“Do caso ao ocaso: uma leitura de Nada a Dizer, de Elvira Vigna”. In: GOMES, Gínia Maria (org.). Século XXI: perspectivas para a literatura brasileira. Frederico Westph.: Editora URI, julho de 2015, p. 145-160. (ISBN 978-85-7796-145-0)

June 24, 2017 | Autor: Cristiane Alves | Categoria: Literatura Brasileira Contemporânea
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œŒŠ£œŠœœŒŠ£œဓ¦˜Š—Ž“¤§¡ŠŽŠŠŠ“¯Ž¡ထŽ —¨“¡Š“‘›Š Cristiane da Silva Alves No prefácio de seu livro Amor líquido, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman estabelece uma síntese do que se vai ler na obra e que, guardadas as diferenças, bem pode ser utilizado na apresentação do romance de Elvira Vigna. De acordo com Bauman (2004, p. 8), “a misteriosa fragilidade dos vínculos humanos, o sentimento de insegurança que ela inspira e os desejos conflitantes (estimulados por tal sentimento) de apertar os laços e ao mesmo tempo mantê-los frouxos, é o que este livro busca esclarecer, registrar e apreender”. Lançado em 2010, pela Companhia das Letras, Nada a dizer é o sétimo romance de Vigna, tendo angariado o prêmio de melhor livro de ficção da Academia Brasileira de Letras, além de figurar entre os finalistas do prêmio Portugal Telecom de Literatura. Ao longo do livro, vão se desdobrando, entre outras, questões relacionadas aos vínculos estabelecidos entre os personagens, aos compromissos, amores, afetos, identidades e intimidades nos novos tempos. Assim como outros escritores contemporâneos, Elvira Vigna aposta na brevidade cronológica para compor a história, que traça o período de um ano na vida de um casal sexagenário, pertencente à classe média urbana, que tem a relação abalada após a mulher, cujo nome não é revelado em nenhum momento, descobrir a traição do companheiro, Paulo, que se torna amante de N., uma amiga, vinte anos mais jovem, rica, casada e com dois filhos: Paulo nunca tinha tido amantes. Algumas garotas de programa sim, quando viajara, havia muito tempo, com

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esse mesmo grupo para outras cidades, Brasília, Recife e principalmente São Paulo. São Paulo, para onde agora tinha se mudado. Estar morando em São Paulo excluía até mesmo de sua imaginação – já que na prática garotas de programa não eram mais uma presença real em sua vida – o rico plantel de boates e putas da rua Augusta, a uma quadra de sua nova casa. Pois era importante para Paulo que seus escapes, como denominava trepadas ocasionais, se dessem em cidades diferentes daquela em que morava. Sentia-se mais seguro assim. Era mais fácil de compartimentar, de escondê-las até de si mesmo. Amante, ia ser a primeira (VIGNA, 2010, p. 10-11).

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Trata-se, ao menos aparentemente, de uma história banal, com personagens comuns, cuja temática – a infidelidade – já foi fartamente explorada em diferentes épocas e cenários. Na literatura brasileira, Machado de Assis costuma ser, não por mero acaso, o autor mais lembrado quando se discute o assunto, eis que demonstrou especial interesse pela matéria, presente não apenas em Dom Casmurro, como também em Memórias póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba, além do conto “A cartomante”, apenas para citar alguns exemplos. Outro que também não se furtou ao tema foi Graciliano Ramos, que no romance São Bernardo apresenta um personagem/narrador que, a exemplo de Bento Santiago, deixa-se envolver pelo ciúme e pelas suspeitas, arruinando irreversivelmente seu casamento. Embora o adultério não se confirme, a ideia ronda a mente do protagonista/narrador de tal modo que a sua relação com a esposa torna-se impraticável. É de se notar que, tanto em Dom Casmurro quanto em São Bernardo, bem como em outras obras de temática semelhante, a mera dúvida quanto à fidelidade da esposa, ainda que desprovida de provas substanciais, implica, de algum modo, a exclusão da mulher, seja por morte, repúdio ou mero afastamento. Bentinho envia Capitu para a Europa, banindo-a de seu convívio e de sua esfera social; Paulo Honório, com seus ciúmes e acusações, leva ao fracasso o casamento e empurra Madalena para o suicídio. Em ambos os casos, a dúvida, o desfecho e até mesmo a narração da história restam a cargo do homem e do seu ponto de vista, exclusivamente. O homem é juiz e algoz, enquanto à mulher se reserva apenas condenação. A preocupação quanto à infidelidade feminina e sua “devida punição”, concebida de acordo com a ótica masculina e suas regras, é matéria que, desde os tempos mais remotos, cerca a civilização e pode ser verificada na literatura, não apenas em romances, poemas e cantigas,

