...] Ser homem, no sentido de vir, implica um dever-ser, uma virtus, que se impoe sob a forma do “é evidente por si mesma” sem discussão. Semelhante a nobreza, a honra – que se inscreveu no corpo sob forma de um conjunto de disposições aparentemente naturais, muitas vezes visíveis na maneira peculiar de se manter de pé, de aprumar o corpo, de erguer acabeça de uma atitude, uma postura, às quais corresponde uma maneira de pensar e de agir, um éthos, uma crença etc. – governa o homem de honra, independentemente de qualquer pressão externa (BOURDIEU, 2002, p. 31).

A mulher por sua vez, mediante a construção da sociedade machista, deve ser preservada, protegida, resguardada. Enquanto criança as brincadeiras devem ser contidas, não é valorizado o seu orgão sexual, pelo contrário, qualquer menção feita pode provocar punição e perda de prestígio. A virgindade era algo muito importante e determinava o futuro da mulher (isso ainda é realidade dentre muitos grupos sociais), como por exemplo, ser vista como prostituta se não fosse mais virgem, podendo ainda não casar por conta disso, sendo até difamada publicamente na sociedade deixando de ser respeitadas. O comportamento desde muito cedo devia ser moderado, a postura física da mulher sempre tende a ser submissa, como por exemplo, andar de cabeça baixa, não olhar nos olhos, sentar-se de pernas fechadas. Os cuidados com a mulher também são diferentes, não podem dormir, brincar ou tomar banho junto com os meninos. [...] A diferença biológica entre os sexos, isto é, entre o corpo masculino e o corpo feminino, e, especificamente, a diferença anatômica entre os orgãos sexuais, pode assim ser vista como justificativa natural da diferença socialmente construída entre os gêneros e, principalmente, da divisão social do trabalho (BOURDIEU, 2002, p. 10).

Com relação a essa diferenciação culturalmente atribuída, afirma Bourdieu que, [...] A força particular da sociodicéia masculina lhe vem do fato de ela acumular e condensar duas operações: ela legitima uma relação de dominação inscrevendo a em um natureza biológica que é, por sua vez, ela própria uma construção social naturalizada (BOURDIEU, 2002, p. 16).

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A identidade social da mulher, assim como a do homem, é construída através da atribuição de distintos papéis, que a sociedade espera ver cumpridos pelas diferentes categorias de sexo. A sociedade delimita, com bastante precisão, os campos em que pode operar a mulher e o homem. O homem é considerado o provedor das necessidades da família. Ainda que sua mulher possa trabalhar remuneradamente, contribuindo, desta forma para o orçamento doméstico, cabe ao homem ganhar o maior salário a fim de se manter no papel de chefe. A socialização dos filhos, por exemplo, constitui tarefa atribuida às mulheres. Mesmo quando a mulher desempenha uma função remunerada fora do lar, continua a ser responsabilizada pela tarefa de cuidar e preparar os filhos para a vida adulta. Segundo Loureiro e Cardoso (2008, p. 227), “as próprias mulheres parecem aceitar muito bem essa desiqualdade de papéis ao nível familiar”. A subordinação da mulher é um fenômeno que atravessa todas as classes sociais, sendo legitimada também por todas as grandes religiões. No ambiente de trabalho as mulheres sofrem mais estresse do que os homens, porque, geralmente, exerce dupla jornada, no trabalho e em casa. Segundo Probst (2008, p. 04) “as mulheres dedicam-se tanto ao trabalho quanto o homem e, quando voltam para casa, institivamente dedicam-se com a mesma intensidade ao trabalho doméstico”. A família sofreu grande transformação no último século, as famílias tradicionais formadas por mãe, pai e filho tiveram outras formatações, mudanças como: divórcios, união de homossexuais, independência dos filhos, diminuição das familias extensas, uso de métodos contraceptivos, migração das familias do campo para as cidades, aumento do nível de escolaridade, acesso às informações e principalmente o próprio movimento feminista permitiram maior inserção da mulher no mercado de trabalho. [...] Em 1991, a renda média das brasileiras correspondia a 63% do rendimento masculino. Em 2000, chegou a 71%. As conquistas comprovam dedicação, mas também necessidade. Em 1991, 18% das famílias eram chefiadas por mulheres. Segundo o Censo, essa parcela subiu para 25%.

