ECONOMIA NO FIM DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA

May 24, 2017 | Autor: Alessandro Dantas | Categoria: Demographic Transition
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ECONOMIA NO FIM DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA Alessandro Valério Dantas* Ricardo Lopes Fernandes** *Formando em Ciências Econômicas pela UNISO, Sorocaba, SP, Brasil. Email: [email protected] **Mestre em Economia, professor do curso de Ciências Econômicas da UNISO, Sorocaba, SP, Brasil. Email: [email protected] Recebido em: Outubro de 2014

Avaliado em: Outubro de 2014

RESUMO: O presente artigo apresenta um estudo do viés econômico da transição demográfica com foco nos países que se encontram em estágios mais avançados dessa transição. Faz-se uma análise dos dados de seis países representantes do último momento da transição em relação a demanda por bens e serviços, oferta de trabalho e geração e distribuição de riquezas. Conclui-se que estes países não são necessariamente ricos, que a demanda em nível macroeconômico é pouco sensível à transição, que a oferta de trabalho só não sofre grandes quedas devido ao aumento da mão de obra feminina e aos estoques de migração, que estes países são mais vulneráveis a crises econômicas e que suas economias são calcadas no setor de serviços e possuem elevados retornos do setor industrial e sobre investimentos em pesquisa e desenvolvimento. PALAVRAS-CHAVE: Transição demográfica. Envelhecimento populacional. Economias envelhecidas.

ECONOMY IN THE END OF DEMOGRAPHIC TRANSITION ABSTRACT: This report presents a study of the economic bias of demographic transition focusing on countries that are in the most advanced stages of the transition. It is made an analysis of data from six countries representing the last moment of transition in respect of demand of goods and services, labor supply and generation and distribution of wealth. It has been concluded that these countries are not necessarily rich, that the demand at the macro level is not very sensitive to the transition, that labor supply only do not suffer large drops due to increase in the female labor and the migrant stocks, also these countries are more vulnerable to crises and their economies are based on the service sector and have high returns from industrial sector and from investments in research and development. KEY WORDS: Demographic transition. Population aging. Aging economies.

1 INTRODUÇÃO

Até poucos séculos atrás, as taxas de mortalidade em todo o mundo eram altas e sujeitas a violentas flutuações, resultado de fomes e epidemias. A partir da segunda metade do século XVIII, alguns países europeus começaram a apresentar um lento, mas contínuo declínio da mortalidade. Por volta de 1850, os países da Europa Ocidental, América do Norte e Oceania apresentavam expectativas de vida em torno de 40 anos, chegando a 50 anos na virada do século. Nas primeiras décadas do século XX, os demais países do mundo ainda

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apresentavam expectativa de vida bastante baixas, sendo 30 anos para África e Ásia e 40 anos para América Latina. (Antonovsky, 1967; Kitagawa, 1977 apud Alves, 1994). Quanto às taxas de fecundidade, Knodel e Van de Walle (1979) apud Alves (1994) mostram que, com exceção da França que teve uma transição mais precoce, todos os demais países europeus iniciaram um processo de declínio na taxa de fecundidade a partir do último quartel do século XIX. Para as outras regiões do mundo, este processo só começou a partir da segunda metade do século XX. A redução das taxas de mortalidade e, principalmente, das taxas de fecundidade é, portanto, um fenômeno relativamente recente na história da humanidade. À esta passagem de altos a baixos níveis destas taxas dá-se o nome de “transição demográfica”, que nada mais é que uma descrição, com alto grau de generalidade e, a posteriori, do processo de redução da mortalidade e da fecundidade. (Alves, 1994) Este artigo tem como objetivo verificar como esta transição demográfica pode afetar as relações econômicas dos países que por ela passaram ou ainda passam, focando, principalmente, os países que se encontram no último momento da transição. O foco nestes países se justifica por termos hoje um quadro demográfico com envelhecimento e crescimento decrescente da população em todo o mundo. Assim sendo, um estudo dos países mais maduros no processo de transição demográfica pode trazer clareza para que os países que estão em fases menos avançadas do processo possam se estruturar melhor para enfrentar essa realidade no futuro.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

