Diversidade biológica dos Arroios Capivaras, Ribeiro e Orla do Guaíba no Município de Barra do Ribeiro, RS: A riqueza natural como instrumento para a gestão sustentável dos recursos locais

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Descrição do Produto

Diversidade Biológica dos Arroios Capivaras, Ribeiro e orla do Guaíba no município de Barra do Ribeiro, RS

A riqueza natural como instrumento para a gestão sustentável dos recursos locais

Luciano Moura de Mello e Vinícius Brasil do Amaral Alexandra Alves Cantos • Clodoaldo Leites Pinheiro • Daiane Maria Melo Pazinato •Darliane Evangelho Silva Débora Tatiane Borges Motta • Antônio Hector Bastide Ramos • Gelson Luis Menezes de Souza Leonardo Pompéu de Moraes • Luiz Liberato Costa Corrêa • Vinícius Braga Comaretto Marjorie Knippling do Amaral • Pâmela Salen Domingues Quadro • Pâmela Martins Mugica

Diversidade Biológica dos Arroios Capivaras, Ribeiro e orla do Guaíba no município de Barra do Ribeiro, RS

A riqueza natural como instrumento para a gestão sustentável dos recursos locais

Luciano Moura de Mello e Vinícius Brasil do Amaral Alexandra Alves Cantos • Clodoaldo Leites Pinheiro • Daiane Maria Melo Pazinato •Darliane Evangelho Silva Débora Tatiane Borges Motta • Antônio Hector Bastide Ramos • Gelson Luis Menezes de Souza Leonardo Pompéu de Moraes • Luiz Liberato Costa Corrêa • Vinícius Braga Comaretto Marjorie Knippling do Amaral • Pâmela Salen Domingues Quadro • Pâmela Martins Mugica

Capa: Fotografia de Luciano Moura de Mello. Pôr de sol do dia 08 de julho de 2011, Lago do Guaíba, RS, fim de tarde do primeiro dia de trabalho de reconhecimento das áreas de estudo. Projeto gráfico: Luciano Moura de Mello Revisão: Daniele Soares de Lima

MELLO, Luciano Moura; AMARAL, Vinícius Brasil Diversidade biológica dos Arroios Capivaras, Ribeiro e Orla do Guaíba no Município de Barra do Ribeiro, RS: A riqueza natural como instrumento para a gestão sustentável dos recursos locais. Santa Maria, RS, 2012. Il.; ISBN 978-85-65503-32-7 1. MELLO, L.M. AMARAL. V. B., 2012, Diversidade Biológica. Barra do Ribeiro.

Todos os direitos reservados. 2012

Sumário

1 2 3 4 5 Capítulo

Capítulo

Capítulo

Capítulo

Capítulo

Apresentação

Aspectos metodológicos e os sítios de coleta de dados

Diversidade de avifauna

06

08

18

Diversidade da herpetofauna

34

Mamíferos silvestres

42

Diversidade de Peixes

60

Sumário

Capítulo

Capítulo

Capítulo

Capítulo

6 7 8 9

Florística e Ecologia de Orchidaceae e Bromeliaceae

78

Florestas ciliares e os impactos ambientais nas APP

95

Educação Ambiental como instrumento de conservação dos ambientes naturais Discussões finais e proposição de soluções

Apresentação dos Autores

115

129 0 140

Apresentação do Projeto

Desde a primeira infância tivemos o privilégio de frequentar o grande paraíso da natureza de nosso amado Guaíba e adjacências como praias e arroios em estado de magnífica conservação à época. Ao longo dos anos aprendemos a respeitar e admirar áreas tão próximas da grande metrópole (Porto Alegre) que com o passar do tempo foram gradativamente sendo agredidas pelo homem, apesar da beleza ímpar de um bioma incomparável. Percebemos então que somente através de um projeto sério e fundamentado poderíamos concretizar a iniciativa de mitigar esse perigoso processo de degradação na denominada “zona de impacto” (áreas com grande riqueza de flora e fauna vizinhas de grandes concentrações demográficas). Mas como realizaríamos tão ambicioso trabalho sendo meros observadores leigos? A partir de então participaríamos de fóruns, debates, cursos e seminários sobre os principais temas do meio ambiente, e após quatro longos anos encontraríamos através da Pampa Consultoria Ambiental, na cidade de Bagé, a equipe coordenada pelo Biólogo Luciano Moura de Mello, que sendo Professor do Curso de Ciências Biológicas da URCAMP e através de exaustiva colaboração acadêmica voluntária projetou e desenvolveu o presente trabalho visando à preservação desse frágil e tão pouco preservado ecossistema, que debaixo de nossos olhos é muitas vezes esquecido em prol da conservação da Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal e tantas outros não menos importantes, mas distantes de nosso foco imediato.

Em 18 meses de trabalho, de julho de 2011 a dezembro de 2012, somadas todas as expedições das equipes de trabalho, enfrentaram juntas cerca de 10.900km pelas rodovias entre Bagé e Barra do Ribeiro, vivendo conosco o sonho de trabalhar pela conservação de ambientes tão queridos e importantes ecologicamente. Após este período de intensos trabalhos de campo, é momento de apresentar o primeiro produto deste grande esforço: um guia contendo os resultados das primeiras fases do estudo. Esperamos que esse importante trabalho sirva para chamar a atenção de formadores de opinião, empresários, políticos, magistrados, estudantes, ambientalistas e simples homens que obtém da mãe natureza o ar puro que ainda respiram, um sopro de motivação e responsabilidade para defender com “unhas e dentes” nossas plantas e animais que imploram por socorro e justiça!

Vinícius Brasil do Amaral e Marjorie Knippling do Amaral Empresários e idealizadores do Projeto

Capítulo

1

Aspectos metodológicos e os sítios de coleta de dados Luciano Moura de Mello 1

Para a coleta de dados de fauna e flora foi utilizado neste projeto a metodologia do Programa de Avaliação Rápida (“Rapid Assessment Program”), ou RAP. O objetivo básico da metodologia é coletar a campo e analisar o máximo de informações de maneira rápida e segura a respeito da biodiversidade de uma região, possibilitando a realização de um inventário biológico consistente. O desenvolvimento desta metodologia, entretanto, pode requerer que ações complementares posteriores sejam realizadas, como a determinação de populações, flutuações sazonais, distribuição, eventos migratórios, interações entre os ecossistemas locais entre outros. O método RAP envolve passos decisivos de planejamento e organização que garantem seu sucesso: 1. Identificação das necessidades e objetivos para a pesquisa; 2. Seleção das áreas de pesquisa; 3. Obtenção de informações preliminares sobre a biodiversidade da área; 4. Determinação do número e localização dos locais de amostragem; 5. Levantamento das épocas do ano a amostrar; 6. Determinação dos grupos taxonômicos que serão amostrados; 7. Determinação dos membros da equipe;

1

Biólogo, MSc, Doutorando (FAEM/UFPEL). Email: [email protected].

8. Planejamento de logística (transporte, acampamentos, equipamentos, alimentação, etc.); 9. Organizar ou adquirir equipamentos e suprimentos necessários. A fim de selecionar os grupos de organismos a amostrar num Programa de Avaliação Rápida deve-se considerar os seguintes aspectos: 1. facilidade de amostragem do grupo a campo, garantindo boa imagem da riqueza de espécies em um curto espaço de tempo; 2. equipamentos e logística apta à amostragem das áreas e ao acesso aos diversos ambientes de ocorrência do grupo, e 3. Existência de especialistas ou guias de identificação que permitam a confirmação dos indivíduos com o máximo de segurança. Dados coletados durante RAP geralmente incluem (a) uma lista de espécies por ambiente, (b) o número total de espécies para cada local e para a área total, (c) comparações entre locais em termos de riqueza de espécies (índices e listas de diversidade), (d) listas de espécies importantes, incluindo ameaçadas de extinção, endêmicas restritas ou não, indicadores, introduzidos, migratórios, raras, protegidas e imunes ao corte bem como em outras categorias especiais, (e) informações ecológicas sobre cada uma das espécies, incluindo o tipo de habitat que necessitam, o que alimentam-se, onde vivem, tipo de ninho, o tamanho das populações (se possível) e seus papéis nos processos ecossistêmicos ou serviços. O método de pesquisa RAP é essencialmente rápido, além de confiável. A agilidade e confiabilidade dos inventários justificam sua aplicação neste trabalho e é garantida pela diversificação das equipes de trabalho e da intensidade das ações a campo, gerando grande volume de dados comparáveis. A organização logística e a gestão dos trabalhos garante redução sensível de custos quando comparados a trabalhos descentralizados onde equipes mobilizam-se isoladamente para os trabalhos de campo. Os inventários na área de estudo envolveram o meio biótico (fauna e flora), o meio abiótico (qualidade dos recursos hídricos) e o meio sócio-ambiental, com entrevistas dirigidas à população ribeirinha e a proposição de ações educação ambiental.

No meio biótico, foi estudada a flora arbórea das florestas de galeria além de representantes das Famílias Orchidaceae e Bromeliaceae distribuídos nestas mesmas áreas. Os inventários de fauna relatam, além da ocorrência de visitantes florais em registros de oportunidade, os principais grupos de vertebrados, como peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos, voadores e não voadores. Para a flora a metodologia envolveu a descrição geral das formações florestais, as relações de diversidade e domínio de espécies em cada ambiente, estando a descrição da densidade média de espécies, dos índices de diversidade e similaridade, programados para a etapa seguinte do trabalho, mostrando os padrões fitogeográficos para cada área de estudo. Estas ações são de extrema importância por que dão suporte às decisões eficientes nos trabalhos de recuperação ambiental a serem implantados. Os inventários de fauna abordam invertebrados que podem ser considerados espécies-chaves para a conservação de ecossistemas: visitantes florais são grupos bastante específicos em suas redes alimentares e sua ocorrência pode assinalar aspectos da qualidade dos ambientes estudados. Entre os vertebrados, os peixes destacam-se pela sua importância no reconhecimento de padrões na malha hidrográfica além de caracterizarem-se como importantes fontes de exploração econômica de subsistência e comercial. Anfíbios, répteis, aves silvestres e mamíferos fornecem importantes dados sobre a composição e a ocorrência de danos nos ecossistemas locais. O meio abiótico será detalhado na segunda fase, sendo julgado com relação à aspectos da qualidade dos recursos hídricos, onde será avaliado o oxigênio dissolvido, demanda química e bioquímica de oxigênio, pH, coliformes e outros parâmetros biofisicoquímicos, buscando correlacioná-los com a distribuição dos organismos vivos. O meio sócio-ambiental foi avaliado por meio de pesquisa dirigidas à população ribeirinha abordando aspectos relativos à escolaridade média, atividades econômicas, renda média, entre outras informações importantes para diagnosticar os principais problemas, dificuldades, potencialidades e a relação da população local com os organismos e os ambientes locais.

Figura 01. Mapa de distribuição das áreas de estudo.

As áreas de estudo (Figura 01) situam-se no município de Barra do Ribeiro (Latitude -30° 17' 28'' Longitude -51° 18' 04'') e estão distribuídas nos quadros a seguir, conforme as respectivas etapas de desenvolvimento do estudo.

Figura 02. Margem de Barra do Ribeiro com o Guaíba,em Julho de 2011, vista da foz do Arroio Ribeiro e Capivaras (FOTO: Luciano M. de Mello).

Foram realizadas amostragens totais via fluvial de suas fozes até os pontos médios definidos na tabela abaixo, com a finalidade de identificar, georreferenciar e registrar fotograficamente os pontos de impactos que não podem ser observados em imagens de satélite. De acordo com os critérios citados acima foram selecionados os pontos de amostragem: 1ª fase: Junho de 2011 a Junho de 2012 PONTOS DE AMOSCOORDENADAS DE TRAGEM REFERÊNCIA P1. Foz do Arroio Ribeiro e Capivaras P2. Arroio Capivaras P3. Arroio Ribeiro

30° 16’ 56,22 S 30° 16’ 49,83 S 30° 16’ 57,55 S

51° 18’ 08,76 W 51° 18’ 20,92 W 51° 18’ 18,67 W

AMBIENTES

Área amostrada

AF, AM, AU, AA, AC

95.000m²

AF, AM, AU, AA

120.000m²

AF, AM, AU, AA

150.000m²

2ª fase: Julho de 2012 a Julho de 2013 PONTOS DE AMOSCOORDENADAS DE TRAGEM REFERÊNCIA P4. Ponta do Salgado P5. Arroio Araçá

30° 18’ 25,69 S 30° 19’ 55,39 S

51° 13’ 00,81 W 51° 15’ 18,65 W

3ª fase: Agosto de 2013 a Agosto de 2014 PONTOS DE AMOSCOORDENADAS DE TRAGEM REFERÊNCIA P6. Ponta das Ceroulas P7. Ponta do Jacaré P8. Arroio Petim

30° 15’ 07,02 S 30° 14’ 07,26 S 30° 12’ 36,30 S

51° 16’ 52,87 W 51° 17’ 50,77 W 51° 19’ 29,69 W

AMBIENTES

Área amostrada

AF, AM, AA

290.000m²

AF, AM, AU, AA, AC

190.000m²

AMBIENTES

Área amostrada

AF, AM, AU, AA

310.000m²

AF, AM, AU, AA

125.000m²

AF, AM, AU, AA, AC

180.000m²

Legenda das tabelas descritivas das fases do trabalho: AF: áreas florestadas, AM: áreas marginais, AU: áreas úmidas, AA: ambientes aquáticos e AC: ambientes campestres).

Figura 03. Margem do Guaíba (fim de tarde de 03 Dez 12) (FOTO: Luciano M. de Mello).

Figura 04. Graxaim-do-mato em praia da Ponta do Salgado durante reconhecimento das áreas de estudo (09 Jul 11) (FOTO: Luciano M. de Mello).

Os dados são apresentados em capítulos por grupos de organismos e temas a seguir: LEVANTAMENTOS DE FAUNA CAPÍTULO 2: Aves Silvestres CAPÍTULO 3: Répteis e Anfíbios CAPÍTULO 4: Mamíferos CAPÍTULO 5: Peixes LEVANTAMENTOS DE FLORA CAPÍTULO 6: Orquídeas e bromélias CAPÍTULO 7: Flora arbórea e Áreas de Preservação EDUCAÇÃO AMBIENTAL CAPÍTULO 8: Ações de Educação Ambiental RESULTADOS E DISCUSSÕES CAPÍTULO 9: Proposição de soluções integradas

Entre os mais importantes resultados da pesquisa já na primeira fase, pode-se destacar: 1. a obtenção de dados preliminares sobre a diversidade biológica em áreas naturais e com diferentes níveis de ação antrópica, devido às atividades econômicas e agrosilvopastoris desenvolvidas no município de Barra do Ribeiro; 2. determinação do grau geral e particular de conservação dos ecossistemas mediante estudo integrado das paisagens; 3. diagnóstico e prognóstico das atividades praticadas na região e que porventura estejam interferindo ou possam interferir na distribuição e manutenção das populações locais; 4. entendimento dos padrões bioecológicos locais e geração de informações que subsidiem o manejo natural, a conservação e indicação de áreas sensíveis para a preservação; 5. realização de audiências públicas para o encaminhamento de soluções; 6. proposição de ações de educação ambiental a serem implementadas em escolas municipais de Barra do Ribeiro a título de apoio às ações já desenvolvidas e focadas na conservação e valorização dos ambientes locais e 7. projeção de ações, como a reedição das publicações associadas ao resultados de trabalhos ao final de cada etapa do estudo, adicionando-se informações que melhor amparem as decisões voltadas à gestão dos ambientes naturais e expansão das metas gerais do projeto a outras áreas do Estado.

Figura 05. Arroio Capivaras (10 Jul 11) (FOTO: Luciano M. de Mello).

Figura 06. Entrando ao Arroio Araçá, durante reconhecimento das áreas de estudo (09 Jul 11) (FOTO: Leonardo P. de Moraes).

Figura 07. Navegando em reconhecimento no Arroio Araçá (09 Jul 11) (FOTO: Luciano M. de Mello).

Agradecimentos do autor Agradeço aos idealizadores, Vinícius e Marjorie, pela confiança em nosso trabalho e a Sepé Tiaraju de Los Santos pelo apoio durante a primeira expedição às áreas de estudo que nos permitiram mais do que conhecer, mas a amar mais esse precioso pedaço deste planeta.

Capítulo

2

Levantamento preliminar da diversidade de avifauna em Barra do Ribeiro Leonardo Pompéu de Moraes 2 Luciano Moura de Mello 3 Luiz Liberato Costa Corrêa 4 Pâmela Salen Domingues Quadro 5

As aves constituem o grupo de animais mais conhecido entre todos. Sua ampla distribuição significa a grande adaptação destes animais aos diversos ambientes e funções ecológicas. Estas funções ecológicas dão às aves especial papel na estabilidade dos ecossistemas. Desde os tempos antigos a humanidade tem compartilhado espaços e recursos com espécies da fauna silvestre, dentre eles as aves destacamse por serem animais importantes para o homem, inclusive nos aspectos culturais, para muitos eram considerados na antiguidade deuses, para outros, como povos indígenas, incorporavam danças em seus rituais usando penas na cabeça e outras partes do corpo, ainda hoje se utilizam desses elementos em suas canções e obras e buscam inspirações na beleza das aves, e seus cantos melodiosos (ANDRADE, 1997). As aves são um grupo de vertebrados que possuem como características principais o corpo coberto por penas, apêndices locomotores anteriores modificados em asas, bico córneo e ossos pneumáticos. Seu organismo, tanto fisiológica quanto biomecanicamente estão totalmente adaptados à prática do voo. Tanto a endotermia quanto a capacidade de 2

Biólogo, Esp. Email: [email protected] Biólogo, MSc., Doutorando, FAEM/UFPEL. Email: [email protected] 4 Biólogo, Mestrando, PPG em Ambiente e Desenvolvimento (UNIVATES). Email: [email protected] 5 Bióloga. Email: [email protected] 3

voo foram determinantes para o grande sucesso e a notável diversificação das aves na Terra, pois permitiram que elas colonizassem áreas remotas e sobrevivessem sob condições climáticas adversas (SICK, 1984; 1997; ANDRADE, 1997; BENCKE et al., 2003; ARES, 2007). As aves sempre encantaram as pessoas, com seus cantos melodiosos, e suas belas plumagens coloridas (Andrade, 1997; Reinert et al., 2004), sendo um grupo de animais superiores muito conhecido (Andrade, 1997), além do fato da grande maioria das espécies possuir hábitos diurnos e vocalizar com frequência, são relativamente espécies de boa detecção em campo (Develey, 2006), comparando a outros grupos de animais (ANDRADE, 1997).

Figura 01. Agelaioides badius (Asade-telha), pousado em área campestre (FOTO: Luiz L. C. Corrêa).

Figura 02. Cyanoloxia brissonii (Azulão) capturado em região dos pomares (FOTO: Leonardo P. de Moraes).

Dessa forma, trata-se de um dos grupos de vertebrados mais conspícuos e estudados em paisagens naturais ou artificiais (Bencke et al., 2003; MMA, 2005). Acredita-se que cerca de 99,9% das espécies desse grupo já foram descritas (SICK, 1984; 1997). De acordo com Bencke et al. (2003) atualmente são registradas cerca de 10 mil espécies no globo terrestre, sendo que dessas, cerca de 2645 vivem na América do Sul (REINERT et al., 2004). No Brasil ocorrem atualmente 1.832 espécies já registradas (CBRO, 2011), sendo a avifauna brasileira considerada uma das mais exuberantes

e ricas do mundo, devido à grande extensão de nosso território, diversidade de ecossistemas e belezas naturais existentes (ANDRADE, 1997).

Figura 03. Chloroceryle amazona (Martim-pescador-verde), capturado em rede de neblina, margem do Arroio Capivaras (FOTO: Leonardo P. de Moraes).

O Rio Grande do Sul, Estado mais meridional do Brasil (Belton, 1994), dispõe atualmente de uma lista com 661 espécies já registradas (BENCKE et al., 2010). Segundo Belton (1994) a investigação ornitológica no Estado parece ter começado com o francês Augst Sainte Hilaire que viajou nesta região em 1820-1821, sendo que outros pesquisadores tiveram suas contribuições, mas quem mais contribuiu com dados e pesquisas foi William Belton, ornitólogo norte-americano, que realizou e compilou vários estudos sobre nossa avifauna entre os anos de 1970 e 1983, sendo que seu trabalho atualmente é fonte de referência para pesquisa sobre as aves do Estado gaúcho (BENCKE, 2001; BENCKE et al., 2003). Atualmente vários pesquisadores vêm destacando-se, e contribuindo com dados de extrema importância com aspectos de registros, distribuição e estudo das aves silvestres encontradas no Estado: G. A. Bencke, L. Bugoni, M. V. Petry; R. A. Dias; I. A. Acoordi; C. S. Fontana; entre outros. No entanto o estudo das aves no Rio Grande do Sul encontra-se em fase exploratória e descritiva, portanto quaisquer informações adicio-

nais sobre a fauna ornitológica no Estado que ainda careçam de uma documentação apropriada devem ser divulgados (BENCKE, 2001).

Figura 04. Turdus rufiventris (Sabiá-laranjeira) capturado em rede de neblina em área campestre, próximo a pomares (FOTO: Leonardo P. de Moraes).