 

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Das 10,1 milhões de vagas de trabalho abertas entre 1989 e 1999, quase 7 milhões acabaram preenchidas por mulheres. As pesquisas revelam que quase 30% delas apresentam em seus currículos mais de dez anos de escolaridade, contra 20% dos profissionais masculinos (PROBST, 2008, p. 03).

No decorrer dos anos a dominação masculina ocorreu de forma imposta e vivenciada, muitas vezes imperceptível para suas próprias vítimas – as mulheres. A violência simbólica, suave, insensível e invisível atuaram nas vias simbólicas da comunicação, do conhecimento e até em nível inconsciente. A sociedade investe na naturalização deste processo. Isto é, tenta fazer crer que a atribuição do espaço doméstico à mulher decorre de sua capacidade de ser mãe. De acordo com este pensamento, é natural que a mulher se dedique a afazeres domésticos, compreendida a socialização dos filhos, como é natural sua capacidade de conceber e dar à luz. E por sua vez, a mulher se torna frágil, dócil e fraterna, essas características rotuladas as mantiveram reféns do preconceito nesta sociedade. [...] Uma “história das mulheres” que faz aparecer, mesmo à sua revelia, uma grande parte de constância de permanência, se quiser ser consequente, tem que dar lugar, e sem dúvida o primeiro lugar, à história dos agentes e das instituições que concorrem permanentemente para garantir essas permanências, ou seja, Igreja, Estado, Escola etc., cujo peso relativo e funções podem ser diferentes, nas diferentes épocas. Tal história não pode se contentar com registrar, por exemplo, a exclusão das mulheres de tal ou qual profissão, de tal ou qual carreira, de tal ou qual disciplina; ela também tem que assinalar e levar em conta a reprodução e as hierarquias “profissionais, disciplinares etc.”, bem como as pré disposições hierárquicas que elas favorecem e que levam as mulheres a contribuir para sua própria exclusão dos lugares de que elas são sistematicamente excluídas (BOURDIEU, 2002, p. 50).

A imagem da mulher no ambiente de trabalho muitas vezes é percebida pelas homens como vulgar, com uma conotação sexual voltada para seu corpo e seus trajes. Segundo Bourdieu, [...] Qualquer que seja sua posição no espaço social, as mulheres têem em comum o fato de estarem separadas dos homens por um coeficiente simbólico negativo que, tal como a cor da pele para os negros, ou qualquer outro sinal de pertencer a um grupo social estigmatizado, afeta negativamente tudo que elas são e fazem (BOURDIEU, 2002, p. 55).

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É comum no ambiente de trabalho a mulher sofrer assédio sexual, cada vez mais é crescente esse tipo de denúncia no Ministério do Trabalho, porém, é muito difícil para a mulher provar tal ato, porque o assediador age quando a vitíma está sozinha e defama a mulher antes de iniciar o assédio, promovendo uma visão distorcida dos outros colegas de trabalho. Muitas mulheres afirmam sofrer ou já ter sofrido assédio sexual no ambiente de trabalho. A discriminação é muito pior para as mulheres negras. Neste caso, a diferença de remuneração para um homem branco pode chegar muito além do salário deles.

