Ecoagriculturas e extensao rural 150915 rev

May 30, 2017 | Autor: Antonio Marchiori | Categoria: Agroecology, Agroforestry System
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I CONGRESSO PAULISTA DE EXTENSÃO RURAL “O Papel das Redes na Política de Extensão Rural” - 22 a 24 de setembro de 2015/Agudos – SP

EXTENSÃO RURAL PÚBLICA PARA VIABILIZAR ECOAGRICULTURAS1: PARA ALÉM DA VISÃO SISTÊMICA RUMO ÀS ESTRATÉGIAS DE CONVIVÊNCIA NO COTIDIANO Antônio Marchiori1, Karla Pereira2,João Pacheco1, Roberto Machado1, Eduardo Drolhe2, Silvia Moreira2, Isabel Viegas2,.Bia Marchiori3 Rogério Sakai1, Eduardo Zhan1, Flávio Rizi1 Carolina Lima4, Fabiana Miranda4, Fabio Pincinato5, Iara Giacomini5, Márcio Santos5, Silas Barrozo6 1

CATI: Coordenadoria de Assistência Técnica Integral/SAA-SP – [email protected]

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APTA: Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios/SAA-SP; UFRRJ: Universidade Federal Rural do 4 5 Rio de Janeiro; PMU – Prefeitura Municipal de Ubatuba; CBH-LN: Comitê de Bacias Hidrográficas do Litoral 6 Norte; CBRN: Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais

“As pessoas que são loucas o suficiente para acharem que podem mudar o mundo são aquelas que o fazem.” Steve Jobs

RESUMO Embora muitos já concordem que é preciso ir além do se preocupar apenas com o processo produtivo, algumas novas formas de agir serão necessárias para conscientizar o meio rural de que saber como melhor “vender o seu peixe” é pelo menos metade do caminho para alcançar uma boa remuneração pelo seu trabalho. A inserção da visão sistêmica preconizada pela agroecologia nas estratégias de extensão rural passa pelo fortalecimento da organização rural, com participação de produtores e consumidores. É essencial melhorar as formas de comercialização, o compartilhamento de tecnologias de base agroecológica apropriadas e o desenvolvimento de uma conjuntura regional favorável para o aproveitamento sustentável dos recursos naturais. Para que os produtos da agricultura familiar superem as barreiras que dificultam a comercialização dos seus produtos, a visão sistêmica dos Eixos Temáticos do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica depende de estratégias de ação de curto, médio e longo prazo que possam ser aplicadas na convivência do cotidiano. Em um processo de aprendizagem coletiva, essas ações devem ser apoiadas por cursos de capacitação continuada. Palavras chave: agroecologia, comércio local, tecnologias de base agroecológica, pagamentos de serviços ecossistêmicos.

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O termo “Ecoagriculturas” (McNeely & Scherr, 2009) é associado a gestão de paisagens para a produção de alimentos e para a conservação de serviços ecossistêmicos: produção de matérias primas diversas de forma sustentável, conservação do solo e da água, manejo da biodiversidade e redução do risco de mudanças climáticas.

I CONGRESSO PAULISTA DE EXTENSÃO RURAL “O Papel das Redes na Política de Extensão Rural” - 22 a 24 de setembro de 2015/Agudos – SP PUBLIC RURAL EXTENSION ENABLE ECOAGRICULTURAS: BEYOND THE VISION SYSTEMIC TOWARDS STRATEGIES OF LIVING TOGHETER IN DAILY LIFE. Although many already agree that we need to go beyond only be concerned with the production process, some new ways of doing things will be necessary to educate the Rural whereby how to best "sell their fish" is at least half way to achieve good remuneration for their work. The insertion of the systemic view advocated by agroecology on extension strategies through the strengthening of rural organization, with the participation of producers and consumers. It is essential to improve the marketing of forms, appropriate agroecological technology sharing and the development of a favorable regional environment for the sustainable use of natural resources. So that family agriculture products overcome the barriers that hinder the marketing of its products, systems view of Main Themes of Agroecology National Plan and Organic Production depends on short action strategies, medium and long term that can be applied in coexistence everyday. In a process of collective learning, these actions should be supported by continuous training courses. Keywords: agroecology, local shops, agroecological technology, ecosystem service payments.

