Dois séculos de faiança portuguesa

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Dois séculos de faiança portuguesa Edgar Vigário Junho 2017 Resumo Um guia da faiança portuguesa dos séculos XVIII e XIX indexado cronologicamente pela região de produção. 1

Figura 1: Prato de postas; faiança; atribuído à Fábrica da Bandeira; séc. XIX; d: 41 cm.

Introdução A produção de faiança no último terço do século XVIII foi caracterizada pelo aparecimento de unidades industrializadas que seguiam o modelo produtivo francês [Casimiro 2013], contudo, nos inícios do século XIX as invasões francesas e as guerras liberais infligiram lhes um rude golpe tendo muitas delas sido encerradas. Assim só na segunda metade do século XIX houve um recrudescimento na produção de faiança, ditado maioritariamente pelos mesmos grémios do século anterior mas com o aparecimento das Caldas da Rainha, um novo centro que modificou drasticamente o gosto português nos cem anos seguintes. Índice

Fábrica da Bandeira (1835 - 191?)

12

Porto e Gaia

Fábrica do Alto da Fontinha (1837 - ?)

12

2

Fábrica das Palhacinhas (1837 – 1876?)

12

5

Fábrica do Carvalhinho (1840 - 1974)

13

6

Fábrica da Torrinha (1844 - 191?)

13

8

Fábrica do Choupelo (1852 - ?)

14

Fábrica da Afurada (1789 - 1872)

9

Fábrica do Senhor d’Além (1856/1861 - 191?)

14

Fábrica da Rasa (1806 - ?)

10

Fábrica das Devesas (1865 - 198?)

15

Fábrica das Regadas (1811 - ?)

10

Fábrica de Pereira Valente (1884 – 196?)

16

Fábrica de Fervença (1824 - 1857)

10

Fábrica do Monte Cavaco (1824 - 195?)

11

Real Fábrica de Louça ao Rato (1767 - 1832)

17

Fábrica da Rua do Sol (183? – 188?)

12

Fábrica da Travessa dos Ladrões (1769 - ?)

21

Fábrica de Massarelos (1764 - 1936) Fábrica de Miragaia (1775 - 1852) Fábricas do Cavaquinho (1780 - 190?) Fábrica Santo António Vale de Piedade (1785 - 193?)

Lisboa

Fábrica de Belas (1772 - ?)

21

Fábrica Darque, Fábrica de Viana (1774 - 1850)

31

Fábrica de Louça da Calçada do Monte (1793 - ?)

22

Fábrica da Cabana (1820 - 184?)

32

Fábrica do Castelo Picão (1794 - ?)

22

Fábrica de Martins Ruas (1846 - 1854)

33

Real Fábrica da Bica do Sapato (1796 - 1820)

23

Fábrica de Vilar de Mouros (1855 - 1905)

33

Fábrica da Calçada dos Cesteiros (1833 - 1930)

23

Fábrica Constância (1836 - 198?)

24

Fábrica do Cojo (1774 - 1907)

33

Fábrica Viúva Lamego (1849)

25

Fábrica de Louça da Fonte Nova (1882 - 1937)

34

Real Fábrica de Louça de Sacavém (1850 - 1983)

26

Fábrica da Viúva José Dias (1860)

26

Oficina de Maria dos Cacos (1820 - 1853)

36

Fábrica do Ratinho (1872 - 1874)

27

Oficina de Manuel Cipriano Gomes (1853 - 1905)

36

Fábrica de Alcântara (1885 - 1935)

27

Oficina de José Francisco de Sousa (1860 - 1907)

37

Fábrica de Louça do Desterro (1889 - 192?)

27

Oficina de José Alves da Cunha (1862 - 1901)

37

Oficina de Francisco Gomes de Avelar (1875 - 1897)

37

Alcobaça

Aveiro

Caldas da Rainha

Real Fábrica do Juncal (1770 - 1870)

28

Oficina de João Coelho César (1876 - 1902)

38

Fábrica de José dos Reis (1875- 1897)

28

Fábrica Faianças das Caldas da Rainha (1885 - 1912)

38

Coimbra

Oficina de António Alves da Cunha (1890-1925)

39

Fábrica de Manuel da Costa Brioso (1779 - 179?)

29

Atelier Cerâmico (1892 - 1896)

39

Fábrica do Rossio de Santa Clara (1784 - 1799)

29

Oficina de Avelino Soares Belo (1894 - 1927)

39

Oficina de Herculano Elias (1900 - 1939)

40

Estremoz Fábrica de Estremoz (1773 - 1808)

31

Referências

40

Viana do Castelo

Porto e Gaia O centro inaugural e um dos mais ativos no século XVIII devido sobretudo ao impulso dado por quatro fábricas: Massarelos; Miragaia; Cavaquinho e Santo António do Vale da Piedade, foi na primeira metade do século XIX claramente dominado pelas personalidades dos Francisco Rocha Soares, pai e filho1. Esta família, proprietária da Fábrica de Miragaia, alterou radicalmente o panorama regional alugando muitas das fábricas concorrentes e estabelecendo depósitos de venda comuns com as demais tendo nas primeiras décadas do século XIX quase obtido o monopólio da produção na região. Com as transformações introduzidas pelos liberais em 1834, tais como a extinção da Junta de Comércio2, as fábricas começaram a ser confrontadas com um ambiente fortemente competitivo que conduziu à extinção de muitas delas. Assim, das muitas que foram criadas após as guerras liberais somente cinco assistiram à viragem do século: Monte Cavaco; Bandeira; Carvalhinho; Torrinha e Senhor d'Além, facto que pode ser explicado pelo mau modo em como estas fábricas eram instaladas, com um investimento baixo e muitas das vezes localizadas em lugares inapropriados a laboração, como as ruinas de conventos e igrejas ou casas residenciais [Soeiro et al. 1995]. Esta realidade foi aproveitada pela família Nunes da Cunha que se tornou proprietária de diversas fábricas3 na região e foi responsável pelo estabelecimento de parcerias com a concorrência para a aquisição de matérias-primas. Fábrica de Massarelos (1764 - 1936) A primeira fábrica a ser instalada no país foi fundada em 1764 por Manuel Duarte Silva tendo-se mantido em atividade durante mais de 150 anos [Barbosa 2017]. A sua instalação junto ao rio é confirmada num inventário de 1774 dispondo a fábrica em 1804 de várias rodas cujo produto era vendido em Portugal, Galiza, Angola e América [Porto 2017]. Após a morte do fundador a fábrica ficou na posse dos herdeiros até à segunda década do século XIX quando foi alugada à família Rocha Soares. A sua produção é habitualmente dividida em cinco períodos caracterizados pelas cores e técnicas de fabrico utilizadas. No primeiro período, entre 1766 e 1819, a decoração utilizava sobretudo motivos vegetalistas coloridos a azul, verde, amarelo e vinoso. Durante este período destaca-se a passagem do mestre Sebastião José da Silva4, onde marcou diversas peças com as iniciais S I Sª, após ter deixado o lugar de contramestre da Real Fábrica de Louça em 1772 e antes do seu ingresso na Real Fábrica do Cavaquinho em 1780 e a presença do mestre Domingos José da Cruz que iniciou a atividade na fábrica em 1779 e aí

Ambos liberais convictos, tendo Rocha Soares filho participado ativamente nas guerras liberais ao comando duma milícia constituída pelos trabalhadores e proprietários das olarias e fábricas de faiança da região. 2 Na altura o organismo regulador da atividade industrial em Portugal que estabelecia privilégios e concessões exclusivas. 3 As fábricas de Carvalhinho, Cavaquinho e Monte Cavaco. 4 Residente na Praia de Massarelos entre 1772 e 1786 [Barbosa 2017]. 1

2

permaneceu pelo menos até 1813 caracterizando-se a sua produção pela simplicidade da modelação e decoração, a utilização de pastas de tom amarelado e a presença de esmaltes mais finos e claros [Barbosa 2017].

3

Figura 2: Fragmentos de peças da Fábrica de Massarelos retirados durante intervenção arqueológica; © [Barbosa 2017]. a) produção atribuível ao mestre Sebastião José da Silva; 1772 - 1779. b) produção atribuível ao mestre Domingos José da Cruz; 1779 - 1813. c) produção atribuível à primeira metade do séc. XIX d) produção atribuível à segunda metade do séc. XIX.

Também a utilização de diferentes marcas de fabrico durante este período induziu Queiroz a acreditar na existência de uma outra fábrica, a Fábrica Nacional, sob a qual escreveu [Queiroz 1907]: “… O carácter das peças levam-nos a concluir que a Fabrica Nacional tal como Massarelos antecede o Rato no mínimo numa dozena de anos. Referem-se duas travessas... que deviam ter sido expressamente fabricadas para o Marquês de Pombal , porque ambas - do mesmo tipo - tem pintadas nas abas as armas dos Condes de Oeiras e ambas estão marcadas... Tal como a Real Fábrica do Rato influenciou as outras fábricas em Lisboa, também a Fábrica Nacional produziu a sua influência benéfica no Porto…”5.

No segundo a decoração era muito semelhante à da Fábrica de Miragaia a cujos donos estava alugada. Durante o terceiro período, ocorrido entre 1833 e 18736 foi introduzido o processo de estampagem7 sendo a decoração centrada em motivos florais e vegetalistas com o fundo das peças preenchido por linhas concêntricas, flores ou folhagem embora também surjam desenhos figurativos [Barbosa 2017]. A palete de cores enriqueceu predominando o laranja, verde, azul e roxo com o amarelo a ser utilizado no realce dos desenhos e o vinoso na ligação dos diferentes elementos e nos acabamentos mais delicados [Barbosa 2017]. Nesta altura a sociedade Silva Guimarães e Irmãs constituída pelos filhos de Manuel Duarte Silva explorava a fábrica [Porto 2017].

Figura 3: Fábrica de Massarelos. a) Terrina; faiança; séc. XVIII; © Leiloeira Palácio Correio Velho. b) Caneca; faiança; 1775 - 1800; © DGPC. c) Marcas: c.a) 1772-1780 c.b) 1764-1800 c.c) 1764-1800 c.d) 1763-1782 c.e) 1763 -1800 c.f) 1850 -1900.

Figura 4: Diversos azulejos da Fábrica de Massarelos; segunda metade do séc. XIX; © DGPC.

O quarto período entre 1873 e 1895 foi assinalado por uma aposta na industrialização como é expresso num inventário de dezembro de 1877 referindo louça, azulejos, pias de água benta e elementos decorativos para jardim [Araújo 2012] tendo sido gerida entre 1873 e 1878 pela firma Sá Lima e Irmão e a partir daí a pertencer a João da Rocha e Sousa Lima. Em 1884 alterou a designação para Fábrica de Louça de Massarelos a Vapor após ter adquirido em França uma máquina a vapor e em 1886 construiu a fachada voltada ao rio. No Inquérito Industrial de 1890 os proprietários são a viúva de João Lima e o seu segundo marido, Álvaro Arnaud, que entre 1892 e 1895 a arrendam a Francisco Ferreira Rebelo [Porto 2017]. Por último, o quinto Assim, apesar da identificação errada pelas palavras de Queiroz se deduz o impacto que Massarelos teve na produção nacional. Utilizando os barros vermelhos de Gondomar [Queiroz 1907]. 7 Provavelmente a técnica mais generalizada durante o século XIX especialmente na produção de azulejos. Basicamente consistia na utilização dum conjunto de cartões com os padrões recortados cujo número dependia das cores empregues e da complexidade do desenho. Com a peça vidrada a tinta era aplicada sobre os cartões reproduzindo na superfície o padrão. 5 6

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período que ocorreu já no século XX, após o fecho em 1895 e reabertura em 1900 com o aluguer de João Regis de Lima, é caracterizado pela utilização da técnica de decalque importada das fábricas inglesas. De facto em 1901 a fábrica foi trespassada a um antigo mestre da Fábrica de Sacavém, William McLaren. Nos terceiro e quarto períodos, a população fabril aumentou ligeiramente passando de 33 trabalhadores e 3 aprendizes em 1853 para 31 trabalhadores e 12 aprendizes em 1884 e 41 trabalhadores e 17 aprendizes em 1890 [Queiroz 1907]. Fábrica de Miragaia (1775 - 1852) Construída por João da Rocha, um natural de Arcos de Valdevez que fez fortuna no Brasil, e sobrinho, João Bento da Rocha, teve como primeiro mestre Sebastião Lopes Gavicho uma personagem cujo currículo reflete o modo de emprego na industria setecentista portuguesa8. De facto muito do sucesso que a fábrica teve é atribuído à mestria de oficiais que fizeram escola na Real Fábrica de Louça (ao Rato) e na de Massarelos [Porto 2017].

Figura 5: Fábrica de Miragaia. a) Prato; faiança; séc. XVIII; 1775 -1800; d: 38 cm. b) Reservatório de fonte; faiança; finais séc. XVIII; a: 43 cm. c) Prato; faiança; séc. XVIII; d: 36 cm. d) Terrina; faiança; finais séc. XVIII; c: 39 cm. e) Tinteiro; faiança; séc. XVIII; d: 12 cm.

