Economia Criativa e Desenvolvimento: Reflexões A partir do Festival Literário de Pipa, na Praia da Pipa/RN

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES - CCHLA DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS - DPP GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS – GPP

GUILHERME DE MELO MEDEIROS QUEIROZ

ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO: REFLEXÕES A PARTIR DO FESTIVAL LITERÁRIO DE PIPA, NA PRAIA DA PIPA/RN

NATAL/RN Dezembro/2016

1

GUILHERME DE MELO MEDEIROS QUEIROZ

Economia Criativa e Desenvolvimento: reflexões a partir do Festival Literário de Pipa, na Praia da Pipa/RN

Trabalho de conclusão do curso de Gestão

de

Políticas

Públicas

da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN: requisito parcial para obtenção de título de graduação.

Orientador: Prof. Dr. Fernando Manuel Rocha da Cruz

NATAL/RN Dezembro/2016 2

Queiroz, Guilherme de Melo Medeiros. ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO: REFLEXÕES A PARTIR DO FESTIVAL LITERÁRIO DE PIPA, NA PRAIA DA PIPA/RN / Guilherme de Melo Medeiros Queiroz. Natal, 2017. 45f.: il. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, CCHLA. Orientador: Fernando Manuel Rocha da Cruz.

1. Festival Literário. 2. Praia da Pipa/RN. 3. Economia Criativa. I. Cruz, Fernando Manuel Rocha da. II. Título. RN/UF/

3

GUILHERME DE MELO MEDEIROS QUEIROZ

ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO: REFLEXÕES A PARTIR DO FESTIVAL LITERÁRIO DE PIPA, NA PRAIA DA PIPA/RN

Defesa de trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

_______________________________________________________________ Prof. Dr. Fernando Manuel Rocha da Cruz (orientador) Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_______________________________________________________________ Prof. Dr. Márcio Moraes Valença Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Aprovado em: ____ de___________de 2016

NATAL/RN Dezembro/2016

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RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo geral compreender a importância do Festival Literário da Praia da Pipa, para o desenvolvimento social e cultural da localidade. Desse modo, essa pesquisa procura contribuir no aprofundamento das questões relativas à Economia Criativa tanto no meio acadêmico quanto no âmbito social e cultural brasileiro, haja vista que a Praia da Pipa é um destino turístico mundial sendo o Festival Literário da Pipa um dos principais eventos que acontecem nessa praia durante o ano. Para tanto, a metodologia utilizada é de caráter qualitativo, se valendo de diferentes técnicas – entrevistas semiestruturadas, observação participante e fotografia social, as quais integram um estudo etnográfico. O festival literário de Pipa é responsável por uma grande interação do público infantil com o evento, possibilitando uma melhor formação escolar e um consequente avanço social para a localidade, além do despertar para a leitura com a valorização do produto livro. O festival impulsiona e fortalece indústrias criativas e tradicionais da localidade, abarcando assim a Economia Criativa, por agregar valores sociais e culturais da região através da presença de diversos setores criativos e culturais, além da notoriedade turística da localidade como formas de abranger e pensar o conceito de desenvolvimento. Palavras-chave: Festival Literário. Praia da Pipa/RN. Economia Criativa. Setores Criativos. Desenvolvimento.

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ABSTRACT This paper aims to understand the importance of the Festival Literário da Praia da Pipa, for the social and cultural development of the locality. Therefore, this research seeks to contribute to the deepening of issues related to the Creative Economy in both the academic and Brazilian social and cultural spheres. Given that Praia da Pipa is a worldwide tourist destination and the Festival Literário da Pipa is one of the main events that take place on this beach during the year. For that, the methodology used is qualitative, using different techniques - semistructured interviews, participant observation and social photography, which are part of an ethnographic study. The literary festival of Pipa is responsible for a great interaction of the children's audience with the event, enabling a better school education and a consequent social progress to the locality, besides the awakening to the reading with the valorization of the book product. The festival boosts and strengthens the creative and traditional industries of the locality, encompassing the Creative Economy, for adding social and cultural values of the region through the presence of several creative and cultural sectors, besides the tourist notoriety of the locality as different ways to cover and think the concept of development. Keywords: Literary Festival. Pipa/RN. Creative Economy. Creative Industries. Development.

6

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Categorias Culturais e Setores Criativos para a SEC (Brasil).........16

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Praia da Pipa/RN (Fonte: Google Maps).....................................................27 Figura 2 - Distribuição espacial do Festival Literário de Pipa/RN (2016)......................30 Figura 3 – FLIPIPA........................................................................................................32 Figura 4 – BiblioSesc.....................................................................................................33 Figura 5 – Cortejo Multicultural na Praça do Pescador.................................................34 Figura 6 - Estande da Cooperativa Cultural da UFRN........................................35

Figura 7 – Estande de Livros.............................................................................36 Figura 8 – Espaço Memória Hélio Galvão.........................................................37

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SUMÁRIO Introdução ......................................................................................................... 9 Conceituando Economia Criativa, seus Princípios e Setores .................... 13 1.1.

Conceituando Desenvolvimento ............................................................................ 24

2. Contextualizando e caracterizando Pipa e o FLiPipa .............................. 27 2.1.

Praia da Pipa/RN ...................................................................................................... 27

2.2.

O Festival Literário da Pipa ..................................................................................... 29

Considerações Finais .................................................................................... 39 Referências bibliográficas ............................................................................. 42 Apêndice ......................................................................................................... 45

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Introdução No fim do ano de 1986, a Organização das Nações Unidas produziu uma primeira Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento, afirmando-o como um direito humano ao mesmo tempo que o considerou um direito e dever dos Estados. A Constituição Brasileira de 1988 segue a Declaração da ONU, tratando do Direito ao Desenvolvimento como um direito fundamental, baseado nas prestações positivas do Estado, que venham concretizar a democracia econômica, social e cultural, a fim de efetivar na prática a dignidade da pessoa humana. No ano de 2012, o governo federal, através do Ministério da Cultura (MinC), criou a Secretaria da Economia Criativa (SEC) que tem por objetivo geral

a

ampliação

da

participação

da

cultura

no

desenvolvimento

socioeconômico sustentável, um reconhecimento claro por parte do governo brasileiro do potencial protagonista das atividades criativas do país, numa perspectiva de longo prazo, tendo como norte o desenvolvimento mais inclusivo e sustentável. (BRASIL, 2012). Refletir sobre Economia Criativa no Brasil é pensar numa economia cuja base, ambiência e riqueza se dão devido à diversidade cultural do país. A criatividade brasileira é, portanto, processo e produto dessa diversidade. Na Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, da Unesco (2007), essa compreensão é sustentada com ênfase. A diversidade cultural cria um mundo rico e variado que aumenta a gama de possibilidades e nutre as capacidades e valores humanos, constituindo, assim, um dos principais motores do desenvolvimento sustentável das comunidades, povos e nações. (BRASIL, 2011). A Economia Criativa brasileira deve então se constituir numa dinâmica de valorização, proteção e promoção da diversidade das expressões culturais nacionais como forma de garantir a sua originalidade, a sua força e seu potencial de crescimento. (CRUZ, 2014).