A transição demográfica para Rosa apud Brito (2007, p.12) é um fenômeno caracterizado por 4 fases e 3 momentos fundamentais. Em um primeiro momento, passa-se de uma fase em que as taxas brutas de natalidade e de mortalidade são altas e, consequentemente, o crescimento vegetativo da população é baixo – a pré-transição demográfica –, para uma segunda fase, quando se inicia a transição demográfica propriamente dita, em que o nível de mortalidade inicia um processo consistente de queda, enquanto o de fecundidade ainda se mantém alto. Nesta fase, o ritmo do crescimento natural da população aumenta de maneira sustentada. Esse é o período de mais rápido crescimento demográfico, que só vai se desacelerar a partir do segundo momento, no qual se inicia o processo de

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declínio persistente da fecundidade, inaugurando uma fase caracterizada por incremento populacional a ritmo decrescente. Por fim, há um terceiro momento, a partir do qual já se encontram baixos os níveis, tanto de fecundidade, quanto de mortalidade, entrando-se em uma fase de pós-transição demográfica, onde o crescimento da população é muito lento, nulo, ou até negativo da população. A figura abaixo ilustra o processo de transição:

Figura 1 – Ilustração do modelo de transição demográfica.

Fonte: Rosa apud Britto (2007).

O esquema apresentado por Rosa (2006) apud Britto (2007), baseado no quadro formulado originalmente por Thompson (1929), é utilizado geralmente apenas para ilustrar de forma simples um fenômeno de transição demográfica. Esse esquema, porém, não pode ser utilizado para explicar às diversas experiências concretas de transição demográfica. Para Alves (1994) não faz sentido falar em uma teoria da transição demográfica, pois, enquanto descrição de um fenômeno, não passaria de um truísmo. Em vez de uma teoria, temos, então, diversas abordagens que utilizam instrumentais teóricos das diversas ciências sociais e que consideram a inter-relação entre a dinâmica demográfica e as condições

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econômicas, políticas e culturais da sociedade. Devido à natureza complexa do tema, estas diversas abordagens teóricas não são necessariamente antagônicas, ao contrário, elas coexistem sem haver um claro domínio de uma sobre as outras.

2.1 Economia e Demografia

Para Singer (1970), o tamanho e a estrutura do crescimento da população tem efeito duplo sobre o funcionamento da economia: eles são os principais determinantes da oferta e força de trabalho e, ao mesmo tempo, influem no consumo. Os efeitos na dinâmica populacional são, portanto, sentidos simultaneamente tanto do lado da oferta como do lado da demanda por bens e serviços.

2.2 Demanda por Bens e Serviços

Mudanças demográficas afetam tanto o nível quanto a composição do consumo, com subsequentes efeitos nos fluxos de comércio (OMC, 2013). Para Lurhmann (2005), mudanças na estrutura etária da população geralmente provocam mudanças substanciais no padrão de consumo, assim a previsão de tendências de longo prazo sobre a “demanda demográfica” é importante para o planejamento de investimentos de longo prazo. Há vários modelos de consumo conhecidos no pensamento econômico, entre eles a Teoria Keynesiana da Função de Consumo de John Maynard Keynes, a Teoria Intertemporal de Irving Fisher, a Teoria de Renda Permanente de Milton Friedman e a Teoria de Ciclo de Vida de Franco Modigliani (Lopes e Vasconcellos, 2000). Attanasio (1999) diz que desde a década de 50, os modelos de Ciclo de Vida e o de Renda Permanente têm constituído as principais ferramentas analíticas para o estudo do comportamento do consumo, em ambos os níveis, micro e agregado. E desde a década de 70, a literatura tem focado em versões de modelos que incorporam a hipótese de Expectativas Racionais e um rigoroso tratamento de incertezas. A teoria do Ciclo de Vida basicamente diz que as pessoas poupam nas fases iniciais da vida para suavizar o consumo ao longo do ciclo de vida e ter dinheiro para manter o padrão de vida na aposentadoria. O modelo de Renda Permanente afirma que apenas a renda permanente

