DO PARADIGMA AO COSMOGRAMA. Sete Contribuições da Teoria Ator-Rede para a Pesquisa em Comunicação.

May 29, 2017 | Autor: André Holanda | Categoria: Epistemología, Teoria Ator-Rede
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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXII Encontro Anual da Compós, Universidade Federal da Bahia, 04 a 07 de junho de 2013

DO PARADIGMA AO COSMOGRAMA. Sete Contribuições da Teoria Ator-Rede para a Pesquisa em Comunicação1 FROM PARADIGM TO COSMOGRAM Seven contributions of Actor-Network Theory to Communication Research André Holanda André Lemos 2 Resumo: O objetivo desse artigo é apresentar a Teoria Ator-Rede (TAR)3 e colocála em discussão no campo da pesquisa em comunicação, mais particularmente nos estudos do jornalismo. Vamos apresentar suas principais características, e conceitos, colocando-os em tensão com o campo jornalístico, principalmente com relação a conceitos fundamentais para uma abordagem epistemológica a fim de sugerir sete contribuições da TAR para este debate. Sustentamos, no final, a necessidade da superação de paradigmas hegemônicos pelo mapeamento das associações: os cosmogramas. Palavras-Chave: Comunicação, Teoria Ator-Rede, Epistemologia Abstract: The aim of this paper is to present the Actor-Network Theory (ANT)3 and put it under discussion in communication research, particularly in journalism studies. We will present its main features and concepts, putting them in tension with the journalism research field, especially regarding the main concepts to inform an epistemological approach as a means to suggest seven contributions of ANT to the debate. We hold, in the end, the need to overcome the hegemonic paradigms in favor of mapping associations: the cosmogrammes. Keywords: Communication, Actor-Network Theory, Epistemology

1. Introdução Este artigo parte do caráter análogo que o trabalho de “dar ciência dos fatos” assume nos campos jornalístico e científico. O objetivo é mostrar como a proposta teórica e metodológica da TAR pode dar valiosas contribuições para a pesquisa em comunicação 4. Apresentamos sete contribuições da TAR para essa área: evitar a purificação dos fatos;

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Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Epistemologia da Comunicação do XXII Encontro Anual da Compós, na Universidade Federal da Bahia, Salvador, de 04 a 07 de junho de 2013. 2 André Holanda é doutorando do PPGCCC/Facom-UFBA ([email protected]). André Lemos é Professor Associado da Facom/UFBA, Pesquisador 1 do CNPq ([email protected]) 3 Em inglês, “Actor-Network Theory” ou ANT. 4 No livro “Pesquisa Empírica em Comunicação”, Compôs 2010, apenas um texto faz referência a TAR. No recente livro da Intercom 2011, “Quem tem Medo da Pesquisa Empírica”, nenhum.

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oferecer um método capaz de ultrapassar delimitações entre natureza, sociedade e discurso; reposicionar o entendimento sobre a mediação; apresentar o discurso midiático como rede de proposições; destacar a necessidade de não se abandonar o empírico em favor de estruturas; mostrar que o papel do analista é mapear redes mobilizadas em determinada ação; e, finalmente, flagrar a constituição interna das caixas-pretas. Concluímos afirmando que a TAR pode ajudar a superar disputas improdutivas e propor novas leituras dos fenômenos sem alimentar fantasias de purificação ou de hegemonia no campo.

2. Teoria Ator - Rede A TAR pode ser definida como uma "sociologia das associações”, ou uma “associologia”, como sugere Bruno Latour (1991). Muitos estudos têm sido feito nessa área (CALLON, 1986; CALLON, LAW, RIP, 1986; AKRICH, CALLON, LATOUR, 2006; BIJKER, LAW, 1994; LAW, HASSARD, 1999; LATOUR, 1991, 1992, 1994, 2005, 2006). Ela afirma que o conhecimento do social só é possível através da identificação das associações de atores, chamados de actantes (GREIMAS, 1974). Actantes são agentes, humanos ou não, mobilizados para a composição de redes temporárias engajadas em programas de ação.