9

Nesse interim, o presente trabalho de conclusão do curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte tem por objetivo geral compreender a importância do Festival Literário da Praia da Pipa, para o desenvolvimento social e cultural da Praia da Pipa/RN. No tocante aos objetivos específicos, o presente estudo visa conceituar economia criativa e seus princípios; descrever etnograficamente a organização do Festival Literário da Pipa; refletir sobre a importância do FLiPipa para a dinâmica social e cultural da Praia da Pipa/RN, além de identificar o público desse festival literário. Os Festivais Literários são responsáveis pela geração de renda econômica para as suas cidades ao promoverem o “produto” livro e a própria cidade com um alcance significativo em termos de visitantes e de receitas para o comércio em geral (hotéis, pousadas, restaurantes, bares, lanchonetes, agências de turismo). O estado do Rio Grande do Norte, sendo um destino turístico, nacional e internacional, vê assim a oportunidade para se promover através da oferta de produtos, espaços e serviços culturais e artísticos (CRUZ, 2014). Medita-se que essa pesquisa poderá contribuir no aprofundamento das questões relativas à Economia Criativa tanto no meio acadêmico quanto no âmbito social e cultural brasileiro, haja vista que a Praia da Pipa é um destino turístico mundial e que o Festival Literário da Pipa está entre os principais eventos que acontecem nessa praia durante o ano. A metodologia utilizada no presente trabalho é qualitativa e se vale de diferentes tipos de técnicas de pesquisa, nomeadamente de entrevistas semiestruturadas observação participante e fotografia social, as quais caracterizam um estudo etnográfico. A pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Essa pesquisa é criticada por seu empirismo, pela subjetividade e pelo envolvimento emocional do pesquisador. (MINAYO, 2001). As características da pesquisa qualitativa são: objetivação do fenômeno; hierarquização das ações de descrever, compreender, explicar, precisão das 10

relações entre o global e o local em determinado fenômeno; observância das diferenças entre o mundo social e o mundo natural; respeito ao caráter interativo entre os objetivos buscados pelos investigadores, suas orientações teóricas e seus dados empíricos; busca de resultados os mais fidedignos possíveis; oposição ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências. (MINAYO, 2001). Hammersley e Atkinson (2005, p. 15) entendem por etnografia o conjunto de métodos em que a principal característica é a participação do etnógrafo, abertamente ou de forma encoberta, na vida diária das pessoas durante um período de tempo, observando o que sucede, escutando o que diz, fazendo perguntas. Já Infantes (2007, p. 64-65) define etnografia como o conjunto de operações entre a recolha de informação e a escrita do texto antropológico. A etnografia é então um processo metodológico global e o trabalho de campo é a fase central desse processo. A base do trabalho etnográfico é, portanto, a observação participante. A observação participante como técnica descritiva e etnográfica básica consiste no estudo sobre o terreno mediante a observação, participação e a entrevista, onde se atribui mais importância aos aspectos qualitativos do que aos quantitativos. Trata-se de uma técnica idônea de investigação que pode ser usada nas sociedades complexas e que se complementa com outras com a finalidade de triangular os dados obtidos. (INFANTES, 2007, p. 162). Há vantagens e desvantagens na observação participante, é preciso estar atento para alguns limites e riscos da pesquisa qualitativa, tais como: excessiva confiança no investigador como instrumento de coleta de dados; risco de que a reflexão exaustiva acerca das notas de campo possa representar uma tentativa de dar conta da totalidade do objeto estudado, além de controlar a influência do observador sobre o objeto de estudo; falta de detalhes sobre os processos através dos quais as conclusões foram alcançadas; falta de observância de aspectos diferentes, sob diferentes enfoques; certeza do próprio pesquisador com relação a seus dados; sensação de dominar profundamente seu objeto de estudo; envolvimento do pesquisador

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na situação pesquisada, ou com os sujeitos pesquisados. (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 32). A utilização da fotografia deve ser pensada quer enquanto técnica de pesquisa, quer na própria escrita, quer ainda na publicação do texto científico. Enquanto técnica de pesquisa devem ser ponderadas quer as suas possibilidades, quer as suas limitações. A análise reflexiva da fotografia permite que a imagem dialogue com os outros elementos etnográficos apreendidos pelo pesquisador, que deverá ter ainda em conta as limitações técnicas e contextuais inerentes ao seu equipamento, ao lugar, ao horário da captação da imagem, ao domínio do próprio equipamento, etc. A seleção das imagens a captar devem levar em consideração o objeto e os objetivos da pesquisa. Na elaboração do artigo científico, a imagem deve dialogar com o texto, o qual não deve se limitar a expressar unicamente os significados da fotografia. O diálogo deve ser profícuo, enriquecedor e complementar. (CRUZ, 2015). A entrevista é uma técnica de interação social, interpenetração informativa, capaz de quebrar isolamentos grupais, individuais e sociais, podendo também servir à pluralização de vozes e à distribuição democrática da informação. Em seus mais diversos usos nas Ciências Humanas, constitui-se sempre um meio cujo fim é o inter-relacionamento humano. Dessa forma, escolher a entrevista como instrumento de pesquisa, no presente trabalho, é uma maneira interessante de privilegiar a introspecção e a compreensão das experiências vividas no Festival Literário da Pipa/RN. Como um método de pesquisa, a entrevista evidencia a habilidade das pessoas de atribuírem significado por meio da linguagem. Não existem fórmulas e receitas prontas e acabadas para a realização efetiva de uma boa entrevista. Da mesma maneira, também não existem receitas para perguntas mais ou menos eficazes, justamente porque isso dependerá não apenas do interesse e da escuta concentrada do pesquisador, mas principalmente dos objetivos e das finalidades específicas de sua pesquisa. (MIGUEL, 2010). O presente trabalho é dividido entre a parte teórica e empírica. Em relação ao capítulo teórico, o mesmo visa analisar a Secretaria da Economia Criativa e sua substituição pela Secretaria da Economia da Cultura, refletir 12

sobre o conceito de economia criativa para UNCTAD, MinC e autores da área, além de perpassar pelo conceito de setores criativos e lista dos setores criativos (MinC e Firjan). Também é analisado os princípios da economia criativa (MinC), Economia Criativa no RN (Sebrae, Plano da Cultura da UFRN, RN Criativo e ITCart) e por fim, procura ainda conceituar desenvolvimento. O capítulo empírico visa caracterizar e contextualizar o recorte geográfico - Praia de Pipa/RN; descrever o FLiPipa para a partir da pesquisa, descrever etnograficamente a organização do Festival Literário da Pipa. Ainda procura identificar os tipos de público desse festival literário a partir da visita, das entrevistas, das fotografias e da observação participante.

Conceituando Economia Criativa, seus Princípios e Setores No ano de 2012, o governo federal através do Ministério da Cultura MinC, criou a Secretaria da Economia Criativa - SEC, uma autarquia ligada a esse ministério, que teve por objetivo geral a ampliação da participação da cultura no desenvolvimento socioeconômico sustentável. Um reconhecimento claro por parte do governo brasileiro do potencial protagonista das atividades criativas do país, numa perspectiva de longo prazo, tendo como norte o desenvolvimento mais inclusivo e sustentável, mas que só durou até 2015. (BRASIL, 2012). Com o impeachment da ex-presidente da República Federativa do Brasil, Dilma Roussef, a autarquia em discussão foi extinta. Sabemos que os setores culturais são cada vez mais o futuro econômico em termos de lazer, ócio criativo, comunicação, cultura e entretenimento, no entanto, a visão do Brasil em enxergar cultura como capacidade de gerar receita nesse próprio setor – cultural, ainda é uma enorme barreira a se enfrentar. De acordo com Cláudia Leitão (2016), ex-secretária da extinta SEC, houve uma luta para criar um estudo que medisse a produção cultural do Brasil, isso implicou diretamente na constatação de que pequenos empresários e artesãos poderiam atuar objetivamente na distribuição de renda. Mas ainda 13

segundo essa autora, isso foi de confronto com a mentalidade “colonial”, pois nas suas palavras “o que firmamos concretamente foi um estudo e um documento que servem de bandeira, mas pelo menos dois mandatos seriam necessários para mudanças maiores ocorrerem, me refiro a continuidade das políticas públicas”. Ainda de acordo com Leitão (2016), o “desmantelo” da SEC gerou retrocesso num momento em que foram iniciados diálogos com governos estaduais e municipais para expandir a rede de empreendimentos criativos e conhecimento sobre eles. A verdade é que o sistema precisa ser favorável, sendo assim, marcos legais, leis, referenciais jurídicos com desonerações e facilitações para pequenos empreendedores necessitam ser estipulados. A lógica dos políticos profissionais é de curto prazo, eles visam apenas a obtenção rápida e visível de resultados, o que os impede de estabelecer as bases para soluções de longo prazo. Redes das elites, patrocinadas e estabelecidas há muito tempo, reduzem a liberdade de acesso à energia e informação. Em todo o mundo, há uma reflexão sobre como a gestão da cidade precisa mudar para se concentrar nas coisas que estão em bom funcionamento, como também rever as que não estão. Autoridades que permitam não sobrecarregar-se por tarefas inadequadas, e que ao mesmo tempo coloquem mais energia e recursos na supervisão estratégica, antecipando