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influi no consumo, alterações transitórias de renda não alteram o consumo, apenas a poupança (Lopes e Vasconcellos, 2000). Carrol (1994) afirma que agentes que tem mais incertezas sobre sua renda futura, tendem a consumir menos no presente e que a poupança serve primariamente como um estoque de segurança (buffer stock) contra incertezas. Autores como Battistin et al. (2008) e Hurst (2008), atentam para o Retirement Consumption Puzzle, um “quebra-cabeças” sobre o fato de que o consumo das pessoas que estão se aposentando cair sensivelmente, contrariando o modelo de ciclo de vida. Browning e Ejrnæs (2002) analisam como filhos influenciam no consumo de uma família e como a dinâmica dessas famílias alteram as bases do modelo de ciclo de vida. Eles afirmam que a composição das famílias, considerando a quantidade e a idade dos filhos, é suficiente para explicar as distorções no consumo que a distanciam do modelo de ciclo de vida. Lurhmann (2005) e Hurst (2008) demonstram que o envelhecimento da população altera não apenas o nível de consumo, como também a composição dele. Hurst verifica quedas nos gastos com alimentação e relacionados ao trabalho, Lurhmann aponta para gastos maiores com saúde e lazer e menores com alimentação e energia.

2.3 Oferta de Trabalho.

Uma das crenças da abordagem microeconômica (Becker, 1981) em relação à transição demográfica, é que os indivíduos preferem investir em qualidade que em quantidade dos filhos no final da transição. Usando dados de 146 países, Barro e Lee (2010) mostram que no período de 1950 a 2010 o número médio de anos de estudo entre indivíduos de 15 anos ou mais aumentou de 2.1 para 7.1 em países em desenvolvimento e de 6.2 para 11 em países desenvolvidos. Esta alteração tem grande relevância na produtividade, principalmente em setores mais complexos de produção: Costinot (2009) afirma que quando trabalhadores são mais educados, eles gastam uma menor fração de tempo aprendendo, uma vez que custos de aprendizado são relativamente mais importantes em setores mais complexos. Um país com trabalhadores mais educados tem vantagem comparativa nestes setores mais complexos. Outra crença da abordagem microeconômica, é que a transição demográfica está correlacionada com o aumento da participação feminina na força de trabalho. Galor e Weil (1996) afirmam que o progresso tecnológico e a acumulação de capital físico tornaram o

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trabalho mais produtivo e aumentaram o custo de oportunidade de criar filhos, trazendo efeitos negativos na fertilidade e positivos na participação feminina no mercado de trabalho. ILO (2010) atenta, no entanto, para o fato de que há outros fatores importantes quando o assunto é a participação feminina na força do trabalho, como educação, religiosidade, cultura, normas sociais e o quadro institucional. Migração internacional também sofre um importante impacto com o final da transição demográfica e esta migração pode influenciar fortemente a força e a qualidade de trabalho de uma região (OMC, 2013). Esta migração tem se tornado mais importante para países desenvolvidos devido à baixa taxa de fertilidade destes. Desde 1990, a migração líquida tem sido a maior responsável pelo crescimento populacional em países desenvolvidos (ONU, 2010 apud OMC, 2013). Este acréscimo populacional devido à migração líquida é ainda mais importante por ser representado, em sua maioria, por indivíduos em idade ativa e geralmente que estão abaixo da idade média do país destino (Ibdem).