Figura 6: Fábrica de Miragaia. a) Prato e marca; faiança; 1790 - 1825; © DGPC. b) Travessa e marca; faiança; 1822 - 1850; © DGPC. c) Prato e marca; faiança; 1801 - 1829; © DGPC.

Durante a sua atividade o período entre 1775 e 1827 é considerado o de melhor produção tendo sido encontrado na Biblioteca Municipal do Porto um caderno de apontamentos contendo 126 receitas de tintas e vidrados com referências à sua utilização e qualidade bastante útil para o estudo do mesmo [Fernandes 2008]. Este documento é singular pela raridade de receitas conhecidas sendo frequente deduzir-se a composição de vidrados, tintas e pastas das maiores fábricas por outras evidências documentais como as notas de encomenda [Fernandes 2008].

Gavicho fez o seu exame para mestre na Real Fábrica de Louça ao Rato tendo tido como avaliador Sebastião Inácio de Almeida, na altura o mestre daquela fábrica. Embora não o considerando excelente em todas as matérias Almeida aprovou-o e traçou nos apontamentos que retirou o percurso profissional de Gavicho. Por eles sabemos que Gavicho era na altura um mestre pintor com um currículo prévio de trabalho numa fábrica do Porto, possivelmente Massarelos, e na Real Fábrica de Louça (ao Rato) durante o período de Tomás Brunetto onde ensinou a vidrar as peças [Fernandes 2008]. Depois disso trabalhou numa fábrica em Estremoz [Fernandes 2008] [Mangucci 2008] e voltou ao Porto, onde residia e era casado, a pedido de João da Rocha e do sobrinho para iniciar a produção da Fábrica de Miragaia. 8

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Figura 7: Peças da Fábrica de Miragaia no Museu Nacional Soares dos Reis; 1822 -1850.

Na última década do século XVIII Francisco Rocha Soares (pai) herdou a Fábrica de Miragaia e na segunda década do século XIX assistiu ao florescimento do negócio após começar a explorar sistematicamente os mercados do norte do país sendo já em 1814 a maior na cidade do Porto [Porto 2017]. Para satisfazer o aumento de encomendas alugou a Fábrica de Massarelos em 1819 e a de Santo António do Vale da Piedade em 18259. Com a sua morte em 1829 o filho manteve o ritmo até 1852 altura em que declarou falência alegadamente devido ao seu envolvimento político.

Figura 8: Estátua de leão; Fábrica de Miragaia; séc. XIX; © Museu do Açude.

Durante estas décadas a produção sofreu alterações tais como a introdução da técnica de estampilha e a manufatura por moldes. De facto em 1822 quando era gerida pelo sobrinho do proprietário, João da Rocha e Sousa, solicitou o exclusivo da louça pintada estampada que foi contudo recusado pela Junta do Comércio10 e em 1827 a começou a produção de louça em pó de pedra ao que se seguiu o fabrico à imitação da louça inglesa [Porto 2017]. A predominância na região foi mantida e o seu portfolio aumentado com o aluguer da Fábrica do Cavaquinho em 1845 e a criação dum depósito de vendas comum, ativo entre 1845 e 1848, na rua da Esperança que agregava as fábricas do Carvalhinho, Alto da Fontainha, Fervença, Monte Cavaco e Santo António do Vale da Piedade [Soeiro et al. 1995]. Fábricas do Cavaquinho (1780 - 190?) Duas fábricas fundadas no século XVIII que se separaram e uniram ao longo do tempo [Soeiro et al. 1995]. A mais antiga, dedicada à produção de faiança foi fundada em cerca de 1780 por João Bernardo Guedes segundo marido de D. Joana Eufrásia Mesquita a proprietária da Quinta de Vale de Amores onde a fábrica foi implementada e tinha como mestre Severino José da Silva. A mais recente dedicada à produção em pó de pedra, a primeira em Portugal a produzir este tipo de cerâmica foi fundada

Cujos alugueres foram mantidos até 1833 e 1844, respetivamente [Soeiro et al. 1995]. Uma vistoria do mesmo ano descreve a fábrica como uma propriedade que incluía uma casa para a manufatura de louça, um depósito para a carqueja, lotes para secagem, salas para a produção de vidrados e tintas, um telheiro com tanques de barro, fornos de queimar estanho e chumbo, fornos de cozedura, uma sala de venda e dois armazéns para depósito. Tinha ainda uma azenha de moer vidro situada em Massarelos [Porto 2017]. 9

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alguns anos depois quando João Guedes era já viúvo numa sociedade assinada em 1786 com Diogo José de Araújo e Domingos Vandelli11 [Soeiro et al 1995].

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Figura 9: Peças da Fábrica do Cavaquinho no Museu Nacional Soares dos Reis.

Figura 10: Fábrica do Cavaquinho. a) Jarra; 1780 - 1800; © DGPC. b) Garrafa antropomórfica; século XVIII; © DGPC. c) Marca em a). d) Marcas da fábrica; finais século XVIII. e) Prato; faiança; 1790 - 1808; d: 28.7 cm; © DGPC. f) Jarro; pó de pedra; 1790 - 1830; © DGPC.

Apesar de terem obtido o alvará em 1787 aparentemente a nova unidade só iniciou a produção aquando da primeira união, ocorrida em 11 de Abril de 178912, tendo ambas as fábricas começado a produzir louça em pó de pedra que exportaram para o Brasil em grandes quantidades entre 1793 e 1808. De facto, em 1793, quando o mestre da fábrica era Bento Fernandes, Vandelli e outros interessados dirigiram à Junta do Comércio um pedido de isenção de aduanas nos portos brasileiros argumentando com a sua condição de introdutores de um novo tipo de cerâmica com o suporte de todos os encargos inerentes como as experiências em laboratório e a formação de mestres e operários [Queiroz 1907]. O pedido foi satisfeito e prorrogado passados dez anos [Queiroz 1907]. As invasões francesas penalizaram a fábrica que paralisou parcialmente entre 1808 e a entrada para a sociedade de João Raimundo Nogueira cerca de 1815 quando as fábricas se separaram. No ano seguinte João Nogueira comprou a parte que pertencia a Domingos Vandelli aparecendo como proprietário em 1826 embora no Inquérito da Junta do Comércio de 1817 a fábrica ainda pertença a João Bernardo. Após as primeiras décadas do século XIX começou a degradar-se e foi sucessivamente arrendada pelo seu novo proprietário, o Conde de Sarmento, até ser adquirida em 1858 por Joaquim Nunes da Cunha [Soeiro et al 1995]. Cunha, o prévio proprietário da Fábrica da Fervença, explorou-a até à sua morte em 1884 tendo a partir daí sido Nascido em Pádua veio para Portugal devido a um convite do Marquês de Pombal para ensinar no Real Colégio dos Nobres tendo posteriormente sido lente de Química e História Natural na Faculdade de Coimbra durante a reforma encetada pelo mesmo dirigente. 12 Esta data aparece num documento de validação dum acordo social assinado no Porto entre João Bernardo Guedes, Dr. Diogo José d'Araújo, José Pereira de Miranda, Caetano José dos Santos, João Roberto da Fonseca Torres e Dr. Domingos Vandelli publicado por Queiroz [Queiroz 1907]. 11

explorada pela viúva e descendentes por intermédio da firma Margarida Rosa Nunes & Filho. Nos anos noventa do século XIX foi considerada como decadente e embora tendo abandonado as fornalhas destinadas à produção de pó de pedra e faiança ainda assim empregava 30 operários e 6 aprendizes [Lepierre 1899].

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Figura 11: Fábrica do Cavaquinho. a) Galheteiro; pó de pedra; séc. XVIII - XIX. b) Canjirão; faiança; séc. XVIII - XIX; a: 35 cm. c) Pote de farmácia; pó de pedra; séc. XVIII - XIX; a: 15 cm. d) Tinteiro; pó de pedra; Fábrica do Cavaquinho; séc. XVIII; d: 10 cm.

Fábrica Santo António do Vale da Piedade (1785 - 193?) A fábrica que tinha um vidrado característico de tom esverdeado e uma produção quase exclusiva pela técnica de estampilha cujos desenhos eram da autoria dos seus trabalhadores, iniciou a produção em 1 de janeiro de 1785 e manteve-se ativa até à década de 30 do século XX. No seu início teve um crescimento expressivo e foi classificada numa descrição toponímica da cidade do Porto de 1788 como [Sousa 2013]: "… uma das quatro maiores fábricas de faiança capazes e suficientes para abastecer a totalidade do reino e suas conquistas ".

Figura 12: Telhas no edifício da fábrica; faiança; Fábrica de Santo António do Vale da Piedade; séc. XIX; © Ruin'Arte.

Localizada na Quinta da Eira junto às margens do Douro em Vila Nova de Gaia, o primeiro proprietário foi o genovês Jerónimo Rossi na altura um homem de negócios sediado no Porto que mais tarde se tornou o vice-cônsul do Reino da Sardenha na mesma cidade [Sousa 2013]. Rossi morreu em 1821 mas as suas filhas continuaram a explorar a fábrica até 1826 quando foi primeiro arrendada a Francisco Galvão e pouco tempo depois a Francisco da Rocha Soares. Em 1834 quando terminaram as guerras liberais o arrendamento reverteu para uma sociedade da qual fazia parte João de Araújo Lima que contratou um mestre da Real Fábrica de Porcelana da Vista Alegre13 e começou a competir com as fábricas de Miragaia e do Cavaquinho na produção de louça em pó de pedra, azulejos e telhas. Com o encerramento da Fábrica de Miragaia em 1852, Santo António recebeu muitos dos seus trabalhadores tendo atingido uma população de 95 operários e 17

Fábrica edificada na Quinta da Vista Alegre, localizada a cerca de 5 km de Aveiro, em 1824 por José Ferreira Pinto Basto para a produção de vidros e porcelanas. A fábrica que segundo Queiroz teve o período mais brilhante sob o ponto de vista decorativo entre 1836 e 1852, altura em que era dirigida pelo pintor francês, Victor Rousseau, só iniciou a produção de porcelana em 1834 após o oleiro Luiz Pereira Capote ter descoberto no concelho da Feira o caulino necessário à sua produção [Queiroz 1907]. 13

aprendizes. Foi estabelecida uma parceria com Veríssimo Pereira para a produção de grés, introduzido um novo forno com várias alturas de modo a diferenciar o tipo de cozedura e uma máquina Clayton [Soeiro et al 1995]. Após o falecimento de Lima, em 1861, o seu cunhado, João do Rio, começou a produzir elementos decorativos para exterior mas o Inquérito Industrial de 1881 classifica-a como uma má instalação atulhada com 148 operários embora com um bom lucro de 15% [Soeiro et al 1995]. Descreve-a também como um edifico de três andares e sobranceiro ao Douro de acesso íngreme e encravado entre casas cujo processo de produção se orientava de cima para baixo com as estufas de seca nos vãos do telhado, as oficinas de fabrico no terceiro andar, a prensa para azulejos no segundo e as oficinas de pintura e vidragem no primeiro [Porto 2017].

Figura 13: Garrafas, terrina e jarras de altar da Fábrica de Santo António do Vale da Piedade no Museu Nacional Soares dos Reis.

Figura 14: Fábrica de Santo António do Vale da Piedade. a) Bilha de segredo; séc. XVIII; 23,5 cm; © Leiloeira Cabral Moncada. b) Marcas; 1784 1821. c) Jarra; faiança; 1784 - 1821; a: 18,6 cm; © DGPC. d) Vaso; faiança; séc. XIX; © Museu do Açude.

Em 1886 talvez devido às más condições apontadas no inquérito, a fábrica foi consumida num incêndio e muitos dos seus trabalhadores transitaram para as Caldas da Rainha a convite de Feliciano Bordalo Pinheiro que na altura se encontrava no Porto [Porto 2017]. Passados dois anos a fábrica foi comprada e reconstruída por António José da Silva em sociedade com Remígio José Ribeiro da Silva. A última referência do século XIX foi feita por Charles Lepierre, em 1897, que a descreveu dividida em dois sectores com uma área total de 300 m2 e uma população que rondava entre 70 a 80 trabalhadores. Na altura já tinha deixado de produzir grés devido à sua incapacidade em competir com a Fábrica das Devesas [Lepierre 1899]. Fábrica da Afurada (1789 - 187?) Uma pequena fábrica localizada na freguesia da Afurada em Gaia cuja produção é caracterizada pela manufatura de canecas e garrafas antropomórficas com possíveis representações da rainha D. Maria II [Soeiro et al 1995]. Construída em 1789 por Joaquim Ribeiro dos Santos, um antigo oficial da Fábrica do Cavaquinho, teve a sua atividade interrompida pelas invasões francesas e reatada na década de 1830. Sobre o segundo período de laboração escreveu Queiroz [Queiroz 1907]: "Em 1834, existia um oleiro chamado Jeronymo... que produzia figuras e louça em faiança branca e colorida. Após se terem passado muitos anos dele morrer, a fábrica fechou.".

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Figura 15: Fábrica da Afurada. a) Prato e marca; faiança; séc. XIX; d: 29.7 cm; © DGPC. b) Açucareiro e marca; faiança; séc. XIX; c: 16.8 cm; © DGPC.