As aves são fundamentais na manutenção dos mais diferentes ecossistemas, onde desempenham importantes funções ecológicas agindo ativamente sobre o ambiente e teias alimentares em que se encontram. Algumas das funções mais importantes desempenhadas no ambiente consistem na dispersão de sementes, polinização de plantas (beijaflores) e auxilio no controle da população de insetos e de pequenos vertebrados (SICK, 1984; 1997; ANDRADE, 1997; BENCKE et al., 2003; REINERT et al., 2004; ARES, 2007). Os organismos móveis possuem uma ampla margem de controle sobre o ambiente em que vivem; eles podem sair de um ambiente letal ou desfavorável e buscar ativamente outro (BEGON, 2007). Essa facilidade das aves, dada pela característica do voo, possibilitam que localizem suficiente disponibilidade de recursos alimentares e abrigo (Andrade, 1997), realizando pequenas ou grandes migrações na busca de ambientes mais favoráveis.

Figura 05. Turdus amaurochalinus (Sabiá-poca) capturado em rede de neblina (FOTO: Luciano M. de Mello).

Neste sentido, as aves constituem um dos grupos faunísticos mais importantes em termos de bioindicação da qualidade ambiental, devido à facilidade de obtenção de dados em pesquisa de campo, permitindo-se obter diagnósticos precisos em curto espaço de tempo (RAMOS, 1997). No entanto, a simples presença ou a ausência dessas espécies já é indicativa de conservação ou degradação de uma determinada área (Reinert et al., 2004) embora dados complementares devam ser reunidos à estas conclusões a fim de estabelecer a bioindicação. A realização de estudos em levantamentos e inventários da avifauna pode indicar a qualidade de um ambiente como seu nível de perturbação ecológica, permitindo a identificação dos locais em que deve ser realizados planejamentos e ações de intervenção no manejo e conservação de ecossistemas. Novos registros de uma espécie podem representar indícios da expansão geográfica ativa de uma população, possivelmente motivada por alterações em seus hábitats originais, bem como o desaparecimento de espécies anteriormente descritas. Neste contexto julga-se importante a realização de inventários ornitológicos de campo (SEIXAS et al., 2010).

METODOLOGIA Foi realizado um levantamento qualitativo, de acordo em Develey (2006), da avifauna em uma área com cerca de 30 hectares (divididos entre áreas florestadas e campestres), no Município de Barra do Ribeiro, região central do Rio grande do Sul (30º16’48.8”S 51°18’12.1”W), inserida no Bioma Pampa (IBGE, 2004). No período de julho de 2011 à março de 2012, foram realizadas 8 expedições a campo na região, cada uma com dois dias, realizando-se transectos para o registro da avifauna com auxilio de binóculos (8x40; 10x50) para realizar varreduras em observações em curtas e longas distâncias. Em alguns trechos aleatórios nas proximidades de ambientes florestais e aquáticos foram realizados pontos de escuta na primeira hora da manhã e ao anoitecer. Utilizou-se ainda redes de neblina (12 e 7x3m), para a captura e identificação de espécies e registro fotográfico. As redes foram instaladas ao amanhecer, e mantidas até o fim da tarde, sendo revisadas em intervalos de 30 minutos. Também foi utilizada a técnica do playbacks em período diurno e noturno, a fim de atrair algumas espécies que dificilmente são observadas diretamente. Para aplicar a técnica de playback foram utilizados aparelhos (Gravador/Olympus-WS-700M) para a reprodução das vocalizações de aves, de acervo particular dos pesquisadores, e amplificador portátil para reproduzir o som. Develey (2006) comenta que o levantamento qualitativo tem por finalidade conhecer a riqueza da comunidade encontrada em uma determinada área (RAP), compilando esforços, em caminhadas a pé, transectos, pontos de escuta, utilizando redes de captura e uso de playbacks, ressultando em uma excelente metodologia para adquirir uma listagem de aves da área em estudo. Para a identificação e comparação das espécies registradas foram seguidos os guias de campo: Narosky & Yzurieta (2003) e Perlo (2009).

Figura 06. Saltador similis (Trinca-ferroverdadeiro) em mata de galeria, orla do Guaíba (FOTO: Leonardo P. de Moraes).

Figura 07. Bubo virginianus (Jacurutu), em mata de galeria, orla do Guaíba (FOTO: Luiz L. C. Corrêa).

RESULTADOS E DISCUSSÕES em Foram registras 82 espécies (Tabela 1), em 196 horas de esforço amostral. A família mais representativa foi a Tyrannidae, seguida de Thraupidae. Para nomenclatura das espécies seguiu a versão mais atual da lista de aves do Brasil (CBRO, 2011). As aves foram agrupadas por hábitos alimentares, baseando-se em dados obtidos em Sick (1984, 1997); Rodriges et al., (2005) e Scherer et al. (2010), considerando as seguintes guildas6: carnívoros; frugívoros (alimentação baseada em frutos); granívoros (alimentação baseada em sementes); nectarívoros: utilizam o néctar como base em sua dieta alimentar; piscívoros (alimentação baseada em peixes); onívoros: sua dieta é baseada em frutos, artrópodes e pequenos vertebrados, sendo assim consideradas as espécies cuja alimentação é composta por mais de uma guilda alimentar. Insetívoros alimentam-se de insetos e necrófagos alimentam-se de carcaças de animais em decomposição.

6

Guildas são grupos de organismos reunidos pela função que desempenham no controle de outras populações.

Figura 08. Basileuterus culicivorus (Pula-pula-assobioador) em mata de galeria, orla do Guaíba (FOTO : Luciano M. De Mello).

Figura 09. Lanio cucullatus (Tico-tico-rei) em mata de galeria, na orla do Guaíba (FOTO: Pâmela S. D. Quadros).

Devido a localização e diversidade de ecossitesmas da região (ambientes campestres, áquaticos e florestais), estes dispõe de diversificadas fontes alimentares para aves, beneficiando àquelas espécies que caracterizam-se pela dieta alimentar insetívora e onívora, sendo as primeiras as mais representativas na região (Gráfico 01 e 02). Gráfico 1: Distribuição do número de espécies de aves registradas por guildas alimentares. 30 25 20

15 10 5 0

Gráfico 2: Distribuição percentual das espécies de aves registradas por guildas alimentares. 5% 5%

3%

Insetívoros

1%

7%

Onívoros 34%

Granívoros Frugívoros Piscívoros

13%

Carnívoros Necrófagos 32%

Nectatívoro

As espécies registradas no estudo já eram esperadas para a região de acordo com consulta bibliográfica em Belton (1994), ressaltando-se também que não houve nesta primeira fase registro de nenhuma espécie que amplia sua distribuição ou novo registro quando consultado Belton (1994); Bencke (2001) e Bencke et al. (2010).

Figuras 10 e 11. Fezes de aves contendo diversos tipos de sementes de espécies nativas, em postes de cercas, demonstrando a importante participação das aves silvestres na dispersão de espécies vegetais (FOTOS: Luciano M. de Mello).

Deve-se ressaltar que a região possui ainda um grau de fragmentação que merece atenção, dada pela ocupação humana, indicando a ne-

cessidade de um plano de recuperação e manejo a fim de garantir e estabilidade destes ambientes. Sobre locais de encontros dos espécimes foram caraterizados da seguinte forma os registros: Campo: refere-se a ave registrada em ambiente campestre, pousada ou em voo livre; Florestal: o registro em ambientes provenientes de mata nativa (ciliar) e Área úmida: registro em ambiente aquático. Não foram registradas espécies ameaçadas na área de estudo, comparando com Bencke et al. (2003).

Figura 12. Pipraeidea bonariensis Figura 13. Columbina picui (Picui) em mata (Sanhaço-papa-laranja) em mata de gale- de galeria, orla do Guaíba (FOTO: Leonardo ria, Arroio Capivaras (FOTO: Leonardo P. P. de Moraes). de Moraes).

Figura 14. Ortalis guttata (Aracuã) em mata de galeria, Arroio Ribeiro (FOTO: Luciano M. de Mello).

Figura 15. Thraupis sayaca (Sanhaçocinzento) em mata de galeria, orla do Guaíba (FOTO: Leonardo P. de Moraes).

Figura 16. Hydropsalis torquata (Bacurau) em área campestre próximo a casas (FOTO: Luiz L. C. Corrêa).

Figura 17. Pitangus sulfuratus (Bem-te-vi) em mata de galeria, foz do Arroio Ribeiro (FOTO: Leonardo P. de Moraes).

Figura 18. Ardea alba (Garça-branca-grande) sobre vegetação aquática. Arroio Capivaras. FOTO: Luciano M. de Mello).

Figura 19. Tigrisoma lineatum (Socó-boi) sobre vegetação aquática, Arroio Ribeiro (FOTO: Luciano M. de Mello).

Tabela 1. Lista da diversidade de aves silvestres em Barra do Ribeiro, RS (período de Jul 2011 a Mar 2012). Ordem/Família/espécie TINAMIFORMES TINAMIDAE Nothura maculosa ANSERIFORMES ANHIMIDAE Chauna torquata ANATIDAE Amazonetta brasiliensis

Nome-Comum

Guilda Alimentar

Ambiente de registro

Codorna-amarela

Onívoro

Campo

Tachã

Onívoro

Área úmida

Pé-vermelho

Onívoro

Área úmida

GALLIFORMES CRACIDAE Ortalis guttata SULIFORMES HALACROCORACIDAE Phalacrocorax brasilianus PELECANIFORMES ARDEIDAE Tigrisoma lineatum Ardea cocoi Ardea alba Nycticorax nycticorax THRESKIORNITHIDAE Plegadis chihi Phimosus infuscatus CATRARTIFORMES CATHARTIDAE Coragyps atratus Cathartes aura ACCIPITRIFORMES ACCIPITRIDAE Rupornis magnirostris FALCONIFORMES FALCONIDAE Caracara plancus Falco sparverius RALLIDAE Aramides cajanea Aramides ypecaha Laterallus melanophaius CHARADRIFORMES CHARADRIIDAE Charadrius collaris Vanellus chilensis JACANIDAE Jacana jacana COLUMBIFORMES COLUMBIDAE Columbina talpacoti Columbina picui Leptotila verreauxi Zenaida auriculata CUCULIFORMES CUCULIDAE

Aracuã

Frugívoro

Florestal

Biguá

Piscívoro

Área úmida

Socó-boi-verdadeiro Socó-grande Garça-branca-grande Savacu

Piscívoro Onívoro Onívoro Onívoro

Área úmida Área úmida Área úmida Área úmida

Maçarico-preto Maçarico-de-carapelada

Onívoro

Área úmida

Onívoro

Área úmida

Urubu-de-cabeça-preta Urubu-de-cabeçavermelha

Necrófago

Campo

Necrófago

Campo/florestal

Gavião-Carijó

Carnívoro

Florestal

Caracará Quiri-quiri

Carnívoro Onivoro

Campo Campo

Três-potes Saracuraçu Pinto-d´água-comum

Onívoro Onívoro Onívoro

Área úmida Área úmida Área úmida

Batuíra-de-coleira Quero-quero

Insetívoro Insetívoro

Área úmida Campo

Jaçanã

Onívoro

Área úmida

Rolinha-roxa Rolinha-picuí Juriti-pupu Pomba-de-bando

Granívoro Granívoro Granívoro Granívoro

Campo/florestal Campo/florestal Florestal Campo/florestal

Piaya cayana Crotophaga ani Tapera naevia PISTTACIFORMES PSITTACIDAE Myiopsitta monachus CAPRIMULGIFORMES CAPRIMULGIDAE Hydropsalis torquata STRIGIFORMES STRIGIDAE Bubo virginianus Athene cunicularia APODIFORMES APODIDAE Chaetura meridionalis TROCHILIDAE Hylocharis chrysura CORACIFORMES ALCEDINIDAE Megaceryle torquata Chloroceryle amazona PICIFORMES PICIDAE Colaptes melanochloros Colaptes campestris Melanerpes candidus PASSERIFORMES THAMNOPHILIDAE Thamnophilus caerulescens FURNARIIDAE Furnarius rufus Syndactyla rufosuperciliata RYNCHOCYCLIDAE Poecilotriccus plumbeiceps Phylloscarthes ventralis TYRANNIDAE Serpophaga subcristata Camptostoma obsoletum Xolmis irruptero Machetornis rixosa Pitangus sulphuratus Megarynchus pitangua Tyrannus melancholicus

Alma-de-gato Anu-preto Saci

Onívoro Onívoro Insetívoro

Florestal Campo Florestal

Caturita

Frugívoro

Campo/florestal

Bacurau

Insetívoro

Campo

Jacurutu Coruja-buraqueira

Carnívoro Carnívoro

Florestal Campo

Andorinhão-dotemporal

Insetívoro

Campo

Beija-flor-dourado

Nectarívoro

Florestal

Piscívoro

Área úmida

Piscívoro

Área úmida

Pica-pau-verde-barrado Pica-do-campo Pica-pau-branco

Insetívoro Insetívoro Insetívoro

Campo Campo Campo/florestal

Choca-da-mata

Insetívoro

Florestal

João-de-barro Trepador-quiete

Insetívoro Insetívoro

Campo/florestal Florestal

Tororó Borboletinha-do-mato

Insetívoro Insetívoro

Florestal Florestal

Alegrinho Irré Noivinha Bem- te-vi-do-gado Bem-te-vi Nei-nei Suiriri

Insetívoro Insetívoro Insetívoro Insetívoro Onívoro Insetívoro Insetívoro

Florestal Florestal Florestal Campo Campo/florestal Florestal Campo/florestal

Martim-pescadorgrande Martim-pescador-verde

VIREONIDAE Cyclarhis gujanensis HIRUNDINIDAE Progne tapera Progne chalybea Pygochelidon cyanoleuca TROGLODYTIDAE Troglotydes musculus POLIOPTILIDAE Polioptila dumicola TURDIDAE Turdus rufiventris Turdus amaurochalinus MIMIDAE Mimus saturninus COEREBIDAE Coereba flaveola THRAUPIDAE Saltator similis Lanio cucullatus Thraupis sayaca Stephanophorus diadematus Pipraeidea bonariensis Paroaria coronata EMBERIZIDAE Zonotrichia capensis Ammodramus humeralis Sicalis flaveola Sporophila caerulescens Poospiza nigrorufa CARDINALIDAE Cyanoloxia brissonii PARULIDAE Parula pitiayumi

Pitiguari

Onívoro

Florestal

Andorinha-do-campo Andorinha-grande Andorinha-pequena

Insetívoro Insetívoro Insetívoro

Campo Campo Campo

Corruíra

Insetívoro

Campo/florestal

Balança-rabo-demáscara

Insetívoro

Sabiá-laranjeira Sabiá-poca

Onívoro Onívoro

Campo/florestal Florestal

Sabiá-do-campo

Onívoro

Campo

Cambacica

Onívoro

Florestal

Trinca-ferro-verdadeiro Tico-tico-rei Sanhaçu-cinzento

Onívoro Frugívoro Frugívoro

Florestal florestal Campo/florestal

Sanhaçu-frade

Florestal

Sanhaço-papa-laranja Cardeal

Frugívoro Granívoro

Florestal Campo/florestal

Tico-tico Tico-tico-do-campo Canário-da-terra Coleirinho Quem-te-vestiu

Granívoro Garnívoro Granívoro Granívoro Granívoro

Campo/florestal Campo Campo/florestal Área úmida Florestal

Azulão

Granívoro

Florestal

Mariquita

Insetívoro

Geothlypis aequinoctialis

Pia-cobra

Insetívoro

Basileuterus culicivorus ICTERIDAE Icterus cayanensis Chrysomus ruficapillus Molothrus bonariensis Agelaioides badius FRINGILLIDAE Euphonia chlorotica

Pula-pula-assobioador

Insetívoro

Florestal Área úmida/florestal Florestal

Encontro Garilbadi Vira-bosta Asa-de-telha

Onívoro Insetívoro Onívoro Onívoro

Florestal Campo Campo Campo/florestal

Fim-fim

Frugívoro

Florestal

PASSERIDAE Passer domesticus

Pardal

Onívoro

Campo

Agradecimento dos autores Ao Sr Cláudio Wilfing, pela camaradagem e ao Biól. Antônio Hector Bastide Ramos, ao profissional - pelo apoio às atividades de campo e ao “irmão de ideal”, pela amizade de sempre.

Referências Bibliográficas ANDRADE, M. A. D. A Vida das Aves: Introdução à biologia da conservação. Belo Horizonte: Acangaú / Líttera. 1997, 160p. ARES, R. Aves: vida y conduta. 1º ed. Buenos Aires : Vásques Mazzini Editores, 2007. 288p. BEGON, Michel. Ecologia de indivíduos a ecossistemas / Michel Begon, Colin R.Townsend, John L. Harper; tradução Adriano Sanches Melo...[et al.].-4. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. 752p. BELTON, W. Aves do Rio Grande do Sul: Distribuição e biologia. Unisinos, São Leopoldo, Brasil, 1994. 584p. BENCKE, G. A.; FONTANA, C. S.; DIAS, R. A.; MAURICÍO, G. N. & JR MÄHLER, J. K. Aves. Pp. 189–479. (in): FONTANA, C. S. BENCKE, G. A. & REIS, R. E. (eds.). Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Edipucrs, 2003. 632p. BENCKE, G. A. Lista de referência das aves do Rio Grande do Sul. Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, 2001. 104 p. BENCKE, G. A.; DIAS, R. A.; BUGONI, L.; AGNE, C. E.; FONTANA, C. S.; MAURICIO, G. N. & MACHADO, D. B. 2010.Revisão e atualização da lista das aves do Rio Grande do Sul, Brasil. Iheringia, Sér. Zool. vol.100, no.4, p.519556. CBRO - Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (2011) Listas das aves do Brasil. 10ª Edição. Disponível em . Acesso em: 26/03/2012.

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Capítulo

3

Levantamento preliminar da herpetofauna silvestre de Barra do Ribeiro Luciano Moura de Mello 7 Daiane Maria Melo Pazinato 8

A herpetofauna compreende os anfíbios e répteis, esses animais estão amplamente distribuídos, ocupando variados habitats. Os anfíbios foram os primeiros vertebrados a se adaptarem ao ambiente terrestre, mas os répteis obtiveram maior sucesso adaptativo em ambientes secos, sendo encontrados inclusive em regiões áridas. Neste capítulo apresentamos uma lista preliminar da herpetofauna encontrada no Município de Barra do Ribeiro, Rio Grande do Sul. As amostragens foram realizadas no período de julho de 2011 a março de 2012. A metodologia utilizada foi o método qualitativo buscando usar para registro das espécies o encontro direto. Foram registradas oito espécies de répteis pertencentes a duas ordens: Squamata e Testudines, distribuídas em cinco famílias (Gekkonidae, Teiidae, Colubridae, Chelidae e Emydidae) e seis espécies de anfíbios anuros pertencentes a três famílias (Hylidae, Leiuperidae e Leptodactylidae). Os répteis ocorrem em vários continentes e condições climáticas relativamente variadas, exceto nos pólos, são diversificados e abundantes (HICKMAN Jr; ROBERTS; LARSON, 2003; GARCIA; VINCIPROVA, 2003). Foram os primeiros vertebrados adaptados a vida em ambientes secos graças à pele espessa e escamosa, com poucas glândulas cutâneas que reduzem a perda de água (QUINTELA; LOEBMANN, 2009). A principal adaptação foi o desenvolvimento do ovo com casca, pois libertou os répteis do ambiente aquático, originando um processo de desenvolvimento inde7

Biólogo, MSc., Doutorando, FAEM/UFPEL. Email: [email protected] Bióloga, Ativista, ONG Interação de trabalhos Ambientais - ITA, Caçapava do Sul, RS. Email: [email protected] 8

pendente da água ou de ambientes terrestres muito úmidos (HICKMAN Jr; ROBERTS; LARSON, 2003). Os répteis foram mais eficientes na conquista terrestre do que os anfíbios, pois estes continuam dependendo do ambiente aquático para a reprodução (BERNARDE; MACHADO, 2006; LOEBMANN, 2005). A ectotermia é uma característica destes dois grupos, a temperatura corpórea é semelhante a do meio ambiente, oscilando com a mesma (LEMA, 2002). O Brasil possui uma rica biodiversidade, ocupa a segunda colocação na relação de países com maior riqueza de espécies de répteis. No caso dos anfíbios, o Brasil é o país com a maior riqueza de espécies, estando esta classe representada por aproximadamente 946 espécies, distribuídas em três ordens: Anura (rãs, sapos e pererecas), Caudata (salamandras) e Gymnophionas (cobras-cegas) (LOEBMANN, 2005; SBH, 2012). Para o Rio Grande do Sul são conhecidas cerca de 95 espécies de anfíbios, sendo 93 anuros e duas cobras-cegas (BORGES-MARTINS et al.; 2007). No Brasil a classe Reptilia é representada por três ordens: Testudines (cágados, jabutis e tartarugas), Squamata (anfisbênias, cobras e lagartos) e Crocodylia (crocodilos e jacarés) (SBH, 2012). De acordo com Bencke et. al. (2009) são registradas 126 espécies de répteis para o nosso Estado. Os anfíbios da ordem Anura são muito bem adaptados e geralmente estão entre os vertebrados mais abundantes e presentes em maior número de habitats, perdendo somente para aves e morcegos em número de espécies (LIMA et al., 2006). A identificação das espécies de anfíbios revela dados decisivos para o sucesso das ações que buscam conservar a biodiversidade (DEIQUES et al., 2007; HEYER et al., 1994). A fragilidade dos anfíbios diante das condições adversas, naturais e antrópicas, a sua importância como indicadores biológicos de qualidade ambiental tornam extremamente importante o estudo desses animais (LOEBMANN, 2005). A extinção de espécies configura-se como um dos problemas ambientais mais dramáticos da atualidade (MARQUES et al., 2002). As causas da extinção dos répteis estão relacionadas principalmente à destruição dos habitats explorados por estes e a aversão que o homem possui aos répteis também contribui para o declínio das populações (LEMA, 2002; DI-BERNARDO, 2003; BORGES-MARTINS, 2007; OLIVEIRA, 2003; QUINTELA, 2009; LOEBMANN, 2009).

