Do nacional ao local: a polarização entre PT e PSDB na perspectiva dos eleitores

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Diante da polarização das eleições presidenciais, protagonizada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) desde 1994, este estudo se propõe a investigar se e em que medida tal clivagem se reproduz nos municípios, estruturando percepções e identidades dos eleitores. Este tema remete a diferentes campos da Ciência Política, como os de partidos e sistemas partidários e comportamento político. A literatura, através de autores como Michels (1982), Kirchheimer (1966) e Katz e Mair (1995), aponta as transformações vividas pelos partidos políticos nas democracias contemporâneas, ressaltando o progressivo distanciamento entre as agremiações e as bases sociais, além da desideologização de seus discursos e ações. Tais mudanças dialogariam com características inerentes ao sistema partidário brasileiro que contribuem, para Lamounier (1992) e Kinzo (1993), para a intensa fragmentação, a alta volatilidade e acentuado regionalismo das disputas. Nesse sentido, umas das consequências seria a desarticulação entre as arenas competitivas, favorecendo a existência da racionalidade política contextual nos municípios, como descreve Lima Júnior (1983). O conjunto desses fatores dificultaria o estabelecimento de vínculos entre o eleitorado e os partidos, segundo Mair (1997), uma vez que eles dependeriam da estabilidade entre as atuações das siglas e de maior enraizamento dos partidos. Contudo, Veiga (2007) e Ribeiro, Carreirão e Borba (2011) indicam que as preferências e as identidades partidárias no Brasil, apesar de reduzidas, não são desprezíveis. A literatura sobre socialização política, por sua vez, aponta fatores determinantes para a constituição de tais laços, como os aspectos socioeconômicos, afetivos e racionais. Assim, interessa descobrir como os eleitores estruturam suas percepções perante um cenário em que há um consolidado bipartidarismo nacional, (des)alinhamentos na esfera local e crescente distanciamento entre indivíduos e organizações partidárias. A hipótese é a de que a reprodução da polarização PT-PSDB nos municípios não se estabelece de maneira automática e homogênea, sendo mediada por atributos dos arranjos locais. Assim, espera-se maior rivalidade entre o eleitorado que se encontra em localidades cuja competição se alinha à nacional do que nos municípios em que PT e PSDB estabelecem alianças. Para verificar tal hipótese, desenvolveu-se uma primeira etapa de investigação, que buscou categorizar os municípios de pequeno e médio porte do estado de Minas Gerais, entre o período de 2000 a 2012, de acordo com as seguintes variáveis: comportamento do PT e do PSDB nas eleições majoritárias, desempenho eleitoral de ambos os partidos, organização partidária local e número de filiados no município. Essa análise permitiu selecionar um caso de aliança plena entre os partidos e outro de polarização alta, onde foram realizados três grupos focais com eleitores neutros, simpatizantes e filiados. Os dados coletados permitiram elaborar duas considerações principais: (1) por mais que a clivagem PT-PSDB se reproduza no nível local, ela é mediada por atributos do arranjo político municipal; (2) a aliança local entre PT e PSDB não garante a inexistência de outro tipo de fragmentação e rivalidade e nem implica na incapacidade de os eleitores elaborarem distinções entre os partidos. Nesse sentido, sugere-se a ideia de polarização contextualizada para compreender tal configuração.
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