Toda associação deixa rastros, sendo o trabalho do cientista social o

de reconstruí-los e reagrupá-los. O social não é o que abriga as associações, mas o que é gerado por elas. Ele é uma rede que se refaz a todo o momento. Os actantes buscam, com muito esforço, estabilizar essas redes em “caixas-pretas”, instituições, normas, hábitos, estruturas. Essas “pontualizações” não podem ser tomadas como categorias de explicação a priori das associações, mas como consequência temporária de uma rede de distribuição e de estabilização de agências. A dimensão concreta dos rastros filia a TAR à etnometodologia e às pesquisas empíricas. Nesse sentido, a questão central da Intercom em 2011 foi sintomática: “quem tem medo da pesquisa empírica em comunicação?” Perguntar se se tem medo implica reconhecer a carga por demais hermenêutica e estruturalista do campo. Efetivamente, materialidades e etnometodologia não estão entre as áreas mais desenvolvidas. Para a TAR, não é possível compreender o campo social sem descrições das associações e visualizações da distribuição da agência entre actantes (humanos e não-humanos). Estes são aprisionados em

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enquadramentos epistemológicos e metodológicos que tomam o social e a comunicação como contexto. A revelação dos agenciamentos e mediações pode ajudar a compreender os diversos fenômenos da comunicação. A comunicação é constituída por tensões entre humanos e nãohumanos, entre pragmática e tecnologias da comunicação. Mediação e agenciamentos são palavras conhecidas do campo. Os principais conceitos da TAR: actante, rede, mediações, intermediários, traduções, caixas-pretas encontram eco (em menor ou maior grau) em pensadores como H. Innis, M. McLuhan, G. de Tarde, entre outros. Aquilo que Latour chamou de “Constituição Moderna” (LATOUR, 1994) pode ser entendido como o preceito instaurador de um paradigma de purificação: da natureza, da cultura, do sujeito, do objeto. No entanto, a proliferação de híbridos insiste em se expandir misturando tudo. Por conta desta clivagem essencial no domínio da ciência, surge o paradoxo, tipicamente moderno, de se conceber e constituir a mesma como um processo inegavelmente humano que, no entanto, deve ser perfeitamente pura, isenta de interferências (a subjetividade do pesquisador, os interesses dos financiadores, forças históricas, políticas etc). Para Latour, o que caracteriza a modernidade é justamente este paradoxo entre o sonho de purificação dos domínios humano e não-humano e a proliferação inesgotável de híbridos sócio-técnico-naturais, que insistem em atravessar os fronteiras entre natureza, sociedade, ciência, mercadoetc. A melhor forma de descrever os objetos é aceitar seu caráter híbrido e heterogêneo. A partir do princípio da simetria generalizada, Latour propõe que todos os elementos, naturais, técnicos, políticos precisam ser descritos e analisados em um único nível, sem que a realidade de um domínio seja subsumida a níveis superiores ou precedentes que a determinariam. A TAR é uma abordagem teórica em que a ação é provocada não por atores unívocos, mas por composições heterogêneas de associações entre actantes humanos e não-humanos, mobilizados para um determinado programa de ação. O binômio ator-rede “is reducible neither to an actor alone nor to a network” (CALLON, 1989, p. 93). “Essência é existência e existência é ação”, diz Latour (1991, p. 33). O ator-rede é transiente e só persiste enquanto mantem-se as associações entre os diversos actantes mobilizados. O rastro das ações é o que deve ser analisado. Toda ação é produção de diferença; é mediação que deixa marcas. Quando não há diferença, há apenas intermediários.

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Nesse sentido, existem diversos graus de atuação. Ora um elemento da rede é mero intermediário, que transmite informação sem modificar a ação, ora é mediador, modificando substancialmente o resultado da ação. Podemos dizer que um mediador sempre se engaja em um processo de comunicação. Mesmo transiente e precário, o “ator-rede” ganha durabilidade e estabilidade com o fechamento em caixas-pretas. Nelas, os diversos actantes permanecem engajados em uma única ação, podendo ser então tratados com um único ator. É difícil perceber a complexidade interna das caixas-pretas já que ela é “taken for grated”, se desloca para um fundo transparente ou estável demais para ser notado. No entanto, determinadas circunstâncias podem abrir as redes: quando uma das peças de uma máquina deixa de funcionar, ou quando uma controvérsia torna um conceito problemático e disputado. O defeito ou a controvérsia abrem as redes revelando associações complexas, expondo o que até então estava estabilizado, aceito ou invisível. A caixa-preta pode ser entendida como uma associação temporária estabilizada de “dispositivos” (técnicas, projetos, legislação, normas, hábitos, etc.).