3. A MULHER NO MERCADO DE TRABALHO As mulheres têm conquistado cada vez mais espaço na sociedade, e consequentemente, no mercado de trabalho. Toda conquista, até o presente momento, foi mérido das mulheres. Deixar os filhos, se inserir no mercado de trabalho, conseguir o mesmo desempenho profissional que os homens, muitas vezes

até

maior,

atingir

um

nível

superior

de

escolaridade,

assumir

responsabilidades e ter uma dupla jornada de trabalho não foi um processo fácil. Muitas lutas marcaram e proporcionaram a abertura do mercado para as mulheres. [...] Elas administram os conflitos na tentativa de manter a harmonia entre os integrantes do grupo do qual ela é integrante, ocupando o cargo de chefe ou não, e buscam mais intensamente o desenvolvimento da equipe, procurando compartilhar mais seus conhecimentos do que os homens. Achando as soluções de um modo diferente dos companheiros do sexo masculino, as mulheres pretendem ouvir outras pessoas e se armar antes de tomar decisões e consideram mais as consequencias dos seus atos em longo prazo. A coragem de allgumas mulheres abriu e consolidou caminhos para as gerações atuais (SERPA, 2010, p. 17).

Uma das maiores exigências das mulheres há muitos anos é equiparação salarial em relação aos homens. Infelizmente ainda é muito inferior a remuneração das mulheres, sejam elas empregadas, trabalhadoras domésticas, autônomas, ou empregadoras. [...] Em todo o país a renda média dos homens é 76% maior que o das mulheres. As mulheres ganham menos que os homens, mesmo que

 

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tenham o mesmo vínculo de trabalho, trabalham o mesmo número de horas e possuam a mesma qualidade que eles (SERPA, 2010, p.18).

As funções oferecidas no mercado de trabalho para as mulheres ainda são inferiores que os homens, elas apresentam dificuldade de conseguir um novo emprego quando são demitidas, por exemplo, apresentam dificuldade em entrar no mercado de trabalho, quando obtido, muitas vezes é sem qualidade e sem carteira assinada. [...] Transcorrido mais de um século após a abolição da escravidão no Brasil e a plena constituição de um mercado de trabalho assalariado, as análises empíricas disponíveis sobre o mercado de trabalho basileiro permitem verificar que a discriminação contra a mão-de-obra feminina se encontra amplamente difundida na nossa sociedade, com as trabalhadoras brasileiras encontrando se não apenas segregadas em ocupações pior remuneradas, como também auferindo rendimentos menores que os trabalhadores no desempenho da mesma função/ocupação (OMETTO, 2001, p. 175).

Toda mudança exige alteração de hábitos e comportamentos, segundo Loureiro e Cardoso (2008, p. 228), “sem igualdade fora do local de trabalho será muito difícil falar de igualdade no local de trabalho”. No processo de desconstrução da discriminação contra a mulher no mercado de trabalho, deve ser iniciado dentro do lar, tais responsabilidades devem ser divididas com o marido, que por sua vez mobilizará

um

grupo

de

outros

homens,

consequentemente

mobilizará

empregadores e até governantes, sendo possível assim haver maior equilíbrio entre homens e mulheres no mercado de trabalho.

4. O PROCESSO DE RECRUTAMENTO E SELEÇÃO E A DISCIMINAÇÃO SOFRIDA PELA MULHER NESSE PROCESSO O processo de recrutamento visa atrair candidatos potencialmente qualificados e capazes de ocupar cargos dentro da organização. O processo inicia quando é percebido a necessidade de captação de pessoas no mercado de trabalho. Os profissionais envolvidos na seleção geralmente são analista de RH, psicólogos organizacionais, supervisores, gerentes e diretores. É necessário antes de iniciar o processo de seleção definir o Perfil de Competências, que é um conjunto de Vol.6.  nº  1,  Novembro  de  2013.  