Essa distinção entre homens e mulheres, apregoada ao longo dos tempos, influencia não apenas o comportamento, as ações de um e de outro, mas também as reações e os sentimentos diante de uma traição. Do homem, uma vez que venha a suspeitar ou descobrir um “deslize” da companheira, apoia-se ou espera uma medida punitiva, quando não uma reação extrema, ao menos uma demonstração de rejeição, mesmo que, posteriormente, venha a perdoar, demonstrando afeto e benevolência. E se for ele a praticar o mesmo “deslize”, cabe à mulher resignar-se e aos amigos aplaudir, pois nada mais é do que o cumprimento do papel para o qual foi talhado. Como aponta Barbosa (1998, p. 329), Se a traição feminina (ou até mesmo a hipótese dela) tem, através dos anos, desencadeado atitudes nos homens que variam desde o derramamento de lágrimas a outras mais violentas como a punição física e a morte, a traição masculina tem sido vista de um ângulo completamente diferente. A infidelidade masculina codifica um sentimento de poder e engrandecimento pessoal e cumpre a função de expressar e acrescentar uma conotação positiva ao mito do homem aventureiro em que a façanha, a proeza e o ativo desempenho sexual se tornam índices de virilidade e masculinidade.

É verdade que o século XXI tem se mostrado palco de grandes mudanças, com uma intensa mobilização no sentido de rever conceitos e alterar opiniões. No que diz respeito à relação homem-mulher, especialmente, antigos padrões de comportamento,

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a traição masculina e a divulgada predisposição “natural” e biológica do homem para o sexo – desculpa frequentemente usada para justificar a infidelidade masculina – se tornaram também um símbolo de virilidade, algo aceito como positivo, principalmente nos países latinos. Quando, no entanto, a infidelidade é por parte da mulher, a traição adquire uma conotação oposta, passando a representar uma falha de caráter (“mulher adúltera”) e uma grande desonra para o homem.

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mas em verdadeiros tratados, que se ocupam de apontar a fraqueza feminina e a necessidade de controle e vigilância sobre as mulheres. O mesmo não se aplica, contudo, aos homens, cuja infidelidade é considerada “natural”, aceitável pela sociedade em geral. Nesse aspecto, Maria José Somerlate Barbosa (1998, p. 329) destaca que

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tradicionalmente aceitos, tendem a ser criticados, modificados ou mesmo dispensados. Conforme Anthony Giddens (1993, p. 16), “em um mundo de igualdade sexual crescente – ainda que tal igualdade esteja longe de ser completa – ambos os sexos são levados a realizar mudanças fundamentais em seus pontos de vista e em seu comportamento, em relação um ao outro”. Entretanto, a transformação de certos modelos de conduta ou o posicionamento acerca deles, cristalizado ao longo de anos em determinados núcleos sociais, não se dá de modo rápido e estanque, como talvez se ambicione. No que concerne à visão sobre a traição, especificamente, a aclamada igualdade ainda está bastante aquém do desejado e, não raro, prevalece o ponto de vista masculino/patriarcal que determina que a mulher que trai “merece” sofrer, enquanto a mulher traída deve simplesmente fechar os olhos. Na literatura, como na vida, essa posição tem sido reforçada desde os tempos antigos. A traição é frequentemente atribuída à mulher, com arrasadoras consequências. Sobre o homem, se e quando tomado como personagem que trai, nota-se uma perspectiva diversa, um olhar diferenciado daquele reservado às mulheres. Ele não é um traidor, um adúltero, mas um homem sedutor, envolvente, um Don Juan, um garanhão, ou um homem incompreendido pela companheira, que precisa buscar conforto em braços alheios. A infidelidade masculina, assim, ainda que possa ser encontrada em algumas obras, não é colocada na berlinda e, não obstante, é raro um exemplar em que sobressaia o ponto de vista feminino sobre o assunto. Nesse aspecto, são dignas de observação as pesquisas realizadas na Universidade de Brasília (UnB) acerca das personagens de nossa ficção. Conforme Regina Dalcastagnè (2007, p. 128), elas apontam que “menos de 40% das personagens são do sexo feminino. Além de serem minoritárias nos romances, as mulheres também têm menos acesso à ‘voz’, isto é, à posição de narradoras, e estão menos presentes como protagonistas das histórias.”. Eis o mérito de Elvira Vigna que, ao tratar do tema da traição, rompe com a cadeia que há tempos cerca o cânone literário, concede a voz narrativa a uma mulher e apresenta a questão sob outro prisma. Trata da infidelidade, como outros autores já fizeram anteriormente, mas inova ao trazer à tona o ponto de vista da mulher traída que, entre lágrimas e risos irônicos, metamorfoseia-se em narradora e se

