\"Ecos de Orpheu no Mundo Pós-moderno\"

Share Embed


Descrição do Produto

CMYK

pensar 4/5 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, sábado, 6 de junho de 2015 • Diversão&arte

Ecos de Orpheu no mundo pós-moderno

POLÍTICACULTURAL

Estratégia globalizada

Seminário sobre a importância de descentralizar as ações culturais reúne gestores do Brasil e do mundo Fotos: Ministério da Cultura/Divulgação

NAHIMA MACIEL A DESCENTRALIZAÇÃO como norte da política cultural fez milagre na França, foi capaz de valorizar as diferenças na Espanha e proporcionou à Colômbia um notável sistema de bibliotecas. As experiências internacionais serviram de exemplo no Seminário Internacional Sistemas de Cultura: Política e Gestão Cultural Descentralizada e Participativa, realizado pelo Ministério da Cultura (MinC) durante a semana em um salão do Hotel Nacional. A intenção era refletir sobre problemas, desafios e resultados de uma diretriz que virou marca do MinC, a descentralização e, sobretudo, a participação de atores culturais locais na confecção das políticas para a área. “O século 21 é um tempo onde a política cultural é pensada como algo global em que o todo é maior do que a soma das partes”, refletiu a historiadora Lia Calabre, presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, de mediadora do primeiro dia do seminário. O que o ministério chama de gestão sistêmica da cultura, ela explicou, é o reconhecimento de redes locais e da importância de articular os atores da cultura em níveis municipais. Representantes dos pontos de cultura de todo o país, gestores culturais e produtores participaram do encontro, mas o destaque foi para o painel internacional realizado no primeiro dia do seminário. Na França, a descentralização das políticas culturais aconteceu na segunda metade do século 20. Após a Segunda Guerra, o estado francês entendeu que era preciso fortalecer os departamentos e municípios

O pesquisador português Ricardo Vasconcelos fala sobre o impacto da revista criada por Fernando Pessoa e Mario de Sá-Carneiro no modernismo português na passagem dos 100 anos da revista que provocou escândalo com sua linguagem de blague » SEVERINO FRANCISCO

Há 100 anos, a revista Orpheu, editada pela dupla de poetas Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, provocava escândalo em Portugal, implodindo a rigidez clássica, com estocadas de experimentações de linguagem e de humor. O jornal A Capital classificou o primeiro número da revista de “litteratura de manicomio”. Pessoa e Sá-Carneiro pegaram a deixa e inventaram o personagem de um certo poeta Ângelo de Lima, típico caso de alienação mental, para colaborar na revista. Apesar de já terem sido publicadas montanhas de estudos sobre as relações de Pessoa e de Sá-Carneiro com as vanguardas, professor RicardoVasconcelos, da Universidade de San Diego (EUA), explorou vertentes ainda desconhecidas em suas pesquisas da correspondência entre os dois poetas. Ele é autor de ensaios sobre os ecos cubistas na poeisa de Sá-Carneiro e sobre a noção de pertencimento a uma semiperiferia, que se refletiram em sua obra. Ricardo esteve de passagem por Brasília para falar em um encontro sobre os 100 anos da revista Orpheu, promovido pela Embaixada de Portugal. E, nesta entrevista, ela discute o impacto da revista, a influência das vanguardas europeias nos portugueses, as distinições entre o modernismo português e o brasileiro, a percepção de Pessoa e Sá-Carneiro sob o olhar pós-moderno da era virtual, entre outros temas.

Qual é a singularidade do modernismo português? Como ele se diferencia, por exemplo, do modernismo brasileiro? O modernismo português estava investido em afirmar a literatura portuguesa no contexto europeu e, ao mesmo tempo, sem contradição, em europeizá-la. A trajetória dos projetos de revistas de Pessoa é a este respeito esclarecedora, já que ele pensa primeiro em publicar Lusitânia — para contrastar as virtudes da literatura nacional — e pouco tempo depois já projeta Europa. Por outro lado, Orpheu queria administrar um eletrochoque até do ponto de vista moral ao meio literário e à sociedade portuguesa. O modernismo brasileiro, em contrapartida, esforça-se sobretudo por promover a independência cultural e linguística dos autores e dos falantes brasileiros, 100 anos após a independência nacional. Procurava-se a demonstração de uma natureza intrinsecamente brasileira na produção nacional. Daí que se convoquem grandes arquétipos brasileiros, como as figuras do indígena e da antropofagia, mais como metáforas do que como objetos de estudo antropológico. E daí também a importância que Mário de Andrade dá à “língua nacional”, o português tal como falado no Brasil e ainda um português possível, que integrasse os vários vocabulários nacionais. E quais os pontos de afinidade? Quanto às afinidades dos dois modernismos, entre outras, é possível lembrar a origem luso-brasileira da revista Orpheu, que no fim de contas teve pouco relevo, e o próprio fato de os dois modernismos se apropriarem de vocabulários herdados das vanguardas, nas formas e no gesto iconoclasta. Mas penso, sobretudo, que ambos os movimentos partilhavam a consciência de uma modernidade política, econômica, técnica, bastante incompleta, decorrente da posição semiperiférica que o espaço de língua portuguesa ocupava na ordem mundial. Os autores modernistas percebiam empiricamente que esta era uma posição que o próprio falante da língua portuguesa não deixava de carregar.

