Discussões sobre Ambientes Pessoais de Aprendizagem

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Volume 10 - No 1 – Janeiro/Abril de 2016

Discussões sobre Ambientes Pessoais de Aprendizagem Bruno Silva Leite [email protected] Universidade Federal Rural de Pernambuco

Resumo A organização de um ambiente pessoal de aprendizagem (APA) deve ser um espaço pessoal de conforto para qualquer utilizador, não sendo um emaranhado de ferramentas ou ligações sem qualquer nexo. Este artigo propõe algumas discussões sobre a prática de sua organização, utilização de ferramentas, dúvidas e relação com a aprendizagem ao longo da vida, com o objetivo de colocar em análise a discussão dos conceitos iniciais de um APA. Para isso, os participantes interagiram durante uma Jornada Virtual utilizando o Twitter, em que foram coletados dados sobre essas discussões. De acordo com nossa análise, identificamos diferentes percepções dos participantes quanto a um APA, sua organização, ferramentas e, desta forma, concluímos que as discussões durante a Jornada, mostraram que os participantes puderam aprender fazendo, interatuando, buscando e compartilhando, características da Aprendizagem 2.0, além da aprendizagem informal durante as discussões que contribuíram para uma visão do conceito e de organização de APA. Palavras-Chave: Ambiente Pessoal de Aprendizagem, Web 2.0, Aprendizagem informal, TIC, Aprendizagem ao Longo da Vida, Twitter.

Discussions about Personal Learning Environments Abstract The organization of a personal learning environment (PLE) should be a personal space of comfort for any user, not a tangle of tools and links without any connection. 37 Universidade Federal do Rio de Janeiro – Escola de Comunicação Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação – LATEC/UFRJ

Volume 10 - No 1 – Janeiro/Abril de 2016 This paper proposes some discussion about the practice of your organization, use of tools, doubts and relation to lifelong learning, with the aim of to place in discussion the

analysis

of

the

initial

concepts

of

a

PLE.

For

this,

the

participants interacted during Virtual Journey using Twitter, in which data were collected on these discussions. According to our analysis, identify different perceptions of the participants as an PLE, your organization, tools and, in this way, we conclude that discussions during the JOAVED, show that participants were able to learn by doing, learning by interacting, learning by searching and learning by sharing, learning 2.0 characteristics, beyond informal learning during discussions that contributed to a vision of the PLE concept and organization. Keywords: Personal Learning Environment, Web 2.0, informal learning, ICT, lifelong learning.

Introdução Os recursos multimidiáticos, em especial na Internet, têm disponibilizado uma quantidade extraordinária de informação e com as mudanças em curso na Internet e nas formas como essa era utilizada pelas pessoas, surgiu a origem da designação Web 2.0, uma segunda geração de comunidades e serviços baseados na plataforma web, e que acabam por ter, inevitavelmente, um forte impacto na educação e na concepção da aprendizagem (LEITE, 2015). A Internet tornou-se complexa. Um usuário típico da web pode ter várias páginas pessoais – o blog pessoal, a sua página de fotos, documentos partilhados, os vídeos no YouTube, os seus perfis nas redes sociais (Twitter, Facebook, Google Plus), as suas contas de e-mail ou o seu “login” no LMS (Sistemas de Gestão da Aprendizagem) da universidade. A Web 2.0 sugere uma segunda geração de serviços online e caracterizados por potencializar as formas de publicação, compartilhamento e organização de informações, além de ampliar os espaços para a interação entre os participantes (LEITE, 2015). Com a introdução da Web 2.0 as pessoas passaram a produzir os seus próprios documentos e a publicá-los automaticamente na rede, sem a 38 Universidade Federal do Rio de Janeiro – Escola de Comunicação Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação – LATEC/UFRJ