2.4 Distribuição de Riqueza.

Ao alterar tanto a oferta, quanto a demanda por bens e serviços, é passível de que as alterações demográficas alterem também a distribuição de riqueza da região. Para Galor (2012) a transição demográfica permitiu às economias converter parcela maior dos ganhos com acumulação de fatores e do progresso tecnológico para o crescimento da renda per capita. O ganho na produtividade do trabalho e no processo de crescimento vem por meio de três canais: i) o declínio no crescimento populacional, que reduz a diluição dos estoques crescentes de capital e infraestrutura, aumentando o estoque de recursos per capita; ii) a redução nas taxas de fertilidade que permite a realocação de recursos da quantidade para a qualidade de filhos, melhorando a formação de capital humano e a produtividade e; iii) o declínio nas taxas de fertilidade que afetam a distribuição da idade da população, temporariamente aumentando a fração da força de trabalhado da população e assim, mecanicamente, aumentando a produtividade per capita. Porém, o crescimento populacional para países subdesenvolvidos é considerado essencial. Para Singer (1970), uma população grande com baixa renda concentra sua demanda em um número limitado de mercadorias, ao passo que uma população, ainda que menor, mas com renda elevada, apresenta demanda muito mais diversificada. Considerando-se uma economia que se encontra num estágio inicial de industrialização, uma grande demanda por

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uma pequena variedade de bens constitui fator importante para tornar possível a produção em massa, da qual economias de escala podem ser derivadas e a industrialização desenvolvida. Ainda segundo Singer (1970), a escolha para as nações em desenvolvimento não é entre uma população menor com uma renda per capita maior ou uma população maior com menor renda per capita, mas entre alternativas de como elevar a renda per capita. Um aumento da população não somente elevará a produtividade, mas o aumento consequente de renda permitirá aos produtores, por sua vez, usar métodos de produção em grande escala, e a interrelação entre tamanho do mercado e produtividade acentuará o efeito de outros fatores.

3 ANÁLISE EMPÍRICA

A Europa Ocidental é historicamente o lugar onde primeiro foi notada a transição demográfica, portanto, é hoje também o lugar onde o processo se encontra mais maduro. Além de países da Europa Ocidental, há também países da Europa Oriental e da Ásia que apresentam um grau de envelhecimento bastante alto em comparação com o restante do mundo. Cabe ressaltar que nestes últimos iniciou-se o processo em um momento mais tardio. Abaixo, na Tabela 1, estão apresentados alguns países que representam boa parte da população da Europa Ocidental, além de Rússia e Japão, representando respectivamente, Europa Oriental e Ásia.

Tabela 1 – Crescimento populacional, representantes do 3º momento da transição, entre 1950 a 2010. População no ano (em milhares) Pop. em 1950

Pop. em 2010

Crescimento no Período

Alemanha

70 094

83 017

18%

Reino Unido

50 616

62 066

23%

Itália

46 367

60 509

31%

França

41 832

63 231

51%

Rússia

102 799

143 618

40%

Japão

82 199

127 353

55%

Países

Fonte: United Nations, Department of Economic and Social Affairs, Population Division (2013). World Population Prospects: The 2012 Revision, DVD Edition. Elaboração própria.

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Estes países podem ser considerados representantes do terceiro momento da transição demográfica. Verifica-se, por meio do Gráfico 1, o baixo crescimento populacional destes países em relação ao mundo.

Gráfico 1 – Crescimento populacional com base 1, representantes do 3º momento da transição e mundo, entre 1950 a 2010.

Fonte: United Nations, Department of Economic and Social Affairs, Population Division (2013). World Population Prospects: The 2012 Revision, DVD Edition. Elaboração própria.

É interessante expor também o fato de que o Japão sofreu com o envelhecimento populacional de maneira muito mais drástica que os outros países do quadro, apresentando idade média menor que a mundial em 1950 e maior que a dos outros países do quadro em 2010 (conforme Gráfico 2), o que aponta para transição demográfica mais acelerada.

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Gráfico 2 – Idade média da população, países selecionados e mundo, entre 1950 a 2010.

Fonte: World Bank (2013). Elaboração própria.

Abaixo serão expostos alguns indicadores e dados econômicos dos países citados acima, buscando padrões comuns entre eles que podem estar relacionados ao fim da transição demográfica e buscando também conciliar os dados apresentados com as teorias propostas no referencial teórico.

3.1 Distribuição de Renda

Autores que associam diretamente a transição demográfica a fatores econômicos, tanto em nível macro (Notestein, 1945; Coale, 1979) quanto microeconômico (Becker, 1981), costumam relacionar a transição de fecundidade com o desenvolvimento da região.

