Djanira_textos_2016_OPES.pdf

June 2, 2017 | Autor: Antonio J Augusto | Categoria: Symphonic Music, MUSICA SINFÓNICA, Symphonic Orchestra
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Djanira I – 18 de março, sexta-feira, 20h Isaac Karabtchevsky, regente Flavio Augusto, piano H. Villa-Lobos – O Uirapuru P. Hindemith – Os Quatro Temperamentos para piano e cordas N. Tcherepnin – O Reino Encantado, Op. 39 I. Stravinsky – O Pássaro de Fogo (Suíte 1919) As quatro peças deste concerto tem em comum a teatralidade e a dança. Compostas originalmente para balé ou posteriormente coreografadas, elas nos trazem a poética da música descritiva, do poema sinfônico, da inspiração proposta pelas imagens, ideias e gestos transmutados em sons. O poema sinfônico Uirapuru, de Villa-Lobos, cuja data de composição apesar de controvérsias ainda é comumente aceita como 1917, foi estreado no Teatro Colón, em Buenos Aires, como parte dos eventos oficiais da visita do então presidente Getúlio Vargas a Argentina em 25 de maio de 1935. Já nesta ocasião, sob a batuta do próprio compositor, foi apresentado como balé com coreografia de Richard Nemanoff. De acordo com a musicóloga Maria Alice Volpe, Villa-Lobos ao escolher o pássaro Uirapuru estabelecia uma ruptura com a representação do Sabiá, símbolo da identidade nacional durante o Romantismo literário brasileiro. Com seu processo criativo tão inspirado ele reformularia a própria ideia do indianismo romântico ao criar uma história inspirada na mitologia indígena, inserindo o componente “maravilhoso” e a inscrevendo em um quadro atemporal, como nos explica a autora. Os processos de ressignificação também são encontrados na obra “Os quatro temperamentos para piano e cordas”, que foi composta por Hindemith, sob encomenda do famoso coreógrafo russo George Balanchine, em 1940. Baseada no conceito

medieval dos tipos de personalidades (ou temperamentos) básicos do homem o compositor alemão apresenta cada um deles em forma de variações realizadas a partir de um mesmo tema. Neste sentido, a peça é dividida em cinco movimentos: Tema, Melancolia, Sanguíneo, Fleumático e Colérico. A obra somente foi estreada em forma de concerto na Europa, em 1943, pela Stadtorchester Winterthur e nos Estados Unidos, pela Sinfônica de Boston, em 1944. A versão com ballet foi apresentada ao público em 1946, na cidade de Nova York, pela New Ballet Society. O empresário Sergei Diaghilev, fundador do legendário Ballets Russes, durante anos procurou um compositor que pudesse realizar musicalmente a lenda russa de Kashai, o imortal. Quando encontrou o maestro e compositor Nikolai Tcherepnin, que havia se destacado frente a orquestras como a Filarmônica de Moscou e a Orquestra do Teatro Mariinsky, não somente o convidou para realizar a estreia parisiense dos Ballets Russes, como para compor a música de seu audacioso projeto. “O Reino Encantado” foi escrito para a primeira cena do espetáculo e foi a única parte composta pelo maestro para o projeto de Diaghilev. A ideia musical remetendo a uma atmosfera de contemplação e magia, hoje nos parece a uma distância colossal do furor rítmico e das inovações realizadas pelo genial Stravinsky, que batizou o projeto com o título definitivo: “O Pássaro de fogo”. Esta seria uma das obras prediletas do compositor russo, o que o levaria a realizar três versões para concerto. A segunda versão, de 1919, se tornou a mais popular, utilizando menos do que a metade do ballet original e simplificando algumas partes de sua orquestração.

Djanira II – 6 de maio, sexta-feira, 20h Guilherme Mannis, regente Fabio Martino, piano A. Nepomuceno – O Garatuja S. Rachmaninoff – Rapsódia sobre um tema de Paganini, Op. 43 J. Brahms – Sinfonia n. 4 em mi menor, Op. 98 Nepomuceno, Rachmaninoff e Brahms escreveram variações sobre o mesmo tema de Paganini. Mais do que uma coincidência, este fato nos auxilia a entender a relação destes três compositores com a tradição e o desejo de, através dela, realizar a inovação e expressar as suas particularidades. Como bem aponta João Vidal, em seu livro

