Do Sul ao Norte. Metodologias Participativas desde a Sociopráxis. La Paz desde la Perspectiva Sociopráxica: Paz Transformadora (y Participativa)

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Orgs: Nara Vieira Ramos & Tomás R. Villasante

Organizadores: Nara Vieira Ramos Tomás R. Villasante

DO SUL AO NORTE, METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS DESDE A SOCIOPRÁXIS DE SUR A NORTE, METODOLOGÍAS PARTICIPATIVAS DESDE LA SOCIOPRAXIS

1a. Edição

São Borja Editora Faith 2015 1

Do sul ao norte - metodologias participativas desde a sociopráxis Direção Geral Caroline Powarczuk Haubert Revisão Lucas Andrade Ananias Ilustração Triângulo 4a Capa: Paulo Montesdeoca Capa: Diagramação Editora Faith Corpo Editorial Prof. Dr. ALFREDO ALEJANDRO GUGLIANO - UFRGS Prof. Dr. DEJALMA CREMONESE - UFRGS Profa. Dra. ELISÂNGELA MAIA PESSÔA - UNIPAMPA Prof. Dr. FERNANDO DA SILVA CAMARGO - UFPEL Prof. Dr. GABRIEL SAUSEN FEIL - UNIPAMPA Profa. Dra. PATRÍCIA KRIEGER GROSSI - PUC Prof. Dr. RONALDO B. COLVERO - UNIPAMPA Profa. Dra. SIMONE BARROS OLIVEIRA - UNIPAMPA Profa. Dra. SHEILA KOCOUREK - UFSM Prof. Dr. EDSON PANIAGUA - UNIPAMPA Profa. Dra. MARIA DE FÁTIMA BENTO RIBEIRO – UFPEL Prof. Ph.D. Dr. Phillip Vannini - ROYAL ROADS UNIVERSITY, CANADÁ Prof. Dr. NICO BORTOLETTO - UNIVERSITÁ DI TERAMO

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

S949

Do Sul ao Norte, metodologias participativas desde a sóciopráxis: de Sur a Norte, metodologías participativas desde la sociopraxis / Nara Vieira Ramos, Tomás R. Villasante; (organizadores) . São Borja, RS: Faith, 2015. [180p.]

ISBN:978-85-68221-09-9 1.Metodologia Participativa 2.Pesquisa Social 3.Venezuela 4.Democracia 5.Cidadania 6.Sóciopraxis I. Ramos, Nara Vieira II.Villasante, Tomás R. III.Título CDU:303.02:001.891.5 Ficha catalográfica elaborada por Dayse Pestana – CRB10/1100

Site: http://www.editorafaith.com.br 2

Orgs: Nara Vieira Ramos & Tomás R. Villasante

Autores: Andrea Lucia Torres Amorim: Médica; educadora popular; especialista em Saúde da Família e terapia sistêmica; terapeuta comunitária; mestrado em Ciências da Saúde e doutoranda em Saúde Coletiva (UNIFESP); atuação como educadora e como clinica com comunidades indígenas, população de favelas, regiões rurais e atualmente população em situação de rua. Claudia Giménez Mercado: Socióloga (Universidad Católica Andrés Bello, Caracas, 1993) y Demógrafa (Université Catholique de Louvain, Bélgica, 1997). Profesora del Departamento de Planificación Urbana, Universidad Simón Bolívar (Caracas). Investigadora acreditada en Venezuela por el Programa de Estímulo a la Innovación e Investigación. Miembro del Centro para la Promoción del Desarrollo Humano (Instituto de Estudios Regionales y Urbanos-USB). Áreas de investigación: Calidad de vida urbana, planificación urbana participativa. Esteban Andrés Ramos Muslera: Licenciado en Ciencias Políticas por la Universidad Complutense de Madrid, Magíster en Investigación Participativa para el Desarrollo Local por la misma Universidad y Doctor en Paz, Conflicto y Cambio Social por la Universidad de Valladolid. En los últimos años ha realizado diferentes investigaciones en el campo de la paz y los conflictos en Andalucía (España) y en el Suroccidente colombiano, donde ha impulsado numerosos procesos participativos encaminados a la construcción de paz. En la actualidad, es consultor en el Instituto Universitario de Democracia Paz y Seguridad de la Universidad Nacional de Honduras (IUDPAS-UNAH). Juan Carlos Rodríguez Vásquez: Urbanista (Universidad Simón Bolívar, Caracas), Magíster en Planificación del Desarrollo Urbano-Regional (Universidad Central de Venezuela). Profesor Titular del Departamento de Planificación Urbana (USB). Áreas de investigación: Desarrollo humano sostenible, planificación urbana participativa. Cincuenta publicaciones en el área. Loli Hernández Hernández: Trabajadora Social. Trabajo comunitario y participativo. Ex-profesora Universidad La Laguna (Canarias). Asesora y pro-

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motora procesos participativos, especialmente en temas de mujer y en las realidades rurales. Pertenece al Observatorio Internacional de Ciudadanía y Medio Ambiente Sostenible (CIMAS). Nara Vieira Ramos: Doutora em Educação pela UFRGS - UFRGS, Pós Doutorado em Metodologias Participativas realizado na UCM – Espanha. Professora Associada I do Depto de Fundamentos de Educação, do Centro de Educação, UFSM. Professora Permanente do Programa de Pós Graduação em Educação, na Linha Práticas Escolares e Políticas Públicas. Líder Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Infâncias, Juventudes e suas Famílias – GEPIJUF e Pesquisadora do grupo de pesquisa FILJEM. Coordenadora do Projeto Portal EMdiálogo na UFSM. Coordenadora Institucional do Pacto Ensino Médio na UFSM. Membro da RedCIMAS. Membro do Grupo de Investigación Cambio Educativo para la Justícia Social - GICE da Universidade Autônoma de Madri. Pedro Martín Gutiérrez: Doctor en Sociología por la Universidad Complutense de Madrid y profesor de la Universidad de Valladolid, ha coordinado durante una década el Magister en Investigación Participativa para el Desarrollo Local – UCM y es miembro fundador de CIMAS (Observatorio Internacional de Ciudadanía y Medio Ambiente Sostenible) Tomás Rodríguez Villasante: Profesor Emérito de la Universidad Complutense de Madrid. Co-fundador del Observatorio Internacional de Ciudadanía y Medioambiente Sostenible - CIMAS. Profesor Prometeo Sênior adscrito a la investigación en el Programa ACORDES, Universidad de Cuenca (Ecuador).

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Sumário Apresentação ...................................................................................................... 9 Cap. 1 - Processos Participativos: Transformar para Educar - Nara Vieira Ramos...............................................................................................................13 Introdução .................................................................................................. 14 As Metodologias Participativas e suas Possibilidades ................................... 16 As Metodologias Participativas: Experiências em Entrevias (Bairro de Madri) e Zarzalejo (Serra de Madri - Espanha) a partir da Inserção de Jovens. ........ 23 Considerações .................................................................................................. 31 Referencias ....................................................................................................... 32 Cap. 2 - Enfoque de Capacidades y Participación - la Contribución de la SocioPraxis - Reflexiones desde la Experiencia Venezolana - Claudia Giménez Mercado, Juan Carlos Rodríguez Vásquez ........................................................................ 35 Introducción ............................................................................................... 35 La Idea de Democracia en el Pensamiento de Amartya Sen ........................ 38 Democracia Deliberativa ............................................................................. 42 La Sociopraxis: una Aproximación Teórica-Metodológica Participativa ¿Deliberativa?.............................................................................................. 45 Propuestas integrales sustentables. En el momento propositivo .................. 56 La Participación Ciudadana en Venezuela: Marco Político-Institucional, Principales Figuras, Alcance, Debilidades y Fortalezas ................................ 57 Consideraciones ............................................................................................... 64 Referencias ....................................................................................................... 66 Cap. 3 - La Paz desde la Perspectiva Sociopráxica: Paz Transformadora (y Participativa) - Esteban Andrés Ramos Muslera ............................................... 71 A Modo Introducción. Conceptualizaciones de la Paz: Paz Negativa, Paz Positiva y Paz Imperfecta ............................................................................ 71

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Primera fase: Paz Negativa .......................................................................... 72 Segunda fase: Paz Positiva ........................................................................... 73 Tercera fase: Paz Imperfecta ........................................................................ 76 La Paz Transformadora (y Participativa) ..................................................... 78 Sociopráxis y paz: la naturaleza práxica del ser humano .............................. 79 La relación entre convivencia humana, necesidades y paz ............................ 87 Conceptualización de la Paz Transformadora (y Participativa) .................... 92 Referencias ....................................................................................................... 95 Cap. 4 - Uma Escola Além dos Muros. O que Aprender: Saltar, Derrrubar, Ignorar, Provocar Rachaduras? - Andrea Lucia Torres Amorim, Ana Cristina Bretas ... 97 Brasil, Junho de 2013, o Fio da Navalha .................................................. 105 Crise ou Estafa? “Spanish Revolucion”, Ruas em Ebulição. ....................... 107 Tentamos Espiar pela Fresta: O que Fazer Diante dos Muros? .................. 108 Da Indignação à Ação ............................................................................... 111 A Escola das Ruas: o Tempo Passa e Ainda Queremos Mudar o Mundo ... 112 Referências..................................................................................................... 115 Cap. 5 - La Participación de los Actores y el Abordaje de la Incertidumbre en la Planificación - Pedro Martín Gutiérrez .......................................................... 117 Introducción ............................................................................................. 117 De Tiempos y Determinismos en la Planificación .................................... 118 De la Planificación Normativa a la Planificación Estratégica..................... 124 La planificación normativa........................................................................ 124 La planificación estratégica ....................................................................... 126 El Enfoque del Marco Lógico (EML): una metodología específica de planificación en la cooperación técnica ..................................................... 128 La Prospectiva Estratégica ......................................................................... 130 Crítica a los Modelos de Planificación Planteados .................................... 133 Acerca de los (in)determinismos ............................................................... 133 6

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Los modelos de planificación y el tratamiento de la complejidad .............. 136 La conformación de los sujetos-actores en la participación ........................ 138 La presencia de los actores: una propuesta reflexiva para la construcción de estrategias de conjuntos de acción en/con las redes ................................... 141 Consideraciones ............................................................................................. 144 Referência ...................................................................................................... 147 Cap. 6 - Movimientos, Metodologías y Mediciones - Tomás Rodríguez Villasante, Loli Hernández .............................................................................................. 149 Observatorio Internacional CIMAS .......................................................... 149 ¿Movimientos y Participar, para qué? ........................................................ 149 La Participación en la Construcción Práctica del Conocimiento ............... 152 Construir en Varias Líneas Experimentales ............................................... 155 Lucha de las Pirámides y los Manglares .................................................... 157 Interacciones Básicas y Equivalentes de Valor............................................ 162 Un Proceso Participativo Posible .............................................................. 164 Medir con las Escaleras de Participación ................................................... 167 La Declaración de Bogotá ......................................................................... 169 Resumiendo .............................................................................................. 174 Referencias ..................................................................................................... 174 Epílogo - Para Avanzar con las Metodologías Participativas, Usando la “SocioPraxis” - Tomás R. Villasante .................................................................... 177

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Apresentação Nara Vieira Ramos Os sonhos são projetos pelos quais se luta. Sua realização não se verifica facilmente, sem obstáculos. Implica, pelo contrário. Avanços, recuos, marchas às vezes demoradas. Implica luta. Na verdade a transformação do mundo a que o sonho aspira é um ato político e seria uma ingenuidade não reconhecer que os sonhos têm seus contra-sonhos.( FREIRE, 2000, p. 54)1

A ideia deste livro coletivo nasce a partir da finalização do pósdoutorado que realizei no período de junho de 2012 a maio de 2013, com a supervisão do Professor Tomás Vilassante na Universidade Complutense de Madri-UCM. Conversando com Claudia em nossas muitas longas “charlas” amadurecemos a ideia de propor aos colegas a realização deste trabalho. Com estes companheiros de jornada da vida compartilhamos sonhos e contra sonhos, percebemos e vivemos avanços, recuos...enfim estamos na luta por um mundo melhor possível. Claudia, doutoranda orientanda do professor Tomás fez parte desde o início do processo do pós estivemos em muitos momentos juntas, trocando ideias, sonhos, preocupações, estudando no Curso de Verão e outros momentos. Compartilhando duvidas, alegrias, saudades entre tantas outras situações. Juan Carlos professor da USB-Caracas, com quem Claudia durante sua estadia em Madri discutia regularmente - por e-mails sobre a situação da Venezuela e os diversos multilemas do planejamento urbano participativo na Venezuela. Esteban o conheci em sua defesa de tese de doutorado, me encantou com o trabalho realizado com as metodologias participativas em uma perspectiva da cultura de paz. Andrea estava fazendo o Doutorado Sanduiche na UCM, orientanda do Professor Tomás éramos as duas brasileiras no grupo. Pedro foi professor no primeiro curso de verão em Metodologias Participativas que participei na UCM em 2009, agora durante o pós ele esteve muito pre1

FREIRE, Paulo. (2000). Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora UNESP.

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sente no nosso grupo de discussão onde aprofundamos sobre Redes. Loli uma interlocutora maravilhosa, com vivências em metodologias participativas, trabalhos com famílias, uma ouvinte sem igual das nossas duvidas e anseios. Bem e não poderia ser diferente o nosso prof. Tomás respeitoso dos nossos tempos, disponível para a escuta, paciencioso nas nossas incompletudes, sensível e muito latino americano. É um grupo que sonha e luta pelo sonho, pois sabe que o sonho é possível. A proposta do livro começou a ser gestada quando apresentei para o prof. Tomás em uma das muitas vezes que estivemos em Zarzalejo, ele apoiou a ideia e ficou entusiasmado com a possibilidade de seguirmos em contato e compartilhar um pouco do que estivemos fazendo nesse tempo juntos. A partir desse momento iniciamos os contatos com os colegas e dessa forma nasce este livro, bilíngue (português e espanhol), com o título “Do Sul ao Norte, Metodologias Participativas desde a Sociopráxis” / “De Sur a Norte, Metodologías Participativas Desde la Sociopraxis”. Para a escolha do título consideramos o processo vivido pelo grupo onde partimos de um trabalho em rede que estão presentes o Brasil, a Espanha, a Venezuela e Colômbia – Honduras. De acordo com o prof. Tomás este é o livro que trata mais explicitamente o conceito de “sóciopráxis”, está presente em dois artigos e os demais fazem referência. Os artigos que compõem este livro são: “Processos Participativos: Transformar para Educar”, a autora oferece uma reflexão sobre transformar para educar com metodologias participativas a partir das experiências realizadas em Zarzalejo e Entrevias desenvolvidas por jovens; “Enfoque de Capacidades y Participación la Contribuición de la Sóciopráxis - Reflexiones desde la Experiencia Venezolana”, este artigo trata sobre as democracias deliberativas e sua possível concretude a partir da sóciopráxis e sua aplicação na Venezuela discutindo as contradições entre a legislação e a prática; “La Paz desde la Perspectiva Sóciopráxica: Paz Transformadora (y Participativa)”, este artigo desenvolve exaustivamente a relação entre Paz e Sociopráxis, importante para entender a evolução dos estudos sobre a Paz; “Escolas em Movimentos. Além dos Muros: Que Alternativas? Saltar, Derrubar, Invisibilizar os Muros, Provocar Rachaduras?” a autora nos brinda com um ensaio sobre a experiência com os movimentos sociais, e uma aplicação personalizada, vivencial, das metodologias participativas; “La Participación de los Actores y el Abordaje de la Incertidumbre en la Planificación” apresenta uma discussão sobre o planeja10

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mento com uma crítica a outras formas de planejamento apostando nas formas estratégico-participativo; “Movimientos, Metodologias, y Mediciones”, são reflexões que os autores trazem sobre os movimentos sociais e as metodologias participativas. Os autores aproximam-se de critérios e indicadores para o Bem Viver de forma participativa. Caros leitores esta equipe deixa aqui o convite para a leitura deste processo vivenciado por nós, sobre metodologias participativas, a sóciopráxis e suas aplicações na construção de “UM OUTRO MUNDO POSSÍVEL”.

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Cap. 1 - Processos Participativos: Transformar para Educar Nara Vieira Ramos [email protected] Departamento de Fundamentos da Educação Universidade Federal de Santa Maria – UFSM Resumo: Como atividade de realização do Pós-Doutorado, no Departamento de Sociologia II, Ecologia Humana e População, da Faculdade de Ciência Política e Sociologia da Universidade Complutense de Madri – Espanha, o projeto “aprofundando reflexões e análises sobre os pressupostos teóricos e metodológicos das técnicas utilizadas nos processos participativos: transformar para educar1” teve por objetivo aprofundar as reflexões e análises sobre os pressupostos teóricos e metodológicos em metodologias participativas. Nos projetos desenvolvidos em periferias urbanas, sendo um deles: Ações Coletivas com Crianças, Adolescentes, Jovens e Famílias, em execução desde 2007, percebemos a dificuldade de dar conta no atendimento e envolvimento, principalmente das famílias, ponto fundamental neste tipo de intervenção. Este artigo tem por objetivo refletir sobre as metodologias participativas, contextualizar duas experiências com metodologias participativas a partir de inserções de jovens em duas comunidades e as possibilidades para próximas atuações no desenvolvimento tanto do ensino, da pesquisa como da extensão. A metodologia utilizada para o levantamento de dados foi uma pesquisa qualitativa, utilizando técnicas como: observação participante; grupos de estudos; inserções realizadas pelo grupo do Observatório Internacional de Cidadania e Meio Ambiente Sustentável (CIMAS) na prática das metodologias participativas; acompanhamento de dois processos participativos que estão sendo desenvolvidos, num bairro da cidade de Madri e outro num povoado na serra de Madri; e na participação em cursos sobre metodologias participativas. Como resultados apontamos que, aprofundamos os estudos teóricos e metodológicos, o que nos permitiu acompanhar a forma de inserção na comunidade com o intuito de conhecer melhor os problemas ali existentes, compartilhando com a população e construindo caminhos de superação, num processo de transformar para educar, educar para transformar. As pessoas passam através desse processo a ser sujeito ativo, participante e protagonista de um projeto de transformação de seu entorno e realidade mais imediatos. Nos âmbitos de vida cotidiana, espaços de relações comunitárias, bairro, município, partindo sempre da base social e dos problemas cotidianos. Esse processo trabalha com as redes de relações que circulam nas

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Projeto Pós Doutorado financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES

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Do sul ao norte - metodologias participativas desde a sociopráxis comunidades, que podem ser melhoradas e fortalecidas a partir da aplicação das metodologias participativas. Palavras-Chave: Metodologias participativas; Redes de relações; Processos educativos; Transformar para educar.

Introdução Ao longo dos últimos anos meus estudos deram ênfase a pesquisas sobre crianças, adolescentes, jovens em situação de risco pessoal e social (situação de rua e violência doméstica), formação de professores para a inclusão social destes sujeitos (Ramos, 1997, 2006, 2008). À medida que estas crianças passam a ser adolescentes e jovens vão tendo em alguns casos acesso ao Ensino Médio, porém não conseguindo permanecer e ter sucesso, meus estudos alcançam esse nível de ensino e também a categoria juventude (Ramos, 2006; Tomazetti & Ramos 2009; Zappe & Ramos, 2010; Tomazetti, Ramos, Salva, Oliveira & Schlickmann, 2011). Com isso, também aprofundamos estudos sobre famílias, rede de atendimento às crianças, adolescentes, jovens e famílias e consequentemente sobre comunidades. Em 2006 foi criado o Núcleo de Estudos sobre Juventudes, Infâncias e Famílias – NEJIF. Neste núcleo executamos vários projetos tanto de pesquisa, ensino quanto de extensão. Na pesquisa desenvolvemos um projeto sobre os serviços escolares e não escolares que atendem crianças, adolescentes, jovens, famílias e idosos em Santa Maria, um mapeamento (disponível na página http://www.ufsm.br/nejif ), necessário para articular em rede os serviços. Partimos de um conceito de rede trata-se de uma articulação entre diversas unidades que, através de certas ligações, trocam elementos entre si, fortalecendo-se reciprocamente, e que possa se multiplicar em novas unidades, as quais, por sua vez, fortalecem todo o conjunto na medida em que são fortalecidas por ele, permitindo-lhe expandir-se em novas unidades ou manter-se em equilíbrio sustentável. Cada nódulo da rede representa uma unidade e cada fio um canal por onde essas unidades se articulam através de diversos fluxos (Mance, 1999, p. 24). Tendo presente esta ideia de rede, primeiramente necessitávamos saber quem eram os serviços e onde estavam localizados, para posteriormente ver o que está faltando destes na cidade de Santa Maria e trabalhar num processo educativo para as pessoas usufruírem de seus direitos. Na extensão universitá-

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ria, com o projeto ações coletivas com crianças, adolescentes, jovens e familiares em situação de risco pessoal e social, em periferias urbanas. Estas ações tanto de pesquisa quanto de extensão apontam dados relevantes para a compreensão das dificuldades que emergem da situação vivida por estes sujeitos (crianças, adolescentes, jovens, famílias e as políticas públicas) que atualmente é uma preocupação crescente por parte do governo brasileiro. Percebemos em nossos estudos a situação de exclusão que estas pessoas se encontram e quando pensam que, são incluídas, esta inclusão aparece como enganadora conforme Martins: “a vivência real da exclusão é constituída por uma multiplicidade de dolorosas experiências cotidianas de privações, de limitações, de anulações e, também, de inclusões enganadoras” (Martins, 2002, p. 21). Mas como trabalhar com essa realidade? Em 2009, as minhas buscas recaem no grupo de Villasante, onde participei em Madrid do Curso de Verão sobre Metodologias Participativas e em 2010, das Jornadas Internacionais de avaliação dos quinze (15) anos de aplicação destas metodologias no mundo. Percebo na atuação que venho realizando em periferias urbanas com crianças, adolescentes, jovens e famílias em situação de risco pessoal e social a dificuldade de dar conta no atendimento e envolvimento, desta população, principalmente as famílias, ponto fundamental neste tipo de intervenção. As metodologias participativas podem servir para conhecer melhor os problemas sociais onde estamos inseridos, para compartilhar com a população e construir caminhos de superação. As pessoas passam através desse processo a ser sujeito ativo, participante e protagonista de um projeto de transformação de seu entorno e realidade mais imediatos. Nos âmbitos de vida cotidiana, espaços de relações comunitárias, bairro, município, partindo sempre da base social e dos problemas cotidianos. As metodologias participativas vão além da ideia de rede proposta por Mance (1999), ela apresenta a rede de relações a partir dos conjuntos de ação. Nosso país entra no século XXI com a meta de ser referência em desenvolvimento científico, tecnológico e inovação, observa-se no Brasil um número significante de experiências, todavia temos deficiência na análise e reflexão dos dados apurados. Nesse sentido a importância em aprofundar exatamente nesse ponto. Seria quem sabe uma mudança de paradigmas supondo que os projetos de cooperação são os que dão conta das necessidades das comunidades locais e não ao contrário. As comunidades locais são as bases sociais, ou seja, onde se encontra a população e não somente técnicos, lideres locais ou 15

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representantes dos governos. Esta condição requer flexibilidade e abertura, inclusive repensando metodologias indo além de um marco lógico. No Plano de Estudos pós-doutorais que desenvolvi no período de junho de 2012 a maio de 2013 encontrei possibilidades de aprofundamento no grupo coordenado pelo professor Villasante, o Observatório Internacional de Cidadania e Meio Ambiente Sustentável2 (CIMAS), que tem como principal linha de trabalho os processos de participação social no âmbito do desenvolvimento social, local e meio ambiente sustentável. Com isso a formação, a investigação participativa e a divulgação são necessárias para dinamizar e ampliar redes tanto promovidas pelo grupo, como as redes por onde o grupo está presente. O objetivo do trabalho desenvolvido no estágio Pós Doutoral foi aprofundar o conhecimento a respeito de referenciais teóricos e metodológicos sobre metodologias participativas e desenvolvimento local na contemporaneidade. A metodologia utilizada para este estudo foi uma pesquisa qualitativa, utilizando técnicas como: grupos de estudos: foram realizados 15 reuniões de estudos sobre referências teóricas e metodológicas das metodologias participativas de pesquisa; observação participante: acompanhamento de dois processos participativos que estão sendo desenvolvidos, um, num bairro de Madrid (Entrevias) e outro num povoado (Zarzalejo) próximo a Madrid e na participação: em cursos sobre metodologias participativas de pesquisa e participação como ouvinte nas jornadas internacionais sobre metodologias participativas. Com isso, este artigo tem por objetivo refletir sobre as metodologias participativas, contextualizar duas experiências com metodologias participativas a partir de inserções de jovens em duas comunidades e as possibilidades para próximas atuações no desenvolvimento tanto do ensino, da pesquisa como da extensão.

As Metodologias Participativas e suas Possibilidades As leituras que me aproximei para trabalhar com as metodologias participativas passam desde Marx, Paulo Freire, Carlos Brandão, Tomás Villasante, Jesus Ibañez, Michel Foulcault, Manuel Montañes, Humberto Maturana, Boaventura de Souza Santos, Félix Guatarri, Pichon-Rivière, 2

Todos os textos em espanhol foram traduções livres da autora.

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Norbert Elias, entre outros. Através destes autores e principalmente Villasante e sua produção baseada nestes autores e muitos outros que realizo este estudo. Villasante (2006) aporta que não podemos dizer que a pesquisa quantitativa não seja útil, nem que a qualitativa não seja explicativa, porém elas necessitam de mais elementos para poder ver e transformar situações sociais complexas. A partir de Jesus Ibañez (1988, 1990, 1994), Colectivo IOÉ (1993), Tomás Villasante (2006, 2011), nas pesquisas quantitativas utilizamos técnicas para quantificar a realidade, este é um processo que é realizado para fechar dados, sobre determinado problema. Na pesquisa qualitativa trabalhamos para conhecer as motivações e a estrutura relacional, na coleta de dados é um momento de abertura e fechamento em termos de motivações, relações. Na pesquisa dialética, é considerado o objeto que será investigado como sujeito e sua finalidade é a transformação social, que utiliza algumas técnicas próprias, mas também técnicas quantitativas e qualitativas, e na sócio práxis onde se considera que a assembleia ou plenária não é uma reunião entre iguais. É uma ação processo que parte da diferença para construir processos transformadores. Tanto a dialética quanto a sócio práxis abrem os processos através da criatividade das pessoas. Conforme Vilassante (2011) foram necessários diversos saltos conceituais sendo o primeiro: sairmos da relação sujeito-objeto (quantitativa e qualitativa) para uma relação sujeito-sujeito (participativa), neste sentido nos colocarmos como participante do grupo e não como sendo o técnico. É o crescimento tanto do grupo de intervenção quanto do pesquisador. No segundo salto percebemos que não existimos individualmente, não podemos ver somente pessoas precisamos ver muito mais, as redes, como estão estas redes e como trabalhar para que as mudanças de relações aconteçam nos grupos. Com isso, necessitamos enquanto grupo refletir sobre, qual é o contexto? Quais relações estão presentes nas diferentes redes: família, espaço profissional, tempo livre (pessoas que nos relacionamos em diferentes espaços deste contexto), onde vivemos (vizinhos, mercado...). Na ideia de rede temos que “estos seres humanos están conectados por una compleja red de relaciones que tiene una existencia real” (Radcliffe-Brown, 1986, p. 217). Nesta rede os “nós” são os atores sociais, elementos que podem estabelecer relação, um vínculo. Estes podem ser indivíduos, grupos, instituições, entidades. Então as relações são os laços que se estabelecem entre os “nós” e representam os fluxos. Sem os fluxos de pessoas, mensagens, objetos..., 17

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não há relação. A relação inicia-se normalmente entre duas pessoas ampliando-se a partir desse fluxo. No terceiro salto ocorre a auto reflexão e os estilos das transduções, onde é proposto a transdução, ou seja, não somos nem determinados nem indutivos, nem dedutivo, é proposto neste sentido, o transdutivo. Com isso vamos além de ver o indivíduo, trabalhando as relações. Quais são as redes que as pessoas se relacionam? As transduções de acordo com Villasante (2011) estão embasadas em dispositivos para criar situações peculiares de transformação. Os estilos transdutivos nos propicia saltos, o que também ocorre nas relações sociais e podemos aprender como se faz nas metodologias participativas. Qual o objetivo desse movimento? É exatamente trabalhar para a mudança nas relações, nas redes que as pessoas se encontram em suas comunidades. Utilizando esta metodologia saímos das soluções individuais para problemas individuais e vamos para soluções coletivas para problemas coletivos. Problemas sociais necessitam de soluções sociais. Portanto a ideia é trabalhar em redes e com as redes. Aqui a questão que sobressairia seria: Quem ganha com a situação como está? Neste segundo saltaríamos de sujeitos de redes sociais para conjuntos de ação. Os conjuntos de ação conforme Villasante (2011) é uma série de pequenas redes sociais em muitos casos em contraposição entre si e em processos diversos. Para o autor a opção em trabalhar com conjuntos de ação é que Todo lo real es relacional” y por eso nos interesan más los vínculos y lo que puedan ser sus dinámicas que las definiciones de los grupos o sectores que soportan las relaciones. No es posible el uno sin el otro, pero es más posible cambiar las relaciones que los sujetos por sí mismos…son una forma concreta de manejar que lo político está en lo cotidiano (Villasante, 2011, p. 137) Para visualizar os possíveis conjuntos de ação que estão presentes num grupo, comunidade, entre outros..., nos valemos de uma técnica, o sociograma. O sociograma é uma técnica que nos permite verificar quais são os atores e grupos sociais que estão presentes em determinada comunidade (escolar, bairro, território, entre outros) e com isso traçar as relações ali existentes. Estas relações conforme Villasante (2011, p. 137) “são as redes de confiança e medo internas na comunidade, são os condicionantes de classe social, as posições ideológicas frente a cada problema concreto em disputa”. Com essa técnica temos um mapeamento da situação das relações no grupo que estamos trabalhando e com isso traçamos a partir da informação de membros do grupo as 18

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relações existentes. Estas relações podem ser de dependência, de colaboração, de isolamento, de desinteresse, relações para a execução de uma determinada situação ou ação, relações de conflito, a partir dessas informações aparecem os conjuntos de ação. Com isso temos um primeiro mapeamento da situação das relações do grupo e poderemos estar construindo formas de fortalecer o grupo nas suas fortalezas e trabalhando onde temos problemas nas relações. Las relaciones de poder que podemos percibir desde cualquier forma de conversación pueden ser base para construir, participativamente con miembros de diversos conjuntos de acción locales, algunas estrategias sócio-políticas que vayan más allá de cada situación concreta (Villasante, 2011, p. 137). Com a técnica do sociograma (mapa de atores) temos primeiramente conforme Villasante (2011) uma radiografia da situação das relações do grupo em que estamos desenvolvendo um processo participativo, mesmo essa primeira radiografia não sendo tão clara já nos permite que durante o desenvolvimento das metodologias possamos compará-lo com outros sociogramas realizados em diferentes etapas do processo para acompanharmos o que estamos revendo e vendo em termos de relações nesse grupo, com o objetivo de estar trabalhando as diferentes relações presentes nessa comunidade. A partir do sociograma realizado com a participação de alguns grupos locais e observados os conjuntos de ação, daí decorrentes, este serve também para uma autocrítica para onde os grupos possam enxergar até onde conhecem e desconhecem as relações da comunidade, suas limitações. Essa primeira aproximação em uma oficina Mapeamento de Atores - sociograma tem o objetivo também de nos aproximar mais dos setores que vamos escutar. A partir desse sociograma, dessa amostra verificamos a necessidade de aprofundá-la com entrevistas (grupos, oficinas, documentos, entre outras). Neste processo o que aparece são as “perguntas”, provocações, o estilo das perguntas tendo o rigor crítico por trás destas. E a partir das perguntas muitos caminhos podem estar presentes. O inicio do conhecimento, repito, é perguntar. E somente a partir de perguntas é que se deve sair em busca de respostas, e não o contrário: estabelecer as respostas, com o que todo o saber fica justamente nisso, já está dado, é um absoluto, não cede lugar à curiosidade nem a elementos por descobrir. [...] não pode ficar apenas a nível da pergunta pela pergunta. O importante, sobretudo, é ligar, sempre que possível a pergunta e 19

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a resposta a ações que foram praticadas ou a ações que podem vir a ser praticadas ou refeitas (Freire & Faundez, 1985, pp. 24-26). Aprender a fazer a pergunta é uma arte, pois “é preciso que o educando vá descobrindo a relação dinâmica, forte, viva, entre palavra e ação, entre palavra-ação-reflexão”. (Freire & Faundez, 1985, p. 26), as perguntas podem ser mediadoras, uma ponte entre uma pergunta e a realidade concreta. A pergunta vai nos possibilitar fazer reflexões sobre a situação real e com isso facilitar o caminho da ação. Qual ação a partir da pergunta? A partir de qual situação real? A pergunta nos permite abrir as questões, os problemas, esmiuçar a situação em foco. A pergunta tem importante papel no processo participativo. Estas perguntas os técnicos também se fazem durante o processo, não é somente para as pessoas que estão participando da comunidade, os técnicos também fazem parte deste processo. Para isso, outro ponto importante é a escuta. A escuta tem um papel fundamental nas metodologias participativas, não basta escutar os representantes, nem as maiorias do quantitativo, mas sim, a maioria das opiniões. Para isso, utilizamos varias técnicas que permitem essa escuta, como: passeios guiados pela comunidade, caminhar pelo bairro, escola..., com pessoas do lugar que possam estar contando o que estamos vendo e trocando com elas, nossas perguntas e impressões. Também podemos utilizar filmagens e ir gravando opiniões das pessoas ou grupos do lugar. Além, claro de informações que estamos levantando é um momento precioso de escuta, sendo também um excelente momento para criar um bom ambiente de confiança social, indispensável para o desenvolvimento das metodologias participativas. Outra técnica que pode ser utilizada nesse processo inicial de aproximação é uma oficina, que vai apontar quais são as debilidades e ameaças (aspectos negativos ou de risco), fortalezas e oportunidades do grupo (são os aspectos positivos ou de sucesso) que recebe o nome de DAFO. Entre outras técnicas utilizadas em oficinas. Salientamos que estas técnicas vão nos ajudar a vislumbrar o problema de fato desta comunidade para construir um projeto de ação. Muitas vezes observamos que os grupos costumam procurar o trabalho técnico, em metodologias participativas com um problema já pronto ou com alguma situação que pretendem ter algumas possibilidades de mudança. Primeiramente é importante ter muito claro que a escuta do grupo, em diferentes técnicas vai nos levar a perceber o óbvio, conforme Freire & Faundez, 20

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(1985, p. 15), “A experiência de pensar a prática e a realidade em que ela ocorre como objeto de nossa reflexão crítica, termina por nos mostrar o óbvio, que não suspeitávamos”. Nessa escuta percebemos que muitas vezes o que as pessoas dizem que é um problema, na realidade poderá ser, mas na maior parte é sintoma, uma dor, uma febre, que não é efetivamente o problema no qual precisamos nos deter para construir de forma participada possíveis soluções. Conde e Del Alamo (2010, p. 50) nos alerta que a atenção ao óbvio tem funções importantes: “uma primeira função de vigilância ideológica sobre os prejuízos e “a priori” do investigador e uma segunda não menos importante de desvelar o “naturalizado” pela sociedade num momento determinado...” (tradução realizada pela autora) com isso abrindo possibilidades a novas possibilidades de interpretação. Na realidade o que normalmente aparece na fala das pessoas são as consequências e não as causas e o uso destas metodologias tem exatamente a função de buscar as causas e trabalhar as mesmas. Necessitamos nos fazer as perguntas: Para quem é um problema? Quem o definiu como problema? E por que tenho que solucioná-lo? Estás técnicas tem esse papel de ajudar o grupo a cercar o problema de fato. O que fazer com as opiniões escutadas? Para que recolhemos essas opiniões? Essas técnicas utilizam-se das devoluções criativas, que vão nos levar a questões como: que razões há por trás das opiniões que apareceram nas diferentes técnicas utilizadas? Por que as pessoas falam o que falam? O que está dito? O que está latente? Na análise do discurso conforme Conde e Del Alamo (2010) temos nos dados o que esta dito, ou seja manifesto (nas palavras dos autores) e o latente. Analisando os resultados (visíveis, explícitos) na pesquisa quantitativa, tratando de deduzir conclusões e consequências que vão além da constatação, tratando de explicitar o latente que está presente nos dados. Na qualitativa analisando o que está dito, em que contexto e o que aparece em formas não verbais de comunicação e o latente. O latente el significado no es, pues el resultado de la redundancia de palabras, ni el significado es el contenido semántico de las oraciones o de los textos como unidades lógicas, es el significado de los hablantes, significado que no es el dicho, sino lo comunicado… (Alonso, 1998, p. 210).

Daí a importância das explicações e implicações que fazem os discursos 21

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serem relevantes na escuta. Nas devoluções criativas esta questão é fundamental para abrir o processo que nesse momento também fecha uma etapa no processo das metodologias participativas. O grande salto que ocorre nas metodologias participativas são as devoluções, mas não são somente uma devolução e sim criativa, recebem esse nome porque a ideia é provocar criatividade social. Observamos em nossa prática que normalmente nas pesquisas quantitativas e qualitativas as devoluções ocorrem através de um livro, publicações em periódicos e mesmo em jornais locais ou em palestras. Normalmente estas devoluções nas pesquisas quantitativas e qualitativas são para conclusão do processo de investigação, Também observamos o receio ou até certo descuido de pesquisadores sobre a importância da devolução. Nas metodologias participativas a devolução tem papel diferenciado, além de apresentar resultados, as pessoas participam na construção dessa leitura e interpretação dos dados. Esse processo é formativo, reflexivo, as pessoas percebem que são sujeitos assim como os técnicos, eles, os sujeitos se enxergam, veem suas falas presentes nas técnicas utilizadas para as devoluções criativas, além desse processo não ser para concluir senão para abrir a partir da criatividade das pessoas. Nas devoluções criativas a ênfase está em destacar as razões mais profundas que não estão presentes nas conversas habituais. As devoluções devem ser abertas, o mais ampla possível. Este é o momento de aprofundar, refletir sobre, por que dizemos o que dizemos? Por que acreditamos que há esse caminho, essa solução? Por que acreditamos que há estas opiniões? O que estamos buscando com isso são as questões de fundo que estão circulando ao redor do problema. Os objetivos desse processo de devolução são seis: primeiro, a informação é das pessoas. A partir das devoluções as pessoas confiam mais e dão mais informações, neste caso já entramos no segundo que no momento que a pessoas confiam elas complementam e também tem a função de validar os dados levantados. No terceiro as pessoas precisam perceber que há posições contrárias, aqui a tendência é trabalhar o mais complexo dos dados, ou seja, já entrando no quarto objetivo, aprofundar o que as pessoas dizem trabalhando os multilemas, para Villasante (2011), os multilemas vão além dos dilemas, no momento que se abrem novos planos de interpretação da realidade, este processo abre debates criativos buscando as causas mais profundas. O que está por trás do que falamos? É importante a reflexão das pessoas sobre o que disseram e por que disseram? Neste processo não é o momento de buscar soluções, mas refletir sobre os problemas, “causas 22

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dos problemas” sendo o momento mais delicado da devolução. Aqui no momento que as pessoas estão reunidas refletindo sobre os dados apresentados, elas percebem que tem muitas coisas em comum. Na medida, que estas pessoas se colocam de acordo, elas estão construindo novos conjuntos de ação, superando os conjuntos de ação mais fechados para mais abertos, este o quinto objetivo. E o sexto objetivo que é partir para o trabalho propriamente dito, o plano de trabalho. Para as devoluções são utilizadas técnicas como: árvore de problemas, esta técnica serve para identificar os sintomas presentes em um problema, relacionando com a análise das causas imediatas e profundas. O fluxograma outra técnica utilizada nas devoluções, que consiste em elaborar coletivamente um gráfico onde sejam visualizadas as relações causas/consequências dos diversos fatores relacionados com o tema do debate, ou seja, o nó principal, crítico, que os articula. Na aplicação das metodologias participativas temos duas fases, a primeira fase de diagnóstico e uma segunda fase que é a ação propriamente dita. A finalização de um processo pode dar lugar a varias ações, que podem ser mais avançadas que as que surgiram no processo inicial.