demandas

dos

cidadãos

e,

sobretudo,

investindo

em

desenvolvimento e inovação. As partes interessadas na gestão da cidade precisam de visão e liderança. Neste contexto, liderança não diz respeito apenas às personalidades, mas sim à reunião de líderes da política local, das empresas e do setor associativo para poder contribuir para o desenvolvimento da cidade (LANDRY; BIANCHINI, 1995). A Economia Criativa, segundo a UNCTAD (2010), é um conceito em evolução baseado em ativos criativos que potencialmente geram crescimento e desenvolvimento econômico. Ela pode estimular a geração de renda, criação de empregos e a exportação de ganhos, ao mesmo tempo em que promove a inclusão social, diversidade cultural e desenvolvimento humano. Além de abraçar aspectos econômicos, culturais e sociais que interagem com objetivos 14

de tecnologia, propriedade intelectual e turismo, é um conjunto de atividades econômicas

baseadas

em

conhecimento,

com

uma

dimensão

de

desenvolvimento e interligações cruzadas em macro e micro níveis para a economia em geral. Uma opção de desenvolvimento viável que demanda respostas de políticas inovadoras e multidisciplinares, além de ação interministerial. Diferentemente da economia tradicional “taylorista”, a economia criativa se caracteriza pela abundância e não pela escassez, pela sustentabilidade social e não pela exploração de recursos naturais e humanos, pela inclusão produtiva e não pela marginalização de indivíduos e comunidades. A Economia Criativa contempla as dinâmicas culturais, sociais e econômicas

construídas

a

partir

do

ciclo

de

criação,

produção,

distribuição/circulação/difusão e consumo/fruição de bens e serviços oriundos dos setores criativos, cujas atividades produtivas têm como processo principal um ato criativo gerador de valor simbólico, elemento central da formação do preço, e que resulta em produção de riqueza cultural e econômica (BRASIL, 2012). Para o Ministério da Cultura, a definição de economia criativa parte das dinâmicas culturais, sociais e econômicas construídas a partir do ciclo de criação, produção, distribuição/circulação/difusão e consumo/fruição de bens e serviços oriundos dos setores criativos, caracterizados pela prevalência de sua dimensão simbólica. (BRASIL, 2012). No tocante à conceituação de Economia Criativa, Miguez (2007, p. 9697) propõe como conceito de economia criativa o “conjunto distinto de atividades assentadas na criatividade, no talento ou na habilidade individual cujos produtos incorporam propriedade intelectual. Já para Caiado (2011, p. 15), a economia criativa “é o ciclo que engloba a criação, produção e distribuição de produtos e serviços que usam a criatividade, o ativo intelectual e o conhecimento como principais recursos produtivos. A nova economia, como também é designada a Economia Criativa, resulta por um lado da internacionalização da economia e por outro da difusão das novas tecnologias da informação, encontrando-se tendencialmente 15

concentrada nas grandes cidades e áreas metropolitanas e, em particular, nas cidades com grande densidade cultural. A economia criativa se caracteriza pela criação, produção e distribuição de produtos e serviços que utilizam a criatividade, o ativo intelectual e o conhecimento como recursos produtivos. A economia criativa, enquanto economia do intangível e do simbólico, possui uma dinâmica própria, já que carece de marcos legais e bases conceituais consentâneas com os modelos de negócios em construção. A transversalidade de conhecimentos e práticas obrigaram o poder público brasileiro a levar a efeito uma categorização e identificação dos setores criativos, procurando assim classificar e calcular os atores, as atividades, os impactos e a evolução desses setores. (CRUZ, 2016). Ainda relativamente ao conceito de Economia Criativa, propõe Cruz (2014), que esta seja definida pelas atividades econômicas que têm por objeto a cultura e a arte, ou que englobam elementos culturais ou artísticos de modo a alterar o valor do bem ou serviço prestado, afastando desta concepção as atividades culturais e artísticas que não têm intuito econômico. Trata-se então da profissionalização de atividades culturais e artísticas, assim como o reconhecimento do valor econômico dos elementos culturais e artísticos incorporados em outras atividades econômicas como a gastronomia, a arquitetura ou os games. Em relação aos Setores Criativos, um fator de extrema importância é identificar a distinção existente entre os setores econômicos tradicionais e os setores denominados como criativos. Identificar e conceituar esses setores parece essencial em função da necessidade de se definir um escopo de atuação da Secretaria da Economia Criativa. Denominar setores criativos aqueles cujas atividades produtivas têm como insumos principais a criatividade e o conhecimento, como estabelecido em algumas definições, parece bastante vago em função destes insumos serem imprescindíveis a toda e qualquer atividade humana, não podendo ser considerados fatores distintivos. Considerar que os setores criativos são aqueles cuja geração de valor econômico se dá basicamente em função da exploração da propriedade intelectual expressa uma percepção bastante restritiva, posto que a

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propriedade intelectual não corresponde a um elemento obrigatório nem definidor único de valor dos bens e serviços criativos. Assim, para o Ministério da Cultura, os setores criativos são aqueles cujas atividades produtivas têm como processo principal um ato criativo gerador de um produto, bem ou serviço, cuja dimensão simbólica é determinante do seu valor, resultando em produção de riqueza cultural, econômica e social (BRASIL, 2012) Para o Minc, os Setores Criativos Nucleares são: Patrimônio Natural e Cultural; Espetáculos e Celebrações; Artes Visuais e Artesanato; Livros e Periódicos; Design e Serviços Criativos; Audiovisual e Mídias Interativas. Os Setores Criativos relacionados aos Nucleares são o Turismo e o Esporte e Lazer. (BRASIL, 2012) Quadro nº 1 - Categorias Culturais e Setores Criativos para a SEC (Brasil) Categorias Culturais 1.

2.

3.

4.

5.

6.

Patrimônio cultural e natural

Espetáculos e celebrações

Artes Visuais e Artesanato

Livros e periódicos

Audiovisual e mídias interativas

Design e serviços criativos

Setores Criativos 

Museus



Sítios históricos e arqueológicos



Paisagens culturais



Patrimônio natural



Artes de espetáculo



Festas e festivais



Feiras



Pintura



Escultura



Fotografia



Artesanato



Livros



Jornais e revistas



Outros materiais impressos



Bibliotecas (incluindo as virtuais)



Feiras do Livro



Cinema e vídeo



TV e rádio (incluindo internet)



Internet podcasting



Videogames (incluindo online)



Design de moda



Design gráfico

17



Design de interiores



Design paisagístico



Serviços de arquitetura



Serviços de Publicidade

Fonte: BRASIL, 2012. (Adaptado)