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desnuda perante o leitor, colocando-o a par da sua trajetória, da dor da traição à tentativa de sobreviver à descoberta do fato. Para tanto, a narradora investiga, esmiúça, pinça cada detalhe, mesmo aqueles aparentemente insignificantes, em uma busca obsessiva e dolorosa a fim de recompor a história da infidelidade e alcançar, através do relato, aquilo que não entende, as respostas que não são dadas e cuja ausência lhe causa um grande tormento. Além disso, o livro de Elvira Vigna, perfeitamente ajustado ao nosso tempo, é atual na linguagem e pleno de elementos e referências que permitem identificá-lo como um romance dos nossos dias. Se na literatura pré-internet o relacionamento das personagens era abalado por uma carta ou um bilhete comprometedor, apenas para mencionar um exemplo, em Nada a dizer, deparamo-nos com uma narrativa afinada com as inovações tecnológicas – como computador, celular e iPod – e as consequências, nem sempre positivas ou favoráveis, que a sua utilização pode acarretar. Assim, é um e-mail encontrado no computador do companheiro o estopim da crise entre o casal: “Paulo chegou em casa vinte minutos depois do que deveria ter chegado. Foram os vinte minutos em que eu descobri algo que não era para ter descoberto. Um e-mail. [...] Tentei abrir. Tinha senha” (VIGNA, 2010, p. 60-65). Desconfiada, uma vez que Paulo não costumava utilizar senhas, ela interroga-o e, como o companheiro se nega a responder, e, posteriormente, responde de modo não satisfatório, a narradora começa a procurar evidências acerca do que aquele e-mail realmente significaria, se havia ou não algo a ser descoberto. Inicialmente, sua busca é uma tentativa de negar para si mesma o ocorrido. Ela, que confiava no companheiro e na relação estabelecida entre ambos, supõe que, se houve algo entre Paulo e N., não foi mais do que uma “escorregadela”, passageira e inconsequente: “Eu achava que talvez eles tivessem se beijado. Ou mesmo trepado. Uma única trepada. [...] Um beijo ou uma trepada podem ser chamados de besteira. Algo que se faz e a que seguem arrependimentos imediatos” (VIGNA, 2010, p. 74-75). Mais do que uma tentativa de “incriminar” Paulo e N., parece que a narradora procura, ao menos inicialmente, um meio para tranquilizar a si mesma, para manter as crenças e certezas que há tempos cultivava e, dessa forma, seguir a própria vida sem maiores dramas ou alterações: “Eu buscava provas

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de que Paulo não me traía. Eu não buscava provas de que Paulo me traía” (VIGNA, 2010, p. 86). É oportuno observar que a relação entre a narradora e o companheiro, embora iniciada há muitos anos, é – ou pretendia ser – livre, desobrigada das amarras de uma união tradicional, baseada no afeto, na vontade de estarem juntos, de constituírem família, independente de papéis ou fórmulas preexistentes:

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Nunca casamos. Não falo dos papéis legais em cartório. Esses não os tivemos por opção. Não gostávamos de exprimir, num contrato exigido pela sociedade, esse outro contrato de cunho estritamente pessoal que tínhamos. Víamos como uma imposição, e sempre nos negamos a participar do ritual, mesmo com filho atrás de filho. E mesmo com todo o resto de nossas vidas sendo um casamento completo, de cama, mesa e finanças, as três coisas entusiasticamente compartilhadas (VIGNA, 2010, p. 71).