Figura 16: Garrafas, canjirões, jarro e caneca da Fábrica da Afurada no Museu Nacional Soares dos Reis.

Após uma nova interrupção em 1867 é adquirida por Albino Maximiano Gomes de Almendra que estabelece uma sociedade com Manuel Rodrigues ficando o primeiro como sócio capitalista e o segundo na direção da produção contribuindo com os seus conhecimentos e trabalho14, contudo, em 1871, a fábrica passou a pertencer a João do Rio Júnior, António Rodrigues de Sá Lima, Tomás Nunes da Cunha, Joaquim Nunes da Cunha e Ângelo da Silva Macedo, um grupo onde se incluíam os proprietários das principais fábricas de cerâmica do Porto e Gaia que em 1872, venderam de imediato a propriedade a João Henrique Andressen [Porto 2017]. Fábrica da Rasa (1806 - ?) Fundada nos finais do século XVIII em Gaia segundo Queiroz, é contudo provável que só tenha iniciado a produção na primeira década do século XIX devido ao pedido de 1804 efetuado pela sociedade João Henriques de Magalhães & Cª à Junta do Comércio para o estabelecimento duma fábrica com o exclusivo de produção alegando a descoberta de novas técnicas de depuração do barro e de estampagem de louça [Porto 2017]. A licença foi concedida em 1808 embora sem o exclusivo. Nesta fábrica trabalharam o antigo oficial da Fábrica do Cavaquinho, Francisco Pereira Barbosa, e João José Barbosa [Porto 2017]. Fábrica das Regadas (1811 - ?) Em 1811 a sociedade José dos Reis & Cª requereu à Junta do Comércio a autorização de abertura de uma fábrica em Gaia, justificando com a necessidade de abastecimento do reino. Com a morte de José dos Reis em 1813 André de Castro pede que o alvará passe para seu nome. O exame posteriormente realizado em 1818 refere a existência de dois fornos e um armazém. Fábrica de Fervença (1824 - 1857) Uma das fábricas mais icónicas na produção oitocentista nortenha, na qual se marcou o ponto de partida da família Cunha, foi fundada em 1824 por Manuel Nunes da Cunha perto do convento da Serra do Pilar em Gaia numa casa alugada e posteriormente adquirida pelo fabricante [Porto 2017]. Dedicada à produção de louça e azulejos em 1826 Manuel Nunes da

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Repartindo respetivamente 2/3 e 1/3 dos lucros.

Cunha associado a antigo oficial da Fábrica do Cavaquinho, José Fernandes Cruz, pediu para se estabelecer no lugar da Mesquita cujo alvará obteve no ano seguinte.

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Figura 17: Atribuído à Fábrica de Fervença. a) Prato; faiança; séc. XIX; d: 28 cm. b) Prato; faiança; séc. XIX; d: 29 cm. c) Prato de postas; faiança; séc. XIX; d: 32 cm. d) Terrina; faiança; séc. XIX.

Tendo em finais da década de quarenta integrado o depósito geral de louça da Rua da Esperança nos inícios da década de cinquenta tinha uma população de 19 operários e 6 aprendizes e apresentava níveis de crescimento [Porto 2017], contudo em 1858 foi parcialmente expropriada para a construção da Rua de General Torres levando o proprietário, Joaquim Nunes da Cunha15, a transferir-se para a Fábrica do Cavaquinho [Soeiro et al 1995]. Com uma decoração muito semelhante à utilizada na Fábrica da Bandeira, a paternidade dos seus produtos é habitualmente determinada pela leveza que estes apresentam comparativamente aos de outras fábricas congéneres. Fábrica do Monte Cavaco (1824 - 195?) Fundada em 1824 pelo padre Gualter Queirós no lugar do Cavaco, uma propriedade ribeirinha de Gaia, sob a designação de António Nicolau de Queiroz & Filho empregava 10 operários e 4 aprendizes após dois anos de atividade. Nos inquéritos de 1852 e 1853 tem como proprietário o Gualter Queirós e uma população de 30 operários e 5 aprendizes [Queiroz 1907]. Em 1858, o padre Gualter estabeleceu uma sociedade com João Nunes da Cunha mas após a sua morte em 1860 a fábrica ficou na posse, primeiro de Tomás Nunes da Cunha e em 1869 de Ângelo da Silva Macedo genro de Tomás [Soeiro et al 1995].

Figura 18: Peças atribuídas à Fábrica do Monte Cavaco e do Choupelo no Museu Nacional Soares dos Reis.

Macedo foi o proprietário até finais da década de oitenta tendo entretanto o inquérito industrial de 1881 conotado a fábrica como pequena. Perto do final do século, Lepierre refere que tinha boas condições e empregava 40 operários [Soeiro et al 1995] [Lepierre 1899].

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O filho do fundador Manuel Nunes da Cunha.

Fábrica da Rua do Sol (183? – 188?) Fundada nos inícios da década de 30 na cidade do Porto teve um primeiro contrato entre pai e filho, António Luís Alves Viana e José Luís Alves Viana, datado de 1838, que assinalava uma olaria e uma fábrica de cal. Posteriormente arrendada a José Luís Alves Viana em 1876 quando já dispunha de um outro forno para o fabrico de gesso foi criada uma nova sociedade, Soares Guedes & Cª., estabelecida entre Lino Soares Guedes e José Lino Soares Guedes para a sua exploração [Porto 2017]. Fábrica da Bandeira (1835 - 191?) Presumivelmente foi construída por Gaspar Gonçalves de Castro em 1835 no que é hoje o Largo do Aviadores em Vila Nova de Gaia [Soeiro et al 1995] embora seja apontada por alguns como sucessora da Fábrica da Rasa [Porto 2017]. O estabelecimento ficava no piso térreo de uma casa de habitação de dois andares que tinha a fachada recoberta de azulejos e pelo menos até ao início do século XXI telhas de beiral pintadas e vidradas [Porto 2017]. Durante a década de 70 tornaram-se proprietários a viúva e os descendentes ficando a administração a cargo de Cândido Augusto de Sá Castro que aparece como dono no inquérito de 1881 empregando 15 operários e 5 aprendizes [Soeiro et al 1995]. No final do século a fábrica tinha 16 operários, 4 aprendizes e um forno a lenha [Lepierre 1899].

Figura 19: Peças da Fábrica Bandeira no Museu Nacional Soares dos Reis.

Fábrica do Alto da Fontinha (1837 - ?) Também designada como Fábrica do Bairro Alto era constituída por barracões de madeira e iniciou a produção em 1837 na portuense rua das Musas por intermédio da sociedade Manuel Joaquim Gonçalves & Irmão. Estando documentada a sua laboração efetiva entre 1844 e 1860 era uma das fábricas que em 1845 fazia parte do depósito da Rua da Esperança. Em 1854 o seu dono, Joaquim Maria de Carvalho, contrata um oficial da extinta Fábrica de Miragaia e constitui sociedade com António Martins Laginha que fica encarregue da administração de vendas [Porto 2017]. Fábrica das Palhacinhas (1837 - 1876?) Estabelecida na Rua de Cândido dos Reis nas Palhacinhas, em Gaia, foi fundada em 1837 pelo brasileiro Bonifácio José de Faria que nela habitava.

Figura 20: Fábrica das Palhacinhas (atribuído); Par de jarras; faiança; 1837; a: 14,8 cm.

A sua posse é depois transferida para André de Castro que a encerra e desloca a atividade para as Regadas. São ainda conhecidas uma escritura para o fabrico de louça nas Palhacinhas datada de 1844 e subscrita por António Luís dos Santos e

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Joaquim José Pereira e um projeto de reconstrução datado de 1876 embora não se saiba se este foi concretizada ou não [Porto 2017]. Fábrica do Carvalhinho (1840 - 1974) Instalada na Capela do Senhor do Carvalhinho localizada na Quinta da Fraga da freguesia portuense da Corticeira teve como sócios fundadores Tomás Nunes da Cunha e António Monteiro Catarino16. Em 1848 quando empregava 20 operários e entre 12 a 16 aprendizes a fábrica uniu-se ao depósito de Rocha Soares e em 1853 expandiu as suas instalações passando das estruturas em madeira para cimento. A sociedade dissolveu-se em 1868 e Tomás da Cunha tornou-se o proprietário em 1869 e a fábrica mudou de nome, embora continua-se a ser reconhecida como Fábrica de Louça e Azulejo do Carvalhinho. Nessa altura já produzia louça, azulejos, telhas, peças decorativas para jardins e arquitetónicas [Soeiro et al 1995]. Oito anos depois a administração passou para o genro do proprietário que participou em 1882 na Exposição de Cerâmica da Sociedade de Instrução do Porto obtendo um diploma de mérito no sector de azulejos [Porto 2017].

Figura 21: Fábrica do Carvalhinho. a) Gomil; faiança; séc. XIX; a: 28,5 cm; © DGPC. b) Lavanda; faiança; séc. XIX; © DGPC. c) Prato; faiança; séc. XIX; d: 23,5 cm.

Mais tarde em 1894 foi estabelecida uma nova sociedade, Castro Júnior & Dias de Freitas, com João Camilo de Castro Júnior e António Dias de Freitas cujo filho ficou na direção técnica da fábrica. No final do século, em 1899, a sociedade dissolveu-se e o diretor técnico tornou-se proprietário estabelecendo a sociedade A. Neves Dias de Freitas & Filhos, iniciando-se o período áureo com o aumento das instalações e a chegada de operários especializados como o pintor Carlos Branco que incrementaram a produção em qualidade e quantidade [Soeiro et al 1995] tendo em 1901 a fábrica recebido a Medalha de Ouro na Exposição Cerâmica realizada no Palácio de Cristal [Porto 2017]. Fábrica da Torrinha (1844 - 191?)

Figura 22: Fábrica da Torrinha (atribuído). a) Bule; pó de pedra; séc. XIX; a: 23,9 cm; © DGPC . b) Caixa em forma de pato; pó de pedra; séc. XIX; a: 14 cm; © DGPC . c) Prato; faiança; séc. XIX; d: 21 cm; © DGPC . d) Pote de farmácia; pó de pedra; séc. XIX; a: 27 cm; © DGPC . Catarino tinha previamente sido o proprietário duma olaria em Gaia e um liberal convicto que participou no batalhão organizado por Rocha Soares. 16

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Situada na Quinta da Torrinha foi fundada por Manuel José Soares um antigo arrendatário da Fábrica do Cavaquinho e dirigida após a morte do fundador em meados da década de 50, pelo menos até 1883, pela sua viúva conhecida como viúva Soares ou viúva Rego. Produzia louça de pó-de-pedra muito semelhante à do Cavaquinho [Porto 2017] sendo também referido por Queiroz a manufatura de itens em barro negro em 1865 [Queiroz 1907]. Fábrica do Choupelo (1852 - ?) Situada junto à Quinta de Álvaro Leite em Gaia iniciou a sua atividade em 1852 e teve a par dum curto período de produção um presumível desenvolvimento técnico aprimorado devido a Carlos Vazine17 ter nela fabricado grés e à existência duma oficina de escultura e modelação nas suas imediações. Uma sociedade entre Joaquim da Cunha Lima e Veríssimo Álvares Pereira foi formada crendo-se que Pereira seria quem dirigia a produção porque além do conhecimento técnico dispunha da patente para a produção do grés [Porto 2017].

Figura 23: Fábrica do Choupelo (atribuído); Grés moldado e modelado, com vidrado de sal e decoração em relevo; século XIX; © DGPC. a) Jarra; a: 13,7 cm. b) Caneca antropomórfica; a: 29 cm. c e d) Pormenores de b. e) Caneca antropomórfica; a: 28 cm. f) Jarra; a: 13,7 cm. g) Pormenor de f.

De facto, as peças que se conhecem foram atribuídas à fábrica por Joaquim Vitorino Ribeiro a quem o Museu Municipal do Porto adquiriu a coleção em 1913 e que agora integram o acervo do Museu Nacional de Soares dos Reis. Fábrica do Senhor d’Além (1856/1861-191?)

Figura 24: Jarros atribuídos à Fábrica do Senhor d’Além; séc. XIX - XX; © Tempo e histórias.

Instalada nas ruinas do hospício Carmelita do Senhor d’Além em Gaia defronte à freguesia portuense da Corticeira iniciou a sua atividade antes de 1861 tendo como proprietários António e Manuel Rodrigues dos Santos. Entre 1862 e 1866 a fábrica foi

Filho de um ceramista de Turim o italiano Carlos Vazine tinha sido oficial do exército da Sardenha durante o reinado de Carlos Alberto tendo vindo ao Porto para lhe pedir auxilio sendo-lhe atribuída a autoria dos modelos das primeiras peças de grés que no país se fabricaram [Fernandes 2008-2]. 17

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comprada por João Vieira Braga que estabeleceu uma sociedade com o seu irmão em 1875 passando a firma a designar-se João António Vieira Braga & Irmão. A opinião expressa no inquérito de 1881 é-lhe extremamente desfavorável classificando a sua produção como um grupo de itens de gosto bárbaro feitos num lugar sujo [Soeiro et al 1995]. No final do século mantinha-se o estado de abandono e a sua população tinha sido reduzida dos 25 operários de 1881 para 23. Apesar destes cinquenta anos difíceis a fábrica teria melhores tempos após 1908 quando o proprietário mudou e foram recrutados operários especializados [Soeiro et al 1995]. Fábrica das Devesas (1865 - 198?) Construída por António de Almeida da Costa em 1865 num local próximo da estação de caminho-de-ferro foi considerada por Queiroz como a melhor fábrica de Gaia [Queiroz 1907]. Cerca de 1874 formou a sociedade António Almeida da Costa & Cª com José Joaquim Teixeira Lopes (pai) e Feliciano Rodrigues da Rocha ficando Costa responsável pela direção financeira Teixeira Lopes pela direção artística e Rocha pela parte administrativa.