As Metodologias Participativas: Experiências em Entrevias (Bairro de Madri) e Zarzalejo (Serra de Madri - Espanha) a partir da Inserção de Jovens. Estas experiências fazem parte das ações desenvolvidas pela Fundação de Criatividade Social Para um Melhor Viver (CREASVI), que tem sua criação a partir da necessidade do desenvolvimento de democracias participativas em um contexto de justiça social e solidariedade, o grupo acredita ser importante potencializar as metodologias participativas, criar redes conjuntas com outros processos e iniciativas, assim promovendo a sustentabilidade do meio ambiente com o desenvolvimento de energias limpas e práticas de vida saudáveis. Com estes objetivos foi criada a Fundação, como uma forma de continuar as metodologias participativas, com as quais trabalham há muitos anos, mas agora com projetos próprios, criados e financiados pela Fundação. Está baseada na criatividade social que existe e que se pode promover com diversos grupos e coletivos diversos: jovens, mulheres, imigrantes, associações, entre outros, com e por isso o grupo quer estar o mais próximo destas iniciativas, destas possibi-

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lidades. A Fundação atende atualmente em três linhas de trabalho: Trabalho de apoio comunitário em Zarzalejo (realidade rural) e em um bairro da cidade de Madri- Espanha (com as residências nos dois lugares); Oficinas demonstrativas sobre energias limpas e construção bioclimática; e Edição de material de divulgação e reflexão teórica e prática. Durante a participação que tivemos nas metodologias participativas, duas experiências nos chamaram a atenção principalmente por se tratar de envolvimento de jovens, que vão morar nos lugares para realizarem a aplicação das metodologias na comunidade. Destes destacamos um, em Entrevias3 um bairro que faz parte do distrito de “Puente de Vallecas”, situado a sudeste da cidade de Madri (Espanha). O nome Entrevias é porque o bairro é rodeado por estradas ferroviárias em todos os sentidos. É habitado por 37.790 (dados de 2006) pessoas conforme o Instituto Nacional de Estatística (INE). Desde os anos 70, Entrevias possui um dos maiores parques de Madri e também outro parque de passeio, Parque Del Soto de Entrevias construído nos finais do século XX e início do século XXI. Este bairro possui sete centros públicos de ensino e três centros “concertados” de ensino (concertados – verba pública, porém administração privada, escolas católicas) e o outro local é Zarzalejo4 é um município da Espanha na província e comunidade autônoma de Madri, localizado aos pés de duas montanhas graníticas, que faz parte da Serra de Guadarrama. Está situado a 57 quilômetros de Madri. Zarzalejo está dividida em dois núcleos: os de cima, povo antigo, e os de baixo a Estação. Tem uma população de 1.553 habitantes, sendo 818 homens e 735 mulheres de acordo com dados de 2013 do Instituto de Estatística. Zarzalejo tem uma creche, um colégio público de educação infantil e primário (Ensino Fundamental). Na metodologia da pesquisa, nos valemos da técnica do estudo de caso “uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa aprofundadamente” (Triviños, 1987, p. 133, grifo do autor). Com isso, podese notar que tal tipo de pesquisa tem como característica um estudo descritivo e em profundidade de um determinado fenômeno social, que neste caso concretiza-se na pesquisa de duas inserções de jovens em comunidades para aplicação de metodologias participativas. Como instrumento de coleta de dados utilizamos entrevista aberta com 3 4

Estes dados foram acessados na página www.es.wikipedia.org/wiki/Vallecas Dados obtidos no www.google.es

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duas jovens, cada uma participante de um local, Entrevias e Zarzalejo. Não estaremos identificando nossos entrevistados, será utilizado, quando fizermos menção aos mesmos, o nome do lugar. Em abril de 2012 inicia o processo em Entrevias, este bairro foi escolhido pela Fundação, por sua situação quanto ao desemprego em decorrência da crise econômica instalada na Europa a partir de 2008. Este bairro tem um grande número de imigrantes, se encontra nesse local um apartamento da Fundação, onde os jovens moram durante o processo de desenvolvimento das metodologias participativas. A entrevistada de Entrevias informou que o contato inicial, com estes jovens para fazerem parte do processo foi através de um e-mail para as diferentes redes, trazia a informação sobre o trabalho em Entrevias, “en El Pozo”, que está situado logo a seguir de Entrevias, trazia informações básicas sobre as metodologias e também informava que iriam dividir apartamento e com que valor em dinheiro deveria participar no mesmo. Apareceram interessados na primeira reunião aproximadamente 20 pessoas, todos da mesma rede, onde todos se conheciam, destes ficaram ao final da reunião oito interessados em viver junto e desenvolver o trabalho. Ao poucos os jovens foram se excluindo por não ter o dinheiro necessário para sustento, por não ter trabalho, no final ficaram desta rede quatro e depois de um ano chegaram mais dois para fazer parte do grupo. Os jovens são do México, Venezuela, Colômbia se consideram espanhóis, pois estudam na Espanha de acordo com a nossa entrevistada e também por espanhóis. Os jovens viram esta inserção como oportunidade de aprender de forma prática sobre os processos participativos. As dificuldades para trabalhar no bairro foram apontadas como sendo: “falta de objetivos claros, a primeira ideia que tínhamos desse processo é que teríamos que fazer um processo participativo. Não víamos aparentemente nenhum problema, não era um bairro que tivesse passado por um problema grande que necessitasse de um trabalho. Tínhamos um manual, uma breve formação, introdução para trabalhar no bairro. O bairro não colocou dificuldades. As dificuldades eram do grupo em sair. Insegurança para a abordagem. Precisávamos saber mais sobre o bairro e também ter claro, sair para fazer o que?” (Entrevias). Cada um dos jovens tinha uma bagagem de experiências distintas, “eu vinha com a ideia de planejamento participativo muito teórico (Entrevias). Sabiam que quando fizessem algo teria que ter “um para que”. Ficaram muito 25

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em casa se perguntando o para que? Não saia nada. Com isso cada um acabou se envolvendo em outras coisas que não tinha nada que ver com o que deveríamos fazer no bairro”. Fizeram observação participante, transecto, mas não estava claro o objetivo. Essa insegurança acabou levando-os a focar na questão do grupo da casa a apareceram questões como: “somos grupo? atuamos como grupo?” Tendo esse contexto foram construindo o processo participativo. O grupo partiu da ideia que, a crise era o problema do bairro e com essa questão foi iniciado o trabalho no local buscando qual seria o problema. Os pontos positivos apontados no trabalho desenvolvido em Entrevias. “Agora que já estamos mais avançados no processo percebo que tudo faz sentido. A primeira fase é a mais difícil, mais confusa, “mais fácil de perder-se no processo”. Quando tens as tarefas de fazer as entrevistas. Tu já sabes o que tens que fazer”. (Entrevias). Uma vez por mês ocorria reunião de formação com a equipe coordenadora do projeto, nesse momento era feito um relato sobre o que estava ocorrendo na casa, no processo que estava sendo desenvolvido no bairro. Percebese pelo depoimento a dificuldade em construir o processo principalmente para quem nunca fez parte de um processo participativo. Acredito que mesmo tendo experiência na prática das metodologias participativas essa primeira etapa é difícil principalmente pela parte da conquista do outro e também a entrada no campo, ou seja, em um local que não é o teu, que estás ali para realizar um trabalho. Os problemas, as dificuldades vão sair exatamente da escuta e interpretação dos dados levantados a partir das técnicas utilizadas a luz do referencial teórico. Para os jovens também é uma experiência significativa porque precisam construir o processo e isto os faz ir atrás de referencial teórico (leituras, contatos com os expertos para orientações, reflexões e trocas de ideias). Estes jovens passam por um processo de planejamento, ação, reflexão, planejamento e ação que leva a um amadurecimento tanto do processo como também enquanto cidadãos, técnicos e empoderados no e pelo processo. Na fala da entrevistada sobre as técnicas utilizadas nas metodologias, ela observa que “no inicio de um processo primeiro é necessário captar bem o que se está fazendo principalmente para flexibilizar o processo. Se não tens esse conhecimento, por exemplo, o que queres com tal técnica, parece que estás num vazio”. O manual está sendo seguido, mas “quando vemos que as 26

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metodologias estão funcionando, isto dá segurança e alegria, percebe-se que as pessoas estão contentes, percebe-se que está funcionando”. Durante a entrevista alguns membros do grupo de Entrevias participaram de um curso de formação oferecido pelo Observatório Internacional de Cidadania e Meio Ambiente Sustentável (CIMAS), questionamos nossa entrevistada quanto à importância dessa formação ocorrer antes do inicio do processo. Ela nos responde que não tem clareza se seria importante, mas que fazer agora esse curso, um ano depois do início do processo juntamente com a prática, a reflexão é valida e também ajuda na próxima ação. “Depois do curso olhava para trás e via: isto foi realizado, isto não, quando fizemos isto ocorreu...” “O curso ajudou muitíssimo sobre a teoria de redes, entender as relações, a análise de redes, isto deu uma noção melhor e mais ampla do que estamos fazendo no bairro. Tudo já tem mais sentido”. A entrevistada de Entrevias comenta que gostaria de ter realizado autoformação no grupo. Tentando com isso ter uma linguagem comum, isto é um processo dentro da análise de redes, ela acredita que teve companheiros que não entenderam como era o processo e por isso houve desmotivação. Quanto à convivência do grupo no apartamento de Entrevias, é apontado: “muita aprendizagem em conviver; passaram de viver de maneira muito individual para uma convivência de grupo, já tinha vivido com outras pessoas, mas não tinha necessidade de convivência; o grupo não dependia tanto de ti”. Ela continua dizendo: “Não era tão dentro do grupo. Hoje vivemos juntos, temos um trabalho, em comum. Isto me custou muito, isto foi sair do “eu” para “nós” e isto ainda me custa”. “Eu precisava ter momentos sozinha ficava agoniada, de sempre estarmos juntos. Eu trazia na minha bagagem a necessidade de competir, onde minha ideia deveria ser defendida de qualquer jeito. Muitas vezes pensava por que estou com esta gente que me faz sofrer? Se continuasse com isso ia me frustrar, mas eu tinha clareza que havia duas opções: ou isto ou pensar que está aprendendo. Penso que consegui sair disso. Se eu não tivesse ficado não teria aprendido tanto sobre grupos se não tivesse passado por essa experiência” (Entrevias, 2013). Observa-se pela fala da jovem de Entrevias o intenso processo que eles passaram até o momento na inserção no bairro, foi um processo de transformação para educar e educar para transformar. Amadureceram nas relações no grupo e com o grupo isto sendo visível nas ações desenvolvidas na comunida27

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de. A importância do planejamento, da ação, da reflexão, retomando o planejamento, a ação..., nessa espiral reflexiva. Em Zarzalejo, o inicio do processo ocorreu em agosto de 2011, as jovens que se envolveram faziam o curso Máster em Metodologias Participativas na Universidade Complutense de Madri, Espanha e a outra jovem era moradora do lugar. Nossa entrevistada é antropóloga e já participou em outros processos, onde foi viver nos locais de pesquisa e intervenção. Ela comenta que tem lugares com situações críticas de vulnerabilidade que não é bom viver no local pela própria saúde mental do pesquisador. Mas, em outros locais como Zarzalejo é muito importante estar no local, vale como um rito de passagem, porque no cotidiano as situações informais são muito importantes para levantamento de novidades e informações que não apareciam em momentos mais formais. Para viver na fundação é através do sistema de bolsista, para a alimentação há uma cotização, esta situação também ocorre em Entrevias. A equipe de trabalho de Zarzalejo iniciou fazendo um sociograma entre elas e através da técnica percebe que a jovem que era moradora do local estava presente em varias atividades que eram desenvolvidas na comunidade, no coral, na batucada, na assembleia cooperativa, enfim era uma integrante fundamental na equipe de trabalho. Nas relações entre os membros da equipe tem diferenças, mas conseguem administrar e trabalhar juntas. As dificuldades teóricas metodológicas apontadas pela entrevistada são: definição do objetivo (o para que?); fazer o desenho do processo a ser desenvolvido. Sente que em algum momento deveria ocorrer algumas definições, ajustar diferenças, percepções. Não tem bem definido o problema. É que em antropologia conforme a entrevistada, tudo é muito definido e aqui ela sente falta destas definições. Ela observa ainda que em antropologia fica-se com o conhecer e não com o transformar. A antropologia se dedica ao estudo do homem como ser biológico, social e cultural, sendo seu estudo relacionado ao conceito de cultura, uma vez que esse homem jamais está isolado, mas imerso em uma comunidade ou sociedade. “Acredita como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise, portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado” (GEERTZ, 1978, p. 15).

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O autor afirma que se pratica antropologia através da etnografia, que mais do que um método, é uma “descrição densa”, do contexto investigado, salientando a forma de organização social do grupo, seus valores e visão de mundo. No trabalho tanto em Entrevias quanto em Zarzalejo, temos um processo participativo para a transformação social e é também a partir da transformação como um processo participativo, onde ocorre o processo educativo para transformar e se transforma para educar. E exatamente a partir do conhecimento das pessoas que vai gerar situações de criatividade e desborde, ...necesita escuchar mucho el ritmo de la gente, de los movimientos,...desbodar lós primeros supuestos com los que se comieza no es um error de planificación, sino demonstrar la capacidad de ir consiguiendo que grupos y sectores sociales vayan ganando en proponerse objetivos más avanzados para ellos mismos. siempre se parte de algún esquema mental prévio, más o menos explícito, pero eso no quiere decir que haya que quedarse en el, sobre todo cuando son muchas las aportaciones nuevas de otras personas y grupos, y las vivencias propias de estos procesos (VILLASANTE, 2011, p. 141).

Para o autor é necessário sair das “dialéticas fechadas” destacando que a cada momento do processo podemos optar “por una complejidad de alternativas (radicales o menos), previstas o desbordantes, según las circunstancias) y esto es poner más profundidad y rigor en los procesos”(Villasante, 2011, p. 141). Monitorar todo o processo é importantíssimo para retificação do processo metodológico participativo nos pontos mais delicados. As dificuldades encontradas para desenvolver o processo na comunidade foram: “entre os sujeitos do lugar que fazem discriminação com os “forasteiros”, aqueles que não são nativos de Zarzalejo; o caráter político do lugar, principalmente dos conservadores; os mais velhos (os de 80 anos a mais) não tem esse preconceito”. As aprendizagens: a necessidade de se apresentar as instituições quando inicia um processo participativo; trabalhar a horizontalidade nas relações (sempre alguém monopoliza); demoramos muito em fazer as devoluções, devíamos ter apresentado a mais tempo a questão histórica. Apresentar um primeiro diagnóstico foi entendido com um caráter político partidário principalmente pela prefeitura e pela associação de vizinhos. Se tivéssemos iniciado pela parte histórica quem sabe seria diferente o processo; podíamos ter apro-

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veitado melhor as pessoas do povoado; olhando para trás faria o processo diferente teria organizado mais; viver no lugar foi bom, porque muitas informações foram colhidas na informalidade de encontros, em passeios pela comunidade. (Zarzalejo). Vistos os dois processos observa-se conforme Villasante (2011, p. 141) que “siempre lo que ocurre es más complejo y dinámico que lo que podamos planear”. Com isso todos aprendem no processo tanto os técnicos quanto a comunidade envolvida. A partir da vivencia do processo é que vamos entendendo do que trata as metodologias participativas. Freire (1997) em seus vários escritos destaca a importância da reflexão sobre a prática, em seu livro Pedagogia da Autonomia um dos saberes necessários que ele trabalha é sobre a prática docente crítica, entendemos que essa prática não necessariamente de um professor, mas qualquer sujeito que esteja participando de um processo que envolva grupos sociais (trabalhadores de qualquer área, associações de bairro, entre outros) estamos realizando um processo educativo. No qual está presente o “transformar para educar ou educar para transformar”, nesse sentido é fundamental que na prática da formação docente, o aprendiz de educador assuma o indispensável pensar certo não é um presente dos deuses nem se acha nos guias de professores que iluminados intelectuais escrevem desde o centro do poder, mas, pelo contrário, o pensar certo que supera o ingênuo tem que ser produzido pelo próprio aprendiz em comunhão, com o professor formador (FREIRE, 1997, p. 43).

E nesse processo os atores precisam pensar criticamente a prática vivida para melhorar a próxima prática. Freire (1997, p. 44) nessa perspectiva diz que, “o próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática. Para o autor o distanciamento epistemológico da prática enquanto objeto de análise, deve dela aproximá-lo o máximo”. Quanto melhor este sujeito faça esse exercício, mais vai apreender da prática em análise decorrendo uma superação da ingenuidade pela rigorosidade. Com isso, Freire (1997, p. 44) pontua que “quanto mais me assumo como estou sendo e percebo a ou as razões de ser de porque estou sendo assim, mais me torno capaz de mudar, de promover-me, no caso, do estado de curiosidade ingênua para o de curiosidade epistemológica”. No processo em Entrevias e Zarzalejo observa-se a construção da aplica30

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ção das metodologias participativas, suas idas e vindas, no desenvolvimento das mesmas, amadurecimento da equipe de trabalho. As redes de relações existentes e o fortalecimento tanto da equipe de trabalho como dos grupos existentes nas comunidades, estes últimos ainda muito lentamente. Quando terminou o tempo do pós-doutorado o processo de diagnóstico continuava em Entrevias e Zarzalejo, com a intenção de construir o projeto de ação referente aos problemas que apareceriam durante o processo.

Considerações Depois de um ano de pós-doutorado na Espanha, mais especificamente em Madri, na Universidade Complutense de Madri, em que vivi intensamente as metodologias participativas tanto na parte teórica quanto na prática das experiências em Entrevias e Zarzalejo voltei para o Brasil com muita vontade e expectativa para minhas próximas ações a partir das metodologias participativas. O objetivo deste artigo foi refletir sobre as metodologias participativas, contextualizar duas experiências com metodologias participativas a partir de inserções de jovens em duas comunidades e as possibilidades para próximas atuações no desenvolvimento tanto do ensino, da pesquisa como da extensão. A partir da pesquisa realizada sobre os serviços escolares e não escolares que atendem crianças, adolescentes, jovens, famílias e idosos em Santa Maria do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Juventudes, Infâncias, e Famílias em Políticas Públicas – NEJIF e do Grupo de Pesquisas sobre Infâncias, Juventudes e Famílias – (GEPIJUF), cadastrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), as metodologias participativas tem um papel fundamental no trabalho a ser desenvolvido nas comunidades das diferentes regiões da cidade de Santa Maria. A pesquisa apontou os serviços de atendimento público de crianças, adolescentes, jovens, idosos e famílias existentes na cidade, porém é necessário um trabalho educativo com a comunidade para empoderamento destes sujeitos para o uso dos serviços e trabalhando também as relações entre os diferentes grupos existentes nas comunidades. A ideia é partir de uma comunidade piloto e a partir dessa ação de extensão, seja um espaço de pesquisa e ensino tanto na educação como nas interfaces (como psicologia, serviço social, direito, terapia ocupacional, enfermagem, entre outras). Pretendemos que essa

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pesquisa já realizada seja nossa porta de entrada nas comunidades através de grupos e associações organizadas existentes nas regiões e com isso ir construindo com a comunidade. As metodologias participativas são utilizadas no Brasil em vários lugares, principalmente na extensão rural. Queremos nos somar nestas ações voltadas principalmente para crianças, adolescentes, jovens, idosos e famílias em situação de risco pessoal e social. O caráter inovador das metodologias participativas está exatamente em trabalhar para a mudança nas relações, nas redes que as pessoas se encontram em suas comunidades. Utilizando esta metodologia saímos das soluções individuais para problemas individuais e vamos para soluções coletivas para problemas coletivos. Problemas sociais necessitam de soluções sociais. Portanto a ideia é trabalhar em redes e com as redes. Em relação ao ensino, temos uma disciplina no curso de Pós-Graduação em Educação que é um Seminário Avançado sobre Juventudes, Ensino Médio e Metodologias Participativas, já realizamos duas edições. Temos utilizado em nossas ações tanto em sala de aula, como em situações de conflito muito das aprendizagens que obtivemos a partir do aprofundamento no referencial teórico que embasam as metodologias participativas.

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Cap. 2 - Enfoque de Capacidades y Participación la Contribución de la Socio-Praxis Reflexiones desde la Experiencia Venezolana Claudia Giménez Mercado [email protected] Juan Carlos Rodríguez Vásquez [email protected] Departamento de Planificación Urbana Universidad Simón Bolívar, Caracas – Venezuela

Resumen: En Venezuela a partir de 1999 y con particular énfasis después de la segunda reelección de Chávez en 2006, se han puesto en práctica procesos participativos que han involucrado en asuntos públicos a millones de venezolanos. Desde el Estado se ha planteado la construcción del “Estado Comunal”, que en la práctica ha significado una creciente recentralización de lo público al circunvalar y vaciar de atribuciones a gobernaciones de estado y municipios, debilitando el sistema de representación local y controlando las organizaciones comunitarias. Esta situación plantea grandes desafíos para la sociedad venezolana, uno de los cuales tiene que ver con la necesidad de refinar, mejorar e introducir nuevas metodologías participativas que de abajo hacia arriba – desde el ciudadano, el vecindario hasta la nación - no sólo sirvan a la solución de problemas concretos sino al restablecimiento y ampliación de la democracia en Venezuela. En tal sentido, el texto busca levantar y recorrer puentes entre el enfoque de capacidades (Sen), la idea de democracia deliberativa (Crocker) y la socio-praxis (Villasante) para contribuir al debate planteado. Palabras clave del capítulo: Desarrollo humano, democracia deliberativa, socio-praxis, Venezuela

Introducción El propósito del presente trabajo es mostrar los puentes que se pueden construir entre el concepto de democracia de Sen (1999, 2000), central para 35

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el enfoque de capacidades y desarrollo humano1, y la socio-praxis2 como metodología participativa (VILLASANTE, 2006 a y b, 2010, 2011). El concepto de democracia de Sen como discusión pública y toma democrática de decisiones ha sido profundizado por Crocker (2008) a través de la idea de deliberación o democracia deliberativa, de manera que éste último concepto también es fundamental para la discusión. Nuestra tesis es que la socio-praxis puede contribuir al desarrollo del enfoque de capacidades a través de la práctica de la democracia deliberativa en el ámbito público local. Aunque la socio-praxis posee epistemología propia (VILLASANTE, 2011) y visión de la democracia y el desarrollo (FALK & PAÑO, 2011; VILLASANTE, 2012), para quienes trabajamos desde la idea del “desarrollo como libertad” resulta pertinente dialogar con aquellos recursos teóricometodológicos que consideremos pueden contribuir a llevar el enfoque a la práctica, siendo que también para la socio-praxis puede resultar enriquecedor intercambiar con este enfoque del desarrollo. Conviene también señalar que el interés de los autores por estos temas deriva, entre otras razones, del contexto venezolano, en el cual observamos una gran paradoja política. En Venezuela a raíz de la elección de Hugo Chávez en 1998 se han desarrollado múltiples formas de participación ciudadana en los asuntos públicos, tantas que algunos autores se han preguntado si la venezolana es una nación en democracia participativa (RODRÍGUEZ & LERNER, 2007, p. 1). Otros reportan que el fenómeno participativo venezolano es considerado la experiencia más grande e impresionante de la democracia participativa en la región (GOLDFRANK, 2011, p. 42).

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El enfoque de capacidades y desarrollo humano puede ser definido como una aproximación a la evaluación de la calidad de vida y una teorización sobre la justicia social. Está enfocado sobre la libertad, la escogencia o la libertad de escogencia. Las capacidades son un grupo de oportunidades (usualmente interrelacionadas) de escoger y actuar, dan cuenta de lo que una persona es capaz de hacer y ser (Nussbaum, 2012). 2 La socio-praxis ha sido desarrollada por Tomás Rodríguez Villasante, sociólogo, profesor emérito de la Universidad Complutense de Madrid (UCM), conjuntamente con el Observatorio Internacional de Ciudadanía y Medio Ambiente Sostenible (CIMAS), una red de profesionales comprometidos con la transformación social y la democracia participativa. Se puede entender como un acoplamiento de metodologías implicativas desarrolladas durante los últimos cincuenta años en los propios movimientos sociales. Más que soluciones definitivas a los problemas de la sociedad aporta maneras o estilos de enfocarlos. Se concibe como un proceso iterativo, teórico-práctico, objetivo-subjetivo, un diálogo de saberes, centrado en la gente.

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En efecto, a partir de 1999 y con particular énfasis después de la segunda re-elección de Chávez en 2006, se han puesto en práctica procesos de democracia participativa que han involucrado a millones de venezolanos (LÓPEZ MAYA, 2011; PROVEA: 2013, pp. 24-30). No obstante, esto ha ocurrido en paralelo con una progresiva restricción de las instituciones y procesos de la democracia representativa que, en nuestra opinión, permite afirmar que el régimen venezolano no cumple con los criterios democráticos sustantivos planteados por Sen en su obra: protección de las libertades3, respeto a los derechos legales, garantía de la libre discusión y distribución sin censura de noticias y comentarios4, elecciones en igualdad de condiciones para los compe-

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Según Freedom House (1999), Venezuela pasó en el año 1999 de la categoría “país libre” a “parcialmente libre”: “Venezuela’s political rights changed from 2 to 4, its civil liberties rating from 3 to 4, and its status from Free to Partly Free, due to the decision of President Hugo Chávez, ratified in a national referendum, to abolish congress and the judiciary, and by his creation of a parallel government of military cronies”. Esta clasificación, según la misma fuente, se mantiene en 2013, con el agravante que la tendencia a la militarización del Estado y la sociedad se ha acentuado (Ver: http:// www.freedomhouse.org/report/freedom-world/1999/venezuela). Para un estudio en profundidad de las causas de la militarización del Estado y la sociedad venezolana ver: Castillo, Hernán (2013). Castillo, en una entrevista realizada en Noviembre de 2013, declaró lo siguiente: “(…) la situación es tan grave que hoy tenemos 1.875 generales y almirantes. Es una cifra desproporcionada. Una exageración, en comparación con el tamaño de la fuerza militar o en una situación de guerra (…) no están cumpliendo con sus funciones profesionales, como es la defensa de la soberanía nacional. Han invadido la administración pública y han desplazado a civiles en sus funciones. Aquí esa relación cívico-militar está invertida (…) Para completar, ahora [el Presidente de la República, Nicolás] Maduro quiere crear milicias obreras, milicias campesinas, milicias de los barrios, y hasta sueña con tener un millón de milicianos. Un hecho grave, porque elimina todo vestigio de democracia, de poder civil” (Diario Tal Cual del 9/11/2013). (Ver: http://www.talcualdigital.com/Nota/visor.aspx?id=94860&idcolum=19&tipo=ESP) Consultado: 26.12.2013 4 Con la expresión “autocracia comunicacional” el académico Antonio Pasquali (2011: 75) ha sintetizado la situación de la libertad de comunicar en Venezuela. Señala Pasquali: “El presidente de Venezuela es un Gran Hermano en una medida sin antecedentes en la historia universal de los medios. Para mediados de 2010, es decir en algo más de once años en el poder, Hugo Chávez había acumulado cerca de 3.750 horas hablando por radiotelevisión, invertidas en gran parte en más de 2.000 ‘cadenas’ (la denominación popular que indica la obligatoriedad para todas las emisoras privadas de retransmitir las gubernamentales), lo que arroja un promedio de 56 minutos diarios sermoneando ideológicamente el país los 365 días del año: un colosal abuso de posición dominante” (p.71). Todo lo cual se inscribe en una amplia red de medios de comunicación controlados por el gobierno, la cual incluye: “siete televisoras nacionales y una internacional, respaldadas por unas 36 televisoras para-publicas comunitarias (…) un número en constante crecimiento de Radios próximas a copar la mitad del dial nacional, respaldado por 157 Radios para-públicas comunitarias habilitadas y hasta 3.000 ilegales según CONATEL; casi un centenar de medios impresos más otro tanto de periódicos para-públicos comunitarios (…) esto sin contar con la Agencia Nacional de Noticias” (p. 78).

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tidores y con libertad del electorado para informarse de las diversas ofertas5, pleno ejercicio de los derechos de opinión, protesta y participación en los asuntos públicos. Esta paradójica situación plantea grandes desafíos para la sociedad venezolana, uno de los cuales pasaría por evaluar las diversas experiencias de participación a fin de establecer si las nuevas organizaciones sociales han ayudado al desarrollo de la democracia. Nuestro objetivo, más limitado, busca contribuir a la necesidad de refinar, mejorar e introducir nuevas metodologías participativas (GARCÍA-GUADILLA, 2012, pp. 14-18) que de abajo hacia arriba - del vecindario/comunidad a la nación - no sólo sirvan a la solución de problemas concretos sino al restablecimiento y ampliación de la democracia en Venezuela. Esto supondrá una apreciación general sobre el marco políticoinstitucional, alcance, fortalezas y debilidades de la participación ciudadana en Venezuela. Desde la compleja realidad de una sociedad y un Estado que se definen como participativos, pero donde la cultura de la convivencia y el diálogo democrático se han restringido y la negociación sobre políticas públicas entre los principales actores políticos no está en las prioridades, el reto más importante es “promover una cultura de la deliberación” (CARTAYA & GIMENEZ, 2007, pp. 441 ). Buscamos, entonces, construir y recorrer puentes entre el enfoque de capacidades (SEN), la idea de democracia deliberativa (CROCKER) y la socio-praxis (VILLASANTE) para alcanzar el objetivo planteado.

La Idea de Democracia en el Pensamiento de Amartya Sen El enfoque del desarrollo como libertad coloca en el centro de su atención al ser humano en tanto agente activo y responsable de las decisiones que hacen 5 En Venezuela, entre 1999 y 2013 se han celebrado 22 procesos electorales nacionales de diverso tipo; los mismos progresivamente han perdido su carácter competitivo para constituirse en una confrontación entre fuerzas políticas opositoras al régimen y el aparato del Estado puesto al servicio del partido de gobierno. Indicios de esta desigualdad de condiciones entre los competidores se encuentran en informes que, a propósito de las elecciones presidenciales del 14 de Abril de 2013, realizaron organizaciones no gubernamentales internacionales tales como: The Carter Center (2013) y el Instituto de Altos Estudios Europeos (2013). Este último informe es particularmente interesante por cuanto además de analizar la inequidad del proceso electoral pone en evidencia la ausencia de autonomía de la Asamblea Nacional y del Poder Judicial en Venezuela. Sobre la situación de la democracia venezolana allí se puede leer: “Las instituciones de Estado han perdido su neutralidad, vulneran la garantía del ejercicio libre y sano de los derechos y obligaciones ciudadanas, dejan indefensa a la ciudadana y sin razón de ser a la democracia” (p. 5)

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posible su realización y bienestar. Se privilegia la libertad de agencia, entendida como la capacidad para lograr los objetivos que uno valora y tiene razones para valorar, eso es lo que llamamos desarrollo humano. Es un enfoque para alcanzar bienestar y calidad de vida, que rescata para la acción pública los valores de libertad y equidad, luego de las críticas y los aprendizajes de los enfoques de desarrollo del Siglo XX occidental (GONZÁLEZ TÉLLEZ, GIMÉNEZ MERCADO & RODRÍGUEZ VÁSQUEZ, 2010, p. 77). Libertad que al mismo tiempo comporta responsabilidad personal, y equidad que supone, como mínimo, igual acceso, consideración y respeto en el espacio público para cada persona, independientemente de su origen étnico, religión, clase, educación, o preferencias sexuales. Así, desde esta perspectiva, el desarrollo no tiene que ver únicamente con el incremento de la producción, el mejoramiento del ingreso, el desarrollo tecnológico, la elevación del consumo o la satisfacción de necesidades materiales. Tiene que ver también con la posibilidad de generar y escoger entre opciones, interviniendo en la deliberación y toma de decisiones alrededor de las normas sociales, el funcionamiento de las instituciones (incluyendo los mercados) y las acciones que posibilitan la expansión de capacidades y el florecimiento humano. El desarrollo humano es mucho más que el índice de desarrollo humano, “no es un enfoque sólo para alcanzar bienestar sino también para crear y sustentar la vida” (GONZÁLEZ et. al., 2010, p. 85). Siguiendo a Martha Nussbaum (2011, p. 39) el florecimiento humano depende, entre otras, de la realización de dos capacidades humanas centrales. La Razón Práctica, entendida como ser capaces de formarnos un concepto del bien e iniciar una reflexión crítica respecto de la planificación de la vida, lo cual supone la protección de la libertad de conciencia y religiosa y la Afiliación, esto es ser capaces de vivir con otros y volcados hacia otros, reconocer y mostrar interés por otros seres humanos y comprometerse en diversas formas de interacción social; ser capaces de imaginar la situación del otro y tener compasión hacia esta situación; tener la capacidad tanto para la justicia como para la amistad, lo cual implica proteger instituciones que constituyen y alimentan tales formas de afiliación, así como la libertad de asamblea y de discurso político En el plano de la praxis el enfoque de desarrollo humano y capacidades busca articular y hacer uso de “metodologías y niveles de análisis diferentes: 39

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cualitativo-cuantitativo, micro-macro, estructural-dinámico, cuyo fin fundamental es atender y reforzar la autonomía y la confianza de los actores, a través de la deliberación y la búsqueda del sentido compartido” (GONZÁLEZ et. al., 2010, p. 88). Es por ello que la democracia, principal logro de la humanidad en el siglo XX según Sen (1999, p. 3), es el ambiente propicio para la expansión de las capacidades humanas. En términos muy generales, podríamos entender la democracia como aquel sistema de gobierno contrario a la arbitrariedad en la toma de decisiones propia de la aristocracia, la monarquía (RICHARDSON, 2002, p. 28) o cualquier forma contemporánea de autoritarismo. Sen, yendo más allá de las instituciones propias de la democracia representativa del Siglo XX, en su idea de democracia destaca la importancia de la discusión pública: No debemos identificar la democracia con el gobierno de la mayoría. La democracia tiene exigencias complejas, que sin duda incluyen el voto y respeto a los resultados electorales; pero también requiere la protección de las libertades, el respeto de los derechos legales, la garantía de la libre discusión y distribución sin censura de noticias y comentarios. Incluso las elecciones pueden ser profundamente defectuosas si se producen sin que los diferentes competidores tengan la oportunidad adecuada de presentar sus respectivas ofertas, o si el electorado no disfruta de libertad para informarse y considerar los puntos de vista de los contendientes. La democracia es un sistema exigente, y no sólo una condición mecánica (regla de la mayoría) tomada de forma aislada. (SEN, 1999, p. 5, Trad. propia)6. Bajo esta perspectiva la democracia tiene importancia intrínseca, instrumental y constructiva. Intrínseca porque la privación de las libertades o derechos políticos atenta contra la dignidad de la persona; instrumental ya que el ejercicio de los derechos de opinión, protesta y participación en los asuntos públicos permite presionar sobre los gobiernos para la formulación de políticas públi6 “We must not identify democracy with majority rule. Democracy has complex demands, which certainly include voting and respect for election results, but it also requires the protection of liberties and freedoms, respect for legal entitlements, and the guaranteeing of free discussion and uncensored distribution of news and fair comment. Even elections can be deeply defective if they occur without the different sides getting an adequate opportunity to present their respective cases, or without the electorate enjoying the freedom to obtain news and to consider the views of the competing protagonists. Democracy is a demanding system, and not just a mechanical condition (like majority rule) taken in isolation.”

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cas y, finalmente, tiene una importancia constructiva porque es fundamental para la creación de valores y definición de prioridades. Veamos como Sen expone estas ideas centrales y, sobre todo, consideremos el papel fundamental que le otorga a la comunicación, la discusión y el debate público: Tenemos razones para valorar la libertad y más específicamente la libertad de expresión y acción en nuestras vidas, y tiene sentido que los seres humanos – esa creatura social que somos – valoremos la participación no restringida en las actividades políticas y sociales. La formación, informada y no regimentada, de nuestros valores requiere apertura en la comunicación y discusión pública. Las libertades políticas y los derechos civiles pueden ser centrales para este proceso (…) Se puede afirmar que para entender adecuadamente cuáles son las necesidades económicas – su contenido e intensidad – se requiere discusión e intercambio de ideas. Los derechos civiles y políticos, especialmente aquellos que garantizan la discusión abierta, el debate, la crítica y el disenso, son centrales en el proceso de generar escogencias informadas y bien pensadas (…) El alcance y efectividad del diálogo son usualmente subestimados en la evaluación de problemas sociales y políticos. (SEN, 2000, pp. 152-153, Trad. propia)7. Valga enfatizar que para Sen la construcción de acuerdos razonados es consustancial con su idea de democracia, para él la construcción de acuerdos tiene tanto o más valor que la proposición de la formula exacta de políticas o el diseño del modelo de sociedad ideal. Para Sen la idea de discusión pública y construcción de acuerdos es recíproca a la idea de democracia y se practica o debe practicarse en distintos ámbitos y niveles de la acción pública, por ejemplo, una bien informada y menos marginalizada discusión pública sobre los asuntos ambientales no sólo le hace bien al ambiente, sino puede ser importante para la salud y el funcionamiento de la democracia misma (p. 158). Pese a todo lo dicho a favor de la democracia, Sen advierte sobre el riego 7 “We have reason to value liberty and freedom of expression and action in our lives, and it is not unreasonable for human beings – that social creatures that we are – to value unrestrained participation in political and social activities. Also, informed and unregimented formation of our values requires openness of communication and arguments, and political freedoms and civil rights can be central for this process (…) It can be argued that a proper understanding of what economic needs are –their content and their force– requires discussion and exchange. Political and civil rights, especially those related to the guaranteeing of open discussion, debate, criticism, and dissent, are central to the process of generating informed and reflected choices (…) The reach and effectiveness of open dialogue are often underestimated in assessing social and political problems”.

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de considerarla una panacea: “La democracia no sirve como un remedio automático de enfermedades, como la quinina trabaja para curar la malaria. Las oportunidades que ofrece deben ser positivamente aprovechadas con la intención de obtener los efectos deseados (…) mucho depende de cómo las libertades sean realmente ejercitadas” (2000, p. 155, Trad. propia)8. Vale agregar que en contextos autoritarios, en los que las libertades políticas son reducidas al mínimo o anuladas del todo, la capacidad de agencia (individual y social) no desaparece, puede expresarse a través de múltiples formas o movimientos de resistencia a la dominación-arbitrariedad en ámbitos nacionales, regionales, locales e incluso micro-comunitarios y familiares. En síntesis, es ésta una visión de la participación como fin en sí misma, sintetizada en la idea según la cual: “Procesos como la participación en las decisiones políticas y la elección social no pueden ser vistos –en el mejor de los casos– como medios para lograr el desarrollo (a través, por ejemplo, de su contribución al crecimiento económico) sino que deben ser entendidos como componentes constitutivos de los fines mismos del desarrollo” (p. 291, Trad. Propia)9.

Democracia Deliberativa La idea de democracia de Sen puede beneficiarse de los trabajos recientes sobre democracia deliberativa tal como lo plantea David Crocker (2008) en su Ethics of Global Development. Agency, Capability and Deliberative Democracy, ya que aporta los elementos necesarios para desarrollar la idea general de democracia como discusión pública. Ciertamente, Sen no específica el posible rango de métodos o procedimientos a través de los cuales individuos o grupos pueden hacer las diversas las escogencias sociales ni sobre la forma como puede ser obtenida la información requerida para tales evaluaciones (SABINA citada en CROCKER (2008, p. 308) aquí es donde el enfoque de capacidades se puede beneficiar de

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“Democracy does not serve as an automatic remedy of ailments as quinine works to remedy malaria. The opportunity it opens up has to be positively grabbed in order to achieve the desired effect. This is, of course, a basic feature of freedoms in general-much depends on how freedoms are actually exercised” 9 “Such processes as participation in political decisions and social choice cannot be seen as being-at best-among the means to development (through, say, their contribution to economic growth), but have to be understood as constitutive parts of the ends of development in themselves”.

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la idea democracia deliberativa y de metodologías participativas, como la sociopraxis. Así mismo, interesa subrayar la orientación de la democracia deliberativa hacia la solución de problemas concretos, ya que permite decir que la importancia constructiva que Sen le atribuye a la democracia, a través de la discusión pública para la creación de valores y definición de prioridades, se práctica en situaciones concretas de la vida comunitaria, laboral, académica, etc. de las personas. Empecemos, entonces, por decir que las democracias difieren unas de otras en términos de su extensión, profundidad, rango y control (2008, p. 299). Son esas diferencias las que permiten hablar de la democracia española, brasileña, estadounidense, etc. como experiencias distintas de vida democrática. Así, en democracias de poca profundidad los ciudadanos hacen poco más que votar, democracias más profundas requieren modos o formas de participación en adición a las votaciones y la regla de la mayoría, por ejemplo la libre discusión y el toma y dame de los argumentos opuestos (2008, p. 299). Así mismo, mientras más universal o incluyente es la democracia (extensión), mientras más amplio es el rango de asuntos sobre los que los ciudadanos pueden opinar y decidir, mientras mayor es el control ciudadano sobre instituciones y/o políticas públicas, más se pone de relieve la importancia de la discusión pública. Todo lo cual alude a la importancia de la democracia en tanto provee instituciones y procesos a través de los cuales las personas pueden aprender unas de otras y construir o decidir sobre valores, prioridades y problemas concretos de la sociedad. Desde la perspectiva del enfoque de desarrollo humano y capacidades dichas escogencias sociales son múltiples, Hernández y Escala (2011, pp. 93-95) las han expuesto en el siguiente listado: La elección de los agentes participantes en el proceso. La escogencia de los procesos para la toma de decisiones. La elección de fines de agencia versus fines de bienestar. La elección entre funcionamientos10. La escogencia entre funcionamientos o capacidades ahora y en el futuro. 10 Los funcionamientos son la otra cara de las capacidades, un funcionamiento es la realización activa de una o más capacidades.

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La valoración que tendrá cada funcionamiento y capacidad elegida. La elección de los umbrales de capacidad. La elección entre las capacidades básicas y la expansión de todas las capacidades valiosas. La escogencia de funcionamientos específicos y capacidades generales. La elección entre valores distributivos y otros valores. El proceso de escogencia social confronta a los grupos desde el nivel local hasta el global. La escogencia de los procesos para la toma de decisiones se relaciona directamente con el propósito de este trabajo, por cuanto las personas hacen sus escogencias de muy diversas maneras (arrojando una moneda al aire, por capricho, apelando a la autoridad, a los expertos, a través de la reflexión crítica, etc.). Los grupos, por su parte, tiene la posibilidad de escoger entre diversos procesos de toma de decisiones colectivas, incluyendo naturalmente alguna forma de toma de decisiones democrática (CROCKER, 2008, pp. 303-307).

Así, pues, la democracia deliberativa es la teoría y práctica de la democracia que enfatiza el intercambio de puntos de vista, de razones en la toma democrática de decisiones sobre los asuntos públicos. Su propósito general es ampliar y profundizar la idea de la democracia como gobierno del pueblo subrayando la reciprocidad, inclusión y publicidad de la discusión de los asuntos de interés general, extendiendo su práctica hasta algunas organizaciones no gubernamentales (CROCKER, 2008, p. 310). Y sus objetivos específicos serían identificar y resolver problemas concretos y proveer una manera justa y transparente a través de la cual, libre, autónoma e igualitariamente, los miembros de un grupo (o varios grupos entre sí) puedan superar sus diferencias y alcanzar un acuerdo sobre una acción o determinada política pública. La idea de democracia deliberativa propone un complejo ideal de asociación cuya vida común es gobernada por la deliberación pública de sus miembros. La deliberación es democrática en la medida que está basada en un proceso de alcanzar acuerdos entre ciudadanos libres e iguales Bohman,(1999). De allí la definición de participación deliberativa como un proceso en el cual las no-élites (algunas veces entre ellas mismas, otras veces con las élites) deliberan juntas, examinando intenciones, propuestas y razones para forjar acuerdos que al menos una mayoría pueda aceptar (CROCKER, 2008, p. 344). Al hablar de democracia deliberativa, es importante llamar la atención 44

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sobre las limitaciones de centrar la atención exclusivamente sobre el procedimiento o sobre la creación de condiciones que posibiliten a cada individuo con derecho a participar e influir que lo haga. Ciertamente, el que una persona participe o no puede tener múltiples explicaciones dependiendo de condiciones y circunstancias específicas del contexto, pero también puede estar condicionada por la capacidad interna de la persona o grupo para desempeñarse adecuadamente en el ámbito público11. De manera que la exclusiva atención sobre el contexto y el diseño del procedimiento o metodología es insuficiente. En tal sentido, Crocker (2008, p. 318) detalla cuatro condiciones generales que posibilitan la democracia deliberativa: libertad política igualitaria, igualdad ante la ley, economía justa y equidad procesal, pero también, apunta que importantes sectores de la población tienen muy limitadas oportunidades/capacidades de hablar por ellos mismos, siendo éste un reto muy serio para cualquier metodología participativa. No obstante, no es menos democracia o un gobierno autoritario el que logrará crear las condiciones y capacidades necesarias de los actores para la construcción de una sociedad justa. Por el contrario, una más extensa y profunda democracia ofrece la posibilidad de crear tales condiciones/ capacidades en y a través de la democracia.

La Sociopraxis: una Aproximación Teórica-Metodológica Participativa ¿Deliberativa? Se pretende en esta sección del trabajo presentar una panorámica sobre la sociopraxis, resaltando aquellos aspectos que se relacionan con la democracia deliberativa. Se trata de realizar una síntesis de las metodologías participativas que han sido propuestas desde la socio-praxis. La pregunta central que nos orienta para ello es ¿Contribuye la socio-praxis con el desarrollo del enfoque de las capacidades de Sen y de la democracia deliberativa de Crocker? En tal 11 Reflexionando sobre la experiencia de los movimientos urbanos por los derechos civiles y sociales de Estados Unidos en los sesenta, Kramer (1972, pp. 109-141) dice que la dura lucha por la sobrevivencia deja a muchos con poco tiempo para involucrarse en la actividad política. Carencia de educación formal o limitaciones de acceso a la información también restringen sus habilidades para intervenir en las discusiones públicas y los debates electorales o para hacer uso efectivo de los medios de comunicación, los tribunales y otras instituciones democráticas. Hechos que pueden conducir a que procesos inspirados en la idea de democracia deliberativa queden en manos de “elites” (locales, regionales o nacionales) con los riesgos de diverso tipo que esto conlleva (imposición de decisiones, corrupción, privilegios, daños a la comunidad, etc.).