O arranjo entre eles é maculado, contudo, a partir da traição de Paulo, não exatamente porque ele se envolve sexualmente com outra mulher, mas porque não se trata, conforme a narradora irá descobrir, de uma simples “escapada”. Não foi um momento único de desejo e irreflexão, mas, sim, um caso, um envolvimento que se prolongou para além do primeiro contato sexual. Além disso, se a descoberta da traição se mostra dolorosa, maior será a dor de surpreender o companheiro empenhado em falsear, mascarar ou mesmo ensaiar negativas sobre os acontecimentos, derrubando as concepções que a narradora tecera ao longo dos anos sobre ele e sobre a relação que mantinham. Ao debater sobre os direitos implicados no relacionamento amoroso, não estão em jogo a posse do outro ou um pacto de fidelidade, mas, sim, a lealdade e a comunicabilidade, pontos nos quais Paulo falha sensivelmente: Ele custou a entender o que eu dizia. Que era o seguinte: direito ele tinha, de trepar com quem quisesse. Não tinha o direito de me subtrair igual direito. Se ele podia trepar com quem quisesse ou pudesse, porque a vida era dele e cabia a ele decidir sobre a vida que era dele, a minha vida também era minha. E era eu quem devia decidir se queria ou não conviver com ele – e com os óbvios riscos emocionais, e os físicos (o de alguma doença sexualmente transmissível) de ele trepar com quem quisesse. Ao me mentir para encobrir, primeiro, o caso que estava tendo com N. e, depois, para encobrir ter tido um caso já terminado com N., ele me

Eu e Paulo nos conhecemos há muito tempo. Mas não é nem isso. É que nos formamos com uma identidade que é, não digo contrária a pessoas como N., mas muito diferente delas. Fomos nós, os que fizeram sessenta anos no início do século XXI, os que lutaram e enfrentaram hostilidades de todo tipo para que pudéssemos viver, todos, do jeito que quiséssemos, trepando com quem quiséssemos, sem que as peias e o jugo de uma estrutura burguesa conservadora tivesse algo a ver com as decisões pessoais de cada um. Eu, com a filha que decidi ter. Paulo, experimentando sexualidades e estilos de vida em grupo. Eu, à la Leila Diniz – que inclusive conheci bastante bem –, levando minha barriga alegre e solta, ao sol. Paulo com suas letras de música proibidas, com seu carrinho velho, enfrentando o perigo, para levar amigos clandestinos de um lugar para outro (VIGNA, 2010, p. 82).

Ao manter um caso, traindo, mentindo, enganando a mulher, Paulo faz cair por terra toda a batalha que ele mesmo, a narradora e outros sujeitos travaram e, em um verdadeiro retrocesso, coloca-a na mesma posição de mulheres de gerações anteriores. Ela passa a ser, como outras tantas, a mulher-vítima, menor, trivial: “Aquela do estereótipo: a esposa traída, a mulher de meia-idade, traída. Enganada, a quem mentiam, cuja existência não era sequer percebida. O personagem merda, banal, medíocre, imbecil, de uma

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O companheiro de vivências e de lutas políticas incorrera na mesma “falha” de outros maridos medíocres e machistas, de mentalidade patriarcal, segundo a qual o poder de decisão e a tomada de atitudes são dados ao homem, ilimitadamente, sem que à mulher seja conferido o mesmo “privilégio”. Para esses, manter relacionamentos extraconjugais, mais do que normal, é considerado um direito masculino. Paulo, contrariando as expectativas da narradora, tornara-se um deles: “Ele fazia porque podia. Assim simples. Assim capitalista. Assim quanto-mais-melhor. Assim burro” (VIGNA, 2010, p. 106). A forma pela qual se dá a traição e a mulher tomada como amante vai na contramão de tudo aquilo pelo qual a narradora lutara, ferindo não apenas seus sentimentos de mulher e companheira, mas também seus ideais acerca da vida, da relação e de si mesma:

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sonegava abusivamente esse meu direito. Me retirava o agenciamento de minha vida, que era só meu (VIGNA, 2010, p. 109).

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história merda, banal, medíocre, imbecil” (VIGNA, 2010, p. 108). Não por acaso, naquele momento, a narradora lembra-se da mãe, típica representante dessas outras gerações, para quem a traição era, mais do que aceita, esperada, em virtude de sua condição. De acordo com a mãe, era “destino de mulher [...] ser enganada. Traída, humilhada” (VIGNA, 2010, p. 141). A aventura de Paulo, pois, colocava em xeque não apenas a relação de ambos, mas também as lutas empreendidas ao longo dos anos que, afinal, revelam-se de pouco resultado em relação à mulher que, em pleno século XXI, ainda padece dos mesmos males suportados pelas mães, avós e bisavós. Paulo a decepciona de muitas maneiras, especialmente porque não se abre acerca do evento, deixando-a entregue às próprias dúvidas e descobertas. A infidelidade, assim, vai se revelando, aos poucos, em um processo investigativo doloroso, no qual a narradora tem de juntar pedaço por pedaço, como se estivesse diante de um grande quebra-cabeça, que vai montando a partir das informações arrancadas em meio aos silêncios e negativas do companheiro e do blog da amante, cuja leitura obsessiva torna-se rotina. Como se trata de um relato em primeira pessoa, para além das dificuldades esperadas, no que diz respeito a expor a traição sofrida, há a dificuldade em recompor e comentar sobre acontecimentos que, em verdade, a narradora não conhece, ou porque não estava presente, ou porque lhe são sonegados. Muito do que compõe a narrativa, são impressões, “quase-verdades” captadas a partir de fragmentos e suposições que ela combina na tentativa de montar o que se passou entre Paulo e a amante. Mesmo deparando-se com o silêncio e/ou as negativas do companheiro, ela persiste, cerca-o, tenta arrancar de algum modo quaisquer pistas ou lembranças que ajudem a preencher as lacunas da história, que auxiliem na compreensão do que aconteceu: “Paulo me contou isso, entre tantas coisas, porque eu pedia que contasse, e insistia, e ele não tinha outro jeito senão contar” (VIGNA, 2010, p. 34). Ao investigar os fatos e confrontá-lo com a traição descoberta, não apenas a narradora perceberá arruinadas a cumplicidade e a lealdade que acreditava haver no relacionamento, como também virá à tona uma antiga dúvida sua sobre quem ela era para o companheiro: A resposta a essa pergunta, o que eu era para ele – e que acarretou de lambuja um questionamento sobre o que eu