Volume 10 - No 1 – Janeiro/Abril de 2016 necessidade de grandes conhecimentos de programação e de ambientes sofisticados de informática. Além de novas formas de publicação e circulação de informações, a Web 2.0 potencializa a livre criação e organização distribuída de informações compartilhadas através de associações mentais de seus usuários, assim esses expõem e compartilham suas ideias em diversos contextos (política, educação, sociedade, entre outros). Cabe ressaltar, que a Web 2.0 propicia maior interatividade, tornando o ambiente presencial e virtual mais dinâmico e os educadores não podem deixar de utilizar tais recursos, uma vez que impacta no aprendizado dos usuários, proporcionando o desenvolvimento de habilidades e competências na utilização de recursos digitais, através da interatividade entre os seus participantes. Nesse sentido, os Ambientes Pessoais de Aprendizagem (APA) ou Personal Learning Environments (PLE) centram na interação social e na colaboração, características da Web 2.0, ou seja, o APA é um conceito atribuído às condições de aprendizagem autônoma de educandos, baseado no uso de tecnologias a partir da Web 2.0. Pouca atenção têm se dado a estes ambientes nos processos de ensino e aprendizagem. Acredita-se que devido ao pouco envolvimento e ao elevado nível de dificuldade da compreensão de um APA, os professores por sua vez deixam de utilizar esse ambiente em sua prática docente. Esse trabalho apresenta algumas discussões durante uma Jornada Virtual de Educação sobre um APA e seu alcance na construção do conhecimento de professores e alunos.

Revisão Teórica Ambientes Pessoais de Aprendizagem A Web 2.0 tem o potencial para mudar radicalmente a natureza do ensino e da aprendizagem e, através da criação de redes de aprendizagem controladas pelos prosumidores

(Prosumidor significa a

contração

das

palavras produtor

e

consumidor), questionar o papel tradicional das instituições educativas. Nos APA o prosumidor utilizará um conjunto único de ferramentas, personalizado de acordo 39 Universidade Federal do Rio de Janeiro – Escola de Comunicação Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação – LATEC/UFRJ

Volume 10 - No 1 – Janeiro/Abril de 2016 com as suas preferências e necessidades. Isso dará grande liberdade e controle a ele em termos de colaboração com outros, da utilização de recursos, das atividades em que participa ou da integração das aprendizagens desenvolvidas em diversos contextos e situações. O conceito de Ambiente Pessoal de Aprendizagem representa um passo importante para uma aprendizagem centrada nos alunos, com o uso das tecnologias (LEITE, 2012). A aprendizagem formal e informal são integradas nos APA e esses ambientes apresentam uma diversidade de enfoques e perspectivas, o que dificulta uma única definição. Algumas definições de APA são descritas, procurando exprimir esse conceito complexo e multidimensional, e dessas alguns aspectos parecem ser comuns aos descritos por Mota (2009), Elliot (2009), Costa (2010), Drexler (2010) e Leite (2012). O conceito de APA “representa um passo importante para uma aprendizagem centrada nos alunos, com o uso das tecnologias” (LEITE, 2015, p. 165). Em termos pedagógicos, um APA encontra o seu fundamento no sócio construtivismo e no construcionismo de Papert (1986). O primeiro postula que “o conhecimento é criado pelos alunos no contexto da interação social” e o segundo “pela construção de recursos por parte do aluno para consumo público” (LEITE, 2012, p. 2-3). É importante entender que os APA podem ser utilizados em diferentes funcionalidades e contextos, fazendo uso de diversas abordagens pedagógicas. As reflexões sobre os ambientes pessoais de aprendizagem surgiram também pela existência de oportunidades reais de aprendizagem com muitos dos serviços da Web 2.0. O APA não se contrapõe a outros ambientes de aprendizagem, porque se operacionaliza na integração e mistura, quer das ferramentas que usamos, quer das relações que criamos. Por fim cabe ressaltar que num APA a ambiguidade dos papéis do professor e do aluno é uma de suas características, pois todos os modelos são claramente centrados na aprendizagem e omitem referências ao papel do professor, parecendo subentender que os papéis de ambos podem ser intermutáveis e que as ferramentas 40 Universidade Federal do Rio de Janeiro – Escola de Comunicação Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação – LATEC/UFRJ

Volume 10 - No 1 – Janeiro/Abril de 2016 podem, e talvez devam, ser as mesmas. Com o APA o prosumidor estará no centro da sua rede pessoal de aprendizagem, direcionando a maneira como ensina e também como aprende.

