Dor De Dente: Percepção Dos Usuários Da Atenção Básica De Saúde Pain of Tooth: Perception of Users of Basic Health Care

July 5, 2017 | Autor: Gustavo Godoy | Categoria: Health Care
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Dor de dente: percepção dos usuários da atenção básica de saúde Artigo OriginalCosta, / Original E.B.,Article et al

Dor de dente: percepção dos usuários da atenção básica de saúde Pain of tooth: perception of users of basic health care Ermano Batista da Costa*, Vanda Sanderana Macêdo Carneiro*, Hugo Leonardo de Oliveira Pedrosa*, Gustavo Pina Godoy**, Joaquina de Araújo Amorim*** * Cirurgiões-dentistas graduados - UEPB ** Professor Titular do Departamento de Odontologia - UEPB e Doutor em Patologia Oral *** Professora Titular do Departamento de Odontologia - UEPB e Doutora em Saúde Pública - USP

Descritores

Resumo

Dor de Dente; Atenção Básica; Atendimento Odontológico.

A dor é uma experiência privada e qualquer informação sobre ela provém daquele que a sente. Esta pesquisa objetivou analisar a percepção dos usuários atendidos na Atenção Básica de Saúde no município de Campina Grande – PB, quanto à dor de dente. A pesquisa foi do tipo quanti-qualitativa, descritiva e transversal, sendo os dados coletados por entrevista semi-estruturada. Dos 46 usuários entrevistados, 78% eram do sexo feminino e a faixa etária variou de 08 aos 57 anos. Cinqüenta e seis por cento apresentavam renda de um salário e dedicação mais em atividades domésticas (46%) e certa equiparidade de nível escolar (básico, médio e fundamental). Os indivíduos demoram em média 60 dias para consultarem-se após dor de dente e mostraram-se em sua maioria ansiosos (27%). A maioria dos usuários (50%) só procura atendimento odontológico ao sentirem dor de dente e 59% optam pela extração dentária. A dor de dente leva o usuário a um grau de sofrimento que o obriga a utilizar terapias por vezes não recomendadas; interferindo no seu cotidiano. Embora não procure atendimento odontológico regularmente, quando o faz tem a finalidade pré-estabelecida de extração dentária. O rudimentar nível social contribui para esta mentalidade.

Key-words

Abstract

Toothache; Basic Care, Dental Care.

Pain is a private experience and any information on it comes from that feeling. The objective of our study was to examine the perceptions of users served in Primary Care Health in the city of Campina Grande - PB, as the toothache. The research was kind of quantitative and qualitative, descriptive and cross, and the data collected by semi-structured. Of the 46 users interviewed, 78% were female, the age ranged from 08 to 57 years. Fifty-six percent had an income of wage and more dedicated in domestic activities (46%) and had some equality-level school. They on average 60 days to consult one another after toothache. They were mostly anxious (27%). Thirty-nine percent no longer perform activities of daily life. Most users (50%) only seeking dental care after feeling toothache and 59% of them opting for dental extraction. The toothache takes the user to a degree of suffering that requires the use therapies unexpected, it interferes with their daily lives. Although, not seek regular dental care and, when demand, designed to pre-established dental extraction. The rudimentary social level contributes to this mentality.

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Correspondência para / Correspondence to: Ermano Batista da Costa Rua Clara Alves - N. 333 - Bairro areias I - Iguatu-CE - CEP.: 63500-000 / E-mail: [email protected]

INTRODUÇÃO Do ponto de vista fisiológico, a dor pode ser considerada como um tipo de dispositivo de alerta para chamar a atenção para uma lesão no tecido ou por algum mau funcionamento fisiológico (HELMAN, 2003)9. A dor é uma experiência privada e qualquer informação sobre ela há de provir apenas daquele que a sente (MINAYO, 1994)16. Até o início do século XIX havia controvérsia a respeito de a dor ser uma sensação ou uma emoção, controvérsia esta decorrente da antiga divisão entre corpo e alma. A união definitiva entre essas duas correntes deu-se no estabelecimento da definição oficial de dor, formulado pela