homens e mulheres, nossos contemporâneos, desesperados por terem sido abandonados aos seus próprios sentidos e sentimentos facilmente descartáveis, ansiando pela segurança do convívio e pela mão amiga com quem possam contar num momento de aflição, desesperados por “relacionar-se”.

A narradora de Nada a dizer, com efeito, empregou significativas forças para construir uma história individual diferente daquela que a mãe lhe acenara como possível para uma mulher. Entretanto, em pelo menos um ponto, ela descobre se assemelhar a uma série de outras mulheres que, independentemente das lutas e conquistas, ainda anseiam por algo que não se relaciona ao espaço de trabalho ou ao lugar ocupado na sociedade, mas, sim, ao espaço íntimo, ao convívio e ao afeto. Apesar das diferenças que insiste em destacar, ela reconhece que guarda semelhança mesmo com a amante do companheiro: “Porque N. queria, como eu também sempre quis, apenas chegar perto e se sentir amada. Seu método era o da inserção no ambiente masculino. O meu, eu não sei qual era, mas sei que também não funcionava” (VIGNA, 2010, p. 41). E se insiste nas conversas com Paulo, mesmo diante dos silêncios e evasivas com que ele se defende, é porque ela busca encontrar alguma referência, qualquer indício, mesmo breve, que se insinue por entre os não-ditos do companheiro e lhe assegure que ao

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No fundo, o que deseja, mais do que a certeza sobre a existência ou não da traição e sobre os detalhes envolvendo o caso, é a certeza acerca da sua importância na vida e, especialmente, no coração do companheiro, esta a mais difícil de obter. A revolução sexual, a liberdade nas relações, os novos tempos, tudo isso alterou, significativamente, os padrões de comportamento, os lugares e os papéis de homens e mulheres, sem trazer, contudo, qualquer garantia de realização e conforto. Longe disso, quando o assunto é relacionamento amoroso, deparamo-nos, como bem observa Bauman (2004, p. 8), com

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considerava até então uma verdade absoluta sobre o que ele era para mim (meu maior amor) –, nós levaríamos cerca de um ano para obter. E se trata de resposta temporária. E essa é a maior e mais certa e definitiva resposta. Não o que ela contém. Mas o fato de ser temporária (VIGNA, 2010, p. 72).

lado dele ela tem lugar e estima. Assim, quando ela deixa a cama do casal, quando se retira da companhia de Paulo, não é por vontade de separar-se, antes para que ele a siga, para que demonstre que sente a sua falta, que ela é importante e desejada:

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Achei que Paulo ia se levantar atrás de mim, sentar a meu lado. Que iria me beijar, e que então eu iria chorar, e que o novo dia começaria nessa hora. E que, ao contrário de tantos outros dias, eu conseguiria notar, entender, escutar, as palavras ditas perto de mim, os sons e os gestos, eu saberia exatamente a função e a importância de cada novidade ou cada coisa já antiga que desse dia fizesse parte. Paulo não veio (VIGNA, 2010, p. 95).

