Documentário Interativo - Estudo sobre o uso de técnicas transmidiáticas na linguagem documental

June 23, 2017 | Autor: Gustavo Bissoli | Categoria: Web 2.0, Video Games, Documentary Film, Transmedia Storytelling
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Universidade Federal de São Carlos Departamento de Artes e Comunicação Imagem e Som

Documentário Interativo Estudo sobre o uso de técnicas transmidiáticas na linguagem documental

Gustavo Bissoli 583430 Lucas Toledo 583049 Luiz Ricardo Ribeiro 553743 Rafael César Ramos 583197 Rafael Gonçalves 583065

Documentário Professor Alessandro Gamo

São Carlos Junho de 2015

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 2 2 TRANSMEDIA STORYTELLING.................................................................................................. 4 3 DOCUMENTÁRIO TRANSMÍDIA. ............................................................................................... 3 4 DOCUMENTÁRIO WEB ................................................................................................................. 5 4.1 ONE MILLIONTH TOWER .......................................................................................................... 6 4.2 INSIDE THE HAITI EARTHQUAKE ......................................................................................... 6 4.2 UNIVERSE WITHIN ................................................................................................................... 7 5 NEVER ALONE................................................................................................................................. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E FILMOGRÁFICAS ....................................................... 10

1. Introdução: O Documentário Interativo Um documentário é considerado interativo quando a interatividade é um elemento central em suas formas de difusão, ou seja, o espectador possui o poder de alterar e interagir com o conteúdo que está sendo transmitido. Para que isso se tornasse possível, foram necessárias novas ferramentas de criação e transmissão, como os meios digitais e a Internet. Segundo Julia Salles, os tipos de interatividade dos documentários podem ser divididos em quatro categorias: hipertextual, conversacional, participativo e experiencial. O modelo Hipertextual propõe que o espectador navegue por uma série de conteúdos disponibilizados pelo realizador. Por exemplo, uma tela disponibiliza uma variedade de ícones para a pessoa clicar naquele que mais a interessa, e dessa forma acessar o conteúdo que se relaciona a esse assunto. Além disso, podem surgir informações adicionais na tela, que complementam as informações e geram interesse pelos outros ícones disponíveis. Dessa forma, o espectador interage com a obra criando uma ordem de exibição personalizada. No Conversacional, o espectador interage de fato com o conteúdo, com a possibilidade de modifica-lo. Esse tipo de modelo, geralmente carrega muitos traços dos jogos eletrônicos e permite que o espectador interaja com o conteúdo através de um personagem virtual em um ambiente preparado para ser 100% interativo, além disso, o autor pode propor uma série de objetivos ao espectador para garantir que o conteúdo seja de fato transmitido. Graças a esse tipo de modelo, o nível de interatividade cresce exponencialmente, permitindo que o espectador use sua criatividade para interagir com o cenário. No modelo Participativo o autor estabelece as ferramentas e regras para criação de conteúdo e a partir delas cria as primeiras peças, que servem de exemplo para os espectadores, que mais tarde criarão o conteúdo complementar. Dessa forma, o documentário participativo está em constante expansão. E o modelo experiencial, que traz ao espectador uma experiência real, ligada ao mundo físico. Um exemplo seria um documentário que se utiliza de mapas ou GPS para que o espectador possa seguir um determinado percurso no espaço físico, mas usa

os meios digitais para acrescentar informação e conteúdo ao espectador. Esse tipo de documentário é interessante, pois rompe a barreira que separa fisicamente o espectador do assunto tratado e o coloca em meio a uma experiência real. Esses quatro modelos apresentam peculiaridades que transformam o documentário interativo em uma alternativa muito interessante em comparação ao documentário linear. Ao permitir que o espectador interaja com a obra, o documentarista acaba criando interesse e curiosidade no espectador e também possibilita que um possível desejo do espectador de contribuir com a obra seja saciado.