Figura 25: Pinha; faiança; atribuído à Fábrica das Devesas; séc. XIX; a: 81 cm.

Em 1881 com a administração a declarar um lucro bruto de 10%, a fábrica empregava 180 operários mas, tal como Sacavém, teve um crescimento exponencial nas últimas décadas do século XIX e em 1900 já empregava um número de operários que rondava os 700. Este crescimento pode ser explicado pelo tipo de diretores e mestres que a fábrica empregava, com elevadas

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qualificações académicas como Teixeira Lopes ou currículos invejáveis como o mestre João José Fonseca que já tinha trabalhado com Rocha Soares, sido o mestre da Fábrica de Monte Cavaco e introduzido o grés em Santo António do Vale de Piedade durante o período de Araújo Lima [Soeiro et al 1995].

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Figura 26: Leões; grés; Fábrica das Devesas; séc. XIX; © Ruin'Arte.

A produção, que utilizava os barros nacionais e importava as tintas e vidrados, era bastante variada abrangendo todo o tipo de materiais para construção e ornamentação distinguindo-se as peças desta última categoria pelo seu desenho ou modelação. De facto, uma característica do século XIX foi a deslocação na produção de estátuas de Lisboa para o Porto e Gaia tendo todas as grandes fábricas desta região tido uma produção em série enquanto em Lisboa, com as raras exceções produzidas na Fábrica da Roseira e da Calçada do Monte, só a Fábrica Viúva Lamego as fez regularmente. Cerca de 1884 foi fundada uma fábrica perto da Mealhada, uma oficina de obras de mármore e um depósito de Materiais na portuense Rua da Conceição. Nos finais do século XIX Feliciano Rocha abandonou a sociedade ficando Almeida da Costa com a sua quota tendo também em 1909 Teixeira Lopes abandonado a sociedade [Porto 2017]. Nos inícios do século XX o fundador desenvolveu uma política de benemerência local com a criação dum asilo e duma creche tendo também construído bairros sociais para os seus operários que envolviam as unidades fabris. Com a sua morte, em 1920, a empresa abandonou a produção de azulejo e de louça decorativa tendo-se dedicado à manufatura de materiais destinados a construção civil [Porto 2017]. Fábrica de José Pereira Valente (1884 - 196?) Localizada na Rua Dona Leonor em Gaia iniciou a atividade em 1884 fundada por um antigo operário da Fábrica das Devesas. Na fase inicial contava com 40 operários e 10 aprendizes sendo a maioria da produção encomendas da Fábrica das Devesas o que possibilitou a aquisição em 1891 de uma máquina que permitiu ampliar a produção incluindo a azulejar [Porto 2017].

Figura 27: Pinhas; faiança; Fábrica de José Pereira Valente; séc. XIX; © Museu do Açude.

No final do século apresentava um ligeiro acréscimo da população fabril tendo 48 operários e 12 aprendizes [Soeiro et al 1995] e a partir de 1904 com a entrada de familiares na gerência a fábrica passa a designar-se de José Pereira Valente, Filhos. Lisboa Real Fábrica de Louça (ao Rato) (1767 - 1835) Em 1 de agosto de 1767 a administração da Fábrica das Sedas18 contratou o turinês Tomás Brunetto como mestre da nova unidade para a produção de Louça [Queiroz 1907]. Brunetto iniciou a manufatura inspirada nos modelos artísticos de Torino e Savona com a ajuda do seu genro José Veroli e do mestre de roda Severino José da Silva19, no entanto, as relações com a administração nunca foram boas e em 27 de Abril de 1770 esta enviou um relatório ao Conde de Oeiras acusando Brunetto de ser um líder errático, que despedia e admitia operários sem razão nem consentimento, e um artista de baixo nível que frequentemente assinava o trabalho feito por Silva.

Figura 28: Terrina com a forma duma cabeça de javali; faiança; Real Fábrica de Louça (ao Rato); Tomás Brunetto; 1767 - 1771; a: 25 cm, c: 36 cm; © Leiloeira Palácio do Correio Velho.

De facto, a administração nunca reconheceu a pretensão de Brunetto a 50 moedas de ouro devida pela descoberta dum vidrado argumentando que o segredo era conhecido de todos os trabalhadores. Ademais redigiram uma ordenança, subscrita pelo Marquês, estipulando um conjunto de condições a que Brunetto era impelido a cumprir: prevenir a contabilidade sempre que fazia uma fornada; ter uma folha de pagamento semanal; efetuar um inventário mensal; não vender ou fiar louça; não despedir, contratar ou aumentar salários sem o consentimento da administração [Sequeira 1922]. Por fim, em 14 de agosto de 1771, Brunetto e Veroli foram despedidos tendo o último deles requerido à administração um certificado de despedimento por incompetência devido ao seu trabalho na fábrica ser muito diferente da sua habitual profissão de copeiro [Sequeira 1922]20.

Figura 29: Terrina em forma de couve; faiança; Real Fábrica de Louça (ao Rato); Tomás Brunetto; 1767-1771; © Leiloeira São Domingos.

D. João V autorizou a instalação em Lisboa da Companhia das Sedas em 25 de fevereiro de 1734 que se manteve com uma administração privada até 14 de maio de 1750 quando um conjunto de condições determinou a sua aquisição pela coroa portuguesa. Renomeada Real Fábrica das Sedas, a ascensão ao poder do futuro Marquês de Pombal e a sua política de desenvolvimento industrial originou em 1759 a criação de diversas fábricas anexas com o intuito de reduzir as importações de consumíveis e de mão-de-obra especializada [Cochicho 2015]. 19 Tudo indica que Severino José da Silva tinha previamente trabalhado na Oficina de Santo Amaro aonde voltou após ter sido despedido em 1769. Embora despedido em 1769, Severino posteriormente trabalhou diversas vezes na fábrica [Sequeira 1922]. 20 Após despedido e apesar do seu certificado de incompetência, Veroli ainda estabeleceu uma fábrica em Belas mas sem as isenções e privilégios que eram dados à concorrência a fábrica esteve em atividade pouco tempo e Veroli regressou à sua antiga profissão [Queiroz 1907]. 18

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Previamente contudo, em 28 de julho de 1769, tinha sido concedida ao italiano Paulo Pauletti a permissão de estabelecer uma fábrica na Travessa dos Ladrões com o privilégio de dez anos de isenção de impostos. Pauletti com a sua politica contratual que oferecia melhores salários, originou uma série de complicações até uma nova cláusula impedindo a contração de operários das oficinas do Rato ter sido aditada ao seu contrato [Sequeira 1922].

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Figura 30: Leão alado; faiança; atribuído à Real Fábrica de Louça (ao Rato); séc. XVIII; a: 40 cm.

Figura 31: Real Fábrica de Louça (ao Rato); Marcas da fábrica com assinaturas de Tomás Brunetto (c1 a g1) e Sebastião de Almeida (f2 a m2); 1767 - 1779 [Queiroz 1907].

Também, nos últimos meses de 1769, a fábrica tinha iniciado a produção de esculturas para exteriores da qual manteve o monopólio até ao seu encerramento em 183521 e em novembro de 1770 na sequência dum pedido feito pela Junta de Comércio foi estabelecida a interdição de importar Louça estrangeira22 com a exceção da trazida na Carreira das Índias bem como a isenção de impostos na exportação de Louça nacional, duas medidas protecionistas, muito ao gosto do marquês, com o intuito de aliviar as fábricas nacionais das ferozes concorrências francesas e holandesas. Após o despedimento de Brunetto, Sebastião Inácio de Almeida foi contratado como mestre e Severino José da Silva como capataz. A fábrica manteve a sua propensão para a produção artística mas surgiu uma mudança de estilo que resultou no abandono das grandes peças policromáticas em favor de peças mais delicadas em azul e branco claramente inspiradas na produção de Rouen [Queiroz 1907]. O carácter reformista de Almeida fez-se notar com o inicio da produção azulejar e a contratação de novos artífices como os pintores João Berardi e o filho António Berardi [Sequeira 1922]. Contudo em 15 de setembro de 1773 a administração da fábrica despediu os Beradis, Severino e outros trabalhadores possivelmente devido a vendas ilegais. Almeida propôs a compra da produção fabril em conjunto com a exclusividade da extração de barro no Colégio dos Nobres em 1775 mas a administração impunha a aquisição do stock de 16768 peças feitas no tempo de Brunetto que na sua opinião pecavam pela escassa procura, baixa qualidade e mau gosto. De facto, apesar do patrocínio dado pelo primeiro ministro, a

Estas esculturas eram na sua maioria brancas, mimetizando a manufatura em pedra, e de evocação clássica representando divindades e personagens da mitologia greco-romana [Pais 2012]. 22 Em 10 de dezembro de 1783 a proibição foi retirada à Louça inglesa alegadamente por não conseguir com a portuguesa em qualidade [Sequeira 1922]. 21

louça da fábrica até ai era incapaz de competir com a trazida do Oriente que deliciava a aristocracia ou a produzida nas olarias dos Anjos e Santos-o-Velho usada pelas classes mais desfavorecidas [Mangucci 2007].

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Figura 32: a) Prato; faiança; atribuído à Real Fábrica de Louça (ao Rato); séc. XVIII; 28 cm. b) Prato; faiança; atribuído à Real Fábrica de Louça (ao Rato); séc. XVIII - XIX; 23 cm. c) Prato; faiança; atribuído à Real Fábrica de Louça (ao Rato); séc. XVIII; 34 cm. d) Prato; faiança; Real Fábrica de Louça (ao Rato); séc. XVIII; 28 cm. e) Prato; faiança; Real Fábrica de Louça (ao Rato); séc. XVIII; 32 cm. f) Prato; faiança; Real Fábrica de Louça (ao Rato); Sebastião de Almeida; 1771 - 1779; d: 38 cm. g) Reservatório de fonte; faiança; Real Fábrica de Louça (ao Rato); período de Sebastião de Almeida; 1771 - 1779; a: 36 cm.

A interdição de venda no local da fábrica foi suspensa em 21 de fevereiro de 1776 e em 13 de março ocorreu um leilão de 60 lotes da produção de Brunetto arrematado por Veroli que, ao que tudo indica, fez um grande negócio [Sequeira 1922]. Ainda no mesmo ano a 22 de novembro a administração requereu a Almeida uma redução de operários na secção de pintura e em 19 de dezembro de 1777 a proposta do mestre é finalmente aceite por um período de dez anos [Queiroz 1907]. Contudo Almeida morre em 1779 e a fábrica passa a ser gerida por um administrador indicado pela Junta do Comércio, o que não mais se alterou até ao encerramento da fábrica em 1835.

Como primeiro administrador a Junta escolheu João Anastácio Botelho de Almeida. A orientação mudou e a produção passou a focar-se na louça comum sendo o stock das produções precedentes leiloado diversas vezes 23. Esta administração foi também caracterizada pela saúde financeira na qual a fábrica obteve lucros, prosperidade que se estendeu por toda a Lisboa estando durante este período diversas fábricas em atividade24 apesar do embargo à louça inglesa ter acabado em 1783. Além da louça de mesa, o fabrico de azulejos e estátuas para exteriores eram as tendências dominantes tendo a fábrica guarnecido muitas das fachadas e interiores dos prédios lisboetas, a maior parte deles da autoria de Francisco de Paula e Oliveira25 se acreditarmos na sua palavra [Sequeira 1922]. 20

Figura 33: Fonte e estufa da Real Fábrica de Louça (ao Rato) no Palácio Nacional de Mafra; período de João Anastácio Botelho de Almeida; 1780 - 1790.

No que diz respeito à movimentação de artificies a documentação da fábrica refere o regresso em 1785 de Manuel José do Nascimento da Fábrica de Robillion em Queluz e as nomeações de José Baptista de Almeida, irmão de Sebastião de Almeida, como capataz em 1783 e de Severino José da Silva como mestre da seção de pintura em 1792.

Figura 34: Painéis de azulejos; Três cenas (1, 4, 7) da vida do chapeleiro António Joaquim Carneiro; faiança; Real Fábrica de Louça (ao Rato); período de João Anastácio Almeida; 1780 - 1790; © DGPC.