01

02 Figura 01: Chironius sp. capturada na Figura 02: Teius oculatus (Teju-verde) fotocopa de um Maricá (Mimosa bimucro- grafado em clareira na mata da orla do Guaínata), à margem do Arroio Capivaras, ba (FOTOS: Luciano Moura de Mello). em agosto de 2011.

Existe uma evidente falta de informações sobre a biologia, distribuição e conservação da herpetofauna brasileira que pode ser mitigada através de inventários e monitoramento da fauna (DIXO, 2006). Os anuros e répteis são extremamente importantes nas cadeias alimentares, realizando controle biológico e encontram-se cada vez mais ameaçados, o conhecimento a cerca destes animais é fundamental para identificarmos as causas que os ameaçam e estabelecer prioridades de ação para a preservação. 02 03 METODOLOGIA Foram realizadas saídas a campo no período de julho de 2011 a março de 2012, para a amostragem da fauna reptiliana e anura do Município de Barra do Ribeiro, região central do Rio grande do Sul (30º16’48.8”S 51°18’12.1”W). A metodologia utilizada foi o método qualitativo buscando usar para registro das espécies o encontro direto, as buscas se deram em ambientes campestres, florestais (florestas de galeria), aquáticos e úmidos. A região apresenta áreas naturais bem preservadas com matas nativas nas zonas ciliares, mas também possui locais antropizados com grandes áreas destinadas à produção agrícola.

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Figura 03 e 04: Dendropsophus minutus (FOTO: Luiz L. C. Corrêa) e Leptodactylus gracilis (FOTO: Luciano Moura de Mello).

Os exemplares encontrados foram fotografados e soltos no ambiente. Os trabalhos de campo foram realizados em seis ocasiões, os horários de busca foram variados, ocorrendo a partir das 06 horas, estendendo-se até o crepúsculo, cada saída teve a duração aproximada de 12 horas, totalizando 144 horas de esforço amostral. Durante as saídas a campo foram utilizados equipamentos de segurança como calças de tecido grosso, botas compridas, luvas de couro e gancho para manejo de serpentes a fim de evitar acidentes ofídicos. Foram realizadas observações em locais com troncos caídos, embaixo de pedras, nas proximidades de vegetação aquática, nas áreas campestres ou com características similares. No caso dos anuros as observações foram realizadas em corpos de água utilizando a procura visual ativa e auditiva e também nas áreas anteriormente citadas. 05

06

Figura 05 e 06: Physalaemus sp. e Scinax sp. (FOTO: Luciano Moura de Mello).

Um total de 14 espécies (Tabela 1) foram identificadas na área, seis anfíbios e oito répteis. A nomenclatura das espécies seguiu a classificação da Sociedade Brasileira de Herpetogia.

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Figura 06 e 07: Ovos em ninhos de quelônio nas margens do Guaíba.

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Figura 09: artefato de madeira (com quase 1m) com anzol, localizado nas margens do Arroio Capivaras e utilizado por caçadores locais para a captura de jacarés. O artefato é iscado com carne ou peixe e amarrado por uma corda a árvore nas margens do arroio: o animal é “fisgado” e trazido à terra, onde é abatido. Estes animais, no entanto, não foram encontrados pelas equipes de trabalho na área.

10 Figura 10: Tupinambis merianae (Lagarto-depapo-amarelo) registrado em armadilha fotográfica. (FOTOS: Luciano Moura de Mello).

Tabela 1. Lista das espécies de anfíbios e répteis registradas no Município de Barra do Ribeiro, RS. Ordem/ Família/ Espécie ANURA Hylidae Dendropsophus minutus (Peters, 1872) Scinax sp. Leiuperidae Physalaemus sp.

Nome comum

Perereca-rajada Perereca Rã

Leptodactylidae Leptodactylus fuscus (Schneider, 1799) Leptodactylus gracilis (Duméril & Bibron, 1841) Leptodactylus latrans (Steffen, 1815) SQUAMATA Gekkonidae Hemidactylus mabouia (Moreau de Jonnès, 1818) Teiidae Teius oculatus (D’Orbigny & Bibron, 1837) Tupinambis merianae (Duméril & Bibron, 1839) Colubridae Chironius sp. Thamnodynastes hypoconia (Cope, 1860) Xenodon sp. TESTUDINES Chelidae Phrynops hilarii (Duméril & Bibron, 1835) Emydidae Trachemys dorbigni (Duméril & Bibron, 1835)

Rã-assobiadora Rã-listrada Rã-manteiga

Lagartixa-das-casas Teju-verde Lagarto-do-papomarelo Caninana-verde Corredeira-carenada Boipeva

Cágado-de-barbelas Tartaruga-tigred'água

Figura 11: Thamnodynastes hypoconia (Corredeira-carenada) (FOTO: Luciano Moura de Mello)

Agradecimento dos autores Os autores agradecem à Dra. Lize Helena Cappellari (URCAMP) pelo auxílio nas identificações, ao Biól. Luiz Liberato Costa Corrêa pela cedência de imagens obtidas a campo e que ilustram este capítulo e ao Acadêmico de Ciências Biológicas (URCAMP) Éderson França de Machado, pelo apoio às atividades de campo.

Referências Bibliográficas BENCKE, G. A. et al. Composição e padrões de distribuição da fauna de tetrápodes recentes do Rio Grande do Sul, Brasil. In: RIBEIRO, A. M.; BAUERMANN, S. G.; SCHERER, C. S. (Org.). Quaternário do Rio Grande do Sul: integrando conhecimentos. 1 ed. Porto Alegre: SBP, 2009. p. 123-142.

BERNARDE, P. S.; MACHADO, R. A. Répteis Squamata do Parque Estadual Mata dos Godoy. In: TOREZAN, J. M. D. (Org.) Ecologia do Parque Estadual Mata dos Godoy. Londrina: ITEDES, 2006. p. 114-120. BORGES-MARTINS, M. et al. Anfíbios. In: BECKER; F. G. RAMOS; R. A. MOURA A; L. A. (Org.). Biodiversidade: Regiões da Lagoa do Casamento e dos Butiazais de Tapes, planície costeira do Rio Grande do Sul. Ministério do Meio Ambiente e Fundação Zoobotânica, Brasil, 2007. p.276-291. DI-BERNARDO, M.; BORGES-MARTINS, M.; OLIVEIRA, R. B. In: FONTANA, C. S.; BENCKE, G. A.; REIS, R. E. (eds.) Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Edipucrs, 2003. p.165-188. DEIQUES, C. H. et al. Anfíbios e Répteis do Parque Nacional de Aparados da Serra, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Brasil. Pelotas: USEB, 2007. 120p. DIXO, M.; VERDADE, V. K. Herpetofauna de serrapilheira da Reserva Florestal de Morro Grande, Cotia (SP). Biota Neotropica. São Paulo, v. 6, n. 2, 2006. GARCIA, P. C. A.; VINCIPROVA, G. In: FONTANA, C. S.; BENCKE, G. A.; REIS, R. E. (eds.). Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Edipucrs, 2003. p.147-164. HEYER, W. R. et al. Measuring ands monitoring biological diversity. Standard methods for Amphibians. Smithsonian Institution Press. Washington, 1994. HICKMAN JR, C. P.; ROBERTS, L. S.; LARSON, A. Princípios integrados de zoologia. 11 ed. Rio de Janeiro: Guanabara koogan S. A, 2003. 846 p. LEMA, T. de. Os répteis do Rio Grande do Sul: atuais e fósseis, biogeografia e ofidismo. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. 264p. LIMA, A. P. et al. Guia dos sapos da Reserva Adolpho Ducke - Amazônia Central. Manaus: Editora Áttema, 2006. 168p. LOEBMANN, D. Os Anfíbios da Região Costeira do Extremo Sul do Brasil: Guia Ilustrado. Pelotas: USEB, 2005. 76p.

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Capítulo

4

Levantamento da diversidade de mamíferos silvestres em Barra do Ribeiro Vinícius Braga Comaretto 9 Luciano Moura de Mello 10 Darliane Evangelho Silva 11

Mamíferos são animais de sangue quente, vertebrados, podendo variar em tamanhos e hábitos, possuem o corpo coberto por pelos, fêmeas com glândulas mamárias e a grande maioria com hábitos noturnos (FREITAS & SILVA,2005; REIS et al., 2006; ACHAVAL et al., 2007; CARVALHO-JR & LUZ, 2008; CULLEN et al., 2009). Seus representantes são quadrúpedes, embora existam variações anatômicas e fisiológicas entre as espécies, que possibilitam a vida tanto em meio terrestre, aéreo e aquático (SILVA, 1994; FREITAS & SILVA,2005). O Brasil é considerado um país megadiverso, ou seja, é um dos mais ricos em números de espécies no mundo (CARVALHO-JR & LUZ, 2008). Atualmente são registradas aproximadamente 5.418 espécies de mamíferos no mundo (WILSON & REEDER, 2005). De acordo com Paglia et al. (2012) no território brasileiro são registradas 701 espécies distribuídos em 50 Famílias e 12 Ordens. Estes números indicam o Brasil como possuidor da maior riqueza de mamíferos de toda a região neotropical (CARVALHO-JR & LUZ, 2008). Estudos relacionados com a mastofauna são extremamente importantes, pois contribuem significativamente para o conhecimento dessas espécies, além do fato dos mamíferos possuírem uma importante fun9

Biólogo, Email: [email protected] Biólogo, MSc., Doutorando (FAEM/UFPEL). Email: [email protected]. 11 Bióloga, Mestranda em Ambiente e Desenvolvimento, UNIVATES. Email: [email protected] 10

ção ecológica por manterem o equilíbrio de uma floresta (ALMEIDA et al., 2008). Neste contexto, a constante ameaça à fauna e flora brasileira está relacionada aos severos desmatamentos que ocorrem diariamente em todo o território nacional. Diante deste fato, visualiza-se um crescente fracionamento das florestas, ocasionando a perda de hábitat, o isolamento populacional local e a restrição do tamanho populacional destes animais, principalmente os mamíferos de médio e grande porte, que além de sofrerem com a caça, necessitam de áreas demográficas maiores para seu desenvolvimento (WILCOX & MURPHY 1985; SHAFER, 1990; SAUNDERS et al., 1991). No entanto, em contra partida, sofrem uma crescente ameaça à sua existência, o que mostra a necessidade de maiores estudos sobre o grupo, não somente para a preservação dessas espécies, mas do ecossistema como um todo (ALMEIDA et al., 2008). Algumas espécies estão associadas a um impacto negativo ou adverso ao ambiente. Elas podem causar danos para o homem, uma vez que muitas delas podem alimentar-se da lavoura ou até mesmo de alguns animais domésticos ou de criação (CARVALHO-JR & LUZ, 2008). A presença de animais de dieta diversificada e generalista, como, por exemplo, os Graxains (Pseudalopex gymnocercus) e os Gambás (Didelphis albiventris) normalmente são indesejados mesmo com todas as contribuições ecológicas que prestam ao homem. No entanto, ações de manejo, além de cuidados simples, em geral, anulam totalmente os efeitos negativos que estes mamíferos silvestres possam ter sobre animais criados pelo homem. Porém, é importante ressaltar que muitas dessas situações são causadas pela alteração intensa do ambiente natural desses animais numa determinada região (CARVALHO-JR & LUZ, 2008). A fauna mastozoológica do Rio Grande do Sul é muito expressiva, graças à sua privilegiada posição fisiográfica (SILVA, 1994). Segundo dados obtidos em Santos et al. (2008), ocorrem mais de 150 espécies no Estado do Rio Grande do Sul, sendo que destas, 33 encontram-se em ameaça no Estado (Fontana et al., 2003), sendo o Pampa, o bioma brasileiro com terceiro maior número de espécies de mamíferos ameaçadas (13%) do país (COSTA et al., 2005). O bioma Pampa tem sido profundamente modificado pelas atividades humanas (pastoreio excessivo, queimadas, invasão de espécies exó-

ticas e conversão em áreas agriculturáveis), restando muitas vezes apenas pequenos remanescentes em uma paisagem predominantemente agrícola e modificada (PORTO, 2002; BENCKE, 2003). Avaliar os impactos das diferentes formas de uso da terra sobre a biodiversidade é fundamental para entendermos e desenvolvermos as melhores formas de utilização dos recursos naturais, conciliando assim o desenvolvimento socioeconômico com a conservação da natureza (CARVALHO-JR & LUZ, 2008). METODOLOGIA Para a coleta de dados de fauna foi utilizado neste projeto a metodologia do Programa de Avaliação Rápida. Para os mamíferos a pesquisa prevê identificação das espécies voadoras e não voadores. Para isso, foram utilizadas redes de neblina de 7-12mx2,5m para a coleta de morcegos (Quiroptera), e buscas ativas, armadilhas fotográficas e outros meios para os outros grupos de mamíferos. Foram utilizadas duas armadilhas fotográficas digitais (Figura 01) BUSHNELL (ZT820) de 2,1 megapixel com sensor infravermelho (motionactivated). A nomenclatura taxonômica das espécies, foi seguido de acordo em Reis et al. (2006).

Figura 01. Armadilha fotográfica armada em caule de Palmeira-rio-grandense (Syagrus romanzoffiana) numa trilha da floresta de ciliar, foz do Arroio Ribeiro (Foto: Luciano M. de Mello).

As amostragens a campo foram realizadas entre os meses de junho de 2011 a março de 2012, no qual seis expedições de campo foram realizadas, cada uma com cerca de 12 horas de buscas ativas, totalizando 72h de esforço amostral entre armadilha fotográfica e procura visual e indireta.

O estudo teve objetivo de inventariar a mastofauna da região Barra Ribeiro, tanto quanto determinar o uso de áreas e a dispersão dos mamíferos locais. RESULTADOS E DISCUSSÕES Através dos métodos utilizados foram registradas 13 espécies distribuídas em 11 Famílias (Tabela 1). Foram registradas 3 espécies ameaçadas no Estado de acordo em Fontana et al. (2003), são elas : Lontra (Lontra longicaudis), Gato-do-matogrande (Leopardus geoffroyi) e Coati (Nasua nasua). DESCRIÇÃO DAS ESPÉCIES IDENTIFICADAS NO ESTUDO Gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris), é uma espécie de porte médio, comum em áreas urbanas e rurais (Figura 02). Possui hábitos noturnos e crepusculares, de alimentação onívora, podendo até alimentar-se de aves domésticas, onde chega a causar prejuízos em certas ocasiões. a

b

Figura 02. Gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris), (a) em armadilha modelo gaiola (Tomahawk), e (b) fotografado por armadilha fotográfica (FOTO: Luiz L. C. Corrêa).

Os Gambás conseguem trepar e andar sobre as árvores com muita facilidade, graças a adaptações dos pés e mãos, sua cauda preênsil ajuda na sua locomoção sobre troncos e galhos. Quando atacados, para se defender exalam um odor forte e pouco agradável ao olfato (SILVA, 1994; MASSOIA et al., 2002; MAMEDE & ALHO, 2008).

Tabela 1: Lista de espécies de mamíferos silvestres registradas entre junho de 2011 e março de 2012, em Barra do Ribeiro, RS. (Legenda dos ambientes (AMB): FO: Floresta da orla do Guaíba, FG: Florestas de galeria (arroios), AC: áreas campestres, AA: ambientes úmidos ou aquáticos)

Ordem

Família

Didelphimorphia

Didelphidae

Xenarthra

Dasypodidae

Chiroptera

Vespertilionidae Canidae

Nome Científico Didelphis albiventris Dasypus novemcinctus Eptesicus sp. Pseudalopex gymnocercus Cerdocyon thous

Caviidae

Procyon cancrivorus Nasua Nasua Conepatus chinga Lontra longicaudis Leopardus geoffroyi Hydrochaeris hydrochoerus Myocastor coypus Cavia aperea

Leporidae

Lepus europaeus

Procyonidae Carnivora Mustelidae

Felidae Hydrochaeridae Rodentia

Lagomorpha

Myocastoridae

Nome Popular

AMB

Gambá-deorelhabranca

FO, FG, AC

Tatu-galinha

AC, FG

Morcego Graxaim-docampo Graxaim-domato

AC, FG FO, FG, AC FG

Coati

FO, FG, AC, AA FO, FG

Zorrilho

AC

Lontra

AA

Gato-domato-grande

FO, FG

Capivara

AA

Mão-pelada

Ratão-dobanhado Preá Lebreeuropéia

AA AC AC

Tatu-galinha (Dasypus novemcinctus), possui uma carapaça, alta e curva (Figura 03), é formada por oito a nove cintas móveis localizada na porção mediana da carapaça. Não tem pelos no dorso, e a cabeça é pequena e comprida com focinho comprido e estreito com orelhas grandes, finas e muito próximas entre si. Sua coloração geral é marrom escura no dorso, sendo lateralmente mais amarelada.

Possui membros curtos com cinco dedos nos membros posteriores e quatro nos anteriores onde os dois dedos médios são grandes, a cauda comprida, cônica, apresenta a ponta fina que é envolvida por anéis córneos bem distintos. É um tatu bastante comum, vive em vários tipos de formação vegetais, tem hábito noturno, mas pode ser encontrado durante o dia, sua alimentação é composta por insetos, raízes de plantas, pequenos invertebrados e eventualmente frutos. a

b

Figura 03. (a) Tatu-galinha (D. novemcintus), fotografado por armadilha fotográfica; (b) pegadas de tatu-galinha (Fotos: Luiz. L. C. Corrêa).

A audição e visão são pouco desenvolvidas, mas possui olfato muito apurado. O período de gestação é de 150 a 240 dias, onde a fêmea constrói um ninho de folhas e palhas secas, no fundo da toca de moradia (SILVA, 1994; MAMEDE & ALHO, 2008). É uma espécie muito procurada por caçadores que apreciam sua carne (FREITAS & SILVA, 2005).

Morcego (Eptesicus sp), é uma espécie de hábitos noturnos, onde alimenta-se de insetos (Figura 04). Pode ser encontrado em sótãos, ocos de árvoa b res e furnas (SILVA, 1994).

a

b

Figura 04. Morcego (Eptesicus sp.), (a) e (b) capturado em dezembro de 2011 em rede de neblina próximo a construções humanas iluminadas (Foto: Débora T. B. Motta).

Graxaim-do-mato (Cerdocyon thous), sua coloração é acinzentada, com as extremidades dos membros anteriores e posteriores com coloração negra (Figura 05). a

b

Figura 05. Graxaim-do-mato (C. thous), (a) fotografado em Praia da Ponta do Salgado, em Julho de 2011 (Foto: Luciano M. de Mello); (b) animal jovem registrado em armadilha fotográfica (Foto: Luiz L. C. Corrêa).

Espécie de hábitos geralmente noturno, com alimentação bastante diversificada: frutos, insetos, anfíbios, crustáceos, pequenos alagartos, aves e pequenos mamíferos. Vive preferencialmente em áreas florestais, podendo ser avista em áreas abertas e úmidas no período diurno, b mas sempre nas proximidades de áreas florestais (MAMEDE & ALHO, 2008). De acordo em Silva (1994), acredita-se que alguns indivíduos aprendam de forma oportunística a comer galinhas ou atacar ovelhas, causando algum prejuízo ao homem quando seus animais de criação não são adequadamente manejados. No entanto, estudos realizados na Argentina que

avaliaram o conteúdo estomacal destes canídeos comprovam que muitos animais carregam a fama de matadores de galinhas ou ovelhas após localizarem e alimentarem-se de ovelhas e outros animais mortos. É um dos carnívoro mais comuns em atropelamentos em estradas e rodovias (MAMEDE & ALHO, 2008). Graxaim-do-campo (Pseudalopex gymnocercus), canídeo de pequeno porte medindo cerca de 50 cm de comprimento e 30 cm de cauda, sua coloração geral é cinza amarelada (Figura 06), com tendência para marrom ferrugíneo no alto da cabeça. As patas são branco-amareladas, possuem orelhas grandes, de cor clara, focinho afilado na extremidade, sendo uma espécie típica dos pampas. É encontrado em regiões abertas, como campos e capoeiras de matas. Tem hábitos noturnos e crepusculares, com alimentação onívora e de hábito solitário, mas podem ser vistos no período de reprodução em casais (SILVA, 1994; MAMEDE & ALBO, 2008).

Figura 06. Graxaim-do-campo (P. gymnocercus), fotografado em área campestre (FOTOS: Luiz L. C. Corrêa). Observa-se as diferenças entre os canídeos que facilitam a sua identificação a campo: coloração geral, colocação de patas e cauda.