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Gráfico 3 – Taxa de fecundidade x renda per capita (em US$ corrente) dos 148 países com maior população, 2011.

Fonte: World Bank (2013). Elaboração própria.

Por meio do Gráfico 3, podemos verificar que há correlação negativa entre taxas de fecundidade e renda per capita, o que dá certo respaldo empírico as teorias apresentadas pelos autores. Ao analisarmos a evolução do crescimento per capita dos países selecionados (Gráfico 4), verificaremos que todos eles tem alta renda per capita, com exceção da Rússia, e trajetórias oscilantes, devido às inúmeras crises ocorridas no período, porém com visível crescimento.

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Gráfico 4 – Renda per capita (US$ corrente), países selecionados e mundo, entre 1990 a 2012.

Fonte: World Bank (2013). Elaboração própria.

A Rússia, em especial, encontra-se com renda per capita bem abaixo dos outros países. Isto se deve principalmente ao colapso da União Soviética e do sistema político-econômico vigente até o início dos anos 90. O Japão por sua vez, possui oscilação maior que os outros países durante a década de 90, basicamente por que seu próprio PIB apresentou oscilação maior nesse período. Abaixo, a Tabela 2 apresenta os níveis de pobreza e o coeficiente de Gini para os países selecionados, com exceção da Rússia, onde não há disponibilidade destes dados. Podemos observar que os níveis de pobreza e de desigualdade dos países selecionados são mais baixos que os dos Estados Unidos, país desenvolvido, e consideravelmente mais baixos que os do México, um país em processo de desenvolvimento.

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Tabela 2 – Indivíduos abaixo da linha da pobreza (% do total da população) e coeficiente de Gini, países selecionados (exceto Rússia), Estados Unidos e México, 2009. Países

Pobreza

Gini

França

0,075

0,293

Alemanha

0,095

0,288

Itália

0,121

0,315

Japão

0,160

0,336

Reino Unido

0,099

0,345

Estados Unidos

0,165

0,379

México

0,209

0,475

Fontes: OECD (2013).

Ainda sobre desenvolvimento, é importante apresentar dados sobre o fenômeno de modernização, tido como fator chave para o processo de transição. Abaixo podemos notar o alto grau de urbanização dos países selecionados. Vemos também níveis elevados se tratando de telecomunicações e saneamento básico na maioria desses países (Tabelas 3, 4 e 5).

Tabela 3 – População urbana, países selecionados e mundo, 1960, 1990 e 2013.

Países

% do Total 1960

1990

2013

Alemanha

71

73

74

França

62

74

87

Reino Unido

78

78

80

Itália

59

67

69

Japão

63

77

92

Rússia

54

73

74

Mundo

34

43

53

Fonte: World Bank (2013).

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Tabela 4 – Inscrições de celular e usuários de internet, países selecionados e mundo, 2000 e 2013. Para cada 100 pessoas Países

Inscrições de celular

Usuários de internet

2000

2013

2000

2013

Alemanha

58

119

30

84

França

49

98

14

82

Reino Unido

74

124

27

90

Itália

74

159

23

58

Japão

53

115

30

86

Rússia

2

153

2

61

Mundo

12

93

7

38

Fonte: World Bank (2013).

Tabela 5 – Saneamento básico, países selecionados e mundo, 2000 e 2013. Países

Saneamento básico (% da pop. urbana) 2000

2012

Alemanha

100

100

França

100

100

Reino Unido

100

100

Japão

100

100

Russia

77

74

Itália

sem dados

Mundo

77

sem dados 79

Fonte: World Bank (2013).

3.2 Demanda por Bens e Serviços

Este item trata dos reflexos da transição na composição e no tamanho da demanda por bens e serviços. Começaremos verificando a composição, o Gráfico 5 apresenta a composição do consumo anual das famílias nos países selecionados.

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Gráfico 5 – Composição do consumo anual das famílias, países selecionados, 2012.