3. Primeira Contribuição. Contra a pureza dos Fatos A pureza dos fatos é a pedra de toque das aspirações de desvelamento, tanto no campo científico, quanto no jornalístico. Revelar os fatos na sua nudez lógica e necessária é a essência mesma da missão purificadora de “dar ciência dos fatos”. Eis a primeira contribuição trazida pela TAR: a purificação dos fatos não é a melhor abordagem nem do trabalho, nem da pesquisa em comunicação. Muito esforço é realizado internamente por cada uma das escolas de pensamento no sentido de produzir e manter barreiras contra abordagens concorrentes, criando competição em torno da definição dos objetos, dos problemas de pesquisa e dos métodos válidos para estudar os fenômenos da Comunicação. Surge daí uma contradição interessante. Como a academia se divide em estudos que privilegiam isoladamente cada um dos elementos do processo de comunicação, os quais passam a ser vistos como objetos de estudo autônomos (purificados de suas conexões com os demais), estas escolas precisam tomar de empréstimo metodologias de outras disciplinas, gerando objetos de estudo e pesquisas cada vez mais

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híbridos. O sonho de purificação termina em uma vasta proliferação de híbridos (sociologias, semióticas, economias políticas... da comunicação). Para a TAR, atravessar estas fronteiras é exigência obrigatória, já que as consequências da “constituição moderna” são inúmeras. Em primeiro lugar, da separação dos domínios da natureza e da sociedade surge a repartição dos poderes entre ciências naturais e política. O poder científico fica encarregado de representar os objetos e o poder político de representar os sujeitos. No âmbito da comunicação, estas contradições se revelam nos eternos debates entre o papel da materialidade dos meios e das pressões sociais, culturais e econômicas que os querem mobilizar para seus próprios programas de ação. Para citar um exemplo recorrente, grandes controvérsias ocorrem entre abordagens de construtivismo social, economia política e determinismo tecnológico em torno da influência da disseminação de novos meios de comunicação na sociedade (LEMOS, 2012).

4. Segunda Contribuição. As redes atravessam fronteiras A “constituição moderna” vai implicar a definição de uma das fronteiras mais tradicionais no campo da comunicação: a separação artificial entre a natureza dos meios, o poder que os mobiliza e os discursos que realizam. A posição da TAR é que não há fenômeno que não rompa estas fronteiras arbitrárias. Ela defende que todas as redes de atores, incluindo aí a comunicação, atravessam livremente quaisquer fronteiras artificiais entre natureza, sociedade e discurso. O trabalho do analista é deslocar-se por estas divisões, seguir os actantes, mapear os rastros em uma busca contínua das associações criadas. O método é simultaneamente construtivo, empirista e político. A segunda contribuição da TAR está em oferecer métodos capazes de ultrapassar estas delimitações. Em seu primeiro século de existência, a pesquisa científica em Comunicação Social se caracteriza por uma crescente diversificação. Os traços dominantes são a controvérsia, que é necessária e salutar em se tratando do trabalho científico, e a dispersão dos esforços, que pode ser negativa. Para Luis Martino, esta dispersão estaria ligada a duas fragilidades: a pouca autonomia do campo e o “embotamento” da dimensão epistemológica desta pesquisa 5. Ele afirma: 5

Muniz Sodré apresentou a mesma tese na aula inaugural, “O Campo Científico da Comunicação”, no PPGCCC/FACOM/UFBA, novembro de 2012.

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Privado de uma reflexão sobre a especificidade da área, o pensamento comunicacional irá se desdobrar em múltiplas frentes de análise e mobilizar os mais diversos recursos teóricos, requisitados de praticamente todas as áreas do conhecimento. (...) O embotamento da dimensão epistemológica explica facilmente, então, a incrível diversidade teórica que irá se instalar, (FERREIRA e MARTINO, 2007, p. 98-99).

Este diagnóstico é compartilhado por Maria Immacolata Vassallo de Lopes e José Luiz Braga em livro dedicado à “Pesquisa Empírica em Comunicação” (BRAGA, LOPES e MARTINO, 2010). Nos estudos reunidos nesse livro, que reproduzem a diversidade temática e metodológica da área, o fechamento do campo aparece repetidamente como solução para a dispersão dos estudos. Nem a epistemologia tradicional, nem a autonomia do campo pela via da purificação metodológica podem resolver este dilema. Podemos supor, a partir da TAR, que este esforço de purificação do campo é a causa da proliferação de hibridismos com outras ciências. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que esta dispersão começa pela própria relação entre as diferentes habilitações. Jornalistas, publicitários e relações públicas não estudam as mesmas coisas, raramente dialogam profissional ou academicamente, e muito raramente discutem as questões da ciência. Tal segmentação não é acidental, nem foi gerada de por algum determinante externo. Muito pelo contrário, ela tem sido uma exigência permanente da maioria dos pesquisadores de jornalismo neste país, como relata José Marque de Melo (2009, p. 222). Este ideal de autonomização dos estudos de jornalismo é muito antigo. Na visão excessivamente otimista do pioneiro alemão Otto Groth, que nas primeiras décadas do século XX estabeleceu as bases da sua Zeitungswissenschaft, “a Ciência dos Jornais teve que conquistar, passo a passo, um espaço entre as ciências e carrega até hoje marcas nítidas da luta pelo seu reconhecimento” (GROTH, 2011, p. 30). Para que os estudos do jornalismo pudessem exigir a definição de uma ciência “própria”, três elementos eram essenciais: um objeto próprio, um método específico e uma sistematização do próprio conhecimento. É fácil perceber que quase um século depois, nenhum dos três requisitos pôde ser cumprido integralmente. Para Groth, duas interrogações fundamentais desafiam o jornalismo: Se o poder humano pode constatar os fatos objetivamente; e quais as condições que impedem a objetividade do jornalista. Tudo se passa como se mercado e arena política, em especial os “interesses” e o “poder econômico”, fossem permanentes ameaças à pureza ética do trabalho. O paradoxo é,

