Do entretenimento ao jornalismo: avaliação de aplicativos de segunda tela

June 2, 2017 | Autor: T. Becker Alexandre | Categoria: Journalism, Jornalismo, Mobile Devices, Televisão, Dispositivos móveis
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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 13º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo Campo Grande – UFMS – Novembro de 2015

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Do entretenimento ao jornalismo: avaliação de aplicativos de segunda tela Mariane Pires Ventura1 Tássia Becker Alexandre 2

Resumo: Com a expansão da internet e o crescimento no acesso aos dispositivos móveis, o consumo de informações pelo público não se limita às mídias tradicionais. Por isso, cada vez mais as empresas de comunicação têm investido em aplicativos para smarthones e tablets, buscando atrair a atenção dessa audiência multiplataforma. Esse é caso da segunda tela, recurso utilizado por emissoras de televisão para disponibilizar conteúdos extras às transmissões televisivas. Diante deste cenário, este trabalho tem como objetivo identificar recursos potenciais da segunda tela que podem ser explorados pelo telejornalismo por meio de uma pesquisa exploratória. Para tanto, apresenta-se um panorama do que tem sido feito atualmente nesta área, com avaliação das ferramentas disponibilizadas pelos aplicativos “Globo” e “Sherlock Holmes: a game of shadows”. Palavras-chave: dispositivos móveis; televisão; segunda tela; jornalismo; entretenimento.

1. Introdução O desenvolvimento e a expansão da internet têm proporcionado uma revolução na forma como consumimos informações e conteúdos midiáticos. É através da conexão à rede que podemos ler a versão on-line do nosso jornal impresso, escutar a programação do rádio, mesmo estando fora do território onde o sinal das emissoras alcança, e, inclusive, assistir e interagir com as atrações televisivas.

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Jornalista. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (POSJOR/UFSC). E-mail: [email protected]. 2 Jornalista. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (POSJOR/UFSC). E-mail: [email protected].

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Quando pensada, na década de 1950 durante a Guerra Fria, a internet tinha como intenção facilitar a comunicação entre o exército americano e seus aliados, sendo resultado de uma cooperação entre as forças armadas, empresas privadas e universidades. Segundo Kleina (2011), foi Joseph Carl Robnett Licklider, do Instituto Tecnológico de Massachussets (MIT), quem difundiu a ideia de uma “rede galáctica”, o que para época parecia algo muito abstrato, um sistema que interligasse todos os computadores do mundo em uma única conexão. Atualmente, esta ligação entre computadores e pessoas é uma realidade e já alcança mais de um terço da população mundial. Segundo pesquisa divulgada no final de 2014 pela União Internacional de Telecomunicações da Organização das Nações Unidas (ONU), estima-se que 40% das pessoas ao redor do mundo estejam conectadas à internet, o equivalente a cerca de três bilhões de usuários (FOLHA, 2014a). O cenário atual também mostra que a conexão à rede também ultrapassou as fronteiras do computador. Hoje existem novas tecnologias de informação e comunicação que “[...] têm sido introduzidas com forte impacto sobre o modo como trabalhamos, aprendemos e como nos comportamos em sociedade” (AGNER, 2012, p. 269). Este é o caso dos dispositivos móveis, como smartphones e tablets, que promovem o acesso à informação em qualquer hora e lugar, bastando apenas a conexão à internet por meio de dados ou sem fio (Wi-Fi). Com a vantagem da mobilidade, estas plataformas têm conquistado o público. Um estudo feito pela F/Nazca Saatchi & Saatchi em parceria com o Datafolha em 2014 mostra que aproximadamente 43 milhões de brasileiros com 12 anos ou mais navegam pela internet utilizando dispositivos móveis (DATAFOLHA, 2014). Entre as atividades realizadas por quem utiliza os dados móveis no celular, 30% das pessoas acessam redes sociais; 26% compartilham imagens, vídeos ou textos; 25% acessam e-mails; e 23% baixam aplicativos, como aponta a pesquisa TIC Domicílios 2013, divulgada pelo CETIC.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação) - órgão ligado ao Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR e ao Comitê Gestor da Internet no Brasil (FOLHA, 2014b). Com o avanço da conexão à internet e o acesso aos dispositivos móveis, o consumo de informações pelo público não se limita aos meios de comunicação 2

