DO FAZER UM SABER: A CONSTRUÇÃO DO BIOGRAFAR

O presente trabalho apresenta um estudo que tem como objetivo geral compreender a produção de biografias por jornalistas brasileiros, na perspectiva de um fenômeno social e jornalístico, a partir do discurso de autoria sobre a prática jornalística e a contribuição para a evolução do biografismo no Brasil. Por meio da realização de entrevistas com os jornalistas-biógrafos Alberto Dines, Lira Neto, Mário Magalhães, Regina Zappa e Ruy Castro, a investigação problematiza o dizer desse lugar de autoria na constituição de um discurso sobre o fazer jornalístico, como um conhecimento, e a influência desse saber no desenvolvimento de um novo biografismo brasileiro na contemporaneidade. Para tanto, o estudo tem como objetivos específicos compreender a construção de um ofício e um saber a partir da relação de referencialidade entre os jornalistas-biógrafos e o desenvolvimento de um novo biografismo no Brasil; entender a constituição do status de autoria a partir dos percursos desses sujeitos da posição de jornalista e biógrafo e com eles percebem-se nesses lugares; apreender os caminhos da narrativa, da escrita à história de vida, a partir da construção do texto, escolhas e inflexões da escrita de cada jornalista; compreender as nuances da relação entre biógrafo e biografado a partir da escolha do personagem e as dimensões individuais compartilhadas por cada um desses sujeitos; refletir sobre a condição da pesquisadora, como sujeito da pesquisa, na posição de autora, jornalista e pesquisadora no trabalho com a técnica de entrevista em um exercício metodológico-reflexivo sobre a minha própria investigação. Na análise das entrevistas, construiu-se um relato hipertextual articulando as falas dos jornalistas, as reflexões da pesquisa e trechos das biografias citadas para ilustrar a narrativa das produções,  trabalhando a análise em quatro eixos: a construção de um ofício e um saber; o status de autoria: do jornalista ao biógrafo; os caminhos da narrativa: da escrita à história de vida; biógrafos e biografado - a partilha do pequeno x. Ao final da pesquisa pode-se compreender que o ofício de repórter, o saber que esses jornalistas atravessam o seu fazer nessa nova posição de autoria e delimitam um novo território narrativo, o biográfico e, a biografia, por sua vez, redefine a reportagem. Nessa troca, se dá a construção de uma episteme na processualidade das experiências, na carpintaria de cada um desses biógrafos. Além disso, fica clara, que a contribuição desses jornalistas é a sustentação do gênero para os leitores na contemporaneidade, em uma experiência de tessitura narrativa renovada. Das considerações sobre a pesquisa, entende-se que a posição desses jornalistas na autoria está condicionada à posição de repórter que, na ambiência, do gênero biográfico, se coloca, em determinados momentos, como pesquisador - no trabalho com entrevista em profundidade, revisão bibliográfica, uso de notas de referências de fontes -, e como escritor ao explorar uma narrativa criativa. Mas é o repórter quem articula esses outros sujeitos. A reafirmação do lugar de fala como repórter ressalta o saber jornalístico, a prática, como um valor, algo que deve ser diferencial e qualitativo do trabalho. Uma constituição identitária do jornalista. Na pesquisa foi possível identificar que mais que estabelecer um novo lugar de produção, esses jornalistas biógrafos constituem um movimento geracional e uma evolução e renovação do biografar, com o aprimoramento de técnicas e formatos narrativos, trabalho com fontes e composição da obra. Uma reconfiguração do biografismo brasileiro a partir dos saberes da prática jornalística. Por fim, a pesquisa contribui para mostrar as dimensões e a relevância dessa dupla apropriação, da biografia pelo jornalismo e do jornalismo pela biografia a partir dos sujeitos desse espaço biográfico, os jornalistas. Seu ímpeto em explorar as possibilidades dessa narrativa trazem um novo vigor para o gênero e para o campo jornalístico.