Aprendizagem 2.0 No contexto da sociedade do conhecimento a associação entre tecnologia e educação não somente gera melhoras de caráter quantitativo (possibilidade de ensinar a mais estudantes), mas principalmente de ordem qualitativa (os educandos encontram na Internet novos recursos e possibilidades de enriquecer seu processo de aprendizagem). Segundo Johnson (2001) existem três tipologias diferentes de aprendizagem: Aprender fazendo, Aprender Interatuando e Aprender buscando. Lundvall (2002) acrescenta a esta taxonomia um quarto tipo de aprendizagem, que representa o valor essencial das ferramentas Web 2.0 e que está baseado na ideia de

compartilhar

informações,

conhecimentos

e

experiências:

Aprender

compartilhando. O processo de intercâmbio de conhecimentos e experiências permitem

aos

educandos

participarem

ativamente

de

uma

aprendizagem

colaborativa. Ter acesso a informação, não significa aprender. Para Lundvall (2002) a criação de instâncias que promovam compartilhar objetos de aprendizagem enriquecem significativamente o processo educativo. As ferramentas da Web 2.0 oferecem uma simplificação da leitura e da escrita online dos estudantes. Isso se traduz em duas ações do processo de aprendizagem: gerar conteúdos e compartilhar com os demais (amigos, grupos, etc). A partir deste marco (gerar e compartilhar) temos o modelo de Aprendizagem 2.0 (aprender fazendo, aprender interatuando, aprender buscando e aprender compartilhando). Cada um desse tipo de aprendizagem enriquece as plataformas Web 2.0 cujas características mais relevantes é oferecer ao professor aplicações uteis, gratuitas, colaborativas e simples de usar.

41 Universidade Federal do Rio de Janeiro – Escola de Comunicação Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação – LATEC/UFRJ

Volume 10 - No 1 – Janeiro/Abril de 2016

Aprendizagem ao Longo da Vida e Aprendizagem Informal O conceito de aprendizagem ao longo da vida (ALV) “não é apenas mais um dos aspectos da educação e da aprendizagem; ela deve se tornar o princípio diretor que garante a todos o acesso às ofertas de educação e de formação, em uma grande

variedade

dos

contextos

de

aprendizagem”

(COMISSÃO

DAS

COMUNIDADES EUROPEIAS, 2000, p. 3). A expressão, aprendizagem e formação ao longo da vida, indica em primeiro lugar, uma medida de tempo, uma expressão quantitativa ou uma duração que é a do tempo de uma vida humana. Nesse contexto, três categorias básicas de atividade de aprendizagem são destacadas: Aprendizagem formal: decorre em instituições de ensino e formação e conduz a diplomas e qualificações reconhecidos; Aprendizagem não-formal: decorre em paralelo aos sistemas de ensino e formação e não conduz, necessariamente, a certificados formais. A aprendizagem não-formal pode ocorrer no local de trabalho e através de atividades de organizações ou grupos da sociedade civil (organizações de juventude, sindicatos e partidos políticos); Aprendizagem informal: é um acompanhamento natural da vida cotidiana. Contrariamente à aprendizagem formal e não-formal, este tipo de aprendizagem não é necessariamente intencional e, como tal,

pode não ser reconhecida,

mesmo pelos próprios indivíduos,

como

enriquecimento dos seus conhecimentos e aptidões. No que se refere a aprendizagem informal destacamos: Aquisição de conhecimento tácito: difícil de obter, expressar, transmitir e estruturar, oculto, desconhecido, inconsciente. Resultado da experiência e da observação; Trabalho e aquisição coletiva: construção do conhecimento baseado em relações sociais, conversação, colaboração e compartilhamento; Relações de tipo informal: espontânea, não prevista nem pré-determinadas. Não centralizadas pelo professor, e; O aluno é o protagonista: o papel do professor passa de instrutor e provedor da informação a guia e tutor no processo de aprendizagem. Este aluno ao tornar-se protagonista

de

sua

aprendizagem situa-se

numa

das características da

Aprendizagem 2.0. O ponto principal da aprendizagem informal está em construir um bom APA. 42 Universidade Federal do Rio de Janeiro – Escola de Comunicação Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação – LATEC/UFRJ