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Ele não corresponde, todavia, não capta a sua intenção. Mais uma vez, é a narradora quem tem de ir em busca, quem tem de aproximar-se do parceiro, apenas para obter mais um fragmento da história que já não era apenas sobre o caso de Paulo e N. Em um curto espaço de tempo, também a história de anos de relacionamento entre a narradora e o companheiro tomava novos contornos, trazendo à tona dúvidas e novos fatos que, até então, eram sufocados ou ignorados por ela e que, naquele momento, agravavam a sua já fragilizada condição. Paulo, que só então percebe uma brecha nas opiniões, atitudes e posições ideológicas da parceira, não apenas conta, finalmente, sobre o caso com N., como revela algo sobre uma de suas “escapadas”, há trinta anos. Na ocasião, ambos viviam em um sítio e, repentinamente, viram-se às voltas com uma infestação de piolhoda-púbis, popularmente conhecido como “chato”, que atingiu o filho e a narradora. Àquela época, Paulo, igualmente infestado, negara veementemente quando acusado de ter contraído o piolho de alguma mulher com quem fizera sexo, em uma de suas constantes viagens ao Recife. A revelação, combinada com as angústias e abalos que a narradora já vinha experimentando, fará com que ela desmorone, “inteira – e não só minhas opiniões, atitudes e posições” (VIGNA, 2010, p. 105). Embora o episódio do “chato nordestino” tenha ocorrido há muito tempo, pesa o fato de o companheiro ocultar por tantos anos o acontecimento, silenciar, mentir, negar, tendo agido, desde então, como se não houvesse qualquer consequência, como se a companheira sequer existisse. Mais uma vez, Paulo demonstrava

Tudo o que a narradora pensava ter erigido em torno do relacionamento e de si mesma desmanchava-se em um átimo. A cumplicidade, o lugar só deles, a lealdade entre ambos não existiam. Tampouco existia a mulher que ela pensava ser, forte, respeitada, amada, especial. Naquele instante, desfeitas as certezas que, até então, mantivera sobre si, ela percebia-se frágil, enganada, cercada por mentiras e traições como muitas outras mulheres, das quais se julgara distante, diversa. O evento, a propósito, não desmascara apenas Paulo, cuja traição e egoísmo finalmente vêm à tona, mas também a própria narradora que, diferentemente do que pensara (ou inventara?) ser – libertária, aberta e independente –, descobrese carente, ressentida, melindrada, menos pela traição do que pela opção do companheiro por uma mulher que ela pinta com as tintas do rancor e descreve como “gorda, espalhafatosa, autoritária e tendendo ao vulgar” (VIGNA, 2010, p. 45). A mulher revolucionária, feminista, atuante, que pretendera ser, dava lugar à mulher moralista, plena de valores e censuras, pronta a condenar os traidores, os mentirosos, os adúlteros, gente vagabunda. Gente como N., a quem ela, repentinamente sóbria, rígida, firme em seu pedestal, julgava promíscua: “Vestida em uniformes de tons que podiam até variar mas sempre no mesmo cinza, eu empunhava estandartes, insígnias e me via defendendo a família, a tradição e a

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Eu não esperava que isso fosse possível. Que eu pudesse não existir, que minha existência pudesse não ser contabilizada pela pessoa que mais me conhecia no mundo. Que Paulo pudesse ter entrado no motel Sândalo com N. sem lembrar que eu existia. [...] Que eu, num dia havia trinta anos, estava num sítio precário, tomando conta de crianças, enquanto ele ia misturar seus pentelhos com outros pentelhos, cheios de chatos. E que fazia tudo isso só porque podia (VIGNA, 2010, p. 105).

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atender apenas àquilo que lhe era desejado e/ou conveniente, da mesma forma como agiu em relação ao caso com N. que, sem qualquer culpa ou consideração, tomara por amante e levara, entre outros lugares frequentados pelo casal, ao mesmo motel que costumavam usar como refúgio para preservar a intimidade, nem sempre possível em meio aos filhos e outras pessoas que entravam e saíam de sua casa que era, também, o local da empresa de tradução da família, onde desenvolviam seus trabalhos:

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propriedade” (VIGNA, 2010, p. 109). A traição já não é apenas de Paulo, que tomara N. por amante, mas é, igualmente, uma traição pessoal da narradora com os ideais que há anos apregoava como seus, com o projeto de vida pelo qual travara batalha nos tempos de militância. A imagem de mulher que ela criara em torno de si mesma desfaziase, desmontava-se inteiramente, relegada a mero personagem de um discurso frágil, impalpável, sem existência real. Ela, que lutara contra o conservadorismo e as estruturas padronizadas, que, decidida e transgressora, marchara contra os valores burgueses e as amarras de uma vida ordinária, de repente, rendia-se ao senso comum, deixavase envolver por estereótipos, reagindo como tantas outras mulheres que, diante de uma traição, recolhem-se ao papel de vítima e se deixam tornar menores, insignificantes, inexistentes. Não existir para Paulo era só o começo e, logo, ela iria entender que também não existia para si mesma, ao menos não nos termos em que supunha. O modelo que pensara seguir, a identidade sólida e bem formada que imaginara sua, mostrava-se apenas uma criação, uma ilusão que tomara como verdade. Ainda que pareça incoerência da personagem, tal fato apenas reforça a afinidade do romance com a realidade e com a contemporaneidade, em que qualquer identidade que se pretenda consistente e inabalável é mera utopia. Nesse sentido, Stuart Hall (2006, p. 13) esclarece que a identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente.