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obviamente, que o veículo jornalístico raramente deixa de ser um agente econômico tão mais importante quanto mais capitalizado, e um agente político tão mais relevante quanto mais influente na arena política. Isso significa que o seu capital social, mas não só este, vem invariavelmente de outros domínios. Os profissionais no mercado de trabalho cultivam o relato heroico da profissão: frente aos poderes que ameaçam a cidadania e a democracia, eis que o jornal surge como o “quarto poder” que vigia e torna transparentes os outros poderes. Os jornalistas seriam os “watchdogs” da democracia. O papel do jornalismo frente à democracia é um dos temas mais comuns da tradição americana dos estudos de comunicação, tendo sido debatido no passado por nomes como Joseph Pulitzer, Walter Lippmann e John Dewey em controvérsias que se tornaram clássicas da área, e que continuam em discussão (KOVACH e ROSENSTIEL, 2001). Pulitzer, fundador da primeira escola de jornalismo, defendia tanto a necessidade de uma faculdade especializada, quanto a independência da profissão com relação às considerações comerciais. Sua atitude francamente purificadora fica registrada no texto histórico de 1904 (PULITZER, 2009). Por outro lado, Lippmann alertava, em 1922, para a incongruência provocada por esta visão no célebre livro “Opinião Pública” (2008). Para ele, esta perspectiva mística, quase religiosa, da busca da verdade pelo jornal termina menosprezando o seu valor ao invés de elevá-lo. O jornal - este relatório fundamental para o governo dos assuntos humanos, a atuação política, a divulgação da cultura - vale hoje mais ou menos o mesmo que o (questionável) serviço prestado por um guardador de carros. O problema tratado por Lippmann é justamente o significado da mediação realizada pelo jornalismo. Para todos os que persistem em uma visão da mídia como idealmente transparente, ou como um mero espelho da realidade, a mediação precisaria ser inexistente ou inócua. Notícia e acontecimento precisariam ser idênticos para que, face à primeira, se pudesse ter um conhecimento “imediato” do segundo. Lippmann se colocava contra este preconceito já em 1922: “A hipótese que me parece mais fértil, é que as notícias e a verdade não são a mesma coisa e precisam ser claramente distinguidas” (LIPPMANN, op. cit., p. 304). Mesmo hoje, quando a maior parte da academia concorda que a notícia é construída no processo de mediação, que necessariamente envolve alto grau de interferência, seleção e elaboração do relato sobre a realidade, persiste a cobrança de transparência como única