Volume 10 - No 1 – Janeiro/Abril de 2016

Metodologia e Desenvolvimento O desenvolvimento desta pesquisa seguiu os moldes de uma pesquisa qualitativa. Dentre as principais características que configuram a pesquisa qualitativa, Lüdke e André (1986) identificaram as seguintes: a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como o seu principal instrumento; os dados coletados são predominantemente descritivos; o significado que as pessoas atribuem às coisas e à sua vida constituem-se em focos de atenção do pesquisador; a análise dos dados tende a seguir um processo indutivo. Na linha qualitativa, a presente pesquisa pode ser inserida como um estudo de caso, a fim de melhor elucidar o problema proposto. Na primeira etapa da pesquisa foram criados meios para as discussões sobre APA, um blog (JOVAED PLE



http://jovaedple.posterous.com)

e

uma

página

no

Scoop.it

(http://scoop.it/jovaed-ple) com o intuito de apoiar às atividades de demonstração prática na organização de um APA. As discussões ocorreram no Twitter utilizando as hastags #PLE e #JOVAED, no qual coletaram-se os dados da pesquisa. Segundo Mercado e Silva (2013, p. 171) o Twitter apresenta um “Comportamento e estrutura semelhante às redes associativas nas quais predominam a interação reativa, o que não exclui a possibilidade de interações mútuas”. Em um segundo momento, os sujeitos da investigação – participantes/congressistas (entre eles professores e estudantes envolvidos com TIC no ensino) da Jornada Virtual

ABED de EAD

(JOVAED) – discutiram no blog e no Twitter sobre as possibilidades de ensinar e aprender, por meio de ambientes colaborativos, a partir de APA. Esta atividade, de discussão, propôs apresentar, explicitar o conceito de APA e possibilitar a organização do APA de cada um dos participantes. A coleta dos dados foi realizada através do The Archivist, um serviço que usa o Twitter Search API para localizar arquivos e tweets. Nesta pesquisa analisamos as respostas dos participantes mediante os questionamentos e leituras de textos sobre APA, caracterizando segundo Creswell (2010, p. 214), uma entrevista qualitativa, na qual “envolvem questões não estruturadas e em geral abertas, que são em pequeno número e se 43 Universidade Federal do Rio de Janeiro – Escola de Comunicação Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação – LATEC/UFRJ

Volume 10 - No 1 – Janeiro/Abril de 2016 destinam a suscitar concepções e opiniões dos participantes”. As respostas são apresentadas conforme escrito pelos participantes, preservando-se erros de digitação, de redação de texto, conceitual, etc. Eliminaramse os nomes e dados que poderiam identificar os sujeitos. Dessa forma destacamos o

@moderador

(professor

responsável

por

discutir

os

conceitos/dúvidas/questionamentos, sobre um APA), e os participantes (nomeados como @participante1, @participante2, etc.).