“Formação germânica de Alberto Nepomuceno”, Brahms significou para uma legião de compositores um porto seguro de tradição e estabilidade tonal. O prelúdio de “O Garatuja” foi estreado em outubro de 1904, sob a regência do compositor. A crítica ferrenha de Oscar Guanabarino logo tentou desqualificar a obra atacando o seu pitoresco bom humor, o que levou Osório Duque Estrada a defendê-la nas páginas da Gazeta de Notícias ressaltando a sua brasilidade: “os motivos populares tão bem aproveitados e repetidos em todos os naipes da orquestra, tantas outras belezas, quer de fundo, quer de forma, que o Prelúdio nos patenteou, nada revelam de chulo, como quer o crítico do [jornal] o Paiz”. O certo é que esta obra se tornou uma das peças mais conhecidas de Napomuceno, sendo incluída no repertório apresentado pela Filarmônica de Viena, sob a regência de Richard Strauss, em sua visita ao Brasil, em 1920. Quando Rachmaninoff escreveu a sua “Rapsódia sobre um tema de Paganini”, em 1934, o mundo musical borbulhava com as novas propostas estéticas levantadas por compositores como Schönberg, Alban Berg, Anton Werbern, entre outros. A criação de uma obra tonal, utilizando uma técnica tão tradicional como o tema e variações poderia representar a total dissociação do compositor com as novas tendências do seu tempo e o fim definitivo de uma carreira já ameaçada pelo apego a um romantismo fora de época. Este risco não impediu que Rachmaninoff a compusesse em pouco mais de um mês, após literalmente trabalhar dia e noite em um ímpeto de total entrega, como revelou em carta destinada a sua cunhada. O resultado foi uma obra reconhecida como um verdadeiro milagre da técnica: um conjunto de 24 variações, agrupadas como se fossem um miniconcerto para piano, mas apresentadas com a característica típica de uma rapsódia. A obra foi estreada poucos meses após sua composição, em 07 de novembro de 1934, pela Orquestra da Filadélfia, com o compositor ao piano e regência de Leopold Stokowski. Brahms compôs sua quarta sinfonia para a Meiningen Court Orchestra, orquestra dirigida pelo seu velho amigo Hans von Bülow. Entretanto, ele mesmo regeu a sua estreia, em outubro de 1885. Considerada como a pedra angular do enorme edifício sinfônico de Brahms, como bem descreve Jason Stell, esta sinfonia representa um ponto de chegada da trajetória histórica construída desde o estabelecimento da forma por Haydn e os largos desdobramentos apresentados por Beethoven. Ao mesmo tempo em

que dialoga com a tradição, Brahms apresenta suas inovações estéticas e formais e peculiaridades fascinantes, como a presença do triangulo como instrumento solista no terceiro movimento da sinfonia. Este é um concerto no qual tradição e inovação são emolduradas por obras de completa beleza.

Djanira III – 8 de julho, sexta-feira, 20h Tobias Volkmann, regente Fernando Portari, tenor C. Gomes – Fosca (Abertura / Romanza de Paolo, Ato IV – Intenditi con Dio) G. Verdi – La Traviata (De’ miei bollenti spiriti) G. Puccini – Manon Lescaut (Intermezzo) / Tosca (E lucevan le stelle) / La Bohème (Che gelida manina) F. Delius – A Village Romeo and Juliet (Walk to the Paradise Garden) P. I. Tchaikovsky – Romeu e Julieta Carl Dahlhaus, um dos mais importantes musicólogos dos nossos tempos, afirma que a burguesia do século XIX, ao forçar sua presença diante dos olhos públicos, encontrou na ópera o meio para alcançar a distinção social. Uma das marcas da utilização da ópera como instrumento de autoprojeção foi a profunda mudança em seus libretos. Dahlhaus afirma que no lugar das mitológicas e antigas histórias, nas quais a sociedade de corte gostava de se ver representada, surgiam as que abordavam temas “românticos” retirados de novelas de Walter Scott ou de peças de Shakespeare e Victor Hugo. Este recurso demonstra claramente que em seu corpus literário a “ópera séria” do século XIX, foi direcionada, principalmente, para o público burguês que se encontrava na plateia. A ópera “Fosca”, do compositor brasileiro Carlos Gomes, foi a primeira escrita por ele depois do sucesso retumbante de “O Guarani”. Ela foi estreada no Teatro alla Scala, de Milão, no dia 16 de fevereiro de 1873 e seguindo a norma de apresentar heroínas não vinculadas a nobreza, apresenta como protagonista uma inusitada pirata. Giuseppe Verdi estreou a sua “La Traviata” em 6 de março de 1853, Teatro La Fenice, em Veneza. Baseada no romance “A Dama das Camélias”, de Alexandre Dumas Filho, que por sua vez é baseado na história real da prostituta Marie Duplessis, figura de certo destaque na alta sociedade parisiense, no decênio de 1840. O próprio Dumas Filho foi seu amante e passou com ela um verão numa das residências do seu pai, o consagrado escritor Alexandre Dumas, autor de “Os Três Mosqueteiros”. Em carta de despedida escrita para a amante, Dumas diria: “Minha querida Marie, - Não sou rico o suficiente