O processo de planejamento estratégico, entendido como um processo de reflexão

de

cenários,

possibilidades,

capacidades

e

potenciais

de

desenvolvimento da Secretaria da Economia Criativa – SEC, gerou a necessidade de estabelecer princípios norteadores e balizadores das políticas públicas de cultura. Desta forma, foi definido que a Economia Criativa Brasileira somente seria desenvolvida de modo consistente e adequado à realidade nacional se incorporasse na sua conceituação a compreensão da importância da diversidade cultural do país, a percepção da sustentabilidade como fator de desenvolvimento local e regional, a inovação como vetor de desenvolvimento da cultura e das expressões de vanguarda e, por último, a inclusão produtiva como base de uma economia cooperativa e solidária (BRASIL, 2012). a) Diversidade Cultural A Economia Criativa Brasileira deve então se constituir numa dinâmica de valorização, proteção e promoção da diversidade das expressões culturais nacionais como forma de garantir a sua originalidade, a sua força e seu potencial de crescimento (BRASIL, 2012). b) Sustentabilidade O uso exacerbado de recursos naturais e de tecnologias poluentes nas estruturas produtivas, com o objetivo de obter lucros e garantir vantagens competitivas no curto-prazo, acabou por gerar grandes desequilíbrios ambientais. A proliferação de uma cultura de consumo global massificou mercados com a oferta de produtos de baixo valor agregado, destituídos de elementos originais e identificadores de culturas locais. Desta forma, aqueles que têm maior capacidade produtiva passam a dominar um mercado que se torna compulsivo e pouco crítico. Diante dessas considerações, é necessário 18

definir qual tipo de desenvolvimento se deseja, quais as bases desse desenvolvimento e como ele pode ser construído de modo a garantir uma sustentabilidade social, cultural, ambiental e econômica em condições semelhantes de escolha para as gerações futuras (BRASIL, 2012). c) Inovação O conceito de inovação está atrelado ao conceito de economia criativa, pois o processo de inovar envolve elementos importantes para o seu desenvolvimento. A inovação exige conhecimento, a identificação e o reconhecimento de oportunidades, a escolha por melhores opções, a capacidade de empreender e assumir riscos, um olhar crítico e um pensamento estratégico que permitam a realização de objetivos e propósitos. No campo das artes e da cultura, a inovação pressupõe a ruptura com os mercados e o status quo. Por isso, a inovação artística deve ser apoiada pelo Estado, o qual deve garantir, através de políticas públicas, os produtos e serviços culturais que não se submetem às leis de mercado (BRASIL, 2012). d) Inclusão social No Brasil, onde a desigualdade de oportunidades educacionais e de trabalho ainda é evidente, onde o analfabetismo funcional atinge um percentual considerável da população, onde a violência é uma realidade cotidiana, onde o acesso à cultura ainda é bastante precário (quando comparado com o de países desenvolvidos), não se pode deixar de assumir a inclusão social como princípio fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas culturais na área da economia criativa. A efetividade dessas políticas passa pela implementação de projetos que criem ambientes favoráveis ao desenvolvimento desta economia e que promovam a inclusão produtiva da população, priorizando aqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade social, por meio da formação e qualificação profissional e da geração de oportunidades de trabalho e renda. Além deste processo de inclusão produtiva, basilar para a inclusão social, o acesso a bens e serviços criativos também emerge como premissa 19

para a cidadania. Uma população que não tem acesso ao consumo e fruição cultural é amputada na sua dimensão simbólica. Nesse sentido, inclusão social significa, preponderantemente, direito de escolha e direito de acesso aos bens e serviços criativos brasileiros (BRASIL, 2012). O Rio Grande do Norte e a capital potiguar também são palco de ações relacionadas à Economia Criativa. O potencial cultural, artístico e criativo de algumas localidades da capital potiguar sob a ótica do Sebrae, está recebendo estímulos para se desenvolver e gerar novos negócios com o projeto “Territórios Criativos”. Essa iniciativa foi idealizada pelo Sebrae no Rio Grande do Norte e conta com o apoio técnico e pedagógico do Instituto de Assessoria para o Desenvolvimento Humano (IADH). O projeto foi lançado no bairro das Rocas e na vila de Ponta Negra. Esses bairros foram escolhidos em função da diversidade cultural, turística e gastronômica das duas comunidades (SEBRAE, 2016).

O projeto faz parte da estratégia do Sebrae para criar ambientes favoráveis ao desenvolvimento dos pequenos negócios nos territórios onde atua, incentivando o empreendedorismo, ancorado em processos produtivos de base criativa. A ideia do projeto é de, ao longo de um ano, trabalhar e fortalecer a economia criativa da localidade, com capacitações e apoio à qualificação para o desenvolvimento de produtos e serviços criativos pelos agentes locais.

Com a implementação das ações, espera-se o fortalecimento e a organização socioprodutiva desses territórios, com alinhamento de propósitos coletivos, de modo a contribuir para que se firmem, de maneira qualificada, como polos criativos reconhecidos em Natal.

De acordo com a gestora do projeto no Sebrae-RN, Cátia Lopes (2016), incentivar a expansão da economia criativa é uma estratégia fundamental para o empoderamento socioeconômico dos territórios: “Isso se consegue através da promoção da expressividade como uma dimensão básica da dignidade, da inclusão social e do pleno exercício das liberdades”. Para Lopes (2016), o 20

fomento de negócios criativos inclusivos e com foco na sustentabilidade contribui para inserção socioprodutiva de pessoas de comunidades em situação de vulnerabilidade social.

As capacitações promovidas pelo IADH são direcionadas para impulsionar a criatividade, qualificando o fazer local e organizando produtos. Isso porque os empreendimentos criativos promovem oportunidades ideais para a inclusão social, utilizando mão de obra diversificada, engajando comunidades desfavorecidas e permitindo às pessoas usar talento e inovação para brilhar.

O IADH é um dos maiores especialistas no setor de economia criativa do Brasil, com foco na abordagem do desenvolvimento territorial. Acumula experiências com cases de sucesso em áreas de vulnerabilidade social, desenvolvendo o potencial criativo de agentes locais. O setor de economia criativa engloba o conjunto de atividades que têm a criatividade, a habilidade e os talentos individuais como componentes essenciais, estando diretamente inserido no processo produtivo como patrimônio material, imaterial, museus e arquivos, expressões culturais tais como artesanato, artes visuais, cultura popular/indígena/afro/urbana, espetáculos (dança, música, circo, teatro, manifestações folclóricas), audiovisual e impresso (vídeo, cinema, publicações, mídia impressa, literatura, Imprensa, Internet), criações funcionais (design, moda, arquitetura, artes digitais, gastronomia), turismo etc. (SEBRAE, 2016).

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte possui um Plano de Cultura, o qual objetiva fortalecer, criar e implementar diretrizes, metas e ações acadêmico-populares no campo das artes e da cultura da UFRN e do RN, de modo a incluir, respeitar e fortalecer a diversidade cultural local, regional e brasileira, contribuindo, assim, com o amplo exercício dos direitos culturais pelo conjunto da população acadêmica e potiguar, a partir das potencialidades da cultura como eixo transversal do desenvolvimento social e econômico sustentável do Rio Grande do Norte (PLANO..., 2016).

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Para tanto, impulsiona programas e projetos artístico-culturais que vêm sendo desenvolvidos de modo exitoso na UFRN, bem como amplia a atuação desta Universidade junto a grupos, movimentos e instituições de arte e cultura do Rio Grande do Norte, do Nordeste e do Brasil. Nesse sentido, implementa e fortalece as políticas e ações culturais universitárias de modo articulado com as metas do Plano Nacional de Cultura (Lei nº 12.343/2010), do Plano Nacional de Educação/MEC e do Programa Cultura Viva/MinC, tendo este sido aderido pela UFRN, através de assinatura de Termo de Adesão, por ocasião da Teia Nacional da Diversidade. Assim sendo, nesse contexto de planejamento e execução da arte e da cultura, através do Plano de Cultura/Edital Mais Cultura nas Universidades, a UFRN atua de modo democrático, propositivo, criativo, crítico e inclusivo das diversidades, tendo consciência de que é preciso cada vez mais ouvir, perceber, abraçar, dialogar, dançar e cantar junto com as muitas vozes, com os muitos corpos-sujeitos que pulsam impregnados de saberes-fazeres nesse cenário multicultural potiguar e brasileiro, a partir de 2016, trazendo para o meio acadêmico contribuições no tocante à economia criativa e, seus setores e o ciclo de criação, produção, distribuição, difusão, consumo e fruição de bens e serviços culturais e artísticos. (PLANO..., 2016). O RN também é palco da Rede Incubadoras Brasil Criativo. A Incubadora RN Criativo é um projeto da Secretaria de Economia Criativa do Ministério da Cultura em parceria com Governo do Estado do Rio Grande do Norte, através da Secretaria Extraordinária de Cultura do RN e Fundação José Augusto. O RN Criativo presta atendimento e assessoria aos agentes e empreendedores criativos, ofertando serviços que englobam formações, capacitações, consultorias e assessorias técnicas, voltadas para a qualificação da gestão de projetos, produtos e negócios de micro e pequenos empreendimentos criativos. Tem como missão fortalecer e consolidar a rede de empreendedores e agentes criativos do Estado do Rio Grande do Norte por meio da Economia Criativa, fomentando ações que permitam a inovação, inclusão social, sustentabilidade e diversidade cultural.