Resultados Discussão em rede Durante a JOVAED foram observadas e posteriormente discutidas algumas das tendências nos dados recolhidos durante o evento, após as elucidações dos participantes de diferentes locais pesquisados, destacamos neste momento uma síntese das semelhanças e/ou diferenças, dúvidas que ocorreram sobre o APA. As diferentes respostas analisadas podem ser avaliadas como benéficas, haja vista a possibilidade de se discutir sobre a diversidade das respostas para uma mesma pergunta. A reflexão, presente nos Ambientes Pessoais de Aprendizagem, implica indivíduos capazes de pensar sobre o próprio pensamento e sobre os pensamentos dos seus pares (outros indivíduos da rede) e, portanto, a aceitar diferentes pontos de vista (Piaget,1989). No sentido de elucidar os conceitos que envolvem um ambiente pessoal de aprendizagem, iniciou-se as discussões no grupo fornecendo alguns textos, estas leituras tinham intuito de esclarecer o conceito de APA. Muita confusão entre os participantes ocorre acerca deste conceito. Em seguida mais uma proposta para a compreensão do conceito é fornecida no blog, um vídeo expondo ideias gerais sobre APA. No sentido de organizar as conversações que ocorreram no twitter utilizaramse as hastags #PLE e #JOVAED. A seguir temos estas discussões (tweets) em ordem cronológica sobre um APA. 44 Universidade Federal do Rio de Janeiro – Escola de Comunicação Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação – LATEC/UFRJ

Volume 10 - No 1 – Janeiro/Abril de 2016 Inicialmente o @moderador questiona como organizar um APA, solicitando aos participantes sugestões. O @participante1 afirma que para organizar um APA é preciso: “1 Pensar metodologia, 2 escolher as ferram. de acordo c/ metodologia 3 rejeitar os hypes”. Ao pensar em APA, é importante lembrar que ele é pessoal e intransmissível, isto é, uma metodologia adotada por um usuário, não será necessariamente igual a de outro usuário. Suscitando aos participantes pensar em algo portátil, móvel, o @moderador conclui essa discussão inicial com um questionamento “O que é que une TUDO? Que ferramenta é imprescindível na minha aprendizagem?” A cerca do questionamento inicial o moderador provoca os participantes a uma reflexão sobre como organizar um APA, deixando claro que o um ambiente pessoal é intransmissível e sua organização depende dos objetivos. Ademais, podemos observar nesta reflexão uma possível característica da aprendizagem informal, que não pode ser reconhecida (CROSS, 2007), mesmo pelos próprios participantes, mas que corrobora para o enriquecimento dos conhecimentos e aptidões destes. No que diz respeito a ferramenta de aplicação em um APA, o @moderador remete a ideia de que independente da plataforma utilizada os apps (aplicativos) são os grandes “motores” de seu ambiente pessoal. Os participantes apresentam suas ferramentas e concordam com o moderador “@participante4: GOOGLE Apps com certeza, FB e twitter (muito) Flickr, Youtube e a nova paixão Fotoblur.com”. O @participante1 apresenta o wordpress como uma ferramenta indispensável para seu APA, contudo é alertado pelo @moderador “Wordpress? Humm Isso não será um espaço de agregação? Como chega às reflexões? Onde está a pesquisa? ;)”. Desse comentário, as discussões seguem para a segurança dos dados disponibilizados nas ferramentas da web 2.0, lembrando casos de domínios (NING, por exemplo) que outrora eram gratuitos e depois passaram a ser pagos. O @participante4 afirma que “Não dá para pensar em #PLE eterno”, logo é advertido pelo @moderador “#PLE será eterno...A adaptação será constante ;) E esse é precisamente o drama de tudo isto. #JOVAED”. Neste sentindo, devemos entender o APA como eterno pois é um processo, um modo de lidar com o conhecimento e não meramente uma ou outra 45 Universidade Federal do Rio de Janeiro – Escola de Comunicação Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação – LATEC/UFRJ

Volume 10 - No 1 – Janeiro/Abril de 2016 ferramenta. Uma das discussões entre os participantes traz uma comparação entre um APA a um caderno escolar, reforçando a ideia do modo que conduzimos o conhecimento: @participante1: @Participante4 se as novas ferramentas não puderem importar os dados das antigas, qual a utilidades delas? #PLE, pra mim, é pro longo prazo! @Participante4: @participante1 #PLE - Vc guarda cadernos do tempo de escola?#PLE é uma edição muito melhorada deles...é um modo de lidar com o conhecimento.