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sentido, a continuación presentamos una caracterización de estas metodologías con énfasis en sus aspectos esenciales a la vez que vinculados con la democracia deliberativa. Son estilos: Acota Villasante el alcance y aporte de su propuesta de la forma siguiente “No vamos a aportar soluciones finales para los problemas que tenemos, sino más bien formas, maneras y estilos de enfocarlos” (VILLASANTE, 2006a, p. 22). Al referirse a los ‘estilos’ señala Villasante que no se trata de una cuestión formal, sino sustancial de los procesos sociales, entendiendo ‘estilos’ como “esquemas no-reduccionistas, procesuales, etc. con los que enfrentar fenómenos inabarcables. Ya que cada vez que nos metemos en ellos provocamos nuevas complejidades, unas queridas y otras no queridas” (VILLASANTE, 2001, p. 124). Son estilos creativos. Estos ‘estilos’ son “posiciones ante la vida y las informaciones que llegan, que nos permiten saberlas tratar como contradicciones que son en su mayoría, y nos permiten tomar caminos operativos y creativos sin dejarnos asustar por la apariencia caótica que presentan” (VILLASANTE, 2006 a, p. 22). Son resultado de procesos de aprendizajes en los propios movimientos sociales. Tal como lo indica el CIMAS, estas metodologías participativas han nacido al calor de los movimientos sociales, con pretensiones críticas y transformadoras: En Latinoamérica, y posteriormente en otras partes del mundo, desde los años 60-70 se vienen construyendo unas ciencias sociales explícitamente al servicio de las causas populares (IAP y otras). En Europa, desde la década de los 60, varios movimientos sociales impulsaron el socio-análisis o análisis institucional, la co-investigación obrera, las militancias instituyentes de grupos feministas, ecologistas, etc. Desde campos ideológicos a veces divergentes (marxismos, libertarios, teología de la liberación, etc.) se han ido criticando dogmas precedentes y construyendo convergencias muy enriquecedoras y creativas. CIMAS,( 2014). Son resultado de un acoplamiento de metodologías implicativas. Entre los precedentes de este planteamiento visto en clave temporal, se tiene que este acoplamiento de metodologías ha tenido lugar progresivamente: En los años noventa partimos de aplicar un análisis crítico de la InvestigaciónAcción-Participativa (IAP) según la entendimos en Fals Borda y el propio

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Orgs: Nara Vieira Ramos & Tomás R. Villasante colectivo IOE. También partimos de criticar y aplicar elementos del socioanálisis (Lapassade, Lourau, Guattari, etc.) y también de la filosofía de la praxis (Gramsci, Sacristán, Sánchez Vázquez, Zemelman, etc.). Más adelante hemos ido incorporando aportaciones de la Planificación Estratégica Situacional (PES) que impulsó Carlos Matus, de los Diagnósticos Rurales Participativos (DRP) de R. Chambers y M. Ardón, y también de la Concepción Metodológica Dialéctica de inspiración freiriana que han planteado Calos Núñez, Óscar Jara, etc. Entre prácticas y debates, hemos ido construyendo nuestras propias formas de abordar la perspectiva socio-práxica”. (VILLASANTE, 2006 a, p. 30).

La sociopraxis articula a la vez que se distingue12 de un conjunto de posiciones teóricas y prácticas. En el Cuadro Nº 1 se presenta una síntesis de los diversos enfoques y aportes prácticos y teóricos que desde los años 70 han ido nutriendo las metodologías participativas sociopráxicas, en el orden en que se han ido aplicando. Se observan en el referido Cuadro las distinciones y articulaciones teórico-prácticas de la socio-praxis; se presentan cuatro fases (filas del cuadro) denominadas por Villasante como: a) desbordes práxicos, b) saltos por la complejidad, c) esquemas colectivos y d) movimientos alternativos; y, en las columnas, tres ámbitos (u ondas) de aplicación principal, a) posicionamientos dialógicos (personas-grupos), b) hologramas micro-macro (grupos-comunidades) y c) devoluciones creativas (comunidades-sociedad). Usando letras mayúsculas, en el Cuadro, se destaca lo que en/para cada momento (fase/onda) la socio-praxis significa como distinción-articulación epistémica. Tal como se observa en el cuadro 1 (página siguiente), en la última fase se resalta el vínculo de la socio-praxis con las democracias participativas y, de ese modo, con los planteamientos de Sen sobre la democracia y de Crocker sobre la democracia deliberativa. Todos otorgan un papel fundamental a la comunicación, la discusión y el debate público. “No soìlo por creer que la democracia sea un fin en síì misma, sino porque puede servir para conseguir ademaìs alguìn fin concreto, y sobre todo para ir construyendo un futuro en que la gente sienta que cuenta “ (VILLASANTE, 2011, p. 145). No son metodologías participativas basistas, espontaneístas ni voluntaristas: La distinción de la socio-praxis con algunas posiciones de 12

Desde la sociopraxis se hacen “algunas distinciones, más que definiciones, para que se pueda entender en qué ámbitos no nos movemos y en cuáles sí. No se trata de acabar de cerrar o definir cada expresión, sino de delimitar un campo donde podamos comunicarnos con cierta eficiencia” (CIMAS, 2014).

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Cuadro Nº 1: Distinciones y articulaciones teórico-prácticas de la sociopraxis

Fuente: Villasante, T. (2011). “Estilos y epistemología en las metodologías participativas”.

Investigación-acción-participación (IAP) y de otras perspectivas participativas tiene lugar “cuando estas se basan en puras simetrías entre sujetos (que nos parecen más deseos que realidades), ciertos espontaneísmos sin metodologías y más buena voluntad que saber hacer” (VILLASANTE, 2006 a y b, p. 416). De modo que en la socio-praxis la escucha y el debate fundamentado es crucial. En tal sentido, Villasante (2012) plantea lo siguiente: ¿podemos fiarnos de que la gente siempre tiene la razón, sean como sean las asambleas? ¿o hemos de dar paso a unos procedimientos participativos para evitar el ‘basismo voluntarista’ que a veces se convierte en manipulador? Si una minoría se empeña en bloquear un consenso sin variar su posición, ni tratar de llegar a acuerdos integradores, o si los técnicos aprovechan para hacerse

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Orgs: Nara Vieira Ramos & Tomás R. Villasante los amos del proceso, o si bajo un argumento ‘ideológico’ se esconden unas influencias no tan confesables, hay que encontrar procedimientos superadores” (pp. 66-67).

Son metodologías para la transformación social: “Así pues, intentamos establecer algunas distinciones que hagan la implicación participativa un poco más crítica y auto-crítica y por ello mismo más rigurosa y operativa para la transformación o el desborde de los dictados con los que nos suele tocar enfrentarnos” (CIMAS, 2014). La socio-praxis se distingue de un conjunto de perspectivas epistemológicas, a saber: de la perspectiva cuantitativa (distributiva) y de la cualitativa (estructural) así como de algunas perspectivas participativas (dialécticas). En el siguiente cuadro se presenta una síntesis de estas cuatro perspectivas epistemológicas (distributiva, estructural, dialéctica y socio-práxica) considerando los aspectos a) tecnológicos ¿Cómo se hace?, b) metodológicos ¿Por qué se hace? y c) epistemológicos ¿Para qué, para quién?, lo cual nos permite ubicar las especificidades de la perspectiva epistemológica de la sociopraxis. Cuadro Nº 2: Perspectivas epistemológicas

Fuente: Villasante, T. (2006). Desbordes creativos. Estilos y estrategias para la transformación social.

Vale hacer las siguientes acotaciones sobre algunos aspectos epistemológicos de la sociopráxis:

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Se distingue de los que toman distancias entre el sujeto y el objeto de una investigación o de un proceso social. “Ni los investigadores pueden ser sujetos plenos sin condicionantes, ni los investigados son meros objetos para ser observados…Frente a la relación sujetoobjeto que se pretende “científicamente objetiva” siempre hay estrategias personales y grupales de sujetos-sujetos que están en pugna por construir acciones y explicaciones que les interesan a cada parte” (CIMAS, 2014).

No renuncia al uso de las técnicas que caracterizan las otras perspectivas sino que pretende darles sentido desde posiciones implicativas y participativas: “La posición sociopráxica usa las tecnologías cuantitativas y cualitativas pero no desde las metodologías y epistemes con las que suelen ser usadas, sino desde las posiciones implicativas y participativas que pretendemos distinguir. En realidad, la sociopráxis podría estar entre la posición estructural o cualitativa… y las posiciones dialécticas o militantes de las que se reclaman algunos movimientos radicales” (CIMAS, 2014).

Se considera que la implicación es fundamental para cualquier conocimiento. “En primer lugar porque siempre estás implicado, y si no eres consciente aún es peor (porque no controlas en dónde estás). No se puede ‘ver o juzgar’ desde fuera de la sociedad, porque somos parte de la sociedad. Pero tampoco nos podemos quedar paralizados por esta falta de distanciamiento en que estamos metidos. Cualquier cosa que hagamos, o no hagamos, también nos implica prácticamente, y por eso la reflexión está siempre en medio de dos acciones”. (CIMAS, 2014). En cuanto a la noción de praxis se resalta el hecho de que hacer estas reflexiones “consciente de que ‘la pasión no quita conocimiento’, más bien se lo quita a quien no se sabe en dónde está metido y no toma ni un mínimo de distancia sobre sus condicionantes” (CIMAS, 2014). Da prioridad a los ‘Analizadores Situacionales e Instituyentes’: “El ‘analizador’ es un actor, un suceso, que nos suele aportar más complejidad y realidad que cualquier ‘analista’ con sus textos académicos…Un proceso instituyente lo puede ser en diversos grados, siempre está en una

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Orgs: Nara Vieira Ramos & Tomás R. Villasante

contraposición dialógica con lo instituido, pero es situándonos en esos procesos, y no tratando de definirlos académicamente, como podemos avanzar tanto en transformar la realidad como en entenderla. Distinguir y dar más importancia a los ‘hechos analizadores’ que a los textos de los analistas no quiere decir que no leamos y debatamos, sino que hacemos la práctica teórica a partir de establecer alguna situación instituyente como referente para cualquier reflexión” (CIMAS, 2014). Llegados aquí, destacaremos a continuación seis aspectos claves en la socio-práxis que dan cuenta de su significado y alcance así como de sus vínculos con los planteamientos de Sen y de Crocker sobre la democracia. Esos 6 aspectos clave, de acuerdo a la denominación de Villasante, son los siguientes: estilos transductivos, conjuntos de acción, multilemas, ideas-fuerza emergentes, redes democrático-participativas, desbordes y reversiones. A continuación algunos comentarios de cada uno de estos aspectos (VILLASANTE, 2011, pp. 135-141): Estilos transductivos: Villasante (2011) indica que Las transducciones se basan en unos dispositivos para crear ‘situaciones’ peculiares de transformacioìn, ‘provocaciones’ con cierta transparencia, al estilo de las preguntas ‘mayeìuticas’ que formulaba Soìcrates (...) lo maìs importante es el papel de preguntas desveladoras de los prejuicios ocultos, o creativas de una mayor profundizacioìn y reflexividad de los procesos. (p. 136). Conjuntos de acción: Sobre la base de que todo lo real es relacional a la socio-praxis le interesan “maìs los viìnculos y lo que puedan ser sus dinaìmicas que las definiciones de los grupos o sectores que soportan las relaciones. No es posible lo uno sin lo otro, pero es maìs posible cambiar las relaciones que los sujetos por siì mismos” (VILLASANTE, 2011, p. 137). Son mapas de relaciones que permiten entender las estrategias y los intereses que se confrontan o se articulan en un momento determinado. En tal sentido, vale señalar que Los anaìlisis del poder con frecuencia han sido muy simplificadores (…) Frente al intento de localizar el poder en un lugar, institucioìn o persona, estaì la posibilidad de establecerlo como juego de relaciones o de estrategias. Las distintas posiciones se muestran asiì en funcioìn del tipo y la intensidad de viìnculos que se establecen en cada caso. (VILLASANTE, 2011, p. 133). Multilemas: Se trata de analizar las situaciones más allá de los dilemas (posiciones enfrentadas de las que parece que no se puede salir), ampliando posibilidades (lo uno, lo otro, ni lo uno ni lo otro, lo uno y lo otro) para 51

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introducir creatividad a los procesos sociales, considerando posiciones minoritarias y construir colectivamente, discutiendo viabilidad y no representatividad (VILLASANTE, 2006 a y b). Dicho de otro modo: trabajar con las propias expresiones paradoìjicas de los sujetos implicados en los procesos (…) Los anaìlisis lingüiìsticos han ido maìs allaì de los dilemas, y nos plantean los ‘tetralemas’ o dobles dilemas que todos usamos a diario auìn sin darnos cuenta (...) Este tipo de planteamientos nos abre a profundizaciones mayores, y a nuevas alternativas. (VILLASANTE, 2011, p. 134). Ideas-fuerza emergentes: Se trata de construir prioridades de acción de forma colectiva yendo maìs allaì de la causa-efecto lineal, y aportar las construccioìn ‘recursiva’ de los procesos (como el anuncio de algo que puede suceder se convierte en otra causa). Es decir, aportar en primer lugar queì bloqueos, nudos criìticos, son los que obstaculizan las relaciones complejas entre las variadas causas y los diferentes efectos en un proceso. Hacer esto participativamente integra visiones mayoritarias, y también minoritarias, correlaciones entre variadas causas y efectos y sus pasos intermedios, con referencias a los diferentes subtemas a considerar y a las diferentes alianzas posibles entre sectores sociales. (VILLASANTE, 2011, pp. 138-139).

Redes democrático-participativas: Se trata de establecer alianzas estratégicas de varios “conjuntos de acción”. Tal como lo señala Villasante, la sociopraxis Se plantea cooperar desde abajo y no soìlo coordinar desde arriba, integrar en el proceso todas las iniciativas y capacidades de los seres de cada uno de los ecosistemas en donde estamos. La ‘sinergia’ que se trata de producir no es una simple suma de las partes, sino la multiplicacioìn de las iniciativas que surgen en la vida cotidiana.” (VILLASANTE, 2011, p. 140).

Desbordes y reversiones. Siendo que no es posible saber nunca cómo pueden acabar estos procesos sociales se abordan las situaciones juntando el concepto de ‘reversión’ con el de ‘desborde popular’ de algunos movimientos populares latinoamericanos. Siendo que “Salir de las ‘dialécticas cerradas’ significa que en cada momento se puede optar por una complejidad de alternativas (radicales o menos, previstas o desbordantes, según las circunstancias), y esto es poner más profundidad y rigor en los procesos” (CIMAS, 2014). 52

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“Más allá de la discusión entre progresistas y conservadores, o de revolucionarios y reformistas, colocarse en la posición rebelde ‘reversiva’ es pasarse a otro plano emergente y práctico que no está interesado en una discusión paralizante. (…). Ejes emergentes que pueden desbloquear algunas posiciones clásicas donde se encasillan las dicotomías dominantes” (VILLASANTE, 2006 a, p. 413).

Como vemos, estas metodologías no niegan el conflicto. El estilo transductor de estas metodologías participativas reconoce la existencia de conflictos entre actores; se promueve la escucha, la comunicación y la deliberación entre actores. Se trata de una posición frente a los problemas que “empieza por no negar las contradicciones, por no taparlas sino profundizarlas” (VILLASANTE, 2006a, p. 23). De este modo, se promueve/facilita un ejercicio de democracia participativa deliberativa en los procesos sociales de planificación-acción. La complejidad en acción: estas metodologías participativas son estilos que suponen la implicación práxica en procesos complejos, en tanto espirales reflexivas, en contextos conflictivos que encuentran en la complejidad y la incertidumbre su justificación: “en los análisis concretos de situaciones, en la reflexividad para construir iniciativas, en la construcción colectiva de la acción y el conocimiento” (VILLASANTE, 2011, p. 125). En tal sentido, la perspectiva socio-práxica operacionaliza conceptos abstractos mediante diversas técnicas y metodologías. En el Cuadro Nº 3 se presenta el entramado de procesos socio-práxicos en el que se condensan saberes, saltos y tiempos. Los saberes hacen referencia al episteme (El saber “¿para qué? y ¿para quién?” del conjunto de lo que se hace); la metodología (El saber el “¿por qué?” de cada fase); las técnicas (El “saber hacer” / el ¿cómo?) y los resultados (El saber el ¿qué?). Los saltos epistémicos, tal como señalado supra, incluyen los estilos transductivos; los conjuntos de acción; los multilemas; las ideas-fuerza emergentes; las redes democrático-participativas así como los desbordes y reversiones. En las columnas del cuadro se señalan las etapas, denominadas por Villasante como: predisposiciones, plan de trabajo negociado, trabajo de campo y análisis abiertos; devoluciones creativas y priorizaciones, propuestas integrales y sustentables, realizaciones y seguimientos. Vale decir que los tiempos de las fases del proceso socio-práxico indicadas en la primera fila del cuadro son 53

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Fuente: Villasante, T. (2011). “Estilos y epistemología en las metodologías participativas”.

Cuadro Nº 3: Saberes, saltos y tiempos en los procesos socio-práxicos

referenciales ya que éstos son variables y algunos momentos necesariamente abiertos a los debordes y las reversiones.

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A continuación destacamos algunas características de estas fases o momentos: Predisposiciones desde las experiencia previas: Siendo que No es lo mismo llegar a estos procesos desde el impulso de un movimiento social, que por el voluntarismo de un equipo teìcnico o de un poliìtico con buena voluntad. Hay una serie de caracteriìsticas baìsicas, y no soìlo la buena voluntad, para que se pueda empezar con ciertas garantías de poder cumplir con lo que se pretende (...) Esta columna [la primera del cuadro correspondiente] nos muestra algunas de las predisposiciones que se han de tener ademaìs de la voluntad de querer implicarse en metodologiìas participativas”. (VILLASANTE, 2011, p. 142).

Construcción del plan de trabajo negociado: En la siguiente columna ya empezamos las tareas, y lo mejor es hacerlo con aquellos primeros grupos que se apuntan al proceso. No basta tener buena voluntad y tratarnos unos y otras como sujetos. No basta la simple conversacioìn porque siempre estamos cargados con prejuicios que sin duda acumulamos (de teoriìas y de las experiencias de las que cada cual viene). Por eso es bueno que nos ‘(eco)evaluen’ (podamos ver cómo nos ven otras personas) desde un primer momento” (VILLASANTE, 2011, p. 143). Así mismo, “(...) dentro de las fases de un proceso parece tambieìn conveniente empezar por reconocer las redes sociales que puede haber en un mapa de relaciones local, que lo podemos construir con algunos grupos implicados participadamente. La idea es llegar a poder poner en ese mapa de relaciones los diferentes ‘conjuntos de accioìn’ y sus estrategias particulares, contradictorias o afines, ajenas o simplemente diferentes a las nuestras (VILLASANTE, 2011, pp. 143-144).

Trabajo de campo y análisis abiertos: “Ya abiertos al trabajo de campo cabe escuchar todas las posiciones que se pueda, y adoptar un estilo de facilitador/a. No basta reflexionar personalmente o en grupo sobre las acciones y sobre la recogida de informacioìn que estemos haciendo (...) la ‘hipercomplejidad’ de las paradojas sociales que nos encontramos da para un proceso que precisa de mayores profundizaciones. Es por lo que procuramos realizar ‘reflexividades de segundo grado’ a ser posible con

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Do sul ao norte - metodologias participativas desde a sociopráxis los mismos colectivos o sectores sociales que nos han informado en las entrevistas o en talleres, haciendo que se analicen ellos mismos, por quéì dijeron lo que dijeron, y queì otras cosas se les ocurren en este segundo momento.” (VILLASANTE, 2011, p. 144).

Devoluciones creativas y priorización: “Una nueva columna nos muestra precisamente momentos para ‘devolver creativamente’ esas frases, y posiciones, que vienen de la fase anterior. Hay que estar dispuestos a dirigir talleres que permitan provocar saltos creativos en sus participantes, … que las gentes puedan reflexionar sobre lo que dijeron y porqueì, y posiblemente añadir algunas nuevas razones que tenían dentro, pero que no aparecieron en una primera conversacioìn. Asíì pueden aparecer los ‘ejes emergentes’ (Villasante, 2011, p. 144). En este momento se trata de: Preparar y devolver algunas frases claras, en el lenguaje textual de la gente, y sin decir quién dijo tal o cual cosa. En seguida los que participan no sólo interpretan el por qué se han dicho tales o cuales cosas, sino que suelen añadir nuevas aportaciones de mucha mayor profundidad” (CIMAS, 2014).

Propuestas integrales sustentables. En el momento propositivo hay que saber facilitar las alianzas para que la planificacioìn acabe siendo operativa. No bastaraì un proceso técnico con indicadores para hacer seguimiento de lo que se va realizando, sino que son las ‘redes democraìticoparticipativas’ las que deben llevar el control para cada paso que hay que dar (...) No es la jerarquía de autoridad quién manda sino la ‘Idea-fuerza’ quién es capaz de reunir las voluntades y animar el proceso (...) y su capacidad de mover dispositivos voluntarios en su entorno. (VILLASANTE, 2011, pp. 144-145)

Realizaciones y seguimientos: Hay que ser capaces de codirigir con metodologiìas que escuchen el eco de lo imprevisto, y sepan atender los ‘desbordes’ que se produzcan. Por eso hablamos de ‘(eco)dirigir’ para estar a la altura de algunas ‘reversiones’ que pueden desbordar muchas partes de lo planteado, o que simplemente llevan maìs allaì los mismos planteamientos que se pretenden, pero a mayor ritmo (o 56

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tal vez se paralizan) (...) Los procesos sociales siempre tienen sus propias loìgicas que nos sorprenden, y por eso consideramos que es maìs inteligente estar preparados para ello antes que confiar en que todo lo tenemos previsto” (VILLASANTE, 2011, p. 145). Tal como se puede observar, todos estos momentos de la planificación suponen un fuerte proceso de diálogo o deliberación para la construcción de acuerdos, donde la discusión abierta, el debate, la crítica y el disenso tienen espacio para manifestarse y considerarse. Para finalizar, vale destacar que esta articulación de un conjunto de metodologías participativas planteada por la socio-praxis, no constituye un recetario único y estático; al contrario, lo que se propone es una serie de articulaciones y distinciones “en sus diferencias y en sus elementos más creativos, para que cada cual pueda elegir y hacer su propia combinación y no quedar bloqueado en una sola de las aportaciones. Por supuesto, ésta es una de las posibilidades y no quiere ser más que un referente para poder empezar por algún lado. Pero también queremos mostrar que hay posibilidades de dar saltos creativos a partir de algunos movimientos prácticos y de reflexión, sobre diferentes aportaciones teóricas” (CIMAS, 2014). En síntesis, desde este enfoque, la planificación se concibe como un proceso iterativo, teórico-práctico, objetivo-subjetivo, un diálogo de saberes, centrado en la gente. Frente a la complejidad, incertidumbre y conflictividad, bajo el enfoque de la socio-praxis se abordan las situaciones sociales con estilos procesuales transductivos, reflexivos y práxicos, donde la implicación es fundamental. Allí, lo reversivo desborda los esquemas patriarcales y los poderes instituidos y potencian democracias participativas.

La Participación Ciudadana en Venezuela: Marco Político-Institucional, Principales Figuras, Alcance, Debilidades y Fortalezas La Constitución de la República Bolivariana de Venezuela del año 1999 estableció un modelo político que combina instituciones de la democracia representativa, directa y participativa. En lo que al papel de la participación ciudadana en los asuntos públicos se refiere, sus Artículos 6 y 70 son ilustrativos de ello: Art. 6 El gobierno de la República Bolivariana de Venezuela y de las entidades políticas que la componen es y será siempre democrático,

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participativo, electivo, descentralizado, alternativo, responsable, pluralista y de mandatos revocables. Art. 70 Son medio de participación y del protagonismo del pueblo en el ejercicio de su soberanía, en lo político: la elección de cargos públicos, el referendo, la consulta popular, la revocación del mandato, las iniciativas legislativa, constitucional y constituyente, el cabildo abierto y la asamblea de ciudadanos y ciudadanas cuyas decisiones serán de carácter vinculante, entre otros; y en lo social y económico: las instancias de atención ciudadana, la autogestión, la cogestión, la cooperativas en todas sus formas incluyendo las de carácter financiero, las cajas de ahorro, la empresa comunitaria y demás formas asociativas guiadas por los valores de la mutua cooperación y la solidaridad. La ley establecerá las condiciones para el efectivo funcionamiento de los medios de participación previstos en este artículo. Posteriormente, a partir de la segunda re-elección del Presidente Chávez en 2006, se intenta impulsar el denominado Socialismo del Siglo XXI13 en tanto sistema político y modelo de desarrollo económico-social que progresivamente ha ocasionado la deformación y restricción de las instituciones de la democracia representativa y una creciente (re)centralización del Estado. Una expresión programática de dicho modelo se encuentra en el “Primer Plan Socialista de la Nación 2007-2013” (República Bolivariana de Venezuela, 2007) y en su reciente actualización, el denominado “Plan de la Patria 2013-2019” (RBV, 2013), texto este último, que fue presentado ante el Consejo Nacional Electoral el 11 de junio de 2012 como programa de gobierno por Hugo Chávez para su tercer periodo de gobierno y, posteriormente, por el actual Presidente, Nicolás Maduro, tras el fallecimiento del primero14. 13

Sobre las tesis del Socialismos del Siglo XXI, entre los autores más divulgados en Venezuela se encuentran: Azzelini (2010a y b), Biardeau (2007), Dietrich (2003, 2005), Giordani (1997), Harnecker (2009), Monedero (2008, 2009). No obstante, si nos atenemos al ordenamiento jurídico vigente el Socialismo del Siglo XXI “Es un modo de relaciones sociales de producción centrado en la convivencia solidaria y la satisfacción de necesidades materiales e intangibles de toda la sociedad, que tiene como base fundamental la recuperación del valor del trabajo como productor de bienes y servicios para satisfacer las necesidades humanas y lograr la suprema felicidad social y el desarrollo humano integral. Para ello es necesario el desarrollo de la propiedad social sobre los factores y medios de producción básicos y estratégicos que permita que todas las familias y los ciudadanos y ciudadanas venezolanos y venezolanas posean, usen y disfruten de su patrimonio o propiedad individual o familiar y ejerzan el pleno goce de sus derechos económicos, sociales, políticos y culturales” (Ley Orgánica de las Comunas, Art. 4, G.O. No. 6.011 Ext., 21-12-2010). 14 El denominado “Plan de la Patria” fue presentado y aprobado por la Asamblea Nacional el 3 de diciembre de 2013 y publicado en Gaceta Oficial 6.018 Ext. del 4-12-2013. Este plan, al igual que el

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Está fuera del alcance de este trabajo analizar en detalle estos documentos y sus implicaciones, no obstante es fundamental tener presente el horizonte que plantean, la construcción de una sociedad socialista. En el plano jurídico se ha ido construyendo un entramado de leyes sobre participación ciudadana de un alto grado de complejidad que responde al mismo propósito general. Son estas leyes las que le han dado viabilidad legal y financiera a nuevas formas de participación ciudadana como los consejos comunales y las comunas y, en última instancia, al denominado Estado Comunal15, nueva institucionalidad estatal de la Venezuela socialista. La siguiente tabla recoge el listado mínimo de instrumentos jurídicos de la participación ciudadana vigentes en Venezuela: Tabla Nº 1: Marco legal de la participación ciudadana en Venezuela

Fuente: Elaboración propia

De este marco jurídico extraeremos dos figuras o instancias de participación que por la importancia que poseen merecen ser consideradas, conjunto de leyes que definen el llamado Estado Comunal (ver Cuadro No. 1) han sido rechazadas por las fuerzas políticas de oposición ya que consideran su contenido violatorio de la Constitución Nacional, la cual en ninguno de sus artículos contempla la construcción de una sociedad socialista como horizonte del desarrollo nacional. 15 La Ley Orgánica de las Comunas en su Art. 4 define el Estado Comunal como “Forma de organización político-social, fundada en el Estado democrático y social de derecho y de justicia establecido en la Constitución de la República, en la cual el poder es ejercido directamente por el pueblo, a través de los autogobierno (sic) comunales, con un modelo económico de propiedad social, y de desarrollo endógeno y sustentable, que permita alcanzar la suprema felicidad social de los venezolanos y venezolanas en la sociedad socialista. La célula fundamental de conformación del estado comunal es la Comuna”.

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nos referimos al consejo comunal y la comuna. La primera, por ahora, más significativa que la segunda ya que, “se ha extendido con éxito en todo el país” (Machado, 2009a, p. 115) De acuerdo con la Ley Orgánica de los Consejos Comunales: Art. 2. Los consejos comunales, en el marco constitucional de la democracia participativa y protagónica, son instancias de participación, articulación e integración entre los ciudadanos, ciudadanas y las diversas organizaciones comunitarias, movimientos sociales y populares que permiten al pueblo organizado ejercer el gobierno comunitario y la gestión directa de las políticas públicas y proyectos orientados a responder a las necesidades, potencialidades y aspiraciones de las comunidades, en la construcción del nuevo modelo de sociedad socialista, de igualdad, equidad y justicia social. La comuna, por su parte, según la Ley de las Comunas Art. 5. Es un espacio socialista que, como entidad local, es definida por la integración de comunidades vecinas con una memoria histórica compartida, rasgos culturales, usos y costumbres, que se reconocen en el territorio que ocupan y en las actividades productivas que le sirven de sustento, y sobre el cual ejercen los principios de soberanía y participación protagónica como expresión del Poder Popular, en concordancia con un régimen de producción social y el modelo de desarrollo endógeno y sustentable, contemplado en el Plan de Desarrollo Económico y Social de la Nación. El propósito fundamental de la comuna es la construcción del Estado Comunal, expresión que da cuenta de la nueva arquitectura gubernamental en construcción que no se vincula con los poderes municipales ni regionales existentes, sino directamente con el gobierno nacional: Art. 6. La Comuna tiene como propósito fundamental la edificación del estado comunal, mediante la promoción, impulso y desarrollo de la participación protagónica y corresponsable de los ciudadanos y ciudadanas en la gestión de las políticas públicas, en la conformación y ejercicio del autogobierno por parte de las comunidades organizadas, a través de la planificación del desarrollo social y económico, la formulación de proyectos, la elaboración y ejecución presupuestaria, la administración y gestión de las competencias y servicios que conforme al proceso de descentralización, le sean transferidos [de Gobernaciones y Alcaldías], así como la construcción de un sistema de producción, distribución, intercambio y consumo de propiedad social, y la disposición de medios alternativos de justicia para la convivencia y 60

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la paz comunal, como tránsito hacia la sociedad socialista, democrática, de equidad y justicia social. De acuerdo con el último censo comunal elaborado por el Ministerio del Poder Popular para las Comunas y Protección Social, ente que, entre otras atribuciones, fomenta la creación de estas organizaciones y se ocupa de mantener al día un registro de las mismas, actualmente existen en Venezuela 40.035 consejos comunales y 1.401 comunas16 (Ministerio del Poder Popular para las Comunas, 2013). Cifras significativas si se considera que la población de referencia, en ámbitos urbanos, para constituir un consejo comunal puede variar entre 150 y 400 familias, para el medio rural a partir de 20 familias y en comunidades indígenas a partir de diez familias. No en balde se afirma que “aproximadamente un tercio de la población venezolana ha participado en ellos [consejos comunales]” (GOLDFRANK, 2011, p. 42). Estamos frente a un fenómeno de alcance social masivo. En lo que respecta a los consejos comunales conviene subrayar que la Ley establece una relación directa entre el gobierno nacional y los Consejos Comunales, para la promoción, registro y financiamiento de los CC. En efecto, de acuerdo a la Ley: Art. 56. El ministerio del poder popular con competencia en materia de participación ciudadana dictará las políticas estratégicas, planes generales, programas y proyectos para la participación comunitaria en los asuntos públicos y acompañará a los consejos comunales en el cumplimiento de sus fines y propósitos, y facilitará la articulación en las relaciones entre éstos y los órganos y entes del Poder Público. Así, pues, además de la orientación ideológica que desde el poder central se le pretende dar a estas organizaciones y sus problemas de dependencia, ausencia de autonomía y cooptación debidos a la rectoría y financiamiento del gobierno nacional (GARCÍA-GUADILLA:2008; MACHADO 2009b), es también un hecho que se trata de espacios de discusión en torno a proyectos de interés para los miembros de la comunidad17. Discusión a través de un 16

Para la distribución espacial de las organizaciones ver: http://censo.mpcomunas.gob.ve El estudio de Machado (2009a), sobre una muestra de 1.200 consejos comunales distribuidos en todo el país, consultó sobre los tres principales proyectos desarrollados por los consejos comunales, obteniendo que “casi de manera absoluta señalaron proyectos de infraestructura pública, urbanismo y servicios. Para viviendas 23%, si le sumamos lo del programa Sustitución de Vivienda (SUVI), un 17

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proceso de planificación, normado en la Ley de los Consejos Comunales, denominado “ciclo comunal”, el cual incluye la elaboración del diagnóstico, del plan y del presupuesto así como su ejecución y la contraloría social correspondiente: Artículo 44. El ciclo comunal en el marco de las actuaciones de los consejos comunales, es un proceso para hacer efectiva la participación popular y la planificación participativa que responde a las necesidades comunitarias y contribuye al desarrollo de las potencialidades y capacidades de la comunidad. Se concreta como una expresión del poder popular, a través de la realización de cinco fases: diagnóstico, plan, presupuesto, ejecución y contraloría social. Otra característica de los consejos comunales que genera debate es la forma de elección de los consejeros o “voceros” (no se emplea el término representante) de cada consejo comunal. La Ley Orgánica de los Consejos comunales define a los voceros como “la persona electa mediante proceso de elección popular a fin de coordinar el funcionamiento del consejo comunal” (Art. 4). No define la ley en que consiste dicho proceso de “elección popular”, aunque si precisa que la postulación a los cargos deberá ser únicamente de manera uninominal (Art. 11) y la primera elección de voceros se realizará en Asamblea de Ciudadanos y Ciudadanas (Art. 10), máxima instancia de “deliberación y decisión para el ejercicio del poder comunitario” (Art. 20). Aunque la ley contempla la conformación de una comisión electoral comunal (Art. 36 y 37), las principales críticas se orientan al riesgo de vulneración del principio constitucional del sufragio directo, universal y secreto (Brewer-Carías, 2010, p. 13), riesgo latente dada la fuerte injerencia del gobierno nacional en el funcionamiento de los consejos. Podemos, entonces, conjeturar que los consejos comunales y las comunas, 10%, llega a 33%, una diferencia bien marcada con respecto al resto de las demás proyectos; Red de agua potable y servidas 21%; Vialidad 15%; electrificación 14%; Obras relacionadas con el deporte 13%; Construcción sede de consejo comunal 12%; obras para escuelas 12%; Aceras, caminerías, escaleras 10%; Plazas, parques 4%. 13% manifestaron que no han desarrollado ningún proyecto” (p. 118). La totalidad de esos proyectos son financiados con fondos del Estado transferidos directamente a los voceros/responsables del consejo comunal respectivo. Valga agregar que información sobre los montos totales transferidos por el gobierno nacional a los consejos comunales desde el año 2006, cuando se promulgó la primera ley de los consejos comunales, no está disponible, pero se afirma que “billones de bolívares fuertes se han invertido en sus proyectos” (GOLDFRANK, 2011, p. 42). Zamora (2012) en su exhaustivo estudio de las finanzas públicas venezolanas (2002-2012) ha estimado en 7.973 millones de dólares americanos el monto de los recursos financieros transferidos a los consejos comunales por parte del gobierno central entre los años 2006 y 2010, ambos inclusive (pp. 185-187)

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como instancias hacia el Estado comunal, han sido concebidos desde el Estado como instrumentos del poder central para la construcción del socialismo centralista y, en el proceso, circunvalar y vaciar de atribuciones a gobernaciones de estado y alcaldías18, debilitando el sistema de representación constitucionalmente establecido. Cabe, entonces, hacerse una pregunta general: ¿Es posible la deliberación democrática en los consejos comunales? y otras específicas: ¿Cómo manejar sus desacuerdos internos y con el gobierno nacional? ¿Cuáles deben ser las relaciones entre consejos comunales y alcaldías y gobernaciones? ¿Cómo lograr que suficiente gente participe? ¿Cómo reforzar la autonomía, confianza y capacidades de los actores involucrados a fin de un efectivo ejercicio de la agencia colectiva? ¿Cómo garantizar la transparencia en el manejo de los recursos financieros que se transfieren a consejos comunales? ¿Cómo vincular su actuación localista con políticas de mayor alcance territorial? ¿Qué metodologías participativas son las más apropiadas para abordar el denominado ciclo comunal de planificación? Algunos estudiosos ya han visualizado los retos que se le plantean tanto a las comunidades como a los profesionales comprometidos con la democracia participativa cuando analizando experiencias de consejos comunales en distintos lugares del país reportan que “ (…) hay muy poco espacio para el desacuerdo. En Mérida el consejo comunal se asume, de entrada, como chavista. En el 23 de Enero, la decisión del consejo está predeterminada, se ha tomado antes que la asamblea pueda debatir. Por supuesto, no siempre es así. Algunos consejos se han formado en comunidades opuestas al gobierno y en otros casos se cambian las decisiones en asambleas públicas. Sin embargo, los consejos comunales encaran el reto del desacuerdo: ¿cómo manejar las verdaderas diferencias de intereses y opiniones? (…) estos foros tendrán que tratar los desacuerdos más directamente, para transformarlos en discusiones respetuosas” (RODRÍGUEZ VÁZQUEZ & LERNER, 2007, p. 121).

En suma, son indispensables en la democracia deliberativa en el nivel local la permanencia del sistema de representación política (RICHARDSON, 18

Este proceso ha sido explicado a través de la metáfora del “ficus benjamina” especie vegetal capaz de estrangular a otra de la cual es huésped: “El proyecto comunal irá actuando como el árbol Ficus benjamina, es decir, como estranguladora, rodeando al primero (Estado constitucional) hasta formar un tronco hueco, destruyéndolo” (VILLEGAS MORENO, 2013).

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1999, p. 364) existente (alcaldías y gobernaciones) y el desarrollo de habilidades o competencias individuales y colectivas para el diálogo y la construcción de acuerdos. En nuestra opinión, sin menoscabo del sistema de representación, se trata de poner en práctica la democracia deliberativa en el ámbito comunitario para que aflore el valor intrínseco, instrumental y constructivo de la democracia, de donde deriva, como se dijo al inicio, la necesidad de refinar, mejorar e introducir nuevas metodologías participativas para un contexto tan particular como el venezolano de estos tiempos.

Consideraciones Ante la incapacidad de las instituciones existentes frente a las diversas crisis de la sociedad contemporánea, nuevas formas de democracia (deliberativa, participativa, directa) parecen estar en emergencia en este convulsionado inicio del siglo XXI. Aunque su futuro aún es incierto, resulta claro que los ideales de libertad, igualdad y justicia tienen cada vez más sentido para el común de la gente y estos sólo en democracia pueden ser realizados adecuadamente. Para que tenga sentido la noción de democracia de Sen como discusión pública y toma democrática de decisiones, vista a través de las teorías sobre la deliberacíon, el sujeto colectivo y plural que la encarna debe estar organizado y ser competente para funcionar con efectividad en el ámbito público. Pero como quiera que en incontables ocasiones la discusión no involucra exclusivamente a los ciudadanos sino también al Estado, las instituciones estatales deben responder a los estándares de la legitimidad democrática, en otras palabras, la deliberación democrática no es posible bajo regímenes autoritarios de ningún signo. Así mismo, es necesario señalar que así como la democracia no sirve como un remedio automático de enfermedades (Sen, supra), tampoco la democracia deliberativa o participativa es una panacea. Ciertamente, “cualquiera desde su vida cotidiana se puede y se debe sentir capacitado para poder iniciar un proceso y darle seguimiento” (Villasante), no obstante la democracia deliberativa enfrenta el reto de la pobreza política (vergüenza o dificultad/ imposibilidad de presentarse en público) de importantes sectores de la población. Todo lo cual resalta dos cuestiones fundamentales, por una parte la

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importancia del “cómo” hacer que la democracia funcione, ya que “mucho depende de cómo las libertades sean realmente ejercitadas” (Sen: supra). Aquí es donde los puentes que hemos trazado entre los planteamientos de Sen, Crocker y Villasante, permiten afirmar la relevancia de la sociopraxis para la la operacionalización de las ideas sobre el debate público de Sen y la deliberación de Crocker; en otras palabras, la sociopraxis ofrece una forma de ejercitar las libertades, un estilo de canalizar la agencia individual y colectiva. Y por otra parte, está el desafío del empoderamiento, entendido como superación de la pobreza política a través del aprendizaje y el desarrollo de las capacidades para intervenir en la esfera pública, cuestión que está en la esencia de la sociopraxis que en sí misma es el resultado del aprendizaje histórico en los propios movimientos sociales. De modo que la participación constituye tanto un medio como un fin, a saber, profundizar la democracia. En cuanto al caso venezolano, el marco legal de la participación se define basado en el ideal de la democracia participativa y protagónica, que busca la disminución de la pobreza política del venezolano, sobre todo de los sectores populares. No obstante, la legislación vigente contiene dispositivos que permiten la exclusión política, restringen las libertades ciudadanas y fomentan el oportunismo. Lo primero porque están diseñadas para favorecer un proyecto político específico, el socialismo, negando el pluralismo de intereses característico de la sociedad contemporánea y venezolana en particular. Lo segundo, porque el Estado más que jugar un papel promotor de la participación ejerce o pretende tutelar el funcionamiento público de los ciudadanos a través de consejos comunales y comunas vía otorgamiento de recursos financieros y el control político-administrativo de dichas instancias. Lo tercero porque las políticas de participación del actual gobierno venezolano tienen un carácter distribucionista y de corto plazo, cuando las políticas de fomento de la participación deben propender a la reducción de la pobreza política y la solución de problemas a largo plazo. Pareciera que los ideales políticos, en Venezuela y otros países, tienen la tendencia a servir para ocultar la realidad. El ineludible debate sobre este asunto está en ciernes. Frente a una situación difícil y siendo la promoción de una cultura de la deliberación (Cartaya & Gimenez: supra) el reto más importante para la sociedad venezolana actual, la sociopraxis se presenta como una opción metodológica para abordar la solución de problemas y contribuir de esa manera al restablecimiento y expansión de la democracia. 65

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Cap. 3 - La Paz desde la Perspectiva Sociopráxica: Paz Transformadora (y Participativa)1 Esteban Andrés Ramos Muslera [email protected] Consultor IUDPAS – UNAH Resumen: En el presente capítulo se da cuenta de la conceptualización epistemológica de la Paz Transformadora (y Participativa) fundamentada en la perspectiva sociopráxica, la cual, permite aunar la tradicionalmente alejada teoría de la paz con la acción colectiva para la paz de acuerdo con el entendido de que tanto la paz como los conflictos son constructos sociales en permanente transformación. El capítulo se inicia con la descripción de los principales rasgos definitorios de la paz desde la perspectiva de la Paz Negativa, de la Paz Positiva y de la Paz Imperfecta. Posteriormente, se fundamenta la relación entre paz y convivencia de acuerdo al enfoque sociopráxico; y, por último, se presenta la definición de Paz Transformadora. Palabras Clave: Paz, Sociopráxis, Participación.

A Modo Introducción. Conceptualizaciones de la Paz: Paz Negativa, Paz Positiva y Paz Imperfecta De igual modo que Cortazar dice que un puente es un hombre cruzando un puente, se podría decir que la paz carece de naturaleza propia sin la presencia de los seres humanos que dan sentido a la realidad vivida. Esta aparente obviedad, parece haber pasado desapercibida a la hora de planificar procesos de construcción de paz, pues los numerosos procesos de negociación y construcción de paz desarrollados históricamente han prestado escasa (e incluso nula) atención a los principales protagonistas de los mismos: la ciudadanía de base. 1

El presente capítulo fundamenta, desarrolla y complementa la conceptualización de la Paz Transformadora presentada en el artículo de Manuel Montañés y Esteban A. Ramos, publicado en la revista científica OBETS de la Universidad de Alicante (2012): “La paz transformadora: una propuesta para la construcción participada de paz y la gestión de conflictos desde la perspectiva sociopráxica”.