1979, a qual engloba os componentes físicos e psíquicos da dor (CARVALHO, 1999)6. A polpa dentária é a principal fonte de dor na boca. Por estar alojada em uma rígida estrutura calcificada, a polpa não pode expandir-se e assim, quando inflamada, desencadeia um processo doloroso com características que, muitas vezes, podem indicar o grau de comprometimento pulpar (LOPES; SIQUEIRA-JR, 2004)13. Alguns indivíduos não se consideram com necessidade de tratamento odontológico se a dor não sentirem (UNFER; SALIBA, 2000)22. De acordo com Carvalho (1999) 6, mais de 30% da população relata ter experimentado dor intensa

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International Association for the Study of Pain (IASP), em

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em algum momento da sua vida, e que ela é a causa de perda de, pelo menos, um dia de atividade ao ano, em até 40% dos

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O grau de estimulação necessário para perceber a dor é diferente para cada paciente; a sensibilidade individual é diferente, variando de pessoa para pessoa, quando a dor é percebida, bem como de tempos em tempos ou do dia para a noite (TOMASI, 1989)21. A percepção de dor como doença varia conforme o grupo social. Nas classes superiores a visão de dor como doença é mais contundente quando comparada com as classes baixas (BOLTANSKI, 1984)4. A relevância desta pesquisa consiste em conhecer os aspectos psicológicos, biológicos, sociais, econômicos e culturais, que são determinantes do processo saúde-doença e influenciam bastante na sintomatologia dolorosa de indivíduos com dentes cariados. O conhecimento de tais aspectos e principalmente da percepção dos usuários são indispensáveis ao diagnóstico e conduta do cirurgião-dentista frente à dor de dente do paciente. É neste contexto, que o presente estudo analisou a percepção dos usuários sobre os aspectos da dor de dente na Atenção Básica de Saúde no município de Campina Grande – PB.

METODOLOGIA

A pesquisa foi do tipo quanti-qualitativa, analítica, transversal e observacional, pois, possibilitou o contato direto com o fenômeno. A amostra foi composta por 46 usuários acometidos por dor de dente e que procuraram o cirurgião-dentista para tratar tal sintomatologia no setor odontológico da Rede de Atenção Básica de Saúde em Campina Grande-PB. A mesma foi selecionada ao acaso, tendo toda a população a probabilidade de ser amostrada. A coleta de dados dava-se na sala de espera da Unidade Básica de Saúde, onde ocorria uma entrevista semi-estruturada com os usuários acometidos por dor de dente. O instrumento de coleta foi um formulário, onde a partir deste, os dados foram obtidos diretamente dos entrevistados. Esse era composto de duas partes, uma contendo dados sócio-econômicos de identificação dos usuários, e a outra pela percepção do fenômeno pelo usuário. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual da Paraíba de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).

RESULTADOS Nos 46 usuários entrevistados a faixa etária variou dos 08 aos 57 anos de idade, com média de idade de 29,67 anos.

FORMULÁRIO DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS DOS USUÁRIOS Sexo_________________ ocupação__________________________________

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Renda familiar_________________ Grau de instrução___________________ PERCEPÇÃO DO USUÁRIO SOBRE O FENÔMENO DOLOROSO · Está com dor de dente no momento?

Sim (

) Não (

)

· A quanto tempo sente ou sentiu a dor de dente em questão?_____________ · O que fez em casa para resolver o problema da dor?_____________________ · Você deixou de realizar alguma atividade cotidiana por motivo de dor de dente?

Sim (

) Não (

) Qual?__________________________________

· Explique como é a dor que você sente ou sentiu?________________________ · Como você se sente no momento? (

) Alegre

(

) Ansioso

(

) Angustiado

(

) Triste

(

) Normal

(

) Outros

· Em que ocasião ou motivo procura atendimento odontológico? ( ) De 6 em 6 meses (manutenção) ( ) Quando sente dor de dente ( ) Quando está com cárie ( ) Outros___________________________________ O que o dentista deve fazer com o dente que está doendo? Por que?________________________________________________________