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tradicionais (impresso, rádio e televisão), já que a web disponibiliza conteúdos criados exclusivamente para circular no ambiente virtual. Ao mesmo tempo, muda a relação da audiência com os veículos, pois ela agora interage com os produtores dos meios e também produz e divulga os seus próprios materiais. Anderson et al. (2013) assinalam que produtores de notícias, anunciantes e o público possuem muito mais liberdade para se comunicar com a internet, e recomendam que o jornalismo se adapte a esse novo ambiente. Uma das saídas para o jornalismo e os meios de comunicação diante deste cenário é inovar, tornando o conteúdo mais atraente, investindo em novas narrativas e nestas novas plataformas para difusão dos materiais produzidos. No caso específico da TV, uma das soluções que já vem sendo adotada são os aplicativos (apps) da chamada “segunda tela”, por meio dos quais o telespectador acessa simultaneamente, em seus smartphones e tablets, conteúdos extras divulgados pelas emissoras sobre a programação. Neste trabalho, desenvolvemos uma pesquisa exploratória do que está sendo produzido nacional e internacionalmente em segunda tela com o objetivo de identificar recursos potenciais que podem ser explorados pelo telejornalismo. Abordamos inicialmente sobre as duas telas (a televisão e os dispositivos móveis). Em seguida, levantamos os usos que a TV está fazendo da segunda tela, trazendo o exemplo de dois aplicativos, “Globo” e “Sherlock Holmes: a game of shadows”.

2. Primeira e segunda tela: televisão e dispositivos móveis Mesmo diante de um cenário marcado pelo digital e por diversas transformações nos veículos de comunicação, a televisão se mantém atualmente como o meio preferido entre os brasileiros. Segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia 2015, realizada pelo IBOPE para a Secom (BRASIL, 2014), a TV é o meio de comunicação mais acessado pelos entrevistados (95%), e tem como principais usos a busca por informações (79%) e entretenimento (67%). Complementar a isto, dados da Pesquisa Nacional por Amostra

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de Domicílios 2013 (IBGE, 2013) revelam que a televisão está presente em 97,2% dos lares no país, em quantidade que se iguala ao número de geladeiras. É possível atribuir o sucesso da TV a diferentes fatores. Um dos motivos é o fascínio que a combinação de som e imagem em movimento provoca no público, pois, como salienta Arbex Jr. (2001, p. 34), somos parte de uma cultura que “[...] privilegia a percepção visual como fonte principal do conhecimento”. Além disso, a televisão também se destaca por ser uma companhia para a audiência. Com a redução no custo dos aparelhos televisores nas últimas décadas e o desenvolvimento recente de novas plataformas e canais para difusão dos conteúdos televisivos, o meio pôde ampliar a sua atuação, garantindo espaço na rotina dos telespectadores. Como completa Brasil (2015, p. 67), estamos diante da “TV Tudo”, que está em todos os lugares e a qualquer momento. A trajetória histórica da televisão brasileira nos mostra, contudo, que nem sempre foi assim. Mattos (2010) lembra que no início apenas a elite tinha acesso ao meio, período em que o preço dos televisores se aproximava ao de um carro. Neste sentido, a evolução tecnológica ao longo dos 65 anos da TV no país ajudou a conduzir a sua expansão, possibilitando que mais pessoas tivessem acesso aos televisores e garantindo mais atrativos à audiência, como a melhor qualidade nas transmissões e a segmentação do conteúdo, esta impulsionada pelas transmissões via cabo e satélite da televisão por assinatura. O avanço da tecnologia nas últimas décadas não trouxe vantagens apenas à televisão, mas também proporcionou a consolidação da internet e o surgimento de novas tecnologias da informação. Estas transformações têm alterado a forma como as pessoas se relacionam e consomem informações e conteúdos midiáticos. Segundo Emerim e Brasil (2013), estas mudanças impulsionaram a hipersegmentação do público de televisão, que tem uma oferta maior de plataformas e de conteúdos, e a queda na audiência e nos lucros das emissoras. Diante deste cenário, a TV e os demais meios de comunicação tradicionais têm alterado as suas práticas, pensando a difusão de seus produtos para diferentes suportes, como os dispositivos móveis, que cada vez mais têm atraindo a atenção do público.