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garantia possível da pureza do trabalho de transmissão de uma verdade (evidente e inequívoca). Por conta desta persistente incompreensão do real sentido da mediação, surge este estranho complexo da mídia noticiosa calcado em um duplo vínculo insolúvel: para a maior parte do público e dos críticos, a mídia se define por mediar o acesso à realidade social, mas, ao cumprir com o seu papel, não pode interferir com a comunicação da verdade, o que esvazia completamente o valor o sentido daquele processo de mediação. A responsabilidade pela manutenção da fantasia é, em primeiro lugar, da própria mídia, uma vez que “os próprios meios de comunicação se apresentam como transmissores da realidade social” como aponta Alsina (2009, p. 9). Se os meios são meros intermediários no trânsito das notícias, os jornalistas são meros “mensageiros” e subentende-se que não podem interferir no livre curso da notícia. Porém, cabe questionar, a se crer nisto, qual é a contribuição do jornalista? Para que serve este estranho e elaborado esforço para mediar, sem fazer diferença? É fácil notar que este dilema é o mesmo enfrentado pela ciência em geral, frequentemente denunciada pelo crime imperdoável... ser ciência, ou seja: ser pesquisa, experimento, debate e controvérsia. A solução para vencer o dilema é encarar a construção da verdade através do processo de mediação. Mas não se trata aqui da proposta de trocar o estudo dos meios pelo estudo das mediações, como propõe Martín-Barbero (2003). Os estudos das mediações, como aqueles dos processos sociais, históricos, econômicos e políticos são indispensáveis, mas não ao custo de sacrificar os estudos da materialidade dos meios, da semiótica das mensagens, ou dos processos de recepção e construção de sentido. Não se trata de trocar um campo pelo outro, mas de atravessar a fronteira imaginária reconectando os meios na sua materialidade, as mensagens na sua expressividade, os processos sociais que com estas interagem, sem esvaziá-los dos agentes humanos que fazem funcionar a recepção. Vejamos as posições de Lippmann e Dewey sobre a constituição do público com os processos midiáticos, analisadas por N. Marres (1995). Para Lippmann e Dewey em suas obras “The Phantom Public” e “The Public and its Problems”, respectivamente, o problema nas democracias contemporâneas não é de informação selecionada, contextualizada e digerida. A democracia não deve ser uma forma política para evitar controvérsias, trabalhar informações e adestrar cidadãos, mas uma prática que acolha conflitos. É aqui que o público

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aparece e entra no debate. O público é virtual, abstrato. Nesse sentido, podemos ver Lippmann e Dewey como precursores da TAR já que o público é um actante que se atualiza nas associações criadas por uma controvérsia.

5. Terceira Contribuição. Mediação é sempre deslocamento e transformação Para a TAR, intermediário é quem realiza uma tarefa em perfeita obediência ao programa, transmitindo a informação sem alterar seu conteúdo, sem contribuir ou enriquecer a comunicação. Já o mediador é o actante, rede, evento que modifica e é modificado. O resultado da interação só se completa com o concurso da sua ação. Sua substituição acarreta invariavelmente uma mudança no resultado. Mas não há essência. Nada impede que o mesmo actante seja intermediário em um dado momento. Ser mediador ou intermediário não são características essenciais dos elementos das redes, mas papéis assumidos na associação. O jornalista pode divulgar comunicados oficiais, como um mero porta-voz, ou ainda escrever editoriais com os quais não concorda em nome do veículo para o qual trabalha, constituindo-se como mero intermediário entre os autores do discurso e o público. Mas ele pode, por outro lado, questionar e levantar contradições capazes de derrubar versões autorizadas dos acontecimentos, assumindo sua condição de mediador. O veículo pode ser um mero intermediário para os programas do setor comercial, o interesse do patrão, ou das suas alianças políticas. Mas pode ser um mediador cujas jogadas podem alterar os rumos dos jogos políticos ou econômicos. O significado profundo desta terceira contribuição pode ser dito da seguinte forma: a mediação é sempre tradução e, portanto, um deslocamento do sentido. Quando não se considera a mediação como característica central do trabalho da mídia, esta termina sendo criticada ora por deixar passar o discurso do poder, revelando-se um mero intermediário, ora pela razão oposta, por tornar explícita a sua interferência (infidelidade). Estudando a construção de fatos científicos, a TAR define o estabelecimento da verdade dos fatos como um processo de construção de uma rede de proposições, argumentos e inscrições obtidas pela mediação de métodos e técnicas específicas. Estas inscrições seriam traduções, tanto dos fatos observados, dos dados consultados em outras fontes, coletados por outros atores e finalmente, o que é mais comum em ciências humanas, dos relatos de informantes, analistas ou porta-vozes autorizados. Este trabalho de coleta de inscrições