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Também é referência, a Incubadora Tecnológica de Cultura e Arte ITCART, situada no Campus – Natal Cidade Alta, que é integrante do Programa de Multincubação Tecnológica – MIT do IFRN. A partir de articulações da Diretoria de Inovação Tecnológica do NIT-IFRN, a ITCART foi concebida em março de 2011 por meio de parceria entre o IFRN, o SEBRAE/RN e a Fundação de Apoio à Educação e ao Desenvolvimento Tecnológico do RN – FUNCERN, responsável por gerenciar financeiramente o convênio firmado (IFRN, 2016). A ITCART se responsabiliza por um conjunto de ações estratégicas que visam fortalecer o mercado e a atividade empreendedora na Região Metropolitana de Natal, buscando a integração com atores locais (tais como, agentes culturais, artistas, estudantes, produtores, entre outros). Na sua atuação, possui estratégias de ação dirigidas especificamente às áreas da cultura, turismo e esporte e lazer. Sua infraestrutura possui os recursos básicos para a atividade empreendedora, dispondo de área de 55 metros quadrados, para atendimento a três empresas incubadas na modalidade residente e 3 empresas na modalidade não-residente ou à distância. Assim, a ITCART tem como propósito central contribuir para a promoção do empreendedorismo no ramo da economia criativa e para a gestão sustentável, permitindo a acessibilidade, favorecendo a difusão e o desenvolvimento da arte e da cultura (IFRN, 2016). Essa Incubadora tem como missão apoiar a criação de empresas que desejem transformar conhecimentos e ideias em produtos e/ou serviços relevantes ao contexto socioeconômico e cultural, inserindo-os no mercado, contribuindo desta forma para a difusão e o desenvolvimento da arte e da cultura no Estado, através da criação de oportunidades de emprego e renda. Os objetivos são o de fornecer apoio técnico e gerencial necessário para o desenvolvimento dos empreendimentos incubados, através da oferta de capacitações, assessoramento e consultorias técnicas, além da articulação para realização de projetos, participação em eventos, redes de colaboração, dentre outros; contribuir para o desenvolvimento da atividade empreendedora no nível da comunidade acadêmica, local e regional nas áreas da Cultura, Turismo, Eventos, Multimídia e Esporte e Lazer; estimular e apoiar os 23

empreendimentos incubados e pré-incubados nas seguintes dimensões: empreendedora, tecnológica, mercadológica, gestora e financeira; realizar ações (palestras, reuniões, workshops, etc.) que promovam a difusão do empreendedorismo na comunidade acadêmica e externa, além de estimular um banco de ideias inovadoras no Campus através de ações de evolvam toda a comunidade acadêmica. Ex: Concurso de Ideias Inovadoras (IFRN, 2016). Tem como público-alvo, profissionais que necessitem de apoio para o desenvolvimento de seus produtos ou serviços; empresas de micro e pequeno porte que atuam na cadeia produtiva da Cultura e da Arte, além de áreas relacionadas ao Turismo, Eventos, Multimídia e Esporte e Lazer e estudantes e/ou professores com pesquisas em desenvolvimento de produtos e serviços para a cadeia produtiva da Cultura e da Arte, Turismo, Eventos, Multimídia, Esporte e Lazer que tenham interesse em constituir empresa para desenvolver profissionalmente o produto ou serviço em questão (IFRN, 2016).

1.1. Conceituando Desenvolvimento O processo de se configurar uma cidade criativa é uma oportunidade para intensificar a notoriedade e o apelo turístico daquela localidade e, mais ainda, uma oportunidade para repensar o conceito de visão e desenvolvimento urbano e fazer a cidade encontrar-se com o desejo de seus cidadãos, melhorando, por conseguinte, sua qualidade de vida. Tradicionalmente, o desenvolvimento urbano leva em consideração recursos tangíveis e seu impacto na vida econômica, social e no meio-ambiente. Mais recentemente, surgiu uma nova perspectiva, que enfatiza a função dos recursos intangíveis – humanos, sociais e culturais – no aperfeiçoamento do processo de revitalização de cidades. (CIDADE CRIATIVA, 2016). As cidades Criativas são espaços urbanos onde a articulação eficiente entre atividades sociais e artísticas, indústrias culturais e governo, foi capaz de produzir uma efervescência cultural que desenvolve, atrai e retém talentos, promove diversidade social, aumenta a oferta de empregos, gera maior conhecimento entre cidadãos, aumenta o potencial criativo de empresas e 24

instituições, atrai mais turistas e, assim, contribui significativamente para a economia da cidade e qualidade de vida de seus cidadãos. (CIDADE CRIATIVA, 2016). O conceito de desenvolvimento está associado à modernidade. Os valores burgueses do individualismo, da racionalidade, do trabalho, da ordem, do progresso e da acumulação de capital se transformam em valores supremos das sociedades ocidentais. Neste sentido, os fundamentos do capitalismo, com os ideais de riqueza e progresso, sentam suas bases na revolução industrial, como único modelo possível para o desenvolvimento dos Estados modernos. O conceito de desenvolvimento abre-se assim para novos paradigmas, que vão privilegiar novas perspectivas econômicas e introduzir novas problemáticas, como a da sustentabilidade, liberdade individual, diversidade cultural e participação social. (GUERRA; SILVA, 2012). Para estes autores, desde a perspectiva de outras possibilidades e modelos de desenvolvimento, as questões humanas e ambientais ganham centralidade. Novos modelos são criados e recriados, com o intuito de apresentar outros caminhos e propostas alternativas para promover a inclusão social, a valorização de bens culturais e ambientais, e o bem-estar econômico. A partir dessas novas leituras, a produção e a prosperidade econômica, que eram vistas como a essência do progresso, tornam-se meio para o desenvolvimento dos valores humanos, assim tem-se a Economia Criativa como mola propulsora de um novo modelo de desenvolvimento econômico. Nesse contexto surge a perspectiva do desenvolvimento sustentável, que para Ignacy Sachs (2008), é a alternativa ao desenvolvimento da boa sociedade, com meios de existência viáveis e trabalho decente. Para este autor, a boa sociedade é aquela que maximiza as potencialidades, talentos e imaginação de cada ser humano, na busca de auto-realização e felicidade, por meio de empreendimentos individuais e coletivos, numa combinação de trabalho autônomo e heterônomo e de tempo dedicado a atividades não produtivas, ou seja, com disponibilidade para o tempo livre. Para que haja desenvolvimento sustentável é necessário que se promova, portanto, o crescimento econômico com impactos positivos nos 25