INTRODUÇÃO Na última década o setor Rural vem sendo desafiado a promover um processo de mudança estrutural nas formas com que produtores e consumidores se relacionam. Indo além da visão sistêmica dos eixos temáticos presente no Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, importante e necessária, estratégias de convivência no cotidiano devem levar em consideração ações de curto, médio e longo prazo. Essas ações devem ocorrer em um processo participativo, que por ser evolutivo, tende a ser lento. Nas demandas de curto prazo predominam ações voltadas para o Eixo I – Comercialização e Consumo (Organização Social); como ações de médio prazo as voltadas para o Eixo II – Produção (Tecnologias Agroecológicas); e como ações de longo prazo aquelas relacionadas ao Eixo III – Uso e Conservação dos Recursos Naturais (Regularização Ambiental). EIXO I – COMERCIALIZAÇÃO E CONSUMO (ORGANIZAÇÃO SOCIAL): Normalmente o produtor rural não percebe que faz parte de uma cadeia produtiva onde produzir e transformar representam a metade dos custos e comercializar representa a outra metade.

Ao

entregar

a

responsabilidade

da

comercialização

para

terceiros

(“atravessadores”) o produtor pode estar deixando de ganhar uma boa parte da renda que os seus produtos podem proporcionar. É muito comum a agricultura familiar ter grandes dificuldades para comercializar seus produtos. Entre as principais dificuldades temos os custos relacionados à logística de distribuição de cargas de baixo volume e a frequência com que é necessário repor os estoques nos pontos de distribuição, pois normalmente os produtos agrícolas são altamente perecíveis.

I CONGRESSO PAULISTA DE EXTENSÃO RURAL “O Papel das Redes na Política de Extensão Rural” - 22 a 24 de setembro de 2015/Agudos – SP Uma alternativa é o uso da estratégia “Just In Time” como sistema de administração da produção, que determina que nada deva ser produzido, transportado ou comprado antes da hora exata. Pode ser aplicado em qualquer organização, para reduzir estoques e os custos decorrentes. O conceito desse sistema está relacionado ao de produção por demanda, ou seja, antes de produzir um produto é preciso saber como será feita a sua venda. Para facilitar o escoamento da safra o planejamento e o controle da produção são fundamentais. Para conquistar sua clientela o produtor precisa garantir a entrega conforme o que for combinado. É preciso compromisso e disciplina entre as diversas partes da cadeia produtiva: da produção até o ponto de venda. Para garantir a qualidade é também fundamental a adoção de Boas Práticas de Manejo da Produção até os pontos de consumo. O processamento para diminuir a sazonalidade e o uso de novas técnicas pode ajudar no aumento regulação da oferta e da longevidade dos produtos (“tempo de prateleira”), auxiliando na padronização da matéria prima. Quando o processamento aumenta o valor agregado também ajuda a reduzir os custos relativos do transporte. Os custos de armazenamento precisam ser ponderados, para não inviabilizar o processo. Produtos minimamente processados tem sido uma tendência do mercado, devido à falta de tempo na vida das pessoas para o preparo das refeições (ex. mandioca descascada e congelada; couve picada, cenoura e beterraba raladas para saladas entre outras). A diversificação da produção facilita o estabelecimento de parcerias comerciais (Mix de produtos). Dentre diversas políticas públicas de apoio o Programa Nacional de Alimentação Escolar vem se destacando no auxílio ao escoamento e à diversificação da produção da agricultura familiar. Um dos fatores de sucesso é a flexibilidade na definição dos preços dos editais, de forma a tornar a diversificação uma estratégia atraente para os agricultores familiares. Porém, os agricultores familiares precisam levar em consideração que os preços praticados na alimentação escolar para estimular a diversificação são a média dos preços praticados no varejo. Para conquistar o escoamento de seus produtos no atacado os agricultores familiares deverão trabalhar com preços competitivos aos praticados por seus concorrentes. Uma das principais saídas para superar as dificuldades da produção em pequena escala é a organização em grupos como Associações ou Cooperativas. Nesses casos, é fundamental entender que dentro de um grupo existem pessoas com diferentes pontos de vista, com diferentes visões do mundo. Para que um grupo evolua e melhore a qualidade de vida das