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Tanto en la actualidad como a lo largo de la historia, la conceptualización de la paz ha sido profundamente debatida. La paz ha adquirido múltiples y muy diversos significados, incluso contrapuestos, dependiendo de quiénes hablaran o actuaran por la paz2. Sin embargo, todos y todas solemos referirnos a ella como si de un significado unívoco y universal se tratara, cuando no es así. Un breve repaso teórico de los estudios de la paz y los conflictos nos permite establecer, al menos, tres conceptualizaciones diferenciadas de la paz que han condicionado y condicionan todos los procesos de construcción de paz alrededor del mundo: Paz negativa, positiva, e imperfecta. Esta última utilizada como antesala referencial de la Paz transformadora.

Primera fase: Paz Negativa Una de las primeras conceptualizaciones científicas del término paz es la que establece una relación directa de ésta con la ausencia de enfrentamientos armados: paz es, según este enfoque categorizado por Galtung (1985) como de Paz Negativa, la ausencia de violencia expresa, directa, física. Nótese la importancia del concepto, pues en su esencia, este planteamiento ha sobrevivido durante más de veinte siglos, llegando intacto hasta nuestros días. La conceptualización de Paz Negativa tiene su origen en la cultura grecolatina que entiende a la Eirene como “un estado de ausencia de guerra o de intermedio entre dos conflictos” (JIMÉNEZ, 2009, p. 147). La Eirene griega se refiere a un estado de tranquilidad. Una situación de armonía mental aplicada únicamente hacia y entre los grupos de pobladores griegos. Es decir, al interior de las ciudades-estado y no en relación a la interacción mantenida por los griegos y los “bárbaros”3. De este modo se entiende la paz griega como una situación que se traduce en sentimientos apacibles en el interior del “nosotros”, frente a la amenaza que potencialmente suponen “los otros” (LEDERACH, 2000). Por su parte, la ausencia de guerra o conflicto armado también era elemento clave en el significado de la Pax romana. En este caso, la Pax romana hacía referencia a la firma de la paz que se realizaba tras una guerra, asociando

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Efectivamente, no es lo mismo, por ejemplo, la paz del capital que la paz de los pueblos. Es pertinente anotar que el término hacía referencia a las relaciones armónicas entre ciudadanos, y no entre ciudadanos y esclavos o ciudadanos y mujeres. En la Gracia clásica tanto esclavos como mujeres no eran considerados ciudadanos. Tampoco los habitantes de fuera de la Polis. 3

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el término paz al de tratado de guerra; y, en consecuencia, al derecho. El orden y el control (legal y militar) eran parte definitoria de esta conceptualización romana de paz. Tanto así, que las Leyes y la fuerza de las armas terminaron por concebirse como los más importantes mecanismos para el mantenimiento del orden y el respeto a las leyes; y, en consecuencia, para el mantenimiento de la paz. No así la justicia o la prosperidad. La ausencia de guerras o rebeliones era garantizada por un poderoso aparato militar vinculado a “pactum”. La Pax romana necesitaba de todo un sistema de orden y control nutrido por mecanismos legales y militares para poder desarrollarse. La consecuencia directa de ambos planteamientos -el de la Eirene griega y el de la Pax romana-, de acuerdo con Galtung (1985), es que al concebirse la paz como una unidad interior frente a una amenaza exterior, los aparatos militares pasan a convertirse en una necesidad de defensa y conquista del orden interno o la armonía interior. Ello, termina por fomentar el desarrollo del militarismo y el armamentismo en el ámbito nacional (hacia adentro del “nosotros” para salvaguardar el orden), y del imperialismo, la expansión colonial y la política de pactos o alianzas contra amenazas enemigas en el ámbito internacional (para la defensa del “nosotros”).

Segunda fase: Paz Positiva La paz entendida desde una perspectiva de Paz Positiva va mucho más allá de ser el simple resultado de eliminar algo no deseado como la guerra, o procurar el orden y salvaguardar al grupo de la amenaza del “otro”. La paz en positivo, además de contraponerse a la indeseable violencia, construye. Se entiende como un fenómeno de contenidos palpables y reales (LEDERACH, 2000) y no una ilusión, una gran meta abstracta o un resultado a alcanzar. A la labor de delimitar los contenidos palpables de la paz dedicó gran parte de sus primeras reflexiones uno de los pensadores más importantes de los útlimos tiempos en materias relacionadas a las ciencias sociales: Johan Galtung, quien realizó una importante tarea conceptualizadora para concretar el campo de estudio de la paz como disciplina, y su concepto. Para ello, el autor planteó una relación de la paz más allá de la violencia directa. El salto cualitativo que se produce entre la concepción negativa de la paz y la concepción positiva de la misma, se consigue gracias a la conceptualización multidimensional que propone el propio Galtung de violencia. Este autor distingue

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entre violencia directa, violencia estructural y violencia cultural: la primera “está causada por personas concretas cometiendo actos de destrucción contra otras, [y la segunda] forma parte de la misma estructura social. Cualquier énfasis en un tipo de violencia sin considerar el otro no puede denominarse científico, debido a su clara parcialidad política” (GALTUNG, 1974, p. 176). La tercera es aquel tipo de violencia que socialmente legitima las anteriores. La distinción realizada por Galtung entre violencia directa y violencia estructural (y cultural) permitió relacionar la paz con cuestiones tales como la auto-realización del ser humano. Una auto-realización referida, esencialmente, a lo más elemental y primario del ser humano: la posibilidad de tener una vida en la que se atiendan las necesidades básicas. Tener “comida suficiente, vivienda apropiada y decente, cuidado médico, relaciones pacíficas en comunidad, trabajo no explotador, educación elemental, etc.” (LEDERACH, 2000, p. 32). La atención de las necesidades, la auto-relaización del ser humano y las relaciones de apoyo mútuo propician la conexión entre paz y justicia social. Para Galtung la clave de la paz en relación a la justicia es la igualdad y la reciprocidad en las relaciones e interacciones en cuanto a la distribución y control de los recursos (naturales, humanos, sociales, institucionales): “no puede haber paz positiva si hay relaciones caracterizadas por el dominio, la desigualdad y la no-reciprocidad, aunque no haya conflicto abierto” (LEDERACH, 2000, p. 35). Este planteamiento es consecuencia de la conceptualización anteriormente referida de violencia estructural. Galtung, en esencia, sostiene que mientras existan injusticias y no se atiendan las necesidades humanas básicas (bienestar, libertad, identidad y sobrevivencia), no existirá la paz aunque los seres humanos no se agredan directamente (GALTUNG, 1985). El impacto que en los estudios de la paz tiene el enfoque de Paz Positiva es significativo: desde el paradigma de Paz Positiva la investigación de paz no debe limitarse al análisis de los medios y técnicas para prevenir o terminar con la guerra, sino que debe preocuparse por el estudio de las violencias y los conflictos “a todos los niveles que afectan a la calidad de vida de los seres humanos” (LEDERACH, 2000, p. 35). Las tres dimensiones de la Paz Positiva que se pueden establecer al relacionar la paz con los tres tipos de violencia que plantea Galtung -Paz Directa o Negativa, Paz Estructural y Paz Cultural4-, se conforman como los objetos de 4

De igual modo que Galtung entiende que la violencia cultural es aquella que legitima la presencia y

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estudio de la ciencia de la paz propiamente dicha, proponiéndose un enfoque de intervención en los conflictos, Conflict Transformation, mediante el cual tratar la Peace Building como un proceso vivo y activo, donde no sólo los principales líderes político-militares han de participar en la búsqueda de soluciones negociadas, sino también una representación, más o menos, extensa de la sociedad civil. Este modelo propone la participación de los principales líderes comunitarios, y su intervinculación, aunque se muestra tibio en cuanto a la incorporación plena de la población de base en estos procesos. Gráfico 1. La Paz Positiva y su relación con los tipos de violencia

Fuente: elaboración propia a partir de Tuvilla 2004: 392

Este nuevo paradigma propugna que además de los pertinentes “alto el fuego” o “firmas de la paz negativa” se haya de impulsar un proceso de reproducción de las violencias directas y estructurales, la paz cultural la concibe como los “aspectos de una cultura que sirven para justificar y legitimar la paz directa y la paz estructural” (GALTUNG, 2003b, p. 261). Dicho de otro modo, la paz cultural se entiende como el desarrollo de valores culturales que tienden a concretar una paz en “negativo” y una paz en dimensión “estructural”. “La paz positiva cultural sustituiraì la legitimacioìn de la violencia por la legitimacioìn de la paz; en la religioìn, el derecho y la ideologiìa; en el lenguaje, en el arte y las ciencias, en las escuelas, universidades y medios de comunicacioìn; construyendo una cultura de paz positiva” (GALTUNG, 2003b, p. 58).

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construcción de paz que hunda sus raíces en los aspectos relacionados con sus causas estructurales y culturales, ya que “un conflicto no finaliza con la firma de un tratado de paz sino que requiere de un proceso de intervención en aspectos socioculturales que se han visto asimismo afectados” (MONTAÑÉS y RAMOS, 2012, p. 243).

Tercera fase: Paz Imperfecta Según apunta Muñoz, en última instancia, la concepción de la paz de acuerdo con los postulados de la Paz Positiva queda irremediablemente vinculada a la presencia o ausencia de violencias estructurales y/o conflictos. En efecto, si concluimos que para que exista paz es preciso que no existan (o sean mínimas) las violencias estructurales, establecemos, una vez más, una relación de subordinación entre la paz y la violencia (ya no en relación a la violencia directa, sino en relación a las violencias estructurales). Los principios de la Paz Positiva que sostienen que ésta es un proceso que precisa de interacciones positivas y dinámicas de apoyo mutuo, confianza, reciprocidad y cooperación (LEDERACH, 2000), terminan subordinados a la posibilidad de controlar, minimizar o eliminar la virulencia de las violencias estructurales. La salida del callejón sin aparente salida se proyecta desde el enfoque de la Paz Imperfecta. Esta perspectiva plantea, en esencia, que la paz no es de naturaleza absoluta. De ahí el uso del adjetivo imperfecta, que hace referencia a la paz como proceso inacabado en construcción permanente por los seres humanos en cualquier ámbito o contexto, incluso en el marco de las más terribles confrontaciones bélicas. De acuerdo con el enfoque de la Paz Imperfecta, se entiende que la paz se encuentra dotada de contenido propio, sin necesidad de ser considerada en relación a la ausencia o presencia de guerra, o de violencias estructurales (MUÑOZ, 2004). En este sentido, todas las experiencias pacíficas, construidas por los sujetos en sus acciones relacionales en todo ámbito y escala como “condición de posibilidad de las relaciones humanas y, a la vez, horizonte a conseguir” (MUÑOZ, 200, p. 73), constituyen un ingente arsenal de paz habitualmente ignorado dado el foco que tradicionalmente los científicos sociales han puesto en los aspectos violentológicos y no pacíficos.

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Desde la Paz Imperfecta se concibe que la paz coexiste con las violencias estructurales y las injusticias sociales, sin ser estas últimas factores que determinan (con su presencia o ausencia) la existencia de la primera: “la imperfección de la paz y la violencia formaría parte de una obligada convivencia: ninguna existe por sí misma, ambas formarían una matriz social en la que conviven todas las posibilidades” (MUÑOZ, 2004, p. 62). La conceptualización de la paz que se propone desde la Paz Imperfecta ahonda en la consideración de ésta como proceso. Un proceso relacionado con las acciones de los seres humanos, sus decisiones y preferencias. Así, se entiende que la paz o la violencia emergen y coexisten porque somos los seres humanos quienes potenciamos unas vías frente a otras y determinamos con las acciones y omisiones más paz o más violencia (MUÑOZ, 2004). En este sentido, se concibe que la paz se proyecta como un horizonte orientador de la acción humana que permite impulsar, retroalimentándose, más instancias y experiencias de paz. La paz se define como el proceso complejo de articulación de prácticas sociales (pensamientos, acciones, sentimientos y expresiones) que realizadas en toda escala y ámbito de intercambio humano se encuentran orientadas al bienestar colectivo y la atención de las necesidades. Dentro de éstas, destacan las acciones emprendidas para la regulación de los conflictos y la gestión de las violencias que permiten atender “las necesidades y los objetivos de los actores implicados” (MUÑOZ, 2004, p. 30). Como la paz no es total ni absoluta, es posible comprender que numerosos actos regulativos y cotidianos de los conflictos son formas de paz. Las “experiencias en las que los conflictos se han regulado pacíficamente (…), donde los individuos y sociedades han escogido satisfacer sus necesidades y las de los otros basándose en criterios solidarios, siempre que ninguna causa ajena a sus voluntades (…) lo impidiese” (Muñoz, 2004: 50), se consideran formas de Paz Imperfecta. En consecuencia, el concepto de paz se vincula a la acción (las prácticas sociales), a la interrelación humana (las redes de relaciones y los intercambios entre seres humanos), a las decisiones individuales y colectivas, el poder, la cultura, normas sociales, valores, y como no, los modos de gestionar la violencia y atender las necesidades. Este planteamiento implica relacionar directamente la paz con la convivencia humana.

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Gráfico 2. Componentes conceptuales esenciales de cada tipología de paz

Fuente: Elaboración propia a partir de Muñoz, 2004: 29

La Paz Transformadora (y Participativa) La relación que desde el enfoque de la Paz Imperfecta se establece entre paz y convivencia es el punto a partir del cual se vincula la paz (y el conflicto) con la perspectiva sociopráxica. El enfoque de la Paz Transformadora (y Participativa) permite desarrollar conceptualmente el vínculo establecido entre paz, convivencia y necesidades humanas, posibilitando superar el distanciamiento habitual existente entre la teoría de la paz, y la práctica de la paz. Y es que dicho distanciamiento (la recurrente práctica de prescindir de los principales protagonistas de la paz a la hora de concebir la paz y diseñar políticas, proyectos e investigaciones de paz), tiene una razón epistemológica de ser: la consideración de los seres humanos como meros objetos de estudio autómatas, sujetos a los influjos de fuerzas exteriores que determinan su existencia (RAMOS, 2013). Considerar, por el contrario, que somos los seres humanos quienes infiriendo sentido a los estímulos que del medio recepcionamos, los que construimos realidades y actuamos en función de nuestras necesidades crista-

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lizando modelos convivenciales, supone romper con el modo de proceder clásico, y, en consecuencia, sentar las bases epistemológicas teóricas y metodológicas de la paz desde el paradigma sociopráxico. Dicho de otro modo, conceptualizar la paz (y el conflicto) desde la perspectiva sociopráxica –que reconoce la capacidad de reflexionar, construir y transformar realidades de los seres humanos-, pertime configurar un nuevo marco epistemológico teórico para la ciencia de la paz que supera los pares “dentro – fuera”, “individuo – sociedad” y “constructivismo – determinismo”. Unos pares que, en efecto, sacuden los cimientos de la Paz Imperfecta (y, también, de la Paz Positiva). En esencia, “al reconocer la existencia de realidades externas al sujeto y su influencia en la construción de las realidades individuales y grupales, negando, a su vez, que estas realidades externas sean objetivas y determinen los comportamientos humanos” (Ramos, 2013: 530), desde la perspectiva de la Paz Transformadora (y Participativa) es posible reconocer la paz como proceso sociopráxico. No como resultado exterior al sujeto como se plantea desde la Paz Negativa. Ni como proceso o fenómeno que se posibilita cuando existe presencia de factores externos al sujeto, como se plantea desde la Paz Positiva; ni tampoco, como proceso mediante el cual los sujetos elijen entre diferentes opciones dadas violentas o pacíficas, como se hace desde el enfoque de la Paz Imperfecta. La Paz Transformadora (y Participativa) se concibe como el proceso mediante el cual los seres humanos, colectivamente, cristalizamos modelos convivenciales de atención sinérgica de las necesidades para el conjunto de la población. Esto es, modelos convivenciales de Buen Vivir. Esta perspectiva, obliga a ocuparse participativa e implicativamente de la paz como objeto de estudio, al ser ésta, la paz (tanto como el conflicto), un constructo social en permanente transformación tal y como se justificará seguidamente.

Sociopráxis y paz: la naturaleza práxica del ser humano Desde la sociorpáxica perspectiva de la Paz Transformadora se argumenta que la paz, los conflictos y las violencias son realidades construidas, y no realidades externas objetivas entre las que es posible elegir. Los seres humanos construimos internamente las realidades paz, conflicto y violencias (transformándolas en el mismo proceso) y las cristalizamos como realidades sociales. Es decir, la paz, así como los conflictos y las violencias, SON constructos sociales: realidades construidas en permanente transformación por 79

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los propios seres humanos en su acción relacional convivencial. Y ello, porque desde la concepción sociopráxica se comprende que “es el ser humano el constructor, desde su particular sistema de observación, de sus propias realidades y su particular universo” (RAMOS, 2013, p. 76). No existe realidad sociocultural alguna independiente del sujeto, y por tanto, tampoco las realidades sociales de la paz, el conflicto o la violencia se encuentran desligadas de cada uno de los seres humanos. Desde la perspectiva sociopráxica se concibe al ser humano como: a) un sistema abierto inmerso en el medio del cual recepciona estímulos a los que infiere sentido construyendo realidades, proyectándolas y compatibilizándolas con otros sistemas humanos para continuar viviendo. b) un sistema de observación práxico y autopoiético (se auto-crea) (Maturana y Varela, 1990) que construye realidades y las transforma transformándose a sí mismo en el proceso de construcción de las realidades. c) un sistema reflexivo, capaz de representarse a sí mismo y a otros sistemas observadores observando lo que él observa (RAMOS y MONTAÑES, 2012). Bertalanffy (1978) hizo uso de la distinción entre sistemas cerrados, aquellos en los que ni entra ni sale energía o materia, y sistemas abiertos, aquellos en los que existe un constante intercambio con el medio. Así, por ejemplo, una piedra podría considerarse un sistema cerrado, mientras que un ser vivo se consideraría un sistema abierto que intercambia constantemente energía con el medio (recibe del entorno constantes estímulos, y en éste actúa). Un ser humano es, de acuerdo con esta distinción, un sistema abierto que se desenvuelve en el medio. Del medio recepciona estímulos gracias a la vista, el oído, el tacto y el gusto, y en el medio actúa. El modo en que los seres humanos actuamos en el medio se encuentra condicionado por nuestra práxica y reflexiva naturaleza, la cual, determina nuestra forma de construir realidades. Desde la perspectiva sociopráxica se considera que el ser humano construye realidades infiriendo sentido a los estímulos que del medio recepciona. Piénsese, por ejemplo, en una rosa y trátese de responder la siguiente cuestión: ¿es la 80

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rosa una flor a contemplar, o es la contemplación la que hace de la flor una rosa, o una magnolia?, u obsérvese la siguiente imagen: ¿hombre o mujer? Imagen 1. Hombre o mujer

¿Una detenida observación del dibujo permite concluir que la imagen proyecta el rostro de un hombre y el cuerpo de una mujer en el mismo espacio?, o ¿es más bien que a partir de la contemplación del dibujo inferimos el sentido que nos permite proyectar la imagen de un hombre o una mujer sobre el dibujo? En efecto, es nuestro cerebro quien, a partir de la recepción del estímulo 81

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visual, construye un rostro de hombre o un cuerpo de mujer, y lo proyecta de forma tal sobre el dibujo que en ocasiones éste (el dibujo) se convierte en mujer, y, en ocasiones, en hombre. Es nuestro cerebro quien infiere sentidos diferentes incluso sobre el mismo estímulo visual, y proyecta realidades distintas en forma de cuerpo de mujer y rostro de hombre. Dicho de otro modo, no vemos con los ojos, sino con el cerebro. Desde la perspectiva sociopráxica, se entiende que el dibujo, o cualquier otra información del medio –como la flor, rosa o magnolia- constituyen realidades de las que desconocemos su forma y naturaleza en sí misma. Únicamente adquieren significado cuando los seres humanos les inferimos particular sentido y lo proyectamos. No somos capaces de conocer en sí misma la realidad externa, pero sí somos capaces de proyectar nuestra realidad interna y observar a otros viendo la realidad que proyectamos. Cuando los seres humanos proyectamos al medio las construidas realidades estamos objetivando la realidad. Dicho de otra forma: los seres humanos no somos conscientes de que las realidades producidas nacen en el interior de cada uno de nosotros y son proyectadas hacia el medio, proyectándonos, simultáneamente, nosotros mismos y el resto de realidades producidas. De hecho, los seres humanos creemos ver y vivir en una realidad externa de nosotros mismos que compartimos con otros (RAMOS, 2013). La capacidad reflexiva propia del ser humano es la que nos posibilita para vernos viendo la realidad que vemos, y, por tanto, viendo a otros viendo la realidad que vemos. Si el sujeto careciera de capacidad reflexiva “sería imposible construir una realidad que pudiera más o menos afectar a uno; simplemente, como el resto de seres vivos, viviríamos en un mundo de realidades sin capacidad para objetivar ni subjetivar.” (MONTAÑÉS, 2006, p. 44) En efecto, la capacidad de construir realidades y proyectarlas forma parte de la naturaleza del ser humano pero lo que nos diferencia del resto de seres vivos es nuestra capacidad reflexiva. Las realidades que cada uno de nosotros construimos en nuestro cerebro son proyectadas al exterior de forma tal que en dicha proyección vemos la realidad construida y al resto de seres humanos viendo esa realidad construida por cada uno. “Las realidades producidas por los seres humanos no constituyen realidades exteriores para ser observadas, sino realidades objetivadas y proyectadas por cada sujeto observador, en cuya proyección ve a los otros viendo lo que uno ve. La ilusión de objetividad se produce al ver que otros seres humanos ven lo que uno ve. Es decir, los seres 82

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humanos (proyectándonos viendo a otros viendo la observación que construimos) no reparamos en que aquello que vemos, es lo que cada uno ve y no lo que hay para ser visto” (RAMOS, 2013, p. 80). Nótese que, siguiendo con el ejemplo del dibujo, cuando interactuamos con otros seres humanos en relación a éste, enseguida advertimos una aparente realidad externa bicéfala. Solemos decir: “¿no ves que aquí hay un hombre y aquí una mujer?” No solemos percatarnos que el dibujo no configura imagen alguna sino que es nuestro cerebro quien construye la imagen y la proyecta sobre el dibujo. Al ver a otros viendo la imagen de un hombre o una mujer consideramos que es el dibujo el que proyecta la imagen de un hombre o una mujer. Consideramos que es el dibujo quien está ahí para ser visto. La ilusión de objetividad provoca que no se cuestione que otros puedan ver algo distinto a lo que uno ve, ni tan siquiera que lo que uno ve sea sólo visto por uno. “Para los seres humanos, la rosa (o cualquier otra realidad) es una realidad que está para ser observada, y no una construcción sociocultural personal e intransferible” (RAMOS, 2013, p. 80). Al construir internamente la realidad, y ver una representación de la realidad construida en la que es posible representarse a uno mismo y al resto de sujetos viendo la realidad que uno ve, se genera en el interior de cada cual el efecto de sociedad (IBÁÑEZ, 1985, p. 120). Pues la sociedad es también una construcción de la realidad propia de cada sujeto, y no una realidad externa que se comparte y conforma con otros seres englobando a unos y otros en realidades grupales como la familia, el clan o la tribu. Tanto las realidades objetuales, como las realidades grupales que “engloban” a unos y otros sólo existen como creación de cada sujeto, siendo, por tanto, singulares, personales e incognoscibles. Las realidades exteriores grupales, supuestamente compartidas y englobadoras, no son más que el efecto que produce en el ser humano la compatibilización con las realidades de otros seres humanos. Pues cada cual, al observar desde sus propias particulares realidades construidas, y considerar pertenecientes las realidades observadas de los otros al mismo grupo social del que el sujeto se considera o quiere formar parte, construye dichas realidades grupales (RAMOS, 2013). El proceso de compatibilización de realidades es el que nos permite cristalizar realidades y actuar socialmente. Este proceso de compatibilización resulta clave para comprender cómo actuamos los seres humanos a partir de las realidades que construimos y cristalizamos. En esencia, dado que no somos 83

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capaces de conocer en sí misma la realidad externa pero sí somos capaces de proyectar nuestra realidad interna y compatibilizarla con las realidades internas proyectadas por el resto de seres humanos. Es decir, no sólo somos capaces de construir realidades y proyectarlas proyectándonos a nosotros mismos y a los otros observando las realidades que construimos y proyectamos, sino que, además, compatibilizamos las realidades que construimos y proyectamos unos con otros. Glaserfeld apunta sobre el proceso de compatibilización de las realidades: “no he construido esta mesa, pero me adapto a la mesa no atravesándola” (GLASERFELD, 1994, p. 138). Sin duda, una ingeniosa forma de transmitir la consecuencia esencial que se desprende de la compatibilización de realidades. Los seres humanos desconocemos las realidades que otros seres humanos construyen y proyectan, pero somos capaces de compatibilizar las realidades que cada uno construimos con las que el resto construye y proyecta. Dicho de otro modo, los seres humanos desconocemos la naturaleza del medio, su forma y fondo, pero nos acoplamos a él. Compatibilizar realidades no quiere decir compartir realidades, porque cada uno construye sus propias realidades y es imposible introducirse en el cerebro del otro para conocer a ciencia cierta qué realidad es la que está construyendo. Compatibilizar las realidades supone, por un lado, adaptar las realidades de uno, a las realidades de otro, y, por otro lado, obrar en consecuencia. En otras palabras, encajar las realidades de uno con las del otro y actuar. ¿Cómo?, infiriendo sentido a los estímulos que recepcionamos de las prácticas del otro y respondiendo. Nótese que no conocer las realidades en sí mismas que construye otro ser humano, no nos impide actuar. De hecho, es actuando como los seres humanos nos comunicamos, y es actuando como los seres humanos construimos y transformamos realidades, atendemos, construimos (y transformamos) necesidades. Es lo que se conoce como la naturaleza práxica del ser humano: “en el mismo proceso de producción de realidades, las propias realidades producidas se transforman, mediante la articulación constante de lo nuevo en lo ya conocido, transformándose asimismo el sujeto en cuestión” (RAMOS, 2013, p. 78-79) Las realidades que construimos (a partir de las inferencias de sentido que realizamos a los estímulos que recepcionamos del medio; también de las prácticas que otros seres humanos realizan) nos permiten actuar socialmente para atender nuestras necesidades, transformando el medio en el que 84

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interactuamos y transformándonos a nosotros mismos. El proceso de compatibilización de realidades es, por tanto, el principio que posibilita la interacción humana: al compatibilizar nuestras construidas realidades con las de los demás nos comunicamos entre seres humanos y actuamos socialmente. Si bien, es preciso indicar que los seres humanos no actuamos de manera caprichosa. En función de cuáles y cómo sean las realidades que construimos –y compatibilizamos-, los seres humanos actuamos de una u otra forma. Sirva un ejemplo: una piedra puede ser tanto un material de construcción para hacer una casa, como un objeto arrojadizo, como un instrumento de corte para afilar una lanza, como un jugador de la selección de fútbol en un determinado momento del partido, como una piedra filosofal que nos permite conectarnos con el más allá. Somos los seres humanos quienes construimos la realidad dotándola de utilidad y significado social mediante el proceso de compatibilización de las realidades que tiene lugar en todo espacio de cohabitación y relación humana. Nótese que según sea la realidad que construimos de un pedazo de materia, y según sea la necesidad a la que queremos dar atención, dicho pedazo de materia se construye como piedra adquiriendo una u otra forma, uno u otro uso. Si, pongamos por caso, tenemos la necesidad de alimentarnos y para ello hemos pensado en cazar, es probable que concibamos ese pedazo de materia como un objeto arrojadizo o como un instrumento que va a permitirnos afilar una lanza. Si la necesidad es otra, como por ejemplo, expresar nuestra opinión acerca del desempeño de la selección hondureña en el pasado mundial 2014, es probable que ese mismo pedazo de materia la construyamos también como objeto arrojadizo (no diremos para qué), o bien, como símil que resume las capacidades de los seleccionados. Llegados a este punto vale la pena advertir que tampoco construimos las realidades y las necesidades en un vacío existencial. Por ello, es posible afirmar que las acciones que los seres humanos realizamos en sintonía con las realidades y necesidades que construimos son unas y no otras, dependiendo del sentido que infiramos a los estímulos que recepcionamos del medio en el que nos desarrollamos como seres humanos: según nos relacionamos con unas y no otras personas, en unos y no otros espacios, construimos unas y no otras realidades, unas y no otras necesidades y actuamos de una y no de otra forma para atender unas y no otras necesidades. De hecho, como se apuntaba con 85

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anterioridad, actuar para atender las necesidades a partir de las construidas realidades tampoco implica actuar de modo caprichoso, pues tanto las realidades que construimos y nos permiten actuar, como las necesidades que también construimos y orientan nuestras acciones, son unas y no otras porque la materia prima a partir de la cual inferimos sentido es una y no otra5. Las realidades que construimos, proyectamos, y compatibilizamos nos permiten actuar para atender nuestras necesidades pero son nuestras necesidades (que también construimos y transformamos) las que orientan las acciones. Creamos, diseñamos, escribimos, trabajamos, pensamos, o, simplemente disfrutamos de tal forma que aquello que hacemos tenga utilidad para nuestras vidas. O dicho de otro modo, de forma tal que sirva para atender nuestras necesidades; desarrollar nuestras potencialidades humanas. En resumen: a) Las realidades construidas (unas y no otras) y su compatibilización con otros sistemas permiten al ser humano actuar de una u otra forma, en una u otra dirección para atender sus propias necesidades. b) Las necesidades, que también son construidas, funcionan como dinamos de acción que orientan las prácticas de cada ser humano. c) Las prácticas del ser humano, según sean unas y no otras, propician la atención de las necesidades… o no. Es válido decir, entonces, que la vida en colectividad de los seres humanos, ligada a la naturaleza y al cosmos, es posible gracias a la capacidad intrínseca que tenemos los seres humanos de compatibilizar realidades. La capacidad de hacer compatibles las realidades que construimos y proyectamos, y también las prácticas que realizamos para atender las necesidades de, en y entre cada sujeto, posibilita la cohabitación humana, la existencia del ser humano como ser cultural, e, incluso, nuestro desarrollo como especie a lo largo de los años. Si bien, es pertinente indicar que las realidades compatibilizadas entre seres humanos no son realidades pétreas finalizadas. Las realidades que cristalizamos socialmete se transforman transductivamente (VILLASANTE, 2006). Esto es, articulando lo nuevo en lo ya conocido. Las nuevas inferencias de 5 Obsérvese que todas y cada una de las prácticas humanas son una u otra cosa (sirven para una cosa u otra) en función de quién las realiza, con quién, en qué determinadas circunstancias, y para qué.

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sentido que permanentemente realizamos los seres humanos gracias a los nuevos estímulos que recepcionamos del medio, son acopladas a las realidades que anteriormente habíamos construido y compatibilizado. La naturaleza abierta, práxica, reflexiva y no trivial -capaz de innovar en las respuestas (FOERSTER, 1991)- del sistema humano, implica que éste sea capaz, incluso, de inferir diferente sentido ante un determinado mismo estímulo, y actuar creativamente, de modo impredecible. La creatividad del ser humano es lo que nos permite afirmar que las realidades sociales cristalizadas no son finales ni permanentes, sino cambiantes, evolutivas, difusas e imperfectas. Si no fuera así, los seres humanos nunca hubiéramos evolucionado como especie. Seguiríamos encadenados a la primera piedra filosofal que jamás se hubiera transformado de no haber articulado a lo conocido nuevas inferencias de sentido, nuevos conocimientos. Ello, ciertamente, alimenta la esperanza (aunque también la desazón), pues somos los humanos perfectamente capaces de transformar las realidades conflictivas que cristalizamos, en realidades pacíficas (pero viceversa también).

La relación entre convivencia humana, necesidades y paz La supervivencia humana en un contexto de cohabitación requiere de la compatibilización entre sistemas humanos, y ésta sucede sin necesidad de mayores esfuerzos. La mera cohabitación en un espacio-tiempo con otros sistemas genera estímulos a los que cada cual debe inferir sentido para construir realidades y compatibilizarlas con, al menos, algunos de los demás emisores. Como se ha afirmado con anterioridad, la naturaleza abierta del sistema humano y el hecho de estar inmerso en el medio, supone que éste se encuentre expuesto a la constante recepción de estímulos. Así, pues, las acciones que cada ser humano (y cualquier otro sistema abierto) practica son, en esencia, perturbaciones que en forma de estímulos ingresan en otros sistemas abiertos. Dicho de otro modo, cuando los seres humanos actuamos para atender nuestras necesidades, generamos impactos en el medio y perturbaciones en otros sistemas abiertos. Cómo respondemos ante las perturbaciones internas del sistema para atender nuestras necesidades en el marco de la cohabitación humana y cómo valoramos las realidades convivenciales que cristalizan en dicho marco, guarda relación directa con la concepción de paz que se propone desde la perspectiva de la Paz Transformadora (y Participativa).

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El sistema humano, igual que las estructuras disipativas de Prigogine, se autoorganiza para alcanzar equilibrio interno partiendo de un desequilibrio (PRIGOGINE y STENGERS, 1985). El ser humano, para alcanzar su propio equilibrio interno, emite respuestas que generan perturbaciones en el equilibrio interno de otros sistemas, provocando nuevas respuestas, en un ciclo sin fin6. Las interacciones sucedidas en los espacios de cohabitación nutren a cada ser humando de material objeto de valoración para construir realidades y actuar conforme a la atención de sus propias necesidades buscando alcanzar el equilibrio interno. Ahora bien, llegados a este punto, es preciso señalar que alcanzar el equilibrio interno del sistema y actuar en consecuencia compatibilizando realidades entre seres humanos, no garantiza que las necesidades de los seres humanos sean atendidas de manera sinérgica y recursiva, y, por tanto, no garantiza la construcción de convivencias pacíficas, ni mucho menos, la felicidad humana. Atender las necesidades no guarda, necesariamente, relación directa con sentirse feliz y pleno. Compatibilizar las realidades entre seres humanos propicia dar cobertura a las necesidades, pero atender las necesidades no necesariamente hace feliz a los seres humanos. Obsérvese el siguiente ejemplo: si un pandillero con un arma de fuego entra en un rapidito y dice “dame la plata”; el pasajero, compatibilizando con el pandillero lo que significa un atraco, lo más probable es que, efectivamente, proceda a entregar sus pertenencias. Esto, evidentemente, no implica que el pasajero se sienta colmado de felicidad. Seguramente el pasajero proceda a la entrega de sus pertenencias tras un rápido ejercicio de análisis de la situación y emisión de respuesta tal en sintonía con la reconsideración de sus propias necesidades. En el caso concreto, la necesidad de supervivencia prioritariamente sobre cualquier otra… aunque no quiera decir esto sentirse feliz por haberse visto obligado a atender la necesidad de continuar con vida entregando sus pertenencias. ¿Quizás sí mo6 “Siendo el estado de equilibrio y desequilibrio una realidad interna que se genera y produce internamente.” (MONTAÑÉS, 2006, p. 42), ya que “no son los cambios en el medio externo los que directamente imponen la respuesta conductual del organismo, sino que son las variaciones en el medio interno de éste las que motivan en todo caso esa respuesta; los cambios en el medio externo sólo pueden influir en la conducta a través de las modificaciones que consigan producir en su medio interno; pues la conducta directa es exclusivamente generada por las variaciones de ese medio. Los hechos externos sólo son capaces de modular esa conducta en la medida en que gracias a un proceso de transducción sensorial, son asimilados en ese medio interno, y así vienen a formar parte del mismo” (NAVARRO, 1994, p. 89).

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deradamente contento por seguir con vida? En el ejemplo citado resulta claro que tanto el pandillero como el pasajero compatibilizan sus realidades: es el pasajero quien al inferir sentido de los estímulos que recepciona de las acciones del pandillero, procede a entregar sus pertenencias. El pasajero atracado, viéndose en la necesidad de redefinirse y adaptarse a la nueva situación que supone un atraco, procede a re-evaluar sus propias necesidades y re-priorizarlas, decidiendo entregar sus bienes para atender la necesidad de continuar viviendo ante la amenaza del arma de fuego. Sin embargo, cuesta creer que el atracado sintiera felicidad, alegría o plenitud por haber atendido la necesidad de seguir con vida y entregar sus bienes. Y es que los seres humanos somos capaces de redefinir o re-priorizar nuestro sistema de necesidades adaptándonos incluso a situaciones donde, como en el ejemplo, la necesidad de uno es atendida a costa del otro: el pandillero sobre el pasajero. O como es el caso de algunas parejas, donde el hombre atiende sus propas necesidades a costa de la mujer. En dichos casos, la reproducción de la situación, se produce al asumir los sujetos unos modelos inhibidores, pseudosatisfactores o incluso violentadores de la atención de las necesidades, tal y como se verá seguidamente. La vida en comunidad obliga a redefinir constantemente los sentidos inferidos, realidades y necesidades construidas para hacerlas encajar con las realidades y acciones de otros seres humanos para seguir con vida. Es decir: “para continuar viviendo, es preciso que la valoración que hagan los sujetos de las conductas de los otros encajen con las propias concepciones, o, que procediendo a la redefinición del propio sistema de necesidades, uno se encaje en la valoración que realiza de las conductas de los otros” (RAMOS, 2013, p. 86). La convivencia en comunidad de los seres humanos se encuentra plagada de situaciones y relaciones como las referidas. Situaciones y relaciones que se prolongan en el tiempo en las que unos atienden sus necesidades a costa de otros7. Ello sucede porque a pesar de que la situación o relación pudiera resul-

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O como diría José Martí, en su poema Banquete de Tiranos: “hay una raza vil de hombres tenaces/ de sí propios inflados, y hechos todos,/ todos del pelo al pie, de garra y diente;/ y hay otros, como flor, que al viento exhalan/ en el amor del hombre su perfume./ Como en el bosque hay tórtolas y fieras/ y plantas insectívoras y pura/ sensitiva y clavel en los jardines./ De alma de hombres los unos se alimentan:/ los otros su alma dan a que se nutran/ y perfumen su diente los glotones,/ tal como el hierro frío en las entrañas,/ de la virgen que mata se calienta./ A un banquete se sientan los tiranos (…)”

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tar asfixiante para unos -a causa de los actos de los otros-, los primeros compatibilizan sus realidades adaptándose a los segundos, como en los ejemplos citados, redefiniendo o re-priorizando las necesidades a las que dar atención. En consecuencia, la situación o la relación se mantiene. Por ello se dice que alcanzar el equilibrio interno del sistema y actuar en consecuencia compatibilizando realidades entre seres humanos, no garantiza que las necesidades de los seres humanos sean atendidas de manera sinérgica y recursiva. Es más, el motivo por el cual en países como los nuestros, plagados de violencias directas, estructurales y culturales, injusticia social y conflictos de todo tipo, la situación se perpetúa indefinidamente en el tiempo, tiene que ver con la forma en que los sistemas alcanzamos el equilibrio interno compatibilizando realidades que cristalizan modelos conviveciales de atención de las necesidades violadores, inhibidores y pseudosatisfactores. Desde una perspectiva sociopráxica, la producción y reproducción de violencias directas, estructurales, culturales, injusticias y conflictos no sucede únicamente porque existen personas y redes sociales que para alcanzar sus internos equilibrios atendiendo sus propias necesidades actúan de modo (que es valorado por otros como) violento, injusto o responsable de la no atención de las necesidades por parte de otros. Para que estas situaciones se produzcan y reproduzcan cristalizándose modelos convivenciales- es preciso también que existan personas y redes sociales que: a) no valoren dichos comportamientos como violentos, injustos o responsables de la no atención de las necesidades por parte de otros, y contribuyan a su reproducción (participando activamente en su acción y reproducción); y b) existan personas y redes sociales que aún valorando dichos comportamientos como injustos o violentos y responsables de la no atención de las necesidades por parte de otros, redefinan o re-prioricen su sistema de necesidades adaptándose a la situación (dando atención a unas y no otras necesidades, como en el ejemplo del pasajero atracado cuando daba atención a la necesidad de sobrevivencia frente a otras). Cuando son mayoritarias las redes que proceden del modo descrito, la perpetuación en el tiempo de las injusticias sociales, conflictos o violencias es difícilmente revertible. Si bien, es preciso advertir que la existencia de injusticias, violencias y conflictos no quiere decir que no existan, también, personas y redes sociales que valoren dichos comportamientos como injustos, violentos o responsables de la no atención de las necesidades por parte de otros, y actúen 90

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activamente para su limitación o transformación. Estas personas y redes resultan fundamentales en el proceso de transformación de conflictos para la construcción de paz. La relación establecida desde la perspectiva sociopráxica entre la paz (y también la violencia, o los conflictos), la atención de las necesidades y la conviencia humana es clave para entender cómo los seres humanos construimos simultáneamente paz y conflictos sociales en nuestra acción relacional cotidiana, cristalizando modelos convivenciales. Si a lo largo de los tiempos los seres humanos hemos sobrevivido, bien puede ser porque, en efecto, los seres humanos hemos logrado compatibilizar nuestras realidades al servicio de la utilidad para nuestras vidas. Los seres humanos hemos logrado comatibilizar nuestras realidades para atender nuestras necesidades en comunidad, pero lo hemos hecho, como se advertía, de diferentes modos: a) de manera sinérgica, al atender una necesidad a la vez que otras y las de otros mediante determinadas prácticas que así lo posibilitan; b) de manera inhibidora, al atender una necesidad mediante prácticas que evitan o dificultan la atención de otras o las de otros; c) de manera violadora, aniquilando la posibilidad de atender la necesidad e imposibilidanto la atención de otras y las necesidades de otros; d) de forma pseudosatisfactora, al atender aparentemente unas necesidades pero condicionando la posibilidad de atenderla en un futuro; o, e) de forma singular, al atender una única necesidad sin reparar en otras o en las de otros. Estos diferentes modos de atender las necesidades de los seres humanos se encuentran relacionados con la concepción de satisfactor que propone Max Neef (1993). Este autor distingue entre necesidad y satisfactor, siedo el último, el modo mediante el cual el sujeto cubre su necesidad. Trasladar esta concepción a un nivel social, implica considerar al satisfactor como el modo por el que se articulan unas u otras convivencias. La gestación de unos u otros modelos convivenciales: modelos de atención sinérgica y recursiva de necesidades (que se entienden como potenciadores de convivencias pacíficas), o, modelos convivenciales inhibidores o/y violadores, donde la atención de necesidades por parte de unos priva o dificulta la atención de las necesidades por parte de otros (potenciadores de conflictos sociales) (RAMOS, 2013). Según establezcamos los seres humanos nuestras relaciones en los espacios 91

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de cohabitación y atendamos nuestras necesidades (de una u otra forma), cristalizaremos unos u otros modelos de atención de las necesidades, unos u otros modelos convivenciales: más pacíficos o más violentos. Es este el anclaje clave para comprender la conceptualización de la Paz Transformadora desde la perspectiva sociopráxica.