De 27 de fevereiro de 1808 até 1811 a fábrica encerrou devido às invasões francesas reabrindo com o mestre Joaquim Rodrigues Milagres, uma personagem que contava com o suporte da corte e se autointitulava como inventor de um novo tipo de louça26. Nos últimos meses de 1814, após diversos desentendimentos entre Milagres e a Junta, o rei ordenou uma auditoria A alteração ocorreu quando a produção artística perdeu o seu maior aliado que tinha utilizado toda a sua pressão política para persuadir a corte, as firmas comerciais e até o rei à comprarem. Com a morte de D. José I em 22 de fevereiro de 1777 o Marquês foi demitido e perdeu toda a sua influência bem como a fábrica as encomendas daqueles que lhe queriam agradar. 24 Em 1790 estavam ativas as fábrica: Pauletti, na Travessa dos Ladrões; Santo Amaro, de Henrique Francisco de Andrade & Cia; Romão dos Púcaros, na Calçada de Agostinho de Carvalho e até 1813 foram construídas: Fábrica da Calçada do Monte (1793); Travessa da Belavista à Lapa (1794); Castelo Picão (1794); Real Fábrica da Bica do Sapato (1796); Largo das Olarias (1800); Travessa do Pé de Ferro (1813). 25 Que começou a trabalhar na fábrica em 1774. 26 Milagres começou a fabricar este tipo de louça na Fábrica do Castelo Picão, no entanto, ele nunca produziu pó de pedra como afirmava mas faiança misturando em partes iguais argila de Leiria e argila calcária de Monsanto, sendo o vidrado composto feita de 6 partes de chumbo, 7 partes de areia da Quinta dos Arcos rica em feldspatos e um saco de sal [Sequeira 1922]. 23

ao seu desempenho mas o processo alongou-se e ainda não estava concluído em 13 de agosto de 1816 quando Botelho morreu nem em 8 de dezembro de 1817 quando por sua vez Milagres morreu [Sequeira 1922]. Alexandre Vandelli, o filho do famoso Domingos Vandelli, foi designado como administrador em 8 de abril de 1818 e mantevese no cargo durante seis anos embora o seu trabalho não tenha sido caracterizado por resultados brilhantes tendo passado os quatro anos iniciais numa guerra como o pintor Paula e Oliveira [Sequeira 1922]. Oliveira que apesar de algumas interrupções já trabalhava na fábrica há 35 anos tinha o exclusivo da produção de azulejos e comandava-a desde 10 de novembro de 1817, um pouco antes da morte de Milagres, contudo, no final do processo, em 16 de abril de 1822, foi despedido e a Junta nomeou um inspetor para supervisionar a administração de Vandelli.

Figura 35: Real Fábrica de Louça (ao Rato). a) Busto de Flora; faiança; séc. XIX; © DGPC. b) Busto de Baco; faiança; séc. XIX; © DGPC. c) Busto de Vulcano; faiança; séc. XIX; © DGPC. d) Busto de Apolo; faiança; séc. XIX; © DGPC.

A fábrica foi posta à venda em 1823 mas um requerimento ao rei e uma melhoria na qualidade de produção resultante da descoberta duma nova mistura de barros feita pelo oleiro Salvador Luís, um avaliador de Milagres, salvou-a da alienação. Salvador Luís ficou encarregue da produção em pó de pedra e no final de 1823 Paula e Oliveira reclamou o seu despedimento tendo sido reintegrado em 25 de abril de 1824. Um pouco depois da reintegração do pintor, em 21 de julho de 1824, o posto de administrador foi extinto e Vandelli despedido [Sequeira 1922]. No ano seguinte Francisco António Raposo foi designado supervisor e em 1826 uma grande encomenda de peças decorativas para exteriores e outros elementos arquitetónicos foi feita para decorar a Quinta da Bela Vista no Rio de Janeiro, naquele tempo a residência imperial brasileira [Sequeira 1922] [Pais 2012]. Raposo foi nomeado administrador em 27 de fevereiro de 1829 contudo em 1833 devido às suas convicções políticas foi obrigado a abandonar o cargo deixando a fábrica num estado deplorável que levou ao seu encerramento 2 anos depois, em setembro de 1835. Fábrica da Travessa dos Ladrões (1769 - ?) Com uma produção facilmente confundível com a da Real Fábrica de Louça e um alvará passado pela Junta do Comércio em 28 de junho de 1769 a fábrica foi fundada pelo italiano Paulo Pauletti, desconhecendo-se contudo se alguma vez marcou a louça ou quais as marcas que utilizava [Queiroz 1907]. De qualquer modo foram concedidos ao mestre, oficiais, e aprendizes os mesmos privilégios que aos das fábricas de seda estando também Pauletti isento do pagamento de contribuições durante 10 anos se não empregasse estrangeiros27, não pedisse ajudas financeiras ao tesouro real e mantivesse permanentemente quatro aprendizes Portugueses. Como já foi referido esta fábrica originou uma série de complicações laborais tendo segundo Sequeira nela trabalhado João Gonçalves, João Pinheiro e Severino José da Silva, alguns dos melhores modeladores da Fábrica do Rato [Sequeira 1922]. Ao que tudo indica em 1789 o proprietário era José Joaquim Pereira Zagallo e em 1813 um individuo de nome José Maria [Sequeira 1922]. Fábrica de Belas (1772 - ?) Fundada pelo antigo contramestre da Fábrica do Rato no tempo de Brunetto, José Veroli, a fábrica parece ter tido uma curta duração devido a não lhe terem sido concedidas as isenções e privilégios que pretendia tendo Veroli decidido empregar o seu dinheiro no estabelecimento duma casa de pasto [Queiroz 1907][Sequeira 1922]. Sobre a sua produção Queiroz referiu a

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A exceção dos seu irmãos se desejassem vir trabalhar para Portugal.

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existência de um depósito de água na loja de um seu descendente cuja pintura não teria a qualidade das melhores peças do Rato [Queiroz 1907] e Sandão atribui-lhe uma terrina em forma de peixe [Sandão 1966].

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Figura 36: Terrina em forma goraz atribuída por Sandão a Jose Veroli; faiança; séc. XVIII; © [Sandão 1966].

Fábrica da Calçada do Monte (1793 - ?) A fábrica sobre a qual Domingos Vandelli referiu à Junta do Comércio a excelente produção de azulejos e louça fina foi construída em 1793 possivelmente por Francisco Gomes Cotta e tal como muitas das fábricas lisboetas durante o século XIX estava especializada na produção de azulejos [Sequeira 1922] tendo-se encontrado uma referência à sua produção numa nota de encomenda datada de 1861 [Domingues 2010]. A encomenda efetuada por António Lourenço Correia, um industrial que enriqueceu no Brasil, constava de dois painéis de azulejos para a sua casa em Rio Tinto justificando-se a escolha da fábrica lisboeta pela dificuldade em encontrar no norte um produtor de painéis decorativos em azulejo conveniente. Lourenço ficou agradado com o trabalho e pouco depois em abril de 1862 fez uma encomenda de dois pavilhões chineses em faiança no valor de 30$000 tendo o negócio sido mediado pela empresa António da Costa Carvalho & Ca [Domingues 2010]. Estes pavilhões em forma de pagode destinados à decoração dos jardins eram possivelmente inspirados na torre de porcelana de Nanquim comum em gravuras dos séculos XVIII e XIX e foram adquiridos por um valor unitário superior ao das estátuas apesar de habitualmente serem estas o item mais caro que era produzido na altura numa fábrica de faiança [Domingues 2010].

Figura 37: Painel de azulejos com figura de convite na Quinta Chão Verde, Rio Tinto; atribuído à Fábrica da Calçada do Monte; 1861; © Um olhar sobre Rio Tinto.

Em 1865 foi feita uma nova encomenda de quatro painéis decorativos em azulejo possivelmente executados por Luís António Ferreira tal como um conjunto de 360 azulejos brutescos em dois quadros representando sentinelas encomendados em fevereiro de 1869. Entretanto, em julho de 1866 o proprietário da fábrica Bento José Gomes de Brito emitiu uma fatura de 50$000 por mais dois pavilhões chineses policromados e 3$160 por um trabalho de pintura de 79 azulejos ao que tudo indica uma subempreitada pela qual a fábrica nada recebeu [Domingues 2010]. Fábrica do Castelo Picão (1794 - ?) Fundada em 1794 por João Bento da Silva Pereira e Luiz Antonio Alvares foi onde Joaquim Rodrigues Milagres iniciou as experiências de fabrico em pó de pedra. Milagres que na realidade nunca conseguiu produzir aquele tipo de louça era reconhecido num almanaque lisboeta de 1817, aquando da sua passagem pela Fábrica do Rato, como o "inventor de uma nova qualidade de louça" [Queiroz 1907].

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Figura 38: Aquário; faiança; Fábrica do Castelo Picão; século XVIII; a: 50 cm, c: 86 cm, 49.5 cm; © DGPC

No que respeita à fábrica sabe-se que em 1808 esteve devoluta por um período superior a 10 meses tendo sido depois adquirida por João Moniz Vieira que a manteve até pelo menos 1820 [Queiroz 1907]. Real Fábrica da Bica do Sapato (1796 - 1820) Fundada por Luís Soares Henriques em 1796 foi consumida num incêndio por volta de 1820. Esta fábrica tem conhecida uma única peça assinada que foi utilizada, primeiro por Queiroz e depois por Sandão, para fazer uma série de comparações estilísticas que permitiram a atribuição da paternidade a trabalhos não assinados, tendo Queiroz identificado como elementos típicos duas molduras que apareciam separadamente ou em conjunto [Queiroz 1907].

Figura 39: Depósito de água; faiança; atribuído à Real Fábrica da Bica do Sapato; séc. XVIII - XIX. Figura

O primeiro mestre foi Joaquim Simpliciano Franco que requereu as isenções de taxas atribuídas aos mestres das fábricas reiais ao mesmo tempo que o dono, Soares Henriques, pedia o epíteto para a fábrica. No entanto, apesar do epíteto ter sido concedido os administradores da Junta não consideraram o trabalho do mestre digno de destaque [Queiroz 1907]. Fábrica da Calçada dos Cesteiros ou Fábrica da Roseira (1833 - 1930) A fábrica que precedeu no tempo e local a da Bica do Sapato tem como alias o nome do seu fundador, Vicente Roseira. Entre 1885 e 1895 foi administrada por João Roseira e daí em diante pelo neto do fundador [Queiroz 1907]. Usava os barros da freguesia lisboeta dos Prazeres e foi particularmente ativa durante as últimas décadas do século XIX quando produziu azulejos para fachadas e painéis publicitários dos quais se destacam os encomendados por D. Fernando II para ornamentar os interiores do Palácio da Pena ou os das fachadas do Palácio Beau-Séjour em Lisboa.

24 Figura 40: Azulejos de padrão da Fábrica da Roseira; 1883 - 1880; a: 41 cm, c: 41 cm (cada conjunto); © DGPC.

Em 1905 tinha cerca de 35 operários e obtido diversos prémios nas exposições do Rio de Janeiro, Porto e Lisboa [Queiroz 1907]. Fábrica Constância (1836 - 198?) Primitivamente denominada como Companhia Fabril de Louça foi fundada em 1836 num convento expropriado aos Marianos após a guerra civil28. Até 1842 quando se tornou propriedade da Companhia Constância foi dirigida por Ignacio Augusto da Silva Lisboa e de 1881 em diante a fábrica mudou diversas vezes de proprietário embora o nome se tenha mantido apesar de existirem outras designações populares baseadas na sua localização como a Fábrica dos Marianos ou das Janelas Verdes [Queiroz 1907]. O período inicial da fábrica é sobretudo reconhecido por ser o local onde Wenceslau Cifka produziu as suas peças embora de modo independente29. Cifka que veio para Portugal na altura do casamento de D. Maria II com D. Fernando abriu em Lisboa um dos primeiros estudos fotográficos e em pouco tempo tornou-se o fotógrafo da Casa Real. Após uma viagem pela Europa na companhia do rei desenvolveu uma paixão pela cerâmica artística e quando voltou a Portugal iniciou o seu trabalho nela.

Figura 41: Prato com cena bíblica; faiança; Fábrica Constância; Wenscelau Cifka; séc. XIX (2.ª metade); 48 cm.

Apesar de criticas à sua capacidade técnica conseguiu conjugar elegantemente diversos estilos embora se possa considerar a Renascença Italiana como a sua maior influência e uma parte substancial do seu trabalho cópias da faiança quinhentista

A vitória liberal e o apoio prévio que a igreja católica tinha dado aos absolutistas conduziu ao decreto de 1834 que dissolveu as ordens religiosas. 29 Também o artista italiano, Leopoldo Battistini, trespassou a fábrica em 1921 e produziu até à sua morte em 1942 azulejos de inspiração histórica e peças em faiança infundidas nos modelos dos séculos XVIII e XIX tendo obtido diversas medalhas de ouro em exposições internacionais [Sandão 1999]. 28

italiana. De qualquer modo as suas criações tais como os violinos em faiança ou uma terrina em forma de peixe inspirada num modelo chinês da qual só três cópias foram feitas são hoje em dia artigos extremamente cobiçados por colecionadores30. Independentemente da personagem que aí trabalhou, a fábrica teve uma produção de faiança e azulejos dirigida, pelo menos na última década do século XIX, pelo pintor José Jorge Pinto que fez um brilharete na exposição de 1905 organizada pela Sociedade de Belas Artes [Queiroz 1907]. Apesar da empresa ser pequena tinha uma loja para venda numa das mais concorridas ruas de Lisboa e os resultados financeiros eram bastante válidos [Queiroz 1907]. Fábrica Viúva Lamego (1849) Ainda em atividade a fábrica foi fundada em 1849 por António da Costa Lamego e produziu peças em barro vermelho até 1863 quando começou a fabricar faiança. Em 1876, quando o proprietário morreu tinha 5 fornos e aproximadamente 80 operários, um número que foi aumentando até ao final do século [Queiroz 1907].

