Dossier História da Loucura

May 26, 2017 | Autor: Adilson Gambati | Categoria: Social Service
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Dossier História da Loucura

ÍNDICE 1) Édito do Rei estabelecendo o Hospital Geral, 1657

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2) Michel de Montaigne, Ensaios

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3) Sobre a epígrafe do capítulo 2, “Compelle intrare” - A Bíblia

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4) Sobre a epígrafe do capítulo 2, “Compelle intrare” - Santo Agostinho

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5) René Descartes, Meditações - Trechos da primeira Meditação

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6) René Descartes, Meditações - Trechos da segunda Meditação

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7) Platão, A República (livro I, 335d-e)

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8) Friedrich Nietzche, Ecce Homo, “Porque sou um destino”

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9) Maurice Blanchot, Thomas, o Obscuro

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10) Rogier van der Weyden, O juízo final, 1445-1449

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11) Livro A nau dos insensatos, 1499

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12) Hyeronimus Bosch, A nau dos insensatos, 1490-1500

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13) Pieter Brueghel, o velho, Provérbios Flamengos, 1559

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14) Francisco Goya, Pátio com loucos, 1794

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15) Francisco Goya, O hospício, 1812-1814

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16) Tony Robert-Fleury, Philippe Pinel liberando os lunáticos das cadeias no asilo de Salpetriere em 1795 em Paris, 1876 14 17) Pinel, Traité médico-philosophique, p. 222

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18) Pinel, Traité médico-philosophique, p. 324

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1) Édito do Rei estabelecendo o Hospital Geral, 1657

Luís, pela graça de Deus rei de França e de Navarra, a todos presentes e futuros, saudações. Os reis nossos predecessores desde o século passado publicaram várias ordenações de Polícia sobre os Pobres em nossa boa cidade de Paris, e obraram, tanto por seu zelo quanto por sua autoridade, para impedir a mendicância e a ociosidade, bem como as fontes de todas as desordens. E embora nossas companhias soberanas tenham sustentado com seu labor a execução dessas ordenações, estas contudo com o passar dos tempos se revelaram infrutíferas e sem efeito, seja pela falta de fundos necessários para a subsistência de um tão grande objetivo, seja pelo estabelecimento de uma direção bem estabelecida e conveniente à qualidade da obra. De modo que nos últimos tempos e sob o reinado do falecido rei, nosso muito honrado Senhor e Pai, de feliz memória, com o mal aumentando com a licenciosidade pública e com o desregramento dos costumes, reconheceu-se que a principal falha na execução dessa Polícia provinha do fato de que os mendigos tinham liberdade de andar por toda parte e que os alívios proporcionados não impediam a mendicância secreta e não faziam cessar a ociosidade. Com base nisso foi projetado e executado o elogiável objetivo de interná-los na Casa de Misericórdia e lugares dela dependentes, bem como se concedeu cartas patentes com esse fim em 1612, registradas em nossa corte do Parlamento de Paris, segundo as quais os pobres foram internados; a direção foi entregue a bons e notáveis Burgueses que, sucessivamente, uns após os outros, empregaram toda sua industriosidade e boa conduta para fazer com que esse objetivo fosse alcançado. No entanto, apesar dos esforços realizados, os efeitos só se fizeram sentir durante cinco ou seis anos, e ainda de modo muito imperfeito, tanto pela falta de emprego dos Pobres nas Obras Públicas e nas manufaturas quanto pelo fato de não terem sido esses diretores apoiados pelos Poderes e pela autoridade necessária à grandeza do empreendimento, e que, como consequência das desgraças e das desordens das guerras, o número dos Pobres aumentou além do crédito comum e ordinário, com o mal tornando-se maior que o remédio. De modo que a libertinagem dos mendigos se tornou excessiva por um infeliz abandono a todo tipo de crimes que atraem a maldição de Deus sobre os Estados quando não são punidos. A experiência demonstrou às pessoas que se ocuparam dessas obras caridosas que várias dessas pessoas, de um e outro sexo, e muitos de seus filhos, não conheciam o Batismo e viviam quase todos na ignorância da religião, no desprezo dos

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Sacramentos e no hábito contínuo de todo tipo de vício. Por essa razão, como somos devedores da misericórdia divina por tantas graças, e por uma visível proteção que ela deu a nosso comportamento durante o evento, e no feliz curso de nosso reino através do sucesso de nossas armas, e da alegria de nossas vitórias, acreditamos estar ainda mais obrigados a demonstrar nosso reconhecimento através de uma real e cristã aplicação nas coisas que dizem respeito à sua honra e serviço; consideremos esses Pobres mendigos como membros vivos de Jesus Cristo, e não como membros inúteis do Estado, agindo na realização de uma tão grande obra não por uma ordem de Polícia, mas apenas por razões de Caridade.

Artigo I Queremos e ordenamos que os pobres mendigos, válidos e inválidos, de um e outro sexo, sejam empregados num hospital para serem utilizados nas obras, manufaturas e outros trabalhos, segundo suas capacidade & e tal como está amplamente contido no Regulamento assinado por nossa mão, sob o contrasselo dos presentes, e que queremos que seja executado na forma e no conteúdo.