Fonte: OECD (2013). Elaboração própria.

Luhrman (2005) e Hurst (2008) ponderam em seus respectivos trabalhos que consumidores mais velhos tendem a gastar menos com alimentação, despesas relacionadas a trabalho (transporte, restaurantes e hotéis) e energia e mais com saúde e lazer. Na perspectiva macro, apresentada pelo Gráfico 5, observamos que, percentualmente, os gastos com saúde e lazer são ainda baixos em relação aos gastos com alimentação, relacionados a trabalho e energia. Verifica-se também que, na maioria dos países, o principal componente no consumo das famílias é Moradia e Energia, com exceção da Rússia que apresenta um gasto maior com Alimentação e Bebidas Não Alcoólicas. Esta diferença entre a Rússia e o restante dos países selecionados pode estar relacionada com o estado de desenvolvimento destes países, mais

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atrasado na Rússia e avançado no restante dos países, e com a geografia deles, tendo a Rússia maior território e estoques de energia que o restante dos países. Saúde, juntamente com Educação, Comunicação e Drogas Recreativas são os menores valores entre todos os componentes apresentados no Gráfico 5. Mesmo representando uma pequena parcela no consumo das famílias, é verificável aumento nos gastos com Saúde. A soma dos gastos públicos e privados com saúde na maioria dos países selecionados apresenta crescimento e são altos em relação à média mundial, com exceção da Rússia (Gráfico 6).

Gráfico 6 – Gastos com saúde per capita (US$ corrente), países selecionados, entre 2000 a 2012.

Fonte: World Bank (2013). Elaboração própria.

Mudando agora o foco para níveis de consumo, é apresentado abaixo o quanto representa o consumo das famílias em relação ao PIB do país (Gráfico 7). Novamente, não houve disponibilidade dos dados da Rússia e foram inseridos os dados dos Estados Unidos e do México para comparação. Observa-se que os níveis de consumo dos países selecionados são menores que os dos países de comparação, o que vai de acordo com as teorias de Buffer Stock e Retirement Consumption Puzzle, que sinalizam que populações mais envelhecidas

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tendem a consumir menos. Por outro lado, ao longo do período, não é notado quedas nos níveis de consumo, apesar da população estar com médias de idade cada vez mais avançadas

. Gráfico 7 – Total anual de consumo das famílias (% do PIB), países selecionados (exceto Rússia), Estados Unidos e México, entre 1996 a 2011.

Fonte: OECD (2013). Elaboração própria.

3.3 Oferta de Trabalho

O mercado de trabalho é uma das maiores preocupações dos países que estão envelhecendo. Há o receio de que a população economicamente ativa, no futuro, não seja capaz de sustentar a economia. Um dos pontos que contam a favor das nações mais envelhecidas é a alta produtividade atribuída a elas. No Gráfico 8 apresenta-se o PIB por trabalhador nos países selecionados. Observa-se uma alta produtividade nos países, com exceção da Rússia, e suave aumento ao longo do período, porém com tendência estacionária, não sugerindo que apenas o aumento na produtividade sustente um crescimento elevado na economia destes países no futuro.

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Gráfico 8 – PIB por pessoa empregada (US$ em paridade de poder de compra de 1990), países selecionados e mundo, entre 1996 a 2012.

Fonte: World Bank (2013). Elaboração própria.

Outra característica atribuída aos países mais avançados na transição demográfica é de que há neles maior participação feminina no mercado de trabalho. Por meio da tabela abaixo (Tabela 6), verifica-se que houve aumento considerável na participação da força de trabalho entre as mulheres, em quase todos os países, com exceção do Japão. Todavia, houve queda na participação entre os homens em quase todos os países, com exceção da Rússia. Verifica-se também que todos os países mantêm os índices de força de trabalho feminina próximos a média mundial, com exceção da Itália.

Tabela 6 – Participação na força de trabalho, entre mulheres, homens e no total (% na população acima de 15 anos), países selecionados e mundo, 1996 e 2012. Países Alemanha França Reino Unido Itália Japão Rússia Mundo Fonte: World Bank (2013).