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objetiva a composição de uma rede de elementos humano e não-humano responsáveis por diversos graus de mediação e tradução da realidade. A verdade do fato estará na estabilidade do seu enunciado. Ela será destituída se novas mediações produzirem outro enunciado mais forte (LATOUR, WOOLGAR, 1986). O repórter vai a campo como o pesquisador, utiliza materiais e métodos mais simples, porém análogos aos da pesquisa científica, e com o mesmo objetivo de dar ciência ao público da realidade enquanto atualidade. O objeto de estudo não se confunde, portanto, com o objeto do “mundo real”, não por estar preso à subjetividade do observador, mas por se tratar de uma construção a partir das inscrições realizadas por dispositivos. Na academia, as divergências quanto à definição do trabalho jornalístico dizem respeito mais frequentemente à “matéria-prima” do processo, tradicionalmente definida como “o acontecimento” ou “os fatos”. A experiência empírica mostra que o jornalista não costuma ser “testemunha ocular da história”, e nem precisaria sê-lo. Normalmente o repórter se vê às voltas com relatos sobre os fatos, coletados em entrevistas e contrapostos uns aos outros a fim de eliminar incoerências. Ele interage com a mediação de outros atores, responsáveis pelas suas próprias traduções dos fatos. Não faz sentido supor que o repórter precise testemunhar os acontecimentos para apreender os fatos e produzir a notícia, como mostrava Lippmann há quase 100 anos (2008, p. 289). Para a TAR, “dar ciência”, seja no jornal, seja no laboratório, é compor uma rede de proposições conectadas de forma a reforçarem-se mutuamente, inclusive com o recurso explícito ou implícito a dados, informes e resultados de testes, assim como outras inscrições e registros que traduzem os dados em fatos comunicáveis (Latour, 2001, p. 284). Não há lugar para nostalgia com relação à perda dos “fatos duros”, ou ao princípio norteador do jornalismo de “get the (facts/story/news) straight”. A perspectiva apresentada aqui não busca “endireitar os fatos”, mas encadeá-los em redes o mais resistentes possível aos testes da opinião pública. Como questiona Latour, “quem precisa dos fatos duros?” (LATOUR, 2000, p. 336 et seq). Para o autor, as duas tarefas de coleta de informações e disseminação das notícias apresentam uma contradição intrínseca. O paradoxo dos construtores de fatos é ter de, simultaneamente, aumentar o número de pessoas que participam da ação – para que sua alegação se dissemine – e diminuir o número de pessoas que tomam parte da ação – para que ela se dissemine como está (LATOUR, 2000, p. 339). A prova de resistência é o fator

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responsável por “endurecer” os fatos. Os debates científicos, como os julgamentos no tribunal, põem à prova as alegações dos proponentes com o intuito de declarar a vitória da verdade, nunca desvendá-la ou descobri-la. A composição de uma rede de evidências, testemunhos e argumentos, tão firmemente interconectada pelos promotores da verdade que suas associações não possam ser desfeitas pelos adversários, é a chave da vitória nos tribunais da verdade, seja no âmbito da justiça, da ciência ou do jornalismo.

6. Quarta Contribuição. A credibilidade é estabilização temporária da composição A vantagem da TAR frente às perspectivas construtivistas está em não colocar acima da rede de actantes determinantes como o contexto social, a infraestrutura de produção ou a cultura como os reais agentes de quem o conteúdo é recebido. Este procedimento de apelo a determinantes externo faz parte do problema que analisamos e não da sua solução. Podemos aqui estabelecer a quarta contribuição da TAR: a credibilidade do discurso midiático é produzida pela composição da matéria jornalística como uma rede de proposições, construída de modo a resistir às críticas (provas de resistência), a partir da constituição de uma rede de referências que confirmam, e explicam uma única proposição de verdade. Com a hibridização multidisciplinar da Comunicação, a rejeição de cada abordagem pelos vizinhos de campo é intensificada pelo recurso ao repertório metodológico e conceitual de outras ciências já estabelecidas. Com a mobilização destas redes, a dita abordagem tornase mais potente frente às concorrentes. Ela torna-se mais resistente às objeções, que passam a desafiar os pressupostos, teses e resultados já endurecidos pelas provas realizadas nos outros campos. Por outro lado, ela torna-se mais exigente na admissão dos questionamentos, argumentos e refutações feitas pelos seus concorrentes, que passam a ser medidas frente a outros critérios de coerência. Assim, por exemplo, a análise de discurso passa a exigir da sociologia da comunicação maior rigor no falar da produção de sentido, e a segunda passa a cobrar da primeira uma perspectiva tão sofisticada da sociedade quanto a que ela própria utiliza. O lado positivo desta dinâmica de hibridização é a riqueza multidisciplinar. O lado negativo é que nem tudo que é multidisciplinar é interdisciplinar. O preço desta dinâmica é que só poderá haver diálogo verdadeiro entre escolas que possam concordar sobre como validar reciprocamente estudos e resultados. Para as escolas que habitam cosmos distintos, não há escapatória à

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incomensurabilidade nos confrontos entre paradigmas. Resta aos contendores denunciar e diagnosticar, como desviante ou destituído de sentido, tudo aquilo que não se encaixa no seu próprio cosmos. Aqui também a TAR pode desatar os nós disciplinares e encontrar possibilidades novas de mobilização da pesquisa, sem submeter os actantes a determinações externas. Para a TAR, o mapeamento das associações e das mediações dos atores não pode ser abandonado em prol da ação de estruturas exotéricas que agem a partir de fora. Só os rastros empíricos informam e interessam.

