Do atingimento e do rebatimento na perspectiva da filosofia tensa

July 4, 2017 | Autor: Abraão Carvalho | Categoria: David Hume, Epicuro, Crônica Filosófica, Atingimento, Rebatimento, Filosofia Tensa
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Do atingimento e do rebatimento na perspectiva da filosofia tensa

Abraão Carvalho abraaocarvalho.com

Em um acontecimento e outro, por meio de associações de palavras que vão ganhando ajunte e contornos mais alinhados entre os signos da linguagem, vamos nos encontrando com termos que passam a fazer parte de nosso cotidiano, e quando são relembrados eficazmente na linguagem oral, causam um despertar de pensamento fora de série! Estes termos ou expressões que por vezes são questões, acabam se sobressaindo na linguagem, na medida que são ditas diversas vezes em variadas situações e acontecimentos, para sempre dizer o mesmo, mas que acontece sempre de maneira diferente. E sabemos também, que toda filosofia, para surgir, necessita de problemas filosóficos. Chamamos problemas filosóficos aquelas questões que mexem e remexem no nosso ser. Ser aqui indica acontecimento. E como vida se faz por acontecimento, vemos como importante abordar nesta nova etapa da filosofia tensa, as questões ou problemas filosóficos que para nós apresenta algo de novo na linguagem. E como a linguagem é o manifesto do ser, assume agora elevada importância a questão do atingimento. Ora, desde onde nasce e surge a questão do atingimento? A questão do atingimento aparece para nós desde a primeira vez que ouvimos a radical pergunta se manifestar,



diante deste ou daquele acontecimento. Não se trata de qualquer  acontecimento, se trata de um acontecimento extraordinário, fora do curso habitual das coisas. Quando perguntamos assim: ATINGIU? O que se pergunta, se trata primeiramente de um ponto no qual não estamos habitualmente e nem constantemente fixados, pois desta maneira a questão do atingimento perderia sentido. A pergunta se atingiu ou não, só poderia ter por fundamento a satisfação. A expressão que para nós acabou se tornando uma questão filosófica foi pronunciada pela primeira fez, pelo que sabemos, pela cantora Martinália, filha do mestre Martinho da Vila, em uma apresentação no continente africano, que acabou se tornando CD. Estávamos eu, Sandro Juliati, hospedados em casa de Vitor Hugo em Manguinhos na Serra/ES/Brasil. Desde então, a questão do Atingiu? Esteve sempre ligada à felicidade e à satisfação. É o momento do acontecimento extraordinário, do bem estar, da alegria e da euforia, da festa, da música, do gozo, dos múltiplos, do momento de rir alto, a hora e a vez de celebrar. É a manifestação da ideia do bem, do qual nos parece dizia Platão, que se presentifica em algum acontecimento que nos lança para um outro plano da existência. Depois de algum tempo refletindo sobre a questão do atingimento, chegamos a cogitar a relação da questão do “atingiu?” com o que chamamos de rebatimento. No percurso da vida, de acordo com



as sensações de prazer e desprazer, vamos guardando digamos assim, um vasto conjunto de impressões. Impressões, segundo o filósofo David Hume, se tratam de nossas sensações mais vivas e fortes. Sendo a recordação e a memória capazes  somente de retomar leves traços das impressões originais. Acreditamos que o rebatimento seria este retomar as impressões originais de prazer e associá-las ao que acontece de extraordinário que é o que chamamos de atingimento. O conjunto de nossas impressões de prazer e também a satisfação retida nas impressões e sensações associadas ao prazer, na medida que se depara com uma situação nova, extraordinária, de tal modo que podemos dizer afirmativamente: atingiu! Nos indica que na medida que o atingimento vai acontecendo em diversas vezes, o ser e acontecer de um novo atingimento estará, em algumas ocasiões, associado também ao rebatimento de uma impressão anterior ligada ao prazer e à satisfação. Isso tem um pouco a ver com o que o filósofo Epicuro, conhecido na tradição filosófica por sua associação do prazer com a felicidade, não o prazer dos excessos, mas o prazer da justa medida, afirmou a respeito desta capacidade da memória e da recordação em utilizar as impressões de prazer pra superar os percalços da existência. De acordo com comentadores da obra de Epicuro, estas impressões associadas ao prazer, isto é, naquele momento em que o atingimento aconteceu, são de suma importância para superar aqueles momentos de desprazer. Seriam os esforços das recordações das



impressões de prazer que poderiam amenizar e colaborar para a superação dos momentos de desprazer. Em linguagem de filosofia tensa poderíamos dizer a respeito de Epicuro: é através do rebatimento das impressões de prazer que o desprazer pode ser atravessado de maneira mais amena. Desta maneira, esboçamos, um primeiro panorama do que chamamos a questão do atingimento, isto é, o fundamento da questão do “atingiu?”, que como vimos, encontra lugar no acontecimento da satisfação, e como a questão do “atingiu?” também está associada ao rebatimento daquelas impressões que estiveram associadas ao prazer e à satisfação.

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