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Pesquisas confirmam o sucesso das plataformas móveis. Um levantamento feito pela Nielsen em 2013 mostra que 36% da população brasileira possui smartphones, e que, destes, 75% usam para acessar as mídias sociais e 74% aplicativos (NIELSEN, 2013). Logo, a presença destes aparelhos está desde os locais de trabalho até a sala de estar das pessoas. Outro estudo, realizado pelo Google Brasil, aponta que, no país, 63 milhões de pessoas acessam dois tipos de tela (TV + PC) e 30 milhões acessam três telas (TV + PC + Smartphone) de forma simultânea ou sequencial, e que na maioria dos casos esta atividade ocorre simultaneamente. A televisão é o meio que mais está presente: 52% da população on-line assiste TV e acessa a internet ao mesmo tempo e 68% vê televisão enquanto utiliza o smartphone (GOOGLE, 2013). Analisando esses dados, pode-se concluir que a forma de assistir à televisão já não é mais a mesma para maioria da população, tendo em vista que a atenção está sendo dividida com um dispositivo móvel. Algumas emissoras já se deram conta deste fator e estão produzindo conteúdo para a chamada segunda tela. Com base em estudos da área3, utilizamos neste trabalho a definição de segunda tela como sendo o uso simultâneo, via dispositivos móveis (como smartphones e tablets), de um aplicativo desenvolvido pela emissora para acesso a informações complementares à programação televisiva, e que também possibilita ao teleinternauta construir e fazer parte do conteúdo transmitido pela primeira tela (TV), opinando através de mensagens, enquetes e enviando arquivos multimídia, por exemplo. Apesar de esse tipo de interação entre os dispositivos móveis e a televisão ser algo relativamente novo, em 1974, Marshall McLuhan já falava sobre as relações de continuidade entre um meio de comunicação e outro, de forma que a nova plataforma processa a anterior e a complementa. “Toda tecnologia nova cria um ambiente que é logo considerado corrupto e degradante. Todavia o novo transforma seu predecessor em forma de arte” (MCLUHAN, 1974, p. 11). Andrelise Daltoé (2003) explica que antes de se pensar na eliminação de uma tecnologia, deve-se pensar na coexistência de ambas: “a fotografia alterou o sentido da pintura, mas não a substituiu; a televisão ocupou certos espaços do cinema, mas não todos; o correio eletrônico criou uma nova forma de comunicação, mas as agências de 3

C.f: CANATTA, 2014; MILLER, 2014; FINGER; SOUZA, 2012.

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correios e telégrafos continuam operando” (DALTOÉ, 2003, p. 9). Estes fenômenos s..e enquadram no conceito de convergência, defendido por Henry Jenkins (2009). Para o autor, a convergência ocorre devido ao “fluxo de conteúdos, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos nos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam” (JENKINS, 2009, p. 29). A segunda tela da qual falamos está inserida neste meio de cooperação entre mídias e usuários que buscam novas experiências sensoriais. No Brasil, essa primeira experiência foi feita pela TV Cultura (AFFINI; USHINOHAMA, 2013). A emissora criou um site no qual eram disponibilizados conteúdos complementares às matérias que eram exibidas durante o Jornal da Cultura. Pouco tempo depois, o mesmo foi feito para os programas “Quem Sabe, Sabe!”, “Cartão Verde” e “Roda Viva”. Apesar da experiência inédita no campo do jornalismo no país, a iniciativa não vingou e durou menos de um ano, com início entre março e abril de 2013 e término em outubro. No site da segunda tela do Jornal da Cultura não é possível encontrar nenhuma indicação sobre o motivo de seu encerramento. Também em 2013, a Rede Bandeirantes criou seu primeiro aplicativo de segunda tela, direcionado para a cobertura da Copa das Confederações, com publicações de conteúdos exclusivos e possibilidades de interação por mídias sociais (PASE; VALENTE, 2013). Depois do sucesso da ferramenta, a Band lançou o “Quem fica em pé?”, aplicativo homônimo ao gameshow exibido na televisão, mas que já não vai mais ao ar. Atualmente, a emissora disponibiliza um app integrado, com o recurso de segunda tela para alguns de seus programas. No país, canais como ESPN, Globo e Record também contam com aplicativos de apoio na segunda tela, porém, nem todos as atrações recebem essa interação. Observando a tendência do público de utilizar o dispositivo móvel enquanto assiste à TV e as experiências feitas pelas emissoras, pode-se também aferir que a segunda tela colabora para que a audiência se mantenha conectada ao programa e não se disperse diante dos conteúdos disponíveis na televisão e no smartphone ou tablet. Para Guerrero (2011, p. 237, tradução nossa), o recurso também contribui para “[…] fidelizar a audiência, melhorar a sua relação com o conteúdo e com o outro, potencializar a 6