Conceptualización de la Paz Transformadora (y Participativa) De la misma forma que las estructuras disipativas de Prigogine (PRIGOGINE y STENGERS, 1985) se encuentran en constante desequilibrio en busca de un equilibrio interno (en un proceso del caos al orden), los sistemas humanos nos encontramos en permanente proceso de recepción de estímulos generadores de constantes perturbaciones internas. La interiorización de los diferentes estímulos recepcionados a los que debemos inferir particular sentido de acuerdo con nuestras propias necesidades, nos impelen a autoorganizarnos para emitir una respuesta en consonancia y conseguir así estabilizarnos. “Los sistemas energéticamente abiertos, como somos los seres humanos, al mantener relaciones con el medio, se hallan inmersos en procesos entrópicos de desorden, encontrándose en un estado de no equilibrio; siendo, precisamente, a partir de ese desequilibrio como se genera el orden, la estabilidad” (MONTAÑÉS y RAMOS, 2013, p. 246). Las respuestas que los seres humanos realizamos tras inferir sentido a los estímulos que recepcionamos, son, como se ha anotado, recepcionadas en forma de estímulos por parte de otros sistemas abiertos; los cuales, procederán también a su clausura organizacional para inferir sentido a dichos estímulos y responder en consecuencia. Nótese que toda interacción con el medio genera desequilibrio en el sistema, siendo necesario para lograr equilibrio nuevamente que éste emita una respuesta. Sin embargo, son, precisamente, las respuestas emitidas las que al alterar el medio, producen un efecto que propicia nuevamente desequilibrio en el sistema, y obliga a emitir nuevas respuestas que… Y así sucesivamente. Será cada sistema quien al emitir respuestas con las que atender sus propias necesidades -o al reconfigurar y redefinir sus necesidades o la propia organización del sistema en su conjunto-, logre estabilizarse y crear un estado de “desequilibrio armónico” interno. Esto es, logrará estabilizarse dentro del permanente desequilibrio propio de las estructuras disipativas (MONTAÑÉS

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yRAMOS, 2013, p. 247). La Paz Transformadora, siguiendo este planteamiento, se relaciona con los armónicos desequilibrios de sistema, entre sistemas y redes, que emergen en el marco relacional convivencial positibitado por el proceso de compatibilización de realidades. La Paz Transformadora se entiende como el proceso vital en el que las perturbaciones internas del sistema se regulan buscando atender las necesidades del mismo, produciendo acciones-respuestas cuya recepción por parte de los demás sistemas producen respuestas (que, a su vez, serán valoradas) como no violadoras, inhibidoras o pseudosatisfactoras, sino sinérgicas y recursivas para la atención de sus necesidades. La multiplicidad, en el tiempo, de respuestasacciones y valoraciones, por parte de los diferentes sistemas, y la vinculación de sus redes, es parte constituyente del proceso de paz, siendo, por tanto, en el marco relacional-convivencial donde ésta, la paz (de igual modo que el conflicto), se configura como tal. La producción y reproducción de convivencias más sinérgicas y recursivas de la paz o más violentas, dependerá de las realidades, cálculos, respuestas-acciones y valoraciones que sean capaces de construir y operativizar los sujetos y sus redes, en sintonía con la atención de sus propias necesidades y las de los demás. Esta conceptualización de la paz supone tener en cuenta el medio y modo que tenemos los seres humanos de atender nuestras necesidades en los diferentes espacios de cohabitación e interrelación humana desde una perspectiva sociopráxica: Se entiende la paz como un constructo social en permanente transformación que puede ser potenciado mediante el fomento de procesos de intercambio, relación y reflexión participativos que favorezcan la construcción de medios y modos de atender las necesidades de unos y otros sinérgicamente. En consecuencia, se concibe la paz, también, como un proceso que posibilita la transformación de los conflictos, las injusticias sociales o las violencias que cristalizan en todo ámbito de interacción humana. Dicho de otro forma: la paz como proceso colectivo de construcción de prácticas, comportamientos, actitudes, valores, culturas, poderes, relaciones, redes, espacios, momentos y acontecimientos valorados por el conjunto de la población como favorecedores del desarrollo de las potencialidades humanas; y a la par, la paz, como proceso colectivo noviolento de transformación de aquellas prácticas, comportamientos, actitudes, valores, culturas, poderes, relaciones, redes, espacios, momentos y 93

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acontecimientos valorados por el conjunto de la población (o una parte) como violentadores de la posibilidad de atender efectivamente las necesidades humanas, en fórmulas que sí posibiliten al conjunto de la misma la atención de éstas. Ello implica, por un lado, entender la paz como un constructo social en permanente transformación dotado de valor en sí mismo, que debe ser desarrollado mediante el fomento de espacios de intercambio y relación que favorezcan la atención de las necesidades de unos y otros sistemas sinérgicamente, y, por otro lado, concebirla como herramienta útil para fomentar la transformación de los conflictos, al igual que se concebía desde la perspectiva de la Paz Imperfecta. Para que ello sea posible, será preciso propiciar no solo la participación y segunda reflexión de las partes contendientes en el conflicto, sino también de los diferentes sujetos y redes, que, enredados, dan vida a los diferentes modelos convivenciales, al conflicto y la paz en los distintos ámbitos de interrelación humana. La Paz Transformadora (y Participativa) aúna, así, la Teoría de la paz con la práctica de ésta. Es por esta razón que desde la perspectiva de la Paz Transformadora se propone un modelo epistémico de Construcción Participada de Convivencias Pacíficas (Ramos, 2013) en el que se plantea analizar participativamente las perturbaciones ocasionadas en los sistemas humanos que generan malestares o inquietudes, y las problemáticas sociales, violencias y conflictos que cristalizan socialmente en el espacio de cohabitación, para construir colectivamente nuevos modelos convivenciales en los que sinérgicamente se favorezca la atención de las necesidades del conjunto de la población. Por tanto, y como corolario: La paz desde esta perspectiva se concibe como un constructo social abierto, transformador y necesariamente participativo. Un proceso vivo y activo, de naturaleza práxica, construido y transformado permanentemente por los propios seres humanos en su acción relacional convivencial. Un proceso vital que construye, transforma, re-construye y evoluciona propiciando la cristalización de modelos convivenciales de atención sinérgica y recursiva de las necesidades humanas: modelos de Buen Vivir8. 8 Lo cual, lleva implícita la construcción de relaciones de cuidado y respecto, también, entre los seres humanos, los seres vivos y la naturaleza en su conjunto.

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Cap. 4 - Uma Escola Além dos Muros. O que Aprender: Saltar, Derrrubar, Ignorar, Provocar Rachaduras? Andrea Lucia Torres Amorim [email protected] Ana Cristina Bretas1 Universidade Federal de São Paulo

“– A gente quer mudar o mundo!” – me disse a menina com voz firme e brilho nos olhos. “Romper, queremos romper. Queremos romper o mundo tal como está. Um mundo de injustiça, de guerra, de violência, de discriminação, de Gaza e Guantánamo, um mundo de multimilionários e de mil milhões de pessoas que vivem e morrem de fome, um mundo no qual a humanidade está se aniquilando a si mesma...” (HOLLOWAY, 2011, p. 13). “Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza. Só ficou no muro tristeza e tinta fresca... Nós que passamos apressados pelas ruas da cidade merecemos ler as letras e as palavras de Gentileza” (Marisa Monte). Resumo: Este texto é fruto de reflexões feitas na convivência com ativistas de movimentos sociais em Madrid, durante minha bolsa sanduíche, financiada pela CAPES, orientada pela professora Ana Bretas da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) e o professor Tomás Rodríguez-Villasante da Complutense de Madrid, em 2013 para o estudo de doutorado “Escolas em movimentos: diálogos possíveis entre São Paulo e Madrid”. Passei um ano na Espanha aprendendo na Escola dos Movimentos Sociais. Pesquisar nesse universo significa não ficar de braços cruzados frente ao que se vê, a indignação é contagiosa. O local é reflexo do global, e também tem o poder de influenciá-lo. Os movimentos atualmente são “globales”, o sistema afeta a todos de maneira diferente e igual. Palavras-Chaves: movimentos sociais, educação, imigração

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Profª. Drª. Ana Cristina Passarella Brêtas - Orientadora de Doutorado

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Para Falar sobre os Muros “Além dos muros” é um coletivo de adolescentes que em 2012, com 15 anos, começaram a se reunir para conversar sobre um tema complexo: Como mudar o mundo! A questão dos muros não é óbvia. Para enfrentá-la temos que tentar responder algumas questões... Onde estão os muros? O que fazer diante dos muros? Devemos ir “além dos muros”? Nosso lugar de segurança está entre os muros ou fora deles? Como fazer para ir “além dos muros”? O que há “além dos muros”? De que muros estamos falando? Numa cidade como São Paulo, vemos muitos muros. Os muros dos condomínios residenciais, frutos da ideologia do medo e do terror; os muros cobertos de cercas elétricas e arames farpados das zonas residenciais nobres; os muros das escolas, intransponíveis e totalmente fechados para as comunidades; os muros dos hospitais e centros de saúde, agora altamente vigiados por um sistema de segurança terceirizado e altamente lucrativo; os muros das fabricas que guardam a maquinaria e escondem os trabalhadores da vigilância sanitária; os muros das prisões, que se confundem entre tantos muros. Há vários conceitos de muros. Cada autor pode nomeá-los de diferentes formas. Boaventura Sousa Santos os chama de linhas abissais. Foucault fala sobre controle e disciplina que estão em toda parte e vão da organização fortemente hierárquica do exército, ao controle psíquico e cultural dos corpos. Illich explicita a escola como um grande muro criado para impedir o poder criativo. A alienação, na concepção tradicional, era consequencia direta do fato de o trabalho ter-se convertido em trabalho assalariado, o que tirava do homem a possibilidade de criar e ser recriado. Agora, os jovens saÞo preì-alienados pelas escolas que os isolam, enquanto pretendem ser produtores e consumidores de seus próprios conhecimentos, concebidos como mercadoria que a escola coloca no mercado. A escola faz da alienação uma preparação para a vida. (ILLICH, 1985, p. 59).

Há pelo menos duas perspectivas em relação aos muros: um lado de dentro e um lado de fora. Para uns, os muros protegem, para outros oprimem... Podemos dizer que do lado de dentro de muitos muros há claramente sistemas disciplinares, de controle, fundamentados em existência e não existência, sendo que a uns é permitido existir e a outros não é. Esses muros estão

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na Prisão, no Hospital e na Escola de acordo com Foucault (2004), as principais instituições de regulamentação e controle dos corpos. Foucault discute a disciplina como um instrumento de controle que, como o “panóptico” da prisão, não precisa de ninguém vigiando, para que o “preso” já se sinta vigiado. É assim também que a sociedade cria maneiras invisíveis de controle, como a culpa, como os sistemas hierárquicos institucionais, as disciplinas. Para Foucault: A disciplina é uma técnica de poder que implica uma vigilancia perpétua constante dos indivíduos. Não basta olhá-los às vezes ou ver se o que fizeram é conforme à regra. É preciso vigiá-los durante todo o tempo da atividade e submete-los a uma perpeìtua piramide de olhares. (FOUCAULT, 2004, p. 62).

O poder disciplinar é cotidiano, está em toda parte e provem de todos os lugares. A relação de disciplina é uma relação de sujeição, faz dos indivíduos sujeitos (sujeitados, subjugados e ao mesmo tempo protagonistas de suas ações). A ação de resposta do corpo à disciplina é a rebeldia. A rebeldia é castigada e o corpo sente dor diante do ato rebelde. As estratégias de fuga nem sempre são eficientes, e muitas vezes não há como escapar a dor, seja ela física ou decorrente da exclusão de não aderir a ordem imposta. O corpo é o loccus dos processos de disciplina. O corpo também aprisiona, condicionado e atormentado pelas condições que o sistema impõe. Para Foucault(1997) o corpo só se torna útil se é ao mesmo tempo produtivo e submisso (dócil), uma peça dentro de um jogo de dominações e submissões. Muros cercam estudantes, crianças que mal aprenderam a andar, professores, secretários e diretores. A instituição escolar, normatizada pelas leis estatais, que seguem as regras ditadas pelos organismos econômicos, obedecem a lógica do mercado. Segundo Illich (1985), o ser humano não necessita de Escolas para desenvolver o processo de educação. O autor acredita que a instituição de ensino atua como normatizadora de padrões de comportamentos ditados pelo sistema e não como formadora de pessoas críticas, capazes de desenvolver formas melhores de viver e se organizar. A escola atua então como mantenedora do status quo e impede transformações sociais necessárias. A pessoa escolarizada aprende a seguir regras e violar qualquer regra significa uma transgressão moral. Sob o olhar autoritaìrio do professor, diversas ordens de valores confundem-

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Do sul ao norte - metodologias participativas desde a sociopráxis se numa só. A distinção entre moralidade, legalidade e valor pessoal torna-se confusa e é, eventualmente, eliminada. Toda transgressão torna-se uma ofensa múltipla. Espera-se que o transgressor sinta que violou uma norma, que agiu imoralmente e que traiu a si mesmo. (ILLICH, 1985, p. 46).

Se a norma está em desacordo com minha consciência, tenho que romper com a norma. Posso tentar romper ao criar nela uma fissura, ao abrir uma brecha na norma, ao me tornar indignado, insurgente. Para Moretti, “insurgencia eì um movimento contra a opressaÞo do povo em defesa de libertação geral, conduzida de baixo para cima com finalidades poliìticas e sociais bem definidas” (MORETTI, 2008, p. 152). Porém, o insurgente pode ou naÞo ser agente de transformac’aÞo da realidade, dependendo de sua postura diante do mundo. Para Streck, a forma de insurgencia que pode ser ferramenta para mudanças na estrutura social injusta dada eì a “insurgencia no sentido de recuperar ou criar a possibilidade de dizer a sua palavra, de fazer com que sua revolta e a indignação contra as condic’oÞes opressivas se transformem numa força potencializadora de mudanças”. (STRECK apud MORETTI, 2008, p. 146). Para Moretti, O educativo na insurgencia acontece quando os conflitos se explicitam de tal forma que geram mudanças no conhecimento, nas ideias, no comportamento e nas práticas. O saber adquirido e modificado não teria um fim em si mesmo, mas tomaria a força e ação como instrumento de luta. (MORETTI, 2008, p. 149).

Porém, não basta a rebelião é necessário a reflexão para que o que se move se torne crítica e transformação de situações injustas; senão, corre-se o risco de o ato insurgente ser usado como ferramenta para reforc’ar aquilo que gerou a indignação. Uma das ativistas aponta para o fato de ser necessário a inclusão da discussão do sistema de educação na luta pela Educação pública na Espanha, um modelo amargurado de educação, não é um modelo ideal: La Palma2: he trabajado mucho en el mundo de la educación y me parece que el sistema es un desastre. Que hay que trabajar por la educación pública: desde luego, pero no por la educación pública que conocemos. A mi me 2 Os nomes dos entrevistados em 2013 foram substituídos por nomes de ruas de Madrid por questões éticas.

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Orgs: Nara Vieira Ramos & Tomás R. Villasante parece que la Marea Verde tiene que profundizar en un cambio en la educación, no solo luchar por la educación pública, ¡evidente!, y laica (y no todos esos disparates que les están intentando meter de clases de religión y todo eso), eso es verdad que hay que lucharlo, pero hay que cuestionar el fondo; no puede ser que un sistema esté basado en amargura, en obligar a los niños a estar, en obligar, incluso con la policía, a los padres a tener a los niños en un sistema que el valor que más potencia es la obediencia, la disciplina; a mi eso me asusta mucho, ¡a mi eso no!, yo no quiero luchar por un sistema que siga igual, yo no quiero que se privatice pero desde luego tampoco quiero que siga igual. Toda mi vida he luchado contra ese sistema y me parece que es interesante meterse en la marea pero no quedarse con «educación pública», porque la educación pública puede ser horrible, puede ser obligada, los niños y las niñas estar obligadas a estar, los padres amargados y los profesores amargados [...]

Para Illich (1985), a escola prepara para continuidade do projeto de sociedade capitalista. A Escola seria um lugar privilegiado para a aprendizagem de como se portar e preservar o sistema e também o local do condicionamento a obediência às instituições. A escola ajuda a impor os “muros” que aprisionam as pessoas ao sistema, obedientes as instituições que o mantém. Quando um homem ou uma mulher aceitou a necessidade da escola, torna-se fácil presa para outras instituições. Quando os jovens permitiram que sua imaginação fosse formada pela instrução curricular, estão condicionados ao planejamento institucional de qualquer espeìcie. A «instruções» lhes turva o horizonte da imaginação (ILLICH, 1985, p. 52).

Ha muros visíveis e há muros camuflados. Boaventura Sousa Santos descreve uma clara linha divisória entre o Norte e o Sul, onde os pensamentos e maneiras de ver o mundo são classificados como validos ou inválidos. É o que chama de linha abissal. Para Boaventura o pensamento abissal é uma fronteira criada que determina um epistemicídio (Santos, 2009) e diminui a riqueza de possibilidades que temos em resolver os conflitos da humanidade. O pensamento moderno é um pensamento abissal. Consiste num sistema de distinções visíveis e invisíveis sendo que as invisíveis fundamentam as visíveis. As distinções invisíveis são estabelecidas através de linhas radicais que dividem a realidade social em dois universos distintos: o universo “deste lado da linha” e o universo “ do outro lado da linha”. A divisão é tal que o “ outro lado da linha” desaparece enquanto realidade, torna-se inexistente e é produzido como inexistente. Inexistência significa não existir sob qualquer forma de ser relevante ou compreensível […] a característica fundamental do pensa-

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Do sul ao norte - metodologias participativas desde a sociopráxis mento abissal é a impossibilidade de co-presença dos dois lados da linha. (SANTOS, 2009, p. 23).

Estamos do “outro lado da linha abissal”, onde nossos pensamentos “não são validos”, onde não existimos, onde não podemos andar livremente pelas ruas... de que lado dos muros? [...] um universo que se estende para além da legalidade e da ilegalidade, para além da verdade e da falsidade. Juntas essas formas de negação radical, produzem uma ausência radical, a ausência da humanidade, a sub humanidade moderna. Assim a exclusão torna-se simultaneamente radical e inexistente, uma vez que seres sub humanos não são sequer candidatos a exclusão social. (SANTOS, 2009, p. 29).

Os Muros da “Liberdade” Capitalista Muros cercam policiais e presidiários. No mundo todo dentre os presos estão presos políticos, emigrados, refugiados de guerra e da pobreza. A indústria do cárcere gera hoje nos Estados Unidos os escravos de quem se pode tranquilamente explorar ao máximo a força de trabalho, sob os aplausos da sociedade. O Muro entre o México e os Estados Unidos, impede a livre circulação de pessoas entre um país e outro. O muro no Marrocos, ou Muro do Saara, tem aproximadamente 2700 km de extensão, que atravessa o Saara Ocidental e a zona sudeste de Marrocos, e juntamente com campos minados, pretende ser uma estrutura defensiva, que impede a livre circulação de pessoas entre as duas regiões. Outros muros europeus impedem a livre circulação de pessoas como os muros dos CIES (Centros de Internamento para Estrangeiros) 220 na Europa e 07 na Espanha. Na Espanha: “Los CIE forman parte de la prioridad poliìtica de la Unioìn Europea de enciero y expulsioìn de las personas migrantes que no son uìtiles al mercado. Se ubican dentro de la estrategia del control fronterizo y coaccioìn de flujos migratorios, y operan en el marco del ciclo de la represioìn interna de la migracioìn clandestina. Ciclo que actuìa mediante la identificacioìn racista, la detencioìn en centro de internamiento y la expulsioìn a paiìs de origen o de traìnsito. Existen maìs de 220 centros de detencioìn en la Unioìn, aun tambien se há construiedo fuera del territorio europeo como parte de la poliìtica de

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Orgs: Nara Vieira Ramos & Tomás R. Villasante externalizacioìn de poliìticas migratorias (ademaìs de un intento de evasioìn de las responsabilidades europeas), lo que supone una flagrante lesioìn a los derechos fundamentales maìs elementales, entre ellos, el derecho a salir de un territorio y llegar a outros. Los CIES en el Estado espanÞol, se definen como espacios no penitenciarios, dependientes del Ministerio del Interior, en los que se detiene durante un maìximo de 60 diìas (la Directiva de Retorno 2008/115/CE autoriza hasta 18 meses) a personas extranjeras que esteìn sometidas a expedientes de expulsioìn, retorno o devolucioìn. Se reconoce la existencia de siete CIE a los que se suma la presencia de centros informales de dudosa ubicacioìn. Fueron creados por la Ley de Extranjeriìa de 1985 y hubo que esperar catorce anÞos para que fueran regulados de manera precaria mediante una orden ministerial (OM 22/2/99). Desde entonces se está a la espera de su regulacioìn reglamentaria. (INFORME CIES p. 7)

Na prática o CIE é uma prisão, de imigrantes ilegais, que cometeram a falta administrativa de não terem documentos. Não há regras que regulamentem os CIEs. Seus carcereiros são xenófobos, não há respeito pelo ser humano, são maltratados, violados em sua dignidade, violentados física e psicologicamente. O muro dos CIEs divide o mundo entre os que podem andar livremente pelas ruas e os que não podem, mesmo que não tenham cometido ato criminoso. Do lado de dentro, o forte sistema de controle. Do lado de fora, o equilíbrio e a paz capitalista. Pessoas inundam as ruas e os centros comerciais de todas as grandes metrópoles na maior e mais poderosa das manifestações: a manifestação consumista. Para proteger os consumidores que mantém o capital forte e seguro, são criados os muros contra os que podem ferir a lógica do capital e fragilizar sua potência dominadora. Mas existem “sul” no norte e “nortes” no sul, representados segundo Boaventura pelos empobrecidos das crises e pelas elites opressoras das colônias. Chegou ao fim o tempo de uma divisão clara entre o velho e o Novo mundo, entre o metropolitano e o colonial. A linha abissal tem de ser desenhada a uma distância tão curta quanto o necessário para garantir a segurança. O que costumava pertencer inequivocamente a este lado da linha é agora um território confuso atravessado por uma linha abissal sinuosa. (SANTOS, 2009, p. 34). A Espanha cumpre o papel de capataz de uma União Europeia que não

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quer que ninguém incomode dentro de seus muros. Para isso, prende em condições desumanas pessoas que não estão autorizadas: Los Centros de Internamiento para Extranjeros (CIE) son instalaciones donde el Estado espanÞol encierra a personas a la espera de ser expulsadas por carecer de permiso de residencia aunque no hayan cometido ninguìn delito. La falta administrativa en la que han incurrido -en contra de su voluntad- es equivalente al impago de una multa de tráfico. A nacionales se les sanciona con un recargo, a inmigrantes se les priva de libertad y de muchos otros derechos fundamentales; los principales, los derechos a la dignidad y a la integridad fisica. (INFORME CIES, p. 1)

Eu estava sentada no banco conversando com meu amigo do Senegal quando alguém sentou ao meu lado no encosto do banco e colocou os pés com toda força no assento: Paft!!! e eu me assustei. Fiz um sinal a meu amigo: “vamos sair daqui?” E ele me disse baixinho: “melhor não, é policial!”. Às vezes o levavam preso, esteve em um CIE por meses, ainda assim o levam a delegacia e fica as vezes 3 dias preso. Antes reclamava, agora, depois de viver 7 anos na Espanha, vai logo dizendo: “me de um cobertor, que estou cansado e tenho que dormir! Mas amanhã eu saio daqui com certeza!” Disse que não há muita diferença entre dormir em sua casa e na delegacia (diário de campo setembro 2013) Quando cheguei me disseram: “você não soube? Lucia foi presa!” (diário de campo setembro 2013). As “enredadas” racistas são comuns em Madrid, nas ruas se vê policiais pedindo constantemente documentos a pessoas estrangeiras, em geral negros. Um de nossos companheiros quase foi levado pela polícia, mas o coletivo saiu à rua e impediu que o levassem. Ele já é cidadão espanhol, assim como as duas mulheres do coletivo que atuaram junto com vários outros para impedir a prisão que não tinha nenhuma justificativa. Durante uma assembleia de uma plataforma de apoio a imigrantes na Espanha, um dos companheiros africanos conta que seu primo havia desaparecido e que fora encontrado assassinado dias depois, provavelmente pela polícia. Na França escuto um Jovem me contar de sua viagem até a Europa, em um pequeno barco pesqueiro com 140 pessoas no porão, dentre elas mulheres grávidas e algumas crianças. Em fevereiro de 2014 a polícia Espanhola atira e mata 14 africanos que atravessavam para Ceuta a nado. Há um grande muro entre a África e a Europa, se chama FRONTEX, a polícia das fronteiras. 104

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Brasil, Junho de 2013, o Fio da Navalha Em junho de 2013 saem às ruas de São Paulo milhares de pessoas indignadas pelo aumento da tarifa do ônibus e pela repressão policial violenta a jovens manifestantes dias antes. O movimento passe livre, discute desde 2009 a questão do direito a um transporte público de qualidade e a um preço acessível a população. As máfias do transporte controlam os preços, trajetos e número de veículos disponíveis para as grandes, médias e pequenas cidades brasileiras. A chamada livre concorrência, na verdade aqui se transformou em controle arbitrário do que se pode e do que não se pode em questão de transporte público. As obras dos governos em geral beneficiam o transporte individual e os incentivos a compra de automóveis criam o terrível circulo vicioso do consumo de combustíveis fósseis e poluição, além dos congestionamentos imensos e problemas de saúde decorrentes destes. De outro lado o cotidiano violento da cidade, grandes congestionamentos, meios de transporte coletivos lotados, roubos e assaltos em todos os lados e genocídio de jovens negros nas periferias. A “produtividade” policial é medida em número de assassinatos. O comércio ilícito de drogas cresce a taxas assustadoras, envolvendo jovens e crianças na venda, divulgação e estrutura dos negócios. Diante desse contexto eclode um movimento aparentemente caótico, resultado da própria situação em que a cidade se encontra. As manifestações de junho juntam várias tendências políticas e grande parte da população despolitizada. “Skin Heads” batem em ativistas que levam bandeiras ou peças de roupa vermelhas. Nas ruas gritavam: “O gigante acordou!!” Porém em seu estado ainda sonolento não consegue se inteirar exatamente do que acontecia. “Muito cedo para emitir alguma opinião”, diziam importantes intelectuais prudentes. Saímos de um estado de torpor, ao menos a maioria dos 220 milhões de brasileiros historicamente explorados, historicamente anestesiados, historicamente manipulados. Pelo imperialismo norte americano, ideológico e em espécie, pelo pensamento abissal do velho mundo, no dizer de Boaventura, pelas elites e oligarquias locais colonizadas na escola do caciquismo e da opressão. Oitava economia mundial e umas das maiores desigualdades sociais do mundo, o Brasil é um grande potência... Potencial energético, fontes de minérios, água e Petróleo e um enorme campo de exploração mercadológica. Especulação imobiliária, um eterno canteiro de obras, casas, estradas, viadutos... Alguns que ligam nada a lugar nenhum. Demolições para reformas intermináveis, de calçadas, de estra-

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das, de imóveis... O inconformismo na paisagem. As grandes empreiteiras detém grande parte do poder político e econômico do pais, ao lado das maiores empresas de outros setores. Quando já não compensa mais para o capital, destruir para construir e lucrar com as construtoras, se apresenta a nova fonte de business, a mina de diamantes da modernidade, o canteiro da grande colheita: os serviços. Privatizar educação, saúde, água, são os novos projetos neoliberais, no mundo todo. E o grande campo de experiências neoliberais do Brasil é São Paulo. “Se em São Paulo der certo, dá certo em todo o Brasil” assim dizem especialistas de direita a esquerdas. Da Constituição Cidadã, de 1988, do capítulo do Sistema Único de Saúde – SUS – da saúde como “direito de todos e dever do Estado”, antes de atingir a Universalidade da Saúde, “saltamos” ao livre mercado sanitário em 18 anos. “Além dos muros” está uma grande população excluída da assistência integral e equânime prescrita pela Carta Magna, que cada vez estará mais excluída. São 14 mil moradores de rua na cidade de São Paulo (último Censo de 2012). Em cada visita as comunidades dos 12 milhões de Paulistas, encontramos gentes e mais gentes que não acederam a sistema público de saúde, ou pela distância, por não ter o dinheiro da condução, ou pelas longas filas, ou porque não conseguem que seu problema seja acolhido ou escutado. O processo de desmonte da saúde pública vem de longos anos... Equipes insuficientes e sobrecarregadas atendem as demandas pressionadas por produtividade. As Organizações Sociais de Saúde (O.S.S.), empresas gestoras da saúde, apoiadas pelos governos locais, exercem sobre o trabalhador da saúde, as pressões que exercem as linhas de montagem da indústria de objetos. A saúde é agora uma mercadoria, que não se pode devolver caso esteja em más condições de uso. Apesar da estratégia saúde da família, em seu discurso fundador, tentar advogar pelo cidadão, pela cidadã, a prática diária da saúde, faz com que a atenção básica mais uma vez se encerre atrás dos muros das Unidades Básicas, e não saia às ruas em busca de mais problemas, já que os que estão no sistema são muitos e o suporte é insuficiente para dar-lhe respostas. Os trabalhadores se fecham nas prisões de hospitais e centros de saúde, criando um mundo produtivo que não consegue tempo para escutar o mundo real das ruas. “Os muros” não podem ser transpostos. A hierarquia do poder constituído na saúde protege o sistema e controla “os muros” (FOUCAULT, 1981). Diante dos muros nos rebelamos? Para Freire (1996), em Educac’aÞo como Praìtica da Liberdade, 106

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[...] a rebeliaÞo se manifesta como um conjunto de disposições mentais, ativistas, nascidas dos novos estiìmulos, caracteriìsticos da sociedade em aprendizado e abertura. A emersão um tanto brusca, feita pelo povo do seu estado anterior de imersaÞo, em que naÞo realizará experiencias de participação, deixa-o mais ou menos atonito diante de novas experiencias a que é levado, as da participação. A rebelião é fartamente ingênua e por isso, carregada de teor emocional. Daí a necessidade de ser transformada em inserção. (FREIRE apud PELLEGRINI, 2011, p. 21).

Crise ou Estafa? “Spanish Revolucion”, Ruas em Ebulição. A Espanha vive a perda de direitos adquiridos por lutas sociais antigas, desde a revolução Espanhola e que passam por 40 anos de ditadura Franquista. Os movimentos sociais, que viviam na clandestinidade na época da ditadura, desaparecem por anos a fio, consequência de repressão e estabilidade econômica. Depois “reencarnam” em novas gerações e surge então a geração dos indignados. Dos que não podem pagar as altas taxas da universidade, da “Juventud sin Futuro”. Dos que não se sentem representados por um governo que não escuta os clamores populares, e grita nas ruas, “No nos representan”, e percebem que estamos em um tempo onde a palavra democracia necessita de adjetivos, e pedem “Democracia Real Já”. Dos que impedem os despejos no “Stop Desahucios” e não admitem que os bancos saiam mais uma vez lucrando, quando enganaram aos que foram vítimas das hipotecas, oferecendo-lhes as beneces do capital, que não poderiam desfrutar, para logo em seguida atirá-los às ruas. Das várias “mareas”, verde-educação, blanca-sanidad, onde milhares de pessoas gritam que não querem as privatizações dos serviços públicos que consideram direitos e bens comuns. De que lado do muro está a pesquisadora? Frente a la relacioìn sujeto-objeto que se dice «cientiìficamente objetiva» siempre hay estrategias personales y grupales de sujetos-sujetos que estaìn en pugna por construir acciones y explicaciones que les interesan a cada parte. Las investigaciones siempre son acciones participativas, se quiera reconocer o no. (VILLASANTE, 1994, p. 32).

A Espanha, diante da estafa econômica a que as autoridades chamam crise ascende uma nova chama, que alguns chamam “spanish revolucion”, 107

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desencadeada pelo movimento 15M. Em 15 de maio de 2011 se reúnem na Praça de Sol, em Madrid, milhares de pessoas, chamados a uma manifestação contra lei SINDE, que restringia a acessibilidade a informação via internet e motivados pela repressão e prisão de alguns companheiros. Começa um acampamento que duraria meses. Nessa “acampada” formam-se grupos de discussão em meio ambiente, economia, saúde, além de grupos de organização do acampamento. Esses grupos, que se desdobrariam em assembleias populares nos bairros, começam um processo de experimentação de como enfrentar o sistema e criar novas possibilidades e alternativas. Esses grupos acreditam na inteligência coletiva e buscam ardentemente, se organizar em uma estrutura horizontal onde todas tenham igual possibilidade de participação. Provisiones: “ahora mismo tenemos una cosa muy importante que es el movimiento 15M que en los últimos dos años sí que ha colaborado mucho en ese aspecto, porque bueno, por un lado ha puesto en marcha unas reglas del juego político muy interesantes, absolutamente abiertas, transversales, asambleas, participativas, inclusivas, que eso está creando una educación política muy importante en nuestro país, ha tenido logros importantes de poder ocupar las calles, en todos los barrios y pueblos de Madrid y casi de España hay grupos del 15M más o menos numerosos...” Barquillo: El 15M tuvo aquí mucho impacto sociológico, aunque mucha gente no lo vea, no lo crea, ve que el 15 M va por un lado... pero El 15M abrió una puerta aquí en España a un tipo de movimiento que esta al margen de las instituciones que hay establecidas: sindicatos y partidos políticos. Digamos que la gente esta bastante harta de sindicatos e partidos políticos: por su manera de actuar, por su falta de consenso. Espino: “que hay muchísima gente que ha empezado a participar en política en movimientos sociales a partir del 15M... para alguna gente que está en el 15M consideran que su inicio en la militancia y su participación en los movimientos sociales es ese momento, pues considera que es ese el inicio de su historia, y se enmarca más.”

Tentamos Espiar pela Fresta: O que Fazer Diante dos Muros? Segundo Holloway, há no mundo milhares de experiências que tentam “criar fissuras” nos muros

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Orgs: Nara Vieira Ramos & Tomás R. Villasante [...] há um milhão de experimentos em busca de mudanças radicais, de fazer as coisas de maneiras totalmente diferentes [...] as projeções experimentais que apontam um mundo diferente são, provavelmente, tão antigas quanto o próprio capitalismo. Mas [...] não podemos esperar a grande revolução […] temos que começar a criar algo diferente aqui e agora. Esses experimentos são, possivelmente, os embriões de um novo mundo, os movimentos intersticiais a partir dos quais poderia crescer uma nova sociedade”. (HOLLOWAY, 2011, p. 22).

Holloway (2011) fala em “agrietar” o capitalismo, criar fissuras nas estruturas capitalistas. Para o autor em alguns momentos, o capitalismo é como o gelo de um grande lago a que podemos tentar fissurar, mas que não sabemos em que direção a fissura que iniciamos vai correr. Em outros momentos ele parece uma massa gelatinosa que logo que tentamos quebrar, se aglutina novamente como se nada tivesse acontecido. Holloway fala de romper a estrutura capitalista sem tomar o poder, para o autor as tentativas de tomar o poder demonstraram serem ineficazes no sentido de uma transformação no sistema. O sistema é tão duro e rígido, que acaba por engolir a quem tenta rompê-lo desde dentro. A mudança estaria portanto, na criatividade, na experimentação de novas possiblidades. Não se sabe bem como começa, porque começa uma fissura no sistema, uma greta no capitalismo, uma trinca no muro. As manifestações de 15 de maio de 2011 na Espanha e as de junho de 2013 no Brasil são ondas de movimentos anteriores que vão se somando e ao final explodem em um movimento maior, que aparentemente veio do nada, mas que esteve latente ou ativo em formas quase invisíveis, ou só visíveis para quem estava ali. Alguns ativistas de Madrid percebem o momento do estalido no dia 15 de maio. Hortaleza3: Que se nos suma, no al movimiento 15M, porque ahora el movimiento 15M digamos ha sido el estallido, no? el impulsor de una manera de protestar y tal, sino al movimiento ciudadano en general, a toda la gente que de alguna manera está manifestando en la calle. Amparo: “cuando surgió el 15M, había, digamos que eso fue una confluencia de varios movimientos que al final un día explotó”. E quem tem o poder de destruir ou controlar os muros? Segundo Foucault (1981), o Poder não está localizado (Estado, Rei) mas disperso em todo o corpo social. “É menos uma propriedade que uma estratégia” (Deleuze, 1994). 3

Bairro de Madri- Espanha

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Foucault desloca a visão do poder para além da economia. Caracteriza o poder como uma rede produtiva que passa por todas as forças em relação. Está tanto nos “dominadores” como nos “dominados”. É relacional. Não há como escapar das relações de poder. Mas se pode instituir outras: o poder não é essencialmente repressivo, “[...] o que faz com que o poder seja aceito e se mantenha é simplesmente que ele não pesa apenas como uma força que diz ‘não’, mas que de fato ele produz coisas, induz ao prazer, produz discurso” (FOUCAULT, 1981, p. 25). Também exercemos poder, mesmo oprimidos. O poder circula e por isso é possível reverter o quadro de dominação. Os muros podem ser superados. Podemos provocar rachaduras nos muros. No dizer de Paulo Freire, o oprimido tem que expulsar o opressor que vive nele. Além disso, a libertação do oprimido, liberta também o opressor. Ivan Illich fala em sociedade sem escolas, para ele o projeto revolucionário só pode ter lugar em uma sociedade sem escolas. A escola é a grande responsável por frear os processos criativos de construção de outra sociedade porque é na escola que se auto afirma a sociedade hegemônica. A escola cria a sociedade de consumo, segundo Illich (1985). A proposta de educação dos movimentos sociais pretende ser outra. Na Espanha os movimentos que conheci, tentam valorizar o saber de todas as pessoas participantes dos encontros. O respeito ao saber de todas, produz uma consciência e uma inteligência coletiva compartilhada. Esse espaço criativo, não esta encerrado entre muros de uma escola formal... Ele acontece nas ruas, nas praças, no local comum, no espaço do comum urbano. Há o desejo da transformação deste espaço. O ativista acredita que está mudando, que está criando outros mundos, possíveis, alguns pensam que serão feitos no amanhã, alguns pressentem que o amanhã esta perto e outros ainda vivenciam a mudança no cotidiano de suas ações. Da “Spanish Revolucion” do 15M, a força das “mareas”, o desejo de mudança. La Palma: [...] He escuchado y he estado en los grupos y hay más preocupación, hay una posibilidad de las madres y padres de potenciar otro tipo de educación. Es verdad que están muchos en la Marea, gente que ya venía con otro sistema, luchando por otro tipo de sistema educativo y se han metido en la Marea, entonces están como con ese virus de alguien que quiere hacer algo distinto... Ao chegar em Cibeles4, alguns estudantes preparavam cartazes. Partidos 110

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políticos pequenos distribuíam panfletos. A praça tem um jardim no centro de uma rotatória. A calle Alcalá, ali na encruzilhada, esperava ver o que ia acontecer. Eu tirava fotos quando escutei o barulho. Foi então que vi de longe a manifestação chegando, de duas ruas, em duas grandes colunas de gente... gente, muita, muita gente! Fiquei muito emocionada. Senti vontade de chorar... (diário de campo, sobre a marea blanca- 18-11-12).

Da Indignação à Ação Conheci na Espanha coletivos em varias frentes de atuação. “Stop Desahucios” enfrenta os despejos dos afetados pelas hipotecas, pessoas que entraram em uma divida que não puderam pagar, porque ficaram desempregados na crise fabricada pelo capitalismo Espanhol. Recessão, é o que dizem, necessidade de recortes. La PAH, a plataforma dos afetados pelas hipotecas, junta ativistas de várias frentes. Voluntários, advogados e outros profissionais interessados pensam caso a caso como reverter a situação, como condenar os verdadeiros culpados da estafa a que chamam crise e inocentar os que forma penalizados, os afetados pelas hipotecas, os despejados. Durante os despejos os coletivos se juntam para manifestar-se diante da porta do despejado e obstaculizar a justiça de chegar e desalojar as pessoas que não puderam quitar suas dívidas com os bancos. Os bancos, quando conseguem o despejo ficam com o imóvel, e ganham duas vezes seu valor, porque o despejado continua obrigado a saldar a dívida... Algumas pessoas se suicidaram diante da notificação de despejo. Pessoas solitárias, idosos, gente que não tinha perspectiva nenhuma de quitar suas dívidas, nem de morar em outro lugar. Isso causou comoção geral. “La PAH” foi premiada por associações de direitos humanos. De outro lado endureceram as leis sobre manifestações e incluíram na penalização e criminalização dos movimentos um paragrafo a respeito de impedir despejos. Duas companheiras foram presas por defenderem um companheiro negro africano, cidadão Espanhol, de ser injustamente detido. Nestas detenções não se pode prever o que vai acontecer. As moças foram feridas em seus corpos e sua dignidade. A brutalidade policial encarcerou duas ativistas por direitos humanos. As manifestações arrastam centenas, milhares de indignados na Espanha e no mundo. Os recortes aos direitos adquiridos com lutas de muito 4

Cibeles é uma praça de Madri

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tempo derivam o público ao privado, à exploração capitalista. Os ativistas espanhóis tentam se defender: organizam plebiscitos, apesar do país não reconhecê-los; propõem desobediência civil, ao propor a médicos e profissionais de saúde a desobedecer ao real decreto que impede a assistência de saúde aos imigrantes; fazem passeatas; se encerram nos hospitais e escolas; seguem políticos escrachando-os em público, para “sensibilizá-los” sobre a importância de seu papel na democracia do país; gritam nas ruas “no nos representan” porque não acreditam mais na democracia representativa que não garante nem respeita a representação à população, que representa mais as empresas e bancos que a cidadania; movem-se nas ruas de Madrid, e sentam nas praças para discutir o que fazer. Romper, necessitamos romper. Nas okupas se organiza o mercado social. Através de consumo responsável, banco de tempo, trocas, se exercita solidariedade. Os protestos não cessam impossível acompanhar, todos os dias há um protesto, uns mais fortes, outros silenciosos. [...] protestamos e fazemos algo mais [...] se só protestássemos, se tudo o que fizéssemos fosse nos opormos ao que eles tentam fazer, então simplesmente seguiríamos seus passos, permitiríamos que os poderosos impusessem seu programa [...] negamos, mas a partir de nossa negação cresce a criatividade, um outro fazer: uma atividade que não esta determinada pelo dinheiro, uma atividade que não esta configurada pelas regras do poder. (HOLLOWAY, 2011, p. 13).

O revolucionário não veste uma capa de super-herói e sai por aí voando, ele tem dúvidas, ele chora, ele tem insônia, se embriaga e alguns até rezam. A revolução se faz no cotidiano, nas ruas de nossos bairros, no ambiente de trabalho, e não no gabinete do partido! Ou no discurso de um capítulo de livro difícil de ler!!! Mas não são um grupo homogêneo, entre eles há milhares de seres que tem em comum o rechaço ao atual mundo.

A Escola das Ruas: o Tempo Passa e Ainda Queremos Mudar o Mundo “Além dos muros” em 2014 se diluiu em outros movimentos, os adolescentes cresceram e entraram na universidade. Logo serão trabalhadores. A menina de olhos brilhantes escuta atentamente a História que conto sobre minha viagem à Espanha. Vê deslumbrada seu país ser ressignificado pelos de sua geração. Quer “construir outro mundo” e já acredita que pode.

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Orgs: Nara Vieira Ramos & Tomás R. Villasante [...] esta é a história de gente comum, a alguns eu conheço de alguns eu ouvi falar, e alguns eu inventei. Gente comum, rebeldes, revolucionários quiçá. Dizem os zapatistas no seu mais profundo e difícil desafio: “somos mulheres e homens, crianças e anciões comuns, ou seja, rebeldes, inconformes, incômodos, sonhadores” (Marcos, 1999)”. (HOLLOWAY, 2011, p. 15 ).