I CONGRESSO PAULISTA DE EXTENSÃO RURAL “O Papel das Redes na Política de Extensão Rural” - 22 a 24 de setembro de 2015/Agudos – SP pessoas envolvidas é preciso respeitar o estágio de entendimento de cada um e facilitar a comunicação entre todos os envolvidos. Para melhorar os canais de comercialização e conquistar uma melhor remuneração da agricultura familiar o que pode ajudar é a elaboração de um Plano de Negócio - que deverá estar atento para os diversos aspectos da cadeia produtiva (Tabela 1). Dentro do Plano de Negócio, temos o Planejamento de Marketing onde devem ser considerados quatro Pes: Produto – Preço – Ponto de Venda e Propaganda. Para que os clientes tenham fácil acesso aos produtos do negócio é importante estabelecer bons canais de

atendimento ao cliente (telefones, internet, representantes comerciais) e oferecer o

produto dentro do período combinado. Oferecer um produto diferenciado e de qualidade facilita a comercialização. Na maioria das vezes o preço é estabelecido pelo mercado, pela lei da oferta e da procura. Por esse aspecto é interessante usar técnicas que permitam produzir em períodos de menor oferta. Quando não é possível melhorar o preço de venda o produtor deve estar ainda mais atento aos custos de produção. O ponto de venda é o canal de comercialização para chegar ao cliente. Uma boa distribuição facilita o acesso dos consumidores aos produtos e é vital para o sucesso do negócio. A deficiência de logística é um dos principais fatores que geram dependência dos produtores na fase de comercialização dos seus produtos. Diz a sabedoria popular que “a propaganda é a alma do negócio”. A utilização de representantes comerciais, promotores de vendas e a divulgação por diversos meios de comunicação pode fazer a diferença no volume de vendas a ser comercializado e na facilidade de escoamento da safra. Essas operações de marketing podem ser viabilizadas pela divisão dos custos entre os produtores que participam do grupo.

EIXO II – PRODUÇÃO (TECNOLOGIAS AGROECOLÓGICAS) A utilização de tecnologias apropriadas é fator de destaque para o posicionamento da agricultura familiar dentro da cadeia produtiva. A base agroecológica dessas tecnologias é fundamental para que as estratégias de manejo não provoquem o desgaste ou a contaminação dos recursos naturais dos quais a agricultura depende. Para serem apropriadas as tecnologias devem levar em consideração aspectos sociais, econômicos e culturais, além dos ambientais. As técnicas propostas devem levar em consideração o tipo e a quantidade de mão de obra disponível, a capacidade de