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competências, habilidades e atitudes necessárias para o indivíduo apresentar desempenho excepcional em um determinado cargo. O primeiro passo é uma descrição adequada de cargos, que é detalhado o resumo das atividades que o cargo exige: escolaridade, experiência, cursos extracurriculares entre outras informações. Segundo passo é a Definição da Estratégia de Atração: onde divulgar a oportunidade de emprego e onde pode ser encontrado o profissional com o perfil que é necessário. Nesse momento, deve ser decidido se o processo será interno, quando procura-se dentro da empresa o candidato mais adequado a um determinado perfil necessário para agregar valor a uma competência organizacional ou externa, quando não se tem dentro da empresa pessoas capazes de atender ao perfil desejado. O terceiro passo é marcado pela Definição dos Meios de Atração: como divulgar a oportunidade de emprego e que instrumentos usados para divulgação da oportunidade de emprego. As formas de divulgação mais comuns são: agências de emprego, sites corporativos ou de empregos, anúncios em jornais/ revistas especializadas, indicações, contatos com escolas, universidades e agremiações, headhunters, consultorias na área de RH, cadastro de outras empresas, internet, cadastro de ex-empregados da organização, cartazes, banco de talentos. O quanto passo é a Triagem do Currículo: avaliação de tudo que o candidato inseriu no seu currículo tais como: dados pessoais, escolaridade, experiências profissionais, cursos realizados e objetivo profissional. A seleção pode ser definida como a escolha do candidato certo para o cargo certo, ou, mais amplamente, entre os candidatos recrutados, aqueles mais adequados aos cargos existentes na organização, visando manter a eficiência e o desempenho do pessoal, bem como a eficácia da organização. O quinto passo é a Avaliação do Candidato: é feita através de entrevistas, testes escritos, testes práticos, testes psicológicos e dinâmica de grupo. E, por último, é verifcado o resultado com base nas entrevistas e testes e dinâmica de grupo

 

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aplicados, podendo ser possível traçar um perfil, podendo ser favorável ou não para a vaga. No decorrer do processo de seleção, é importante determinar o perfil de competências que o candidato deverá possuir para desempenhar a função em questão, o início da discriminação sofrida pela mulher começa nesse ponto. As descrições de cargo possuem determinações de sexo e competências que determinam a preferência do gênero do profissional. Muitas funções também são pré-determinadas para um tipo de sexo, como por exemplo, engenheiro, mecânico, motorista, repositor de estoque, Juiz, entre outras, que não possuem nenhuma exigência real que deverá ocupar a vaga somente se for homem, no entanto, é observado que nestas áreas predominam os homens pela escolha da empresa através do profissional de seleção. Como também é visto para mulheres funções pré-determinadas como professora, psicóloga, gerente de recursos humanos, pedagoga, enfermeira, entre outras. É muito comum perceber que na área de exatas predominam os homens e nas humanas as mulheres, porém, esta realidade condiz com a construção social do papel da mulher na sociedade no decorrer dos anos. [...] A ordem social funciona como uma imensa máquina simbólica que tende a ratificar a dominação masculina sobre a qual se alicerça: é a divisão social do trabalho, distribuição bastante estrita das atividades atribuidas a cada um dos dois sexos, de seu local, seu momento, seus instrumentos; é a estrutura do espaço, opondo o lugar de assembléia ou de mercado, reservados aos homens, e a casa, reservada às mulheres; ou, no interior desta, entre a parte masculina, como salão, e a parte feminina, como o estábulo, a agua e os vegatais; é a estrutura do tempo, a jornada, o ano agrário, ou o ciclo de vida, com momentos de ruptura, masculinos, e longos períodos de gestação, femininos (BOURDIEU, 2002, p. 09).

As empresas, nos dias atuais, estão mais exigentes, pricipalmente na questão de flexibilidade, adaptabilidade e disponibilidade, tais competências são necessárias para o desempenho de muitas funções, principalmente as gerenciais, e é neste momento que muitas mulheres perdem a oportunidade de emprego para os homens. Para o homem, ser casado e ter filhos aumenta sua chance de conquistar uma função de gestor, por exemplo, porém, para as mulheres casadas e com filhos Vol.6.  nº  1,  Novembro  de  2013.  