7. Quinta Contribuição: Jamais abandonar o empírico em favor de estruturas Mesmo sem recorrer a construções como o capital, o social, as estruturas e os sistemas, tentativas mais recentes e mais sofisticadas foram feitas na tentativa de articular os âmbitos micro e macro da sociedade. No entanto, essas abordagens apenas recolocam mais longe o velho problema das escalas. Para a TAR, não bastam dialéticas entre interação local e estruturas globais. Como mostra Latour: Social scientists soon realize that the local situation is exactly as abstract as the so called „macro‟ one from which they came and they now want to leave it again for what holds the situation together. And so one ad infinitum. It seems to me that ANT is simply a way of paying attention to these two dissatisfactions, not again to overcome and to try to explore the very conditions that make these two opposite disappointments possible (Latour, 2006, p.17).

Eis aqui a quinta contribuição: a vantagem de jamais abandonar o empírico em favor de estruturas (ou estruturações dialéticas entre o local e o global). A rede global é necessariamente local em cada uma das suas partes, em cada uma das suas associações. Para Latour, “localizadores”, “articuladores” e “plug ins” são sempre mobilizados “achatando” o espaço, vinculando local e global de forma dinâmica em uma topologia plana (2005, p. 194). O importante é estar atento ao que circula, à redistribuição de tempos e lugares em um espaço-rede sem escalas. Assim podem-se detectar diversas entidades que se deslocam e cujos deslocamentos eram dificilmente detectáveis pelas escalas artificiais (macro ou micro).

8. Sexta Proposição: do paradigma aos cosmogramas

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A pesquisa em comunicação se caracteriza como um conjunto de atores (coletivos) com diferentes programas de ação e que, a partir da construção dos seus objetos, métodos e sistematizações, colaboram e competem por atenção e credibilidade através das controvérsias científicas ativas em cada período. Suas proposições são submetidas a provas de resistência que alimentam a própria rede em caso de sucesso, alimentam redes antagônicas em caso de fracasso, ou ainda outras, suas sucessoras teóricas, para novas traduções quando se mostram insuficientes ou aproximativas. O esforço destes atores consiste em completar e comunicar seus achados, os quais estão necessariamente conectados a outros trabalhos, refutando-os, confirmando-os ou apoiando-se neles para sustentar suas próprias afirmações. O resultado da conexão entre estes actantes é uma rede que poderemos chamar de “abordagem x” ou mesmo “teoria x”, desde que convencidos da coerência e solidez das suas conexões. A dinâmica das controvérsias atende à perspectiva baseada no teste de falseamento de Karl Popper (2007), desde que se leve em conta que não há juiz, júri, nem julgamento isento a que recorrer. Esse processo coloca em jogo redes muito maiores de actantes e projetos. Não chamaremos estas redes de paradigmas, mas diremos que constituem cosmogramas, o que traz a vantagem de estar completamente disponível à análise empírica graças à sua topologia plana. Surge daí a sexta contribuição da TAR, traduzindo as grandes questões epistemológicas da seguinte forma: o papel do analista é mapear as redes de associações entre os actantes mobilizados para determinados programas de ação, de acordo com estratégias para suportar provas de resistência (tentativas de falseamento por programas adversários), anotando cada conexão de acordo com os papeis que assumem nas delegações, mediação ou intermediação, de modo a visualizar o cosmos desenhado por estas associações. O paradigma é o frame, o enquadramento teórico estabilizado. O cosmograma é o movimento e o desenho da distribuição da agência. Nesse mapeamento todos os atores-redes considerados relevantes ganham sentido. Os cosmogramas, como os paradigmas, tendem a estabilizar-se como caixas-pretas, ou seja, arranjos com maior coerência, resistência e durabilidade. Mas o cosmograma é menos abstrato já que deve ser o diagrama das mediações. O paradigma é a mediação transformada em um “modelo” geral. Com o cosmograma ganhamos o movimento.