âmbitos sociais e ambientais, sendo a sustentabilidade social um componente essencial deste conceito (GUERRA; SILVA, 2012). A sustentabilidade social está essencialmente relacionada ao Desenvolvimento Includente (SACHS, 2008). Este conceito faz oposição ao desenvolvimento do mercado de consumo e concentrador de renda e riqueza. Diante desta perspectiva, a educação é essencial para o desenvolvimento, pelo seu valor intrínseco. A educação contribui para o despertar cultural, a conscientização dos direitos humanos, o sentido de autonomia e autoestima. No sentido instrumental, a educação é condição necessária, mas não suficiente, para a empregabilidade. Sachs (2008) ainda ressalta que as pessoas necessitam aprender a apreciar, como uma verdadeira medida de sua liberdade cultural, o tempo livre, para a realização de atividades autônomas, em vez de usá-lo para os prazeres do consumo – o ócio no âmbito da educação. Para Sen (2000), a qualidade de vida das pessoas e populações não pode ser medida pelas riquezas materiais, mas sim pela liberdade. O crescimento econômico é importante, mas como meio para expandir as liberdades humanas. Sem negar todas as conquistas humanas conseguidas pelo projeto da modernidade, tais como o regime democrático como modelo de organização política; os conceitos de direitos humanos e liberdade política; esperança de vida das pessoas, dentre outros, Sen (2000) não deixa de criticar a privação, destituição e opressão vividas por um grande número de pessoas, tanto em países centrais como nos periféricos. O crescimento econômico apresenta-se como importante, mas não suficiente para determinar o nível de desenvolvimento de uma população. A dimensão cultural, embora considerada, é pouco analisada pelos autores do desenvolvimento. Entretanto, aqui se trabalha com o pressuposto de que a cultura é uma das principais dimensões geradoras de diferenças no desenvolvimento. As condições de bases materiais, objetivas, não são suficientes para explicar o processo de desenvolvimento de uma nação, de um lugar. As explicações para o desenvolvimento nos países centrais e periféricos são também de ordem subjetiva. Desde este ponto de vista, as instituições provedoras do desenvolvimento são resultantes não só de estruturas políticas e econômicas reais, mas são também o resultado dos valores culturais. Estas 26

relações são concretizadas no cotidiano, por meio das interconexões do universo social e cultural dos indivíduos. (GUERRA; SILVA, 2012). No âmbito dos festivais literários, podemos visualizar com nitidez a concretude das definições de desenvolvimento analisadas acima, como também do próprio desenvolvimento sustentável, a partir da percepção de que o ócio reflexivo e o produto livro – características principais desses festivais – fazem parte das gerações presentes contribuindo também para as gerações futuras, já que como vimos anteriormente, essas definições abrangem basicamente a educação, a cultura e a economia como pilares do desenvolvimento de determinada região ou segmento.

2. Contextualizando e caracterizando Pipa e o FLiPipa

O presente capítulo visa caracterizar e contextualizar o recorte geográfico – Praia da Pipa/RN, contando ainda com a descrição etnográfica do FLiPipa, perpassando pelos seus aspectos gerais e sua contextualização histórica, para a partir disso e da pesquisa de campo, descrever a organização do referido festival literário, identificando os tipos de público, diante das entrevistas, fotografias e observação participante.

2.1. Praia da Pipa/RN

A Praia de Pipa está localizada no município de Tibau do Sul, ficando a 85 km de Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte, Brasil. O nome "pipa" deve-se ao fato de que os portugueses, ao passar de navio pelas proximidades, avistaram uma pedra que lembrava um formato de um barril de vinho ou de azeite, que em Portugal, tal barril é conhecido como Pipa. É o principal balneário do Litoral Sul do estado, que inclui ainda praias como Ponta do Madeiro e Praia do Amor. (PIPA, 2016).

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Inicialmente era uma modesta vila de pescadores, calma, tranquila, até começar a ser explorada por surfistas internacionais em função de suas boas ondas e vento constante o ano inteiro, influenciando também, turistas de outros países. Recentemente, a praia vem sendo procurada também por praticantes de outras modalidades esportivas como, por exemplo, o kitesurf e o parapente. É famosa por ter uma das noites mais movimentadas do estado, além de possuir grande número de hotéis, pousadas, albergues, restaurantes, bares e discotecas. (PIPA, 2016).

Fig. nº 1 - Praia da Pipa/RN

Fonte: Google Maps, 2016.

A praia da Pipa tem sido eleita inúmeras vezes uma das dez praias mais bonitas do Brasil, de acordo com mídias eletrônicas, revistas e guias de roteiros turísticos. A população do município de Tibau do Sul, que abrange a Praia de Pipa, foi estimada em 11.385 (onze mil trezentos e oitenta e cinco) habitantes no ano de 2010, e de 13.609 (treze mil seiscentos e nove) no ano de 2016. (IBGE, 2016). 28

Os eventos fixos no calendário da cidade que abarca a referida localidade são: a festa de São Sebastião – Santo Padroeiro da Pipa, o Festival Cultural ‘Pipa Em Cantos’, o Carnaval e o Festival da Cachaça. Também é comemorada a festa de emancipação política do município - em abril, e em junho a festa do Santo Antônio, Padroeiro de Tibau do Sul. Há ainda as comemorações da semana do meio ambiente, as festas de São Pedro e São João, Festa à Fantasia, Festival Literário da Pipa – objeto desse estudo, Festival de Bossa e Jazz da Pipa (Fest Bossa e Jazz), Festival Alternativo da Pipa, Festival Gastronômico, a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, o auto de Natal e o Réveillon. (TARGINO, 2015). Diante das inúmeras comemorações festivas que acontecem na Praia da Pipa, passamos a destacar o Festival Literário como sendo um forte incentivador das políticas culturais, sociais, e econômicas, já que abarca diversas categorias culturais e setores criativos, o que contribui para o desenvolvimento da cultura, educação e economia local.

2.2. O Festival Literário da Pipa

Desde o ano de 2009, o Festival Literário da Pipa, ou FLiPipa, é um evento de caráter multicultural, totalmente gratuito, que tem o objetivo de promover a literatura, despertar o interesse pela leitura fora dos meios convencionais e valorizar a história e as suas raízes culturais, sendo uma das primeiras experiências do RN a levar a literatura e seus autores para debater frente a frente com comunidade e público (PIPA, 2016). O festival tem sempre performances, encenação teatral, caminhada literária, sarau, oficinas, exposições, lançamentos de livros e várias mesas de debate, comandadas por escritores convidados e, acompanhadas por um público vasto de estudantes, pesquisadores, educadores, artistas, jornalistas, além do público em geral (FLIPIPA, 2016). Geralmente, o evento acontece em meados do segundo semestre, de cada ano, e é realizado pela Fundação Hélio Galvão e pelo Projeto Nação 29

Potiguar, e na sua sétima edição (2016) teve como parceiros o Sistema S (SESI, SESC, SEBRAE), a Prefeitura Municipal de Tibau do Sul, a InterTV Cabugi, o jornal Tribuna do Norte, dentre outros. Grandes nomes da literatura contemporânea já passaram pela festa, como João Ubaldo Ribeiro, João Gilberto Noll, Geraldo Carneiro, o escritor Moçambicano Mia Couto, Frederico Pernambucano de Mello, Daniel Galera, Raimundo Carrero e Laurentino Gomes. O festival tem sempre muita agitação cultural, como performances, encenação

teatral,

caminhada

literária,

sarau,

oficinas,

exposições,

lançamentos de livros e várias mesas de debate, cujos temas já discutidos foram: Novela Gráfica: A construção linguística e visual; O Brasil que existe em nós; 1822: Uma nova perspectiva da criação do Brasil; O Sisudo e a Melindrosa: tradição e modernidade em Gizinha, de Polycarpo Feitosa; Do roteiro ao romance; entre outros, comandados por escritores convidados e, acompanhados

por

um

público

vasto

de

estudantes,

pesquisadores,

educadores, artistas, jornalistas, e o público em geral. (PIPA, 2016). O Festival Literário de Pipa – edição 2016 - ocorreu no espaço privado denominado Pipa Open Air, nos dias 10, 11, 12 e 13 de agosto, tendo como principal parceiro idealizador o Sesc/RN, que vem à sétima edição do festival com a intenção de desenvolver uma programação infanto-juvenil durante os três primeiros dias, objetivando trabalhar com grupos locais de cultura popular, através de contação de histórias, mesas, palestras, intervenções artísticas, poéticas, apresentações musicais, etc. O Hotel Ponta do Madeiro, o Espaço Pipa Open Air, a agência de viagens Athenas Turismo e o Instituto Gentil, e uma das principais construtoras do RN, a Ecocil, também foram parceiros da realização dessa edição do evento. Fig. nº 2 - Distribuição espacial do Festival Literário de Pipa/RN (2016)

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Principal avenida da praia concentra as atividades do festival. Fonte: Adaptado Google Maps, 2016.