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diminuem consideravelmente suas chances, visto que, supõem que elas podem faltar os dias de trabalho para levar os filhos ao médico, não tem disponibilidade para viajar e ficar mais tempo a disposição da empresa. Essa diferença de tratamento se dá pela mulher não ser vista desvinculada ao papel de dona de casa e mãe. Uma gravidez, por exemplo, pode ser visto como comprometedor da carreira profissional da mulher. O processo de seleção também é dinâmico e muda a cada dia, principalmente por ser cada dia maior o número de mulheres trabalhando na seleção, isso muda o olhar, mas não é difícil perceber a discriminação de mulher para mulher, por ser tão natural e impregnada a dominação masculina na sociedade, como apontou Bourdieu (2002). As funções de liderança são, desde o início da civilização, dominadas pelos homens, fato que se explica pela forma em que eles foram criados, incentivados a estar a frente, tomar decisões e assumir riscos. [...] No nível de gerência, 80% dos cargos são dos homens. Nas chefias o percentual de homens também supera em muito o das mulheres, sendo que no nível de diretoria, não há mulheres. As mulheres também estão em menor número no chão das fábricas e nos cargos funcionais e administrativos (SERPA, 2010, p. 18).

Outro ponto seria a posição do homem no lar, sendo responsável pelo provento da família, assumindo posição de chefe, no ambiente de trabalho ele tende a assumir este mesmo papel.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O perfil das mulheres atuais é muito diferente do começo do século passado. Elas são chefes de família, trabalham, ocupam cargos de responsabilidade e atuam nas tarefas tradicionais, como ser mãe, esposa e dona de casa. A Constituição de 1988 possibilitou as mulheres a igualdade dos deveres e responsabilidades como os homens, segundo Lopes (2005, p. 407). “trata-se da superação de um paradigma jurídico que legitimava declaradamente a organização  

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patriarcal e a consequente preferência do homem ante a mulher, especialmente no locus da família”. Apesar da evolução e crescimento da mulher dentro do mercado de trabalho, que antes era de dominio masculino, é nítido que a discriminação contra a mulher ainda se faz presente nos âmbitos da sociedade, a mão-de-obra feminina sofre principalmnte desigualdade salarial em relação aos homens. Para as mulheres de hoje e do futuro fica o grande desafio de reverter o quadro da discriminação, haja vista, que elas já provaram a sua igualdade no desempenho de funções antes ocupadas exclusivamente por homens, elas já são ótimas motoristas, mecânicas, engenheiras, advogadas, médicas, gerentes, frentistas, seguranças, policiais, enfim, as mulheres são capazes de conquistar tudo que desejam e mudar ainda mais a desconstrução da dominação masculina na sociedade atual, “pode-se facilmente concluir que a inferioridade feminina é exclusivamente social”. (SAFFIOTI, 1987, p. 15).

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOHLANDER, G. W. Administração de Recursos Humanos. São Paulo: Cengage Learning, 2009. BOURDIEU, P. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. CARVALHO, I. M. V. Recrutamento e seleção por competências. Rio de Janeiro: FGV, 2008. CONSTITUIÇÃO 1988. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 1999. LOPES, C. M. S. Direito do trabalho da mulher: da proteção à promoção. p. 405430, 2006. LOUREIRO, P.; CARDOSO, C. C. O gênero e os estereótipos na gestão. Revista de Estudos Politécnicos, vol VI, n. 10, p. 221-238, 2008. OMETTO, A. M. H. Discriminação contra a mão-de-obra feminina: uma síntese da controvérsia teórica.  Revista Impulso, n. 28, v.12, Unimep, 2001. Vol.6.  nº  1,  Novembro  de  2013.  

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PROBST, E. R. A evolução da mulher no mercado de trabalho. p. 01-08, 2008. SAFFIOTI, I. B. H. O poder do macho. São Paulo: Moderna, 1987. SERPA, N. C. A inserção e a discriminação da mulher no mercado de trabalho: Questão de Gênero. 2010.

 

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