Distribuição dos especialistas brasileiros em cefaléias - Análise dos membros da Sociedade Brasileira de Cefaléia Distribution of Brazilian headache specialists - Analyses of Brazilian Headache Society members

July 15, 2017 | Autor: Jano Souza | Categoria: Rio de Janeiro, General Population, Public Policy, Visual Inspection
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Masruha MR, Souza JA, Barreiros H, Piovesan EJ, Kowacs F, Queiroz LP, Ciciarelli MC, Peres MFP

artigo original

Distribuição dos especialistas brasileiros em cefaléias – Análise dos membros da Sociedade Brasileira de Cefaléia Distribution of Brazilian headache specialists – Analyses of Brazilian Headache Society members Marcelo Rodrigues Masruha1, Jano Alves de Souza2, Helio Barreiros3, Elcio Juliato Piovesan4, Fernando Kowacs5, Luiz Paulo Queiroz6, Marcelo Cedrinho Ciciarelli7, Mario Fernando Prieto Peres8

RESUMO Objetivos: Duas importantes barreiras que se impõem ao adequado cuidado de pacientes com cefaléias são o ensino insatisfatório desse tema no meio acadêmico e a relativa escassez de especialistas em cefaléias (EC). Neste trabalho expomos a distribuição dos especialistas em cefaléias no Brasil. Métodos: A inclusão dos especialistas foi realizada por meio de inspeção visual do diretório dos membros da Sociedade Brasileira de Cefaléia no período de 2004-2005. Os especialistas foram distribuídos pelo número absoluto e relativo (profissionais/população regional) para cada estado da federação e agregados nas regiões geopolíticas. Resultados: Duzentos e quarenta e três especialistas em cefaléias encontram-se distribuídos em 22 estados. O estado com maior número absoluto de EC é São Paulo (n = 86); entretanto, quando analisamos a relação especialistas em cefaléia/população, o estado do Rio de Janeiro passa a ter a maior relação, com 0,003/1.000 habitantes. Conclusão: Este estudo mostra a distribuição de médicos com interesse especial em cefaléias com densidades maiores nas regiões sudeste e sul do país. A determinação de uma densidade ideal ainda deve ser estruturada. Um esforço para que a densidade e distribuição dos especialistas seja mais equilibrada deve ser feito. Políticas públicas devem ser realizadas para que o impacto das cefaléias seja reduzido na população geral. Descritores: Cefaléia; Especialidades médicas; População; Brasil

ABSTRACT Objectives: Two important barriers that hinder the adequate care of patients with headache are the inadequate learning of the disorder in Medical Schools and the relative lack of headache specialists (HS)

Here we report the results of a survey on the distribution of headache specialists in Brazil. Methods: The inclusion of specialists was done through visual inspection of the 2004-2005 Directory of the Brazilian Society of Headache. Inclusion was determined based on society affiliation. Non-physician members were excluded from the analysis. The specialists were distributed by absolute and relative numbers (professionals/regional population ratio) for each Brazilian state, and were aggregated in geopolitical regions. Results: Two hundred and forty-three headache specialists are distributed over 22 states. The state with the highest absolute number of headache specialists is Sao Paulo (n = 86); however, when the HS/population ratio was analyzed, Rio de Janeiro has the highest figure – 0.003/1000 inhabitants. Conclusion: This study provides the distribution of headache specialists, with the higher densities of physicians with special interest in headache concentrated in the south and southeast regions. An ideal density of such professionals is yet to be determined.  A special effort should be made towards a better density and distribution of headache specialists in Brazil. Public policies should be taken in order to reduce the burden of headaches in the general population. Keywords: Headache; Specialties, medical; Population; Brazil

INTRODUÇÃO Cefaléia é uma das causas mais freqüentes de procura por atendimento médico. Trata-se de um problema de saúde pública, envolvendo perdas econômicas vultosas, diretas e indiretas, gerando um custo anual de aproximadamente 13 bilhões de dólares nos Estados Unidos, sendo este apenas relativo à enxaqueca(1). Esta, por sua vez,

Trabalho realizado na sociedade Brasileira de Cefaléia, Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 1

 Pós-graduando (doutorado), Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa – IIEP, São Paulo (SP), Brasil.

2

 Doutor em Neurologia, Universidade Federal Fluminense – UFF; Presidente da Sociedade Brasileira de Cefaléia, Rio de Janeiro (RJ), Brasil.

3

 Pós-graduando em Neurologia, Universidade Federal Fluminense – UFF, Rio de Janeiro (RJ), Brasil.