2. Transmedia Storytelling Em sua essência, Transmedia Storytelling é a técnica onde se pega uma narrativa e a fragmenta por diversos meios, tendo como finalidade, a criação de um ambiente imersivo e virtualizado. As diversas mídias envolvidas atuam de forma complementar e não redundante com intuito de oferecer uma experiência única que explore as potencialidades do meio em questão. Diferente das franquias, processo comercial que visa estender a narrativa muitas vezes de forma redundante ou mesmo idêntica - buscando meramente um maior alcance de público e/ou retorno financeiro, na transmídia a história se difunde de forma complementar. Outra especificidade da técnica é o papel mais ativo por parte do espectador, que diante de tal complexidade narrativa, deve unir os pontos para conseguir compreender o todo que lhe é apresentado e muitas vezes deve se deslocar entre dispositivos para fazer a coleta dessas fatias de informação. A técnica vem amplamente sendo utilizada na ficção, como é o caso da Marvel por exemplo, que criou todo um universo que transcendeu os quadrinhos e hoje transita por livros, filmes de longa metragem com atores reais e curtas de animação, bem como jogos eletrônicos e aplicativos para celular. Quanto às obras não ficcionais, apesar da da produção ser ainda escassa, já começam surgir interessantes peças audiovisuais que se apropriam desses recursos de transmidialidade como por exemplo em Never Alone que mescla jogo com documentário para transmitir a cultura dos povos nativos do Alasca, e também em A Journal of Insomnia onde o espectador por meio da internet e do celular, é inserido na rotina da insone Sarah e seu drama noturno.

Por meio da transmídia, a narrativa não-ficcional encontrou um forte aliado na impressão de realidade e imersão do espectador, o que combina muito bem por exemplo com realidades complexas como as retratadas em etnografias. Nesse caso o espectador é convidado a vivenciar a cultura e não apenas observá-la através do olhar do documentarista. Essa ocultação do mediador, ao mesmo tempo que se constitui num avanço quanto ao registro da realidade, ressuscita os mesmos questionamentos éticos da época do documentário direto e do cinema verdade, afinal a peça transmidiática permeia o espectador e o bombardeia com a suposta verdade de todos os lados. A informação passa a ser adquirida através da observação e no caso dos videogames, dá própria interação do individuo com o meio, driblando nossos mecanismos de incredulidade.

3. Documentário transmídia Analisando de forma rude, os documentários transmídia existiam antes mesmo dos documentários convencionais em película. Essa categoria era exibida em exposições foto-documentais do século XIX onde o autor oferecia além das fotografias em si, a reconstrução de cenários semelhantes aos da expedição onde foram captadas. Elas contavam com manequins mostrando as roupas, alimentação e os costumes de seus atores sociais além de em alguns casos, até os perfumes do lugar. Era realizada toda uma performance para reviver o que foi presenciado e registrado pelas imagens estáticas das fotografias, se constituindo enquanto forma de entretenimento transmidiático. Com a tecnologia de hoje, esses documentários em formato de experiência tem se solidificado em formatos virtuais que oferecem informações sobre o objeto retratado de forma interativa, transformando os espectadores em coautores do recorte final, podendo escolher ao menos a ordem dos fragmentos apresentados. Um exemplo são os jogos eletrônicos Never Alone e Valiant Hearts, que expõe fatos históricos reais atrelados a puzzles interativos. Através dessa forma documental procura-se elevar os documentários à uma linguagem que tenha poder de emancipação social e cultural através de sua fácil propagação através da multiplicidade de plataformas. O documentário transmídia é ainda uma experimentação, mas já conta com representações como a série criada pela National Geographic para seu website. Em sua obra pioneira, The Green House Effect, foi adotado uma formato semelhante às exposições de expedições de aventura realizadas

no passado. Com o auxílio da internet servindo como espaço de exposição, o conteúdo exposto é construído de forma a revelar caminhos a serem percorridos de maneira digital, hipertextual. O site conta com fotos e documento que complementam o documentário televisivo, construindo cognitivamente uma narrativa híbrida que exige do espectador a transição entre as mídias para obter clareza sobre todas as facetas reveladas pela peça. Outro exemplo pioneiro é o documentário galego-português realizado especialmente para o desenvolvimento dessa ideia de documentário transmídia feito por Denis Renó. Nele nos é apresentado como conteúdo à relação entre as culturas galega e portuguesa, bem como a história e a geografia dos lugares habitados por esses povos. O documentário se dá por meio de um aplicativo de celular onde o usuário escolhe qual conteúdo quer conhecer. Contando com vídeo, um acervo de fotos, dois mapas com informações geopolíticas sobre a região, tanto atualmente como no período em que parte de Portugal pertenceu ao então Reino da Galícia. Também são oferecidas páginas na web com links que levam à informações gerais sobre Portugal e Galícia, entrevistas em áudio e músicas típicas. No documentário transmídia, o conteúdo oferecido pode se dar de forma complementar e ao mesmo tempo independente ou no formato exclusivamente complementar. Por exemplo, a obra pode fornecer um material linear e a possibilidade de aprofundar o tema em outro meio ou pode fragmentar o texto original de tal forma que fica impossível ao usuário médio dar coesão em um dos elementos isolados. Assim essa nova linguagem, mais que um produto informativo, possibilita a participação do usuário que seleciona e organiza o conteúdo consumido e por meio das redes sociais, é capaz de se tornar o próprio propagador de conteúdo. Permitindo a esse cidadão um papel mais ativo na sociedade e em suas transformações.