Há uma escola nas ruas de Madrid. Há uma grande escola em todas as ruas do mundo... Em meu trabalho como médica de rua, vivo isso em cada instante em cada dia... Nessa Escola não há currículos predeterminados, o currículo se faz diante das necessidades diárias, se faz diante do que grita e do que explode com força diante de nossos olhos... Diante das urgências... Da necessidade de fazer algo com o muro!!! Ir além dos muros, não importa se saltando, não importa se quebrando, que criando rachaduras no muro para ver além!!! Essa escola se reinventa a partir da vontade de construir um outro mundo. Diferente da Escola convencional, se constrói diante da necessidade e através do prazer de conhecer o que é necessário para a leitura do mundo. A leitura do mundo é a desconstrução do que a palavra significa para ressignificá-la a partir da vivencia de cada participante do processo educativo. Assim como nos círculos de cultura, o movimento popular pode ser grande oportunidade do aprender na reciprocidade. A construção e a realização do desejo ou da superação das dificuldades coletivamente é momento único para a construção de um saber na reciprocidade. É quando necessito do outro para compreender o todo e realizar meu projeto, que com a participação dele se torna nosso projeto, que tenho a oportunidade de vivenciar um processo educativo libertador. Não há, ali, nem mestre nem discípulo, nem professor nem aluno (allumini – sem luz) a ser iluminado pelo saber do outro. O que há são seres em partilha. (PELEGRINI, 2011, p. 8). A Escola formal desprivilegia o processo ensino aprendizagem na reciprocidade. Isso parece ser um fenômeno mundial. A “marea” verde luta pela educação pública na Espanha e uma das ativistas reflete sobre a escola pública em seu papel formador e a necessidade de lutar por outra Escola, quebrando os muros da atual: La Palma: Nunca se ha potenciado el placer de conocer, el placer del conocimiento, luego ahora se han quedado sin argumento y es solo el argumento de la obligación, de la amargura, y se oyen frases como «si yo estoy aquí porque no me queda otra, tu estás ahí porque no te queda otra», tanto unos como otros, entonces la relación que se crea es: «te voy a joder». Sencillamente, ¿no? «Te jodo porque estoy obligado». [...]. A mi me parece

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Do sul ao norte - metodologias participativas desde a sociopráxis que el amor a lo que se está haciendo, el placer de lo que se está haciendo, es básico para hacer una sociedad mínimamente lógica, feliz, sana. Entonces, el sistema educativo concreto, no es sano porque hay unas relaciones enfermas, unas relaciones de desconfianza entre los padres, las madres, con el profesorado, que mira horrible a las familias «de que se metan en mi terreno», los niños que quieren escapar, los profesores que dicen «¡ah, otro lunes!», entonces, eso no puede ser sano para criar a gente, como reproduciendo una sociedad de amargura. No estamos enseñando que se puede ser feliz aprendiendo matemáticas, que por el puro hacer, no por el «para qué me va a servir esto», entonces hay que luchar en las mareas por un movimiento educativo, pero desde luego no solo por una educación pública.

Estudar o poder como relação, pode nos ajudar a perceber o poder nas relações de cuidado, afeto, gratidão, familiares, políticas, enfim nas relações humanas, para que se abram novas possíveis configurações da realidade com menos sofrimento. Estudar por prazer e estudar sobre o mundo, levar a fundo a leitura do mundo de uma maneira que possa fazer compreender a realidade em que estou imersa... O anseio de transformação da realidade dura e injusta, a vontade de saltar o muro, de transpor, de romper... A Escola co-construída, entre gerações, com a menina de olhos brilhantes de 15 anos e com a mulher de 70 que balança os braços com a força de sua indignação quando fala sobre economia. As dificuldades são muitas, há muito mais motivos para o desanimo que para nos animarmos, mas algo nos impulsiona, aqui e em Madrid. Algo pouco palpável, traduzido em nossa raiva, a “justa raiva” de Paulo Freire ou a “digna rabia” dos Zapatistas. Está errada a educação que não reconhece na justa raiva, na raiva que protesta contra as injustiças sociais, contra a deslealdade, contra o desamor, contra a exploração e a violência, um papel altamente formador (FREIRE, 1998, p. 45). Tenho direito de ter raiva, de manifestá-la de tê-la como motivação para a minha briga, tal qual tenho o direito de amar, de expressar meu amor ao mundo, de tê-lo como motivação para a minha briga. Porque histórico, vivo a História como tempo de possibilidade e não de determinação. (FREIRE, 1998). Além dos muros que nos paralisam e aprisionam, o caminho é longo e ha muitas encruzilhadas. Em cada uma delas um novo desafio. Temos receio de avançar, os muros também dão a sensação de proteção, em tempos da ideologia do medo e do terror. Assustados, não sabemos por onde ir. Ainda assim vamos adiante. Hortaleza: no puedo es deprimirme, ni cabrearme ni debilitarme en la 114

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movilización, puedo cansarme eso es lógico, pero no me puedo cabrear contra el movimiento, no me puedo irritar contra esto y por supuesto no me puedo permitir sentirme deprimida en esta situación, porque eso me inmoviliza, ese es el gran factor de inmoviliza a la gente, la tristeza, esa melancolía constante que no nos permite dar, y no es que haya que estar alegres siempre sino hay que estar atentos siempre, no te lo puedes permitir, estamos en un momento de lucha de movilización, no hay tiempo para la tristeza es tiempo para la acción. A menina de olhos brilhantes adverte: “é preciso fazer algo agora, nesse exato instante!” Estudar movimentos sociais é aprender caminhos sobre o que fazer diante dos muros... Gratidão à grande Escola das Ruas, “Além dos Muros”!

Referências CUÁL ES EL DELITO? Informe de la Campaña por el cierre de los centros de internamiento: el caso de Zapadores.(2013) http://mhpss.net/?get=202/1371483463informeciesWEB.pdf, 110p. Foucault, M. (2004). Vigiar e Punir. 29 ed. Petrópolis: VOZES. __________.(1997). Vigiar e Punir. 27 ed. Petrópolis: VOZES __________ (1981) Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal. Freire, P. (1996). Educação como prática de liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra. _______. (1998). Pedagogia da Autonomia. 7 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. Holloway, J. (2011). Agrietar el capitalismo, el hacer contra el trabajo. Madrid: El Viejo Topo. Illich, I. (1985). Sociedade sem Escolas. 3 ed. Petrópolis: VOZES. Moretti, C. Z. (2008). Educação Popular em Jose Marti, no Movimento Indígena de Chiapas: a insurgência como princípio educativo da pedagogia latino-americana. 188 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade do Vale dos Sinos, São Leopoldo.

PELLEGRINI, Andréa Lúcia Torres Amorim.(2011).Trabalho, moradia, saúde e cultura: entrelaçando relações: uma experiência em pesquisa-ação a partir do PSF Recanto dos Humildes, Perus. 238 f. Dissertação (mestrado em Ciências da Saúde) – Universidade Federal de São Paulo, São Paulo. Streck, D. R. (2008). Práticas educativas e movimentos sociais na América Latina: aprender nas fronteiras. São Leopoldo: Universidade Vale dos Sinos (Unisinos). 115

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Santos, S. B. (2009). Epistemologias do Sul. Coimbra: CES. Villasante, T. R. (1994). Las ciudades hablan. Identidades y movimientos sociales en seis metrópolis latinoamericanas. Caracas: Nueva Sociedad Editorial.

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Cap. 5 - La Participación de los Actores y el Abordaje de la Incertidumbre en la Planificación1 Pedro Martín Gutiérrez [email protected] Universidad de Valladolid Resumen: El propósito de este texto es el de reflexionar, desde un punto de vista epistemológico, acerca de cómo algunos modelos de planificación construyen el papel a desempeñar por los actores participantes en ellos. De este modo reducen la incertidumbre que proviene de las relaciones de los participantes, de la complejidad de las inter-retroacciones. Si los actores participantes aceptaran jugar al juego que se les adscribe desde quien diseña el proceso de planificación y no cambiar esas reglas, estarían dispuestos a perder la voz, la iniciativa, la creatividad de sus estrategias y el sentido de su actuar. En otras palabras: dejarían en manos de los diseñadores de la planificación la construcción del futuro que desearían, abdicarían de una participación tal vez más completa y profunda y renunciarían al proceso de aprendizaje que su experiencia les podría aportar. Desde el convencimiento de que es posible la construcción de democracias participativas, se aporta, de manera escueta un modelo de interacción de actores en los procesos de planificación participativa. Palabras Clave: Planificación; Determinismo; Construcción del tiempo; Participación de los actores.

Introducción En los diferentes modelos de planificación, o al menos en los más usados y que han sido germen para otras derivaciones, se representa e integra a los actores de distintas maneras, se construye a estos actores y se determina su toma de decisiones para afrontar el futuro del que se consideran integrantes. Si en un proceso de planificación no reflexionamos sobre cómo el modelo metodológico construye la acción de los diferentes actores, estamos olvidando cuál ha de ser su posicionamiento epistemológico, olvidamos que se 1

He de agradecer sinceramente a Manuel Montañés y Tomás R. Villasante sus amigables aportaciones al primer borrador de este escrito, lo que me ha permitido mejorarlo sustancialmente; sólo a quien esto escribe se deben los errores o negligencias que puedan mantenerse todavía.

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van a producir confrontaciones entre participantes con distintas situaciones de poder, por lo que se les condiciona e incluso se determina su posibilidad de actuar. Si el propio modelo ya dice hasta dónde pueden llegar las actuaciones de los diversos actores, qué líneas no están capacitados para rebasar, podríamos decir que éste es un juego en el que los que reparten las cartas saben que están marcadas. Se trataría de hacer una reflexión para que los técnicos, los dinamizadores de procesos de planificación consideren que no vale cualquier modelo por el mero motivo de decir que es participativo, que no todos los esquemas de planificación pueden ser extrapolados de su ámbito originario para posibilitar la participación, como si este significante sólo tuviera un significado. En este texto me propongo tratar cómo algunos de los modelos habituales de planificación abordan la indeterminación del tiempo futuro, cómo construyen a los actores que han de entrar en juego y para, haciendo constante alusión a la participación, condicionan la posibilidad de que dichos actores tomen sus decisiones.

De Tiempos y Determinismos en la Planificación Lo que suceda mañana en nuestro entorno depende, en mayor o menor medida, de nuestro actuar de hoy; es posible influir en el futuro. Hablar de planificación es pensar, directa o indirectamente, en anticiparnos en el tiempo para el logro de un objetivo deseado, calculando las acciones a emprender para conseguirlo. Las definiciones de la planificación son muy numerosas, pero estos tres elementos (pensar el futuro, fijar objetivos y adoptar decisiones) van apareciendo constantemente en ellas y en el discurrir de este escrito. Sin embargo ya puedo adelantar que falta otro elemento fundamental: las personas. Porque toda esta escena que he empezado a describir está habitada por seres humanos, que actúan en sociedad; en resumidas cuentas, por personas. Puede parecer una obviedad, pero pretendo mostrar cómo no es en modo alguno superficial la advertencia de que no se nos han de olvidar las personas. La anticipación en el tiempo es únicamente posible en la medida en que podemos hacer un ejercicio de imaginación para situarnos en otro escenario; nuestra experiencia nos dice que no es posible adelantarnos físicamente al presente, situarnos en el tiempo por llegar. No pretendo entrar en disquisiciones filosóficas sobre el origen del tiempo o del tipo “las paradojas de Zenon” (sofis-

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mas como Aquiles y la tortuga, la flecha, dicotomía…), ni quedarme atenazado por el dilema aristotélico de “una batalla naval se librará o no se librará mañana”, o por el “demonio de Laplace”, que podría tener ante sus ojos el pasado y el futuro, porque conocería la posición y el movimiento de todas y cada una de las partículas constitutivas del universo. Para algunos la realidad sólo es posible en el tiempo presente en el que vivimos, en el tiempo real, aunque para otros, como Agustín de Hipona, lo verdaderamente real es lo que hemos vivido y lo que vamos a vivir; el presente no podemos precisarlo por ser inaprensible el momento infinitesimal, salvo que detengamos el instante actual, en cuyo caso dejaría de existir el tiempo. El flujo al que llamamos tiempo2 está apresado paradójicamente entre un “no es” actual y un “será” que todavía no ha llegado. Ese futuro, que es un será, está en construcción ya en el momento presente y se compone de cuantas actividades se han ido desarrollando antes y se desarrollan en la actualidad; otra cosa distinta es que esas actividades nos permitan conocerlo (en el sentido determinista del término, como una certeza incuestionable), porque la irreversibilidad de la flecha del tiempo hace que “el devenir tenga una simetría temporal rota” (IBÁÑEZ, 1990, p. 81, citando a Prigogine). Si el pensamiento determinista (la ciencia clásica) induce a definir el futuro en función de lo que ha sido el pasado y de lo que es el presente, la indeterminación del devenir de todo sistema complejo nos muestra un pasado cristalizado y un presente conocible, pero un futuro que aún no está, por lo tanto la simetría del conocimiento pasado- futuro se rompe. Si no podemos conocer o habitar materialmente en el futuro, para tener al menos un conocimiento subjetivo de los hechos, tampoco lo podemos conocer en un sentido mínimamente certero, salvo que creamos en adivinadores3, oráculos, videntes o cualesquiera otros personajes o mecanis-

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El flujo de tiempo entendido como movimiento no es sino una construcción que hacemos para dar cuenta de nuestra percepción del tiempo. El reloj (Ibáñez, 1990, p. 10) mide dos tipos de tiempo: el uno, reversible, que se aprecia porque las agujas vuelven cada 24 horas a la misma posición inicial; otro, irreversible, es el que podemos apreciar por el deterioro del reloj como materia y que le lleva a degradarse, parándose en un momento determinado. Es al primero de los tiempos marcados por el reloj al que llamamos tiempo, mientras que debería ser el segundo, irreversible, al que tendríamos que prestar atención. La combinación de ambos es nuestra percepción y construcción temporal. 3 Adivinador: proviene de ad-divinus, propio de los dioses. Oráculo: se refiere a la respuesta que dan los dioses por medio de sus ministros, sacerdotes, pitonisas, etc. Vidente: es el que tiene poderes para prever, para anticiparse en el tiempo y ver lo que va a ocurrir antes de que suceda.

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mos que están en el campo de la fe y no en el de la ciencia y la razón. Tal vez lo podríamos prever o suponer, lo cual sería sólo una manera de construcción de una realidad mediante la imaginación y el lenguaje, cosa que no tiene por qué tener ni siquiera una mínima garantía de que sea lo que acontezca, aunque ya es un instrumento de pensamiento. Esta suposición puede ser la base de un argumento que se apoye en esta creación imaginaria: “supón que mañana hace buen tiempo ¡podríamos ir a la playa!”. Estamos haciendo alusión a la construcción del futuro mediante el lenguaje o la imaginación4 y esa es una manera de hacer posible el que podamos empezar a tratar con él. Porque una cosa es trasladarse al futuro y otra tenerlo presente como brújula que guíe nuestras acciones, para construirlo: “No podemos tener la esperanza de predecir el futuro, pero podemos influir en él. En la medida en que las predicciones deterministas no son posibles, es probable que las visiones del futuro, y hasta las utopías, desempeñen un papel importante en esta construcción. Hay personas que le temen a las utopías; yo le temo más a la falta de utopía” (PRIGOGINE, 1994, p. 412).

Si no nos es permitido saltar en el tiempo hacia el futuro, lo que sí podemos es contar con que el futuro va a llegar y para eso hemos de estar preparados5. Pero no hemos de perder de vista que el tiempo con el que nos hemos de manejar tiene otra dimensión que le distingue del tiempo en el sentido de la Física; me refiero al tiempo social, ese “complejo conglomerado formado por los aspectos temporales de la realidad social” (RAMOS, 1992, p. XI). Porque hemos de tener en cuenta que los aspectos temporales de los diferentes sujetos, objetos propios de investigación y de intervención, están compuestos por diferentes elementos temporales: el tiempo de la fiesta y el de la cotidianidad, el del trabajo y el del ocio, el de la vida comunitaria o las instituciones… No todos los procesos sociales tienen los mismos tiempos y su 4

Cuando estoy corrigiendo este texto llega la noticia de la muerte de Gabriel García Márquez, quien con tanta sencillez describió el lugar real e imaginario de Macondo, donde “el mundo era tan reciente que muchas cosas carecían de nombre, y para mencionarlas había que señalarlas con el dedo”, como el hielo (GARCÍA MARQUEZ, 1967, p.7). Vaya aquí mi humilde recuerdo para el maestro Gabo. 5 Michel Godet (2007), desde la estrategia prospectiva, habla de cuatro actitudes ante esta llegada del futuro: la del avestruz (pasivo e indolente), la del bombero (reactivo), la del asegurador (pre-activo, previsor) y, por último, la del conspirador (pro-activo, constructor). Respecto de las dos últimas, que pueden llevar a confusión, diferencia la actitud de prepararse para el futuro (mediante la pre-actividad), de la de influir y construir dicho futuro (afrontar el escenario haciendo que éste sea el deseado, mediante la pro-actividad).

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sincronización deberá ser otro problema a afrontar. Pero, sin perder de vista estas dificultades, el interés que tengo en este momento es el de poder manejar la incertidumbre del tiempo por venir en cuestiones a veces mucho más prosaicas (“¿iremos mañana a la playa?”), a veces más trascendentales (“cómo deseamos que sea el barrio en el que crezcan nuestros hijos”). Para ello voy a entrar en otro de los elementos enunciados al inicio, las acciones. Para Max Weber (1993, p. 5), la acción social es: “una conducta humana siempre que el sujeto o los sujetos de la acción enlacen a ella un sentido subjetivo. La ‘acción social’, por tanto, es una acción en donde el sentido mentado por su sujeto o sujetos está referido a la conducta de otros, orientándose por ésta en su desarrollo”

En este texto el autor nos advierte del sentido que a la acción social se le adjudica en función, tanto de la causalidad, como de la apreciación subjetiva del sujeto; acción y sujeto son indisociables, porque toda acción la ejerce alguien que actúa. Para precisar esto nos puede servir la anécdota que se le adjudica a Bernard Shaw y que cita Carlos Matus (1998, p. 133): “Cuando Shaw con una herramienta arreglaba el antejardín de su casa, la vecina que iba de compras, le dice en tono de pregunta afirmativa: ¿Trabajando, Sr. Shaw?, y él le responde: “No, vecina, estoy descansando”. Al regreso de compras, la vecina observa que Shaw está ahora en su silla fumando pipa con la mirada perdida en el horizonte. Entonces, como quien ahora puede hacer una afirmación de consenso, ella le dice: ¿Descansando, Sr. Shaw?, y él le responde distraído: “No señora, trabajando”.

La objetivación por parte de la vecina de un hecho al que se le confiere un sentido social de trabajo (el esfuerzo de cavar el jardín) o de descanso (fumar, sentado, con la mirada perdida en el vacío), no son compatibles con las actividades que realiza el Sr. Shaw, para quien el meditar suponía el esfuerzo propio de su profesión y el cavar la tierra una actividad lúdica. También podríamos decir que las acciones sociales no tienen un sentido unívoco, aunque se le puede inferir un sentido socialmente compatibilizado, con el fin de poder comunicarnos e interactuar. Pero si la acción social no tiene un sentido unívoco para las personas, no hay mayor certidumbre en el concepto de objetivo deseado, el cual presenta dos tipos de dificultades: por un aparte lo que supone el ponerse de acuerdo acerca

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del sentido que le inferimos a nuestras palabras y a las que emiten otras personas que nos hablan; la segunda dificultad es la de conseguir que lo que construimos con la palabra se haga realidad cuando lleguemos al tiempo que, en el momento de hablar, consideramos futuro. Abordo la primera de ellas. Parece que hay posibilidad de acuerdo en torno a grandes conceptos, como los de bienestar, felicidad o salud, pero estos grandes significantes empiezan a tener discrepancias en cuanto se aproximan a las situaciones concretas, porque también son construcciones sociales a las que se les infieren diferentes significados por parte de los sujetos; mientras una persona puede considerar que sería feliz siendo atendida y cuidada, otra considerará alcanzado un momento de felicidad cuando pueda dejar de atender y cuidar y pueda dedicarse a sí misma. La felicidad no tiene el mismo sentido para ambas. Por eso, en el contexto de la planificación y teniendo en cuenta que se puede estar tratando de acuerdos sobre grandes objetivos, no estaría de más el ir contrastando qué sentido le adscribe cada persona o cuáles son los principales imaginarios colectivos sobre los grandes conceptos con que pensamos ese futuro deseable; porque cierto acuerdo es necesario, aunque el escenario sea borroso. Pero para ello sólo es posible compatibilizar los significados que le damos a los conceptos a que nos referimos (“me gustaría un barrio seguro”, por ejemplo), cuando nos enfrentamos a la realidad concreta y hablamos de ella en situación; recordemos la escena del Sr. Shaw. Esto puede plantear varias alternativas: que alguien con conocimientos técnicos haga un análisis de la realidad, que los implicados reflexionen colectivamente sobre qué sentido tiene lo que imaginan que es su deseo o una combinación variable de ambas opciones, por exponer algunas. En cuanto al problema de conseguir que el futuro que deseamos se haga realidad, éste no es sino el problema mismo de la planificación, el reducir al máximo las infinitas interferencias que pueden distorsionar los hechos, el reducir la incertidumbre al mínimo, para lograr que lo planificado se logre. Sin embargo aquí hemos de tratar con esa interacción de infinidad de variables, es decir, de la actuación de multitud de factores a los que podemos llamar naturales y de acciones intencionadas de actores, que van dirigiendo los acontecimientos, configurando así las situaciones que serán el futuro cuando éste se haga presente. Esto es incertidumbre en el sentido asociado a indeterminación, donde no existe por lo tanto el concepto de necesidad en las relaciones (por ejemplo en las de causa-efecto), donde no podemos fiarnos de las predicciones y de los 122

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cálculos considerados exactos ni de la continuidad estable en el tiempo de los escenarios conocidos. Esta circunstancia, que podemos considerar a primera vista como un enorme inconveniente, sin embargo es lo que nos permite y nos obliga a planificar, porque de lo contrario, sabiendo de antemano que existe la necesidad en la relación causa-efecto, todo estaría escrito fatalmente y sólo sería preciso establecer un orden en las acciones a desarrollar, que ya sabríamos que se traducirían en aquello que habíamos calculado. La planificación aporta grados de libertad, nos hace más autónomos dentro de escenarios de complejidad e interdependencia. Porque es dentro de esta complejidad donde hay que plantearse la planificación: Aquí hay un principio fundamental de complejidad que es el principio ecológico de la acción. Este principio nos dice: “la acción escapa a la voluntad del actor político para entrar en el juego de las inter-retroacciones recíprocas del conjunto de la sociedad. (…) La acción es siempre una estrategia” (MORIN, 1994, p. 432). Entra en escena un concepto indisociable al de planificación: el de estrategia. En el siguiente apartado mi intención es la de mostrar, aunque sea someramente, algunos modelos de planificación, para centrarme en aquellos elementos que los pueden hacer comparables, poniendo mi interés en uno en especial: el papel que se le adscribe al juego de los actores en el proceso de planificación, abordando de este modo la reducción de la incertidumbre que supone el actuar de los actores. Pretendo responder a la pregunta de qué actividad se les encomienda a los actores en cada modelo, cómo se delimita o determina el qué pueden o deben hacer éstos, dentro del contexto de su participación en la planificación. Pero para tratar de la participación debería antes hacer una precisión, con el fin de diferenciar algunas de las interpretaciones de este concepto. En esta aclaración tomo las palabras de Pedro Ibarra, que distingue la participación (sin adjetivar) de aquello otro que se refiere a la democracia participativa: “En la democracia participativa lo que se discute es sobre quién decide. Trata sobre la transformación del poder. Y en la participación a secas, sobre quién –y como- exige el que se tomen determinadas decisiones política. Trata sobre la presión al poder” (Ibarra, 2008, p. 87). Entre el plano de la participación y el de la construcción de democracias participativas hay un continuum que puede ir mostrando la presencia de los actores, su actuación y el modo en que se conforman a sí mismos y son construidos por la 123

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acción de otros. Esto es lo que me interesa comparar en algunos de los modelos de planificación, viendo su potencialidad para actuar de manera autónoma, como actor político.

De la Planificación Normativa a la Planificación Estratégica Antes de adentrarme en los argumentos de este apartado he de decir que el repaso por distintos modelos de planificación no supone una descripción exhaustiva de los pormenores que acompañan a éstos, sino más bien un relato de algunas particularidades, en especial lo que se refiere a la presencia y participación de los actores en cada modelo. Es de sobra conocido que cada escuela de planificación ha desarrollado a su vez numerosas aplicaciones, que merecerían tal vez la presentación de una amplia taxonomía de tipos y variantes. No es esta mi intención, sino más bien la de dejar planteadas las cualidades de algunos de los modelos más característicos, como guía para saber apreciar las diferencias de base que inspiran cada uno de ellos.

La planificación normativa La planificación normativa trata de imponerse a los acontecimientos mediante el poder de la razón6. Aunque se pueda afirmar que el ser inteligente siempre ha planificado, sin embargo hacerlo de manera sistemática, aplicado bien a la tarea de gobernar el estado moderno o la empresa (los dos escenarios que primero aplican esta forma de afrontar la incertidumbre y el futuro), se aprecia más en los momentos en que tanto uno como otra se expanden de tal manera que necesitan de instrumentos con los que guiarlos, la mano firme sobre el timón. A caballo entre los siglos XIX y XX, con un modelo de economía capitalista en expansión, que demanda planificar de manera científica, aparecen los postulados de la Teoría de la Organización Racional, de la mano de F. Taylor, H. Fayol y Max Weber. La escuela de la Organización Científica del Trabajo introduce no sólo la organización del trabajo en el taller, sino un departamento de planificación en la fábrica, orientado todo ello hacia un modelo de crecimiento económico: “estamos en la época de los trust y los monopolios”, afirma Taylor en una de sus obras. Weber, desde la teoría de la 6 Tengamos presente, como advertía Pascal, que tan descabellado es excluir la razón, como incluir sólo la razón

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acción social, también plantea “el desarrollo de la gestión económica racional” y las normas que considera que han de regir dicha economía racional, todas ellas orientadas “con arreglo a plan” (WEBER, 1993, p. 52). El poder de la razón es, para la planificación normativa, claramente positivista, sujetándola al determinismo tanto de lo que es la realidad como de lo que acontecerá en el futuro, como fruto de las acciones del plan. Es por este motivo por el que el diagnóstico es el elemento central, que aleja cualquier vestigio de incertidumbre, porque precisa todo aquello que hay que saber sobre la realidad. Esto supone que el actor principal de este paradigma sea el técnico, que obtiene aquellos elementos que definen “lo que es” la realidad mediante sus potentes dispositivos tecnológicos. La certeza en el diagnóstico permite entonces afirmar sin lugar a dudas lo que acontecerá si se aplican ciertas acciones, o también vale decir que puede determinar el acontecer por medio de su acción; el trayecto entre el presente y el futuro deseable, que deberá ser, se recorrerá mediante el plan a realizar. Tenemos pues los dos extremos del camino fijados, primero lo que es, diagnosticado por el modelo analítico del problema, y posteriormente lo que deberá ser, determinado por el modelo normativo del plan. El planificador tiene el poder7 (entendido éste como la posibilidad de conseguir que acontezcan determinadas cosas) de que los actores actúen de una determinada manera; su construcción de la realidad es la única previsible dentro del escenario definido en el diagnóstico. De este modelo ha quedado fuera de juego tanto los sujetos diversos como los obstáculos que derivan de la acción de éstos, no existen opositores al plan o al menos las acciones de éstos son controlables y no interfieren en los objetivos prefijados. Con estas premisas se entiende que el documento, meticulosamente detallado, que contiene el modelo normativo de realización del plan, junto con la organización técnica que lo llevará a cabo, sean los dos elementos fundamentales. Es decir, plan rígido y estructura jerárquica de organización. Perfectamente adaptado al concepto asimismo jerárquico y rígido del estado y la empresa. Pero este modelo es más apropiado para momentos en los que las organizaciones son capaces 7

No se debe olvidar que el poder, precisamente porque se construye y expresa en un espacio social con actores, hemos de considerar que es de carácter relacional, como lo define Manuel Castells (2009, p. 33): “El poder es la capacidad relacional que permite a un actor social influir de forma asimétrica en la decisión de otros actores sociales de modo que se favorezca la voluntad, los intereses y los valores del actor que tiene el poder”. Recordemos este mismo enfoque relacional del poder en Foucault.

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de reducir la incertidumbre mediante su poder para constreñir la realidad. En resumen, la planificación normativa tiene un problema inicial, del que derivan otros varios: ignora a los diversos actores en juego o predice sus comportamientos; ignora que, como afirma Carlos Matus (2007, p. 280): “la acción no es algo producido, sino alguien que la produce”. A partir de este sesgo también se ignora que hay posibilidades de variación de la realidad, fruto de la acción de los actores, es determinista en el fruto de la acción, sujetándola al poder de una ciencia positivista y tecnocrática. Hay un actor central, el planificador, generalmente externo al contexto problemático a planificar, y un actor secundario, carente de iniciativa y creatividad, que ejecuta el plan. Podríamos decir que se construye un conjunto de acción8 tecno-político.

La planificación estratégica La planificación normativa se aplicó hasta bien entrado el Siglo XX, pero las turbulencias sociales de todo tipo, de mediados de la centuria, hicieron que se optase por otro paradigma para superar la principal de sus contradicciones: siempre que se planifica se ha de contemplar diversos actores en liza, de lo contrario se estará intentando constreñir la realidad al plan, en vez de adaptar el plan a la realidad y esto rige para la estructura de la organización que planifica y para el mismo plan. A este nuevo enfoque se le denomina Planificación Estratégica, aparecido hacia finales de los pasados años 60 e inicialmente aplicado en el ámbito empresarial para enfrentarse a entornos cada vez más difusos y turbulentos. Su principal referencia es la Escuela de Negocios de Harvard (Alfred Chandler, Igor Ansoff ), en la que se desarrolla una herramienta de diagnóstico hoy día muy popularizada que, tanto en sus versiones más sofisticadas como en las más sencillas, se viene empleando como sinónimo de planificación, la Matriz FODA (DAFO o SWOT, en su acróstico en inglés). La Planificación Estratégica se puede definir como “el modo sistemático de gestionar el cambio en la empresa con el propósito de competir ventajosamente en el mercado, adaptarse al entorno, redefinir los productos y maximizar los beneficios” (FERNÁNDEZ GÜELL, 2000, p. 25). Los conceptos de 8

Los conjuntos de acción son aquellas estructuras que muestran las redes sociales y que no son ni la red completa ni las más elementales formas de emparejamiento; son las agrupaciones de diferentes actores en función de un propósito común, de una confianza y una estrategia de poder; son los cuasi-grupos o las coaliciones que se forman dentro de una red extensa y que dan cuenta de distintas formas y estilos de apreciar y posicionarse en la situación problemática. (vid. MARTÍN G., 2010, p. 150; MARTÍN G. & VILLASANTE, 2007)

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competencia, por lo tanto el reconocimiento de otros actores (competidores, clientes, proveedores…), y flexibilidad adaptativa al entorno (lleno de incertidumbre y sorpresas, complejo), son las dos innovaciones más importantes que llegan con este modelo; desde él se desarrollan versiones adaptadas a distintos ámbitos de los negocios, como la Administración Estratégica (ANSOFF), la Gestión Estratégica o el Marketing Estratégico. Sin embargo, como suele suceder, los modelos no rompen de manera rotunda con el paradigma sustituido, sino que son procesos paulatinos de cambio que conservan también algunas de las características del anterior. Vamos a ver algunas de estas rémoras. El plan estratégico empresarial se considera un producto que se elabora por los altos dirigente y ejecutivos de la corporación, en un proceso metodológico que podemos sintetizar en las siguientes fases: 1) análisis externo e interno; 2) elaboración de la visión y misión con la consecuente definición de estrategias (responde a las preguntas de cuál es nuestro negocio y qué debería ser); 3) definición de la estrategias dentro de varias alternativas; 4) modelo de implantación (acciones y medidas a desarrollar); y 5) revisión estratégica (si es coherente y por qué se debería revisar el plan). El primer punto supone el equivalente a un diagnóstico, tanto interno como del entorno del negocio, un análisis descriptivo. En la segunda y sucesivas fases se ha de definir lo que se considera que es el horizonte de futuro deseado para la organización y por consiguiente cómo se pretende llegar a hacer posible éste, por lo que se ha de trazar un primer esquema de la estrategia a desarrollar. Sin embargo la estrategia es una elección dentro de varios escenarios estratégicos y la toma de decisiones para esta elección es un indicador de cómo se considera que es la realidad. Se suele decir que detrás de cada instrumento tecnológico hay una matriz epistémica y en este caso hay que contemplar la tecnología al uso para descubrir cómo se identifican los escenarios más propicios; veamos la imagen de la Figura 1. La técnica del árbol de decisión es una de las empleadas para plantear escenarios, reducir la incertidumbre y asegurarse así que la decisión es la más acertada. Para la reducción de la incertidumbre se recurre a acotar posibilidades de futuro y la asignación de probabilidades de que dichas posibilidades acontezcan; el establecer un modelo probabilístico reduce la incertidumbre en cuanto que la mide, para lo que recurre a métodos estadísticos, expertos o analíticos. Sin embargo estamos de nuevo ante un enfoque determinista, al que podríamos calificar de blando en el sentido de que no adscribe la certeza o necesidad en la relación causa127

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efecto, pero sí que limita los acontecimientos por las posibilidades y la elección a la mejor de las probabilidades. De nuevo la definición y la elección de la mejor de las opciones es de carácter técnico. Gráfico 1. Árbol de Decisión

La planificación estratégica más abierta y sistémica se sitúa en un modelo de incertidumbre en el que sabe que no puede conocer el futuro y apenas si puede definir algunas posibilidades; la más reducida y determinista acota las posibilidades y cierra la predicción con probabilidades, que dan al planificador la tranquilidad de poder elegir con menos presión, sabiendo que su decisión está avalada por la ciencia que emana del diagnóstico de las situaciones alternativas o de la decisión probabilística.

El Enfoque del Marco Lógico (EML): una metodología específica de planificación en la cooperación técnica Si estamos acostumbrados al manejo de los métodos emanados de la actividad de las empresas, no lo es menos cuando nos manejamos con méto128

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dos que vienen de la burocracia de las administraciones estatales. Voy a abordar el modelo del Enfoque del Marco Lógico (EML), pero sólo voy a entrar a tratar el cómo se plantea la participación y la relación entre actores, por entender que es de sobra conocido. En la metodología del EML se precisa en la primera de las etapas (Identificación) el análisis de la participación y, dentro de ésta, la identificación de actores. El análisis de la participación supone “establecer el «quién es quién» dentro de una realidad determinada (…) Tan importante, o más, es determinar, dentro de los grupos identificados, el que debe acabar convirtiéndose en los beneficiarios directos del futuro proyecto de desarrollo (…) Evidentemente la determinación de los presuntos beneficiarios es una determinación de tipo político, más que técnico” (CAMACHO, CÁMARA, CASCANTE & SAINZ: 2001, p. 27).

A estos actores se les clasifica según categorías de pertenencia: beneficiarios directos (target group), beneficiarios indirectos, neutrales/excluidos y perjudicados/ potenciales oponentes. Estas categorías se obtienen del cruce de dos ejes, los de importancia e influencia, como se puede apreciar en el Gráfico 2. Gráfico 2: Análisis de Implicados en el EML

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En realidad, a la vista de esta clasificación, en el proyecto se trabajará con los actores del semicírculo superior (los importantes) pero manteniendo a la vista a los del semicírculo inferior (sobre todo a los más influyentes), aunque a estos últimos no se les considera propiamente actores del proyecto, ya que no se incluyen sus acciones como elementos que influyan en el mismo, no apareciendo en la Matriz de Planificación ni en una posterior toma de decisiones. Este análisis supone un cierre de la situación a favor del planificador, es decir, un control sobre la incertidumbre, de manera que en la realidad así concebida no le suponga ningún problema la presencia activa (dinámica) de otros actores en juego, ni tampoco sus acciones. La consideración de que los potenciales perjudicados no actúen para defender sus expectativas, que los beneficiarios o potenciales beneficiarios no lo sean tales, por tener otro tipo de visión de la realidad, o el que los actores neutrales o excluidos no estén dispuestos a serlo y se sientan aludidos por el problema a tratar, es un determinismo a la hora de contemplar la situación, así como un enfoque simple en la medida que no considera la complejidad del juego social 9 de los actores (MATUS, 2007) ni del principio ecológico de la acción 10 (MORIN, 1994, p. 438). Esta falta de presencia dinámica de los actores y de la acción nos sitúa también en un escenario en el que el conflicto apenas si es enunciado y desde luego no molesta.

La Prospectiva Estratégica Si la planificación estratégica supone, en su principio, un recurso válido para la adaptación empresarial a un medio incierto y turbulento, que ya no es posible conformar cuando las situaciones son de gran imprevisibilidad, en la última década del pasado siglo la acción estratégica precisa de modelos que le 9

Para Matus (2007) “El juego social es indeterminístico, es abierto a la creación de posibilidades por parte del actor en situación de condicionamiento por el otro”; o lo que es igual “…por la incerteza de mi acción a partir de la incerteza del otro, y de la incerteza de su acción a partir de mi acción”, la mutua interdependencia de los actores en presencia, más allá de lo que el planificador considere que es el deber ser de la acción del otro. Este planteamiento es bien diferente del “Análisis de implicados” o “Stakeholder analysis”, que suponen una visión estática del análisis estratégico de actores. 10 Como señala Morin, en un enfoque complejo de la realidad se ha de tener en cuenta uno de sus principios fundamentales, el principio ecológico de la acción: “la acción escapa a la voluntad del actor político para entrar en el juego de las inter-retroacciones, retroacciones recíprocas del conjunto de la sociedad” (Morin, 1998)

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permitan anticiparse y por ende construir mejores oportunidades para los negocios que sus competidores. El propósito principal es el de construir escenarios11 en los que se puedan situar los objetivos de quien planifica. Uno de los primeros intentos de aplicación de la prospectiva por una gran empresa fue el estudio de la Royal Shell sobre el escenario de futuro en la industria petrolera; discurría el agitado año 1968 y este enfoque le permitió preparar planes de contingencia con los que afrontó la primera crisis del petróleo de 1973. En este modelo aparece la estrategia ligada al concepto de prospectiva: “anticipación para esclarecer la acción. Esta «indisciplina intelectual» (Pierre Massé) tiene que ver con «ver de lejos, largo y profundo» (Gaston Berger), pero también con innovación y apropiación. La visión global, voluntaria y a largo plazo, se impone para dar sentido a la acción” (GODET, 2007, p. 10). La visión a largo plazo, la anticipación preactiva y proactiva como una reducción de la incertidumbre del tiempo por llegar. Si esto fuera efectivamente posible se contaría con una herramienta poderosísima en un escenario de conflicto, con la que tal vez soñara el estratega Sun Tzu hace dos mil doscientos años; pero veamos algunas de sus características. Para Michel Godet12 (2007) la planificación, en el sentido que le daban los planificadores estratégicos (“concebir un futuro deseado, así como los medios necesarios para alcanzarlo”, Achoff, 1973, p.4), podría ser válida y similar a la de prospectiva, “donde el sueño fecunda la realidad, donde el deseo y la 11 El escenario, en este caso, es la combinación calculada de acontecimientos y variables, por lo que no es un concepto estático, una fotografía de la realidad, sino un proceso en el que se producen bifurcaciones y saltos para llegar a otro estadio sobre todo cuando se manejan varios escenarios vinculados. Las variables más influyentes, entre las que se encuentra las jugadas de los respectivos actores, serán las que hagan que se produzcan unas bifurcaciones u otras. Esto es lo que intenta diseñar la prospectiva. Considero que hay diferencias entre el concepto de escenario, que emplea este autor, del de situación, que emplea Carlos Matus; el primero es una construcción calculada y verosímil de la realidad, podríamos decir que es un modelo de la realidad para poder trabajar sobre una base. En el concepto de Matus, la apreciación situacional (o explicación situacional), considero que es una muestra de las percepciones de los propios actores-planificadores intervinientes, con la que han de contar para sus propuestas, por lo tanto no es una construcción externa, calculada y posible, es una comprensión dinámica sobre el terreno y reflexiva: “es encontrarse comprendiendo y comprender encontrándose… es la forma de conocer del hombre de acción” (MATUS, 2007, p. 170). 12 Podemos considerar a Michel Godet como uno de los iniciadores de esta escuela, en Francia, en los pasados años 60, cuyo enfoque humanista (ya que son los seres sociales y sus interacciones quienes configuran el futuro) se diferencia del anglosajón, sobre todo porque éste confía en que se pueden construir los escenarios de futuro indagando sobre la influencia de la tecnología en los procesos de cambio.

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intencionalidad es fuente productora de futuro, donde la anticipación ilumina la preactividad y la proactividad” (GODET, 2007, p. 8), porque “contemplando el futuro se transforma el presente”, o bien, en palabras de Jesús Ibáñez, “el individuo se adelanta a los cambios del medio (…) Una onda avanzada determina el pasado desde el futuro” (IBÁÑEZ, 1990, p. 43). Esta acción supone, como continuación, una reflexión sobre lo logrado, por lo que acción y reflexión van emparejadas. Pero aún hay otra diferencia con los modelos anteriores: aparece la intención (ya veremos con qué grado de profundidad y construcción de poderes) de incorporar a cuantos más actores posibles en la definición de los escenarios de futuro. Digo que este es un cambio sustantivo porque se reconoce lo que antes señalaba respecto de la interdependencia de los actores y la resultante de sus inter-retroacciones. Junto con las acciones y los actores se han de tener en cuenta los escenarios de futuro donde se ubican, para plantear la estrategia más potente posible. Ante este reto la prospectiva estratégica no cambia demasiado respecto de los anteriores modelos de planificación estratégica, ya que se sitúa en escenarios donde el futuro ha de abordarse mediante el cálculo y la reducción al máximo de la incertidumbre, con posibilidades y probabilidades limitadas, porque considera que, entre los futuros posibles, sólo hay unos pocos que en el momento actual pueden tener suficientes probabilidades de acontecer. Para asegurarse aún más el grado de éxito se decantan por la flexibilidad de las apuestas y la reversibilidad de las acciones arriesgadas, con el propósito de que se puedan afrontar las consecuencias de estas decisiones con la mayor capacidad de maniobra posible. Para cubrir el 80% de probabilidades se requieren unas pocas posibilidades, el resto se descartará para que la toma de decisiones sea lo más concreta y no haya dispersión de recursos y de estrategias; se suele considerar que las opciones descartadas son las menos probables, pero no es descabellado pensar que también se descarten las que provoquen más ruido en el sistema, las que parezcan más arriesgadas aunque sean razonablemente plausibles y las más difíciles de manejar por ser más novedosas o estar fuera de las modas y corrientes dominantes. ¿Quién ha de tomar las decisiones? Decía unas líneas atrás que se trataba de incorporar a la mayor cantidad posible de actores, pero esto es de nuevo una medida instrumental y limitada, porque se distingue entre construir la información y tomar las decisiones de acción; la información se pretende que 132

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sea elaborada con la mayor diversidad posible, sin embargo no es toda esa variedad de actores la que toma las decisiones, sino que es una cúpula selecta de miembros de la dirección de la empresa la que decide qué se pondrá en marcha; la apertura democratizadora (táctica) del diagnóstico prospectivo se cierra (estratégicamente) en el momento cumbre de la decisión operativa “debido a razones de estricta confidencialidad y de responsabilidad” (GODET, 2007, p. 11). No hemos de olvidar que estamos en el mundo de la empresa, por lo tanto no es un espacio necesariamente democrático de toma de decisiones, pero sí un escenario de confrontación y competencia, como en un juego de suma cero, y no en un escenario conflictivo y de cooperación para construir un mejor vivir colectivo. Tampoco hemos de olvidar que el uso en la planificación de dispositivos discursivos conversacionales y grupales (reuniones, grupos de discusión, talleres cooperativos, etc.) no ha de confundirse con la planificación participativa, porque mediante el uso de estos dispositivos de carácter tecnológico se puede dar una relación desigual sujeto-objeto, una separación entre planificadores y planificados; dispositivos participativos y participación no han de tomarse como sinónimos.