O festival foi organizado em local estratégico – na entrada da Praia, possibilitando uma grande visibilidade por parte de todos os moradores e frequentadores da localidade. O evento foi organizado de forma esparsa, fazendo com que o público interagisse nos diversos ambientes. Esses ambientes compreenderam a ‘Tenda dos Autores’, ambiente climatizado, espaço oficial das palestras, debates, apresentações culturais e oficinas de formação; a Biblioteca Itinerante do Sesc, que é estruturada em cima de um caminhão, conta com a supervisão de funcionários da referida instituição e tem mais de três mil livros, que compreende seu acervo. Conta ainda com espaço para contação de histórias e apresentações musicais, além de estandes de editoras como a da UFRN e a ‘Sebo Vermelho’ e o Espaço Cultural Hélio Galvão, uma homenagem da organização do evento para com um dos mais conhecidos artistas do município de Tibau do Sul. Nessa sétima edição, o festival contou com nomes como o do humorista e escritor carioca Gregório Duvivier, este que em entrevista à InterTV Cabugi, em link ao vivo para o telejornal de maior visibilidade do estado – RNTV, iniciou

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falando: “primeiramente fora Temer”, expressão essa que veio a se tornar jargão popular daqueles que não apoiam o atual governo brasileiro. A primeira noite do evento contou com a presença de Winnie Knox, Andreia Galvão, Marcelo Alves e Vicente Serejo falando sobre a história viva de Hélio Galvão, então homenageado nesta edição. Os debatedores transitaram pelos muitos campos estudados pelo intelectual, do campo jurídico ao etnográfico, genealógico, histórico e geográfico. Para finalizar o primeiro dia, o evento contou com apresentações musicais do Café Quarteto e da Orquestra Sesi Big Band. O Café Quarteto, formado por jovens alunos da UFRN, é criado sem vínculo a nenhuma matéria da grade curricular com o propósito de aprimorar a técnica camerística e performática. O grupo investe na pesquisa e no resgate da música erudita brasileira, inspirado pelo movimento Armorial. No repertório, estão presentes standards e compositores contemporâneos.

A Orquestra de jazz SESI Big

Band, formada pelos instrutores/professores do projeto SESI Arte do RN, tem como foco o ensino da música e está em atividade nas unidades operacionais do SESI-RN em Natal, Mossoró, Macau e Assu. O repertório da SESI Big Band vai do Swing até o Latin Jazz, passando pelo Bebgop, Funk Jazz e Free Jazz. O segundo momento abordou a literatura e as histórias em quadrinhos (HQs), discutindo os termos “adaptação” e “releitura” a partir da recente adaptação do livro “Maldito Sertão”, de Márcio Benjamin, pelo coletivo Quadro 9, que é um coletivo de roteiristas e ilustradores de histórias em quadrinhos do Rio Grande do Norte. (FLIPIPA, 2016). Para encerrar a segunda noite do evento, o palco musical contou com apresentação musical da Banda Alphorria, que é pioneira no reggae potiguar e investe na mistura entre as raízes da cultura potiguar e a linguagem universal do ritmo jamaicano reggae. O encerramento foi um misto de encantamento e lições de vida de um senhor viajante literário, o escritor e jornalista Ignácio de Loyola Brandão. Vencedor do Prêmio Machado de Assis 2016, concedido pela Academia Brasileira de Letras pelo conjunto de sua obra, é um dos mais destacados 32

autores da literatura brasileira. Ao longo da carreira publicou 42 livros de contos, crônicas, literatura infanto-juvenil e romances, traduzidos para mais de dez idiomas. (FLIPIPA, 2016). Com mais de 11 anos de carreira, a banda DuSouto encerrou a última noite do festival. É uma das bandas mais tocadas na capital potiguar, onde apresenta um som que passeia entre o drum’n’bass, samba, reggae e alguns ritmos nordestinos.

Fig. 3 – FLIPIPA

Alunos da rede de ensino fundamental do município de Tibau do Sul e de outros municípios como, por exemplo, Brejinho, assistem à apresentação de grupos de cultura local, através da contação de histórias infantis e apresentações musicais. (12 de agosto de 2016). Fonte própria.

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Fig. 4 – BiblioSESC

Crianças e alunos da rede de ensino fundamental em momento de leitura no interior de uma das 56 bibliotecas móveis do Sesc espalhadas pelo Brasil. A BiblioSESC tem o objetivo de promover acesso democrático à informação e ampliar o acesso ao livro no Brasil, formar leitores e promover uma melhor qualidade de vida por intermédio do acesso à informação, encurtar a distância entre o livro e o leitor e estimular o pensamento crítico, a criatividade e o prazer pela leitura. Em seu acervo, conta com gibis e contos de fadas, literatura brasileira e estrangeira, biografias e livros de culinária, livros didáticos para vestibulares e concursos, jornais e revistas. (12 de agosto de 2016). Fonte própria.

A sétima edição do FLiPipa, em 2016, foi a primeira na qual o Sesc foi inserido na programação noturna, com uma mesa abordando literatura feita por mulheres, mas não só para mulheres. Também nessa edição, o Sesc finalizou o evento com uma novidade, o Cortejo Literário Multicultural, que saiu da Praça do Pescador (a mais famosa da Praia da Pipa, localizada no Centro da localidade), percorrendo a Avenida Baía dos Golfinhos (principal avenida da localidade) com destino ao evento, localizado na entrada de Pipa. 34

Fig. 5 – Cortejo Multicultural na Praça do Pescador

Na praça do Pescador – principal praça localizada no centro de Pipa, um grupo de capoeira do município de Tibau do Sul, composto por crianças e jovens, se apresenta durante o início do cortejo cultural, por volta das 16h, demonstrando a representação dos grupos culturais locais. (12 de agosto de 2016). Fonte própria.

Em termos culturais, a instituição Sesc afirma através de Ilana Pinto – produtora cultural, que o festival é muito rico para o segmento literário do RN, como também para a localidade. Com relação à divulgação, mensura que apesar da ampla visibilidade a partir de parceiros como o jornal Tribuna do Norte e links da InterTV Cabugi, poderia ter sido feita uma divulgação prévia maior. No segmento das vendas, a abertura de mais estandes é retratada como um próximo passo a seguir, e no tocante à diversidade do público, o festival permite que pessoas do Brasil e do mundo frequentem a praia, gerando desenvolvimento econômico, social e cultural antes, durante e depois do evento. 35

Fig. 6– Estande da Cooperativa Cultural da UFRN

Estande de venda da cooperativa cultural da UFRN fechado durante boa parte do dia, não fomentando as vendas do produto livro e deixando o público diurno sem a possibilidade de ver, ler e/ou comprar os livros ali expostos. (12 de agosto de 2016). Fonte própria.

A Secretaria de Educação do município de Tibau do Sul, na pessoa do atual secretário, Charles Galvão, vê de extrema importância o festival, principalmente para as crianças/estudantes do município como também para as de municípios adjacentes. Afirma que apesar dos hotéis e restaurantes movimentarem sua economia a partir do público específico do evento, a divulgação do mesmo ainda precisa de melhorias, até para fomentar as vendas, e que através da secretaria, o município pensa em melhor divulgar o evento dentro da própria localidade, assim como planeja montar um estande no maior Festival Literário do Brasil, localizado em Paraty/RJ, com o intuito de melhor divulgar, nacional e mundialmente o evento.

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Fig. 7 – Estande de livros

Os estandes de venda de livros encontraram-se fechados durante toda a programação diurna do festival, uma lástima para o público que frequenta o evento nesse horário. (12 de agosto de 2016). Fonte própria.