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As condições sócio-econômicas dos usuários comportaram-se conforme a tabela 1: Ao serem interrogados se estavam com dor de dente no momento da entrevista os usuários fizeram os seguintes relatos (Tabela 2) Quanto ao tempo em que sentiu a dor de dente, primeiras dores, até o dia em que se deu o atendimento odontológico, variou de um dia até 720 dias, com média de 60 dias de sofrimento por dor de dente. Durante alguns períodos a dor de dente não era sentida constantemente e/ou era esporádica. Os termos utilizados pelos usuários para descrever como sente a dor foi bem variada (Tabela 3). Sobre o fator causal da dor de dente, a percepção que os usuários tiveram deu-se das mais diferentes formas conforme visto na Tabela 4. Sobre a condição emocional dos usuários, diante da sala de espera do consultório odontológico, os relatos aconteceram da seguinte maneira (Tabela 5). As terapias utilizadas pelos usuários antes do atendimento foram variadas e estão relacionadas na tabela 6. Em relação à realização ou não das atividades do cotidiano nas ocasiões de dor de dente, segue-se os relatos na tabela 7. Ao perguntar os usuários em que ocasião ou motivo procuravam o atendimento odontológico, os mesmos responderam de acordo com os relatos da tabela 8. Ao perguntar como o Cirurgião Dentista diante da dor do dente deveria proceder, os usuários indicaram como melhor solução os achados da tabela 9.

DISCUSSÃO O cuidado com a saúde bucal tem merecido importantes considerações no contexto das políticas de saúde, pois a prática mutiladora tem implicações psicossociais que acarretam a manifestação de diferentes comportamentos, destacando-se dentre estes a intimidação e o acanhamento, devido às mudanças biológicas, físicas e emocionais (FERREIRA, 2006)7. A porcentagem maior de usuários do gênero feminino entrevistados não significa exatamente que tenham mais ocorrência de dor de dente que os do gênero masculino, mas pode significar uma maior preocupação com a saúde bucal. A ampla faixa etária encontrada demonstra que a dor de dente atinge todos os indivíduos, desde que possuam elementos dentários e não tenham os devidos cuidados com os mesmos. Os autores Buischi5 (2000) e Lacerda12 (2004) comentam que é mais provável que as camadas mais pobres da população, com nível de instrução elementar, procurem a rede pública de assistência à saúde acometidas por dor de dente, tal qual ocorreu no presente estudo. Muitos usuários procuram o atendimento odontológico após o aparecimento de dores de dente iniciais, mas nem sempre o serviço de saúde pública possui disponibilidade de material, instrumental, profissional e de vagas para atendimento, tornando a dor do usuário crônica. A descrição da dor de dente pelos usuários se deu através de palavras do cotidiano e por metáforas que expressam a forma de ataque da dor, conforme comentou Minayo (1994)16. Em relação ao fator causal da dor de dente, muitos usuários dizem respostas que se aproximam do que é conhecido cientificamente, como a presença de processos cariosos, descuidos com a higiene bucal, alimentação inadequada (LORENZO, 2004)14. No presente estudo outros já falam gravidez, tempo, uso de próteses, que não tem nenhuma explicação científica. Os fatores sócio-culturais afetam os processos psicofisiológicos da percepção da dor. A dor de dente parece não fugir a esta regra, e a presença de transtornos mentais

Tabela 1 - Distribuição absoluta e percentual das condições sócio-econômica dos usuários que procuraram atendimento odontológico nas Unidades Básicas de Saúde. Variáveis

n

%

Sexo Feminino 36 78 Masculino 10 22 Total 46 100 Ocupação Atividades domésticas 21 46 Estudantes 13 28 Atividades no setor terciário 9 20 Atividades no setor primário 1 2 Atividades no setor secundário 1 2 Pensionistas 1 2 Total 46 100 Renda familiar Menos de um salário mínimo 26 56 Um salário mínimo 10 22 Entre um e dois salários mínimos 6 13 Dois salários mínimos 4 9 Total 46 100 Grau de instrução Ensino básico 18 39 Nível fundamental 19 41 Nível médio 9 20 Total 46 100

Tabela 2 - Distribuição percentual dos usuários que procuraram atendimento odontológico nas Unidades Básicas de Saúde quanto à presença de dor de dente no momento da entrevista. DOR DE DENTE NO ATO DA ENTREVISTA Sim Não Total