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criatividade dos formatos, criar marca, incrementar a difusão da oferta audiovisual e, até mesmo, incorporar novas fontes de receita”4. No que tange ao jornalismo, a ferramenta pode contribuir para a mudança na estrutura e na narrativa das notícias (SILVA; BEZERRA, 2013). Na próxima seção, apresentamos dois exemplos de como a segunda tela está sendo utilizada no Brasil e no exterior, avaliando aspectos positivos e negativos e identificando recursos potenciais que podem ser utilizados pelo jornalismo de televisão. Para dar conta desta proposta, tomamos como base o conceito de segunda tela abordado neste trabalho e também as características intrínsecas às plataformas móveis.

3. Recursos potenciais de aplicativos de segunda tela para o jornalismo Para dar conta do objetivo deste trabalho, analisamos os aplicativos “Globo” e “Sherlock Holmes: a game of shadows”, que possuem segunda tela. A caracterização como segunda tela5, com base no conceito levantado neste trabalho, e a disponibilização de informações simultaneamente à exibição do programa na televisão foram os critérios utilizados na escolha dos apps. Como não identificamos aplicativos de telejornais que possam ser considerados como segunda tela, selecionamos dois exemplos do campo do entretenimento e infotenimento6, mas com o olhar voltado aos recursos que podem ser explorados pelo jornalismo de televisão. Os aplicativos foram avaliados com base em aspectos relacionados à forma e ao conteúdo divulgado. Selecionamos três critérios apontados por Rodrigues (2013) para analisar a interface do aplicativo e adicionamos outros quatro que se referem

Citação original: “fidelizar a la audiencia, mejorar su relación con el contenido y con otros seguidores, potenciar la creatividad de los formatos, crear marca, incrementar la difusión de la oferta audiovisual e, incluso, incorporar nuevas vías de ingreso” (GUERRERO, 2011, p. 237). 5 A busca foi realizada nas lojas de aplicativos Google Play e App Store utilizando os termos “segunda tela”, “second screen” e “televisão”. 6 Alusivo ao uso da segunda tela pela TV Globo em sua transmissão esportiva. Conceito relacionado ao “[...] jornalismo que ao mesmo tempo traz uma prestação de serviço e propicia informação e entretenimento ao leitor” (DEJAVITE, 2007, p. 2). 4

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especificamente ao objetivo da segunda tela de ser um complemento à televisão. Desta forma, a nossa avaliação é baseada nos seguintes itens7: interação com o público; autonomia; imersão; compartilhamento; estética; interação ao vivo; e disponibilidade de conteúdos (Tabela 1). As análises foram realizadas nos dias 29 e 30 de julho de 20158. Critério

Descrição

Interação com o público

Possibilita ao usuário enviar conteúdos, comentar os programas, participar de enquetes.

Autonomia

Interface permite que o usuário faça escolhas e seja correspondido (RODRIGUES, 2013).

Imersão

Capacidade de envolver o usuário (Ibid.).

Compartilhamento

Vínculo para compartilhamento dos conteúdos disponibilizados no aplicativo nas redes sociais.

Estética

Visualmente eficaz e agradável (Ibid.).

Interação ao vivo

Contém funções extras no momento em que o programa é transmitido na televisão.

Disponibilidade de conteúdos

Oferece acesso a materiais multimídia complementares aos programas televisivos.

TABELA 1 – CRITÉRIOS DE ANÁLISE DOS APLICATIVOS (VENTURA; ALEXANDRE, no prelo).

3.1 Globo O aplicativo Globo oferece a ferramenta de segunda tela apenas para algumas atrações. No período analisado, constatamos a disponibilidade do recurso nas transmissões de futebol. Ao iniciar o jogo, cinco novos ícones foram disponibilizados – timeline, estatísticas, escalação, ranking e globoesporte.com –, com informações atualizadas ao longo da partida. Na timeline, são publicados vídeos com os melhores

Critérios de análise elencados pelas autoras em trabalho anterior, a ser publicado, intitulado “Que novas possibilidades a segunda tela traz para a TV?” (VENTURA; ALEXANDRE, no prelo). 8 As análises foram realizadas a partir de tablet com sistema iOS ou smartphone e tablet com sistema Android. 7

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lances; em estatísticas destacam-se os números do jogo, como a quantidade de faltas cometidas; na escalação, há o nome e posição em campo dos jogadores; em ranking, há a classificação de acordo com a pontuação dos internautas em quiz; e o ícone globoesporte.com dá acesso ao site de mesmo nome (Figura 1).

