Draft - o desafio do relativismo cultural

July 15, 2017 | Autor: Leonardo Ruivo | Categoria: Filosofía, Ensino de Filosofia, RELATIVISMO, Relativismo cultural, Ética e Filosofia Moral
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AULA

O desafio do Relativismo Cultural

José Leonardo Annunziato Ruivo [email protected]

Porto Alegre, 2015.

O desafio do Relativismo Cultural José Leonardo Ruivo [email protected] Porto Alegre, 2015

A proposta de James Rachels 1. Tema: Ética 1.2. Problema: qual é a concepção relativista da ética? 1.3. Características do agente moral consciente - lidar imparcialmente com interesses - separar fatos e examinar implicações - busca por consistência - revisar e escutar razões - agir com base nesse processo deliberativo

O desafio do Relativismo Cultural José Leonardo Ruivo [email protected] Porto Alegre, 2015

Metodologia filosófica 1. Questão central: como justificamos nossas crenças? "A principal ocupação da Filosofia é questionar e entender ideias muito comuns que todos nós usamos no dia-a-dia sem sequer refletir sobre elas" (NAGEL, 2001) 1.1. A atividade filosófica é a análise crítica das nossas crenças 1.2. Quando acreditamos em algo, devemos acreditar não porque alguém o disse mas porque certos fatos parecem atestar a verdade daquilo que acreditamos 1.3. Atividade crítica: buscar boas razões, ou seja, bons argumentos para aceitar ou recusar crenças que temos sobre o mundo

O desafio do Relativismo Cultural José Leonardo Ruivo [email protected] Porto Alegre, 2015

Três tipos de desacordo 1. O que diferencia os três tipos de desacordo abaixo? 1.1. As civilizações antigas que afirmavam que a terra é plana estão em desacordo com a nossa civilização. 1.2. Em um ritual um leigo, um religioso e um indígena estão em desacordo quando o primeiro diz que bebeu um alucinógeno, o segundo que bebeu daime e o terceiro que bebeu Ayahuasca. 1.3. Um neonazista que agrediu um negro está em desacordo com um advogado de direitos humanos que denunciou o nazi por preconceito.

O desafio do Relativismo Cultural José Leonardo Ruivo [email protected] Porto Alegre, 2015

Três tipos de desacordo 1. O que diferencia os três tipos de desacordo abaixo? 1.1. As civilizações antigas que afirmavam que a terra é plana estão em desacordo com a nossa civilização.

DESACORDO CIENTÍFICO: há fatos objetivos que o resolvem 1.2. Em um ritual um leigo, um religioso e um indígena estão em desacordo quando o primeiro diz que bebeu um alucinógeno, o segundo que bebeu daime e o terceiro que bebeu Ayahuasca.

DESACORDO APARENTE: não há desacordo mas perspectivas complementares 1.3. Um neonazista que agrediu um negro está em desacordo com um advogado de direitos humanos que denunciou o nazi por preconceito.

DESACORDO MORAL: temos algum critério para resolvê-los?

O desafio do Relativismo Cultural José Leonardo Ruivo [email protected] Porto Alegre, 2015

Relativismo cultural 1. Ideia motivada pelas ciências sociais 1.1. Ruth Benedict, Padrões de Cultura (1934): "A moralidade varia em todas as sociedades, e é apenas um termo cômodo para os hábitos que uma sociedade aprova." 1.2. Exemplos nas diferentes culturas - para indianos as vacas são seres sagrados; - para algumas tribos indígenas e esquimós o infanticídio é moralmente aceito;

O desafio do Relativismo Cultural José Leonardo Ruivo [email protected] Porto Alegre, 2015

Afirmações inspiradas no relativismo cultural 1. Sociedades diferentes têm códigos morais diferentes; 2. Se o código moral de uma sociedade afirma que certa ação é correta, então essa ação é correta, pelo menos nessa sociedade; 3. Não há qualquer padrão objetivo que se possa usar para ajuizar um código social como melhor do que outro; 4. O código moral da nossa própria sociedade não tem estatuto especial, é apenas um entre muitos; 5. Não há uma "verdade universal" em ética, isto é, não há verdades morais aceitas por todos os povos em todos os tempos; 6. É mera arrogância nossa tentar julgar a conduta de outros povos. Deveríamos adotar uma atitude de tolerância face às práticas de outras culturas.

O desafio do Relativismo Cultural José Leonardo Ruivo [email protected] Porto Alegre, 2015

O argumento que defende o relativismo cultural 1. O argumento das diferenças culturais Premissa 1. Culturas diferentes possuem códigos morais diferentes. Premissa 2. Não há acesso a um critério objetivo que encerre o desacordo moral entre culturas diferentes. Conclusão. Logo, não há um critério objetivo na moralidade. Certo e errado são apenas questões de opinião e as opiniões variam de cultura para cultura. 1.1. É um argumento válido? Se suas premissas forem verdadeiras, sua conclusão será necessariamente verdadeira? 1.2. É um argumento cogente? Suas premissas e sua conclusão são verdadeiras?

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Consequências do relativismo cultural

1. Certo e errado são práticas sociais. Não há critérios para avaliar que uma prática social é boa e outra prática social é ruim 2. Não há costumes inferiores nem superiores. ● Você concorda com essas consequências do argumento apresentado? ● Você consegue pensar algum contraexemplo a essas consequências ou concorda plenamente com elas?