Figura 42: Fachada de edifício da Viúva Lamego; faiança; Ferreira das Tabuletas; 1865.

Na viragem do século a produção de artigos em barro vermelho estava praticamente extinta e a de azulejos tinha adquirido memento, uma moda que se manteve durante o último século embora complementada com a manufatura de peças em faiança por vezes com uma qualidade que permitiram a substituição das peças feitas pela Fábrica do Rato como as utilizadas na A terrina teria sido o resultado duma aposta que o Ciftka fez com os seus amigos, entre eles o rei, de que conseguiria fabricar uma terrina maior daquelas que a Fábrica do Rato tinha feito [c. p. Jaime Marques]. 30

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restauração dos jardins do Palácio de Queluz. De facto naquela data a fábrica já exportava regularmente para África e Brasil e tinha a direção artística do pintor José Maria Pereira Júnior, alcunhado de Pereira Cão, embora segundo Queiroz, nunca tivesse marcado a produção até aí [Queiroz 1907]. Durante o seu período inicial refere-se a colaboração do pintor Luís Ferreira mais conhecido como o Ferreira das Tabuletas 31. Considerado o pintor de cerâmica com maior expressão durante o terceiro quartel do século XIX revolucionou o modo como as fachadas eram cobertas utilizando composições de autor de tendência romântica numa altura em que eram frequentes os esquemas estandardizados. Real Fábrica de Louça de Sacavém (1850 - 1983) Criada por Manuel Joaquim Afonso em 1850 na Quinta do Aranha a cerca de 5 km dos limites da cidade foi comprada em 1861 pelos irmãos Guillaume e John Howorth. Depois de John Howorth32 morrer em 1893 a sua viúva tornou-se proprietária e estabeleceu uma sociedade com o antigo guarda-livros James Gilman que ficou como proprietário em 1909 depois da morte da associada. Quando o Barão Howorth faleceu a fábrica já se encontrava bem implementada no mercado português, no entanto, a sua expansão deu-se com a mudança do século, pelo menos a crer no número de empregados que praticamente triplicou num período de 30 anos passando de 250 em 1889 para quase 700 em 1907. Segundo Queiroz a produção nesse ano rondaria os 5 milhões de pratos e 6 milhões de azulejos com este último produto a mostrar uma melhoria significativa que já lhe permitia competir no mercado internacional [Queiroz 1907].

Figura 43: a) Jarra; faiança; Real Fábrica de Sacavém; D. Fernando II; 1884; a: 70 cm; © DGPC. b) Marcas da fábrica b1) 1856. b2) 1863 - 1870. b3) 1870 - 1880. b4) 1870 - 1880. b5) 1870 - 1886. b6) 1886 - 1894. b7) 1886 - 1902. b8) 1894 - 1909. b9) 1894 - 1909. c) Travessa com motivo cavalinho; faiança; Real Fábrica de Sacavém; 1870 - 1880; © DGPC.

Durante o período inicial33 a louça era claramente de cariz utilitário e a principal decoração a representação monocromática de uma estátua equestre vulgarmente designada de cavalinho34 onde só variavam as cores de impressão, no entanto, a amizade que Howorth tinha com o rei fê-lo iniciar a produção de uma linha de louça artística de inspiração romântica consumada pelos pintores residentes35 ou por membros da aristocracia com tendências artísticas. Com uma produção que era sempre marcada, a fábrica além de obter a simpatia popular foi também premiada em diferentes exposições como as de 1878 e 1889 em Paris [Queiroz 1907]. Fábrica da Viúva José Dias (1860) Queiroz refere o seu fundador como José Dias e a data de fundação em 1860 para a produção de peças em barro vermelho, faiança e azulejos usando os barros das freguesias lisboetas de Prazeres e Matadouro tendo na viragem do século 3 fornos em atividade e empregando 40 a 50 operários [Queiroz 1907]. Nascido em 1807, fez a sua aprendizagem na Fábrica do Rato e trabalhou posteriormente na Fábrica da Calçada do Monte antes de ser o diretor artístico da Fábrica de António da Costa Lamego Ferreira na qual pintou os azulejos que cobrem a fachada. 32 D. Luís I concedeu-lhe o título de Barão de Sacavém em julho de 1885 e a permissão de acrescentar Real ao nome da fábrica. Embora não fossem legalmente casados a sua mulher usou também o título de Baronesa mas os seus filhos não tiveram o mesmo privilégio. 33 Até 1881 a fábrica utilizou sobretudo o barro branco de Leiria mas a partir dessa data começou a importá-lo de Inglaterra devido às elevadas taxas que os caminhos de ferro portugueses aplicavam no transporte de materiais. 34 Embora com alterações a fábrica produziu este padrão até ao seu encerramento. 35 Queiroz apresenta a seguinte lista de pintores até 1907 [Queiroz 1907]: José Cau, John Willet, Archibald Wilkinson, George Taylor, Alfredo Chadwick e Luiz de Campos. E de mestres [Queiroz 1907]: John Barlow, Sebastião Garcia, Guilherme McLaren e Walter Lindley. 31

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Esta fábrica teria sido a antecessora da atual Fábrica de Sant’Anna, embora, o seu website reclame uma herança muito mais longa de quase três séculos. Fábrica do Ratinho (1872 - 1874) Uma fábrica artesanal com uma produção muito limitada referida e exultada por Queiroz que comparou a sua influência na faiança portuguesa à de Oiron36 na francesa. Empregava apenas quatro pessoas entre elas António Luís de Jesus, o neto de Salvador Luiz que trabalhou na Fábrica do Rato, e as duas fundadoras, Maria Luísa Holstein37 e Josefa Rio. Jesus instalou a olaria nos jardins do palácio da Duquesa em Lisboa e ocupava-se da preparação dos vidrados enquanto Holstein da modelação e Josefa do Rio da decoração [Queiroz 1907]. Fábrica de Alcântara (1885 - 1935) Criada em outubro de 1885 com a designação de Fábrica de Louça Ingleza produziu louça de inspiração romântica, estampada ou pintada à mão, utilizando uma mistura de materiais ingleses e barro branco de Leiria [Queiroz 1907]. No inicio do século XX empregava aproximadamente 90 operários e tinha já sido premiada nas exposições de Lisboa em 1888 e 1893 e na de Paris em 1889 [Queiroz 1907].

Figura 44: a) Jarra; faiança; Fábrica Ratinho; 1872 - 1873; © [Queiroz 1907]. b) Marcas da Fábrica Ratinho; 1872 e 1873; © [Queiroz 1907]. c) Prato comemorativo do 4º centenário da viagem de Vasco da Gama; pó de pedra; Fábrica de Alcântara; 1896. d) Marca em c. e) Marca em f. f) Prato; faiança; Fábrica de Alcântara; 1900; 21 cm.

Fábrica de Louça do Desterro (1889 - 192?)

Figura 45: Fábrica do Desterro; painel de azulejos com imagem de Santa Teresinha; pó de pedra; finais do século XIX - inicios do XX; a: 51 cm, c: 34 cm. A faiança de Oiron, ou de Saint-Porchaire como é atualmente estabelecido, foi uma cerâmica de grande qualidade produzida entre 1520 e 1550 para uma clientela restrita. 37 A terceira Duquesa de Palmela embora tenha sido uma escultora de talento é sobretudo reconhecida pela criação das Cozinhas Económicas, uma instituição que existiu entre 1893 e 1911 com o objetivo de fornecer aos operários lisboetas refeições de qualidade a baixo custo. 36

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Com a oficina situada na rua Nova do Desterro e o depósito de venda na rua da Prata produziu até 1891 louça branca em granito38 à semelhança das fábricas de Sacavém e Alcântara. Utilizava como marca o brasão de armas da casa onde estava instalada que tinha sido adquirida pelos seus fundadores. Tendo atingido uma população máxima de 40 operários, em 1901 José das Neves assumiu a gerência da fábrica e a partir daí começou a ser produzida preferencialmente louça em barro vermelho [Queiroz 1907]. Alcobaça - Porto de Mós Real Fábrica do Juncal (1770 - 1870) Construída em 1770 por José Rodrigues da Silva e Sousa que aproveitou as boas condições existentes do sítio, uma terra rica em argilas na vizinhança da estrada que ligava Lisboa ao Porto, isto é, um local com matéria prima abundante e facilidade no escoamento do produto. Tudo indica que a tendência artística da fábrica no seu período inicial foi ditada pelo fundador, caracterizando-se por decorações florais e vegetalistas de ditame barroco ou paisagens com uma forte influência oriental [Bártolo et al 2012]. Em 1781 o coimbrense José Fernandes da Fonseca ocupou-se da administração e a partir daí começaram a ser produzidas as peças com fetos e fogos de artifício que melhor distinguem a produção da fábrica. No ano seguinte o proprietário requereu o uso das armas reais que lhe foi concedido em 28 de setembro de 1784.

Figura 46: Real Fábrica do Juncal. a) Elemento decorativo encontrado preferencialmente na louça da Fábrica do Rato. b) Prato com o elemento decorativo ampliado; 1775 - 1800; 30,5 cm; © Museu Municipal de Leiria. c) Marca; 1780 - 1790. d) Elemento decorativo cadeia de perolas; finais do séc. XVIII. e) Jarras de altar; finais do séc. XVIII; a: 25, 22, 20,8 e 11.5 cm; © MML. f) Galheteiro decorado com fetos e cadeia de perolas; finais séc. XVIII; a:19,7 cm; © MML. g) Caneca; finais do séc. XVIII; a: 14 cm; © MML.

Figura 47: Par de floreiras; faiança; atribuídas à Real Fábrica do Juncal; 1775 - 1800 .

Após as invasões francesas a fábrica reabriu em 1811 com Fernandes de Sousa como associado mas a decoração típica manteve-se durante o século XIX provavelmente inspirada numa fábrica de pirotecnia que existia nas proximidades. Os azulejos que a fábrica produziu, geralmente a azul e branco, tiveram sempre motivos religiosos, possivelmente devido à igreja católica ter sido um dos seus melhores clientes. Fábrica de José dos Reis (1875- 1897) A fábrica foi fundada por José dos Reis na década de 70 do século XIX e produziu louça pintada à mão ou por estampilha ao estilo de Coimbra. Reis tinha previamente trabalhado como vendedor e decidiu tentar a sua sorte quando o principal 38

Também habitualmente referida como pó de pedra, meia porcelana ou faiança fina [Queiroz 1907].

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fornecedor na região, a Real Fábrica do Juncal, fechou. A decoração era geralmente monocromática com os pratos, terrinas39 e travessas a terem como padrões recorrentes uma paisagem com um casario ou o famoso cavalinho com as margens ornadas de motivos vegetalistas.

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Figura 48: Prato com casario; faiança; atribuído à Fábrica José dos Reis; séc. XIX.

Reis faleceu em 1898 e em 1900 Manuel Ferreira da Bernarda Júnior alugou a fábrica à sua filha tendo-se mantido a exploração pelos descendentes de Bernarda até à segunda metade do século XX. Coimbra Fábrica de Manuel da Costa Brioso (1779 - 1799) Aparentemente construída por Manuel da Costa Brioso cerca de 1779 a sua produção distingue-se pela forte tonalidade do vidrado que como referiu Queiroz [Queiroz 1907]: “por vezes atinge a meia tinta e em peças decoradas exclusivamente a azul a classificação francesa de ton sur ton”. Brioso um homónimo do patriarca da dinastia pertencia a uma família cuja produção cerâmica remontava ao século XVII sendo as suas produções de peças ao estilo rococó e assinadas Briozo que podem ser associadas aos azulejos produzidos na Fábrica de Telha Vidrada40, da qual foi administrador entre Julho de 1775 e Abril de 1776 [Sampaio 2012], habitualmente referidas com Brioso de segunda época.

Figura 49: a) Travessa; faiança; Fábrica de Faiança de Coimbra; Manuel da Costa Briozo; 1775 - 1780; 31.4 cm; © DGPC. b) Fonte; faiança; Manuel da Costa Briozo; 1781; © DGPC.

Fábrica do Rossio de Santa Clara (1784 - 1800) Criada em 1784 por Domingos Vandelli a sua produção distingue-se pelo branco imaculado e um vidrado de tom alaranjado tendo recebido o apelido de “louça de Vandelles” devido à sua qualidade [Alcoforado et al 2008]. De facto, Vandelli aperfeiçoou a Habitualmente oitavadas ou ovais. Criada em 1773 na sequência da reforma encetada pelo Marquês de Pombal à Universidade de Coimbra manteve-se ativa até 1777 [Santos et al 2009]. 39 40

louça por intermédio de experiências em laboratório sendo os melhoramentos o resultado da utilização duma pasta fina e aderente, dos pigmentos empregues na sua decoração e da ordem em que eram introduzidos [Santos et al 2009].

