Discursos, ciências e miçangas.

June 14, 2017 | Autor: Eliane Azzari | Categoria: Análise do Discurso, Humanities and Social Sciences, Humanidades
Share Embed


Descrição do Produto

Discursos, Ciências e as Miçangas Prof. Me. Eliane Fernandes Azzari Faculdade de Letras – PUC Campinas Em 1625, Francis Bacon rompeu paradigmas e contestou discursos de repetição ao escrever ensaios em inglês. Em The Great Restoration, tratando Ciências Naturais, Bacon instigou mudanças no pensamento científico ocidental e em “Of Studies”, usando aforismos, sugeriu que o principal objetivo da leitura seria “pesar e considerar” ideias. Seu ensaio inaugura um inglês em prosa direta, menos prolixo, focado nas Humanidades que, para alguns, só teriam alçado status de Ciência no início do século XX quando Dilthey nomeou as “ciências do homem ou do espírito”. Os ensaios de Bacon contribuíram, então, para diversas áreas do discurso científico. Neste texto, adoto perspectiva Bakhtiniana e acato o papel político da linguagem, de modo que discurso remete à prática social ideologicamente norteada e materializada em enunciados - que apresentam dimensões comunicativas e valorativas, estabelecidas dialogicamente entre interlocutores historicamente situados. Em 2015, as Tecnologias da Informação e Comunicação Digitais (TICDs) medeiam produção e acesso ao conhecimento abrindo novo paradigma para os estudos, com espaços para o trato da transculturalidade e das diversidades em meio à globalização. Por esse viés, leio o enunciado “Japão pede que universidades cancelem cursos de humanas1” e um texto publicado pela Embaixada do Japão no Brasil2 questionando razões para o inusitado abate das Humanidades. Afirmando que o Japão é “especializado em módulos e processos de alta tecnologia e conhecimento técnico”, o discurso neoliberalista reitera o conceito de estado-nação e adota tom assertivo (“será necessário aumentar a produtividade de trabalho”) para golpear as Ciências Humanas. A urgência em “focar aspectos vocacionais mais práticos” que “antecipem melhor as necessidades da sociedade”, trata a “vocação” para as tecnologias por mera instrumentalidade. Numa sociedade perigosamente desprovida de Ciências Humanas não haveria promoção dos letramentos necessários para legitimar direitos, pesando e considerando ideias criticamente. É preciso, pois, o engajamento do profissional de Humanas (talvez 1

Fonte: http://noticias.terra.com.br/educacao/japao-pede-para-que-universidades-cancelem-cursosde-humanas,6ebd46a6261af0d724368316dde58525p9j1qquz.html. Acesso em 16 de set de 2015. 2 Disponível em http://www.br.emb-japan.go.jp/cultura/economia.html. Acesso em 16 de set de 2015.

pelas TICDs?) em discursos de resistência que recusem discursos de repetição – como os enunciados em comunidades apoiadas em rede social como a “Ajudar o povo de humanas a fazer miçanga3”. Representando identidades que se percebem parte de uma ciência menor, “fazer miçanga” remete à função-artesão, que atua às margens da sociedade tecnologizada. Simplesmente acatar os atuais discursos tecnicistas contrários às Humanidades representaria (re)encaminhar seus profissionais para as novas linhas de produção ou encarregá-los apenas das velhas miçangas.

3

Disponível em :https://www.facebook.com/ajudaropovodehumanasfazermicanga?fref=ts.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.