para amá-la como você gostaria, mas nem pobre o suficiente para ser amado por você como você gostaria. (...) Adeus, então. Você possui muito sentimento para não compreender o motivo de minha carta e inteligência demais para não me perdoar. Milhares de memórias, A.D.” Puccini conduziu a trajetória da ópera em direção ao realismo, ao qual agregaria seu irresistível poder de construir melodias inesquecíveis, como o “Intermezzo da Manon Lascaut”, estreada no Teatro Régio, de Turim, em 01 de fevereiro de 1893. Esta ópera foi um enorme sucesso e garantiu ao compositor fama e dinheiro. Com “La Bohéme” e “Tosca” o compositor conheceria ainda mais sucessos. “La Bohéme” é uma das óperas mais populares de todos os tempos e conta a história de quatro jovens que se encontram nos subúrbios parisienses e vivem momentos de paixão, beleza e também dificuldades financeiras e as dores da doença. Ela foi encenada pela primeira vez também no Teatro Régio, de Turim, no dia 01 de fevereiro de 1896, sob a regência de Arturo Toscanini. Outro exemplo de sucesso e popularidade da produção de Puccini é a ópera “Tosca”, um drama histórico baseado na obra de Victorien Sardou, encenada pela primeira vez no Teatro Constanzi, em Roma, 14 de janeiro de 1900. Entre suas diversas árias inesquecíveis encontra-se a famosa “E lucevan le stelle”, repertório indispensável a todos os tenores de prestígio. O programa de hoje inclui ainda as obras instrumentais de Frederick Delius e Piotr Tchaikovsky. O interlúdio “Walk to the paradise Garden”, da ópera “A Village Romeo and Juliet”, de Delius, apesar das raras montagens da ópera, tornou-se muito conhecido por sua extrema beleza e pelo talento com o qual o autor trabalha motivos apresentados nas cenas que o antecedem. A célebre abertura de Tchaikovsky, não é simplesmente uma narrativa musical da obra de Shakespeare. Com genialidade, ele construiu a sua composição em três aspectos pilares: o frade Lourenço; a guerra entre os Montéquio e os Capuleto; e o amor do jovem casal. Com esses três elementos, Tchaikovsky constrói uma das páginas mais prodigiosas da música sinfônica ocidental.

Djanira IV – 25 de novembro, sexta-feira, 20h Isaac Karabtchevsky, regente Ricardo Amado, violino Hugo Pilger, violoncelo M. Freire – Abertura

J. Brahms – Concerto para violino e violoncelo, Op. 102 – Concerto duplo A. Dvorák – Sinfonia n. 9 em mi menor, Op. 95 – Novo Mundo Em 1997, a American Symphony Orchestra realizou um concerto para celebrar os cem anos de morte Brahms, destacando os profundos laços de amizade construídos pelos dois artistas. Estes laços se estabeleceram a partir do ano de 1874, quando Brahms, junto com o crítico Eduard Hanslick e o diretor da Imperial Ópera, Joahann Herbeck, formaram a banca que iria decidir a outorga de um prêmio financeiro para um compositor do Império de Habsburgo. De acordo com o maestro Leon Botstein, Brahms teria ficado impressionado com as quinze obras apresentadas por Dvorak, então com 33 anos de idade, que incluíam sinfonias, aberturas e um ciclo de canções. Com o apoio decisivo de Brahms, Dvorak ganhou o prêmio naquele ano e novamente em 1876 e 1877. Além do apoio fundamental Brahms convenceu seu editor, Simrock, a publicar trabalhos do amigo, entre eles a célebre “Danças Eslavas, op. 46.” Nesta noite, apresentaremos a última obra orquestral escrita por Brahms, o concerto duplo para violino e violoncelo. A estreia mundial desta obra ocorreu em Colônia, no dia 18 de outubro de 1887, sob a regência do próprio compositor e tendo como solistas, os amigos a quem a obra foi dedicada: violinista Joseph Joachim e o violoncelista Robert Hausmann. Em um primeiro momento, a obra não obteve o reconhecimento merecido. Clara Schumann diria que o concerto se revelava “pouco brilhante para os instrumentos solistas”. O certo é que a mais moderna das obras do conservador Brahms, precisaria de tempo até ser ouvida em sua plena magnitude, com seus mistérios e penumbras, como a descreve Romain Goldron. A sinfonia nº 9, de Anton Dvorak, é conhecida como a sinfonia do novo mundo. Foi estreada pela Filarmônica de Nova York, no dia 16 de dezembro de 1893, no Carnegie Hall, sob a regência de Anton Seidl. Em entrevista a um jornal da cidade, o compositor afirmou que havia tentado reproduzir o espírito das melodias negras e indígenas que havia conhecido no país e que seria, em sua opinião, a base para a fundação de uma música norte-americana. O solo de corne inglês, no segundo movimento, tornou-se uma das melodias mais conhecidas e que já recebeu todos os tipos possíveis de arranjos, inclusive uma letra: “goin’home” (indo para casa). Em um concerto como este, que celebra a amizade, a presença da estreia mundial da obra de Mateus Freire adquire um significado especial. Mateus já foi violinista da OPES e ano passado recebeu a encomenda para adaptar para a nossa orquestra a obra “Arca de Noé”, de Vinicius de Moraes e Toquinho, que resultou em um enorme sucesso. Sendo convidado constantemente para realizar as mais diversas orquestrações, Mateus nos confidenciou durante a escrita deste texto, que estará abdicando de suas atividades como violinista de orquestra para se dedicar integralmente à composição. Hoje, ouviremos a primeira obra desta sua nova fase e este será um momento festivo, modo certo de celebrar a amizade e os primeiros passos de uma carreira brilhante e de muito sucesso.

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