Artigo IV E para internar os pobres em condição de serem internados, segundo o regulamento, demos e damos através deste a Casa e Hospital tanto da grande quanto da pequena Misericórdia e do Refúgio, sitos no bairro de Saint-Victor, a Casa e Hospital de Scipion e a Casa da Saboaria com todos os lugares, Praças, Jardins, Casas e Construções que delas dependem, as Casas e Locais de Bicêtre.

Artigo IX Inibimos e proibimos expressamente todas as pessoas de todos os sexos, lugares e idade, seja qual for sua qualidade e nascimento e seja qual for sua condição, válidas ou inválidas, doentes ou convalescentes, curáveis ou incuráveis, de mendigar na cidade e nos bairros de Paris, ou nas igrejas, às portas destas, nas portas das casas ou nas ruas, ou em outros lugares públicos, ou em segredo, de dia ou de noite, sem exceção das festas solenes, perdões, jubileus, Assembleias, Feiras ou Mercados, ou

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por qualquer outra causa ou pretexto que seja, sob pena de chicoteamento dos contraventores na primeira vez, e na segunda das galeras para homens e rapazes e banimento para mulheres e moças.

Artigo XVII Inibimos e proibimos todas as pessoas de toda condição ou qualidade de dar esmola manualmente aos mendigos nas ruas e lugares acima, apesar dos motivos da compaixão, da necessidade premente ou de qualquer outro pretexto, sob pena de 4 libras parisis de multa aplicável em proveito do Hospital.

Artigo XXIII Como cuidamos da salvação dos Pobres que devem ser internados, tanto quanto de seu estabelecimento e subsistência, tendo reconhecido a bênção que Deus deu ao trabalho dos padres Missionários de Saint-Lazare, os grandes frutos que eles obtiveram até aqui no auxílio aos pobres, e com base na esperança que temos de que eles continuarão e aumentarão esses frutos no futuro, queremos que tenham a guarda da instrução do espírito para a assistência e consolo dos Pobres do Hospital Geral e dos lugares dele dependentes, e que administrem os sacramentos sob a autsoridade e jurisdição espiritual de monsenhor arcebispo de Paris.

2) Michel de Montaigne, Ensaios

A razão me mostrou que condenar de modo tão resoluto uma coisa como falsa e impossível é atribuir-se a vantagem de ter na cabeça os limites e os marcos da vontade de Deus e o poder de nossa mãe Natureza, e no entanto não há loucura mais notável no mundo que aquela que consiste em fazer com que se encaixem na medida de nossa capacidade e suficiência.

3) Sobre a epígrafe do capítulo 2, “Compelle intrare” - A Bíblia

Um certo homem fez uma grande ceia, e convidou a muitos. E à hora da ceia mandou o seu servo dizer aos convidados: Vinde, que já tudo está preparado. E todos começaram a escusar-se. […] E, voltando aquele servo, anunciou estas coisas ao seu senhor. Então o pai de 4

família, indignado, disse ao seu servo: Sai depressa pelas ruas e bairros da cidade, e traz aqui os pobres, e aleijados, e mancos e cegos. […] Sai pelos caminhos e valados, e força-os a entrar, para que a minha casa se encha: "Et compelle intrare ut impleatur domus mea” (Lucas 14:16-24)

4) Sobre a epígrafe do capítulo 2, “Compelle intrare” - Santo Agostinho

Você acha que não se pode obrigar ninguém à justiça, apesar de ter lido que o chefe de família disse a seus servos: “Force todos que vocês encontrarem a entrar”, e apesar de ter lido que Saulo, depois Paulo, sob a imposição do Cristo foi levado ao reconhecimento e à aceitação da verdade… Assim você compreende que o que importa não é se alguém é forçado, mas se aquilo a que ele é forçado é bom ou mal. (Carta de Agostinho ao bispo Donatista Vincentius, 408)

5) René Descartes, Meditações - Trechos da primeira Meditação

Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto; de modo que me era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente desde os fundamentos, se quisesse estabelecer algo de firme e de constante nas ciências. Tudo o que recebi, até presentemente, como o mais verdadeiro e seguro, aprendi-o dos sentidos ou pelos sentidos: ora, experimentei algumas vezes que esses sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez. Mas, ainda que os sentidos nos enganem às vezes, no que se refere às coisas pouco sensíveis e muito distantes, encontramos talvez muitas outras, das quais não se pode razoavelmente duvidar, embora as conhecêssemos por intermédio deles: por exemplo, que eu esteja aqui, sentado junto ao fogo, vestido com um chambre, tendo este papel entre as mãos e outras coisas desta natureza. E como poderia eu negar que estas mãos e este corpo sejam meus? A não ser, talvez, que eu me compare e esses insensatos, cujo cérebro está de tal modo perturbado e ofuscado pelos negros vapores da bile que constantemente asseguram que são reis quando são muito pobres;