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Figura 50: Fábrica do Rossio de Santa Clara. a) Pote de farmácia; faiança; 1784 - 1800. b) Marcas da fábrica na pasta; © [Queiroz 1907]. c) Elemento decorativo denominado de mosca pelos oleiros coimbrões; séc. XVIII; © [Queiroz 1907]. d) Terrina; faiança; finais do séc. XVIII; © DGPC. e) Travessa; faiança; 1784 - 1800; © DGPC.

Durante o século XIX e especialmente na sua segunda metade a produção de Coimbra foi caracterizada pela família Pessoa considerada a última grande dinastia de ceramistas daquela cidade destacando-se nesta família Adelino Augusto Pessoa um republicano convicto que teve um papel preponderante no último terço do século XIX. A sua unidade industrializada utilizava frequentemente a técnica de estampagem estando também associada à produção da louça destinada às classes de baixos rendimentos genericamente apelidada de Ratinho.

Figura 51: a) Travessa; faiança; atribuído à produção Coimbrã; séc. XIX (2ª metade); c: 25 cm. b) Prato com elementos decorativos Império; faiança; atribuído à produção Coimbrã; séc. XIX (2ª metade); d: 32 cm. c) Prato ratinho; faiança; atribuído à produção Coimbrã; séc. XIX (1ª metade); d: 28 cm. d) Prato da série Centenário da Sebenta; faiança; Fábrica de Alfredo Pessoa; 1899; d: 21 cm. e) Terrina com casario; faiança; atribuído à produção Coimbrã; séc. XIX (1ª metade); c: 33 cm. f) Prato pré-ratinho; faiança; atribuído à produção Coimbrã; séc. XIX (1ª metade); d: 32 cm.

Com uma conotação depreciativa a louça adquiriu a alcunha dos seus maiores consumidores41, uma classe migrante de trabalhadores rurais originários das províncias beirãs que sazonalmente se deslocavam ao Alentejo para a participarem na recolha de cereais. Para os historiadores do século XIX e primeira metade do século XX a produção deste tipo de louça era o resultado de uma aposta coimbrã na produção de baixo custo que fortemente criticaram apelidando-a Queiroz de decadente [Queiroz 1907] e LePierre de vulgar e sem qualidade [Domingues 2009], no entanto, em 1905 estavam em atividade 14 fábricas empregando cerca de 200 operários sendo 7 delas dedicadas à produção de barro vermelho e outras 7 à de faiança. Estremoz Fábrica de Estremoz (1773 - 1808)

Figura 52: Fábrica de Estremoz. a) Prato com motivo neoclássico; faiança; séc. XVIII - XIX; 32 cm. b) Prato com motivo floral; faiança; séc. XVIII - XIX; 34 cm. c) Prato com motivo neoclássico; faiança; séc. XVIII - XIX; 32 cm. d) Prato com motivo neoclássico; faiança; séc. XVIII - XIX; 31 cm.

A fábrica que rompeu com a tradição oleira da região apresentando uma produção refinada, assinalada por elementos decorativos florais e representações de paisagens neoclássicas, com uma qualidade só atingida pelas melhores fábricas europeias da altura pressupõe-se que tenha iniciado a sua atividade entre 1773 e 1774 e terminado em 1808 devido às invasões francesas [Mangucci 2008]. Pouco se sabe da sua história embora se suspeite da presença do mestre pintor Sebastião Lopes Gavicho oriundo da Fábrica do Rato entre 1773 e 1775 e de que em 1792 tinha como proprietário o mestre Luís Freme da Rosa [Mangucci 2008]. Viana do Castelo Fábrica Darque ou de Viana (1774 - 1850)

Figura 53: Fábrica Darque. a) Par de pratos; faiança; séc. XVIII. b) Elemento decorativo em azul, violeta e amarelo; séc. XVIII; © [Queiroz 1907]. c) Terrina; séc. XVIII; c: 34.5 cm; © DGPC. d) Prato cordado; faiança; séc. XVIII; © DGPC. e) Marcas de Viana; séc. XVIII - XIX; © [Queiroz 1907]. O modo como esta classe ganhou a sua alcunha depende dos autores. Para Queiroz ela deve-se à localidade de origem, Rates, enquanto para outros ao elevado número de filhos que acompanhavam estes trabalhadores na deslocação. 41

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A Fábrica de Darque também conhecida como Fábrica de Viana foi fundada em 1774 por João Araújo Lima e Carlos de Araújo Lemos numa sociedade com João Gaspar Rego e António Alves Pereira Lemos [Queiroz 1907]. A escolha do município de Darque em frente a Viana do Castelo deveu-se à existência de abundantes jazidas de barro na vizinha localidade de Alvarães e às boas condições de navegabilidade do rio Lima constituindo um excelente meio para o escoamento de produtos [Queiroz 1907].

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Figura 54: Peças da Fábrica Darque no Museu Nacional Soares dos Reis; séc. XVIII- XIX.

Queiroz especulou a ajuda da Fábrica do Rato no estabelecimento da sua tendência artística inicial dando como exemplo uma terrina decorada a azul e branco que embora marcada foi identificada por diversos especialistas como manufaturada na Fábrica do Rato propondo contudo como influência alternativa a presença de um mestre francês dada a similaridade que a fábrica ostentava com a produção de Rouen [Queiroz 1907]. Para ele, o melhor período da fábrica teria ocorrido entre 1780 e 1805 quando adquiriu um tipo definido, ou por influência externa ou por uma tendência copista caracterizado por uma “policromia elegante ... sob um vidrado doce e lácteo” que não existia durante os seus primeiros 10 anos de atividade [Queiroz 1907]. No entanto também aponta a qualidade da modelagem durante estes primeiros anos como claramente superior aos períodos subsequentes exemplificando com as figuras produzidas pela fábrica ao longo dos seus 80 anos de existência que com raras exceções nunca são notáveis nas suas proporções [Queiroz 1907]. Apesar deste deficit na modelagem, segundo o mesmo autor a fábrica teria atingido a perfeição no mais difícil, a construção de pratos de grandes dimensões perfeitamente desempenados [Queiroz 1907]. Fábrica da Cabana (1820 - 184?)

Figura 55: Jarro; faiança; Fábrica da Cabana; séc. XIX (1ª metade); a: 12 cm.

Localizada na freguesia de Vilarelho em Caminha foi fundada em 1820 por António José Xavier e Silva um liberal e homem de negócios caminhense que posteriormente foi o presidente da Câmara Municipal em 1838. Tinha como instalações uma oficina com duas rodas de oleiro42 que servia também de armazém, uma divisão para a secagem das peças e um forno a lenha [Caminha 2012]. A matéria-prima provinha da Figueira da Foz e a louça tinha como principal mercado a Galiza sendo por vezes marcada com um X ou AX correspondendo às iniciais do proprietário. Com a morte de Xavier em 1844 a direção da Fábrica da Cabana terá passado à sua viúva Maria Josefa de Oliveira Torres, desconhecendo-se contudo a data do seu encerramento [Caminha 2012]. Fábrica de Martins Ruas (1846 - 1854) Fundada na vila de Caminha encerrou após um incêndio numa altura politica complicada para o seu proprietário, um liberal convicto numa região de forte tendência absolutista que na altura assistia a uma revolta generalizada. Durante os seus 8 anos de existência produziu faiança com uma qualidade aceitável utilizando uma mistura de argilas de Lisboa e Vilar de Mouros [Sandão 1999]. Com um estilo que pode ser considerado um hibrido das produções de Coimbra e da Fábrica de Darque, a decoração era pintada a mão ou por estampagem sendo os produtos por vezes marcados com um R [Sandão 1999]. Fábrica de Vilar de Mouros (1855 - 1905) Fundada em 1855 na vila de Caminha pelos irmãos Alvarinhas, que tinham trabalhado previamente na Fábrica Darque, encerrou entre 1900 e 1905 devido à idade avançada do seu proprietário na altura, José Manuel da Cruz. Maioritariamente vendida nos mercados do Minho tinha um produção de caracter utilitário que não exibia marcas [Sandão 1999].

Figura 56: Fábrica de Vilar de Mouros. a) Garrafa; faiança; 1881; foto: António Garrido; a: 32,5 cm; © Minho Digital. b) Pequena terrina; faiança; séc. XIX; © CMVC. c) Bule; faiança; séc. XIX; © CMVC. d) Garrafa de bolso; faiança; séc. XIX; foto: António Garrido; © Minho Digital.

Aveiro Fábrica do Cojo (1774 - 1907) Distinguida pela sua tonalidade cinza azulada provavelmente derivada de uma má composição de elementos no fabrico do vidrado a fábrica parece ter iniciado a produção em 1774 devido ao conteúdo duma petição feita à rainha em 16 de julho de 1779.

Figura 57: Fábrica do Côjo; floreira; século XVIII - XIX; a: 15 cm.

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Uma delas ocupada pelo mestre João Fernandes Serra, um natural da freguesia de Covas.

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Nessa data o dono José Rodrigues Branco de Mello e Sampaio e o seu administrador Bento João Ferreira de Sousa requereram o real epífito que teve a opinião favorável da Junta do Comércio em 22 de março de 1790 por, segundo o organismo, estar bem mantida, ter todas as oficinas indispensáveis à produção e proporcionar as comodidades necessárias aos operários [Sampaio 2012]. Nos últimos anos do século XVIII o pintor era João Regala e nos primeiros do século XIX, João da Silva Santos, no entanto, um registo das fábricas existentes no distrito de Aveiro feito em 1815 refere uma única fábrica de louça comum em estado decadente cujo proprietário era Domingos Ferreira Barbosa. Três anos depois outro inventário mantêm o estado decadente da fábrica mas muda a produção para louça ordinária e não ordinária e refere também a sua capacidade de exportação [Sampaio 2012].

Figura 58: Peças da Fábrica do Côjo no Museu Nacional Soares dos Reis; séc. XVIII - XIX.

Na década de 1840 o governador civil referia-a como uma fábrica de louça muito ordinária incapaz de competir com a Fábrica de Porcelanas da Vista Alegre ou com as unidades produtoras do Porto que asseguravam o consumo no distrito e em 1881 considerada um estabelecimento de pouca importância com unicamente 4 trabalhadores e uma produção destinada às classes pobres não tendo sido sequer mencionada no Inquérito Industrial de 1890 [Rodrigues 1996]. Nesse mesmo ano morreu o pintor Pedro Marques "Serrano" que a arrendava desde 1861 e a sua viúva, Ana Joaquina dos Santos Marques, assegurou a manutenção da fábrica até à sua morte em 1907 tendo entretanto, em 1905, sido apontado o seu estado de decadência extrema e as más condições laborais dos seus seis trabalhadores que à data auferiam ordenados idênticos aos de 1881[Rodrigues 1996]. Fábrica de Louça da Fonte Nova (1882 - 1937)

Figura 54: Fábrica da Fonte Nova. a) Placa decorativa; faiança; séc. XIX - XX; 42 cm. b) Prato com representação de Cúpido; faiança; Joaquim Simões Chuva; 1890; 23 cm. c) Placa decorativa; faiança; séc. XIX - XX; 42 cm.

Fundada por Norberto Ferreira Vidal e Luís da Silva Melo Guimarães [Rodrigues 1996] manufaturava faiança pó de pedra e grés com cariz utilitário e decorativo. Desde o início da sua atividade obteve prémios em diversas exposições tais como as Porto,

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Lisboa e Anvers empregando 70 operários por volta de 1904 [Queiroz 1907]. As peças artísticas eram sempre marcadas e assinadas pelo pintores, alguns deles listados por Queiroz [Queiroz 1907]: Joaquim Simões Chuva - 1891; Joaquim de Magalhães - 1892; José da Silva - 1892 a 1893; João Aleluia - 1902. A sua fundação constituiu um salto qualitativo na produção de faiança no distrito tornando-se bastante popular nos seus primeiros doze anos de existência e sido premiada com um diploma de mérito, uma menção honrosa e uma medalha de prata nas três exposições em que participou43. Constituiu-se também como uma escola que formava pintores e modeladores disputados pelas mais prestigiadas fábricas de cerâmica no país como a da Vista Alegre e que mais tarde assegurariam a continuidade produtiva na região com a instalação de novas unidades fabris como a fábrica Aleluia [Rodrigues 1996].

Figura 55: Fábrica da Fonte Nova. a) Prato; faiança; A. Quaresma; 1899; d: 35,5 cm; © DGPC. b) Travessa; faiança; 1890; © DGPC. c) Prato; faiança; A. Quaresma; 1899; d: 32,8 cm; © DGPC. d) Paliteiro; pó de pedra; século XIX; a: 13cm; © DGPC.