I CONGRESSO PAULISTA DE EXTENSÃO RURAL “O Papel das Redes na Política de Extensão Rural” - 22 a 24 de setembro de 2015/Agudos – SP investimento e o histórico das formas de cultivo. Para apresentarem uma eficiência ecológica as práticas propostas devem levar em consideração as formas de manejo para conservação do solo e da água (a ciclagem de nutrientes), o manejo da biodiversidade e o aproveitamento das condições de clima disponíveis, tentando estimular as interações positivas entre esses fatores. O uso de insumos externos pode pesar no estabelecimento de condição de autonomia ou dependência no manejo do solo, da água e da biodiversidade. É importante avaliar para cada condição específica, o quanto a prática acrescenta no rendimento da atividade e na remuneração das horas de trabalho. É preciso lembrar que os custos de produção da cadeia produtiva devem permitir que os agricultores familiares possam praticar preços competitivos e tenham qualidade nos seus produtos em relação aos seus concorrentes. O uso de máquinas, equipamentos e estruturas coletivas pode contribuir para a redução dos custos de produção, processamento, armazenamento e comercialização. Além dos aspectos relacionados à redução de custos e melhoria da eficiência ecológica dos processos produtivos, as situações de desgaste e contaminação dos recursos naturais pressionam para o incentivo para o uso de alternativas ao uso de agroquímicos e melhoria das práticas de mecanização e irrigação. A evolução do uso das práticas agroecológicas permite que a transição agroecológica possa ocorrer sem queda nos níveis de produtividade. A produção de alimentos com base na agroecologia é a forma mais promissora para combater a desnutrição no mundo sem o esgotamento dos recursos naturais (ROBIN, 2013). No manejo do solo e da água é importante o cuidado para que haja sincronismo entre a velocidade de mineralização dos materiais orgânicos e a demanda por nutrientes e água pelas plantas cultivadas. Esse conceito tem grande utilidade para o manejo adequado da matéria orgânica do solo nas regiões tropicais, evitando situações de carência ou excesso de nutrientes, com reflexos significativos na produtividade e equilíbrio dos sistemas de produção (NOORDWIJK & CADISHCH, 2002). No manejo da biodiversidade, vem aumentando as alternativas de insumos ecológicos que funcionam com eficiência a custos acessíveis. A seleção de variedades produtivas e resistentes, a diversificação dos cultivos e o manejo das plantas espontâneas ou invasoras também tem desempenhado papel importante na proteção das plantas cultivadas. Estratégias complementares como controle biológico aumentativo, liberação de inimigos naturais, controle com extratos de plantas, caldas protetoras ou por comportamento com ferômonios sexuais tem se mostrado eficientes e minimizado custos (VENZON et al. 2011).

I CONGRESSO PAULISTA DE EXTENSÃO RURAL “O Papel das Redes na Política de Extensão Rural” - 22 a 24 de setembro de 2015/Agudos – SP EIXO III - USO E CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS Nos últimos anos foram desenvolvidas e legalmente normatizadas diversas formas de proteção da natureza. Foram criadas áreas protegidas e definidos mecanismos de controle e de repressão, para monitorar e punir aqueles que não cumprirem as regras estabelecidas. Entre os equívocos que podemos constatar nestas estratégias de conservação da natureza é que muitas vezes as regras são estabelecidas em locais distantes das regiões atingidas, com parâmetros gerais e que não levam em conta particularidades dos diferentes ecossistemas e a capacidade de uso do solo. Pode-se também constatar a impossibilidade física e institucional dos poderes públicos em fiscalizar, controlar ou ainda promover de forma ampla e democrática o acesso ao licenciamento ambiental, para um melhor ordenamento da ocupação do solo e aproveitamento e proteção dos recursos naturais. O Cadastro Ambiental Rural reconhece em parte estas limitações, ao partir para a construção de um banco de dados a partir de procedimentos declaratórios dos agricultores. Dependendo da forma de manejo, as atividades agropecuárias podem causar impactos negativos ou podem trazer grande contribuição e causar impactos positivos sobre os serviços ecossistêmicos. Com relação ao ciclo da água, por exemplo, o incentivo às práticas de base agroecológica pode incrementar as taxas de infiltração e também ajudar a proteger os recursos hídricos em vastas áreas. Surge então o conceito do pagamento de serviços ecossistêmicos, não baseado na repressão, mas no envolvimento, no incentivo e na compensação. O pagamento de serviços ecossistêmicos pode ser pensado como uma maneira de "envolver" os produtores rurais nas estratégias para proteger os recursos naturais. • Também se pode pensar em pagamento de serviços ecossistêmicos para produtores que adotem voluntariamente regras ou práticas agroecológicas, reconhecidas como capazes de manter ou melhorar os serviços ecossistêmicos. (WUNDER, 2008). Além dos benefícios econômicos diretos, a implantação de Programas de Pagamento de Serviços Ecossistêmicos tem o grande mérito de representar o reconhecimento da importância do papel da agricultura familiar que adota práticas agroecológicas para a sociedade brasileira como um todo. O conjunto de políticas públicas voltadas para o incentivo da agricultura familiar pode contribuir para melhorar o perfil fundiário de concentração de Terras no Brasil, facilitando o acesso e estimulando as novas gerações a permanecer na atividade.