Mão-pelada (Procyon cancrivorus), apresenta pelos curtos de coloração geral cinza-escuro no dorso (Figura 07), podendo ser facilmente identificado pela máscara preta que desce dos olhos à base da mandíbula, pelos vários anéis escuros na cauda e a maior altura dos membros posteriores. As patas anteriores são desprovidas de pelos, o que deu origem ao nome comum “mão-pelada”. Os dedos são finos e longos, sendo uma espécie

que habita locais com vegetação cerrada e alta, nas proximidades de rios, riachos, banhados e lagos. Durante o dia fica em ocos de árvores, sob grandes raízes ou em tocas, conseguindo com facilidade trepar em árvores quando perseguido. O Mão-pelada é um animal de tem hábito noturno, com alimentação bem variada, desde matéria vegetal à animal, em especial aquáticos, ao se alimentar apoia-se sobre os membros posteriores manuseando o alimento com a “mão”, geralmente a fêmea tem de dois a quatro filhotes (SILVA, 1994; ACHAVAL et al., 2007; MAMEDE & ALHO, 2008). a

b

Figura 07. (a) Mão-pelada (P. cancrivorus), em armadilha fotográfica (FOTO: Luiz L. C. Corrêa); (b) pegada de Mão-pelada (FOTO: Stefan Vilges de Oliveira).

Coati (Nasua nasua), são animais de cores variadas que vão do marromavermelhado ao cinza-escuro no dorso (Figura 08), sendo o peito amarelado. A cauda do Coati é longa e com listras tranversais pretas ou marrom escuras. Vivem geralmente em grupo em florestas, com hábitos noturnos e diurnos. Alimenta-se de frutos, insetos, vermes, ovos e pequenos vertebrados. Locomovem-se tanto no solo com em árvores (SILVA, 1994; FREITAS & SILVA, 2005; MAMEDE & ALHO, 2008). É uma espécie ameaçada de extinção no Estado, estando classificado na caterogia “vulnerável” (FONTANA et al., 2003), sendo que as principais causas de seu declínio estão associadas a caça predatória para comercialização de sua pele e a fragmentação de florestas (MAMEDE & ALHO, 2008).

Figura 08. Coati (N.nasua) (FOTO: Luiz L. C. Corrêa).

Zorrilho (Conepatus chinga), espécie de hábito noturno e solitário. Sua alimentação é composta de artrópodes e pequenos roedores, eventualmente serpentes (Figura 09). O hábito deste animal de predar serpentes faz com que seja bem tolerado entre as comunidades rurais. Refugia-se no período diurno para repouso em buracos, tocas e fendas de árvores. Quando perseguido utiliza como defesa pessoal, as glândulas perianais que lançam secreção volátil e odor extremamente desagradável (SILVA, 1994; MAMEDE & ALHO, 2008). a

b

Figura 09. (a) Zorrilho (Conepatus chinga), em armadilha fotográfica (FOTO: Luiz L. C. Corrêa); (b) pegadas de Zorrilho (a barra corresponde a 10cm) (FOTO: Stefan Vilges de Oliveira).

Lontra (Lontra longicaudis), seus pelos são grossos, curtos e brilhantes de coloração marrom-escura, sendo a região da garganta e abdômen mais

claros (Figuras 10 e 11). Tem o corpo alongado, robusto e flexível, membros curtos com dedos unidos por membranas, as orelhas são curtas e arredondadas, a cauda é longa, estreita e achatada na extremidade, a ponta do focinho é desprovida de pelos. A Lontra é um animal de hábitos tanto noturnos quanto diurnos, é solitária e territorialista, escava tocas nas barrancas para reproduzir e esconder-se durante o dia. As Lontras alimentam-se de peixes, moluscos e crustáceos e aves que capturam, com grande habilidade dentro d’água.

a

b

Figura 10. (a) Lontra (Lontra longicaudis), em armadilha fotográfica (FOTO: Carlos Benhur Kasper); (b) pegada de Lontra (a barra em preto corresponde a 10cm) (FOTO: Stefan Vilges de Oliveira).

Figura 11. (a) latrina e fezes de Lontra e (b) muco fecal (a barra corresponde a 5cm) (FOTOS: Stefan Vilges de Oliveira).

b a c

Figura 11. fezes de lontra (a barra corresponde a 10cm) (FOTO: Stefan Vilges de Oliveira).

Na época de reprodução as Lontras emitem gritos característicos, durante brincadeiras pré copulatórias (SILVA, 1994; MAMEDE & ALHO, 2008). É uma espécie ameaçada de extinção no Estado, estando classificado na caterogia “vulnerável” (FONTANA et al., 2003).

Gato-do-mato-grande (Leopardus geoffroyi), é um felino de porte pequeno, apresentando da cabeça e corpo de 58cm, com a cauda de com 32cm aproximadamente, a coloração de fundo é cinza amarelada (Figura 12), sendo mais escuras no dorso e quase branca nas parte inferior. As manchas são pequenas e numerosas, maiores dorsalmente do que nos lados do corpo, podendo estar reunidas duas a duas. Há faixas pretas transversais, nos membros, que são nítidas e normalmente, sem interrupções. Em cima dos olhos, notam-se linhas escuras que sobem pelo alto da cabeça, chegando até a nuca, no peito e na garganta linhas escuras, alguns animais podem ser melânicos. É encontrado da Bolívia ao extremo sul do continente. No Brasil só apresenta registro no sul do Rio Grande do Sul, é mais encontrada nos capões e matas de galeria, em regiões de campos e também em morros cobertos de mata. Anda no solo mais consegue trepar com muita facilidade em árvores. Sua alimentação é predominante de pequenos roedores e pequenas aves (SILVA, 1994; OLIVEIRA & CASSARO, 2006). É uma espécie ameaçada de extinção no Estado, estando classificado na caterogia “vulnerável” (FONTANA et al., 2003).

a

b

Figura 12. (a) Gato-do-mato-grande (L. geoffroyi) em armadilha fotográfica (FOTO: Luiz L. C. Corrêa); (b) pegada de Gato-do-mato-grande em areia (FOTO: Stefan Vilges de Oliveira)

Capivara (Hydrochaeris hydrochoerus), possui o corpo compacto, pernas relativamente curtas, sem cauda, a coloração é marrom, com tons de avermelhado sendo inferiormente, cinza-amareladas (Figura 13), os pelos são grossos e ásperos e a pelagem densa, a cabeça é grande, com orelhas e olhos localizados bem no alto, o que facilita a permanência dentro d’água, o focinho é alto e obtuso, os pés anteriores tem quatro dedos e os posteriores três, todos com unhas grossas, sendo que os dedos são unidos por uma membrana, são de hábitos diurnos e noturnos. São roedores de comportamento lento e pacífico, incapazes de atacar outros animais, sua alimentação é herbívora, gramínea, vegetação aquáticas entre outras vegetais, as ninhadas são de quatro a seis filhotes podendo chegar até a oito (SILVA, 1994; MAMEDE & ALHO, 2008).

a

b

Figura 13. (a) Capivara (H. hydrochoerus) em armadilha fotográfica (Foto: Luiz L. C. Corrêa); (b) pegada em areia de Capivara (a barra corresponde a 10cm) (FOTO: Darliane E. Silva).

Ratão-do-banhado (Myocastor coypus), um roedor grande muito parecido com um rato (Figura 14), cor geral marrom avermelhada escura, por cima do corpo e amarela clara, ventralmente, forma alongada, cabeça de tamanho proporcional ao corpo, orelhas pequenas e arredondadas, focinho com bigodes longo, dentes incisivos grandes e amarelos.

Figura 14. Ratão-do-banhado (Myocastor coypus), grupo com filhotes (Foto: Luiz L. C. Corrêa).

A pele é recoberta com pelos compridos, e uma camada densa mais fina e macia, que lhe da proteção dentro d’água, dedos com membranas interdigitais, dedos providos de unhas fortes. A cauda é grossa e mais curta que o corpo, revestidas por escamas e pelos escassos, tem hábitos noturnos e diurnos, vivem em banhados ou taipas, escavando tocas de refúgio e ninho. É altamente adaptada a vida aquática. Sua alimentação é herbívora, alimentam-se tanto na água como na terra, a fêmea tem geralmente dois a quatro filhotes, mas as ninhadas podem ser bem maiores (SILVA, 1994; ACHAVAL et al., 2007).

Preá (Cavia aperea), roedor comum nos campos abertos e de ampla distribuição, sua coloração geral é acinzentada, com tons de marrom, sendo as partes inferiores de cor branca-amarelada, o corpo longo com membros curtos permite-lhe andar rente ao chão, os pés anteriores possuem quatro dedos e os posteriores, três, todos com longas unhas, fortes e cortante, a cabeça é proporcional ao tamanho do corpo, as orelhas são pequenas e a cauda é ausente, tem hábitos noturnos e diurnos, constroem suas tocas na vegetação, cavando túneis de 8 a 12cm. Sua alimentação é herbívora, a fêmea gera de um a dois filhotes, podendo ter até duas ninhadas por ano (SILVA, 1994; ACHAVAL et al., 2007). Lebre-européia (Lepus europaeus), possui orelhas e pernas compridas, de cor geral cinza amarronzada nas partes superiores e inferiores mais claras (Figura 15), a cauda é facilmente visível, membros anteriores curtos e posteriores largos.

Figura 15. (a) Lebre-européia (Lepus europaeus) (Foto: Darliane E. Silva); (b) pegada de Lebre (a barra em preto coresponde a 10cm) (Foto: Stefan Vilges de Oliveira)

a b

As Lebres vivem em campos cerrados e lavouras, de hábito geralmente noturno ou crepuscular mas pode, com alguma facilidade, ser vista alimentando-se durante o dia. Sua alimentação é exclusivamente herbívora, a fêmea tem até três filhotes e ela reproduz uma vez por ano, seus filhotes nascem aptos para caminha no primeiro dia, para refugiar-se, não cava ou escava tocas, se esconde sobre capins ou outros vegetais é uma espécie exótica no Rio Grande do Sul (Silva, 1994; Achaval et al., 2007) que talvez tenha chegado ao Estado após as ligações por pontes com países como o Uruguai e Argentina, para onde foram trazidos da Europa (SILVA, 1994).

Agradecimentos dos autores A Carlos Benhur Kasper por ceder uma fotografia de Lontra, a Luiz Liberado Costa Corrêa e Stefan Vilges de Oliveira, pela cedência de diversas fotografias que ilustram este capítulo e pelas importantes revisões no texto.

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Capítulo

5

Levantamento preliminar da diversidade de peixes dos Arroios Ribeiro e Capivaras, em Barra do Ribeiro, RS 12

Débora Tatiane Borges Motta Luciano Moura de Mello 13

Os Arroios Capivaras e Ribeiro, que cortam o município de Barra do Ribeiro, são importantes recursos hídricos que se adicionam ao complexo do Guaíba. O desconhecimento sobre a diversidade de peixes nestes dois arroios da região constitui um importante aspecto negativo para o estabelecimento de medidas de conservação daqueles ambientes naturais. Os peixes regulam e ao mesmo tempo abastecem as delicadas cadeias alimentares em ambientes aquáticos, com muitas espécies atuando como bons indicadores de qualidade ambiental destes recursos além de operar como importante fonte de renda e subsistência de famílias que habitam as regiões marginais. Um dos grandes desafios da ictiologia é a caracterização da diversidade, as dinâmicas populacionais e a identificação dos grupos funcionais nos ambientes estudados, sendo que várias espécies, em especial as de porte pequeno, são praticamente desconhecidas, tanto no ponto de vista taxonômico, quanto de suas características ecológicas e biológicas. Este trabalho tem o objetivo de dar o primeiro passo no conhecimento ictiológico que pode permitir melhor entendimento do ecossistema, manejo e exploração sustentada do meio ambiente.

12

Bióloga, URCAMP, Campus Bagé. Email: [email protected] Biólogo, MSc, Doutorando (FAEM/UFPEL). Email: [email protected] 13

Muitas espécies utilizam os pequenos cursos de água para procriar e realizar inteiramente seu ciclo de vida, outras espécies ainda mantêm ciclos mistos em diferentes ambientes, o que pode tornar ainda mais complexo o entendimento de suas relações com os ambientes. O tema é especialmente importante tendo em vista a existência de comunidades de pescadores no município, que dependem da pesca para a subsistência de suas famílias, assim, a equipe de trabalho aborda o assunto sob o aspecto ecológico mas com o entendimento da relevância deste grupo de animais para as comunidades locais. METODOLOGIA O trabalho com a ictiofauna local está dividido em três módulos: o primeiro voltado para os inventários de diversidade em pontos selecionados para a amostragem no Arroio Ribeiro e Capivaras. O segundo módulo será voltado à dinâmica de populações, dietas alimentares, relações ecológicas e a identificação de grupos funcionais nestes mesmos pontos de amostragem. O terceiro módulo deve estender todos os objetivos anteriores aos arroios Araçá e Petim (Quadro 1).

Figura 1. Detalhe de cauda e cabeça de Oligosarcus robustus (Menezes, 1969), Tambica, capturado em Dez 11 (FOTO: Luciano Moura de Mello).

Para a coleta de dados foi utilizado um bote inflável a motor de 3.3 Hp. Foram realizadas coletas qualitativas com o auxílio de redes de

espera, puçás e informações obtidas dos resultados de pesca de moradores locais, que usaram caniços, redes e linhas de pesca. A pesquisa de campo será apoiada pela pesquisa social realizada por equipe específica na segunda fase do trabalho, que tem o objetivo de coletar dados sobre a frequência de pesca, espécies coletadas e tipo de manejo de pesca realizada pela população ribeirinha. Para as coletas de dados foram empregadas redes de malha de 1,5; 3; 4; 5 e 6cm (distância entre nós opostos). As redes utilizadas possuíam comprimentos de 5m (malhas 1,5 cm), 10m (3 e 4 cm) e 30m (5 e 6 cm) com alturas variando de 1,5 a 1,8m. Quadro 1. Quadro de distribuição dos pontos de amostragens14, período dos trabalhos e número de expedições realizadas. Arroio Capivaras Período PA EX IN FIM Módulo I Módulo II Módulo III

P1 P2 P3 P1 P2 P3 -

PA

Jul 11

Jan 12

6

Jun 12

Jun 13

12

-

-

-

Arroio Araçá Período IN FIM

PA P4 P5 P6 P4 P5 P6 -

EX

PA

Arroio Ribeiro Período IN FIM

EX

Jul 11

Jan 12

6

Jun 12

Jun 13

12

-

-

-

Arroio Petim Período IN FIM

EX

Módulo I

-

-

-

-

-

-

-

-

Módulo II

-

-

-

-

-

-

-

-

P7 P10 P8 Mar 13 Mar 14 12 P11 Mar 13 Mar 14 12 P9 P12 Legenda: PA (pontos de amostragem), IN (Início), Fim (FIM), EX (número de expedições realizadas).

Módulo III

14

As coordenadas geográficas dos pontos de amostragem são apresentadas em mapa específico (Figura 04).

Em cada coleta, as redes de tamanho de malha diferentes, foram “armadas” com um período de espera de aproximadamente 4 horas. Complementando as amostragens com os puçás, um confeccionado com tela fina de 2 mm e o outro com rede de 10mm para a amostragem de animais de superfície e de regiões de baixa profundidade. Os exemplares foram coletados, identificados a campo, fotografados, medidos e devolvidos aos ambientes originais, exceto amostras de exemplares que foram preservados em formalina a 10% e depois de identificados para depósito, sendo preservados em álcool a 70%. Os exemplares em depósito encontram-se no Laboratório de Biologia da Universidade da Região da Campanha, Campus de Bagé, RS. RESULTADOS E DISCUSSÕES Foram coletadas e identificadas 24 espécies pertencentes a 13 Famílias em 5 Ordens. A análise preliminar da composição da ictiofauna mostrou ocorrência das ordens Siluriformes (Auchenipteridae, Callichthyidae, Heptapteridae, Loricariidae e Pimelodidae), Characiformes (Anostomidae, Characidae, Curimatidae, Erythrinidae e Prochilodontidae), Perciformes (Cichlidae), Atheriniformes (Atherinopsidae) e Gymnotiformes (Gymnotidae). A maior parte das espécies foi coletada com redes de espera, seguidas das coletas com puçás. Tabela 1. Lista preliminar da diversidade de peixes nos Arroios Capivaras e Ribeiro (Ambientes: AR, Arroio Ribeiro; AC: Arroio Capivaras) Família Espécie Nome Popular Ambiente Anostomidae

Atherinopsidae Auchenipteridae Callichthyidae

Leporinus obtusidens (Valenciennes, 1837) Schizodon jacuiensis (Bergmann, 1988) Odontesthes aff. perugiae (Evermann & Kendall, 1906) Trachelyopterus lucenai (Bertoletti, Pezzi da Silva & Pereira, 1995) Corydoras paleatus (Jenyns, 1842)

Piava

AR, AC

Voga

AR, AC

Peixe-rei

AR (foz)

Porrudo

AR

Cascudinho

AR (foz)

Characidae

Cichlidae

Curimatidae Erythrinidae Gymnotidae

Heptapteridae

Loricariidae

Pimelodidae

Prochilodontidae

Hoplosternum littorale (Hancock, 1828) Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819) Astyanax jacuhiensis (Cope, 1894) Astyanax sp. Oligosarcus jenynsii (Günther, 1864) Oligosarcus robustus (Menezes, 1969) Crenicichla lepidota (Heckel, 1840) Crenicichla punctata (Hensel, 1870) Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824) Cyphocharax voga (Hensel, 1870) Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) Gymnotus carapo (Linnaeys, 1758) Pimelodella australis (Eigenmann, 1917) Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard) Hypostomus commersoni (Valenciennes, 1836) Loricariichthys anus (Valenciennes, 1836) Parapilelodus nigribarbis (Boulenger, 1889) Pimelodus maculatus (Lacepède, 1803) Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1837)

Tamboatá Lambari-dorabo-vermelho Lambari-dorabo-amarelo Lambari

AR AR, AC AR, AC AR

Tambica

AR, AC

Tambica

AR, AC

Joaninha

AR, AC

Joaninha

AR, AC

Cará

AR, AC

Biru

AR, AC

Traíra

AR, AC

Tuvira

AC

Bagre Jundiá

AR, AC AR, AC

Cascudo

AR, AC

Cascudo-viola

AC

Mandi

AR, AC

Pintado

AR, AC

Grumatã

AR, AC

01

02

03

04

05

Figura 02 (conjunto). Espécies identificadas na região. 01 e 02. Odontesthes aff. perugiae (Peixe-rei); 03. Astyanax fasciatus (Lambari-do-rabo-vermelho); 04 e 05. Loricariichthys anus (Viola), vista dorsal, detalhe da região inferior e detalhe da cabeça, respectivamente (figura 06 na próxima página).

02

06

07

09

08

10

Figura 02 (conjunto, continuação). 06. Loricariichthys anus (Viola), 07. Rhamdia aff. quelen (Jundiá); 08. Gymnotus carapo (Tuvira); 09. Corydoras paleatus (Cascudinho), 10. Geophagus brasiliensis (Cará).

12 2

11

13

14 2

15 2

Figura 03 (Conjunto). 11 e 12. Hypostomus commersoni (cascudo); 13. Pimelodus maculatus (Pintado), detalhe da cabeça. 14. Pimelodus maculatus (Pintado); 15. Hoplias malabaricus (Traíra) (FOTOS: Débora T. B.Motta, exceto nº 01, 02 e 08, de Luciano Moura de Mello).

16

17 2

18

19

Figura 03 (Conjunto, continuação). 16. e 17 Trachelyopterus lucenai (Porrudo), vista dorsal e detalhe; 18. Oligosarcus robustus (Tambica); 19. Crenicichla lepidota (Joaninha) (FOTOS: Débora T. B.Motta).

Foi ainda realizado o levantamento bibliográfico da dieta alimentar das espécies identificadas com o intuito de amparar os estudos futuros sobre a dinâmica das comunidades de peixes nos ambientes estudados (Gráfico 01).

Gráfico 01: Distribuição percentual das espécies de peixes registradas na área de estudo, por guildas alimentares.

A seleção dos pontos de amostragem considerou: a facilidade de acesso, a diversidade de ambientes (características de margens, profundidade, cobertura vegetal) e a possibilidade de uso dos materiais de coleta disponíveis. Estes pontos estão apresentados na Figura 04. e contém as coordenadas geográficas obtidas por equipamento de GPS. Não estão apresentados os pontos no mapa em que foram coletadas as informações que tiveram como fonte de dados os pescadores. Estes foram contactados diretamente durante atividade de pesca nos arroios, nesta fase do estudo.

Quadro de dados sintéticos sobre dimensões (médias) e dieta alimentar das espécies de peixes identificadas: Leporinus obtusidens Piava Alimentação: onívoro (insetos, restos de peixes e vegetais). Tamanho: 76 cm Referência: ZANIBONI FILHO et al., 2004. Schizodon jacuiensis Voga 15 Alimentação: iliófagos . São de grande importância na cadeia alimentar por serem indivíduos que vivem em geral, no fundo, auxiliando na reciclagem de nutrientes e servindo de alimento para peixes carnívoros. Tamanho: 25 cm Referência: OYAKAWA, 1998. Odontesthes aff. perugiae Peixe-rei Alimentação: onívoro, com preferência por organismos planctônicos. Tamanho: 36 cm Referência: BOSCHI & FUSTER DE PLAZA, 1959. Trachelyopterus lucenai Porrudo Alimentação: onívoras, alimentando-se preferencialmente de insetos, crustáceos e pequenos peixes. Tamanho: 16,5 cm Referência: BECKER, 2007; MORESCO & BEMVENUTI, 2005. Corydoras paleatus Alimentação: onívoros. Tamanho: 5,9 cm Referência: REIS, 2003

Cascudinho

Hoplosternum littorale Tamboatá Alimentação: bentófaga Tamanho: 24 cm Referência: MEUNIER et al., 2002

15

Iliófagos são animais que alimentam de materiais orgânicos encontrados no lodo dos corpos d’água, rios, lagos, barragens, etc.