Manuel Ferreira Rodrigues [Rodrigues 1996] considera quatro períodos ao longo do meio século de existência da fábrica decorrendo o primeiro entre 1882 e 1886 quando ambos os sócios fundadores deixam a sua participação na fábrica e o irmão de Luís, Carlos da Silva Melo Guimarães, se torna o único proprietário. Durante o segundo período liderado por Carlos Guimarães ao longo de 1892 a imprensa local e nacional refere frequentemente a produção da fábrica como conhecida e apreciada no país, províncias ultramarinas e Brasil para aonde era exportada em grande quantidade [Rodrigues 1996]. Os terceiro e quatro períodos decorrem já no século XX e coincidem com a criação em 1903 e falência em 1908 da empresa de cerâmica de construção Empresa de Cerâmica da Fonte Nova. Esta falência originará também a decadência da fábrica de louça numa altura em que esta detinha uma produção diversificada e uma procura significativa dos seus produtos [Rodrigues 1996]. Iniciou-se assim em 1908 o quatro período com a constituição de uma sociedade em nome coletivo para o arrendamento da fábrica â administração local entre Manuel Pedro da Conceição e o gestor da massa falida, Albino Pinto de Miranda, que foi legalizada em Março de 1914 [Rodrigues 1996]. Caldas da Rainha Embora já existisse na região uma tradição oleira que remontava ao período da construção do seu hospital nos finais do século XV foi só na segunda metade do século XIX que a produção de cerâmica decorativa se propagou. Apoiada pela Casa Real e em especial pelo rei D. Fernando [Horta 2014] este centro produtivo tinha a particularidade de ser constituído por oficinas de pequena ou média dimensão fortemente marcadas pela personalidade do seu líder. De facto, durante o século XIX só existiu uma fábrica de maiores dimensões, a Fábrica Faiança das Caldas da Rainha mas também ela fortemente marcada pela personalidade de Rafael Bordalo Pinheiro.

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Exposição de Cerâmica Portuguesa de 1882, Exposição Industrial Portuguesa de 1888 e Exposição Universal de Anvers de 1894.

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Oficina de Maria dos Cacos (1820 - 1853) A impulsionadora do movimento foi a oleira, Maria dos Cacos, cuja olaria teve a sua direção entre 1820 até 1853 data em que foi trespassada a Manuel Cipriano Gomes, que aí trabalhava desde 1850 [Horta 2014]. Nascida em 1797 com o nome de Maria Póstuma, devido ao seu pai já ter falecido quando nasceu, era filha e neta de oleiros tendo contudo deixado a sua marca pela capacidade que demonstrou na distribuição da produção vendendo-a em mercados e feiras de todo o país.

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Figura 58: Castiçal; barro vidrado; atribuído a Maria dos Cacos; séc. XIX; a:25 cm.

Estudos recentes feitos por João Serra indicam que já na segunda década do século XIX empregava entre 15 a 16 operários um número considerável para a região só atingido pela fábrica de Manuel Mafra no Censo Industrial de 1881 [Narciso 2016]. Oficina de Manuel Cipriano Gomes "Mafra" (1853 - 1905) Após trespassar a olaria de Maria dos Cacos em 1853, Manuel Gomes adotou como apelido o concelho da sua origem, Mafra e começou a assinar a sua produção. Ajudado pela sua mulher Maria José e irmãs Mariana da Conceição Gomes e Luísa Gomes que se tornaram especialistas na técnica da verguinha44 fundou em 1860 a Fábrica de Louças das Caldas de Manuel Cipriano Gomes Mafra na Praça Dona Maria Pia. Em 1870, D. Fernando conferiu-lhe o título de Fornecedor Real e o privilégio de incorporar a coroa na sua marca. Fortemente inspirado pelo renascentista francês Bernard Palissy adotou o estilo incorporando nos elementos tradicionais deste o musgado [Horta 2014]. De facto, sabendo-se aproveitar da relação que tinha com o rei, que pôs à sua disposição a coleção real e provavelmente o orientou nas tendências da moda, Mafra foi sempre estimulado por modelos estrangeiros tendo conseguido obter o reconhecimento nacional e internacional como na Exposição Internacional de Viena in 1873 onde obteve uma menção honrosa ou nas exposições de Paris e Rio de Janeiro de 1878 e 1879 onde em ambas foi agraciado com medalhas de prata.

Figura 59: Prato com répteis; faiança; Oficina de Manuel Cipriano Gomes "Mafra"; 1870 -1885; d:11 cm.

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Uma técnica inspirada na produção de Wedgwood dos finais do século XVIII e que foi introduzida nas Caldas pela Fábrica de Manuel Mafra.

Provavelmente devido à falta do apoio real a fábrica começou a decair em 188545 e em 1887 a direção passou para o seu filho Eduardo Mafra tendo sido também alterada a marca de fabrico. Mafra que se referia ao filho como gostando mais de passear que de trabalhar parecia ter razão e em 1890 a fábrica fechou e foi leiloada tendo o seu stock sido arrematado por Herculano Elias. Em 1897 Mafra ainda reabriu uma nova oficina que nunca obteve o sucesso da primeira.

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Figura 60: Tabaqueiras. a) Cabeça Jonh Bull; faiança; Rafael Bordalo Pinheiro; 1907. b) Cabeça de negra; barro vidrado; José Alves da Cunha Sucessor; 1901 - 1910. c) Cabeça de frade; barro vidrado; atribuído a Avelino Soares Belo; 1899. d) Cabeça de velho; faiança; atribuído a José Alves da Cunha; séc. XIX. e) Cabeça de macaco; faiança; atribuído a Manuel Mafra; 1875 - 1892. f) Frade com mosca; barro vidrado; séc. XIX.

Oficina de José Francisco de Sousa (1860 - 1907) Também fortemente influenciado pelo trabalho de Palissy produziu peças muito semelhantes às de Manuel Mafra e iniciou a atividade em 1860 numa oficina fundada pelo ceramista António de Sousa Liso em 1855. Distinguido pela grande diversidade dos vidrados que utilizava, em 1893 estabeleceu uma sociedade com os seus filhos passando a oficina a denominar-se José Francisco de Sousa & Filhos. Obteve menções honrosas nas exposições internacionais de Paris em 1867 e 1900, e de Filadelfia em 1876. Oficina de José Alves Cunha (1862 - 1901) Outro seguidor de Palissy que foi reconhecido em diversas exposições nacionais e internacionais. Construiu a sua oficina em cerca de 1862 para produzir peças muito semelhantes às de Manuel Mafra. Após a sua morte em 1901 a filha, Henriqueta Ceselina Cunha e o marido, Ângelo Marcelino Garcia, renomearam a pequena fábrica como José Alves Cunha Sucessor mantendo a produção até 1910 quando Ângelo morreu.

Figure 61: Mealheiro; José Alves da Cunha; faiança; século XIX; a: 12 cm.

Oficina de Francisco Gomes d'Avelar (1875 - 1897) O local onde Bordalo Pinheiro aprendeu o modelo produtivo das Caldas, iniciou a produção em 1875 e manteve-se em atividade durante 22 anos, sendo o trabalho de Francisco Gomes de Avelar reconhecido pela qualidade dos vidrados e a utilização do oxido de cobalto na recreação do azul de Sevres. Estabelecida no atual Largo de João de Deus a oficina tinha como 45

O ano da morte de D. Fernando.

diretor artístico José Domingos de Oliveira "o Carneirinho"46 e os operários mais qualificados da altura como o modelador António Assis Madeira, o mestre de roda Francisco Pereira Caldas e Luiza Mafra na produção de verguinha.

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Figura 62: Oficina de Francisco Gomes d'Avelar. a) Reservatório em forma de touro; faiança; 1875 - 1897; a: 27 cm. b) Tinteiro; faiança; 1875 1899; a: 10 cm. c) Saleiro; faiança; 1875 -1899; a: 12 cm.

Oficina de João Coelho César (1876 - 1902) Entre 1876 e 1902 César produziu um misto de louça comum e peças artísticas numa pequena olaria de tipo familiar na atual Rua Heróis da Grande Guerra que vendia numa loja no atual Largo Frederico Ferreira Pinto Basto. Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha (1885 - 1916) O seu principal impulsionador, Rafael Bordalo Pinheiro, começou a trabalhar como cartoonista e durante toda a sua vida nunca deixou de publicar livros, artigos e desenhos políticos satíricos, tendo adquirido uma boa experiência nas artes gráficas antes de se iniciar na produção de cerâmica. Após uma aprendizagem feita na Fábrica de Sacavém e na oficina de Avelar construiu com o seu irmão a Fábrica Faiança das Caldas da Rainha da qual foi o diretor técnico e artístico durante cerca de 20 anos.

Figura 63: Entrada da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha; século XIX; © DGPC.

A fábrica estava organizada em três linhas de produção: materiais de construção; cerâmica artística e louça comum tendo a segunda linha ficado concluída em julho de 1885 e a sua produção começado ainda no mesmo ano. Antes de 1887 a fábrica foi reconhecida como escola mas só a concessão de um empréstimo pela administração portuguesa a salvou da bancarrota em 1889. No mesmo ano participou na Exposição Universal de Paris onde obteve as medalhas de ouro e prata na categoria de faiança. Em 1900 a direção artística foi transferida para Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, o filho de Bordalo Pinheiro. 46

Que teve a sua própria oficina entre 1897 e 1902.

Oficina de António Alves da Cunha (1890-1925) Especialista na produção de flores em barro nasceu numa família de oleiros e geriu a sua própria oficina entre 1890 e 1925 seguindo a inspiração naturalista de Mafra e tendo também utilizado alguns dos seus moldes.

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Figura 64: Pormenor de floreira de António Alves da Cunha no Museu da Cerâmica ; faiança.

Atelier Cerâmico (1892 - 1896) Uma oficina de dimensão reduzida dirigida pelo escultor austríaco Joseph Füller47 que tinha como objetivo a produção de peças artísticas e elementos arquitetónicos para ornamentar o palacete do Visconde de Sacavém nas Caldas da Rainha onde é hoje o Museu da Cerâmica.

Figura 65: Busto de mulher; barro mono cozedura; Atelier Cerâmico; Josef Füller; 1892 - 1896; a: 44 cm; © DGPC.

Contando com a colaboração de artistas experientes como Avelino Soares Belo em 1896 foi transferido para Lisboa desta vez com o objetivo de ornamentar o palácio do Visconde na capital. Oficina de Avelino Soares Belo (1894 - 1927) Com treze anos era juntamente com Francisco Elias um dos principais escultores que trabalhavam para Bordalo Pinheiro na Fábrica de Faianças partilhando a modelagem das peças mais complicadas com as figuras da Via Sacra no Buçaco ou a Jarra Beethoven, contudo, nunca perdoou a Bordalo a omissão do seu nome e o de Elias na apresentação brasileira da Jarra e abandonou a fábrica para iniciar uma parceria com o Visconde de Sacavém no Atelier Cerâmico [GC 2011]. Passado um ano e meio também deixou o Atelier alegadamente devido a desentendimentos relacionados com a divisão de lucros e estabeleceu uma oficina por conta própria com a ajuda exclusiva da sua recém esposa. A oficina prosperou e em 1900 foi o único português a receber uma medalha na exposição de Paris. Josef Füller nasceu em 1861 e veio para Portugal para lecionar em Tomar e depois em Lisboa onde publicou um livro intitulado de Manual do Formador e Educador antes de ingressar no Atelier Cerâmico. Com o fecho do atelier nas Caldas transferiu-se para Lisboa e após o encerramento do atelier em Lisboa voltou ao ensino para lecionar Desenho Ornamental e Modelação na Escola Industrial Afonso Domingos. 47

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Figura 66: Figuras da Paixão de Cristo no Museu da Cerâmica; Rafael Bordalo Pinheiro, Adelino Soares Belo e Francisco Elias; Séc. XIX.

Após a sua morte em 1927, o filho, José Avelino Soares Belo, modernizou a fábrica e adaptou os modelos mantendo-a em atividade até 1962 como Fábrica Belo. Oficina de Herculano Elias (1900 - 1939)

Figura 67: Prato; faiança; Herculano Elias; 1884 - 1939; d: 34 cm; © DGPC.

Um antigo operário da Fábrica de Faiança que se estabeleceu por conta própria cerca de 1900 utilizando muitos dos moldes e materiais que tinham pertencido à Fabrica de Manuel Mafra. A maior parte da sua produção são peças de pequena dimensão como paliteiros, cinzeiros, pratos e canecas que eram vendidos em mercados e lojas. O seu irmão, Francisco Elias bem como o seu homónimo neto são reconhecidos miniaturistas [GC 2011]. Referências [Alcoforado et al 2008] Ana Alcoforado, António Pacheco; Cerâmica de Coimbra séc. XVI a XX; Catálogo de Exposição; Museu Nacional Machado de Castro; Coimbra; http://www.museumachadocastro.pt/Data/Documents/cat%C3 %A1logo%C2%AECer%C3%A2mica2.pdf; 2008. [Araújo 2012] Armando Octaviano Palma de Araújo; A Fábrica de Louça de Massarelos: Elementos para a caracterização de uma unidade fabril pioneira; Dissertação de Mestrado em Estudos do Património; Universidade Aberta; http://repositorioaberto.uab.pt/handle/10400.2/2382; 2012. [Barbosa 2017] Liliana Barbosa; Fábrica de louça de Massarelos, Porto, breve olhar sobre as produções de uma unidade industrial pioneira em Portugal; https://www.academia.edu/33242404/F%C3%A1brica_de_Louc

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