Para Márcia Fernanda, servidora da Secretaria Municipal de Educação do município, a edição do FLiPipa 2016 é bem mais especial do que nos anos anteriores por prestigiar um artista da terra – Hélio Galvão, pelo seu centenário. Enfatiza que a cada ano, novas pessoas diversificam e aumentam o público do evento. Em termos de venda, o produto livro é mencionado como estando mais perto do público, facilitando assim sua aquisição. Em relação à contribuição para o desenvolvimento econômico social e cultural da praia sob a ótica da servidora, o Festival Literário contribui de uma forma na qual a Praia da Pipa, alunos e escolas de Tibau do Sul e municípios adjacentes se mobilizam para melhor construir e divulgar o evento.

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Fig. 8 – Espaço Memória Hélio Galvão

Estande montado pela organização do evento com o intuito de homenagear o centenário do artista local Hélio Mamede de Freitas Galvão, que nasceu em Pernambuquinho, distrito de Tibau do Sul/RN no ano de 1916. O estande conta a história do autor, sua produção bibliográfica na área jurídica, no campo da História, Folclore, Antropologia Cultural, Etnografia e Genealogia, assim como demonstra ao público do festival algumas de suas obras. (12 de agosto de 2016). Fonte própria.

Foi observado ainda, que durante a realização do festival literário, muitas atividades econômicas locais se atrelaram ao evento, diante da majoração nos preços de diversos hotéis, hostels, pousadas e albergues, alterações e acréscimos no cardápio de alguns restaurantes, além da utilização de espaços privados com a perspectiva de lucro, como por exemplo, o Shopping Vila da Pipa. Também foi constatada uma valorização da cultura local através das apresentações musicais de artistas da terra, como também pela homenagem feita a Hélio Galvão mesmo antes do evento com a visitação, por parte dos 38

estudantes do Colégio Municipal Hélio Galvão, à Fundação em Natal que leva o nome do patrono dessa instituição de ensino, localizada no distrito de Piau, em Tibau do Sul. Houve também a constatação de que no período diurno as atividades se voltavam para os gestores municipais, professores da rede de ensino fundamental da localidade e de municípios adjacentes, bem como para os alunos e grupos culturais locais, possibilitando assim uma valorização da cultura local. A partir de entrevistas semiestruturadas, foi possível perceber que muitos frequentadores da Praia da Pipa nos dias em que ocorreu o festival tinha alguma relação com o evento. Para Edemilson Silva, produtor cultural, residente em Lajes do Cabugi/RN, sua ida à Pipa pelo segundo ano consecutivo se deu devido ao festival. Afirma que foi à Praia com o objetivo de acompanhar o festival literário do começo ao fim, afim de adquirir experiências para a organização do festival literário de seu município. Em termos culturais, vê de extrema importância para o meio literário já que permite conhecer artistas, autores e suas obras, que são advindas dos mais diversos lugares, seja em nível local, regional ou nacional. Em relação à divulgação, o produtor cultural evidencia as redes sociais e a InterTV Cabugi que possibilita, em suas palavras, "o acesso ao evento". Ante o exposto, verifica-se que a sétima edição do FLiPipa contou com um público diversificado, abrangendo artistas, escritores, intelectuais, turistas nacionais e estrangeiros, além dos nativos. Mesmo diante de tal diversidade, o público que se destacou foram os gestores, grupos culturais locais, alunos e professores de diversas escolas do município e adjacentes, por estarem sempre presente durante a realização da programação diurna do festival.

Considerações Finais

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O festival literário de Pipa foi responsável por uma grande interação do público infantil para com o evento, possibilitando o contato com autores, o mundo editorial e bibliotecas incentivando a uma melhor formação escolar e um consequente avanço social para a localidade, além do despertar para a leitura e para valorização do produto livro. É de extrema importância demonstrar que integração define a abrangência do evento estudado, pois o mesmo uniu um cenário paradisíaco, literatura, leitura, lazer, tudo isso com o tempero da gastronomia local, já que os restaurantes da região prepararam um cardápio especial para homenagear os artistas, produtores e frequentadores, tudo isso somado também à tematização de alguns bares, hotéis e pousadas. O Cortejo Literário Multicultural, os grupos de cultura popular locais, a homenagem a Hélio Galvão - artista da terra - e as apresentações de bandas locais são exemplos dessa integração cultural. A noite na praia da Pipa é uma das mais badaladas do estado e percebe-se com isso que a programação noturna do festival abrangeu os mais diversos tipos de público, diferentemente da diurna, onde foi constatado, diante da observação participante, a presença de artistas, gestores, professores e principalmente alunos da educação infantil de escolas do município de Tibau do Sul e vizinhos, a exemplo de Brejinho. Outro fator importante a se destacar é a tematização da localidade em consequência da divulgação do evento e das apresentações musicais. Outdoors, placas e demais ícones do evento, que propiciam um clima festivo na Praia da Pipa, são atrativos significantes para os visitantes e turistas da Praia e do festival, além das amplas divulgações por parte da mídia e nas redes sociais. A partir da integração, da diversidade cultural e social do evento, e conforme o Plano da Secretaria da Economia Criativa, o festival literário de Pipa movimentou os setores criativos nucleares - patrimônio natural e cultural devido ao cenário deslumbrante da Praia, espetáculos e celebrações na tenda dos autores e no espaço para contação de histórias, artes visuais e artesanato, audiovisual e mídias interativas, e design e serviços criativos com a divulgação 40

do referido evento literário. Não deixando também de abranger os setores criativos relacionados ao turismo - roteiros de viagens e destinos turísticos e serviços de hospitalidade - e ainda o setor criativo do patrimônio imaterial expressões e tradições orais, rituais, línguas e práticas sociais caracterizado pelas apresentações de grupos locais durante todo evento e principalmente no Cortejo Literário Multicultural, que conseguiu reunir um público diversificado. Podemos visualizar com nitidez a concretude das definições de desenvolvimento analisadas na parte teórica deste trabalho, como também das de desenvolvimento sustentável, a partir da percepção de que o ócio reflexivo e o produto livro – características principais desses festivais – fazem parte das gerações presentes contribuindo também para as gerações futuras, já que como vimos anteriormente, essas definições abrangem basicamente a educação, a cultura e também a economia, através da venda do produto livro, como pilares do desenvolvimento de determinada região ou segmento. A valorização da cultura local e a presença de escolas da rede de ensino fundamental do município e de municípios adjacentes pode ser vista como geradora de desenvolvimento para a localidade, já que diante da ótica de Sachs (2008), a educação é essencial para o desenvolvimento, diante de seu valor

intrínseco,

contribuindo

assim

para

o

despertar

cultural,

para

conscientização dos direitos humanos, no sentido de autonomia e autoestima. Diante do exposto, o presente trabalho de conclusão da graduação em Gestão de Políticas Públicas, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, atinge seus objetivos demonstrando que o Festival Literário de Pipa impulsiona e fortalece o ciclo econômico das indústrias criativas da Praia, como por exemplo, livro, música, mídia, publicidade, e outros setores como restaurantes, bares, hotéis e pousadas, abarcando assim a Economia Criativa por agregar valores sociais e culturais da região, além da notoriedade turística da localidade.

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44

Apêndice

Roteiro de entrevistas – FLiPipa 2016

Nome: Guilherme de Melo Medeiros Queiroz Instituição: UFRN Tempo de exercício da atividade: 2016.2 Atores: a) Artistas, escritores, idealizadores e frequentadores/visitantes; organizadores do evento 1. Qual a importância desse festival cultural e literário em termos culturais? 2. Qual é a sua opinião sobre a divulgação do “Flipipa”? 3. Qual a importância desse festival cultural e literário em termos de vendas? 4. Os parceiros de realização do evento como, por exemplo, a InterTV Cabugi, influenciam da diversidade do público? 5. Qual a importância do Festival Literário de Pipa, para o desenvolvimento social, cultural e econômico da Praia da Pipa? b) 1. 2. 3. 4.

Público do Flipipa Em que município reside? Está na Praia de Pipa devido à realização do Flipipa? Qual a importância desse festival cultural e literário em termos culturais? Qual é a sua opinião sobre a divulgação do “Flipipa”?

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