Rhamdia quelen Jundiá Alimentação: onívoro (GOMES et al., 2000) Tamanho: 47,4 cm Referência: ZANIBONI FILHO et al., 2004. Astyanax fasciatus Lambari-do-rabo-vermelho Alimentação: insetos e plantas (LIMA et al., 1995). Tamanho: 16,8 cm Referência: ZANIBONI FILHO et al., 2004. Astyanax jacuhiensis Lambari-do-rabo-amarelo Alimentação: Alimenta-se de insetos e plantas Tamanho: 13,8 cm Referência: LIMA et al., 1995. Astyanax sp. Lambari Alimentação: Alimenta-se de insetos e plantas Tamanho: 16 cm Referência: LIMA et al., 1995. Oligosarcus jenynsii Tambica Alimentação: carnívora, preferindo peixes pequenos, crustáceos e larvas de insetos. Tamanho: 22,8 cm Referência: MENEZES 1969; KOCK et al., 2000. Oligosarcus robustus Tambica Alimentação: Provavelmente onívoros, alimentando preferencialmente de peixes (BRISTKI, 1970). Tamanho: 15 cm Referência: MENEZES 1969; KOCK et al., 2000. Crenicichla lepidota Joaninha Alimentação: insetos, poliquetas e peixes. Tamanho: 20 cm Referência: SANTOS 1987; KOCK et al., 2000.

Crenicichla punctata Joaninha Alimentação: alimenta-se de peixes, insetos, crustáceos, girinos ou pequenas rãs ou sapos. Tamanho: 23,3 cm Referência: KULLANDER, 2003. Cyphocharax voga Alimentação: iliófagos ¹4 Tamanho: 19,6 cm Referência: VARI, 1992

Biru

Hypostomus commersoni Cascudo Alimentação: iliófagos Tamanho: 60,5 cm Referência: ZANIBONI FILHO et al., 2004. Hoplias malabaricus Traíra Alimentação: Na fase larval é planctófaga (PAIVA, 1974). Os indivíduos jovens são insetívoros enquanto que os adultos são ictiófagos (MORAES & BARBOLA, 1995). Apresentam grande resistência a períodos de jejum (PAIVA, 1974) Tamanho: 26 cm. Referência: BARBIERI, 1989 Geophagus brasiliensis Cará Alimentação: bentófagos e iliófagos (MAGALHÃES, 1931), gastrópodos (COSTA & MAZZONI, 1997), microcrustáceos, larvas de insetos, algas e detritos vegetais (HAHN et al., 1997). Tamanho: 24,5 cm Referência: BARBIERI, 1974 Prochilodus lineatus Grumatã Alimentação: iliófagos Tamanho: 80 cm Referência: ZANIBONI FILHO et al., 2004.

Gymnotus carapo Tuvira Alimentação: carnívoros, principalmente insetos e crustáceos Tamanho: 42 cm Referência: PEREIRA & RESENDE, 2006 Pimelodella australis Bagre Alimentação: iliófagos. Tamanho: 10,6 cm Referência: BOCKMANN & GUAZZELLI, 2003 Loricariichthys anus Viola Alimentação: pequenos peixes, moluscos, crustáceos e insetos Tamanho: 46 cm Referência: FERRARIS, 2003. Parapilelodus nigribarbis Mandi Alimentação: onívoro Tamanho: 18,6 cm Referência: LUCENA et al., 1992 Pimelodus maculatus Pintado Alimentação: onívoro (BASILE-MARTINS,1986). Tamanho: 36 cm Referência: FENERICH et al., 1975 a

b

Figura 05 (conjunto): Imagens do trabalho. (a) Equipe percorrendo as áreas de estudo no Arroio Capivaras. (b) Geophagus capturado parcialmente predado na rede de coleta, possivelmente por Lontras.

a

Figura 04: Mapa de localização georreferenciada dos pontos de coletas de dados. FONTE DE IMAGEM: Google Earth®, acesso em 05 de maio de 2012.

a

b

Figura 06 (conjunto): Imagens do trabalho. (a) e (b) Área de pesca amadora em trapiche, na foz do arroio Ribeiro (FOTOS: Débora T. B. Motta)

Agradecimentos dos autores À Vinícius Brasil do Amaral, Marjorie Knippling do Amaral e ao Sr Cláudio Wilfing, pelas carinhosas recepções, pela motivação, pelo suporte, material e logística para que este trabalho pudesse ser concluído. À Pâmela Mugica, Leonardo Pompéu de Moraes e Ricardo Lemos, pelo apoio durante as atividades de campo, muito obrigado.

Bibliografia ARAÚJO-LIMA, C.A.R.M., AGOSTINHO, A.A. & FABRÉ, N.N. Trophic aspects of fish communities in Brazilian rivers and reservoirs. In Limnology in Brazil (J.G. Tundisi, C.E.M. Bicudo & T. Matsumura-Tundisi, eds.). ABC/SBL, RJ, p.105-136. 1995. BARBIERI, G., PERET, A.C. & VERANI, J.R. Notas sobre a alimentação do trato digestivo ao regime alimentar em espécies de peixes da região de São Carlos (SP) I. Quociente Intestinal. Rev. Brasil. Biol. 54:63-69. 1994. BECKER, F. G. Feeding habits of Trachelyopterus lucenai (Pisces, Auchenipteridae) in Lake Guaiba, RS, Brazil. Biociências, Porto Alegre, v. 6, n. 1, p. 89-98. 1998. BOCKMANN, F.A.; G.M. GUAZZELLI. Heptapteridae (Heptapterids). p. 406431. In R.E. Reis, S.O. Kullander and C.J. Ferraris, Jr. (eds.) Checklist of the Freshwater Fishes of South and Central America. Porto Alegre: EDIPUCRS, Brasil. 2003. BOSCHI, E. E. & FUSTER DE PLAZA, M. L. Estudio biológico pesquero del pejerrey del embalse del Rio III (Basilichthys bonariensis), con una contribuición al conocimento limnologico del ambiente. Buenos Aires, Departamento de Investigaciones Pesqueras, Secretaria de Agricultura y Ganaderia. p.3-16. (Publicacion nº 8). 1959. BRITSKI, H.A.; SILIMON, K.Z.S.; LOPES, B. S. Peixes do Pantanal: manual de Identificação. Brasília: EMBRAPA. 184p. 1999. FENERICH, N.A.; NARAHARA, M.Y.; GODINHO, H. M. Curva de crescimento e primeira maturação sexual do mandi, Pimelodus maculatus Lac. 1803 (Pisces, Siluroidei). Boletim do Instituto de Pesca, São Paulo, 4: 1-28. 1975. FERRARIS, C.J. JR. Loricariidae - Loricariinae (Armored catfishes). p. 330350. In R.E. Reis, S.O. Kullander and C.J. Ferraris, Jr. (eds.) Checklist of the Freshwater Fishes of South and Central America. Porto Alegre, EDIPUCRS, Brasil. 2003.

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Capítulo

6

Florística e ecologia de Orchidaceae e exemplares de Bromeliaceae em Barra do Ribeiro Clodoaldo Leites Pinheiro

16

A importância ecológica do epifitismo nas comunidades florestais consiste na manutenção da diversidade biológica e no equilíbrio dinâmico interativo nos distintos ecossistemas (WAECHTER, 1996). Orchidaceae possui origem filogenética17 recente, de grande diversidade na região neotropical, que as tornam relevantes no que tange a estudos ecológicos (CARDIM et al., 2001). Em função das características fisiológicas as epífitas podem ser utilizadas em estudos de processos ecológicos que indiquem padrões de interferência antrópica ou distúrbios de ordem natural no ambiente (VAN DEN BERG, 1996). A despeito do relevante papel ecológico das orquídeas, o número de indivíduos de cada população nos remanescentes da Mata Atlântica tem declinado nos últimos anos, especialmente em função da devastação das áreas preservadas e sua conversão em áreas de cultivo agrícola e da coleta desenfreada das plantas para fins ornamentais e comerciais (WARREM, 1996; FARIA e RIBEIRO, 2000). Neste contexto, o conhecimento da diversidade taxonômica e ecológica contribui para o direcionamento de estratégias de conservação e uso racional de recursos naturais. Para o estudo de florística e ecologia de Orchidaceae foram utilizados duas metodologias. A primeira destinou-se a caracterização a diversidade horizontal de comunidades de orquídeas e a segunda a diversidade 16

Tecn. Fruticultura (UERGS). MSc. Doutorando (Botânica/UFRGS). Email: [email protected] 17 Abordagem da ciência que classifica espécies de acordo com sua história evolutiva.

vertical. Os objetivos básicos destas metodologias são uma rápida análise de diversidade taxonômica e funcional. Assim, foi possível formular algumas hipóteses a respeito da interferência do ambiente sobre a distribuição e presença de espécies de orquídeas em um fragmento de mata secundária. Para a coleta de dados de densidade populacional e freqüência de Orchidaceae foi adotado a metodologia de quadrantes contíguos (diversidade horizontal). Foi utilizado um transecto18 em uma área de 3,2 hectares dividida em 32 blocos de 10m x 100m. A contagem de orquídeas foi feita considerando o campo de visão do pesquisador, contabilizando as orquídeas de cada bloco durante o transecto. A partir do levantamento florístico foram calculados: (1) valores para densidade absoluta (DA) pela relação entre número total de um determinado indivíduo e a área de estudo (3,2 ha); (2) densidade relativa (DR) considerando o percentual da relação entre DA e o somatório das DA de todas as outras espécies de orquídeas; e (3) freqüência, calculada a partir do percentual da relação de quadrantes em que a espécie se faz presente pelo somatório de quadrantes (ANJOS-SILVA, 2000). A diversidade vertical (Figura 01) foi avaliada através da obtenção de dados de dominância relativa, frequência absoluta sob forófitos e importância epifítica de plantas da família Orchidaceae em diferentes zonas ecológicas do forófito19 (KERSTEN, 2006).

Legenda: VIE = valor de importância epifítico DoR = dominância relativa FfR = freqüência relativa sobre os forófitos DoA = dominância absoluta (soma das notas de cada espécie) FfA = frequencia absoluta sobre os forófitos (=percentual de ocupação) nfe = número de forófitos que abrigam a espécie epifítica ntf = número total de forófitos

18 19

Método de contagem de organismos de uma determinada faixa de terreno. Forófito: árvore que serve de suporte para epífitos.

Figura 01: Fórmulas para cálculos da diversidade vertical. O desenho representa o modelo utilizado para divisão de zonas ecológicas do forófito.

Dentro da área de estudo, 50 árvores foram selecionadas aleatoriamente e foram divididas em zonas ecológicas (Figura 01): (A) fuste baixo (do solo até a altura de 1,3m), (B) fuste alto (galhos internos acima da altura do fuste baixo) e (C) copa (ramos externos expostos a maior insolação). Esta divisão é indicada quando os forófitos19 são árvores de até 4m de altura (BRAUN-BLANQUET, 1979). A abundância foi quantificada a partir da média entre o critério que considera a dominância e biomassa da espécie epifítica, sendo adotada pontuação para dominância absoluta: 1 para indivíduos isolados, 2 para pequenos grupos, 3 para grandes grupos, 4 para grandes massas e 5 para população contínua; e pontuação para biomassa: 1 para indivíduos pequenos, 2 indivíduos médios e 3 indivíduos grandes (KERSTEN, 2006). O valor de importância epifítica (VIE) foi obtido a partir da média aritmética dos valores relativos de cada espécie para pontuar a representatividade deste na comunidade epifítica a qual faz parte (MATTEUCCI e COLMA, 1982). A área de estudo, nesta fase, compreende a fisionomia de mata às margens do Guaíba junto à foz do Arroio Ribeiro.

Figura 02: Acianthera glumacea (Lindl.) Pridgeon & M.W.Chase. (FOTO: Luciano M. de Mello)

Os forófitos observados são, em sua maioria, árvores de até 4 metros, formando um dossel vegetativo com falhas representadas por clareiras, o que aumenta a diversidade de microclimas e condições de luminosidade. Esta condição pode ser responsável pela alternância em distribuição e ecologia de espécies vegetais não somente de epífitos20 vasculares, mas também de outros vegetais, os quais constituem a riqueza de flora neste local de estudo. A Tabela 01. mostra resultados do levantamento florístico para a área de estudo, apresentando valores de densidade de epífitos por hectare, dominância relativa e freqüência das orquídeas observada de acordo com a metodologia de quadrantes contíguos. O vetor de observação para a área de estudo foi: 3, 9, 46, 3, 18, 3, 1, 4, 0, 1, 5, 7, 15, 0, 0, 0, 0, 7, 5, 0, 0, 0, 0, 0, 0, 7, 0, 0, 0, 3, 1, 3. Foram catalogados 4 espécies (1 ainda não identificada) de orquídeas totalizando 141 indivíduos nos 3,2 ha. A ausência de dados nos quadrantes se deve à inexistência de forófitos com orquídeas ou grandes clareiras.

20

Vegetal que vive fixado sobre outro, mas não é parasito.

Tabela 01: Diversidade horizontal, número de espécimes observados, e densidade de Orchidaceae em fragmento florestal de Barra do Ribeiro, Rio Grande do Sul, Brasil. Táxon

N

Lophiaris pumila Cattleya tigrina Cattleya intermedia Campylocentrum aromaticum Sp. não identificada Total

122 10 6 2 1 141

número de quadrantes presentes 14 3 3 1 1

DA

DR

Fr%

38,125 3,125 1,875 0,625 0,3125

86,52482 7,092199 4,255319 1,41844 0,70922

43,75 9,375 9,375 3,125 3,125

Legenda: n=n= número de indivíduos total da área; absoluta; DR= densidade relativa; Fr= Legenda: número total de indivíduos da DA= área;densidade DA= densidade absoluta; DR=densidade frequência. relativa; Fr= frequência

Lophiaris pumila (Lindl.) Braem é a orquídea mais abundante na área, apresentando uma distribuição de 38,12 indivíduos por hectare, cerca de 86,52% da população relativa e com uma probabilidade de ocorrência superior a 43,75% em relação aos epífitos (orquídeas) observados nesta área. Valores de abundância são associados à presença de determinada espécie em uma unidade de área, geralmente hectare. Valores de frequência representam uma medida para regularidade da distribuição e podem ser ligados ao padrão de dispersão de uma determinada espécie em um espaço. As espécies do gênero Cattleya são plantas de reconhecida importância e potencial econômico, sendo intensamente cultivadas em orquidários e, coletadas de habitats. A distribuição de Cattleya tigrina A. Rich. e Cattleya21 intermedia Grah. está restrita aos quadrantes do interior do fragmento e em uma das bordas próximo a um rio, res-pectivamente. A distribuição destas duas espécies parece estar mais associada a coletas do que ao efeito de borda. Estas duas espécies de Cattleya estão sob risco de extinção. Plantas de L. pumila (Figura 03) estão distribuídas ao longo dos quadrantes estudados. As flores muito discretas parecem não atrair tanto a atenção de coletores de plantas ornamentais.

21

Tanto C. tigrina quanto C. intermedia estão classificadas como “vulneráveis” segundo o Decreto nº 42.099, de 31 de dezembro de 2002 (lista de espécies da flora nativa ameaçadas de extinção do Estado do Rio Grande do Sul.

a

b

Figura 03: Lophiaris pumila (Lindl.) Braem, planta isolada (a) e com flores (b), sobre tronco de Tarumã (Vitex megapotamica) (FOTOS: Luciano M. de Mello).

Considerando a distribuição vertical, a flora de Orchidaceae estudada está fortemente relacionada ao fuste alto e a copa (Figura 04), principalmente plantas do gênero Cattleya. Este ambiente pode representar um local com condições de crescimento e desenvolvimento mais adequadas (Gonçalves & Waetcher, 2002), e também de mais difícil acesso aos coletores. Uma observação interessante foi em função da dominância relativa, que descreve a cobertura do forófito pela biomassa das epífitas (Figura 05). Desta forma a grande quantidade de micro-orquídea L. pumila confere maior representatividade na zona ecológica fuste alto. Na zona ecológica da copa a biomassa observada foi associada à presença de plantas do gênero Cattleya (Figura 06). As clareiras foram formadas pelo tombamento natural de árvores com ou sem os epífitos. Existem sinais evidentes de coleta de espécies do gênero Cattleya.

Percentual de ocupação do forófito 90

FfA (%)

80 70

Lophiaris pumila

60

Cattleya tigrina

50

Campylocentrum aromaticum

40

Sp. não identificada 30 Cattleya intermedia

20 10 0 A

B

C

Zona ecológica do forófito

Figura 04: Gráfico da frequência percentual de ocupação sobre os forófitos nas distintas zonas ecológicas.

Diante do estudo realizado propõem-se desenvolver estratégias para conservação da flora de Orchidaceae a partir de práticas de reintrodução e educação ambiental. dominância relativa sob os forófitos

80 70 Lophiaris pumila 60 Cattleya tigrina

DoR

50 40

Campylocentrum aromaticum

30

Sp.

20

Cattleya intermedia

10 0 A

B

C

Zona ecológica do forófito

Figura 05: Gráfico da dominância relativa sob os forófitos.

As espécies podem ser fixadas em outros forófitos de acordo com a diversidade vertical estudada, escolhendo assim o local mais adequado ao crescimento e desenvolvimento do epífito. A área em estudo está associada à interferência antrópica. Assim, é aconselhável divulgar para a população do município de Barra do Ribeiro a importância de Orchidaceae para a manutenção do equilíbrio dinâmico da biodiversidade (WAECHTER, 1980). Na área de estudo foram observadas bromélias e um arbusto em forma epifítica (Ephedra tweediana). Estes elementos vegetais somam em diversidade e complexidade de interações ecológicas, proporcionando ao ambiente maior estabilidade a interferências de ordem natural ou antrópica.

a

b

Figura 06: Cattleya intermedia Grah, com frutos (FOTOS: Luciano M. de Mello)

BROMELIACEAE Bromeliaceae é uma família botânica cuja espécies apresentam como sinapomorfia22 folhas dotadas de tricomas foliares peltados especia22

Conjunto de caracteres que define um grupo na classificação filogenética.

lizados em absorção de água e nutrientes, antera conduplicada, 6 estames e número de cromossomos X=25. O clado Bromeliaceae permanece parafilético e polifilético23 em APG III (APG, 2009).

Aechemea recurvata é uma pequena bromélia de folhas verdes rosetadas e recurvadas no ápice. As inflorescências em tons róseos são acompanhadas de folhas vermelhas. A cor vermelha nas flores de bromélias está associada à polinização por beija-flores (CANELA & SAZIMA, 2003, 2005). Esta espécie pode ser encontrada na forma epífita, terrícola ou em afloramentos rochosos.

Figura 07: Sub-população de Aechmea recurvata (Klotzsch) L.B. em área aberta e solo arenoso da orla da formação florestal secundária no Guaíba (FOTOS: Luciano M. de Mello).

23

Parafilético constitui grupo que possui um ancestral comum e Polifilético é um grupo resultante de convergência evolutiva: derivam de grupos diferentes.

Figura 08: Aechmea recurvata (Klotzsch) L.B.Sm detalhe das flores (FOTOS: Luciano M. de Mello).

Bromelia antiacantha, conhecida como Bananinha-do-mato apresenta folhas verdes rosetadas e cobertas por espinhos (Figuras 08 e 09).

Figura 08: Bromelia antiacantha Bertol., detalhe das flores (FOTO: Luciano M. de Mello).

Figura 09: Bromelia antiacantha Bertol., detalhe dos frutos (FOTO: Luciano M. de Mello).

É uma planta terrícola e estolonífera, o que confere grandes maciços em habitats. Durante o florescimento as brácteas tornam-se vermelhas, formando um vistoso contraste com as inflorescências lilases.

Figura 10: Bromelia antiacantha Bertol., frutos maduros (FOTO: Clodoaldo L. Pinheiro).

A frutificação de cores alaranjadas confere um aspecto ornamental a este tipo de bromélia (Figura 10). Bromélias do gênero Tillandsia são pequenas epífitas com folhas rosetadas que não acumulam água. Os tricomas peltados, característica marcante em bromélias, otimizam a absorção de água e nutrientes. Desta forma, é marcante a rusticidade destas plantas. A exposição à alta intensidade luminosa aumenta o aspecto acinzentado das folhas e favorece as florações. É encontrada grande variação de tons nas flores e tamanho de inflorescência no gênero Tillandsia. As espécies T. aeranthos (Figura 11) e T. geminiflora (Figura 12) produzem grande quantidade de sementes e apresentam alta taxa de germinação, o que torna eficiente a dispersão e colonização de ambientes naturais.

a

b

Figura 11: Tillandsia aeranthos (Loisel.) L.B.Sm. no centro-esquerda da figura (a). À direita (ainda na Figura a), com flores amarelas, a orquídea Lophiaris pumila. (b) Detalhe dos frutos maduros de Tillandsia aeranthos (FOTOS: Luciano M. de Mello).

Figura 12: Tillandsia geminiflora Brogn. sobre uma Myrtaceae. É conside24 rada uma planta “vulnerável” à extinção (FOTO: Luciano M. de Mello).

24

Rio Grande do Sul. 2002. Decreto nº 42.099, de 31 de dezembro de 2002. Declara as espécies da flora nativa ameaçadas de extinção do Estado e dá outras providências. Diário Oficial [do] Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 62(1):1-6, 1. Jan. 2003.