FIGURA 1 – INTERFACE DO APLICATIVO GLOBO

Dos sete itens avaliados, o app não atende apenas ao critério de compartilhamento, pois o usuário não pode compartilhar os materiais publicados no aplicativo em seus perfis nas mídias sociais ou e-mail, por exemplo. O estímulo à participação do público, entretanto, talvez seja um dos principais pontos da ferramenta. Durante toda a partida, o usuário pode enviar comentários, que são publicados instantaneamente no app, e postar em suas contas no Twitter diretamente do aplicativo. 9

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Também são realizados quiz, com pontuação refletida na aba ranking, e enquetes, cujo resultado é apresentado na própria transmissão televisiva. Já a interface é visualmente eficaz, permite a autonomia dos internautas e também garante a sua imersão ao longo de toda transmissão televisiva ao vivo. Por ser disponibilizada simultaneamente à exibição da partida e conter conteúdos complementares à TV, a ferramenta pode ser considerada como segunda tela. Não é necessário, contudo, que o usuário esteja com a televisão ligada para que possa navegar no aplicativo, pois são divulgados alertas do resultado do jogo e os vídeos com os melhores momentos publicados na aba timeline são capazes de atualizar o internauta e fomentar os comentários. Especificamente para o jornalismo de televisão, o recurso de segunda tela disponibilizado nas transmissões de partidas de futebol da Globo indica algumas possibilidades. Apontamos a disponibilização de vídeos e/ou alertas com breves resumos das notícias mais importantes divulgadas no telejornal, mas sem desconsiderar as características próprias dos dispositivos, como o tamanho das telas e a velocidade de acesso à internet. O uso de enquetes para interação com a audiência também é uma alternativa para programas informativos como de entrevistas ou debates.

3.2 Sherlock Holmes: a game of shadows O aplicativo de segunda tela desenvolvido pela Warner Bros. Entertainment para o filme “Sherlock Holmes: a game of shadows” está disponível apenas para o sistema iOS e em língua inglesa. Apesar dessas limitações iniciais, o aplicativo possui algumas peculiaridades que merecem ser destacadas. Por se tratar de um produto desenvolvido para um filme específico, o conteúdo permanece sempre o mesmo, sem sofrer atualizações ou alterações, permitindo ao usuário acessar e compreender as informações independentemente de estar assistindo ao longa-metragem. Porém, conforme a descrição na App Store9, a sincronização do aplicativo com o filme via blu-ray torna a

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Descrição: A Game of Shadows Movie App to uncover a whole new movie watching experience! Sync the app with your blu-ray movie or your Digital Dowload (only in USA) to explore the world of Sherlock through your ipad. Delve deeper into the reality of Industrial Revolution London revealed through its

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sua utilização uma experiência única, desdobrando o filme em várias seções interativas (Figura 2).

FIGURA 2 – INTERFACE DO APLICATIVO SHERLOCK HOLMES: A GAME OF SHADOWS

Avaliando-o conforme os itens descritos acima, o aplicativo atende completamente a cinco dos sete critérios listados: autonomia, imersão, estética, compartilhamento e disponibilidade de conteúdos. Por se tratar de um filme, os dois itens restantes (interação com o público e interação ao vivo) tornam-se inviáveis. A sincronização entre a primeira e a segunda tela se dá por meio do uso da mesma conexão Wi-Fi no dispositivo móvel e no blu-ray, através de ferramenta de reconhecimento por voz que capta o áudio do filme e o associa a determinados recursos do aplicativo. Também existe a opção de fazer isso manualmente, no caso de o reprodutor não possuir conexão sem fio. O aplicativo possui uma interface fácil de usar e está dividido em seções temáticas, cada uma aprofundada verticalmente em algum tema, como origem do filme, personagens, cenas dos crimes, entre outros. Há também linhas do tempo, galerias de imagens e conteúdo textual, mas em quantidade que avaliamos como superior àquela weapons, crime and sciences. Let the movie mystery unfold through interactive scene breakdowns, character profiles, surveillance videos, script excerpts and more. Disponível em: . Acesso em 29 jul. 2015.