I CONGRESSO PAULISTA DE EXTENSÃO RURAL “O Papel das Redes na Política de Extensão Rural” - 22 a 24 de setembro de 2015/Agudos – SP OS PAPEIS DA EXTENSÃO RURAL PARA VIABILIZAR ECOAGRICULTURAS Um dos principais papéis do extensionista é atuar como facilitador da compreensão das pessoas envolvidas na produção e consumo de produtos agropecuários. Os processos são complexos, pois misturam interações ecológicas que incluem o componente humano e suas diferentes facetas culturais. Com relação ao Eixo I - Comercialização e Consumo (Organização Social), uma ferramenta pragmática de ação é atuar como entidade articuladora na elaboração do projeto de venda para o PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar, fortalecendo Associações e Cooperativas. Esta atuação facilita a diversificação e pode auxiliar a preparar esses grupos para o acesso ao mercado, com planejamento da produção para superar os desafios da sazonalidade da oferta e com rastreabilidade para garantir a qualidade (Tabela 2). A negociação dos preços e o monitoramento do processo de fornecimento para a alimentação escolar por meio de interação e diálogo com os conselhos municipais auxiliam no crescimento da maturidade política das organizações. Uma nova tendência que tem sido observada é o aumento do interesse dos consumidores em saber o como foram produzidos os produtos que eles consomem. Com isso, tem crescido a procura por produtos certificados, que permitem rastrear a origem dos produtos e garantir a sua qualidade. O pagamento de até 30% a mais para produtos orgânicos no Programa Nacional de Alimentação Escolar estimula o processo de certificação orgânica. Para venda direta isso pode ser efetivado pela formação de OCS – Organização de Controle Social. Esse formato barateia os custos da certificação e facilita o acesso. Para grupos formais mais avançados na sua organização é possível a formação de SPG – Sistema Participativo de Garantia, ou a certificação por auditoria de forma participativa. Indo além das vantagens relacionadas à facilitação da comercialização, os processos de garantia da qualidade dos produtos feitos de forma participativa aproximam as pessoas e facilitam a troca de experiências. Em comunidades tradicionais a melhoria de estratégias de comercialização e organização social associadas a novas tecnologias podem ter efeito significativo na promoção do etnodesenvolvimento. Os resultados alcançados na comunidade indígena

de Avai-SP

(Tabela 3) por meio das ações do Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável –

I CONGRESSO PAULISTA DE EXTENSÃO RURAL “O Papel das Redes na Política de Extensão Rural” - 22 a 24 de setembro de 2015/Agudos – SP Microbacias II – acesso ao mercado reforçam a importância da integração entre ações de integração entre tecnologias apropriadas e o mercado. Com relação ao Eixo II – Produção (Tecnologias Agroecológicas), para o desenvolvimento de tecnologias apropriadas o contato com experiências concretas de sucesso cumpre papel fundamental de sensibilizar para inovações que facilitem a transição agroecológica. Esse procedimento também é importante para convencer da importância da organização social. Nas visitas de intercâmbio, sempre que possível, é interessante que a forma de comunicação aconteça de produtor para produtor, o que facilita o diálogo. Estratégias complementares como troca de sementes e mudas fortalecem o processo de formação de redes de cooperação. Diferentemente das tecnologias baseadas no uso de agroquímicos que davam respostas rápidas e podiam ser compartilhadas em dias de campo, algumas práticas de manejo de base agroecológica demoram mais tempo para dar resultado. Em função disso, é interessante pensar na implantação de unidades de observação em um maior número de produtores, para que cada um possa acompanhar mais de perto o processo de evolução dessas práticas com base em parâmetros ecológicos. Algumas Prefeituras têm adotado o uso de patrulhas agrícolas ou a produção de composto orgânico para apoiar as atividades da agricultura familiar. É interessante que esses programas sejam associados a estratégias de organização social e a outras práticas agroecológicas, por exemplo, apoiando o processo de conversão para a produção orgânica ou o uso de adubos verdes. Com relação ao Eixo III – Uso e Conservação dos Recursos Naturais, por meio de ferramentas como o Planejamento Integral da Propriedade ou aplicação de Protocolo de Boas Práticas Agropecuárias o extensionista pode dialogar com os agricultores sobre como melhor aproveitar os recursos disponíveis. Outra forma de atuação voltada para esse eixo é apoiar órgãos colegiados que possam gerar Programas de Pagamento de Serviços Ecossistêmicos. O Comitê de Bacias do Litoral Norte de São Paulo aprovou recentemente projeto de estudo de viabilidade de implantação de um Programa dessa natureza. Para facilitar o processo de implantação o objetivo é desenvolver mecanismos que evitem custos de transação elevados, como acontece quando é dada ênfase em ferramentas de monitoramento.