Mulheres 1996 2012 48,00 53,50 48,20 50,90 52,70 55,70 33,80 39,40 50,10 48,10 51,80 57,00 52,00 50,52

Homens 1996 2012 69,30 66,40 63,70 61,80 70,90 68,80 61,80 59,40 77,80 70,40 68,40 71,40 79,52 76,77

Total 1996 58,30 55,60 61,50 47,20 63,60 59,40 65,73

2012 59,80 56,10 62,10 49,00 58,90 63,50 63,61

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Esta tabela também aponta para uma menor força de trabalho total na média mundial, o que pode ser um resultado das taxas de crescimento populacional decrescentes em todo o globo. Dos países selecionados, destaca-se o Japão, único país cuja participação na força de trabalho total decresceu, o que sem dúvidas foi ocasionado pelo rápido envelhecimento de sua população. O que ajuda a manter os índices de força de trabalho longe de quedas acentuadas são também as imigrações. O Gráfico 9 apresenta os estoques de imigrantes em relação à população total, nele observa-se que também nesse quesito o Japão fica aquém dos outros países selecionados, apresentando um baixo estoque de população estrangeira.

Gráfico 9 – Relação de imigrantes no total da população, países selecionados, entre 1990 a 2010 (série quinquenal).

Fonte: World Bank (2013). Elaboração própria.

3.4 Geração de Riqueza

Por último, serão expostos alguns dados sobre a geração de riqueza dos países selecionados. A Figura 2 apresenta a evolução no crescimento do PIB de cada um dos países selecionados em relação ao mundial.

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Figura 2 – Crescimento anual do PIB, países selecionados e mundo, entre 1990 a 2012.

Fonte: World Bank (2013). Elaboração própria.

Na figura observamos que períodos em que há crescimento negativo do PIB são mais constantes e profundos nos países selecionados em relação à média mundial. Verifica-se também que os países da Europa Ocidental experimentaram trajetória semelhante a partir do ano de 2000, apresentando, nos últimos anos, desaceleração no crescimento e, em alguns

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casos, redução do PIB. A Rússia tende a apresentar trajetórias semelhantes às dos países da Europa Ocidental, porém, com maior volatilidade. O Japão, por sua vez, experimenta ascendência maior no período anterior a 2000, com depressão entre 1995 a 1998, apresentando, após a data, crescimentos inferiores à média mundial. O Gráfico 10 apresenta dados sobre a composição do PIB dos países selecionados no ano de 2012, relacionando o volume do PIB com o tamanho da população. Não houve disponibilidade dos dados relacionados à composição do PIB da Rússia. O Japão não contabiliza a categoria Atividades profissionais, científicas e técnicas.

Gráfico 10 – Eixo esquerdo: Composição do PIB (em bilhões de US$ correntes em paridade de poder de compra), países selecionados, 2012. Eixo direito: População (em milhões de pessoas), países selecionados, 2012.

Fonte: OECD (2013). Elaboração própria.

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A partir do gráfico, verifica-se maior relevância do setor de serviços em todos os países. A agricultura apresenta valor ínfimo na composição, enquanto a indústria tem mais força exatamente nos dois países que possuem os PIBs mais elevados, inclusive o per capita. Verifica-se também grande importância do chamado Comércio Distributivo (transporte, reparos, acomodação e alimentação) e do grupo de Administração Pública, Saúde e Educação. Outro ponto a se considerar ao falar de geração de riqueza, é a interação entre tecnologia e desenvolvimento, muito aceita entre os economistas. Abaixo, Gráfico 11, apresenta-se o valor gasto em pesquisa e desenvolvimento (P&D) nos países selecionados e nos Estados Unidos em relação ao PIB.

Gráfico 11 – Gasto em P&D (% do PIB), países selecionados e Estados Unidos, entre 1996 a 2011.

Fonte: World Bank (2013). Elaboração própria.