4

 Unidade de Cefaléia da Divisão de Neurologia do Departamento de Medicina Interna da Universidade Federal do Paraná – UFPR, Curitiba (PR), Brasil.

5

 Doutor em Medicina; Responsável pelo Ambulatório de Cefaléia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre (RS), Brasil.

6

 Mestre em Ciências Médicas da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC; Neurologista do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Santa Catarina (SC), Brasil.

7

 Membro Titular da Academia Brasileira de Neurologia; Membro da Sociedade Brasileira de Cefaléia e da International Headache Society, Ribeirão Preto (SP), Brasil.

8

 Neurologista do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein – IIEP, São Paulo (SP), Brasil.

Autor correspondente: Mario Fernando Prieto Peres – Avenida Albert Einstein, 627/701 – Morumbi – CEP 05651-901 – São Paulo (SP), Brasil – e-mail: [email protected] Data de submissão: 18/7/2006 – Data de aceite: 30/11/2006

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encontra-se listada entre as 20 enfermidades mais debilitantes do mundo e cujos adequados diagnóstico e tratamento permitiriam uma redução de seu impacto na qualidade de vida da população(2). Duas importantes barreiras que se impõem ao adequado cuidado de pacientes com cefaléias são o ensino inadequado deste tema no meio acadêmico (graduação e pós-graduação) e a relativa escassez de especialistas em cefaléias (EC)(2). Recentemente, a Organização Mundial de Saúde iniciou uma campanha internacional para diminuir o impacto das cefaléias na população geral(3), porém não há dados na literatura mundial sobre qual seria a adequada densidade de especialistas nesta área. No Brasil, a distribuição de EC é desconhecida, bem como possíveis necessidades regionais específicas para a presença destes profissionais. Para reduzir o impacto das cefaléias na população, é necessária uma política pública de manejo destas condições; para tanto, são necessários mais dados referentes à densidade e distribuição de especialistas em nosso meio.

OBJETIVO Neste trabalho  expomos a distribuição dos EC no Brasil com o objetivo de possibilitar uma análise sobre possíveis necessidades concernentes à formação de um número maior desses profissionais e de uma distribuição nacional mais equitativa. MÉTODOS A inclusão dos especialistas foi realizada por meio de inspeção visual do diretório dos membros da Sociedade Brasileira de Cefaléia (SBCe) no período de 2004-2005(4). Membros não-médicos foram excluídos da análise. A população de cada estado da federação foi obtida pelo censo populacional do ano 2000(5). Os dados foram tabulados e expostos por região geopolítica sob a forma de freqüência relativa e, por estados, sob a forma de freqüência absoluta e sua relação com o número de habitantes. RESULTADOS Duzentos e quarenta e três EC encontram-se distribuídos em 22 estados (tabela 1). As regiões sudeste, sul e nordeste contêm o maior número absoluto e relativo de EC (figura 1). Na região sul e sudeste, todos os estados apresentam valores relativos muito semelhantes, ao passo que nas regiões norte e nordeste são encontradas as maiores disparidades (tabela 1). Cinco estados brasileiros não possuem EC (Acre, Alagoas, Amapá, Roraima e Tocantins) cadastrados no diretório dos membros da Sociedade Brasileira de

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Figura 1. Distribuição regional dos especialistas brasileiros em cefaléia

Tabela 1. Distribuição estadual dos especialistas brasileiros em cefaléia

Acre Alagoas Amapá Amazonas Bahia Ceará Distrito Federal Espírito Santo Goiás Maranhão Mato Grosso Mato Grosso do Sul Minas Gerais Pará Paraíba Paraná Pernambuco Piauí Rio de Janeiro Rio Grande do Norte Rio Grande do Sul Rondônia Roraima Santa Catarina São Paulo Sergipe Tocantins Total

Número absoluto 0 0 0 3 4 7 5 7 4 3 2 1 32 2 2 12 7 2 44 4 10 1 0 9 86 2 0 243

Número relativo – – 1,2 1,6 2,8 2 2,8 1,6 1,2 0,8 0,4 12,8 0,8 0,8 4,8 2,8 0,8 17,6 1,6 4 0,4 – 3,6 34,8 0,8 – 100

População 557.526 2.822.621 477.032 2.812.557 13.070.250 7.430.661 2.051.146 3.097.232 5.003.228 5.651.475 2.504.353 2.078.001 17.891.494 6.192.307 3.443.825 9.563.458 7.918.344 2.843.278 14.391.282 2.776.782 10.187.798 1.379.787 324.397 5.356.360 37.032.403 1.784.475 1.157.098 169.799.170

por 1.000 habitantes 0 0 0 0,001 0,0003 0,001 0,001 0,002 0,0008 0,0005 0,0008 0,0005 0,002 0,0003 0,0006 0,001 0,0009 0,0007 0,003 0,001 0,001 0,0007 0 0,001 0,002 0,001 0 0,001

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Cefaléia (SBCe), dos quais quatro estão localizados na região norte e um na região nordeste. O estado com maior número absoluto de EC é São Paulo, com o total de 86 especialistas; entretanto, quando analisamos a relação EC/população, o estado do Rio de Janeiro passa a ter a maior relação, com 0,003 EC/1.000 habitantes.