4. Documentário Web Os video games tem adquirido o potencial de criar simulações cada vez mais sofisticadas da realidade graças às novas tecnologias. O rápido crescimento da indústria permitiu o surgimento de diversos nichos de gêneros, e dentre eles, existe o campo dos

documentários interativos criados para web, que abrem novas possibilidades para a educação e também para o entretenimento.

4.1.

One Millionth Tower

One Millionth Tower é um documentário interativo criado para web que reimagina como poderiam ser os prédios de nossas cidades se fossem criados de maneira sustentável. Para isso, os realizadores do documentário contaram com a ajuda de diversos designers e arquitetos, para recriar o espaço urbano de um subúrbio de Toronto, no Canadá. O resultado é uma história que pode ser assistida através de um cenário virtual em 3D, no qual o espectador pode andar pelo cenário escolhendo paisagens e assistindo como essas paisagens poderiam ser se tivessem sido criadas por designers e arquitetos socialmente responsáveis. Isso é feito através de animações que se sobrepõem as imagens reais, facilitando a ilustração de como os problemas poderiam ser solucionados. O projeto é uma união entre moradores, arquitetos, documentaristas e animadores, todos juntos tentando re-imaginar os espaços do bairro em que moram. Mas o documentário também deixa claro que as soluções apresentadas aqui podem ser aplicadas em todo o mundo, pois prédios deteriorados; separação dos moradores para com o centro; pouco acesso a serviços sociais; pouco acesso ao transporte; pouco espaço de lazer, e mais todos os outros problemas sofridos pela população urbana no mundo podem ser solucionados, “basta um pouco de imaginação”, como os criadores dizem no site oficial.

4.2.

Inside the Haiti Earthquake

Inside the Haiti Earthquake é uma simulação que permite ao usuário ter a experiência de como foi lidar com as consequências do terremoto que atingiu o Haiti no ano de 2010. O usuário pode assumir o ponto de vista de um médico, um sobrevivente e um jornalista. O usuário escolhe um desses personagens, e a partir disso começa a tomar escolhas oferecidas pelo jogo, o que faz com que cada usuário tenha para si sua versão

da história narrada. A experiência interativa combina filmagens originais, fotografias, músicas e histórias reais do Haiti. O documentário interativo foi baseado no documentário Inside Disaster, de Nicolas Jolliet. O material então foi reeditado e reorganizado através de um roteiro criado pelos realizadores. A ficcionalização dos acontecidos tem propósitos educacionais, e nada do que é contado do filmesão fatos reais, mas as fotografias e filmagens do local continuam sendo reais, funcionando para ilustrar a história de ficção do jogo. A desenvolvedora Nicole Chung e o designer gráfico Peter Henderson criaram então uma simulação única no campo audiovisual, permitindo que qualquer pessoa possa ter uma visualização documental de como foi o trauma pós-terremoto sofrido pelas pessoas no Haiti, tudo isso através de imagens reais que podem ser consumidas através de um jogo interativo desenvolvido para web.

4.3.

Universe Within

Universe Within é um documentário interativo que busca revelar a importância da vida digital de diferentes pessoas ao redor do mundo. De Guangzhou para Mumbai até New York, o documentário usa depoimentos e imagens de pessoas que de algum modo fizeram a diferença no mundo utilizando meios digitais. Logo de início, o usuário é apresentado a um universo em 3D, onde deve escolher seu guia pelo jogo, e através desse guia o usuário pode escolher diferentes histórias para assistir. Utilizando elementos dos documentários, da ficção, fotografia, filme e da webGL, Universe Within busca levantar questões sobre ética, emoções e empatia em nosso mundo digital.