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Cada cosmograma é resultado de um trabalho de construção animado por certo programa de ação. No entanto, isto não serve como denúncia de manipulação, nem implica, por outro lado, um relativismo absoluto. Tudo começa nos rastros coletados, nos dados empíricos. Desta forma, a rede permanece presa à realidade, mesmo que composta por deslocamentos, traduções e composições heterogêneas. É esta consistência de referências circulantes que garante cada proposição, não sua coerência interna. São as associações que permitem a cada ator-rede resistir às provas de resistência, críticas, ou tentativas de falseamento. A garantia metodológica de coerência reside no fato de que este trabalho deve seguir sem jamais abandonar o “rés do chão”, buscando revelar as agências distribuídas em uma rede achatada, sem escalas, em que todos os actantes estejam no mesmo nível. Desenhando cosmogramas, o analista não precisa recorrer a estruturas, sistemas, contextos ou poderes em outros níveis, que eliminem e obscurantizem as redes e as conexões. A tarefa é percorrer a rede, seguir os actantes, como insiste Latour; ou as ações (o verbo), como propõe Shiolin (2012). A disputa entre paradigmas é sempre importante, mas não explica à distância, de cima para baixo, o desenrolar do debate científico. Com o paradigma vemos apenas a caixapreta. Com o cosmograma aponta-se para a sua formação. Um é geral e estático. O outro é empírico e fluido. Como se pode ver, um elemento fundamental para este tipo de análise é a controvérsia entre atores concorrentes. O seu valor reside em expor a complexidade, a variabilidade e a ambiguidade que a necessária coerência interna característica dos cosmogramas escondia como necessidades lógicas. Trata-se de visualizar novamente como problemático aquilo que se assumiria como dado. Com a “cartografia de controvérsias” (VENTURINI, 2010, 2012) busca-se flagrar a construção e a mobilização de argumentos e actantes onde as respectivas redes fingiam apresentar apenas a natureza das coisas, as essências, as estruturas. Pode-se assim transformar “matters of fact” em “matters of concern”, como propõe Latour. Cada proposição de verdade mobilizada para constituir um dado cosmograma parecerá inquestionável, uma vez que amarrada pela coerência geral do cosmos em que passa a ganhar sentido. Desamarrar os laços que dão consistência à realidade é necessariamente uma tarefa difícil. Porém, duas oportunidades apresentam-se: testemunhar e registrar as estratégias dos atores na constituição de uma rede, percebendo como são fechadas essas caixas-pretas, ou

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flagrar estas caixas-pretas abertas e voltar a ver as diversas estratégias de ação, os conflitos escondidos pela coerência do cosmos que está sendo estudado.

9. Sétima Contribuição. Identificar e abrir caixas-pretas Daí surge a sétima e última contribuição: um método desenhado para flagrar a constituição interna das caixas-pretas, sem que a sua consistência pareça naturalizada pela coerência do cosmograma. Antes do fechamento das caixas-pretas, durante o projeto e desenvolvimento do objeto em questão (seja ele uma lei, um veículo noticioso, um dispositivo técnico, uma reportagem, um partido político, um concerto sinfônico), o ideal é o recurso à etnometodologia como forma de acompanhar os atores, compreender seus programas de ação, a sua mobilização, as formas de mediação e a constituição da rede. Após o fechamento ainda é possível recuperar a constituição da rede. Uma genealogia do objeto, a recuperação histórica e bibliográfica de programas de ação através dos seus diversos registros permite revelar a constituição interna de uma caixa-preta. Toda a pesquisa genealógica, histórica, todo livro-reportagem, ou documentário histórico cumpre este papel. O livro fundador da TAR, “A Pausterização da França” (LATOUR, 1988) é um exemplo. Finalmente, ainda é possível abrir as caixas-pretas, quando o seu projeto é colocado em crise por um fator externo, um programa adversário, uma teoria crítica, uma facção divergente, ou seja, sempre que se questionar o que parecia natural ou recuperar o que havia de problemático em uma rede estabilizada. Neste caso, a “cartografia de controvérsias” pode ser aplicada de modo a reconstituir como disputa os dois programas de ação, já que a defesa do objeto disputado implica a mobilização da sua rede para fazer face à crítica. As estabilidades serão postas em crise. As caixas-pretas serão abertas, por um lado ou pelo outro. A controvérsia é já em si a abertura da caixa-preta.

10. Conclusão Seja através da pesquisa etnográfica, da genealogia histórico-documental ou do mapeamento das controvérsias, a TAR pode contribuir para as ciências da comunicação e particularmente para a teoria do jornalismo. Ela pode ajudar a superar muitas disputas improdutivas, recuperando importantes contribuições passadas e aumentando a nossa capacidade de propor novas leituras dos fenômenos da comunicação social, mais ancoradas

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na experiência empírica, e mais criticamente aguçadas, sem alimentar novas fantasias de purificação do campo.

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