DISCUSSÃO O órgão oficial que estabelece as especialidades médicas no Brasil é o Conselho Federal de Medicina, que não reconhece a “cefaliatria”. No âmbito da neurologia, são reconhecidas apenas três áreas de atuação: neurologia infantil, neurofisiologia clínica e dor. Por não ser considerada uma especialidade médica, não há, até o presente momento, critérios definidos para determinar se um médico é ou não “especialista em cefaléia” ou “cefaliatra”(4). Optamos por utilizar como critério de inclusão no estudo a afiliação à SBCe por entendermos que, na ausência de critérios formais para definição de um EC, o fato de o indivíduo filiar-se a uma sociedade com fins específicos demonstra seu interesse pelo assunto. Obviamente existem limitações nesse método, haja vista que médicos que efetivamente estudam a fundo esse tema podem, por algum motivo, não estar filiados à SBCe. Da mesma forma, indivíduos filiados à SBCe podem ainda, apesar de terem o interesse pela área, não ter treinamento adequado. Em geral, os afiliados são neurologistas que se interessaram mais pelo estudo deste tipo de problema, o que não quer dizer que médicos de outras especialidades, como, por exemplo, clínicos gerais, geriatras e pediatras não possam ser considerados EC. Embora feito por membros do Comitê de Pesquisa da SBCe, este estudo não representa uma determinação da sociedade sobre critérios de especialista. Além disso, este não é o escopo do artigo, pois apenas utilizamos uma metodologia para ilustrar a distribuição nacional de profissionais interessados no estudo das cefaléias(4). Não existem trabalhos demonstrando a densidade ideal de EC. Assim sendo, torna-se difícil a análise dos dados obtidos. Entretanto, consideramos que as densidades averiguadas dos EC em nosso país deveriam

ser maiores em face da enorme importância do problema. Estudos futuros são necessários, com a aplicação de metodologias mais adequadas, ainda não definidas neste momento, por exemplo, com um consenso de definição de EC e com uma pesquisa de interesse pela área junto a neurologistas, clínicos gerais e outras especialidades(3). Este estudo pode servir também como modelo para essa mesma análise em outras áreas da saúde, para que um melhor planejamento de políticas públicas possa ser realizado. Outra discussão relevante é a necessidade de generalistas se envolverem no tratamento das cefaléias, haja vista que seria impossível que todas as cefaléias fossem tratadas apenas por especialistas em cefaléia. Um planejamento e escalonamento do atendimento é necessário, com critérios estabelecidos para quando um paciente deva ser atendido por um clínico geral, médico do programa de saúde da família, ginecologista, pediatra, psiquiatra, neurologista, ou especialista em cefaléia. 

CONCLUSÃO Um planejamento do manejo das cefaléias é imperativo para que ocorra uma diminuição do impacto deste problema em nosso meio. Neste estudo mostramos que é necessário um esforço para que a densidade e a distribuição dos especialistas sejam mais equilibradas. Políticas públicas devem ser realizadas para que o impacto das cefaléias seja reduzido na população geral. REFERÊNCIAS 1. Lipton RB, Stewart WF, Diamond S, Diamond ML, Reed M. Prevalence and burden of migraine in the United States: data from the American Migraine Study II. Headache 2001; 41(7):646-57 2. Levav I, Rutz W. The WHO World Health report 2001 new understanding – new hope.  J Isr Psychiatry Relat Sci. 2002;39(1):50-6. 3. Martelletti P, Haimanot RT, Lainez MJ, Rapoport AM, Ravishankar K, Sakai F, et al. The global campaign (GC) to reduce the burden of headache worldwide. The International Team forSpecialist Education (ITSE). J Headache Pain. 2005;6(4):261-3. 4. Sociedade Brasileira de Cefaléia [sítio na Internet]. Rio de Janeiro: SBC; c2003. Disponível em: http://www.sbce.med.br/associados/associados.asp 5. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [sítio na Internet]. São Paulo: IBGE; c2001. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/censo/default.php

 

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