I CONGRESSO PAULISTA DE EXTENSÃO RURAL “O Papel das Redes na Política de Extensão Rural” - 22 a 24 de setembro de 2015/Agudos – SP A disponibilização de cursos de capacitação continuada é essencial para facilitar o processo de transição agroecológica. Estes devem acontecer de forma sincronizada com as demandas que vão surgindo dentro dos eixos temáticos. EXTENSÃO RURAL PÚBLICA OU PRIVADA? É importante que os arranjos institucionais que apoiam o fortalecimento da transição agroecológica promovam ambientes que estimulem a criatividade e a participação. Souza et al (2010) destacam alguns pontos dos modelos de gestão pública que precisam ser revistos: autoridade rígida balizada na obediência cega a um modelo de comunicação apenas de cima para baixo; hierarquia caracterizada pela nítida separação entre cargos de planejamento e de execução; controle do resultado do trabalho com estratégias impositivas e com concentração de autoridade. Caporal (2014) pondera que nas ONGs mais consolidadas, as dificuldades e obstáculos para adoção das recomendações da política de um novo modelo de extensão rural são muito parecidas com as das instituições públicas: a formação dos profissionais, o formato institucional com hierarquia rígida, a falta de autonomia financeira e administrativa das entidades, a precariedade dos contratos de trabalho. Para Guivant (1997) os projetos de extensão rural baseados predominantemente nos Diagnósticos Rápidos Participativos desenvolvidos por Chambers (1983)2 muitas vezes desaguam no populismo participativo, tendo como consequência o “abandono institucional rápido”. Considerada a complexidade das interações a serem trabalhadas para superar os modelos de agriculturas baseados no uso abusivo de agroquímicos, é preciso reconhecer que, para que sejam efetivamente participativos, os processos de transição agroecológica são lentos. A convivência no cotidiano dos vários atores envolvidos é fundamental para que cada um dos envolvidos compreenda o seu papel e atue para estimular e facilitar o processo. Para que a Agroecologia e a Produção Orgânica sejam efetivamente institucionalizadas como uma política de Estado, facilitando de forma mais eficaz a transição agroecológica para agricultores que praticam os modelos de agriculturas dependentes do uso abusivo de

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Chambers, R. Rural development. Putting the last first. Essex: Longman House, l983.