O gráfico aponta que Japão e Alemanha apresentam gastos com P&D maiores mesmo que os dos Estados Unidos, enquanto Rússia e Itália apresentam os menores valores. É interessante notar que a ordem dos gastos em P&D entre os países selecionados é idêntica ao de renda per capita apresentada anteriormente (Gráfico 4).

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4 CONCLUSÃO

Os dados apresentados, sem dúvida, evidenciam hipóteses apresentadas pelos teóricos, porém de maneira mais suave do que imaginado. É visível a existência de grande heterogeneidade nos dados, o que é de fato compreensível ao considerarmos a diversidade em outras variáveis, além da demográfica, nos países selecionados. Esta heterogeneidade torna as experiências destes países no fim da transição, singulares, todavia remanescem entre elas semelhanças quais podem ser atribuídas principalmente às mudanças demográficas. Como

defendido

pelas

abordagens

macroeconômicas

mais

recentes,

o

desenvolvimento econômico se mostra uma condição suficiente, mas não necessária, à transição. Vemos diversos países com baixa renda per capita e, ainda assim, baixa fecundidade, tendo a Rússia como exemplo. A modernização, por sua vez, é inerente ao fim da transição, com todos os países selecionados apresentando alto grau de urbanização e ampla utilização de serviços de telecomunicação. Se tratando de demanda, as semelhanças são menos sensíveis. Na composição do consumo em nível macro, verifica-se que as similaridades entre os países tendem a estar mais ligadas a outras variáveis, como a riqueza ou a geografia do país, que propriamente a condição demográfica. Contudo, aumento em gastos com saúde e baixo nível no consumo das famílias são implicações do fim da transição que são visualizadas nos países selecionados. No quesito emprego, é visto que a participação feminina no mercado de trabalho cresceu e tornou-se a principal responsável pela manutenção da oferta de mão de obra total dos países, o que se alinha a abordagem teórica. Nota-se também que países com transição demográfica mais acelerada, como é o caso do Japão, tendem a ter maior dificuldade na manutenção dessa oferta, enquanto países em processo de desenvolvimento, como a Rússia, tendem a apresentar expansão dela. A produtividade dos trabalhadores, apesar de alta nos países desenvolvidos, apresenta crescimento menor que o imaginado, não demonstrando assim forte relação com a dinâmica populacional. O estoque de migrantes, por sua vez, é alto nos países europeus e baixo no Japão, devendo assim contribuir na manutenção da oferta de mão de obra, porém não sendo fator derivado da transição. Na geração de riqueza, verificam-se certa distinção entre os países e, no geral, movimentos que acompanham os mundiais. Nota-se, porém, que em períodos de depressão, as quedas no crescimento dos países no fim da transição são mais sensíveis que as da média, sinalizando menor resistência desses países a crises. Na composição da riqueza, temos o setor

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de serviços como o principal motor dessas economias, com distribuição semelhante nos diferentes ramos do setor entre os países, com maior participação do Comércio Distributivo e Administração Pública, Educação e Saúde. A alta participação neste segundo grupo pode ser considerada implicação do fim da transição. A agricultura desses países representa parcela ínfima na composição do PIB, enquanto a indústria parece estar estritamente ligada ao nível de riqueza deles. Os países que tem maior participação do setor industrial, e também investem mais em P&D, Alemanha e Japão, são os que têm maior renda per capita. Isto demonstra grande sensibilidade destas economias à indústria de alta tecnologia, a qual demanda mão de obra mais qualificada, o que nos remete também a abordagem teórica. Assim sendo, verificou-se que os países no último momento da transição demográfica possuem diversas características consonantes com o que as abordagens da transição sugeriam, também verificou-se características comuns entre os países e distinções entre eles, de acordo com a velocidade que a transição ocorrera e o nível de desenvolvimento. De acordo com a análise, os principais desafios a serem enfrentados durante a transição se encontram na maximização da mão de obra, que tenderá a cair em volume, e no desenvolvimento da indústria, principalmente a de alta tecnologia, que parece ser a principal alavanca para o aumento de riqueza nestes países com população mais envelhecida.

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