Na discussão acima é importante destacar as considerações do moderador quanto ao APA, na qual o considera eterno, como afirma a Comissão das Comunidades Europeias (2000) quando discute da importância da ALV para uma aprendizagem permanente e contínua. Contudo, mesmo que as ferramentas da Web 2.0 sejam atualizadas constantemente, a adaptação do APA será constante. O @moderador faz uma consideração importante sobre um APA “Pouca gente se lembra disto, mas para mim o #PLE começa no browser.” O navegador citado pelo moderador é uma ferramenta bastante útil na organização de um APA, com ele os prosumidores podem gerir sua aprendizagem. Podemos citar os favoritos que organizam as informações julgadas necessárias e os aplicativos que são instalados no navegador facilitando determinadas atividades de aprendizagem. Em um APA não podemos classificá-lo, dúvida que foi apresentada pelo @participante5 “quando podemos ‘classificar’ um #PLE? Quando é um #PLE? Ou apenas uma ferramenta com diversos recursos (links)? #JOVAED”, é preciso entender que usamos/temos o APA, mesmo quando não sabemos que nome chamar. O APA tem uma parte visível na rede, de compartilhamento, mas também observamos uma parte “escondida”, que utilizamos sem que os demais participantes da rede tenham acesso. Nesta parte, temos a reflexão, agregação dependendo do perfil de cada usuário. Os participantes 4 e 1 protagonizam outra discussão sobre o APA: 46 Universidade Federal do Rio de Janeiro – Escola de Comunicação Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação – LATEC/UFRJ

Volume 10 - No 1 – Janeiro/Abril de 2016 @Participante4:@participante1

O

seu

melhor

#PLE

é

seu

cérebro...todo o resto são ferramentas auxiliares! @participante1:Meu #PLE não é meu cérebro! Meu #PLE é uma metodologia apoiada por uma(s) ferramenta (s) coerente com a mesma :-) #jovaed @participante1: @Participante4 O seu melhor #PLE é seu cérebro todo o resto são ferrament. auxiliares! // quero q minhas ferr, auxiliares ñ me deixam na mão

Nas discussões observamos que não há um único tipo de APA, ele é pessoal e busca ajudar o prosumidor a ter controle de sua aprendizagem bem como geri-la. Entretanto, o @participante1 argumenta que seu APA é uma metodologia apoiada por uma ou mais ferramentas. Aqui observamos uma visão de APA como software (MILLIGAN et al., 2006), em que Attwell (2007) discorda desta visão. A discussão entre os participantes da JOVAED aborda alguns aspectos funcionais de um APA, tais como: a gestão de conteúdos, um sistema de perfis, o trabalho coletivo, conforme descrito por Mota (2009). Ademais, os participantes tinham a possibilidade de experimentar algumas ferramentas configurando sua aprendizagem com diversas tecnologias. A importância do navegador em um APA destacada pelo moderador está na sua relação com as escolhas pessoais de cada prosumidor. O moderador destaca numa de suas colocações a aprendizagem informal, quando trata do questionamento de Cross (2007), nessa perspectiva observamos a aprendizagem 2.0 nas discussões em que os prosumidores aprendem compartilhando. O @moderador apresenta um dos pensamentos de Cross (2007) sobre como aprendemos, na qual diz: “@jaycross perguntou a @marcjrosenberg -> Como é que aprendes? // Resposta -> Perguntando a alguém...Cultivando ligações”. O cultivar ligações destacado pelo @moderador, reflete nas discussões de Johnson (2001) e Lundvall (2002) da aprendizagem em rede, o aprender fazendo, aprender interatuando, aprender buscando e aprender compartilhando. 47 Universidade Federal do Rio de Janeiro – Escola de Comunicação Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação – LATEC/UFRJ