Diferentemente do que possamos pensar, somos sujeitos à mudança, à inconstância, muito mais do que, talvez, esperaríamos. As verdades e as crenças que, na maioria das vezes, tecemos sobre nós mesmos, com as quais julgamos nos definir de modo estável e decisivo, não são possíveis, especialmente na pós-modernidade. Antes, somos seres cambiantes, marcados pela fragmentação e pela impermanência. As identidades, conforme assinala Bauman (2001, p. 98), parecem fixas e sólidas apenas quando vistas de relance,

Eu podia desejar, por momentos, Paulo morto. Mas quem morria era eu. Magra por não comer, com os cabelos caindo por conta do estresse, olheiras de não dormir, olhos inchados de tanto chorar, eu também não trabalhava. O meu projeto pessoal do livro, recusado logo após o Carnaval, continuava na gaveta ou era mandado a outros eventuais pretendentes, sem empenho, sem carta de apresentação, sem ânimo (VIGNA, 2010, p. 113).

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Essa conclusão, contudo, a narradora só alcança após um penoso processo de perdas e descobertas, a partir do qual terá de se libertar de suas certezas e das pretensas bases sólidas às quais se imaginava ancorada, a fim de buscar outra(s) identidade(s) com que pudesse viver, uma vez que descobrira que o modelo anterior, o seu antigo “eu”, não existia, não tinha lugar e nem razão de ser. À procura de si mesma, de uma nova roupagem com a qual possa continuar, ela tentará se acomodar em outros corpos, outras imagens, em outras pessoas. Nos meses que seguem, ela constata, entretanto, que não está funcionando colocar-se em outras “cascas”, que não consegue ser uma personagem de seriados americanos, que não consegue ser N., e que tampouco era ela mesma: “Eu tinha ficado menor, menos interessante. E precisava comprar um olhar com que eu pudesse olhar o mundo, uma voz com que eu pudesse, frágil e firme, falar de mim” (VIGNA, 2010, p. 151). Mesmo se tratando de um romance do século XXI, narrado pela voz feminina, trazendo a mulher ao primeiro plano, não mais como aquela que trai, a adúltera, mas como aquela que é traída, não se pode deixar de notar que ainda a mulher é alvo de destruição, conforme tem sido ao longo de anos, em narrativas que exploram a temática da infidelidade. Embora em Nada a dizer seja Paulo, o homem, o agente da traição, que não é apenas sugerida, mas comprovada, confessada, é sobre a mulher que recai o peso da condenação, eis que é ela quem experimenta a sensação de morte, punida, por assim dizer, com o sofrimento ocasionado pelos enganos e/ou omissões do companheiro:

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de fora. A eventual solidez que podem ter quando contempladas de dentro da própria experiência biográfica parece frágil, vulnerável e constantemente dilacerada por forças que expõem sua fluidez e por contracorrentes que ameaçam fazê-la em pedaços e desmanchar qualquer forma que possa ter adquirido.

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Diferentemente de outros romances1, contudo, essa mulher sobreviverá, ainda que frágil, abalada, sem o apoio das certezas que, até então, serviam-lhe de sustentação. Através da dor, descobrirá que o meio para resistir é reinventar-se, aceitar que já não é a mesma e abrir-se para o que pode vir a ser. Com efeito, ao longo dos meses, ela começa a se perceber nova, outra. Ao mesmo tempo, entende que também Paulo já era outro, como era outra a relação entre ambos, como era outro o tempo em que o “evento N.” acontecera. Menos rígida, já é capaz de admitir-se incompleta, falha, como também é o companheiro. Pouco a pouco, descobre a tolerância, a aceitação e o desejo de permanecer ao lado daquele que, apesar de tudo, reconhece amar: E eu me descobria, além de tudo o que era e não era, uma banana. Gostava imenso de estar com ele – na rua ou na cama, vendo televisão ou conversando. E nossas conversas, que haviam se reiniciado tão difíceis, com palavras proibidas, referências que se interrompiam pelo meio, agora corriam mais suaves. Eu não tinha como disfarçar. Eu o amava (VIGNA, 2010, p. 148).