Crítica a los Modelos de Planificación Planteados Una vez que se han mostrado los modelos de planificación voy a cruzar estos modelos para ver cómo afrontan los retos que están planteados desde el inicio del texto y cualquier planificador mínimamente crítico traducirá en preguntas: el abordaje de la incertidumbre, la conformación de los sujetos en interacción, la construcción de los sistemas de relaciones entre actores y el control que sobre dichos sistemas de relaciones establece el planificador, como un sujeto más en presencia y no forzosamente el más influyente. Del tratamiento que se haga de la presencia, de la construcción de los actores en situación, derivará la complejidad del proceso, el grado de incertidumbre con el que habrá que bregar y emanará el tipo y profundidad de la participación en el proceso.

Acerca de los (in)determinismos Ha sido intencionada la inclusión entre los modelos comparados de los denominados de prospectiva estratégica, porque éstos ya apuntan hacia la superación de algunas de las limitaciones de los más clásicos. El interés estriba 133

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en que se aprecia un cambio de paradigma en cuanto que abordan la prospectiva; hay una desvinculación del pensamiento simple. Algunos de los autores de estos modelos, como Michel Godet o Jacques Arcade apelan a autores que entran en el campo de la complejidad, en concreto a Ilia Prigogine y René Thom, bien conocidos por sus aportaciones sobre las estructuras disipativas y la teoría de las catástrofes, respectivamente. El desviar la mirada hacia los conceptos de caos, bifurcaciones y catástrofes, se encuentran con que los escenarios de futuro no se pueden concretar de manera tan determinista, ni aunque se trabaje sobre varios de ellos, porque son demasiados los elementos de incertidumbre que acechan, son demasiados los que se ignoran y los factores de ruido que se eliminan cuando se acotan las variables más influyentes, las supuestas conductas de los actores (coherentes, racionales) o las relaciones previsibles entre unos actores y otros a los que se encasilla en unas categorías cerradas. Son estas dudas las que merece la pena considerar cuando afirman: “los sistemas algunas veces parecen ser caóticos, los acores enfrentan estrategias en movimiento y los escenarios a menudo encuentran bifurcaciones”; …y continúan: “Christopher Zeeman, matemático inglés, abrió el camino a la elaboración de informes que describieron, durante los setenta, ‘modelos catastróficos’ aplicados a la economía, la política y la sociología. Si consideramos a los escenarios como una combinación de eventos y variables, la teoría de la catástrofe, con sus factores de control y ejes de comportamiento, presenta analogías gráficas para expresar los saltos (catástrofes) de una imagen a otra, de una solución continua y estable a otra” (ARCADE et al., 2004, p. 227)

Los autores citados señalan elementos clave para criticar como deterministas los métodos de trabajo de la prospectiva (y por añadidura de otros modelos de planificación). En este mismo sentido voy a encuadrar los modelos mostrados hasta ahora en relación con la presencia y el movimiento de las estrategias de los actores, es decir la acción de los actores y la ruptura (discontinuidad) de unos escenarios a otros y de unas conductas a otras. Voy a plantear algunos elementos de reflexión que pueden ayudar en esta crítica, el primero es el de los diferentes modelos de (in)determinismo que hace Carlos Matus (2007, p. 146 y ss.) y que refleja los modelos de manera bastante similar a la que he mostrado hasta aquí.

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Gráfico 3: Modelos de (in)Determinismos

En el cuadro podemos contemplar que sólo el primero de los modelos permite una identificación exacta del futuro, porque éste es consecuencia directa del pasado, se rige por leyes determinísticas y es muy controlable, por lo que no existe incertidumbre alguna; en este modelo de control encaja la planificación normativa. En el segundo, también se actúa mediante problemas bien estructurados, hay posibilidades y probabilidades para fijar los acontecimientos que son conocidas y medibles y en nuestra elección sólo tenemos que optar por la más favorable de ellas. Estos dos modelos, apropiados para problemas bien estructurados, suponen un determinismo fuerte sobre el tiempo venidero. Sin embargo en el tercer modelo sólo conocemos algunas de las posibilidades de bifurcación de la situación, pero no podemos medir las probabilidades de que acontezca cada una de ellas, por lo tanto hemos de enfrentarnos a problemas semi estructurados, con un grado considerable de incerteza en el futuro. En este otro patrón encajarían algunos tipos de planificación estratégica y del EML, tal vez los más elaborados, así como la prospectiva estratégica que sólo se atiene a escenarios cerrados. Por último, el

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cuarto modelo es el que nos plantea la mayor incertidumbre, porque no conocemos cómo se va a plantear la situación de futuro, pese a conocer el diagnóstico presente y del pasado, tampoco conocemos los actores intervinientes, sus posibles jugadas o a qué tipo de reglas se van a tener para presentarlas; en suma, estamos ante la incertidumbre más dura. Si en los dos primeros modelos la toma de decisiones es posible hacerla atendiendo sólo a argumentos técnicos (es fruto de la más elemental racionalidad), sin embargo en los dos últimos hemos de tomar en consideración el sentido de la apuesta y este término no ha de tomarse como en un juego de casino. El concepto de apuesta está ligado a la toma de decisiones tecno-políticas, añadiendo incluso a otros actores imprescindibles en la construcción de democracias participativas y que suelen ser olvidados, diría que la decisión ha de ser tecno-políticaciudadana. El problema que se abre a continuación es el de cómo plantear esas apuestas con el mayor grado de conocimiento y responsabilidad, intentando reducir todo lo posible la incertidumbre o preparándonos para afrontar las consecuencias de nuestras acciones de construcción del futuro. Según propone Matus (2007, p. 104) tendríamos distintos recursos: la aportación de mayor información a las decisiones, la diversificación de apuestas (con planes, diferentes escenarios y trayectorias, riesgos diversificados, etc.), la elaboración de planes de protección (manejo de crisis, análisis de confiabilidad…), planes de contingencia y la intervención constante en los planes de futuro, con la mayor agilidad de reacción ante las sorpresas y el aprendizaje de éstas. En estos recursos tenemos, tanto los que emplearía el planificador reactivo (el modelo bombero, que maneja la crisis), como el preactivo (que diversifica los escenarios o los riesgos) y el proactivo (que monitoriza la marcha de la acción e interviene en los planes, aprendiendo de las sorpresas que se le presentan).

Los modelos de planificación y el tratamiento de la complejidad Si consideramos que los escenarios desde los que se suele planificar responden a los dos primeros modelos y, sin embargo, las sorpresas y el mayor grado de incertidumbre están en los dos últimos, tenemos un reto sin abordar por los planificadores; lo hemos visto en los modelos normativo, estratégico y en el EML. Pero si además contamos con que los dos primeros escenarios responden a cálculos e intervenciones de tipo más técnico (como actor único)

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que situacional y que el juego social (de interacciones entre actores mutuamente condicionados) discurre sobre todo en los modelos de mayor incertidumbre, bien de tipo cuantitativo o bien de incertidumbre dura, las acciones se escapan al control de quien las realiza (el principio complejo de la ecología de la acción), como hemos visto en la prospectiva estratégica; ante este panorama la participación, es decir, el reconocimiento del otro para tomar decisiones con tanta legitimidad como uno mismo, es sumamente limitada en los dos primeros escenarios. Dicho de otro modo: la construcción de democracias participativas supone plantearse la presencia de los más diversos actores e incrementar incluso la incertidumbre del campo de juego. A mayor participación mayor incertidumbre para la planificación técnica y el incremento de control sobre las situaciones será siempre a costa de la reducción de la pluralidad de actores en liza y de la influencia de sus acciones, de la participación. Considerando estas premisas sobre incertidumbre y determinismo, el modelo que más empeño pone en construir una realidad de carácter lineal, regida por leyes que definan el acontecer futuro y sean controlables, es la planificación normativa, la más remota en el tiempo, que confía en el diagnóstico hasta tal punto que lo asimila al concepto de verdad o de realidad y parte de esa base para su posterior fijación de planes. Pero ya antes decía que ningún paradigma se cambia sin dejar rastros a sus espaldas, sin dejar la impronta en el que le sucede, por eso mismo los posteriores modelos superan algunas de sus debilidades pero arrastran otras. Si en este modelo los problemas se construyen de manera bien estructurada, en los que se conocen las variables que los definen, sus interacciones y los resultados de éstas, no se desborda esta limitación de manera contundente en los sucesivos modelos. Con la planificación estratégica se produce un salto importante al considerar que es inevitable el introducir en el análisis de la realidad a nuevos actores intervinientes y ampliar sus posibilidades de actuación. Sin embargo esta apertura se controla para no dejarse desbordar por la presencia y las múltiples interacciones de aquéllos; se recurre a un modelo probabilístico (modelo estocástico, de tipo II), mediante el árbol de decisión, en el que se controla el resultado de las actuaciones de los actores, cuantificando las posibilidades (bifurcaciones) y las probabilidades del acontecimiento en cada una de ellas. Cuando se aplica el modelo de una manera más flexible, dudando de que se puedan acotar todas las posibilidades y no se llegue a calcular las probabilidades de cada escenario definido, se optaría por un determinismo más blando 137

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(modelo III, de incertidumbre cuantitativa), que podemos ver aplicado en algunos de los planes estratégicos de ciudad13, por ejemplo, o para el caso de organizaciones sociales. Aunque en este caso el diagnóstico ya no es tan estrictamente objetivo, sino que es de carácter situacional y en él aparecen algunas de las pretensiones e intereses de los actores considerados, sin embargo está limitado por el reconocimiento escaso de aquellos interesados, que en términos cuantitativos son la mayor parte de la población afectada por los planes. Podríamos decir que, en los términos acuñados por Carlos Matus (2007, pp. 146-163), la planificación estratégica y, sobre todo, la prospectiva estratégica, están empezando a lidiar con un cálculo interactivo cuasi estructurado, abriéndose así a preguntas de mayor complejidad.

La conformación de los sujetos-actores en la participación La segunda de las pretensiones que enunciaba al comienzo es la de contemplar los diferentes planteamientos acerca del sujeto múltiple y colectivo de la planificación en los distintos modelos, base de las posibilidades de la participación de éstos. Ya he señalado cómo en la planificación normativa los actores principales están en el entorno del promotor (gestores y administradores), junto a los planificadores (técnicos), formando prácticamente el único conjunto de acción e imposibilitando la participación del resto. El resto de actores son objetivados, considerados como objetos dentro de la realidad que se diagnostica, con unas intenciones, comportamientos y objetivos previsibles y controlables. Este planteamiento excluye el conflicto, construye una realidad donde toda 13

Se recurre a acotar los escenarios mediante la definición del tipo de desarrollo que se ha de provocar con el Plan Estratégico de Ciudad. Borja & Castells (1997, pp. 144-150) muestran los planes estratégicos de ciudades europeas, en las que se señala el acierto de la apuesta por los cambios en las infraestructuras (Birmingham, Ámsterdam, Lyon), o los grandes eventos transformadores de la fisonomía urbana (Barcelona, Lisboa, Glasgow, Manchester), a los que se suma el liderazgo de las alcaldías y agentes privados muy influyentes. En Latinoamérica se señalan otros casos, aunque con circunstancias bien diferentes, en Colombia (Bogotá, Medellín, Cartagena), Perú (Lima), Brasil (Río, Porto Alegre, Salvador) o Chile (Santiago o Concepción), por señalar sólo algunos. Otro autor, Fernández Güell (2000, p. 111) concreta también cómo, al planificar, han de quedar detallados los modelos de desarrollo físico, económico y social de la ciudad-escenario, recurriendo, por ejemplo, al modelo de la Pirámide de Maslow para la satisfacción de necesidades de la población; modelo jerarquizado y funcional donde los haya, que remite a un esquema muy individualizado de intervención en la atención a las necesidades, ya superado en algunos ámbitos y muy querido por los defensores del actual modelo de sociedad consumista.

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confrontación está omitida o controlada por el ejercicio del poder dominante, por lo que no hay posibilidades de que los diferentes actores con intereses enfrentados puedan desplegar sus estrategias; el único actor o conjunto de acción ejerce su influencia y condiciona al resto de actores y no toma en consideración otras posibles interacciones o retroalimentaciones. Cuando la planificación normativa da paso a la planificación estratégica aparece una relación algo más clara de los sujetos, porque al menos se visibilizan e incorporan en algunas de las fases del proceso planificador, en el análisis de actores, en el análisis interno y del entorno. Sin embargo la relación que se establece no varía sustancialmente respecto de la planificación normativa, ya que se sigue estableciendo el control del proceso (también del acceso o exclusión como actor) por parte del conjunto de acción que planifica. Sí aparecen relaciones ente actores, pero no se contemplan de manera dinámica y en proceso, (con los actores interactuando y condicionándose en sus acciones) ni reflexiva (incluyéndose el propio actor que planifica dentro del sistema de relaciones), por lo que no hay un gran cambio en cuanto a la incorporación de elementos complejos. En resumen, el conjunto de acción dominante (y con frecuencia el único) en el mundo de la empresa, es el técnico/empresarial, con exclusión del resto; la mayoría, los trabajadores y consumidores son remitidos a posiciones secundarias, siendo estos últimos sobre todo los que mejor encarnan el papel de participantes - informantes sin derecho a tomar decisiones, salvo como se suele repetir desde el discurso del consumo, “votando con su dinero”, en el acto de compra. Toda esta reducción de la participación es a costa del incremento del control por los actores con más poder y de la exclusión de los actores con menor capacidad de influencia. Es decir, del dominio de una planificación autoritaria sobre la construcción de democracia participativa. La aplicación de este modelo de planificación en entidades sociales y ONG coincide con la necesidad de dotarse de recursos gerenciales, constituirse como organizaciones mejor preparadas para afrontar nuevos retos y actuar en el campo de la cooperación, la intervención social o la asunción de las áreas de atención que el estado de bienestar en los países más industrializados va externalizando y privatiza y, por ende, convierte en áreas de negocio. Consultoras, empresas proveedoras de servicios y un sector de las entidades sociales comienzan a compartir, no sólo el lenguaje y las técnicas, sino las actuaciones y el pensamiento. El modo de gestión, el marketing, y la planificación son 139

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similares en unas y otras, con la confusión de principios y las contradicciones que afloran. La extensión e intensidad con que se emplea el EML hace de esta metodología un caso singular donde apreciar mejor algunos de los elementos que vengo analizando. El esquema de conjunto de acción que se desarrolla mediante este modelo es más parecido a una alianza entre técnicos, gestores políticos y algunos actores territorializados, con la particularidad de que entre los dos primeros hay una continuidad más estable que con los terceros, cuya presencia es meramente táctica, puesto que son identificados, clasificados y relacionados por los técnicos sólo mientras dura la intervención sobre el problema definido; pasado este momento la relación no ha de mantenerse y no hay tampoco una intención expresa en el modelo de articular o reforzar horizontalmente las relaciones entre los actores locales, sino que las relaciones dependen de la centralidad de los actores principales, como suelen ser las agencias técnicas de cooperación de los países financiadores y los equipos técnicos sobre el terreno. Podríamos pensar en un modelo de red centralizada (un actor líder), no desconcentrada (múltiples centralidades y liderazgos) ni descentralizada (no hay unos actores que asuman claramente el liderazgo o hay una movilidad de liderazgos), con unos actores centrales que no son los que preexisten en el lugar o los que puedan articular la sostenibilidad de posteriores acciones. La red que aparece está conformada por el proyecto de intervención y los actores foráneos, generalmente las agencias técnicas de cooperación extranjeras. Desde el análisis de este modelo de red y del poder que ejercen los actores con mayor capacidad de influencia, podemos explicar por qué se ha constatado la existencia de una tasa de retorno en los proyectos de cooperación, por qué son controlables los recursos por el conjunto de acción tecno-gestionista y no por conjuntos de actores sobre el terreno, retornando una parte considerable de recursos al país donante, en detrimento del receptor y sus propios procesos emancipatorios. En el EML hay otro elemento ausente en el análisis de la participación, puesto que los planificadores no se contemplan a sí mismos en la relación de actores, es decir, no hay una posición reflexiva en la consideración del mapa de “con quiénes queremos trabajar”, como si los propios planificadores no interfiriesen y modificasen con su presencia y actuación la situación descrita. Su falta de auto-representación, de reflexividad, es más una actitud deudora de un enfoque positivista que de uno complejo. 140

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La presencia de los actores: una propuesta reflexiva para la construcción de estrategias de conjuntos de acción en/con las redes En anteriores apartados he presentado los esquemas de identificación de actores en algunos modelos; el análisis comparativo nos va a posibilitar poner de manifiesto algunas limitaciones de estas estrategias metodológicas y una propuesta de superación. Si vemos el modelo del EML, las variables que sirven de referencia para la identificación de actores son la influencia y la importancia, es decir, el grado de poder que pueden ejercer sobre la situación problemática y sobre otros actores y la inclusión o no en el target del proyecto. Por este motivo a los actores que quedan fuera de la población objetivo los divide entre quienes pueden verse afectados negativamente, pudiendo interferir con sus acciones en forma de ruido, y aquellos otros a los que podríamos decir que no les interesa lo que está ocurriendo y que por lo tanto se van a mantener al margen, indiferentes. A pesar de estas actitudes que aparecen en el diagnóstico del proyecto no se muestra ningún elemento dinámico en el que aparezcan las jugadas de los actores presentes, ninguna referencia a cómo los actores pueden cambiar de opinión (y de actitud) a la vista del impacto del proyecto, cambiando por tanto de posición en el sistema de relaciones o incluso optando por la ambigüedad y tomando varias posiciones. En el esquema, aunque subyace un análisis de las relaciones entre actores (por ejemplo en los campos de conflicto) es estático y sólo reproduce una especie de fotografía de la realidad, dado que no aparece de manera explícita el concepto de relación y la posibilidad de desbloquear la estaticidad del diagnóstico inicial de actores. Con respecto a la participación de los actores en el modelo de prospectiva estratégica se considera de nuevo que participar es asistir a las convocatorias para actuar como informantes y prestar al proceso la información solicitada, pero sin tener otras posibilidades de intervenir en la toma política de decisiones. Si en este modelo se acepta como limitante del proceso la calidad de la participación de los actores, es por la necesidad de contar con la mayor y mejor de las informaciones para el funcionamiento de los dispositivos técnicos, no por la profundización democrática requerida como elemento de carácter epistémico y político, que no está dentro de sus propósitos. Por este mismo motivo no está construido el método como una estrategia de articulación cooperativa y conflictiva de redes, de conjuntos de acción, sino como una respuesta a un escenario de competencia y disputa de los escasos

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recursos existentes. En otros textos he aportado mi colaboración14 a la construcción colectiva de un modelo de planificación, en el que la presencia de los actores sea políticamente sustantiva y no meramente testimonial, en los primeros peldaños meramente informativos de una escalera de la participación. En este modelo, basado en el análisis de redes sociales, se introduce con toda su complejidad (no exenta de indefinición) el concepto de relación, sinónimo de vínculo y sustento de intercambios. A continuación voy a esbozar un breve esquema de la estrategia de articulación de redes y conjuntos de acción en un proceso participativo de planificación estratégica situacional15. El instrumento tecnológico empleado para dicho propósito es el sociograma o mapa de actores y conjuntos de acción (Gráfico 4), propio del análisis de redes y que proporciona una mirada estratégica, tal como los cuadros anteriores, pero en el que se muestran explícitamente las relaciones que mantienen. Gráfico 4: Modelo de Sociograma de Conjuntos de Acción en las Redes

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Vid. Martín G., 2010; Martín G. & Villasante, 2007. Hay un espacio en el que aparecen, con una gran disponibilidad, los textos de numerosos autores que colaboran en esta construcción colectiva de conocimiento. Consultar en Biblioteca de la Web http://www.redcimas.org/ 15

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Gráfico 5: Modelos de Estrategias para Articular el más Amplio Conjunto de Acción Posible

Este es el propósito socio-tecno-político que se muestra con la estrategia a armar desde la sucesión de sociogramas. Las jugadas organizadas en forma de estrategia por estos actores puede descubrir la potencia que tal vez en un principio nadie intuyera, pero que precisamente al articularse de un determinado modo, pueden poner en funcionamiento mediante un salto o una catástrofe en el sentido que plantea la prospectiva estratégica al citar a Prigogine o Thom. El Gráfico 5 indica cuál es el tipo de estrategia genérica a poner en marcha con cada tipo y con cada situación relativa de relación de los actores: · de coincidencia y negociación en los acuerdos entre afines y diferentes; · de seducción cuando los afines actúan para atraer a los ajenos; · de aislamiento y reversión para aislar a los contarios, revertiendo sus acciones; · de la construcción de alianzas en proceso a la construcción del conjunto

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de acción más amplio posible que permita y sustente la planificación; · del concepto de programa/proyecto al de proceso, como inclusión del tiempo de la comunidad, que no tiene por qué ser continuo pero desde luego no es fraccionado, inconexo e incluso sin rumbo fijo, como lo contemplarían los sucesivos proyectos externos de intervención. La movilidad de las redes que aparecen representadas en estos esquemas hace necesario elaborar estos mapas de actores de manera más continua, no única, y también desde distintos ángulos de la comunidad de actores, es decir, poniendo la situación en movimiento e incorporar la variable tiempo, como un elemento imprescindible para trabajar con la incertidumbre del futuro, que se desea hacer presente y construir de una determinada manera. La presencia de los actores antagónicos en este escenario hace que también el conflicto se incorpore como una variable a tomar en cuenta.

Consideraciones 1. La tensión en torno a la necesidad de la participación, ausente en la práctica del modelo de planificación normativa, aparece de forma más explícita con la planificación estratégica, por la necesaria toma en consideración de actores que habían sido ignorados por anteriores modelos. Tampoco en la planificación estratégica hay una concreción de qué se entiende por participación: unas veces se confunde con asistencia a los actos e información sobre la marcha del Plan, otras con la convocatoria y asistencia a los encuentros técnicos para aportar información, otras más como un deseo de legitimación por el déficit de presencia de actores. Se confunde por tanto el asistir con el participar, se confunde la participación en un proceso con el uso de técnicas conversacionales en determinadas fases del proceso, se confunde el deseo de abrir la participación (o la mala conciencia por el déficit democrático) con la transformación del modelo de planificación desde su base. En suma, se habla de participación como deseo y no como puesta en práctica, como una exigencia epistémica. 2. La planificación estratégica da por supuesto que existe un único espacio de relaciones de confrontación y competencia, ya sea entre empresas, organizaciones o ciudades, sin considerar que este escenario está contemplado

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para un determinado tipo de reglas de juego económico y el escenario puede ser transformado si se cambian dichas reglas o se incorporan otras más. Entre las organizaciones no gubernamentales y sociales contemplamos con demasiada frecuencia cómo se compite por la concesión de proyectos y de subvenciones, cómo se pugna con otras entidades por tener mejores relaciones con las administraciones públicas o las entidades financieras. Vemos cómo se marcan las fronteras del espacio físico en el territorio, se quiere dominar el espacio simbólico en el sector o incluso cómo se pugna por una determinada población asistida. Entre ciudades también puede construirse la cooperación, considerando al medio rural, tan olvidado cuando no simplemente despreciado, igual que entre empresas o entre consumidores, proveedores y productores, pero a costa de pensar en otro tipo de economía, de relaciones de consumo o de construcción de un espacio y un territorio. La traslación de manera acrítica de un modelo de planificación, creado para la obtención de beneficio por las unidades de negocio o para la imposición del dominio estatal, a otro, ya sea de ciudad, de comunidad o de organización social, supone el aceptar los principios ideológicos que están detrás de las estrategias metodológicas y por lo tanto todos estos otros factores que están siendo criticados. Una entidad o una comunidad que sueña su futuro como un sistema organizado solidariamente no puede plantearse el trabajar con instrumentos y métodos que han sido creados para la lucha lucrativa competitiva y egoísta; ha de construir sus propias herramientas. Todo método y toda herramienta técnica ha de responder a un para qué y aun con quién que desvele esos propósitos y presente de manera indubitable a qué no se está dispuesto a renunciar en el proceso. De la adaptación de los elementos de la planificación o de la prospectiva estratégica, se pueden obtener buenos recursos para planificar y construir espacios de democracia participativa. He señalado alguno de ellos y expongo otros, como el establecimiento de árboles de problemas de manera conjunta a los árboles de objetivos, la operativización de los mapas de actores o las aplicaciones informáticas que lo faciliten, como una forma sistemática de pensar estratégicamente las jugadas y relaciones de los diferentes sujetos y algunos de los elementos de control del proceso del EML, como la matriz de proyecto. Sin embargo no hay que olvidar que se han de adaptar a los propósitos de la participación, que al trabajar con gentes de lo más variado no se puede recurrir sólo a dispositivos tecnológicos sofisticados, sino a aquellos que sean más fácilmente apropiables por los participantes; hay que pensar en los conceptos 145

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de tecnología apropiada y de transferencia de tecnología social, porque los procesos participativos han de tener como elemento indisociable el aprendizaje, la construcción colectiva de conocimiento, y para ello hemos de tratar de manejar en lo posible los mismos instrumentos. 3. Una cuestión a considerar siempre y en todo proceso es que los actores, los grupos y las redes no permanecen estáticos, sino que adoptan distintas posiciones, tanto por efecto de los cambios en las relaciones como de las acciones que se van produciendo en su medio y que les afectan, ya sea de manera directa, indirecta o potencialmente. Estos movimientos también se producen como resultado de sus propias apuestas, según sea el efecto que producen las inter-retro-acciones de las que participan, como bien dice Morin al hablar de la ecología de la acción. Estos cambios de posición nos advierten de la necesidad de un mapeo periódico en el proceso en el que se actúe, no debiendo desconcertarnos el que aparezca un mismo actor en varias posiciones, puesto que la ubicación se hace en función de sus conductas y éstas pueden ser ambiguas, erráticas e incluso contradictorias, por lo que su posición será asimismo cambiante, como ya he señalado anteriormente; las conductas no siempre están guiadas por planteamientos coherentes, como si la coherencia fuera una cualidad acabada y observable en los actores, sobre todo teniendo en cuenta que ni el mismo actor conoce cuáles pueden ser las razones que le impulsan a actuar como lo hace y que residen en lugares no reflexionados de su conciencia. Por este motivo el proceso de planificación debe ser también un proceso reflexivo, en el que los actores y los conjuntos de acción se hagan conscientes de sus incoherencias y contradicciones, mediante el debate y la observación, mediante la construcción de saberes colectivos. 4. En la planificación participativa hemos de tener también en cuenta que los actores que aparecen en la situación problemática no son solamente ellos, en el sentido de todos los que el actor planificador puede identificar como ajenos a sí mismo, sino que el propio planificador es un actor que ha de ser incorporado a la escena, porque entra en interacción con los demás y la transforma. Dicho de otro modo, todo proceso de planificación que se haga de manera participativa ha de ser considerado como un proceso reflexivo. Esto supone que la división entre sujetos que planifican y objetos de la 146

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planificación, que son planificados, ha de desbordarse en una relación sujeto – sujeto que diluye las anteriores categorías; los que son planificados también planifican y viceversa. La reflexión sobre la experiencia común es un buen camino de aprendizaje, de educación colaborativa.

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Cap. 6 - Movimientos, Metodologías y Mediciones Tomás Rodríguez Villasante1 [email protected] Universidad Complutense de Madrid- UCM Loli Hernández2 [email protected] Observatorio Internacional CIMAS

¿Movimientos y Participar, para qué? Siempre estamos participando... aun cuando la gente diga que no. Cuando parece que no preocupan o no hay problemas ambientales, económicos, políticos, o culturales, la gente de todas maneras se agrupa para fiestas, deportes, y otras formas de celebrar y consumir los excedentes para los que ha trabajado. La gente se agrupa en comunidades familiares, étnicas, vecinales, y hasta en comunidades virtuales. Comparte con las personas con las que se siente bien, con cierta igualdad territorial o por temas de interés. No solo es participación lo que dicen los políticos, los eclesiásticos o los académicos que lo sea. La gente se plantea hacer cosas en familia, con los conocidos, hacer emprendimientos, y poner en marcha ideas para producir cosas y hacer actividades en común. Las comunidades tienen una memoria participativa, e incluso en las ciudades la gente recuerda sus participaciones de la infancia, de antes. Se van 1

Profesor Emérito de la Universidad Complutense de Madrid. Profesor Prometeo vinculado al programa SENESCYT, dentro del Programa Acordes (de la Universidad de Cuenca, Ecuador) que investiga sobre “las motivaciones para la participación social en proyectos con Impacto ambiental” 2 Investigadora del Observatorio Internacional CIMAS, y del Programa Acordes (de la U. de Cuenca, Ecuador) sobre la Implementación de un Sistema de Participación en el Cantón Cuenca Queremos agradecer al Seminario en UCM en 2012, donde participaron Nara Vieira Ramos, Claudia Giménez, Andrea Amorin y Pedro Martín, por los debates mantenidos, de donde salieron varias tesis doctorales y artículos. Especial agradecimiento a Nara por el empeño en editar este libro que resume buena parte de lo allí planteado.

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cambiando las formas y ahora en internet se participa de otra manera, que ya no es ir a la iglesia o a las fiestas locales, pero que sigue siendo participar con nuevas tecnologías… El participar así entendido es un medio, pero también es un fin en sí mismo. Además de querer conseguir algunas cosas concretas, también la gente quiere compartir y sentirse parte de diversas formas. Tal vez muchos no quieran participar en lo que nosotros les proponemos, pero no es porque la gente no quiera participar, sino porque lo que estamos proponiendo no se presenta suficientemente atractivo. Hay más participación si aprendemos de otros ejemplos o experiencias aunque sean lejanas, y si se van experimentando con imitaciones propias (comercialización, condiciones laborales, formas organizativas,....) Y sobre todo si se ven resultados, es decir, lo útil y no muy pesado de una buena participación social. Lo útil para uno mismo y para la colectividad, que no tienen por qué estar en contradicción. Precisamente ese es el primer punto de equilibrio para que pueda haber una buena participación social. El segundo punto es que no se trate de tareas muy pesadas y aburridas, pues la gente participa no solo para conseguir algo material, sino también para tener relaciones gratificantes y creativas, que están en la base de cualquier proceso participativo. No es de un día para otro pero los ejemplos cunden si resultan en otros lugares, si se corre la voz y existe motivación para experimentarlos. La participación también se aprende cuando unos campesinos ven que otros campesinos consiguen resultados, cuando grupos de jóvenes hacen algo de un modo en una ciudad, y en otra ciudad les copian las formas que han visto por internet o la TV. Todo esto a veces se dispara y es muy rápido, pero en general suele cambiar en procesos largos, generacionales. Es habitual que se cree participación cuando hay problemas, entonces se generan movilizaciones y movimientos sociales. La gente se agrupa con protestas, y a veces con proyectos de obras y servicios, etc. Pues por un lado los deterioros de la vida en común atizan protestas, pero por otro también se ven las oportunidades de hacer cosas juntos (vender productos naturales, trabajo posible para recicladoras, poder tener agua ante la escasez,...) Las protestas pueden acabar pronto, tanto si se resuelve el problema como si la gente se cansa porque no hay respuesta, pero los malestares son acumulativos, y por eso a veces estalla la sociedad sin que aparentemente estuviera previsto. Las motivaciones para participar pueden ser muchas, pero desde el sector de la humanidad que sea, no es solo para remediar males ajenos. No es tanto 150

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por solidaridad con la pobreza ajena (pueden ser algunos casos), como por participar y el poder sentirse bien colectivamente. Estamos educados en una especie de “comunismo familiar o doméstico”, donde hemos aprendido una solidaridad básica con las personas más cercanas, pero ahí también cuentan nuestros intereses personales. Y de ahí se puede dar el salto a los intereses colectivos más amplios. Hay que ver en cada caso cómo ocurren las protestas y propuestas. No es el explotado tal cual, sino el que se indigna y lucha, lo que crea la clase social, e igual en los otros movimientos sociales. No es la mujer tal cual, sino son quienes se indignan con el patriarcado, las que construyen los movimientos de mujeres. No es el grupo étnico porque sí, sino los que se rebelan contra la opresión colonial, los emancipadores y los que construyen movimientos. No es la humanidad como especie, sino quienes nos damos cuenta que formamos parte del ecosistema y que éste está en peligro, así la vida misma nos anima a participar en la sustentabilidad. Podemos decir que hay distintos tipos de motivaciones y conciencias para participar socialmente, como hay distintas formas de “resiliencias” y de creatividades sociales: 1.- Hay formas “instintivas” comunitarias, de resistencia básica ante los desastres naturales, o sociales, en que los grupos familiares, vecinales, o las redes sociales recrean solidaridades. 2.- Hay “metodologías” que pueden preparar, con sus experiencias, ejemplos concretos y talleres, que la gente se dé cuenta por si misma de que vale la pena participar, hacer cambios y estar preparados/as. 3.- Hay “comprensiones de conjunto”, posiciones, “epistemes”, para enfocar la relación con la naturaleza y la sociedad humana, que pueden acercarnos a las metodologías y las formas generalizadas de “resiliencias” básicas. También hay situaciones que dificultan la participación, por ejemplo cuando la gente pide a las autoridades y dirigentes ser escuchada, y valora que le escuchen, pero desconfía que los dirigentes acaten lo que se les dice y no lo manipulen. Esta es una dificultad muy importante para la participación. La educación patriarcal que casi todos hemos recibido, de una u otra manera, hace que los dirigentes quieran ser como un “padre” para una comunidad local y cuesta cambiar hacia una imagen de un mediador o representante en quien se depositan las confianzas de solución a los problemas previamente debatidos. El mismo tipo de educación nos lleva a disputas entre las “familias” de una organización o de una localidad, impidiendo construir soluciones 151

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comunes y superadoras, no potenciando la tan necesaria creatividad social. La creatividad surge de la naturaleza y está por todas partes, la propia vida es un ejemplo de creatividad, como lo demuestra la evolución de las especies, incluida la nuestra. La gente también es creativa ante sus problemas o para sus fiestas. No tanto por ideologías, que con sus peleas por dogmas frenan muchas veces las nuevas iniciativas, sino por sentido común colectivo ante lo que se le presenta a la gente y no se sabe cómo afrontar. Sobre todo los más jóvenes suelen estar menos prejuiciados, o las mujeres con su habitual sentido práctico, y la creatividad se ve menos en los varones, precisamente por algunas ideologías con las que casi siempre quieren llevar la razón, según pudimos ver en un estudio en 5 ciudades latinas (VILLASANTE, 2006). Las clases sociales, los movimientos de mujeres, la descolonización, son resultados creativos ante opresiones de diversos tipos. El ecologismo, sobre todo el que se llama “profundo” (CAPRA, 1998) es una reconexión con las pautas y matrices de los ecosistemas naturales. El “sumak kawsay” o buen vivir andino viene también a coincidir en esta vinculación, que considera básica con la propia naturaleza y con la convivencia en comunidad. Por eso nos interesa el debate de cómo se articulan las tradiciones comunitarias con los problemas ambientales y con la participación social. No solo desde el punto de vista teórico, sino cómo lo viven las personas y comunidades concretas y cómo se puede avanzar en construir procesos prácticos en este sentido. El sistema educativo puede ser una magnífica plataforma para potenciar la participación y la creatividad colectiva a través de proyectos concretos e ilusionantes que enseñen que las cosas se pueden hacer de otra manera.

La Participación en la Construcción Práctica del Conocimiento Según Fernando Pessoa (2008) “hay tres maneras de enseñarle una cosa a alguien: decirle una cosa, probarle una cosa, sugerirle una cosa… El primer procedimiento se dirige a la memoria y se llama enseñanza, el segundo a la inteligencia y se llama demostración, el tercero a la intuición. A este tercer procedimiento se le llama iniciación”. Como este autor portugués es sobre todo un magnifico poeta, al primero lo califica de dogmático para enseñar cosas sabidas. El segundo procedimiento es más científico, pero sobre todo deductivo. El tercero es simbólico y lo reserva este autor para cualidades superiores al raciocinio. La demostración y la intuición están bien pero hoy parecen insuficientes. 152

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En realidad la construcción del conocimiento hoy la vemos un poco más compleja, aun reconociendo estas tres posturas de partida. Cierto que para unos niveles básicos está bien cultivar la memoria, pero la enseñanza no se puede reducir a eso. Con Vytgotsky por lo menos y con Freire, el “conocimiento bancario” ha de ser superado por una pedagogía más comprometida con las realidades vividas. “El enfoque socio-crítico se centra en la propuesta epistemológica de investigar la realidad concreta en la que se desenvuelve la institución educativa, diagnosticar las necesidades del medio como forma principal de apropiación y elaboración del conocimiento. Al mismo tiempo propugna un enfoque interdisciplinario de las ciencias, la unidad de la actividad teórica con el efectivo proceso de aplicación práctica… y la utilización de distintas metodologías, nuevas técnicas y procedimientos de participaciónacción”. (NARVAEZ, 2014). Desde la educación superior es importante ir rompiendo prácticas educativas nada participativas ni implicativas, con propuestas prácticas e innovadoras. Por ejemplo, recientemente hemos propuesto un Estudio de Eficiencia Energética de la propia Universidad de Cuenca, donde puedan participar conjuntamente profesores y estudiantes de ingeniería, economía, arquitectura, ambiente, sociología, etc. La finalidad es tanto reducir el gasto eléctrico de la propia Universidad, como la investigación y la docencia a partir de un caso práctico en que está implicada la comunidad universitaria. Se puede profundizar en kilowatios/hora en cuanto a necesidades y formas de ahorrarlos y producirlos, en el valor monetario de los cambios de puntos de luz, reguladores, paneles fotovoltaicos, etc. su financiación y amortización según las ayudas al cambio de la matriz productiva. También se investiga la disposición de posibles placas fotovoltaicas en los edificios, y en el uso de la energía, en la “ley de balance neto” para producción limpia de energía. Es una forma de investigación transdiciplinar e implicativa entre el profesorado y alumnado. Esto es un ejemplo de inter-disciplinariedad y aplicaciones concretas, una forma diferente de hacer y de construir conocimiento. Por lo que estamos de acuerdo con los profesores venezolanos que recuperan en Vytkotsky: “El enfoque sociocrítico, desde un punto de vista de la fundamentación epistemológica, exige a los docentes la organización de actividades y experiencias que generen situaciones conflictivas a nivel cognitivo, las mismas que deben obligar a los estudiantes a revisar sus ideas, representaciones, concepciones, para construir nuevas estructuras mentales” (Narvaez, 2014). Esto ya veníamos 153

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haciendo en nuestros Magister desde 1996 (Madrid, Barcelona, Sevilla, Bilbao, La Laguna), y escribía hace unos años (VILLASANTE, 2006): “No se trata de aprender de libros, sino de aprender haciendo”. De los libros recoger las grandes preguntas, y en nuestras prácticas innovadoras estará la construcción de respuestas, que se adecuen a cada situación. Si uno solo deduce de las teorías y de los libros ha de ir probando hipótesis, pero restringiéndose a ellas (y muchas son de autores lejanos y no tan aplicables a nuestras realidades). Pero sabemos que en los laboratorios y en la vida hay aspectos no esperados que abren nuevos campos, por eso frente a la deducción existe también la inducción (a partir de hechos singulares que se repiten). Y aún hemos de tener en cuenta la abducción como forma de conocimiento intuitivo, que también juega un papel interesante en todas las investigaciones (como justificaba Pessoa). Pero lo que nosotros proponemos es la transducción, que engloba a las anteriores, pero que las provoca a actuar conjuntamente con estos saltos prácticos socio-críticos (VILLASANTE, 2006, 2014) como los ejemplos que hemos puesto y que predisponen para actuar de manera más creativa y participativa ante las distintas situaciones vitales. O sea, se trata de transformar proyectos en productos. Y en esas transformaciones reales en las que se participa como parte docente, del alumnado, o como movimiento social, todas las partes van aprendiendo de las complejidades reales de los procesos. Así se cruza la enseñanza con la observación y con la experimentación. Algunas de estas experiencias suelen centrarse en aspectos tecnológicos de última innovación, alta tecnología que se adecúa a los ambientes y procuran no degradarlos sino potenciarlos. Hay iniciativas de todos los tamaños y orientaciones, tanto en los países más “desarrollados” como en los países emergentes. Unas más orientadas al crecimiento de tipo económico sin más y otras innovando en nuevas formas de sociedades alternativas y más respetuosas con el ambiente, pero todas experimentando con otras formas de hacer, aprender, crear y construir sociedades más abiertas, participativas e innovadoras. Hoy en todos los países se apuesta por este tipo de formas participativas mixtas, dado los buenos resultados que se van obteniendo a escala local. Nos parece que ésta debe ser la finalidad de una Universidad pública o de un Gobierno o de una Fundación, a los que se les supone unos intereses públicos y solidarios y no ánimo de lucro. Hay otro tipo de iniciativas del conocimiento, que tratan de construir unas vidas de calidad, no dependientes de los requisi154

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tos de un mercado que solo se interesa en los beneficios. Jose Luis Coraggio (2000) ha planteado la necesidad de espacios alternativos en las ciudades, juntando los intereses públicos (“reproducción ampliada de la vida” y no del capital) de las Administraciones locales, las Universidades, las Fundaciones y ONG, y los movimientos sociales. Alianzas estratégicas que se pueden concretar en iniciativas como la que proponemos, que pueden generar sinergias muy positivas para todos los participantes, ya que se trata de entidades con un número muy alto de trabajadores y de capacidad de servicios a las comunidades.