Volume 10 - No 1 – Janeiro/Abril de 2016 São levantadas questões sobre a identificação de um APA, na qual o @moderador destaca: “Todos temos um #PLE só que não sabemos... ;) A questão central é como otimizar a gestão da informação #JOVAED”. Essa dúvida foi recorrente na discussão dos APA, os participantes não concebiam o APA como intrínseco a eles. Neste contexto, os ambientes pessoais de aprendizagem trazem consigo características da aprendizagem informal (CROSS, 2007), na qual a aquisição de conhecimento é intrinsecamente difícil de explicar. No que diz respeito a Aprendizagem ao Longo da Vida o @participante5, associando APA e ALV, questiona: @participante5: @moderador um dos pontos que o #PLE pode proporcionar é a aprendizagem a longo da vida. Como pode ser entendida essa aprendizagem? #JOVAED @moderador: @participante5 Para compreender conceito deixo um texto

da

Comissão

Europeia

de

2000

http://www.alv.gov.pt/dl/memopt.pdf #JOVAED #PLE

O @moderador disponibiliza um texto para compreensão da ALV. Neste momento observamos na discussão características da Aprendizagem 2.0 (aprender interatuando e compartilhando), comum a ambientes da Web 2.0, uma vez que possibilitam aos estudantes o seu envolvimento em atividades conjuntas ocorrendo em diversos ambientes online. Na discussão abaixo, o @participante5 questiona sobre APA e aprendizagem: @participante5: @moderador o que falta para que o #PLE seja mais incorporado a nossa aprendizagem? #JOVAED @moderador: @participante5 #PLE está incorporado na nossa aprendizagem. Sempre esteve... Pode é não estar organizado ou estar desadequado ;) #JOVAED

48 Universidade Federal do Rio de Janeiro – Escola de Comunicação Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação – LATEC/UFRJ

Volume 10 - No 1 – Janeiro/Abril de 2016 Neste trecho da discussão é importante destacar a resposta do moderador quanto ao APA e de sua organização para cada prosumidor. O APA está incorporado a todos, entretanto, é importante adequá-lo ao nosso contexto de aprendizagem, que pode ser: formal, não-formal, informal. Outra dúvida recorrente é apresentada por vários participantes da JOVAED, na qual surge o questionamento, existe um APA padrão? Para elucidar sobre a existência de APA padrão o @moderador é enfático, ele considera que “Se é pessoal não pode haver. Algumas indicações, mas depende sempre do perfil do "aprendente" ;) #JOVAED #PLE”, portanto, um APA não pode ser padronizado, como em diversos momentos é apresentado pelos participantes. As discussões apresentadas evidenciam a aprendizagem imersiva e conectada por meio da prática, do diálogo e da interação com os outros participantes da atividade. As informações reveladas pelo moderador e participantes durante as discussões, contribuíram tanto para o conceito de APA, como para sua organização e não apenas destacam o conceito teórico, mas também o contexto histórico e prático desse ambiente. Ademais, o APA contribui para a aprendizagem informal, na medida que possibilita o acesso à tecnologia educativa a todos que organizam o seu próprio espaço pessoal de aprendizagem e na aprendizagem 2.0, na qual os participantes aprenderam fazendo, buscando, interatuando e compartilhando.

Participação nas discussões Embora tenha ocorrido uma interação assíncrona, poucos foram os participantes das discussões online. A tabela 1 relaciona os participantes efetivos da atividade e o foco de suas discussões.

49 Universidade Federal do Rio de Janeiro – Escola de Comunicação Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação – LATEC/UFRJ

Volume 10 - No 1 – Janeiro/Abril de 2016 Tabela 1: participantes efetivos da atividade de organização de um APA. Participante

Discussão

@Mediador

Responsável por iniciar as discussões sobre o APA, além de indicar ferramentas e usos.

@Participante 1

Questionou algumas ideias sobre APA, expôs suas ideias, sendo bastante ativo na utilização do twitter com doze argumentos. Além de protagonizar discussões sobre a ferramenta com o participante4.

@Participante 2

Com duas intervenções, uma refletia o argumento de Downes sobre APA.

@Participante 3

Com três argumentos ao questionamento do mediador.