PORCENTAGEM % 39 61 100

comuns pode não ter sido somente conseqüência, mas também condição antecedente à dor de dente. Indivíduos mais deprimidos e ansiosos podem tolerar menos uma dor de dente ou apresentar uma maior sensibilidade à dor de uma forma geral (ALEXANDRE, 2006)1. Constatou-se que muitos usuários disseram estar ansiosos e nervosos e que a maioria não estava com dor de

dente no momento da entrevista. Este dado não correspondeu ao que discorreu Moraes e Pessoti (1988)17 quando afirmou Odontologia. Clín.-Científ., Recife, 8 (1): 53-58, jan/mar., 2009 que quanto maior a ansiedade do paciente, maior será a sua www.cro-pe.org.br sensibilidade à dor.

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Tabela 3 - Distribuição de termos utilizados para descrever a dor de dente quanto ao número de citações dos usuários.

Tabela 6 - Distribuição das terapias utilizadas para aliviar a dor, segundo o número de citações dos usuários.

TERMOS UTILIZADOS

TERAPIAS UTILIZADAS Nº DE CITAÇÕES Terapias Farmacológicas Dipirona sódica 7 Paracetamol 6 Dipirona sódica e associações 5 Outros analgésicos 10 Tetraciclina 3 Amoxicilina 4 Terapias Alternativas Perfume 1 Acetona 1 Gel doutorzinho 1 Elixir paregórico 1 Xilocaína 2 Pedra umes 2 Creme dental/escovação 9 Casca de caju roxo 1 Romã 1 Pimenta do reino 1 Sal com limão 1 Raspa de Mulungu 1 Rama de batata 1 Vinagre com sal 3 Água morna com vinagre 1 Água morna 3 Cachaça 1 Compressa com água quente 1 Tomar água 1 Alho 2

Pontada Latejando/Pulsando Furando/Perfurando Puxando Dor fina Chunchada Apertando/Arroxando Garfada Pesando Queimando Arrancando Inchando Tipo choque Fisgada Cortando Bomba

Nº DE CITAÇÕES 3 11 5 2 4 2 3 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Tabela 4 - Distribuição percentual dos usuários quanto a sua percepção do fator causal da dor de dente.

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PERCEPÇÃO DO FATOR CAUSAL DA DOR DE DENTE Dente estragado Cárie Comer besteiras Restauração que caiu Não escovar Gravidez Não cuidado Uso de prótese Não sabiam o motivo Total

PORCENTAGEM % 11 21 13 11 7 4 20 4 9 100

Tabela 5 - Distribuição percentual dos usuários que procuraram atendimento odontológico nas Unidades Básicas de Saúde por motivo de dor de dente, segundo sua condição emocional CONDIÇÃO EMOCIONAL Alegres Tristes Ansiosos Nervosos Normal Angustiados Outros sentimentos Total

PORCENTAGEM % 9 9 27 17 17 4 17 100

No presente estudo não houve busca de relação entre escolaridade e nível de ansiedade, posto que a maioria dos usuários tinham o mesmo nível escolar. Ferreira (2006)7 observou que quando comparada a distribuição de freqüência dos indivíduos normais e ansiosos, de acordo com o nível de escolaridade, não se observa diferença estatisticamente significativa.

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Tabela 7 - Distribuição percentual dos usuários que procuraram atendimento odontológico nas Unidades Básicas de Saúde por motivo de dor de dente, segundo o impedimento de execução de atividades cotidianas por conta da dor de dente. QUANTO AS ATIVIDADES PORCENTAGEM DO COTIDIANO % Deixaram de fazer atividades do cotidiano 39 Não deixaram de fazer atividades do cotidiano 46 Realizaram atividade mesmo debilitados 15 Total 100

Tabela 8 - Distribuição percentual dos usuários quanto às ocasiões ou motivos em que procuravam atendimento odontológico. MOTIVO QUE PROCURAM ATENDIMENTO Percebe cárie De seis em seis meses Quando sente dor Outras ocasiões Total