Construir en Varias Líneas Experimentales La Ciudad de la Otra Economía ha venido funcionando en Roma, desde la década pasada, como un efecto demostración de una economía paralela a la convencional y de características solidarias en sus principios de funcionamiento. En esta ciudad alternativa cabe desde la sede de la banca ética, hasta restaurantes de comida natural, desde puestos de venta de agroecología a las cooperativas artesanas, desde iniciativas de residencia solidarias, hasta las nuevas tecnologías de tipo comunicacional y hasta energético. En los antiguos mataderos de la ciudad, ya en desuso, la Región del Lazio ha apoyado a estas iniciativas sociales, y cualquier fin de semana los habitantes de Roma pueden comprobar su viabilidad. En muchas ciudades europeas o latinoamericanas ya hay un mercado de productos agro-ecológicos importantes, que funciona diariamente o en algunos días de la semana. La comercialización se puede ir ampliando en la medida en que sus productos vayan teniendo más difusión, y el respaldo de investigaciones y certificaciones de calidad para la producción. Si se acoplan con centros de restauración y comida sana, el efecto demostración todavía puede ser más amplio, como parece una tendencia internacional en crecimiento. Los centros de salud natural como alternativa a la medicina alopática, y que pueden recoger tanto medicinas tradicionales asiáticas como andinas, al tiempo que se recogen tratamientos alternativos homeopáticos, etc. son motivo igualmente de investigaciones y de tratamientos específicos, que incluso promueven un turismo de salud, cada vez más apreciado en sectores internacionales. Es un punto de atracción que combina la salud con la restauración naturista, y las inter-culturalidades de muchas tradiciones dife-

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rentes, sin olvidar elementos insustituibles de la medicina occidental. La posibilidad de reunir en un espacio amplio pero articulado estas iniciativas le daría una potencialidad mayor, agregándole la posibilidad de experimentación con las tecnologías solares, eólicas, geotérmicas, etc. Un diseño atractivo de estos espacios de encuentros y creatividad puede constituir un lugar de referencia más allá de cada disciplina. Pero no solo para experimentar y enseñar, para recoger iniciativas ya existentes pero que están desarticuladas, sino también para la demostración de la viabilidad de estas propuestas y para dar servicios a la sociedad en la medida en que se acerca a usarlos. Contar con experiencias de TV y de creación de productos audio-visuales para la difusión de estas investigaciones, formación-acción, y servicios a la ciudadanía, puede ser un añadido que otras Universidades ya disponen, como iniciativas culturales en la localidad donde residen. Puede haber un apoyo de los GADs (Gobiernos autónomos descentralizados) por ser también un sistema público, siempre que no se caiga en partidismos que desacrediten esta función. Deberían apoyarse en las capacidades de profesionales de las Universidades, de forma amplia y no sectaria, lo que a la larga le daría mayor prestigio a ambas instituciones. Por ejemplo hacer el seguimiento y evaluación de las políticas públicas se puede hacer más allá y de forma más participativa de lo que se supone que son las ideologías cerradas y las rivalidades electorales. La economía popular y solidaria también está relacionada con la agroecología y la soberanía alimentaria. Y estos estilos de producción y consumo se basan en espacios con energías alternativas y construcciones bio-climáticas, de forma que se articulan en espacios físicos demostraciones de otras formas de vida y de consumo, que resultan menos estresantes y más saludables. Los fundamentos sociales y pedagógicos de estas formas de vida se pueden experimentar y debatir en estas iniciativas, pero a la vez se pueden difundir por las nuevas tecnologías de la comunicación. No se trata de encerrarse en unos núcleos especializados, sino de abrirse a la población en general y dar a conocer ampliamente lo que se está haciendo. La forma de viabilizar todos estos intereses convergentes de tipo profesional y de formación especializada y transversal requiere de una iniciativa económica y social, que pueda garantizar su mantenimiento sin dependencia de otros ingresos, en base al posible prestigio del conocimiento acumulado por distintas áreas que confluyen entre sí. Hace falta un lugar físico y una forma jurídica de sustentación, pero sobre todo coordinación de las iniciativas 156

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“alternativas” y participativas que hay en un país o una región, en torno a las cuales se podrían ir recabando profesionales de otras universidades de prestigio internacional. Se trata de un encuentro de tres tipos de intereses que se necesitan mutuamente en esta situación de globalización del mundo, donde las sinergias locales se vuelven muy importantes en beneficio común de quienes quieran implicarse: a) Por un lado las dinámicas locales en las que los municipios y provincias han de hacer un esfuerzo de imaginación para conseguir entrar en un papel de promoción social de sus ámbitos territoriales. Lo que un municipio o una iniciativa social puede ofrecer en algunos casos es un terreno suficientemente amplio y dotado, y con el respaldo legal propio, para poder poner en marcha una iniciativa de interés para la mayoría de sus ciudadanos. b) Por otro lado hay una serie de profesionales, muchos de ellos vinculados a las universidades públicas, y otros con amplias experiencias contrastadas, que, como hemos dicho, deberían poner en relación trans-disciplinar sus conocimientos, y con los medios de investigación más adecuados para hacer avanzar los conocimientos científicos en red. Y aprovechar para poder formar a nuevos profesionales desde la investigación práctica de cada una de las principales áreas del conocimiento. c) Para todo ello hace falta una coordinación participativa que reúna los intereses de estos profesionales, de las iniciativas locales, y de los inversores (públicos o privados con carácter social), de tal manera que se puedan conjuntar en una iniciativa que se pueda sustentar por sí misma. Es decir, que las inversiones que se produzcan en los terrenos y en las edificaciones que se hagan necesarias, deberán tener un objetivo de ser rentables, desde un punto de vista no de maximizar los beneficios económicos, sino de encontrar una viabilidad suficiente para mantener las propuestas de investigación, gestión y consumo que se plantean.

Lucha de las Pirámides y los Manglares Pero no cabe duda que tanto los movimientos sociales como las pedagogías y metodologías prácticas puestas en marcha, encuentran numerosas dificultades, a pesar de que puedan parecer muy lógicas las propuestas que estén defendiendo. Cabe contextualizar cuáles serán los mejores caminos para concretar si

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estamos avanzando hacia sistemas alternativos de vida, o si seguimos en estos sistemas cuyos indicadores pronostican mayores cuotas de desigualdad, de despilfarro, de unos recursos que se agotan, etc. La intención es avanzar más allá de los debates de unos principios filosóficos enfrentados, polarizados, que todo lo fíen a lo bueno o lo malo, sin los matices que toda situación compleja nos plantea. En la actual fase del capitalismo, tanto el neo-liberalismo como los neo-keynesianismos no rompen con la estructura básica de la “financiarización” y especulación de los capitales globales, suponen una primera definición por negativo de lo que no sirve ya para la humanidad. No nos queda otra salida que encontrar nuevos caminos. Es posible que todavía no sepamos bien a donde debemos ir colectivamente, pero sabemos bastante bien lo que ya no nos va a engañar. En textos de Johan Galtung (1984), José Manuel Naredo (2013), y otros varios autores se va más allá de la división entre las posiciones entre el Mercado del Capital y la Administración del Estado, más allá de si quien debe consumir es el Estado redistribuyendo el excedente, o si el excedente se deja a que sean las fuerzas económicas dominantes quienes lo manejen. Lo que se plantea es que hay una pirámide en cuya cumbre está la Financiarización por encima de los demás elementos de poder (de producción, consumo o de regulación). Esta Financiarización que se está construyendo en los poderes globales, en base a la especulación con un dinero artificialmente creado, entra en contradicción con la propia producción real y hasta con el consumo de la mayoría de la población del mundo. Medir en términos financieros o monetarios viene a describirnos unas realidades muy diferentes de medir en términos de producción real física, o en términos de puestos de trabajo y de consumos de productos básicos. Y en esa pirámide, más abajo aparecen incluso otros aspectos que ni siquiera se pueden medir en términos económicos convencionales, como las labores más domésticas o las ayudas voluntarias en las comunidades, la productividad de los pro-comunes o de los ecosistemas naturales. Este esquema de una pirámide opresora también es referido por textos de pensadores de raíz indígena (OVIEDO, 2012; GUDYNAS, ESTERMANN, ALVAREZ, MEDINA & FREIRE, 2014) al que contraponen los movimientos del “Sumak kawsay” o del “Suma qamaña” en las zonas andinas. Hacen una crítica del capitalismo y las formas de vida y consumo que introducen en las comunidades tradicionales, pero también del “socialis158

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mo” entendido como una presencia del “estado modernizador” que les quiere sacar de sus formas de convivencia y meterles en la lógica del desarrollo occidentalizado. En estos casos la crítica a las formas de medir no solo se extiende a los indicadores de consumo del mercado, sino también a los indicadores de participación, de educación o de las infraestructuras que no respetan sus formas de conocimiento o de habitar los espacios, y por tanto al Estado que las promueve. Luchas de la Pirámide y los Manglares: .

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En este esquema, aparte de la pirámide dominante citada (que se basa en clientelismos y explotaciones, rivalidades, miedos, patriarcados y fetichismos), aparecen desde abajo los “manglares” de las construcciones alternativas. Movimientos del “buen vivir” y “ayuda mutua” con sus cargas de “creatividad social”, que se mueven entre sus productividades (monetarizadas) y las actividades no monetarias (pero insustituibles para la reproducción social). En estas economías populares y solidarias hay gran variedad, y no están exentas de las contradicciones ya señaladas que aprovecha la misma pirámide dominante. Pero he querido señalar también la tensión hacia otras formas de articulación solidaria que interesaría conocer mejor, tal vez con mediciones, para distinguir dentro de los movimientos emergentes los sentidos alternativos que realmente se están construyendo (banca ética, mercados justos, trabajos cooperativos, consumos responsables, servicios participados, o tecnologías apropiadas). La imagen de los “manglares emergentes” parece adecuada si se piensa que surgen desde la tierra-lodos que no se ven (no se contabilizan), mantienen una gran vida vegetal y animal bajo el agua y en la parte aérea, y además son vistos por los turistas como fenómenos exóticos (muchas veces sin percibir que son la cuna de la vida). Crecen por si mismos si no se les destroza, aún con las contradicciones que tienen internamente, y en ese sentido pueden ser una metáfora útil de la labor de los movimientos populares que surgen también entre los humanos. Sus raíces están en la propia naturaleza de los ecosistemas, en los pro-comunes biodiversos y en evolución, con sus catástrofes y depredaciones incluidas. Pues no conviene idealizar ni a la naturaleza biológica ni a los movimientos pro-comunes tampoco. Cabe ponderar y hasta medir estos procesos pero desde sus propias lógicas, tal como queremos sugerir. Dentro de estas luchas conviene distinguir entre las propuestas alternativas que se vienen debatiendo, aunque sea con conceptos no muy precisos o contradictorios, como es el caso del desarrollo sostenible, de las alternativas al desarrollo, del eco-socialismo, del decrecimiento, del covivencialismo, del sumakawsay o buen vivir, del swaraj o auto-gobierno gandhiano, etc. En muchos de estos debates, frente a sistemas de medidas tan burdos como el PIB o la renta per cápita, se contraponen principios de la ideología correspondiente, pero no sistemas de medición o índices que puedan dejar en evidencia las diferencias patentes con el actual modelo de especulación financiera o de destrucción de ecosistemas. Por los resultados del PIB o de la Renta per Cápita 160

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ya podemos establecer que solo abarcan una parte muy pequeña de los intereses generales de la gente, e incluso que van en contra de muchas de las necesidades más sentidas. Si una guerra puede aumentar el PIB, o la producción de un desastre ecológico también, ya se ve las contradicciones en que nos meten esta forma de medir el progreso. No siempre se ha tratado de tener más de todo, muchas sociedades se han regido por buscar “lo mejor” antes que “lo más”, la calidad (de vida) antes que la cantidad (nivel de vida). Algunos indicadores internacionales tratan de mezclar los índices tradicionales y otros menos economicistas, como el caso del Índice de Desarrollo Humano (DHI) del PNUD, inspirado en las definiciones de desarrollo de Amartya Sen (2004). Pero si se comparan los resultados por países de este índice y el del PIB per cápita se puede comprobar sospechosas coincidencias, lo que da que el PIB siga mandando a pesar de sus contradicciones. Por ejemplo los países de Oriente Medio están muy por delante de los Latinoamericanos. Pero si este índice se corrige con el factor de desigualdad interna, entonces solo los países europeos destacan, y caen países como Canadá, USA, Israel o Corea de Sur, y mucho más caen los países de Oriente Medio. Todo depende de los criterios de qué se debe priorizar en las mediciones, según los intereses y las culturas. En esta línea suelen estar los que tratan de medir la pobreza, o los indicadores de “barrios vulnerables”. En otros casos directamente se desmarcan hacia el “Índice de Felicidad Bruta” en Butan, y en general quienes rechazan los índices macroeconómicos convencionales. Es el caso del Índice de Planeta Feliz, de la New Economics Foundation (2012), que prioriza medir la expectativa de vida, la percepción subjetiva de felicidad y la huella ecológica. Y desde esta Fundación quedan en el primeros lugares los países del Caribe (Colombia, Costa Rica, Cuba…), muy abajo USA y Rusia, y hacia el final los centro-africanos. En algunos casos, como suele ser la tendencia de bastantes de los inspiradores indigenistas del Buen Vivir, lo que se plantea es si tiene sentido medir elementos tan subjetivos y vivenciales, que se escapan necesariamente de parámetros objetivos. Por un lado tratar de medir de forma universal con los mismos parámetros solo sirve para comparar situaciones que tenga sentido que puedan competir entre sí. Tanto si es en felicidad, producción, etc. ¿Y qué sentido tiene establecer estos ranking? ¿Para qué quiero saber si soy más feliz que el otro, o si tengo más zonas verdes, o más producción que los vecinos? Desde una lógica competitiva puede ser un incentivo, pero desde una lógica de mejor convivencia 161

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no tiene mucho sentido. Será más lógico pensar en términos locales y procesuales. O sea, si dadas mis condiciones locales de partida he mejorado en estos años o al revés, he retrocedido sobre mis propios valores de referencia, y no tanto comparar con los valores de otras comunidades o situaciones diferentes. Y cuando ya se haya superado determinados índices, habrá que irlos cambiando para ajustarlos a las necesidades de cada momento y lugar.

Interacciones Básicas y Equivalentes de Valor Si se recogen en un listado todas las propuestas que se han ido generando en el mundo sobre los temas del desarrollo, la felicidad, etc. lo que se produce es un listado bastante amplio. Si se quieren usar en su amplitud, obligaría a dos operaciones realmente difíciles de establecer. Por un lado ponderar el peso de cada una de las propuestas, lo que lleva a considerar (en cada cultura) cómo hacer esta operación de priorizar necesidades. Y por otro lado a hacer numerosas medidas de muchísimos factores para no dejar fuera ninguno que pueda ser tenido en cuenta. Estos son aspectos que hacen poco operativas estas formas de proceder. Cuando son muchos los índices a los que referirse (y medirlos con cierta solvencia) la operatividad se vuelve en contra, pues cuando acaba uno de tener los datos, ya es posible que hayan cambiado. Algunos están accesibles, pero otros han de ser construidos y se demoran bastante tiempo. Cabe hacer algunas operaciones más sencillas para establecer estos seguimientos, y que sirvan a las comunidades respectivas para sus fines. Incluso la tabla que se suele citar de Max-Neef, Elizalde y Hopenhayn, con 36 posiciones básicas (1993) se vuelve demasiado complicada para establecer las necesidades a medir. Ellos mismos proponen no tanto medir las necesidades, como los “satisfactores”, que al ser sintéticos muestran una mayor didáctica y operatividad para cada comunidad que quiera usarlos. De esta tabla lo más interesante son las 4 necesidades axiológicas que definen con los verbos: Estar, Tener, Hacer y Ser. Y pueden ser interesantes porque vienen a coincidir con las 4 interacciones básicas que hemos encontrado en otros autores, y en varios de los movimientos sociales que hemos estudiado. Los listados muy amplios están bien, y pueden ser usados como recordatorios, para que no se nos olviden algún tema por descuido. Pero se pueden resumir en las pautas que la humanidad siempre ha tenido. Con LevyStrauss y la antropología ya se establecieron el intercambio básico de bienes,

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de personas, de mensajes. Esto viene a coincidir con los verbos citados, si le sumamos el intercambio de espacios-tiempos. O en versión de Jesús Ibáñez (1994) las explotaciones de la naturaleza, la explotación del trabajo y la producción, la dominación de unos sujetos sobre otros por raza, genero, etc. y la explotación “de uno mismo” por los dogmas en que ha sido educado y cree. En un libro reciente (Villasante, 2014) me refiero más en extenso a estos intercambios básicos, que también podemos encontrar como “sociología de las ausencias” en Boaventura S. Santos (2005) y en otros autores. Por si quedara muy erudito solo citar a algunos autores de referencia, quisiera dejar patente también que los principales movimientos sociales también nos muestran con sus prácticas las necesidades que les interesan descubrir y reclamar su satisfacción. Así por ejemplo, los movimientos vecinales y los ecologistas resaltan hacer seguimiento de los retrocesos o avances en los espacios y tiempos de los ecosistemas urbanos o rurales. Si las tecnologías están mejorando o empeorando ambientes y si el mejor convivir se resiente o se recupera. Los movimientos obreros y campesinos llevan años luchando por sus derechos en el trabajo y la producción, contra las desigualdades y contra abusos en la economía de acumulación especulativa. Los movimientos de mujeres o de diferentes etnias se han rebelado contra el dominio por razones biológico-culturales que han impuesto patriarcado y países colonizadores. Y contra el pensamiento único y dogmático de las ideologías heredadas se han venido rebelando movimientos, sobre todo de jóvenes, que no renuncian a la creatividad propia. Podrán ser 3, 4 o 5, las interacciones básicas que aglutinan la larga lista de necesidades que los humanos (y nuestra relación con los ecosistemas) hemos ido construyendo en nuestra historia milenaria. En cada interacción básica siempre se sitúa un Equivalente de Valor, que para cada cultura opera como elemento externo que sirve de referente y que, en principio, no es cuestionado. Entre los diferentes ejemplos se pueden citar: la propiedad y el dinero en los intercambios materiales de nuestra economía; también la revelación divina por algún mito fundador del ser e identidad de una comunidad entre las tradiciones más antiguas; o las formas tecnológicas como manera de superar las constricciones del espacio o del tiempo en cada cultura humana; o el orden mediante una autoridad para superar los conflictos de la familia o entre comunidades. Si se está de acuerdo en estos Equivalentes de Valor, de ahí se pueden deducir los parámetros principales a medir. Pero si hay 163

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discrepancias en que estos sean los Valores incuestionables, entonces la forma de encarar las mediciones se complejiza. Por eso, previo a establecer las mediciones, hay que hacer este debate de cuáles son los criterios de medición. Esto supone una deconstrucción participada de los sistemas de medidas en vigor y la justificación de nuevos criterios y Equivalentes de Valor aceptados por cada comunidad. Por ejemplo, con Luis Tapia (2008), quisiera recordar que siempre se lucha por un excedente y luego la cuestión es qué hacer con ese excedente. Hay culturas que lo quemaban (con diversos ritos) para no crear más desigualdades, otros lo repartían como dones del poderoso, otros lo usaban para armarse y guerrear en conquistas de territorios, etc. No solo el excedente de bienes, sino también el tecnológico, la erudición, el simbólico, etc. Entonces el qué hacer con los excedentes forma parte del fondo del problema, y desde ahí se justifican las comparaciones con otras comunidades y las comparaciones antes y después de la propia comunidad de referencia. También ahora unos se dedican a armarse, otros a especular inventando burbujas de dinero, y hay quien quiere distribuir los beneficios a través del estado, otros hacen despilfarros ostentosos, mientras otros solo intercambian sus formas de reciprocidad en economías populares o solidarias. La conclusión fácil es que cada cultura ha de construir sus propios Equivalentes de Valor y sus propios criterios de medición. La cuestión no es saber medir todo, sino saber qué medir y con qué prioridades. Incluso en cada comunidad los criterios tampoco son estables. Es decir, valores que eran incuestionables para una generación (energía nuclear) pueden dejar de serlos para otra, índices muy significativos en una situación (por ejemplo, alfabetización) pueden dejar de ser tan interesantes cuando se alcanza su saturación. Por esto los criterios han de revisarse cada cierto tiempo de forma participativa por lo más amplio de la comunidad local, e irse mejorando según se vayan produciendo nuevos avances. En realidad se trata de una construcción colectiva de forma permanente. Les podemos llamar Equivalentes de Valor, Ideas-fuerza, escenarios de futuro, o lo que en general desee conseguir cada comunidad organizada.

Un Proceso Participativo Posible Técnicamente cabe ir de-construyendo al tiempo que se van reconstruyendo los cambios en los criterios de medición. Al menos en cada una

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de las 4 interacciones básicas. Para ello se pueden usar técnicas como los “penta o multi-lemas”, que permiten pasar de los dilemas básicos y más superficiales de cada sociedad, a causalidades y mediaciones más profundas. En los trabajos de Johan Galtung (2004) y en los nuestros del CIMAS (2009) se pueden ver ejemplos prácticos de cómo operar para distintas situaciones. De forma participativa con las comunidades que se impliquen se puede avanzar en estas “de” y “re” construcciones consensuadas. Si hiciera falta priorizaciones participativas entre estos supuestos, también se pueden usar los “flujogramas” que Carlos Matus planteó en los Planes Estratégicos Situacionales (1993), y que también se pueden seguir en los textos y DVDs de la red CIMAS (2007). Son dispositivos técnicos que permiten a comunidades pequeñas y grandes formalizar acuerdos para establecer los criterios que les permitan avanzar y construir colectivamente. Proponemos este tipo de dispositivos participativos para saltarnos otros sistemas de tipo más convencional, que puedan enfrentar a las mayorías con las minorías en juegos más perversos (como sería una votación “representativa”); o que puedan dejar en manos solo de los técnicos y unos pocos directivos algunas herramientas (DAFO, Árbol de problemas, etc.) de la Planificación Estratégica convencional, con un manejo no participativo de decisiones muy importantes. Bajo la idea de Planificación Estratégica se suelen encubrir dispositivos técnicos que tienen altos grados de imposición de valores dominantes no cuestionados. De ahí que las aportaciones críticas de los autores citados no solo superan los defectos de la planificación al uso, sino que proponen unos dispositivos técnicos que ofrecen muy buenos resultados desde nuestra práctica con muy diversas comunidades, urbanas y rurales, como en sectores amplios estatales como la salud, la ecología, etc. Una vez que la comunidad correspondiente ha llegado a un consenso básico de cuáles son sus Criterios, sus Satisfactores, sus Ideas-fuerza o sus Equivalentes de valor más generales (según como los queramos nombrar), es cuando se puede pasar a tratar de establecer los índices con que se van a medir. Y si algunas de las mediciones ya están en marcha o hay otros documentos que lo acreditan, revisarlos desde el punto de vista de los criterios establecidos. No porque ya tengamos los datos elaborados por otras instancias van a valer sin más. Cada dato tiene un contexto (no explicitado habitualmente) de Equivalentes de valor que se ha de revisar. Por ejemplo, el debate sobre qué se entiende por “desarrollo sostenible” 165

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es puramente nominal y solo se puede resolver como se propuso con los Foros de Sustentabilidad de las Agendas Locales 21. Un concepto en sí mismo tan contradictorio, cuando lo bajamos a qué se quiere medir en concreto es cuando sabemos qué quieren de él quienes lo usan. Hay Agendas 21 Locales, como la de Seattle desde el año 1993 que ha servido de referencia a otros muchos Foros en ciudades de todo el mundo. Si se reúnen los sectores interesados de una ciudad o una región en los temas de hacer seguimiento con indicadores de su evolución de la calidad de vida, de la sustentabilidad o del buen vivir, entonces resulta creíble que sus consensos sobre criterios puedan ser un buen comienzo del proceso. Un Foro de Sustentabilidad o de Buen Vivir puede estar compuesto por las comunidades que estén interesadas, por los sectores sindicales, ecologistas, feministas, etc. de la zona, por las universidades, ONG, Iglesias, y entidades culturales que quieran participar. Los gobiernos sensibles a hacer un seguimiento de la calidad de vida de su zona deberían apoyar y no poner trabas a la información o tratar de influir, sino respetar los consensos de la sociedad civil. No es que en estos Foros se vaya a votar si está bien o mal la calidad de vida o el sumak kawsay, se trata más bien de ver qué se ha de medir, qué acuerdos se alcanzan para que los aspectos más importantes de la vida local se vean reflejados en un seguimiento, para ir dando cuenta de los resultados locales y en un cierto periodo de comparación. Por ejemplo, si queremos medir la situación económica ¿es más importante cuánto dinero entra y sale de la ciudad o región, o tal vez la desigualdad de ingresos entre los que más ganan y los que menos? desde el punto de vista del género ¿es más importante el número de puestos en guarderías infantiles, o la variación en la distribución del tiempo y actividades en la vida cotidiana entre mujeres, varones, mayores y niños/as? En tomas de decisiones democráticas ¿se le da más importancia al número de votantes, o al número de propuestas e iniciativas desde colectivos de base? La técnica de medir ya no ha de ser cosa que haga el Foro, que solo se centra en proponer los Criterios y seguir el proceso. Cada cierto tiempo se puede cambiar algún Criterio porque ya no sea significativo para la comunidad, y eso no tiene por qué alterar demasiado el conjunto de las referencias. Se trata de que en cada uno de los 4 ámbitos de estas mediciones se pueda seguir una serie cronológica de resultados. La comparación siempre es antes y después para un territorio, no tanto con otros territorios vecinos. La calidad de vida es 166

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más comparable sobre las expectativas de una comunidad concreta, y no tanto sobre las rivalidades entre comunidades diferentes. No parece tan lógico medir si la felicidad de un territorio tiene que ver con el vecino, o si tiene que ver con la satisfacción de sus propios escenarios de futuro, como se quiere subrayar. Las técnicas de medición pueden ser cualitativas y cuantitativas, una vez planteado desde el inicio el proceso participativo de lanzamiento y de seguimiento. De lo que ya se pueden tener datos elaborados, solo cabe verificarlos y adecuarlos a los requisitos previamente planteados por el Foro. En otros casos cabe hacer una investigación específica con algunos índices sintéticos que se vean oportunos. Por ejemplo el número de peces de un rio puede significar tanto un índice de agua limpia, como el rescate de una memoria histórica perdida que le daba identidad a una ciudad a través de la pesca.

Medir con las Escaleras de Participación Los procesos participativos también están sujetos a controversias, y cabe evaluarlos. Más allá de las discusiones sobre los conceptos de gobernabilidad, gobernanza, buen gobierno, democracia participativa o directa, hay que aterrizar qué significa todo esto en las experiencias concretas. Para ello diversos autores han diseñado diversas “escaleras de participación”. Vamos a tomar en principio la Escalera de Hart, conceptos que, como veremos, nos parecen un poco limitados. Las formas de participación son mucho más efectivas cuando parten de reconocer las formas de organización propias y espontáneas de los y las ciudadanas, pues hay también ejemplos extraordinarios de autogobierno – organizaciones de mujeres, barriales, juveniles, de adultos mayores, colectivos, con experiencia, fuerza y legitimidad- que potenciarán los avances y acuerdos en beneficio de la localidad. Rogert Hart (1992) realizó estudios sobre la participación ciudadana de niñas, niños y adolescentes y sobre iniciativas de participación existentes en varios países del mundo. Empleando la metáfora de una escalera, desarrolló un instrumento útil para analizar los diferentes niveles de la participación, inicia con la participación no auténtica o ilegítima y concluye con la última forma de participación: la iniciada por la organización de la sociedad civil que convoca al gobierno local a la interacción y el diálogo. La escalera de Hart apunta entonces a superar la Participación Simbólica hasta llegar a la Rendición de Cuentas y el Control Social. Pero esta se entiende solo hasta un “dialogo”

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con la entidad pública, “para retroalimentar su gestión”. Como veremos más adelante hay otras escaleras que plantean mediciones más corresponsables.

Esta escalera de participación se queda en lo que se suele denominar como Gobernanza, es decir, gobernabilidad representativa en dialogo con la sociedad civil para la retroalimentación de su gestión. Lo que puede ser entendido como que los representantes electos del gobierno escuchan lo que dicen los representantes de la sociedad civil, y al cabo de cierto tiempo le rinden cuentas. Pero eso es distinto, por ejemplo, de una Democracia de Iniciativas donde la sociedad civil toma el protagonismo no solo para la rendición de cuentas o el control, sino para marcar la agenda del proceso público desde el principio. Grupos informados pueden iniciar unos procesos para auto-diagnósticos, para toma de decisiones, y para cogestión o auto-gestión según los casos, que es lo que suelen proponer las metodologías participativas, por ejemplo:

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Esta escalera parte de unos principios básicos de información y transparencia, sin lo cual no es que no haya participación posible, sino tampoco ningún tipo de democracia. De ahí se sube a lo que se suele llamar Participación Ciudadana, es decir, habitualmente unos Reglamentos que conectan la opinión de las iniciativas de base, cauces y organización para consultar a la población y luego tomar decisiones en los gobiernos. Y con alguna regulación de la rendición de cuentas, para responder a las peticiones realizadas. Pero es posible subir el siguiente escalón, hacia algunas metodologías participativas más avanzadas, como podrían ser los Presupuestos Participativos, con auto-reglamentación, con vinculación de las decisiones de base, con financiación, técnicos y continuidad de los procesos suficiente, etc. según la Declaración de Bogotá. Pasamos a exponer esta Declaración porque nos parece que marca unos indicadores claros para medir cuán participativo es un proceso llamado participativo.

La Declaración de Bogotá “Reunida el 15 de junio de 2011 en la ciudad de Bogotá, la III Asamblea de la Plataforma Internacional por los Presupuestos Participativos y la Planificación Participativa, recogiendo las aportaciones online de otros componentes de la Plataforma y las aportaciones del IV Encuentro Nacional de Planeación Local y Presupuestos Participativos… 1. Apostamos por la Democracia Participativa como camino alternativo 169

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a la mercantilización de la política y la privatización de lo público que conlleva la globalización neoliberal. Ante ello es necesario tomar medidas que desarrollen una nueva institucionalidad democrática que fortalezca a la ciudadanía y a las instituciones públicas. 2. Entendemos que el desarrollo de la Democracia Participativa es un proceso de construcción de ciudadanía activa y de profundización de la democracia en diferentes ámbitos como el económico, social, cultural y político. 3. Asumimos el Presupuesto Participativo como un instrumento político-pedagógico importante que articulado con otros procesos de democracia participativa, democracia directa y democracia representativa contribuye a construir democracia real para otro mundo posible. 4. Proponemos que los Presupuestos Participativos deben incluir las siguientes premisas: a) Auto-reglamentado, considerando las particularidades locales y poniendo al servicio del proceso a la Administración Pública. b) Incluyente, incorporando a los excluidos legales (infancia, inmigrantes) y favoreciendo la participación efectiva de los sectores excluidos y las diversidades. c) Contando con espacios deliberativos previos al momento decisorio y favoreciendo la construcción de consensos. d) Democracia directa (un/a participante un voto). e) En caso de elección de delegados/as estos/as deben tener mandato imperativo de sus asambleas. f ) Vinculante, garantizado el cumplimiento de las decisiones ciudadanas. g) Con sistemas de seguimiento, control social y rendición de cuentas. h) Encaminado a la superación de las desigualdades y al disfrute efectivo de los Derechos Humanos. i) Que cuente con sistemas de información, comunicación y formación que garanticen la autonomía, empoderamiento y apropiación social del proceso. j) Vinculado a la planificación participada, gestión participativa y el desarrollo del territorio. k) Con marcos técnicos y administrativos que faciliten estos procesos. l) Que garantice la participación ciudadana en todas las fases del proceso. m) Que se realice sobre un monto significativo y progresivo del 170

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presupuesto. n) Práctica continuada. o) Movilizador de la ciudadanía y transformador de la realidad social. 5. Para avanzar en esta dirección vemos necesario trabajar para incorporar los presupuestos participativos en las agendas de los partidos políticos, de los movimientos sociales, de la sociedad civil y en la acción del Estado en otros niveles territoriales, así como favorecer la descentralización. 6. En estos años se ha avanzado en la articulación de redes nacionales y en la Plataforma Internacional por los PPs como espacio de encuentro e intercambio. Consideramos positivo promover la constitución de nuevas redes nacionales, fortalecer las actuales y ampliar las capacidades de esta Plataforma Internacional, constituyéndola en un instrumento útil para los actores locales y un referente para el diálogo y la incidencia con organismos nacionales e internacionales. FIRMANTES: 1.Alcaldía Mayor de Bogotá. 2. Red Colombiana de Planeación local y Presupuestos Participativos. 3. Nodos Regionales de Antioquia, Bogotá, Magdalena Medio, Pasto, Risaralda y Santander (red Colombiana). 4. Corporación Viva la Ciudadanía (Secretaría Técnica Red Colombiana). 5. Rede Brasileira de Orçamento Participativo. 6 .Red Argentina de Presupuestos Participativos.7.Municipio de Cuenca (Ecuador). 8. COPEVI (México). 9. Delegación de Itzapalapa (México DF).10. Asociación Ciudad Sur (Chile). 11. Dirección General de Descentralización del Gobierno de Cabo Verde. 12. Ville de Bobigny (Francia). 13. Rede Orçamento Participativo Portugal. 14 Asociación In-Loco (Portugal). 15. Red Española por los Presupuestos Participativos. 16. Fondo Andaluz de Municipios por la Solidaridad Internacional (España).17. Red FAL.” Estos puntos pueden servir de indicadores de seguimiento de la participación, pues ya están testados en muchos municipios latinos y europeos, y responden a los problemas que se han venido encontrando en los más de 25 años que se llevan experimentando con los muy diversos presupuestos participativos en todo el mundo. Varios colectivos ya nos advierten de cuáles son los puntos débiles, en donde están los retos para avanzar en las escaleras de participación, como en PARLOCAL (ALLEGRETTI, LEIVA & YÁÑEZ, 2011), In-Loco (DIAS, 2013), o en Villasante, Canales, Duarte, Palacios, e 171

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Opazo (2012) se llama Presupuestos participativos a muy distintas formas de implicar a la ciudadanía y no todas son capaces de cumplir con estos puntos citados. Aparte de los Presupuestos Participativos, hay Planes Comunitarios en muchas ciudades y comarcas rurales, hay Agendas Locales 21 con gran participación de la gente, hay iniciativas de Consultas Populares, y sobre todo hay movimientos sociales que están siempre renovando las formas de participación de acuerdo con los retos que perciben. Pero aún se puede avanzar en la escalera, pues hay experiencias suficientes en todas las partes del mundo, que nos demuestran que existen democracias participativas construidas desde las iniciativas de base. No es este el lugar para explicar los casos de Kerala (PINTO & VILLASANTE, 2011), Chengdu (CABANNE, 2013), con millones de habitantes, o los casos de ciudades más pequeñas en toda América Latina o Europa. Tanto a pequeña escala como en grandes ciudades o algunas regiones hay sistemas consolidados de cogestión y/o autogestión desde las iniciativas de base, o sea, lo que llamamos más propiamente Democracias de Iniciativas. No tiene por qué ser incompatible ejercer la auto-gestión en algunos ámbitos y la co-gestión en otros, de forma articulada en un municipio o en una región. Cuando se ha experimentado unos cuantos años con las metodologías participativas de manera sistemática se crean hábitos en la población, por lo que retroceder a formas solo consultivas o solo representativas parece un contrasentido para la gente, es la importancia “pedagógica” de los procesos participativos. Para avanzar en los sistemas de participación social además se puede implicar a la gente con proyectos de largo alcance y contenido transformador. Para ello las metodologías han de estar orientadas hacia la Planificación a varios años, tal como la Planificación Estratégica Situacional de Carlos Matus (2011), o la Planificación Participativa que tratamos de implementar en CIMAS (http://www.redcimas.org), ACORDES, etc. Para encontrar la forma de que la gente, las metodologías participativas y las planificaciones se encuentren presentamos este cuadro orientativo. En el se ven sistemas de planificación que se van acercando a los intereses de la gente, bajando su escalera. Y de la escalera de participación también se puede subir a encontrarse con la Planificación Participativa, desde las iniciativas de la sociedad.

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Resumiendo Siempre se está participando, aun cuando no se sea consciente, pero hay factores que potencian la participación en una dirección social y otros que la inhiben, o que incluso la plantean como engañosa. Las iniciativas de base hacen proliferar la creatividad ante los nuevos problemas, por eso se ha de estar atentos a ellas. Hay muchas iniciativas de creatividad social construyendo nuevas formas de organizarnos y de convivir. Las instituciones públicas y las organizaciones sin ánimo de lucro deberían apoyarlas y facilitar la confluencia. Porque también hay tendencias “piramidales” que ahogan la vida de las iniciativas. Las crisis que vivimos pueden ser ocasiones para soluciones muy diversas. No hay que olvidar las tensiones que impone la “pirámide” en sus distintos ámbitos, y entre ellos, pues es el marco en que nos estamos moviendo y que nos condiciona. Pero también debemos escuchar los “manglares” que van emergiendo y encontrando sus caminos propios. Debemos tener sistemas de auto-evaluación del “convivir mejorable” al que aspiramos. Se puede medir el avance o retroceso en cada “mejor convivir”, pero con indicadores propios, construidos participadamente. Cabe desbordar los “equivalentes generales de valor” con que nos quieren encerrar en cada contexto, con otras propuestas que concretan una buena vida y convivencia. Más allá de las democracias elitistas, así mismo se puede medir la participación democrática, según varios criterios, que puede ir desde una gobernanza representativa consultiva, hasta un control ciudadano de los electos, hasta una democracia de iniciativas de la gente, desde su propia vida cotidiana y con planes transformadores.

Referencias Allegretti, G.; Leiva, P. G & Yáñez, P. P. (2011). Viajando por los presupuestos participativos: buenas prácticas, obstáculos y aprendizajes. Málaga: PARLOCAL. Cabannes, Y. (2013). The Bartlett Development Planning Unit, ... process in the rural villages and communities of the city of Chengdu in China between 2009 and 2012. Participatory budgeting at scale and bridging the rural ... eau.sagepub.com/content/ 26/1/257.abstract . Capra, F. (1998). La trama de la vida. Barcelona: Anagrama.

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Villasante, T. R., Canales, M., Duarte, K. Palacios, S. F., & Opazo, A. (2012). Construyendo democracias y metodologías desde el Sur. Santiago de Chile: LOM.

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Epílogo Para Avanzar con las Metodologías Participativas, Usando la “Socio-Praxis” Tomás R. Villasante

Desde hace 40 años la Investigación Acción Participativa se ha ido transformando en una variedad de propuestas en muchas campos de la investigación y de a acción social, y ha aprendido de numerosas experiencias populares y de profesionales. Para empezar hasta el Congreso de Cartagena de 1977, y luego hasta el Congreso de 1997, se paso de una IAP basada en la teología de la liberación y de algunos marxismos más creativos al principio, a una pluralidad de posiciones innovadoras y más complejas. Desde una visión más lineal, voluntarista y determinista de la historia, donde “el pueblo siempre tiene razón” y “el pueblo hace ciencia”, hasta que en el Congreso de Cartagena del 1997 ya mostramos muchas otras de las nuevas perspectivas que se cruzaban. Las renovadas metodologías participativas también se han enriquecido con otros puntos de partida, con muchas teorías y metodologías que han venido a converger desde un fondo común muy cercano, un enfoque epistemológico (un “para qué” y un “para quién”) que las permite constituir una familia de propuestas metodológicas diversas pero con unas finalidades semejantes para la transformación social y desde la construcción colectiva de la acción y el conocimiento. En el caso de la red CIMAS hemos podido construir desde 15 enfoques de los que hemos aprendido y que se han ido articulando en nuestras prácticas. En unos primeros momentos partíamos de la conjunción entre las “filosofías de la praxis” de A. Gramsci o Sánchez Vázquez, y de las IAP de Fals Borda, Rodrigues Brandão, etc. Pero también en Europa del “socio-análisis institucional” de Lourau, Guattari, etc. Más tarde aprendimos de los enfoques

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de la “complejidad y los sistemas emergentes” de Maturana, Varela, etc. o los “análisis de redes” de Elias, Lomnitz, Dabas, etc., o los “tetralemas” de Ibáñez y los “pentalemas transcend” de Galtung. Además se iban sumando otros aportes que iban confluyendo, como la teoría del vínculo y ECRO (esquemas conceptuales relacionales y operativos) de Pichon-Rivière, el DRP (diagnostico rural participativo) de Chambers, y la agro-ecología de Altieri, o la Planificación Estratégica Situacional de Matus que han sido aportes con los que seguir aprendiendo sus lógicas de fondo y técnicas concretas. Seguimos aprendiendo de la “educación popular liberadora” de P. Freire, que se ha ido renovando con Carlos Nuñez y tantos otros, el “eco-feminismo” de Vandana Shiva nos ha traído a la democracia de la vida cotidiana anti-patriarcal y por la vida, o de Arturo Escobar o Boaventura S. Santos que nos han aportado nuevos enfoques “decoloniales”. Incluso también de los más recientes movimientos de jóvenes indignados en el sur de Europa, Brasil o China, nos están desbordando para un pensar más allá de los antiguos paradigmas. A esta articulación la venimos llamando socio-praxis, tal como los autores de este libro también la han dado en nombrar. En lo que llamamos nuestra propuesta de socio-praxis hemos ido construyendo, al menos, unos 6 saltos que nos diferencian en algunos aspectos metodológicos dentro de las metodologías participativas, por lo que creemos que se pueden superar prácticas de la IAP que se quedan en formas más voluntaristas. 1.- La “auto-reflexividad” de los “grupos motores” que desde que comienza un proceso parece necesaria, para no sesgar desde el principio lo que se va a construir con la población. 2.- Que los “mapeos de actores” incorporen variables de clase social y de posiciones ideológicas, de capacidad organizativa y de vínculos para los “conjuntos de acción” y no ser un simple listado de entidades. 3.- Preparar las “devoluciones” no como “difusión”, sino como “talleres de creatividad social” (deconstruyendo y reconstruyendo con los pentalemas, flujogramas, etc). 4.- Articular las propuestas con una Ideafuerza integradora, y “mesas de trabajo” mixtas, de ciudadanía y técnicos, que reelaboran las primeras demandas. 5.- Organizar sistemas de toma de decisiones con “democracias de iniciativas de base”, con liderazgos compartidos y rotativos, y no tanto de los “representantes” de las bases. 6.- Aceptar y preveer los “desbordes reversivos” tanto de los acontecimientos no previstos, como de las propias dinámicas de los movimientos, con evaluaciones y monitoreos adecuados. 178

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Hemos podido constatar también en este libro, con la variedad de experiencias que se muestran en muy diversos campos, que estas metodologías sirven para la construcción colectiva del conocimiento y de la acción. Además (de forma más personal) he podido aprender tanto de la Planificación Descentralizada del Estado de Kerala (32 millones de habitantes) que se viene haciendo desde 1996, o en pueblos muy pequeños y barrios de ciudades españolas. Tuvimos la oportunidad de avanzar con Presupuestos Participativos en Sevilla (2003-2008) y otros municipios; o con el MINSAL en Chile (20089) para los planes participativos de salud en todas sus regiones; también con un Plan Estratégico Situacional de una Cooperativa de Ahorro y Crédito (J. Azuayo, 2011-12) en Ecuador. Aprender de cada experiencia vivida es tan importante como reflexionar sobre el estilo y enfoque que aplicamos, pero siempre mirando a la “transducción”, al salto en el hacer y conocer, que nos confirma que avanzamos con la gente, con los sectores implicados a quienes acompañamos. Si personalmente o grupalmente no aprendemos de un proceso es que seguramente no esta bien construido colectivamente, y deberíamos preguntarnos si algo está fallando, pues las metodologías participativas no nacieron para repetir los esquemas previos, sino para construir creatividad social. Partiendo de todas estas bases, lo que nos parece más importante de los últimos años es que estamos viendo crecer una nueva generación popular, y de estudiantes y jóvenes profesionales, muy interesados en renovar las metodologías participativas y con una gran creatividad colectiva tanto en América latina como en otras partes del mundo. Si a finales de los años 60 nuestra generación vivió una oleada de movimientos que vinieron a renovar el pensamiento y las formas de las ciencias sociales, en este principio de siglo también se puede ver una generación en todo el mundo que está renovando las formas de hacer y de pensar. Sin duda esto nos anima a seguir construyendo metodologías de tipo participativo, cada vez con más conocimientos y con nuevas aportaciones para las ciencias sociales y para los sectores populares. Este libro puede servir entonces para debatir con otras personas y propuestas metodológicas, a fin de que siga avanzando el conocimiento y la acción que pretendemos construir colectivamente.

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