Tillandsia usneoides (Figura 13), conhecida popularmente por Barba-de-pau, são plantas epífitas que absorvem água e nutrientes do ambiente sem apresentar raízes. Esta característica fisiológica e morfológica ligada à ausência de raízes é de grande importância para estudos de monitoramento de qualidade ambiental devido ao acúmulo de poluentes ambientais absorvidos por estas plantas (FIGUEIREDO et al., 2004).

Figura 13: Tillandsia usneoides, epífita comum em floresta primária (FOTO: Clodoaldo L. Pinheiro).

Ananas bracteatus apresenta forma vegetativa semelhante a B. antiacantha, entretanto a infrutescência se assemelha muito ao abacaxi de uso alimentar humano (Figura 14 e 15), sendo igualmente comestível. Ananas bracteatus apresenta infrutescência vermelha de grande potencial ornamental. Os jardins naturais formados a partir do hábito estolonífero de A. recurvata, B. antiacantha e A. bracteatus podem representar abrigo e fonte de alimento para a fauna local, especialmente anfíbios e insetos.

Figura 14: Ananas bracteatus (Lindl.) Schult. & Schult. f. detalhes da planta em trilha na mata (FOTO: Luciano M. de Mello).

Figura 15: Ananas bracteatus (Lindl.) Schult. & Schult. f. (FOTO: Luciano M. de Mello).

EPHEDRACEAE Ephedra tweediana Fisch. & C.A. Mey. Arbusto trepador, muito ramificado (Figura 16) que cresce sobre pequenas árvores esparsas ou em bordas de mata, normalmente em campos arenosos. Brácteas carnosas, vermelhas com sementes pretas. Classificada como “Em perigo” 17, o que faz desta espécie um organismos muito especial para a conservação das áreas de estudo. a

b

Figura 16: Ramos (a); (b) flores (note as brácteas vermelhas), frutos e sementes de Ephedra tweediana Fisch. & C.A. Mey. É considerada uma planta “em perigo” de extinção³ (FOTOS: Luciano M. de Mello).

Agradecimentos do autor Aos colegas de pesquisa e de vivência, pelos bons e agradáveis momentos de trabalho e de contemplação do ambiente natural.

Bibliografia APG. 2009. Angiosperm Phylogeny Group. Disponível em: . Acessado em 10.05.2012. ANJOS-SILVA, E. J. Levantamento de orquídeas epífitas de écotono de Cerradão-Matas alagáveis (Rio Paraguai, Pantanal de Cáceres, Mato Grosso). III Simpósio sobre Recursos Naturais e Sócio-econômicos do Pantanal Os desafios do Novo Milênio, Corumbá, 2000. BRAUN-BLANQUET, J. Fitossociologia: bases para el studio de las comunidades vegetales. Madrid: H. Blume Edic, 1979. CANELA, M. B. F., SAZIMA, M (2003). Aechmea pectinata: a hummingbirddependent bromeliad with inconspicuous flowers from the rainforest in southeastern Brazil. Annals of Botany 92:731-737. CANELA, M. B. F., SAZIMA, M (2005). The pollination of Bromelia antiacantha (Bromeliaceae) in southeastern Brazil: ornithophilous versus melittophilous features. Plant Biology 7:1-6. CARDIM, D. C.; CARLINI-GARCIA. L. A.; MONDIN. M.; MARTINS. M.; VEASEY, E. A.; ANDO, A. Variabilidade intra-específica em cinco populações de Oncidium varicosum Lindl. (Orchidaceae. Oncidiinae) em Minas Gerais. Revista brasileira de Botânica, v. 24, p. 553-560. 2001. FARIA L. A.; RIBEIRO, R. Pôster apresenta orquídeas na Mata Atlântica. Revista: O mundo das orquídeas, v. 13, p. 43-45. 2000. FIGUEIREDO, A. M. F., ALCALA, A. L., TICIANELLI, R. B., DOMINGOS, M. & SAIKI, M. 2004. The use of Tillandsia usneoides L. as bioindicator of air pollution in São Paulo, Brazil. Journal Radioanalytical & Nuclear Chemistry 259:59-63. GONÇALVES, C. N.; WAECHTER, J. L. Notas taxonômicas e nomenclaturais em espécies brasileiras de Acianthera (Orchidaceae). Hoehnea, 2004. p 113-117. KERSTEN, R.A. Epifitismo vascular na bacia do alto Iguaçu, rio Paraná. Tese (Doutorado), Setor de Ciências Agrárias Universidade Federal do Paraná. Curitiba, PR, 2006.

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Capítulo

7

Aspectos gerais da composição arbórea das florestas ciliares e os impactos ambientais nas áreas de preservação permanente de Barra do Ribeiro Pâmela Martins Mugica 25 Luciano Moura de Mello 26 Alexandra Alves Cantos 27

Inserida no Bioma Pampa, a área de estudo conta com a maior parte das formações florestais naturais. O desenvolvimento de formações arbóreas em meio à vegetação campestre é típico de algumas espécies adaptadas à exposição ao sol ou ao frio. Nestas condições, e neste tipo de bioma particularmente, campo e mata dividem o mesmo espaço em diversos trechos, acumulando espécies arbóreas ao redor das áreas úmidas ou alagadas, bem como no curso dos rios, e formações campestre em áreas secas com fauna característica. A dispersão natural física ou biológica que ocorre também deve ser levada em conta uma vez que a fauna está intimamente relacionada à diversidade e qualidade da flora, contribuindo assim com a germinação de sementes de arbóreas para diversos lugares e compondo a paisagem do Bioma. A presença de mudas de espécies de médio e grande porte foi notória nas atividades de campo em dezembro de 2011.

25

Acadêmica, Ciências Biológicas, URCAMP, Bagé. Téc. em Meio Ambiente (UFRGS). Email: [email protected] 26 Biólogo, MSc., Doutorando, FAEM/UFPEL. Email: [email protected] 27 Bióloga, MSc., Doutoranda, FAEM/UFPEL. Email: [email protected]

Esta trabalho de pesquisa, em sua riqueza e abrangência, tem grande importância na caracterização destes ambientes, com fauna e flora extremamente relevantes para a manutenção dos ecossistemas ali estabelecidos mas escassamente conhecidos. Estes ambientes há muito são impactados pela ação do homem e pela avançada urbanização sobre áreas sensíveis, além do desenvolvimento de atividades agrícolas (em especial a orizicultura) sobre as áreas reservadas legalmente às matas nativas e as outras formas de APPs. Além da importância da divulgação deste trabalho científico para a comunidade em geral, a intervenção comunitária pretendida deverá prestar um serviço social aos moradores destas áreas, estrategicamente utilizando ferramentas da educação ambiental como ponto de partida para o entendimento do ambiente natural e a convivência de forma sustentável entre homem e natureza. O levantamento fotográfico também possui grande importância na divulgação dos resultados aproximando do leitor uma realidade de paisagens, de fauna e flora locais. Todos os pontos de impactos de maior importância tem as indicações de solução apresentadas no Capítulo 9. METODOLOGIA Para o levantamento dos dados inicialmente foram utilizadas amostragens de áreas da orla do Guaíba, do arroio Ribeiro e do Arroio Capivaras, segundo as informações da Tabela e Figura 1. Tabela 1. Dados dos pontos de amostragem (ver Figura 01) P

Ponto de amostragem

Local

1

Orla do Guaíba

Mata da orla I

900m²

30x30m

2

Orla do Guaíba

Mata da orla II

900m²

30x30m

3

Margens do Arroio Capivaras

450m²

15x15m

4

Margens do Arroio Capivaras

450m²

15x15m

5

Margens do Arroio Ribeiro

450m²

15x15m

6

Margens do Arroio Ribeiro

450m²

15x15m

Floresta de galeria (margem direita) Floresta de galeria (margem esquerda) Floresta de galeria (margem direita) Floresta de galeria (margem esquerda) Total estudado

Área amostrada

3600m²

Nestes pontos foi realizada a amostragem preliminar dos exemplares de flora arbórea assim como identificados os principais tipos de impactos ambientais verificados nas áreas de preservação permanente, nestes e nas áreas marginais ao longo dos arroios amostrados nesta fase do trabalho. Para os levantamentos detalhados da diversidade será empregado, na segunda fase, o método dos quadrados nestas mesmas áreas estudadas, aplicado-se o levantamento integral das espécies arbóreas com DAP28 ≥ 10cm. Para a identificação das espécies nesta fase foram realizadas coletas de partes de plantas para herborização, tendo as de mais fácil identificação sido registradas durante as atividades de campo. Foi utilizado barco a motor para possibilitar que as equipes percorressem pelo menos 2.000 metros em cada um dos curso de água (Arroio Ribeiro e Capivaras) a fim de avaliar a densidade das florestas de galeria e os pontos de maior impacto. A análise fitossociológica completa, bem como a estrutura das comunidades, densidade por espécie e outros dados serão inventariados na fase seguinte do trabalho. Para a análise desses dados será utilizada a comparação de médias entre as áreas estudadas a fim de identificar as diferenças entre os diversos ambientes, sendo considerados ainda: os índices de Diversidade de Simpson, de Shannon e de Similaridade de Jaccard. Para análise de comparações de médias será utilizado o Software SASM-AGRI, versão 8.0.29 Nesta etapa do trabalho foi realizado o levantamento georreferenciado das áreas impactadas, principalmente das áreas com ausência de mata ciliar, estabelecimento de lavoura ou pastagem avançando em direção à margem dos arroios em desacordo com a legislação em vigor; descrição das paisagens; identificação das espécies vegetais de maior representatividade e análise do estado de sucessão vegetal nas áreas de estudo.

28

Diâmetro à altura do peito. CANTERI, M., ALTHAUS, R.,VIRGENS FILHO, J., GIGLIOTI, E. A., GODOY, C. V. SASM Agri: Sistema para análise e separação de médias em experimentos agrícolas pelos métodos Scoft - Knott, Tukey e Duncan. Revista Brasileira de Agrocomputação, V.1, N.2, p.18-24. 2001. 29

Arroio Capivaras

4

3 1

2

Orla do Guaíba

5

6

Arroio Ribeiro

Figura 01. Mapa de localização das áreas de estudo. FONTE DE IMAGEM: Google Earth®, acesso em 05 de maio de 2012.

Os resultados são mostrados de maneira objetiva, valendo-se de imagens obtidas durante as atividades e de sua descrição, com observações que buscam identificar e associar os aspectos mostrados com os impactos que geram sobre os ecossistemas locais.

RESULTADOS E DISCUSSÕES Generalidades sobre as paisagens naturais A área de estudo é bastante representativa do mosaico de ambientes dos quais é composta: florestas primárias de áreas secas, em geral arenosas, limitada pela ocupação humana, florestas com manchas de for-

mação secundárias, em notada recuperação, florestas ciliares típicas e áreas abertas com formação florestal esparsa. Exemplares típicos de áreas fechadas, em geral sobreadas, que são encontrados nestas áreas mais abertas mostra a preservação de alguns indivíduos durante desmatamentos antigos, provavelmente para a abertura de espaços para a criação de gado.

Figura 02. O Maricá (Mimosa bimucronata), nas margens da foz do Ribeiro, com flores brancas e a Capororoca (Myrcine sp.), com frutos, em mata da orla do Guaíba: importantes espécies das florestas estudadas (FOTOS: Luciano M. Mello)

Em geral, as paisagens naturais são bem compostas, em recuperação natural e com pequena representação de espécies exóticas com potencial de expansão que possa causar maior preocupação às populações silvestres. Nas margens dos arroios aparecem com grande representatividade os Maricás (Mimosa bimucronata), os Ingás (Inga marginata), os Mataolhos (Pouteria salicifolia), os Tarumãs (Vitex megapotamica) e exemplares de Jerivá ou Palmeira-rio-grandense (Syagrus romanzoffiana). No interior destas formações aparecem ainda com destaque, os Açoita-cavalo (Luehea divaricata), a Coronilha (Scutia buxifolia), a Pitangueira (Eugenia uniflora), as Figueiras-mata-pau30 (Ficus sp.), o Camboatá (Cupania vernalis), o Chal-chal (Allophylus edulis), o Veludinho (Guettarda uruguensis), os Branquilhos (Sebastiania sp.), as Cactáceas Cereus sp. e Opuntia sp. (além da herbácea epífita Rhipsalis sp.), conhecida como Rabo-de-rato), a Pal30

Espécies protegidas no Estado pelo Código Florestal do RS.

meira Butia capitata, em áreas mais abertas e secas e a Corticeira-dobanhado (Erythrina crista-galli)30, entre outras espécies também importantes que aparecem citadas durante as discussões desse capítulo. Das áreas de preservação permanente da orla do Guaíba Este ambiente apresenta bom estado geral de conservação, no entanto, as trilhas no interior da mata, o trânsito de pessoas e as ações de coletores pode constituir importante agressão à vegetação (especialmente a já ameaçada flora de Bromélias e Orquídeas). A movimentação de veículos e pessoas, conforme mostrado nas Figuras 03 e 04, além de prejuízos à flora, atinge as populações de animais, ou que são mortos diretamente ao serem detectados (especialmente anfíbios e répteis) ou são afugentados pelo maior movimento de pessoas em áreas naturais. Nestes ambientes observa-se, entretanto, franca recuperação dos bancos de mudas de espécies florestais, mostrando que a regeneração parece ter sido favorecida nos últimos anos com a redução desta prática, à exceção das áreas mais abertas, de uso para o banho (onde o acesso é permitido por vias em bom estado) e nas trilhas abertas em alguns pontos dessas formações.

Figura 03. Circulação intensa de pessoas pelas trilhas nas quais foram instaladas armadilhas fotográficas, orla do Guaíba e Foz do Ribeiro, dezembro de 2011. Observou-se a movimentação de banhistas e pescadores em área de preservação permanente, sem qualquer restrição ou alerta (dezembro de 2011) (FOTOS: Luciano M. Mello).

A orla do Guaíba, na área urbanizada possui áreas bastante visitada por turistas, o que requer especial atenção para a conservação das formações naturais com o intuito de preservar e introduzir, tanto quanto

possível, exemplares nativos ao invés de espécies exóticas, como o Eucalipto.

Das áreas de preservação permanente da foz do Arroio Ribeiro A atração de pescadores amadores a esta região, por não ter sido avaliado o seu impacto neste ambiente, assim como o trânsito de embarcações de pesca e lazer, pode constituir aspecto importante nesta paisagem de tão importantes áreas a serem preservadas.

Figura 04. Orla do Guaíba, próximo ao P1 (Figura 01). Observa-se as marcas de veículos que chegam com facilidade à área de preservação permanente, circulação que limita o estabelecimento da vegetação arbórea (FOTO: Luciano M. Mello).

A vegetação de margens é composta principalmente pelos Sarandis (Terminalia sp.), com sua importante função na fixação de margens, os Jerivás, as Corticeiras-do-banhado (Erythrina crista-galli), Maricás, Mataolhos (Pouteria salicifolia) e os Ingás (Inga marginata) entre outras espécies, no entanto, a margem situada junto à zona urbanizada é a mais afetada pela introdução de espécies exóticas, principalmente os Eucaliptos.

Figura 05. Vista de espécimes de Palmeiras (Syagrus e Butia, ao fundo) entre espécies arbóreas na área da orla do Guaíba, boa composição florestal apesar da frequência de pessoas na área (FOTO: Luciano M. Mello).

Muitas espécies nesta área estão se regenerando naturalmente. A presença de dispersores naturais, como aves, mamíferos e os insetos (polinizadores) tem favorecido o restabelecimento da mata nativa. Faz-se destaque ao depoimento de pescadores que apontam como significativo impacto ambiental nesta área o assoreamento da foz do Arroio Ribeiro (Figura 06), que em algumas situações, os impede de sair para o Guaíba a fim de desempenhar sua atividade de pesca. Neste caso, medidas corretivas e integradas devem ser desenvolvidas com o intuito de garantir a atividade destas famílias com o manejo dos depósitos de sedimentos neste local, por onde, aliás, pescadores e banhistas têm fácil acesso à margem oposta, mais preservada.

Figura 06. Foz do Arroio Ribeiro, vista do trapiche mostrando pescadores e banhistas (FOTO: Luciano M. Mello).

Das áreas de preservação permanente do Arroio Capivaras As margens do Capivaras apresentam, de forma geral, de muito bom a excelente estado de conservação, com poucos pontos isolados de impacto significativo. A composição de espécies não é diferente das demais áreas, com destaque para as Aroeiras (Lithraea molleoides e L. brasiliensis), os Sarandis, Branquilhos, Maricás, Ingás, Sabão-de-soldado (Quillaja brasiliensis) e Açoita-cavalo. Mesmo não havendo grandes extensões de áreas de impacto no Arroio Capivaras, ações de reparação devem ser adotadas com urgência em alguns pontos, no sentido de corrigir os efeitos destes danos ao meio ambiente.

Figura 07. Imagem do excelente panorama de conservação da vegetação ciliar que caracteriza a maior parte dos trechos visitados do Arroio Capivaras (FOTO: Luciano M. Mello).

Os principais dados levantados sobre impactos neste ambiente estão relacionados a depósito de material de diversas fontes (restos de podas, entulho, resíduos de construção e outros), redução das áreas de floresta de galeria e erosão das margens.

Figura 08. Tarumã (Vitex megapotamica) com flores e frutos na floresta de galeria, margens do Arroio Capivaras (FOTOS: Luciano M. Mello).

A pequena ocorrência de resíduos sólidos urbanos (“lixo”) nas margens ou na água possivelmente seja decorrente da pequena popula-

ção que vive às margens do Capivaras, de qualquer forma é um aspecto positivo nesses ambientes.

Figura 09. Jerivá (Syagrus romanzoffiana), margens do Arroio Capivaras. Observa-se o excelente estado de conservação deste trecho do Arroio (FOTO: Luciano M. Mello).

Figura 10. Outro registro do aspecto geral das margens do Capivaras, mostrando Sarandis e Ingás protegendo as margens (FOTO: Luciano M. Mello).

Figura 11. Margem do Arroio Capivaras. Área aberta, margem nua e erosão. Na margem: Umbu (Phitolacca dioica) (FOTO: Luciano M. Mello)

Figura 12. Arroio Capivaras: área aberta junto à margem direita (à montante) que serve de depósito de resíduos, podas, restos de madeira e árvores (observa-se uma palmeira (Butia capitata) e Cactáceas: material que provavelmente será carregado para o interior do Arroio com a elevação do nível das águas (FOTO: Luciano M. Mello).

Os principais impactos sentidos neste recurso estão relacionados à supressão de árvores nas áreas de preservação permanente e depósito

de resíduos sólidos, em alguns casos, com registros não só de má uso da natureza, como de descaso e contrariedade clara da legislação ambiental.

Figura 13 (página anterior). Margem direita (à montante) do Arroio Capivaras (fotos superior e inferior). Área marginal do arroio totalmente edificada: muro e calçada onde deveria existir floresta de galeria. Na margem oposta, assim como nas áreas adjacentes à propriedade, a floresta de galeria apresenta excelente estado de conservação e as margens neste ponto, apesar a marcante alteração, não apresenta erosão. (FOTOS: Luciano M. Mello)

Figura 14. Margem esquerda do Arroio Capivaras. Nas figuras 14 e 15, os trechos de maior ausência de vegetação ciliar com acentuada erosão.

Figura 15. Margem esquerda do Arroio Capivaras.

Figura 16. Margem esquerda do Arroio Capivaras. Outro trecho de grande ausência de vegetação ciliar com acentuada erosão. A foto (encontro dos Arroio Capivaras e Ribeiro), mostra área onde a ausência de vegetação agrava a erosão a coloca antiga construção em risco, apesar dos esforços de reintrodução de espécies arbóreas (FOTOS das Figuras 14, 15 e 16: Luciano M. Mello)

Das áreas de preservação permanente do Arroio Ribeiro As margens apresentam de regular estado de conservação, com muitos pontos de impactos significativos. Tais pontos (e grandes áreas, em alguns casos), comprometem a qualidade da água por contaminação e a estabilidade dos ecossistemas locais. Estes danos são provocados pela ocupação de áreas de preservação permanente, derrubada da mata, depósito de resíduos sólidos (Figura 17), da construção civil e despejo de efluentes in natura, óleos, expansão de áreas de lavouras (especialmente de arroz) e outros. As ações de reparação devem ser adotadas com urgência no sentido de corrigir os efeitos destes danos ao meio ambiente, oferecendo saneamento básico, medidas de educação ambiental, de recuperação de áreas degradadas e uso do poder do Estado na fiscalização, reparação e punição, quando for o caso, pelas de ações observadas.

Figura 17. Aspecto geral das margens em trecho bem preservado do Arroio Ribeiro. Embora aqui estejam as áreas mais impactadas da região em função de seu contato com a urbanização de Barra do Ribeiro manchas bem preservadas como estas constituem excelentes áreas de repouso, nidificação e refúgio para a fauna local. (FOTO 17 e 18: Luciano M. Mello)

Figura 18. Aspecto representativo de margem do Arroio Ribeiro: a presença de grandes animais - o que impede a regeneração das espécies herbáceas e arbóreas; a floresta de galeria suprimida; margens nuas e a erosão que provoca o assoreamento: um panorama comum em diversas áreas deste Arroio.

No Arroio Ribeiro, área mais impactada entre as estudadas nesta fase, pode ser facilmente observado ainda: a ocupação de áreas de pre-

servação permanente, muitas das vezes sem garantir 1/3 do mínimo da área estabelecida por lei, desmatamento, criação de gado em área destinada à preservação e assoreamento.