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Algumas questões para o relativismo cultural 1. Nós podemos ou não podemos avaliar costumes dos outros? Nós devemos ou não devemos avaliar o costume dos outros? Não há certo e errado, só o diferente? 2. Nós podemos ou não avaliar os costumes da nossa cultura? Nós devemos ou não avaliar os costumes da nossa cultura? Existem padrões na nossa sociedade para avaliar nossos costumes? 3. As sociedades podem melhorar (progredir) moralmente? É possível ou impossível realizar juízos transculturais? Uma sociedade escravagista é moralmente melhor que uma sem trabalho escravo ou só são sociedades diferentes?

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Há ou não há diferenças culturais? 1.Costumes são diferentes de valores éticos 1.1. Povos diferentes possuem práticas morais diferentes, isso é um fato, uma descrição de como povos e culturas se comportam 1.2. Mas disso se segue que não podemos julgar culturas? Disso se segue que tudo é permitido? Que o escravagismo, genocídio, estupro, linchamento e outras práticas como essas são iguais a práticas morais libertárias, justas e/ou feministas?

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Há valores transculturais? 1. O relativismo cultural diz que não há um critério objetivo na moralidade. 1.1. Se houver pelo menos um critério objetivo na moralidade, então o relativismo cultural está errado 2. Um exemplo de uma prática difundida entre todas as culturas 2.1. Valorizamos a verdade. 2.1.1. Contraexemplo do Dr. House: “Todo mundo mente!” ● Existe alguma resposta ao lema do Dr. House? ● O que seu lema quer dizer exatamente?

O desafio do Relativismo Cultural José Leonardo Ruivo [email protected] Porto Alegre, 2015

Há valores transculturais? 2. Um exemplo de uma prática difundida entre todas as culturas 2.1. Valorizamos a verdade. 2.1.1. Contraexemplo do Dr. House: “Todo mundo mente!” 2.1.2. Réplica: Sim, as pessoas mentem algumas vezes, e há alguns mentirosos, mas eles são a exceção. Não existe uma sociedade em que todas as pessoas estão sempre mentindo! 2.1.3. Se houvesse uma sociedade em que todos estivessem sempre mentindo não seria possível nenhum tipo de laço social (ex. amizade, contratos de todo tipo)

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Há valores transculturais? 3. Outro exemplo de uma prática difundida entre todas as culturas 3.1. Proibimos o homicídio. 3.1.1. Contraexemplo: “Mas existem assassinos por aí!” 3.1.2. Réplica: Sim, algumas pessoas são homicidas, mas eles são a exceção! Não existe uma sociedade em que todas as pessoas estão sempre matando umas as outras! 3.1.3. Se houvesse uma sociedade em que todos estivessem sempre se matando não seria possível existir por muito tempo (todos estariam mortos!!)

O desafio do Relativismo Cultural José Leonardo Ruivo [email protected] Porto Alegre, 2015

Avaliando práticas sociais 1. O relativismo cultural diz que não há um critério objetivo na moralidade. 2. Qual é o erro do relativismo cultural? 2.2. Existem práticas culturais que todas as sociedades tem em comum,pois são regras necessárias para as sociedades poderem existir! 2.3. Podemos pensar em um critério objetivo na moralidade a partir daquelas regras: uma prática cultural promove ou é um obstáculo ao bem-estar das pessoas cujas vidas são por ela afetadas? 2.4. E sempre podemos perguntar se, dada uma prática social, há um conjunto alternativo de práticas com melhores resultados na promoção do bem estar das pessoas cujas vidas são por ela afetadas?

O desafio do Relativismo Cultural José Leonardo Ruivo [email protected] Porto Alegre, 2015

O lado positivo do Relativismo Cultural 1. Muitas das nossas práticas são produtos culturais, mas nem todas são. 1.2. O relativismo cultural, no seu lado descritivo de observar como se comportam as outras culturas nos obriga a pensar sobre nós mesmos 1.3. Esse tipo de reflexão ajuda a sermos menos arrogantes e a manter o espírito aberto com relação a práticas culturais diferentes das nossas. "Se se propusesse, fosse a quem fosse, a escolher entre todas as tradições culturais, qual é a melhor, cada um, depois de refletir maduramente, escolheria a sua, convencido que está de que a tradição em que nasceu é de longe a melhor." (Heródoto)

O desafio do Relativismo Cultural José Leonardo Ruivo [email protected] Porto Alegre, 2015

Algumas casos para reflexão e debate 1. Como avaliar costumes dos outros? 2. Como avaliar os nossos costumes? 3. Pesquise acerca das situações abaixo e explique como um relativista interpretaria esses casos. Depois responda e justifique se a interpretação relativista é satisfatória.

3.1. Infanticídio no Brasil 3.2. Uso da burca na França 3.3. O dilema do antropólogo francês (Clicando aqui você encontra material para os casos)

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Referências NAGEL, T. Uma breve introdução à Filosofia. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2001. RACHELS, James. Os elementos da Filosofia da Moral. Barueri: Manole, 2006. STOLNITZ, Jerome. “Filosofia: a crítica das nossas crenças”. In: http://blog. domingosfaria.net/2012/01/filosofia-critica-das-nossas-crencas.html VELASCO, Marina. O que é justiça? O justo e o injusto na pesquisa filosófica. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2009.

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