I CONGRESSO PAULISTA DE EXTENSÃO RURAL “O Papel das Redes na Política de Extensão Rural” - 22 a 24 de setembro de 2015/Agudos – SP agroquímicos hoje predominantes, é fundamental o fortalecimento dessa visão dentro do sistema público de extensão rural. Considerada a tendência a privatização de serviços que hoje ameaça os trabalhadores, é fundamental que as Organizações Não Governamentais e as Instituições Públicas se unam em prol da revitalização do sistema público de extensão rural. Agradecimentos: Os autores agradecem ao extensionista Ricardo Moncorvo Tonet, da unidade da CATI em Amparo-SP, pelas sugestões ao texto e aos membros do Comitê de Bacias Hidrográficas do Litoral Norte que tem se envolvido com o tema Agroecologia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAPORAL, F.R. Extensão rural como política pública: a difícil tarefa de avaliar. In: SAMBUICHI, R.H.R ... [et al.]. Políticas agroambientais e sustentabilidade: desafios, oportunidades e lições aprendidas. / Brasília : Ipea, 2014. 273 p. GUIVANT, J. Heterogeneidade de conhecimentos No desenvolvimento rural sustentável. Cadernos de Ciência & Tecnologia. V.14, n.3, p.411-446, 1997. MCNEELY,

J.A.;

SCHERR,

S.J.

Ecoagricultura:

alimentação

do

mundo

e

biodiversidade. Editora Senac. São Paulo. 2009. 459 p. NOORDWIJK, M.; CADISHCH, G. Acces and excesso problems in plant nutrition. Plant and Soil. n. 247. P. 25-40. 2002. ROBIN, M.M. Las cosechas del futuro: como la agroecologia puede alimentar al mundo. 1ª ed. La Plata: De la Campana. 2013. 256 p. VENZON, M.; AMARAL, D.S.S.L.; TOGNI, P.H.B.; REZENDE, M.Q.; PEREZ, A.L. Manejo de pragas na agricultura orgânica. Cap. 4. p. 107-128. In: LIMA, P.C.; MOURA, W.M.; VENZON, M.; PAULA JR., T.J.; FONSECA, M.C.M. Tecnologia para produção orgânica. Unidade Regional Epamig Zona da Mata. Viçosa. 2011. 249 p. SOUZA, W.J.; DIAS, T.F.; AMORIM, M.V.; CUNHA, A.S.R. Por uma nova gestão pública e assistência IN:

técnica

CONGRESSO

DA

e

extensão

SOBER

-

rural: SOCIEDADE

o

caso BRASILEIRA

ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL, 48. Campo Grande, 2010,

da DE

EMATER-RN. ECONOMIA,

I CONGRESSO PAULISTA DE EXTENSÃO RURAL “O Papel das Redes na Política de Extensão Rural” - 22 a 24 de setembro de 2015/Agudos – SP WUNDER, S.; BÖRNER, J.; RÜGNITZ, M..T.; PEREIRA. L.Pagamentos por serviços ambientais: perspectivas para a Amazônia Legal. – Brasília: MMA, 2008. 136 p. (Série Estudos, 10)

I CONGRESSO PAULISTA DE EXTENSÃO RURAL “O Papel das Redes na Política de Extensão Rural” - 22 a 24 de setembro de 2015/Agudos – SP

Tabela 1 – Perguntas para a elaboração de um Plano de Negócio de uma Associação ou Cooperativa 1. Qual é o nosso negócio?

11. Como conquistaremos o mercado?

2. Onde queremos chegar?

12. Quais são os nossos fornecedores?

3. Quais atividades vamos desenvolver?

13. Quais são os nossos concorrentes?

4. Qual nossa experiência e conhecimento?

14. Que estratégias utilizaremos?

5. O que e quanto vendemos?

15. Quais pontos críticos p/ sucesso do negócio?

6. Para quem vendemos?

16. Quanto vamos gastar?

7. Em que locais vamos atuar?

17. Existem linhas de crédito?

8. Qual o espaço necessário?

18. Existem incentivos (Munic./Estadual/Federal)?

9. Quando iniciaremos as atividades?

19. Que retorno teremos do nosso investimento?

10. Qual a documentação necessária?

20. Quais os principais riscos do negócio?

I CONGRESSO PAULISTA DE EXTENSÃO RURAL - 22 a 24 de setembro de 2015/Agudos – SP

“O Papel das Redes na Política de Extensão Rural”

Tabela 2 – Fornecimento dos principais produtos da ABU – Associação dos Bananicultores do Ubatumirim para a alimentação escolar de Ubatuba em 2016. PRODUTOS 2016 TOTAL 2016 Mandioca Graúda Juçara polpa Alface Pupunha (conserva) Nhoque de inhame Cambuci Fruto Banana Ouro Polpa Fruta da Época Banana Prata Banana Nanica Limão Cravo Inhame Descascado Farinha de Mandioca Acelga Chuchu Abacate Espinafre Couve Manteiga Abóbora Seca Berinjela Salsa Brócolis Cebolinha

R$/un.