Figura 19. Acúmulo de resíduos sólidos sob as árvores nas margens do Arroio Ribeiro: uma pequena parcela dos resíduos jogados no Arroio. (FOTO: Luciano M. Mello)

Figura 19 (página anterior). Trecho de margens totalmente destituída de vegetação arbórea do Arroio Ribeiro, adjacentes à áreas de cultivo. Ao fundo observa-se a zona de união das águas do Arroio Ribeiro com o Capivaras. (FOTO: Luciano M. Mello)

Figura 21. Ocupações irregulares, supressão da mata ciliar e depósito de resíduos e restos de material de construção nas margens do Arroio Ribeiro. (FOTO: Luciano M. Mello)

Figura 22 (página anterior). O depósito de efluentes líquidos in natura no Arroio Ribeiro (Fotos superior e inferior): flagrantes de prática facilmente observada neste recurso que traz grandes prejuízos ao meio ambiente e à população, que pode sofrer com as parasitoses e outras doenças graves e tornar inadequado estes ambientes para qualquer outro fim. O tratamento destes esgotos com fossas sépticas, embora não seja o ideal, é boa alternativa para as populações ainda não atendidas pelo serviço público da coleta de esgotos. (FOTO: Luciano M. Mello)

Figura 22. O depósito de efluentes líquidos in natura no Arroio Ribeiro (Fotos superior e inferior): flagrantes de prática facilmente observada neste recurso que traz grandes prejuízos ao meio ambiente e à população, que pode sofrer com as parasitoses e outras doenças graves e tornar inadequado estes ambientes para qualquer outro fim. O tratamento destes esgotos com fossas sépticas, embora não seja o ideal, é boa alternativa para as populações ainda não atendidas pelo serviço público da coleta de esgotos. (FOTO: Luciano M. Mello)

Agradecimentos dos autores À todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho. Sobretudo, agradecemos àqueles que tendo em suas mãos o produto deste trabalho efetivamente farão algo pela conservação dos ambientes que mesmo tão longe de nossos lares aprendemos a amar e, assim, deixarão novas pegadas na pequena trilha em que caminhamos duramente este tempo em direção a uma humanidade mais justa e perfeita.

Bibliografia LONGHI-WAGNER, H. M. & Ramos, R. F. Composição florística do Delta do Jacuí, Porto Alegre, RS - Brasil: levantamento florístico. Iheringia, Sér. Bot., 26:145-163. 1981. LORENZI, Harri, Árvores Brasileiras, 2ª Ed., Vol II, Editora Plantarum, Nova Odesas, São Paulo, 1998. 368 pág. MASON, C.F., Decomposição. 1ª Ed. Editora Pedagógica e Universitária Ltda. (EPU), Coleção Temas de Biologia, Vol 18. Sp, 1980. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Biodiversidade. Regiões da Lagoa do Casamento e dos Butiazais de Tapes, planície costeira do Rio Grande do Sul. Brasília: MMA / SBF, 388 p. 2006. MUÑOZ, J., ROSS, P., CRACO, P., Flora Indigena del Uruguay, 1ª Ed., Editorial Hemisferio Sur, Montevideo, Uruguay. 1993, 284 pág. OLIVEIRA, M. L. A. A. & PORTO, M. L. Ecologia de paisagem do Parque Estadual Delta do Jacuí, Rio Grande do Sul, Brasil: mapa da cobertura do solo e da vegetação, a partir de imagem do Landsat TM 5. Iheringia, Sér. Bot., (52): 145-162. 1999. RIO GRANDE DO SUL. 1992. Lei Estadual nº 9.519, de 21 de janeiro de 1992. Institui o Código Florestal do Rio Grande do Sul e dá outras providências. Diário Oficial [do] Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, jan. 1992. RIO GRANDE DO SUL. 2002. Decreto nº 42.099, de 31 de dezembro de 2002. Declara as espécies da flora nativa ameaçadas de extinção do Estado do Rio Grande do Sul e dá outras providências. Diário Oficial [do] Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 62(1): 1-6, 1.jan.2003.

Capítulo

8

A Educação Ambiental como instrumento de conservação dos ambientes naturais em Barra do Ribeiro Gelson Luis Menezes de Souza 31 32 Luciano Moura de Mello Antônio Hector Bastide Ramos 33

O pesquisador moderno necessita estar atento aos interesses e necessidades da realidade local, sendo que na condição de educador/mediador do processo de aprendizagem não pode assumir uma posição passiva e desatualizada, mas sim, ao contrário, deve apresentar uma postura ativa, flexível, dinâmica e condizente com o seu papel de disseminador. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1997) é possível observarmos a proposta curricular do ensino de Ciências, elaborada como forma de oferecer a aprendizagem do conhecimento acumulado pela sociedade e a formação de uma concepção de Ciências. Podemos perceber, portanto, a Ciência “como elaboração humana para uma compreensão do mundo” é uma meta para o ensino da área na escola fundamental. Seus conceitos e procedimentos contribuem para o questionamento do que se vê e se ouve, para interpretar os fenômenos da natureza,

31

Acadêmico de Ciências Biológicas (UNIASSELVI). E-mail: [email protected] Biólogo, MSc, Doutorando (FAEM/UFPEL). Email: [email protected]. 33 Biólogo e Gestor Ambiental (Centro Universitário Leonardo da Vinci). Email: [email protected] 32

para compreender como sociedade nela intervém utilizando seus recursos e criando um novo meio social e tecnológico.” (BRASIL, 1997, p.22-23). Assim, o conhecimento em Ciências deve ser absolutamente contrário à simples memorização de conceitos científicos, mas sim, o agente de uma atitude investigativa, racionalista e de compreensão destes conceitos no cotidiano, originários de ideias já construídas e “reconstruídas” pelo ser humano ao longo da vida. A observação, a experimentação, a comparação, o estabelecimento de relações entre fatos ou fenômenos e ideias, a leitura e a escrita de textos informativos, a organização de informações por meio de desenhos, tabelas, gráficos, esquemas e textos, a proposição de suposições, o confronto entre suposições e dados obtidos por meio da investigação, a proposição e a solução de problemas, são diferentes procedimentos que possibilitam a aprendizagem” (BRASIL, 1997., p.34). Diante desta afirmação nos reportamos às metodologias aplicadas em sala de aula, que devem oferecer ao aluno momentos de aprendizagem prazerosos e significativos e realmente edificantes. Os alunos, em função da dinâmica do mundo atual, normalmente demonstram sua inquietude e insatisfação por aulas monótonas e rotineiras, quando permanecem por longos períodos sentados, dispostos tradicionalmente em sala, respondendo a questionamentos, privados de uma interação ou questionamento dialógico. Em suma, o que percebemos no ensino de ciências é a morte lenta da natureza curiosa do ser humano. O educador moderno, de ciências ou não, precisa estar atento para desenvolver uma atitude motivadora quanto aos questionamentos dos alunos e estimuladora de sua curiosidade. Desta forma as saídas de campo são situações em que os alunos vão explorar ambientes fora da sala de aula e onde a observação e o registro de imagens ou de entrevistas pode ser de grande valia e, retornandose para o ambiente escolar, o professor pode explorar para trabalhar, de forma integrada com outros campos do conhecimento, com os dados coletados (MORAIS, 2010).

Figura 01. Uma árvore morta em praia na foz do Arroio Ribeiro lembra os ciclos naturais e sobretudo renovação, discussões sobre a indestrutibilidade da matéria (e da energia) são possíveis com estes modelos naturais (FOTO: Luciano M. Mello).

METODOLOGIA Este capítulo visa apresentar e discutir estratégias práticas, interdisciplinares, para o uso do ambiente natural como ferramenta didática extremamente útil a todos os campos do conhecimento. Nesse contexto de ensino e aprendizagem na área de ciências, o uso do meio ambiente como ferramenta didática atende a outras importantes necessidades da educação: valorização dos ambientes e cultura locais, valorização da economia, conservação da biodiversidade, contextualização dos assuntos, entre outros, permitindo a construção do aluno/cidadão como sujeito esclarecido, ativo e efetivamente participativo.

DISCUSSÕES Sobre os desafios de uma atividade edificante e como o professor das diversas áreas pode explorar o meio ambiente como ferramenta didática Mostrar a Ciência como elaboração humana para uma compreensão do mundo é uma meta para o ensino da área na escola fundamental. Seus conceitos e procedimentos contribuem para o questionamento do que se vê e se ouve, para interpretar os fenômenos da natureza, para compreender como sociedade nela intervém utilizando seus recursos e criando um novo meio social e tecnológico. (BRASIL,1997c,p.22-23).

Se tivéssemos que resumir as colocações seguintes sobre como proceder para trazer ao aluno vivências em contato com a natureza que o permitam realmente edificar conhecimento nas diversas áreas do saber e valorizar os ambientes naturais e a cultura local ela seria “criatividade”. Como educadores conhecemos todas as dificuldades que uma atividade diferenciada traz, além da logística e segurança, sobretudo, pela experiência, sabemos que é necessário coragem e humildade. Mesmo com inúmeras horas de atividade de campo, em diversos trabalhos de pesquisa e ensino, somos todos os dias surpreendidos com novas observações que fogem às experiências anteriores, às explicações e às regras. Em suma, para que avancemos nas propostas de atividades, o professor deve partir do princípio que não é “obrigado” a conhecer todas as respostas e que expondo seus alunos ao mundo natural não deverá temer perguntas que não saiba responder... numa aula de campo é muito provável que isso vá realmente acontecer!, e isso, infelizmente é - entre tantos aspectos, um dos importantes motivo para que o professor não deixe o “tablado” das salas de aula. Se o professor simplesmente tiver dificuldades para “avançar” no conteúdo pelo volume de perguntas de seus alunos numa atividade de campo, isso não estará sendo a “verdadeira aula”? A área das ciências naturais, história e geografia têm grande finidade com questões ambientais, pela própria natureza de seus objetos de estudo, tendo, portanto, aplicação mais direta da natureza como instru-

mento didático. Porém as demais áreas ganham importância fundamental, pois cada uma poderá contribuir para que o aluno tenha uma visão global e integral do ambiente, da mesma forma, professores de ciências devem estar preparados para exigir, com a mesma disciplina, por exemplo, a correção de ortografia, de redação e expressão além de outros aspectos nos seus trabalhos. As atividades propostas neste Capítulo têm o objetivo de contribuir com as Escolas do município de Barra do Ribeiro: Escola Francisco Rosales Neumann, Colégio Dr. Carlos Pinto de Albuquerque, Escola Fernando Hoff, Escola João Evangelista Pinos, Escola João Gottfredo Hein e Escola São José no desenvolvimento de atividades integradas, com foco na valorização nos ambientes locais e concretização da informação tratada em sala de aula, no entanto, tais propostas podem ser - não só aplicadas nestes locais como melhoradas, em qualquer ambiente escolar.

Figura 02. A vida surgindo nos areais da orla do Guaíba. (FOTO: Luciano M. Mello)

APLICAÇÕES NA MATEMÁTICA - operações básicas: somar e diminuir conjuntos de animais ou plantas de uma área, multiplicar valores de uma área para inferir total de áreas maiores, ou dividir, em processos inversos. - cálculos de área: usar mapas para calcular áreas de regiões florestadas por estimativa, transformando estas áreas em diversas figuras geométricas diferentes e aplicando as fórmulas correspondentes. - cálculos de volume: calcular volume de sólidos (volume de sedimentos ou de terra), líquidos (água) ou de ar. Aqui, pode usar os próprios ambientes assim como tocas, ninhos, buracos feitos por animais. - ângulos: empregar mapas para efetuar cálculos com ângulos, assim como empregar os ângulos para a construção de cartas e croquis, como a representação de trilhas na mata, empregando unidades de medida associadas, neste caso, à distâncias.

Figura 03. A vida sob as folhas do Aguapé. Fam. Salticidae. (FOTO: Leonardo P. de Moraes)

- densidade relativa e densidade absoluta: a densidade de uma espécie é a relação entre o número de indivíduos e uma área (ou volume) qualquer. Pode-se calcular o volume de água de um lago ou trecho de rio conhecendo-se medidas básicas e daí conhecer-se a densidade absoluta (da espé-

cie) ou relativa (densidade da espécie em relação a outras). A densidade de árvores de uma determinada área ou de tocas ao longo de um rio pode ser facilmente calculada. - regra de 3: muito aplicada em outros temas, cálculos de densidade, volume e área. - porcentagem: auxiliar no entendimento de dados: porcentagem de mamíferos em relação ao total de animais observados na escola (outros grupos), porcentagem de árvores e arbustos na escola ou numa determinada área. LÍNGUA PORTUGUESA E REDAÇÃO - criação de textos: os alunos podem ser motivados a criar textos sobre a natureza, sobre uma área ou sobre grupos animais ou vegetais específicos, vendo, ouvindo ou percebendo de outras maneiras estes assuntos. - redação: a geração de textos permite também a discussão de temas voltados à redação, ortografia, gramática, regras de acentuação, etc. - oficinas temáticas: o professor pode elaborar discussões sobre temas (depósito de resíduos ou esgoto, erosão, pesca indiscriminada, ocupação de “áreas verdes”) em sala de aula, apresentando dados gerais (uma pequena introdução), posteriormente o professor pode avaliar e orientar a elaboração e exposição oral de ideias e de argumentos, empregando a linguagem corretamente, enquanto os alunos observam in loco os fatos. APLICAÇÕES EM HISTÓRIA - interpretação de fatos históricos: a ocupação da zona urbana da cidade, colonização (etnias e suas contribuições) e fatos históricos recentes com repercussão ambiental devem ser exploradas, sempre que possível, em contato com os ambientes nos quais foram gerados. - linhas do tempo: pode ser construída uma linha do tempo, da criação do município e anos anteriores até a atualidade, registrando-se nos devidos intervalos os principais fatos associados ao meio ambiente: ações de loteamento dos espaços, introdução de novas culturas, desmatamentos, queimadas, grandes períodos de estiagem, eventos de morte de organismos por intoxicação (peixes), se for o caso, aparecimento ou desaparecimento de animais, etc.

O homem é, por natureza, um animal curioso. A falência do ensino deve-se à ausência de um sistema prático que estimule a curiosidade e a investigação. APLICAÇÕES EM GEOGRAFIA - cartografia e orientação espacial (direções e coordenadas): direções básicas e noções de cartografia são tópicos interessantes quando trabalhados em uma área da escola, parque ou no caso, na orla do Guaíba ou de outro recurso natural local: a percepção espacial e mesmo temas mais complexos como os sistemas de coordenadas podem ser trabalhados com maior facilidade em ambientes naturais, com a possibilidade ainda de integrar assuntos como ângulos (matemática) e história da representação do Globo Terrestre. - mapeamento do espaço: os alunos podem construir mapas tendo por base os dados geográficos constantes neste livro, montar mapas de distribuições de espécies de peixes, por exemplo, por recurso hídrico estudado, possibilitando a aplicação dos conhecimentos de geografia. - relevo: construir maquetes e representações do macro-relevo da região, discutindo inclusive a formação do modelado do terreno.

Figura 04. Um molusco gastrópode (Megalobulimus sp.) registrado na orla do Guaíba. (FOTO: Leonardo P. de Moraes)

APLICAÇÕES EM BIOLOGIA - fauna e flora (estudo dos grupos de seres vivos), anatomia, fisiologia, ecologia, são temas de aplicação direta com os ambientes naturais, assim dispensam de maiores discussões, o professor, no entanto, pode lançar mão de dados deste livro (Capítulos anteriores) para separar tópicos, citações e resultados para fazer a introdução ao tema e posteriormente passar a fazer a coleta de indivíduos para estudo, lembrando-se de observar as normas estabelecidas para o controle, captura e uso de organismos mesmo para fins didáticos, consultando os órgãos de fiscalização se for o caso. APLICAÇÕES EM FÍSICA E QUÍMICA - qualidade da água (aspectos físicos e químicos): muitos testes simples podem ser realizados visando oportunizar a coleta e análise de recursos hídricos: a avaliação da condutividade elétrica ou do pH da água podem ser feitos por equipamentos portáteis e de baixo custo, a avaliação de parâmetros físicos e químicos da água são feitas em todas as estações de tratamento de água, assim, estes órgãos são uma boa oportunidade para firmar parcerias que permita aos alunos vivenciar a informação obtida nas aulas de química, aplicando informações sobre elementos químicos, ligações, fórmulas, reações, etc. - penetração da luz na água: o experimento feito com discos de penetração da luz construídos pelos próprios alunos e dados da distribuição em profundidade de organismos fotossintetizantes podem ser oportunidade relacionar dois assuntos capazes de auxiliar no entendimento dos ecossistemas aquáticos. - ácidos e bases: realização de reações químicas com água de diversos pontos (efeito da variação das reações à qualidade da água em pontos distintos de um Arroio) - fenômenos químicos e físicos: identificação da natureza de fenômenos diretamente nos ambientes em que eles ocorrem, seja no refeitório da escola, no pátio ou sob as árvores de uma floresta de galeria.

- o efeito da luz na distribuição das plantas: fotossíntese e adaptação determinando a distribuição dos organismos, o papel da luz e seus comprimentos de onda para a vida das plantas em áreas campestres e florestais.

Figura 05. Um inseto nas folhas do Gravatá (Eryngium sp.) registrado em área campestre. (FOTO: Leonardo P. de Moraes)

APLICAÇÕES EM SOCIOLOGIA E FILOSOFIA - atividades econômicas locais: o efeito das ações do homem nas atividades de pesca, de turismo, do comércio, da agricultura. Qual o efeito da agricultura que ocupa áreas de preservação permanente na manutenção de famílias que vivem da pesca? (erosão e assoreamento, menos volume de água na calha dos rios, menos peixes); qual o efeito do nível de educação ambiental de famílias ribeirinhas no turismo e comércio local? (menos educação, mais esgoto e lixo no arroio, mais doenças, menos turista, menos comércio), entre outros tipos de relações. - importância das atividades agrícolas na conservação: discussão sobre o importante papel econômico da agricultura e os efeitos quando praticadas sem o cuidado às regras corretas de manejo. Os defensivos: importância para a proteção das culturas e os efeitos sobre outros organismos.

Figura 06. Um inseto nas flores do Gravatá (Eryngium sp.) registrado em área campestre (entre o Arroio Capivaras e Ribeiro) (FOTO: Luciano M. de Mello).

- Filosofia, vida e humanidade: discussões sobre a obrigação ética do ser humano na conservação da vida no Planeta em função de seu poder de alterar o meio ambiente. - O viés político e econômico também pode ser explorado com muito proveito nos temas citados oportunizando discussões sobre o bem público, a natureza, os serviços e a função social do trabalho e da produção. APLICAÇÕES NA EDUCAÇÃO ARTÍSTICA - fotografia e meio ambiente, pintura e desenho (natureza morta, composições), música e expressão corporal (diversos estilos de dança), poesia e esculturas: estes temas podem ser com grande riqueza explorados tendo como inspiração a natureza, conservação, impactos, etc. - concursos artísticos: a escola pode promover feiras de artes tendo como tema central o meio ambiente, concursos envolvendo diversas técnicas enriquecem e fomentam a discussão sobre o assunto, além de desenvol-

ver a capacidade de observação, a criatividade e o espírito crítico, além da participação e do trabalho individual e em grupo.

Figura 07. Um inseto nas flores do Gravatá (Eryngium sp.) registrado em área campestre (Foz do Arroio Ribeiro). (FOTO: Luciano M. de Mello)

Ajudar o aluno a descobrir o mundo, eis o verdadeiro trabalho do professor, que tem sua maior riqueza no crescimento pessoal: seu, com as indagações dos alunos e de seus alunos, com as vivências que oportuniza. Cabe ressaltar que estas propostas, evidentemente, não têm o intuito de finalizar as discussões nem esgotar o rol de incontáveis sugestões de uso prático do meio ambiente como ferramenta para o processo de ensino, constituem tão somente ideias sobre as quais poderão se apoiar algumas atividades, no entanto, ao professor cabe utilizar toda a sua criatividade para utilizar, adaptar e praticar os temas que estão sendo trabalhados em sala. As atividades seguintes do projeto, na expansão deste tema, preveem ações de “extensão”, com o estreitamento de laços entre pesquisa e ensino e discussão nas Escolas de Barra do Ribeiro destas e outras ideias.

O projeto visa estabelecer posteriormente: Reunião com Prefeito, Secretários de Educação e Meio ambiente para a apresentação de uma proposta de cartilha didática, detalhando práticas para as diversas áreas do conhecimento. Reunião com Diretores e professores para a discussão e consolidação da cartilha, conforme as proposições e observações dos professores. Edição e lançamento da cartilha didática do projeto, com palestra nas escolas sobre os resultados do trabalho e entrega de materiais informativos. Reuniões periódicas de avaliação dos resultados alcançados. Reedição dos materiais conforme a necessidade de inclusão ou adaptação das experiências. Saídas de campo orientadas pelos pesquisadores do projeto Visita de orientação e acompanhamento nas escolas por parte dos pesquisadores de diferentes áreas. Seminário de troca de experiências didáticas, organizado pela Coordenação dos projetos com premiação para Escolas e profissionais destacados.

Figura 06. Uma solanácea às margens da foz do Ribeiro (FOTO: Luciano M. de Mello).

Agradecimentos dos autores Agradecemos a confiança que nos foi depositada na preparação desse Capítulo e aos nossos Mestres, por terem feito tão bem seu trabalho que hoje temos a pretensão de lhes dar continuidade, com a humildade e a convicção de bons e eternos aprendizes.