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possível de se ler simultaneamente à exibição do filme. Logo, o produto serve muito mais para uso após o longa do que durante a sua exibição. Ao final da análise, consideramos que o aplicativo não apenas funciona como uma segunda tela, mas também como uma fonte complementar de informações para ser acessada posteriormente. Esse aspecto pode ser aproveitado em aplicativos voltados para o jornalismo, utilizando-se do dispositivo móvel como um meio de disponibilizar um conteúdo em profundidade além do que foi exibido na matéria da televisão. Apenas para exemplificar, um aplicativo de telejornal poderia exibir informações extras sobre as fontes e personagens de determinadas notícias ou contar com uma galeria sobre a produção de algumas pautas, como faz o app do filme Sherlock Holmes.

Considerações O aumento no número de pessoas com acesso à internet e aos dispositivos móveis, e que utilizam estas plataformas concomitantemente a outras mídias, nos reforça a importância de se debater sobre o seu aproveitamento pelos meios de comunicação tradicionais. Como ressaltamos, no caso específico da televisão, a segunda tela mostra-se como uma ferramenta capaz de permitir maior contato e interação das emissoras com a audiência, evitando que esta priorize outros conteúdos em seus smartphones e tablets que não aqueles relacionados à programação televisiva. A busca por aplicativos de segunda tela, entretanto, já revela um horizonte que tem se percebido ao longo de toda a trajetória da televisão: a inovação, a novidade, está primeiramente relacionada ao entretenimento ou ao infotenimento, e somente depois é utilizada pelos telejornais. Isto porque os noticiários trabalham com a credibilidade e têm muito a perder caso alguma mudança não seja aceita pelo público. Mas isto não significa que as produções de lazer, que não têm como essência a notícia, não possam trazer algo positivo ao jornalismo. Pelo contrário. Como percebemos na análise, a segunda tela para transmissões esportivas e até mesmo um filme possui elementos que podem ser testados, adaptados e aprimorados para o uso por telejornais. Na análise foi possível perceber que os aplicativos “Globo” e “Sherlock Holmes: a game of shadows” atenderam à boa parte dos critérios elencados por nós como 12

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necessários à segunda tela, podendo ser caracterizados como eficientes em suas propostas. Porém, cada um apresenta características próprias que os diferem entre si, mas, ao mesmo tempo, não os tornam menos funcionais. Tratam-se de apps de segunda tela com objetivos similares, mas com funções diferentes. Nos dois casos podemos encontrar recursos que podem ser adaptados para uma futura utilização em um aplicativo de segunda tela com conteúdo jornalístico. É o caso dos exemplos citados anteriormente, de notificações na tela do celular com chamadas para notícias em destaque e publicação de informações extras em profundidade para serem acessadas durante ou após a exibição do telejornal. Atualmente, devido à evolução e difusão da tecnologia, o acesso do público aos produtores de conteúdo possui menos barreiras que décadas atrás, quando as únicas formas de contato com as redações eram através de cartas e telefonemas. As emissoras já disponibilizam canais de comunicação via mídias sociais, comentários, e-mails, para que o público opine e sugira pautas, mas a segunda tela pode ser mais uma possibilidade de mais uma via de interação com audiência. Por esta razão, acreditamos que outras iniciativas na área devam ser testadas e aprimoradas, não apenas por empresas, mas também nos laboratórios das universidades. Da mesma forma, o campo acadêmico deve fomentar e valorizar estudos que busquem compreender estes novos fenômenos comunicacionais, aliando teoria e prática.

Referências AFFINI, Letícia Passos; USHINOHAMA, Tatiana Zuardi. Interação via segunda tela: o caso Hannibal. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 36., 2013, Manaus. Anais eletrônicos... Manaus: Intercom, 2013. p. 1-14. Disponível em: . Acesso em: 25 jul. 2015. AGNER, Luiz. Algumas considerações teóricas e práticas sobre arquitetura de informação. In: PINHEIRO, Lena Vania Ribeiro (Org.). Múltiplas facetas da comunicação e divulgação científicas: transformações em cinco séculos. Brasília: Ibict, 2012. p. 267-292. ANDERSON, C.W.; BELL, Emily; SHIRKY, Clay. O Jornalismo Pós-Industrial: adaptação aos novos tempos, Revista de Jornalismo ESPM, 5., abr-jun, p. 30-89, 2013. ARBEX JR., José. Showrnalismo: a notícia como espetáculo. São Paulo: Casa Amarela, 2001.

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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 13º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo Campo Grande – UFMS – Novembro de 2015

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