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que estão vestidos de ouro e de púrpura quando estão inteiramente nus; ou imaginam ser cântaros ou ter um corpo de vidro. Mas quê? São loucos e eu não seria menos extravagante se me guiasse por seus exemplos. Ainda bem! Como se eu não fosse um homem, acostumado a dormir à noite e sentir nos sonos todas essas mesmas coisas, e até menos verossímeis, do que eles em sua vigília! Em verdade, com que frequência o sono noturno não me persuadiu dessas coisas usuais, isto é, que estava aqui, vestindo esta roupa, sentado junto ao fogo, quando estava, porém, nu, deitado entre as cobertas! Agora, no entanto, estou certamente de olhos despertos e vejo este papel, e esta cabeça que movimento não está dormindo, e é de propósito, ciente disso, que estendo e sinto esta mão, coisas que não ocorreriam de modo tão distinto a quem dormisse. Mas, pensando nisto cuidadosamente, como não recordar que fui iludido nos sonos por pensamentos semelhantes em outras ocasiões! E, quando penso mais atentamente, vejo do modo mais manifesto que a vigília nunca pode ser distinguida do sono por indícios certos, fico estupefato e esse mesmo estupor quase me confirma na opinião de que estou dormindo. Sonhemos, portanto (“Age ergo somniemus”), e que aquelas coisas particulares — que abrimos os olhos, mexemos a cabeça, estendemos a mão e coisas semelhantes — não são verdadeiras e talvez não tenhamos também estas mãos, nem este corpo todo.

6) René Descartes, Meditações - Trechos da segunda Meditação

Mas há algum, não sei qual, enganador mui poderoso e mui ardiloso que emprega toda a sua indústria em enganar-me sempre. Não há, pois, dúvida alguma de que sou, se ele me engana; e, por mais que me engane, não poderá jamais fazer com que eu nada seja, enquanto eu pensar ser alguma coisa. De sorte que, após ter pensado bastante nisto e de ter examinado cuidadosamente todas as coisas, cumpre enfim concluir e ter por constante que esta proposição, eu sou, eu existo, é necessariamente verdadeira todas as vezes que a enuncio ou que a concebo em meu espírito.

7) Platão, A República (livro I, 335d-e)

Sócrates - […] ele não se conteve mais, e se levantando como um animal selvagem, se avançou sobre nós para nos colocar aos pedaços …

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Polemarco e eu nos sentimos tomados por um terror pânico. … Essas palavras me golpearam com estupor; eu o olhava tremendo.

8) Friedrich Nietzche, Ecce Homo, “Porque sou um destino”

Conheço a minha sorte. Algum dia se associará ao meu nome a lembrança de algo desmedido – de uma crise como jamais outra existiu na terra, da mais profunda colisão de consciência, de uma decisão proferida contra tudo aquilo que, até hoje, foi objeto de fé, de exigência e de sacralização. Não sou um homem, sou dinamite.

9) Maurice Blanchot, Thomas, o Obscuro

A noite era mais escura e mais penível que ele podia esperar. A obscuridade submergia tudo, e ele não tinha nenhuma esperança de atravessar as sombras, mas atingia a realidade em uma relação cuja intimidade era perturbadora. Sua primeira observação foi que ele ainda podia se servir de seu corpo, em particular de seus olhos; não é que ele visse alguma coisa, mas aquilo que ele via, ao final o colocava em relação com uma massa noturna que ele percebia vagamente como sendo ele mesmo e na qual ele se banhava. Naturalmente, ele apenas formulou essa observação a título de hipótese, como uma maneira de ver que era cômoda, mas à qual apenas a necessidade de decifrar as novas circunstâncias o obrigava a recorrer. Como ele não tinha nenhum meio para medir o tempo, ele esperou provavelmente durante horas antes de aceitar esse modo de ver, mas, para ele mesmo, foi como se o medo tivesse se imposto imediatamente, e foi com um sentimento de vergonha que ele levantou a cabeça para acolher a ideia que ele tinha acariciado: fora dele encontrava-se algo semelhante a seu próprio pensamento, que seu olhar ou sua mão poderiam tocar. Devaneio repugnante.

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10) Rogier van der Weyden, O juízo final, 1445-1449

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11) Livro A nau dos insensatos, 1499

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12) Hyeronimus Bosch, A nau dos insensatos, 1490-1500


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13) Pieter Brueghel, o velho, Provérbios Flamengos, 1559

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14) Francisco Goya, Pátio com loucos, 1794


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15) Francisco Goya, O hospício, 1812-1814

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16) Tony Robert-Fleury, Philippe Pinel liberando os lunáticos das cadeias no asilo de Salpetriere em 1795 em Paris, 1876

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17) Pinel, Traité médico-philosophique, p. 222

Um princípio fundamental para a cura da mania num grande número de casos é recorrer de início a uma enérgica repressão, seguida por benevolência.

18) Pinel, Traité médico-philosophique, p. 324

[Trata-se] de destruir até os traços primitivos das ideias extravagantes dos alienados, o que só poderia acontecer obliterando-se, por assim dizer, essas ideias num estado vizinho da morte

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