TOTAL Kg

TOTAL R$

JAN

FEV

8,50 15,00 8,00 26,00 18,00 15,00 4,20 12,00

MAR

ABR MAIO

JUN

JUL

AGO

10700 5750 8750 2500 3300 3450 10350 2920

644.108,00 90.950,00 86.250,00 70.000,00 65.000,00 59.400,00 51.750,00 43.470,00 35.040,00

0 0 0 0 0 0 400 0

700 950 850 500 1.150 1.300 300 550 700 0 0 0 0 0 100 150 1.150 900 1.250 1.100 1.000 300 650 500

3,50 2,80 4,80 9,00 9,60

8800 7750 3050 1500 1200

30.800,00 21.700,00 14.640,00 13.500,00 11.520,00

100 100 0 0 0

1.100 800 30 100 0

800 700 290 300 0

400 500 200 200 0

700 600 860 300 150

3,90 3,90 6,00 4,80 7,90 5,00 4,70 9,00 4,50 8,90

2910 2410 1480 1600 700 400 300 150 200 100

11.349,00 9.399,00 8.880,00 7.680,00 5.530,00 2.000,00 1.410,00 1.350,00 900,00 890,00

0 50 0 0 0 0 0 0 0 0

0 250 150 0 0 50 0 0 0 0

0 300 240 0 0 50 0 0 0 0

0 270 290 0 20 50 0 25 0 0

620 340 600 340 120 50 0 25 0 0

NOV

DEZ

1.000 1.100 1.350 800 1.300 1.400 300 300 800 1.200 600 200 1.200 300 150 500

200 100 350 0 700 150 400 0

1.700 1.700 1.400 1.100 350 200 0 0 1.650 1.200 700 500 400 400 400 400 400 100 0 0 200 100 0 0 950 850 1.250 950 400 220 100 100

0 0 100 300 0 0 700 0

600 300 620 300 350

100 0 210 300 0

1.200 1.000 1.200 1.000 350 650 950 2.250 570 270 0 0 0 0 0 0 300 200 200 0

600 550 0 0 0

520 150 200 260 120 100 0 25 0 0

90 0 0 0 0 0 0 0 0 0

520 100 0 260 120 100 100 75 100 50

SET

460 200 0 240 120 0 100 0 100 50

OUT

400 200 0 250 100 0 100 0 0 0

300 300 0 250 100 0 0 0 0 0

0 250 0 0 0 0 0 0 0 0

I CONGRESSO PAULISTA DE EXTENSÃO RURAL - 22 a 24 de setembro de 2015/Agudos – SP Repolho

3,50

200

700,00

“O Papel das Redes na Política de Extensão Rural”

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I CONGRESSO PAULISTA DE EXTENSÃO RURAL “O Papel das Redes na Política de Extensão Rural” - 22 a 24 de setembro de 2015/Agudos – SP Tabela 3 – Evolução de indicadores de aldeia indígena de Avaí-SP com apoio do Projeto Desenvolvimento Rural Sustentável – Microbacias II - Acesso ao Mercado Crescimento Indicador

2012

2013

2014

2015 * 2012/2015

Área cultivada (ha)

24

70

100

200

700 %

Produção Bruta Própria (ton.)

240

1050

660

1120

370%

Produção Bruta adquirida de terceiros (ton.)

0

0

440

280

-

Produção processada (ton.)

50

700

770

980

1860%

Faturamento anual (R$ mil)

72

550

750

960

1200%

No. de empregos gerados

5

18

50

50

900%

* Dados de 2015 foram Estimados

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