5. Never Alone (Estudo de Caso) Never alone, também conhecido como Kisima Ingitchuna, é um jogo de plataforma com elementos de quebra-cabeças desenvolvido para PC e consoles. Seu

enredo gira em torno das aventuras de uma garota chamada Nuna, que vive em uma comunidade indígena ao norte do Alasca, os Iñupiat. Nuna deve solucionar o mistério de uma nevasca sem fim, que colocou seu povo em perigo. Com a ajuda da raposa, que tem poder de falar com espíritos e entidades do bem, Nuna passa por aldeias devastadas e criaturas fantásticas, seguindo até o topo do mundo. A história utiliza o formato de unipkaaq, ou seja, modelo narrativo desse povo. O jogo é cooperativo, mas não por acaso, mas sim para afirmar um dos principais lemas da tribo, que também é o seu título: quando você é Iñuipiat, você nunca está sozinho (never alone). Cada momento do jogo depende exclusivamente da habilidade de um dos dois protagonistas, obrigando o jogar a aprender a trabalhar em equipe para então superar os desafios, enfatizando a relação de amizade entre os dois personagens. A ideia do jogo nasceu de uma parceria entre a Cook Inlet Tribal Council, organização sem fins lucrativos que atua com tribos no Alasca, e a companhia de jogos educacionais E-Line Media, que levou o projeto até a produtora de jogos Upper One Games. Com a atuação direta da organização com os nativos, a empresa conseguiu uma posição realista e autentica no enredo, baseando-se corretamente na crença e superstições dos Iñupiat. A criação do jogo foi o modo definitivo de espalhar a cultura e as histórias tradicionais dessa tribo por intermédio de uma mídia que atuasse diretamente com a juventude de outras partes do mundo. Para afirmar isso e fabricar originalidade em relação a outros jogos de plataforma, os autores decidiram criar todos os diálogos do jogo em sua língua nativa. Periodicamente e de acordo com as escolhas tomadas pelo jogador, o jogo revela pequenos acertos de um documentário inserido no jogo. São trechos com nativos contando suas histórias, para sustentar os fatos que o jogo tinha apresentando sobre suas tradições e folclores. É interessante citar que esse foi o primeiro jogo a utilizar um mestre aldeão para contar a história de sua tribo, que nos vídeos explica a lenda que originou o jogo: a história de Kunuuksaayuka. Esses trechos são realmente importantes para a construção narrativa, pois dialogam diretamente com os acontecimentos do jogo, ou seja: se a menina encontra um

ser fantástico ou um lugar místico, no próximo vídeo seria contado um pouco mais a respeito. Sendo assim, a experiência de jogar só é completa quando acompanhada do documentário. Essa manobra intermidiática é o fator mais efetivo, quanto a ideia dos criadores de atrair atenção de outras culturas para as tradições e costumes dessa comunidade no Alasca.

Filmografia e referências bibliográficas

A) Filmografia A JOURNAL OF INSOMNIA. Direção: Thibaut Duverneix, Bruno Choinière, Philippe Lambert, Guillaume Braun. Canada: 2013. Título original: A Journal of Insomnia.

B) Referências em meios eletrônicos (websites consultados) http://henryjenkins.org/2011/08/defining_transmedia_further_re.html (acesso em: 20/06/15) http://ijoc.org/index.php/ijoc/article/download/477/336 (acesso em: 20/06/15) http://www.eurogamer.net/articles/2014-11-20-never-alone (acesso em: 20/06/15) http://universewithin.nfb.ca/ (acesso em: 20/06/15) http://www.insidedisaster.com/experience/ (acesso em: 19/06/15) http://highrise.nfb.ca/onemillionthtower (acesso em: 18/06/15) http://www.socine.org.br/rebeca/pdf/DOSSIE_3_Julia%20Salles_final.pdf (acesso em: 18/06/15)

C) Artigos, livros e periódicos NETO, Milton da Silva. Convergência: Plataformas, conteúdos e a tecnologia para o novo espectado e os novos formatos de narrativa, São Paulo: Universidade Anhembi Morumbi, 2011. RENÓ, Denis. Interfaces e linguagens para o documentário transmídia, São Paulo: Universidade Metodista de São Paulo, 2013. SALLES, Julia. Agenciamento e indeterminação: conceitos para um estudo do documentário interativo. In: Revista Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual, Dezembro 2014. SCOLARI,

Carlos

Alberto.

Universitat de Vic, 2009.

Transmedia

Storytelling,

Catalunha:

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