@Participante 4 @Participante 5

Contou com treze indagações/argumentos/reflexões sobre as discussões do APA. Com o participante1 defendeu suas convicções quanto a um APA e sua organização. Trouxe discussões e questionamentos quanto ao uso, aplicação e entendimento de um APA. Ao todo somaram-se nove intervenções.

Esta tabela apresenta as interações observadas no uso do twitter, descritas por Mercado e Silva (2013), pelos participantes.

Considerações finais A possibilidade que um APA oferece é de utilizar um conjunto de ferramentas gratuitas, recursos, fontes de informação e contato com pessoas. O

papel

do

mediador nesta atividade foi claramente de instrutor e provedor da informação, conduzindo os participantes no processo de aprendizagem. Para alguns autores (MOTA, 2009; ELLIOT, 2009; COSTA, 2010; DREXLER, 2010; LEITE, 2012), o APA pode ser uma abordagem baseado na Web 2.0 e não 50 Universidade Federal do Rio de Janeiro – Escola de Comunicação Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação – LATEC/UFRJ

Volume 10 - No 1 – Janeiro/Abril de 2016 pode ser comparado a um software (MILLIGAN et al., 2006), isto é, é um ambiente em que prosumidores interagem, através do compartilhamento de suas opiniões, agregando experiências de aprendizagem através da manipulação de recursos digitais (LUBENSKY, 2006). Os atributos do que chamamos de Aprendizagem 2.0 são refletidos nos tweets dos participantes, nos questionamentos, nas respostas e nas discussões que ocorreram durante a JOVAED. Nesta pesquisa observamos também que os participantes puderam, aprender informalmente (CROSS, 2007), ou seja, de modo não institucional, através da convivência, neste caso, nas discussões ocorridas em rede. Acreditamos que o twitter contribui para gerir a organização de um APA, além das discussões durante a jornada virtual da ABED de EAD, esta ferramenta pode possibilitar uma aprendizagem informal aos participantes da jornada. Entretanto, é importante destacar conforme afirmam Mercado e Silva (2013, p. 169), que o twitter apresenta dificuldades no que diz respeito “a limitação na quantidade de caracteres, tanto para a pergunta como para a resposta”. O que pode ter ocasionado algumas limitações nos argumentos dos participantes, tendo em vista que condensar as perguntas e as respostas em 140 caracteres pode ter sido um obstáculo para alguns participantes. É importante reforçar que um ambiente pessoal de aprendizagem não se contrapõe a outros ambientes de aprendizagem, quer seja na sua integração, quer seja na mistura das ferramentas que usamos ou das relações que criamos. O avanço deste estudo será pertinente para entender e consequentemente inserir as ferramentas Web 2.0 no contexto educativo, em especial o APA, a própria dinamicidade que a Web apresenta nos faz crer que ao momento de término desta pesquisa muitas discussões sobre APA ocorrerão.

51 Universidade Federal do Rio de Janeiro – Escola de Comunicação Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação – LATEC/UFRJ

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53 Universidade Federal do Rio de Janeiro – Escola de Comunicação Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação – LATEC/UFRJ

Volume 10 - No 1 – Janeiro/Abril de 2016

Sobre o Autor Bruno Silva Leite Docente da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Coordena o LEUTEQ (Laboratório para Elaboração e Utilização de Tecnologias no Ensino de Química). Tem experiência

na

área

de

Química

desenvolvendo

pesquisas em Química Computacional e em Ensino de Química com aplicação das Tecnologias da Informação e Comunicação no Ensino, atuando nos seguintes temas: Recursos Didáticos Digitais, Web 2.0, Podcast, PLE, Hipermídia educacional, Vídeos Didáticos, processos de ensino e aprendizagem, estratégias didáticas e ambientes virtuais

de

aprendizagem.

Email:

[email protected].

Revista EducaOnline, Volume 10, No 1, janeiro/Abril de 2016. ISSN: 1983-2664. Este artigo foi submetido para avaliação em 22/10/2015 e aprovado para publicação em 07/01/2016.

54 Universidade Federal do Rio de Janeiro – Escola de Comunicação Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação – LATEC/UFRJ

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