Referências Bibliográficas BRASIL, Ministério da Educação e Cultura. LEI de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 3ª Ed. Rio de Janeiro: MEC/COLTED, 1968. BRASIL, Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Biológicas. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC, 1997. MARANDINO, Marta; SELLES, Sandra Escovedo; FERREIRA, Márcia Serra. Ensino de Biologia. Histórias e Práticas em diferentes espaços educativos. São Paulo: ED. Cortez, 2099. Coleção Docência em Formação. MORAIS, Marta Bouissou; ANDRADE, Maria Hilda de Paiva. Ciências - Ensinar e aprender. Ed. Dimensão, 2010.1 ª Ed. Belo Horizonte.

Capítulo

9

Discussões finais e proposição de soluções Luciano Moura de Mello

34

A natureza é a fonte de diversos recursos e o uso sustentado de seus bens renováveis garante não só a estabilidade dos ecossistemas e seus elementos naturais (fauna e flora) como também a manutenção das atividades humanas a ela relacionadas, como a exploração de água, de recursos minerais, florestais como a madeira para diversos fins, a agricultura ou a pesca. Entretanto, o uso e ocupação destes recursos e áreas pelo homem sem que ele considerasse a capacidade de suporte ou recomposição dos ecossistemas bem como do papel funcional que estes ambientes desempenham no contexto das atividades humanas é que tem causado a grande maioria dos problemas de ordem ambiental com os quais convivemos diariamente. Tal comportamento humano é consequência do histórico e falho entendimento de que o homem é capaz de julgar-se distante da dimensão natural, quando de fato, não só depende da natureza como inevitavelmente relaciona-se com este meio ambiente diariamente, causando e sofrendo ações de leis com uma grande previsibilidade. O objetivo de um trabalho da ordem deste, que busca inventariar os elementos naturais está longe de ter exclusivamente o caráter descritivo, contemplativo da natureza mas sempre de incorporar informações e fornecer subsídios que permitam justamente o diagnóstico e manejo adequado destes recursos, tanto quanto amparar o homem em sua constante 34

Biólogo, MSc, Doutorando (FAEM/UFPEL), Email: [email protected].

necessidade de descrever, relacionar e compreender as interações entre os elementos que o cercam. Os dados anteriormente apresentados nos permitem conhecer (obviamente que não todos, mas uma boa parte) dos elementos naturais que compõe a paisagem de áreas de significativa importância no município de Barra do Ribeiro. Tais dados, com a gestão integrada de informações e a coordenação dos elementos sociais e políticos, permite importantes encaminhamentos norteadores na direção de soluções para a exploração sustentada, bem como na reparação de atividades lesivas que por ventura tenham sido ou estão sendo desenvolvidas no município, podendo ainda, indicar áreas de significativa importância para a conservação. Para o encaminhamento de soluções associadas aos dados levantados pelas equipes de trabalho, são consideradas a disposições e competências legais de diversos órgãos e elementos sociais associados ao uso do ambiente, seja no campo da exploração direta, da gestão direta e indireta, do uso nas suas diversas formas bem como na responsabilidade pela fiscalização. Desta forma, são integrados os dados sobre diversidade geral, distribuição, levantamento de áreas degradadas ou impactadas em diferentes níveis, antropizadas, ocupadas irregularmente para diversas atividades e a indicação de áreas sensíveis e recomendadas à conservação por motivos especiais. Este trabalho não tem a pretensão de instruir os órgãos públicos ou outros elementos políticos e sociais no desenvolvimento de suas tarefas na gestão ambiental, uma vez que apresenta proposição de ações para essa gestão integrada (Tabela 01). Assim, seus dados são apresentados de forma dinâmica com o intuito de não imobilizar procedimentos nem mesmo tornar desnecessária a discussão destas propostas pelos elementos envolvidos, contudo, permite que tais discussões sejam direcionadas e, sobretudo que estes elementos reconheçam o seu papel na alimentação do sistema de execução-fiscalização que permitirá a gestão integrada da natureza. Na geração destas informações, durante o período de julho de 2011 a março de 2012 foram realizadas 8 expedições a campo, percorren-

do as áreas a pé, de carro ou botes infláveis a motor e foram empregadas mais de 200 horas de observação da natureza, sendo registradas fotograficamente e descritos os principais impactos ambientais observados, apontando soluções. Tabela 01. Proposição de soluções para os diversos problemas de ordem ambiental verificados durante o período de julho de 2011 a março de 2012, em Barra do Ribeiro, RS.

Tipo

Descrição

Erosão de margens

As margens esquerdas apresentam diversos pontos de erosão, provocados pela supressão das matas de galeria, espécies arbustivas e herbáceas (margens esquerda não possuem pontos significativos de erosão mas a redução de áreas florestadas constituem fatores de risco a serem observados).

Desmatamento

ARROIO CAPIVARAS

Supressão de espécies arbóreas nas 36 APP para liberação de área para o gado, edificações ou práticas agrícolas.

35

Solução

Envolvidos35

Controle por barreiras físicas (paliçadas) e reintrodução de espécies arbóreas de crescimento rápido, arbustos e gramíneas fixadoras de solo para contenção das margens.

Proprietários, na execução e Secretaria de Meio Ambiente no registro e controle destas áreas (definição de um plano de metas, com prazos, termos de compromisso, registros fotográficos para a monitoria do avanço das medidas, condições e restrições para cada caso).

Recomposição florestal mediante planos de compensação e planos de recuperação de áreas degradadas.

Proprietários, na execução e Secretaria de Meio Ambiente no registro e controle das ações previstas nos planos (definição de um plano de metas, com prazos e condições para cada caso).

Soma-se aos agentes envolvidos, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Grupamento da Polícia Ambiental, IBAMA e Ministério Público e outras entidades com poder de fiscalização e adoção de outras medidas legais para a garantia do direito comum e da segurança ambiental. 36 Áreas de preservação permanente.

ARROIO CAPIVARAS (continuação)

Ocupação de APP

Depósitos de resíduos

Tipo

37

Descrição

Solução

Envolvidos37

Depósitos de rejeitos, galhos, madeira, entulho, etc.

Recolher e dar a destinação correta (madeira e outros materiais podem ser utilizados para a contenção de margens, entretanto há que se realizar plano específico para que estes materiais não causem maior prejuízo). Alguns materiais podem ser utilizados na contenção de processos erosivos

Proprietários, na execução da remoção dos depósitos nas propriedades e Secretaria de Meio Ambiente, no registro e controle destas ações, bem como no desenvolvimento de ações de educação ambiental e, se for o caso, melhoria no sistema de coleta de resíduos sólidos.

Construções de alvenaria ou madeira dentro das áreas de 35 APP , existência de qualquer outro tipo de instalação ou ainda o uso destas áreas para a práticas agrícolas.

Residências, depósitos e outras edificações, desde que não tenham estruturas comprometidas, devem ser notificadas para que não tenham os projetos ampliados, sendo determinado aos proprietários o devido plano de compensação de dano ambiental a ser executado, preferencialmente, na área da propriedade. No caso do uso de áreas, sem instalação, as áreas devem ser desocupadas e recuperadas (recomposição florestal).

Proprietários, na execução e Secretaria de Meio Ambiente no registro e controle destas áreas ocupadas (notificações oficiais aos proprietários, definição de um plano de metas, termos de compromisso, com prazos, restrições e condições para cada caso).

Soma-se aos agentes envolvidos, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, o Grupamento de Polícia Ambiental, IBAMA e Ministério Público e outras entidades com poder de fiscalização e adoção de outras medidas legais para a garantia do direito comum.

ARROIO CAPIVARAS (continuação)

Lançamento de efluentes

Tipo

Descrição

Solução

Envolvidos38

Emissão de esgoto in natura diretamente no recurso hídrico.

Implementação da coleta pública de esgoto para todas as residências ribeirinhas ou a implementação de projetos de distribuição e instalação de fossas sépticas dimensionadas corretamente em todas as propriedades.

Prefeitura Municipal, Secretaria de Obras, Infraestrutura e Meio Ambiente no registro de propriedades que necessitam ser atendidas.

ARROIO RIBEIRO

Desmatamento

Tipo

38

Descrição

Supressão de espécies arbóreas nas 39 APP para liberação de área para o gado ou práticas agrícolas.

Solução

Envolvidos38

Recomposição florestal mediante planos de compensação e recuperação de áreas degradadas.

Proprietários na execução e Secretaria de Meio Ambiente no registro e controle destas ações (definição de um plano de metas, com prazos e condições para cada caso). Firmar parcerias com escolas, empresas e outras instituições para a adoção de áreas a recuperar.

Soma-se aos agentes envolvidos, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, o Grupamento de Polícia Ambiental, IBAMA e Ministério Público e outras entidades com poder de fiscalização e adoção de outras medidas legais para a garantia do direito comum. 39 Áreas de preservação permanente.

ARROIO RIBEIRO (continuação)

Envolvidos40

As margens apresentam diversos pontos de erosão (especialmente as margens direita) provocados pela supressão da mata de galeria (margens direita não possuem pontos significativos de erosão mas a redução de áreas florestadas e algumas áreas agrícolas constituem fatores de risco).

Controle por barreiras físicas (paliçadas) e reintrodução de espécies arbóreas de crescimento rápido, arbustos e gramíneas fixadoras de solo. Ampliação das áreas protegidas nos pontos de maior pressão erosiva.

Proprietários, na execução dos planos de controle de erosão e Secretaria de Meio Ambiente no registro e monitoramento destas áreas (definição de um plano de metas, com prazos e condições para cada caso) e estabelecimento de parcerias com associações de pescadores para a colaboração na monitoria das áreas.

Depósitos de sedimentos no leito ou margens dos cursos de água

Desenvolver ações de controle de áreas fonte de sedimentos e desenvolvimento de ações integradas (sob licenciamento) para a coleta e destinação de sedimentos via Cooperativas.

Secretaria Estadual e Municipal do Meio Ambiente, Cooperativas de pescadores, areieiros e outras associações interessadas.

Recomposição florestal mediante planos de compensação e recuperação de áreas degradadas.

Proprietários na execução e Secretaria de Meio Ambiente no registro e controle destas ações (definição de um plano de metas, com prazos e condições para cada caso). Firmar parcerias com escolas, empresas e outras instituições para a adoção de áreas a recuperar.

Desmatamento

Assoreamento

Descrição

Erosão de margens

Solução

Tipo

40

Supressão de espécies arbóreas nas 41 APP para liberação de área para o gado ou práticas agrícolas

Soma-se aos agentes envolvidos, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, o Grupamento de Polícia Ambiental, IBAMA e Ministério Público e outras entidades com poder de fiscalização e adoção de outras medidas legais para a garantia do direito comum. 41 Áreas de preservação permanente.

ARROIO RIBEIRO (continuação)

Ocupação de APP

Resíduos sólidos

Tipo

42

Descrição

Depósitos de rejeitos, galhos, madeira, etc

Construções de alvenaria ou madeira dentro das áreas de 35 APP ou existência de qualquer outro tipo de instalação ou ainda o uso destas áreas para a prática agrícola

Solução Recolher e dar a destinação correta (madeira e outros materiais podem ser utilizados para a contenção de margens, entretanto há que se realizar plano específico para que estes materiais não causem maior prejuízo uma vez colocados nas margens, tanto ao meio ambiente quanto à segurança da navegação. Residências, depósitos e outras edificações, desde que não tenham estruturas comprometidas, devem ser notificadas para que não sejam ampliadas, sendo determinado aos proprietários o devido plano de compensação de dano ambiental a ser executado, preferencialmente na área da propriedade. No caso do uso de áreas, sem instalação, as áreas devem ser desocupadas e recuperadas (recomposição florestal).

Envolvidos42

Proprietários, na execução da coleta dos resíduos e remoção das APP e Secretaria de Meio Ambiente no registro e controle destas ações.

Proprietários, na execução e Secretaria de Meio Ambiente no registro e controle destas áreas (notificações oficiais aos proprietários, definição de um plano de metas, com prazos e condições para cada caso). Desenvolvimento de ações de educação ambiental com a população ribeirinha, integradas com escolas e outras entidades a fim de evitar novas ocupações.

Soma-se aos agentes envolvidos, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, o Grupamento de Polícia Ambiental, IBAMA e Ministério Público e outras entidades com poder de fiscalização e adoção de outras medidas legais para a garantia do direito comum.

ARROIO RIBEIRO (continuação)

Acúmulo de resíduos sólidos urbanos

Tipo

Descrição

Solução

Envolvidos43

Depósitos de rejeitos, galhos, madeira, resíduos de construção e sólidos urbanos (lixo: garrafas, plásticos, metais e outros) que chegam a estes locais, principalmente, por meio do contato com o Guaíba.

Realizar a limpeza periódica, promover campanha educativa de coleta de resíduos sólidos, tanto pelos proprietários como por meio de parcerias. Desenvolver campanhas de conscientização nas Escolas e utilizando a comunidade. Dar a destinação adequada ao material coletado ou encaminhar para associação de catadores.

Proprietários, na execução, entidades parceiras, Comunidade Escolar e Secretaria de Meio Ambiente na coordenação, controle e publicidade destas ações.

ORLA DO GUAÍBA

Coleta de plantas ornamentais

Tipo

43

Descrição

Solução

Envolvidos

Coleta de plantas ornamentais e mudas nas áreas naturais, sem a devida autorização e com a finalidade do cultivo doméstico ou mesmo a comercialização de exemplares

Ampliar a fiscalização e promover campanhas de conscientização (Escolas e comunidade em geral), tratando da previsão legal sobre a prática. Implantar placas de advertência nos locais mais afetados pela prática com a criação e publicação de um canal de denúncias.

Comunidade Escolar, população em geral e Secretaria de Meio Ambiente.

Soma-se aos agentes envolvidos, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, o Grupamento de Polícia Ambiental, IBAMA e Ministério Público e outras entidades com poder de fiscalização e adoção de outras medidas legais para a garantia do direito comum.

Figura 01. Espectro da área de influência das medidas propostas nesta etapa do trabalho para os problemas de ordem ambiental verificados, em Barra do Ribeiro, RS.

OBSERVAÇÕES: A área assinalada em verde representa a área mínima de influência indireta, onde os efeitos do trabalho são esperados pela mobilidade de animais, a dispersão ou intercruzamento de plantas ou a ocupação de áreas adjacentes necessárias ao ciclo de vida das espécies. A área em amarelo representa a área de influência direta, estimada em função da ocorrência das espécies bem como os ambientes de uso imediato, em cujos espaços os impactos causam maiores danos ou configuram ameaça direta às áreas de preservação permanente e os organismos que as compõe.

As proposições aqui realizadas possuem uma área de influência direta e indireta apresentada no mapa (Figura 01) envolvendo os principais ambientes que sofrem os impactos de suas medidas de maneira a permitir a visualização do espectro das medidas mitigatórias. Ressalta-se que o sucesso de ações de reparação, em geral, só são eficientes quando todos os agentes envolvidos sincronizam o processo, sendo condicionantes a coordenação, a definição de metas, a fiscalização de ações e o cumpri-

mento dos prazos, a notificação com assinatura de termos de compromissos além da adoção de outras medidas, quando necessário. Outra importante medida é criar um canal de comunicação eficiente, se possível 24 horas, via telefone, internet, que permita a comunicação (e a devida resposta ao comunicante) tratando de ameaças, danos ou crimes ambientais, facilitando o poder de fiscalização e atuação dos órgãos ambientais competentes, usando-se a comunidade escolar, os meios de comunicação (jornais, rádio e televisão) e a comunidade em geral como agentes participativos do poder de fiscalização dos órgãos. Sobre as campanhas de educação cabe lembrar que é muito interessante que elas iniciem-se com alguma atividade de motivação e “nivelamento” dos agentes de executores, sejam eles parceiros, funcionários, colaboradores de empresas privadas ou alunos das escolas a fim de que possam efetivamente instruir, colher dados e atuar na difusão de medidas e procedimentos corretos, que contribuam para a melhoria da qualidade do meio ambiente.

Figura 02. Praia de Barra do Ribeiro: importante área de atuação de medidas de conscientização de pessoas, sejam visitantes ou moradores que se utilizam de áreas naturais. (FOTO: Luciano M. de Mello)

Figura 03. Equipe de trabalho durante as visitas às áreas fontes de impactos ambientais, Arroio Capivaras (FOTO: Luciano M. de Mello).

Figura 04. Trabalho de levantamentos na margem do Guaíba (FOTO: Luciano M. de Mello). Agradecimentos dos autores Agradeço as contribuições do Biól. Vinícius Braga Comaretto, da Pedagoga Mary Anne Moraes e dos Acadêmicos de Ciências Biológicas da URCAMP: Pâmela Martins Mugica, Éderson França Machado e Andressa Alves Cantos, nos levantamentos de dados a campo sobre os pontos de impacto ambiental.

Apresentação dos Autores ALEXANDRA ALVES CANTOS é natural de Bagé, RS, é graduada em Ciências Biológicas pela Universidade da Região da Campanha (2001), Campus Bagé. É Mestre (2010) e Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Sementes (FAEM/UFPEL). E-mail: [email protected] CLODOALDO LEITES PINHEIRO é natural de Bagé, RS, é graduado em Tecnologia Agropecuária (Fruticultura) pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (2007). É Especialista em Biotecnologia e Meio Ambiente pela URCAMP (2009), Mestre em Biodiversidade Tropical pela Universidade Federal do Espírito Santo (2012) e Doutorando em Botânica, pela UFRGS. Email: [email protected] DAIANE MARIA MELO PAZINATO é natural de Caçapava do Sul, RS, é graduada em Ciências Biológicas pela Universidade da Região da Campanha (2010), Campus de Caçapava do Sul. Atualmente é ativista da ONG Interação de trabalhos Ambientais - ITA, Caçapava do Sul RS. Email: [email protected] DARLIANE EVANGELHO SILVA é natural de Caçapava do Sul, RS, é graduada em Ciências Biológicas pela Universidade da Região da Campanha, Campus Caçapava do Sul (2011). É Mestranda em Ambiente e Desenvolvimento pela Univates (Lajeado-RS). Email: [email protected] DÉBORA TATIANE BORGES MOTTA é natural de Bagé, RS, Bióloga formada na Universidade da Região da Campanha (URCAMP), Campus de Bagé, RS. Email: [email protected] ANTÔNIO HECTOR BASTIDE RAMOS é natural de Bagé, RS, possui graduação em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (UNIASSELVI). Atualmente é Acadêmico do curso de Gestão Ambiental e aluno de Pós-graduação em Gestão e Educação Ambiental (latu sensu), no mesmo Centro Universitário. Email: [email protected] GELSON LUIS MENEZES DE SOUZA, é natural de Guaiba, RS, graduado em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (UNIASSELVI), Pólo Porto Alegre. É Técnico em celulose e papel, formado pelo Instituto Gomes Jardim de Guaiba, possui experiência de 20 anos em tratamento de águas e efluentes, atuando como consultor na área. E-mail: [email protected]

LEONARDO POMPÉU DE MORAES é natural de Bagé, RS, é graduado em Ciências Biológicas pela Universidade da Região da Campanha (2009). É Técnico em Meio Ambiente pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul. Atualmente é professor de Ciências e Biologia da rede Estadual de ensino e aluno do Programa de Pós-graduação em Educação Ambiental da FURG. Email: [email protected] LUCIANO MOURA DE MELLO é natural de Bagé, RS, é graduado em Ciências Biológicas pela Universidade da Região da Campanha (2001). É Especialista em Ecologia pela URCAMP (2003), Mestre (2011) e Doutorando em Ciência e Tecnologia de Sementes (FAEM/UFPEL). E-mail: [email protected] LUIZ LIBERATO COSTA CORRÊA é natural de São Sepé, RS, é Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade da Região da Campanha, Campus de Caçapava do Sul (2011). É Mestrando em Ambiente e Desenvolvimento, na linha de pesquisa em Ecologia, pela Univates - Lajeado -RS. Email: [email protected] VINÍCIUS BRAGA COMARETTO é natural de São Luiz Gonzaga, RS, graduado em Ciências Biológicas (2011) pela Universidade da Região da Campanha. Atualmente está cursando Especialização em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável e Educação Ambiental e Sustentabilidade, ambos pelo Grupo de Educação UNINTER. Email: [email protected] VINICIUS BRASIL DO AMARAL e MARJORIE KNIPPLING DO AMARAL são naturais de Porto Alegre, RS, empresários, idealizadores do Projeto. Email. [email protected] PÂMELA SALEN DOMINGUES QUADRO é natural de Caxias do Sul, RS, possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade da Região da Campanha, Campus de Bagé (2012). Email: [email protected] PÂMELA MARTINS MUGICA é natural de Bagé, RS, Acadêmica do Curso Ciências Biológicas pela Universidade da Região da Campanha, Campus de Bagé. E-mail: [email protected]

Diversidade Biológica dos Arroios Capivaras, Ribeiro e orla do Guaíba no município de Barra do Ribeiro, RS

A riqueza natural como instrumento para a gestão sustentável dos recursos locais

Luciano Moura de Mello e Vinícius Brasil do Amaral Alexandra Alves Cantos • Clodoaldo Leites Pinheiro • Daiane Maria Melo Pazinato •Darliane Evangelho Silva Débora Tatiane Borges Motta • Antônio Hector Bastide Ramos • Gelson Luis Menezes de Souza Leonardo Pompéu de Moraes • Luiz Liberato Costa Corrêa • Vinícius Braga Comaretto Marjorie Knippling do Amaral • Pâmela Salen Domingues Quadro • Pâmela Martins Mugica

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