PORCENTAGEM % 22 11 50 17 100

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Tabela 9 - Distribuição do tipo de tratamento odontológico mais adequado para a dor de dente, segundo a percepção dos usuários. TRATAMENTO ADEQUADO PARA A DOR Restaurar ou extrair Tratar a do Restaurar Extrair Não soube indicar Total

PORCENTAGEM % 7 17 15 59 2 100

Ser vitimado por dor de dente é um sentimento tão desesperador que fizeram os usuários desse estudo lançar mão de terapias extraordinárias que estavam ao seu alcance, por vontade própria ou por indicação de alguém do seu convívio social. As representações sociais do cuidado à saúde bucal permitem apreender que em um meio social existem práticas culturais, que em muitos casos se constituem como a única alternativa para atender às dores e sofrimentos (FERREIRA, 2006) 7. Em pesquisa realizada por Hurst; Gouvêa e Barroso (2007)10, pacientes declararam fazer uso de drogas adquiridas em farmácias sem prescrição do cirurgião-dentista e também utilizar terapias alternativas para solução do problema, sendo a maior parte utilizada no próprio núcleo familiar. Neste estudo pôde-se verificar então que a maior parte da população estudada faz uso de automedicação influenciada por indivíduos sem qualquer formação na área de saúde, não procurando o cirurgião-dentista como primeira atitude para resolução de seus problemas odontológicos emergenciais. Adicionalmente, observou-se na presente pesquisa que a maioria dos usuários não deixou de realizar atividades do seu cotidiano por estar com dor de dente. Muitos se sentiam inclusive ofendidos ao imaginar o não cumprimento de uma tarefa por motivo de dor de dente. Alguns usuários suavizam a dor que sentiram, já outros exacerbam comparando-a a dor do parto, para mais ou para menos. A atitude de procurar atendimento odontológico somente após sentir dor de dente pode revelar uma não preocupação com a promoção e prevenção de saúde bucal, tanto pelas entidades da saúde pública quanto pelos usuários. Isso é comprovado nesse estudo pelo número elevado de usuários que só procuram atendimento após sentir dor de dente. O autor Ferreira7 (2006) comentou que grande parte da população evita visitar os consultórios odontológicos como rotina, buscando este tipo de serviço apenas quando há necessidade real de tratamento, ou seja, quando apresentam sinais e/ou sintomas clínicos de dor, edema e fístula. Quanto as possibilidades de tratamento para dor de dente, os usuários têm uma visão bem limitada ou arcaica, com idéia fixa de extração dentária, não só para resolver o problema da dor, mas também para eliminar o dente e seus possíveis cuidados de manutenção. A dor de dente é vivenciada como dificuldade enfrentada pelas populações de baixa renda, que não encontram nos serviços de saúde pública, meios apropriados para o cuidado à saúde bucal (FERREIRA, 2006) 7.

O nível psicossocial dos usuários é tão elementar que muitos não percebem que ao perder um dente muitos problemas aparecerão mais que unicamente uma dor de dente. As perdas dentárias constituem-se em uma marca da desigualdade social, diminuem a capacidade mastigatória, dificultando e limitando o consumo de diversos alimentos, afetam a fonação e causam danos estéticos que podem originar alterações psicológicas. Esse conjunto de repercussões no cotidiano das pessoas contribui para a redução da qualidade de vida das mesmas (BARBARATO, 2007)2.

CONCLUSÕES · A sensação de ansiedade dos usuários no momento da entrevista pareceu não ter correlação com os momentos de dor de dente na sala de espera odontológica; · Os usuários demoram muito tempo para procurar atendimento odontológico no sentido de tratar sua dor e quando procuram nem sempre este tratamento está disponível; · O conhecimento dos termos que os usuários utilizam para descrever sua dor dente é importante para o cirurgiãodentista entender o universo do paciente e melhor atendê-lo; · Sentindo ou não dor de dente durante as atividades do cotidiano é certo o prejuízo no desenvolvimento das mesmas, devido ao abalo físico/emocional que esta dor provoca;

AGRADECIMENTOS Aos que fazem a Atenção Básica de Saúde de Campina Grande-PB, PIBIC e Universidade Estadual da Paraíba.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Recebido para publicação em 02/07/2007 Aceito para publicação em 16/12/2008

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