Fechado o ciclo, um ano depois do começo da narrativa (16 de novembro), finalmente começam a ficar para trás as dores e as buscas. Um novo tempo se anuncia – mais fluido, mais leve, mais acessível. O quarto de hóspede, adotado como refúgio pela narradora ao final do romance, dá conta da situação volátil, mas ainda promissora, que o relacionamento enfrentaria dali por diante. Dentro da casa, mas fora do quarto do casal, a narradora dá mostras de que não rompeu os laços, não se afastou de todo e definitivamente, que ainda existe uma relação entre ela e o companheiro, embora já não seja a ligação de antes. Tudo será novo e imprevisível a partir de então. Como “hóspede”, ela permanece enquanto for conveniente e/ ou agradável, podendo partir a qualquer momento, ou simplesmente deixar-se ficar, indefinidamente. Decorrido um ano, contabilizadas as perdas e os ganhos, e tendo chegado a termo o extenso e penoso inventário de acusações, lágrimas, risos e descobertas, fica para trás a história da traição. O “evento N.”, finalmente, dissipa-se e dá lugar a outros acontecimentos, talvez melhores, talvez não, mas novos e, 1

Os de Machado de Assis e Graciliano Ramos, referidos anteriormente, são apenas alguns dentre os vários exemplos que poderiam ser citados e que não se menciona aqui para não alongar demasiadamente o texto.

Ao fim e ao cabo, o que poderia ser apenas mais uma história de traição, dor e separação, acaba por converter-se em um resgate da intimidade perdida, ou antes não alcançada, do reencontro e do restabelecimento da parceria entre companheiros de longa data. Ao mesmo tempo, é o resgate da narradora por si mesma. Despida da rigidez ideológica e das ilusões com que, ingenuamente, recobria-se, ela, finalmente, ajusta-se à contemporaneidade e abre-se para o novo mundo e para os novos tempos, dando lugar a outra(s) identidade(s), permitindo-se mudar e se refazer, reinventar-se tantas vezes quanto se faça necessário, como também podem ser reinventadas as paixões, os amores, os afetos. Referências ASSIS, Machado de. A cartomante. Contos. Porto Alegre: L&PM, 2009. ______. Dom Casmurro. Porto Alegre: Novo Século, 2001. ______. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Abril, 2010. ______. Quincas Borba. São Paulo: Ática, 2003.

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Acho que hoje, sim, tenho com ele o que busquei tanto tempo. Acho que hoje, por muitos momentos, nos olhamos e nesse olhar sinto que estou mais próxima de outro ser humano do que jamais conseguiria estar. E o meu aprendizado é saber que há momentos em que nos recolhemos, eu ou ele, dentro de nós, desse novo nós que com tanta dificuldade pudemos construir (VIGNA, 2010, p. 156).

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portanto, plenos de possibilidades. Diferentemente de outras narrativas envolvendo a infidelidade, Paulo, mesmo confessando o adultério, não é banido, excluído do convívio da companheira. Ao contrário, pouco a pouco, é absolvido e tudo é relegado ao passado, discutido, sofrido, digerido, já não havendo o que censurar. Após o árido período atravessado pelo casal, não resta lugar para vítimas, algozes ou condenados. Restam apenas dois amantes, falhos, imperfeitos, que se descobrem, finalmente, cúmplices, sem máscaras e sem histórias pendentes:

BARBOSA, Maria José Somerlate. Chorar, verbo transitivo. Cadernos Pagu, Campinas: 1998 (11), p. 321-343. Disponível em: . Acesso em 04 fev. 2015.

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BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004. ______. Modernidade líquida. Trad. Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. DALCASTAGNÈ, Regina. Imagens da mulher na narrativa brasileira. O Eixo e a Roda, Belo Horizonte, v. 15, p. 127-135, 2007. GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade: sexualidade amor & erotismo nas sociedades modernas. Trad. Magda Lopes. São Paulo: UNESP, 1993.

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HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. RAMOS, Graciliano. São Bernardo. Rio de Janeiro: BestBolso, 2010. VIGNA, Elvira. Nada a dizer. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. Cristiane da Silva Alves é Mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS e Doutoranda em Literatura Brasileira pela mesma instituição (bolsista CAPES), com projeto de pesquisa sobre narradores velhos na narrativa ficcional brasileira contemporânea. E-mail: [email protected].

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