CMYK

Qual o impacto do contato de Mário de Sá-Carneiro com a vanguarda europeia a partir de Paris? É possível afirmar que Pessoa foi mais marcado pela influência inglesa e Sá-Carneiro pela francesa? Ambos são diretamente influenciados pelos movimentos de vanguardas e note-se que Sá-Carneiro e Pessoa acompanhavam os movimentos literários principais franceses e ingleses, mesmo a partir de Lisboa. Contudo, a imersão de Sá-Carneiro em Paris desde o outono de 1912 leva-o a conhecer melhor o cubismo, aparentemente pela mão de Guilherme de Santa Rita (pintor). Esse estilo artístico que em meia dúzia de anos tinha tomado a capital francesa de surpresa suscita-lhe diferentes reações. As cartas enviadas a Pessoa mostram logo no outono de 1912 as suas reticências iniciais, seguidas, três meses depois, de uma declarada defesa do potencial desse estilo e, especificamente, de Picasso. Já no verão de 1915, quando Sá-Carneiro regressa a Paris pela última vez, após o lançamento dos dois números de Orpheu, o poeta expressa a Pessoa, com algum sarcasmo, a sua surpresa em relação ao fato de os cubistas terem adotado o conflito bélico como tema. O conhecimento mais direto de Sá-Carneiro em relação ao cubismo e ao futurismo é confirmado por exemplo pela sua referência a visitas à galeria do marchand Clovis Sagot. Por sua vez, Pessoa, nos seus escritos, teoriza vagamente sobre os dois movimentos, referindo-se a ambos quase sempre de forma indiferenciada e evidenciando pouca adesão. Mas nem por isso esses movimentos deixam de o influenciar. Tal é visível no discurso mais vanguardista de Álvaro de Campos, mas além disso, quanto a mim, essa influência é perceptível na concepção dos diferentes ismos pessoanos e nomeadamente do próprio interseccionismo: Pessoa considera o cubismo como uma intersecção de objetos no seu lado físico, o que o leva a conceber a representação de cruzamentos de objetos com ideias abstratas.

Pintura de Fernando Pessoa por Almada Negreiros Arquivo Pessoal

Como avaliar o impacto da revista Orpheu para o modernismo português? Por que ela foi tão importante naquele momento? O impacto da revista é mensurável na enorme recepção na imprensa da época, bastante maior do que a de qualquer publicação atual. São largas dezenas as resenhas de Orpheu, publicadas por todo o país, além dos jornais de maior circulação de Lisboa e Porto. Para esta atenção convergiram razões internas e externas ao formato da revista. Portugal e a Europa viviam um momento altamente conturbado. Passava-se um ano desde o começo da Primeira Guerra Mundial. A República Portuguesa tinha sido declarada em outubro de 1910 e os governos eram altamente instáveis. Em 1915, no ápice do impacto de Orpheu, Pessoa ataca diretamente o político Afonso Costa, que sofrera um acidente, e suscita tal indignação pública que os outros autores da revista sentem que têm de se demarcar. Orpheu, por sua vez, obedecia ao desejo de causar surpresa e mistificação. Adotou por isso uma estética da blague, comum em Paris mas invulgar no Portugal de então. Assim, as escassas críticas benevolentes dividiram-se entre reconhecer o mérito literário da revista ou simplesmente reduzi-la a uma blague. As mais negativas encontraram em Orpheu 1 uma “litteratura de manicomio” (título do jornal lisboeta A Capital, de 30 março de 1915). Pessoa e Sá-Carneiro então aproveitaram para radicalizar o discurso literário mais vanguardista e trazer para Orpheu o poeta Ângelo de Lima, um reconhecido caso mental, de modo a tornar a blague mais perfeita. Com estes objetivos atingidos, certificaram-se de que recolhiam todos os recortes de im-

Ricardo Vasconcelos ao lado da revista Orpheu: “litteratura de manicomio” prensa para memória póstuma! As revistas literárias perderam a relevância no caos do mundo pós-moderno? Os autores atuais são avessos a contextos ou discursos que identifiquem nas suas criações a obediência a um espírito de coletivo, de movimento, e menos ainda de manifesto. As revistas diminuíram, mas em momentos mais escatológicos, como a mudança de milénio, publicaram-se imensas antologias de novos, novíssimos e contemporâneos, por exemplo, nas quais frequentemente aparecia o que eu chamo de “aviso da página 7” (a primeira página do prefácio), em que se rejeita qualquer unidade estética anterior ao momento da criação, uma qualquer filosofia coletiva. Essa rejeição logo dá lugar a uma análise pelo organizador das coincidências mais importantes entre esses criadores. Nesse sentido, sim, talvez haja uma transposição para o meio literário da

POEMA

A minh’Alma fugiu pelaTorre Eiffel acima, A verdade é esta, não nos criemos mais ilusões Fugiu, mas foi apanhada pela antena daT.S.F. Que a transmitiu pelo infinito em ondas hertzianas... (Em todo o caso que belo fim para a minha Alma!...)

Mário de Sá-Carneiro

aversão às grandes narrativas de legitimação, mas o que há seguramente é a consciência de que essa visão de grupo seria sentida como anacrônica e de que não existe mesmo. O que não quer dizer que não haja muito a unir esses contemporâneos. Isto acontece igualmente em Portugal e no Brasil, aliás, julgando até pelas antologias de poesia brasileira organizadas por editores brasileiros que se publicaram em Portugal ao longo do século 20. Que leitura o senhor faria de Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro na perspectiva do mundo pós-moderno? Eles eram autores modernos que já anteviam a crise do moderno e apontavam para o estilhaçamento de valores pós-modernos? Esses são conceitos que se foram revestindo de camadas de significado e, no caso do pós-moderno, de bastante ambiguidade. Pessoa é talvez o exemplo mais extremo da fragmentação do sujeito moderno, que, no seu caso, contribui para engendrar os heterónimos. Os dois autores são também modernos pela sua tentativa de serem absolutamente originais, e pela sua aproximação à linguagem das vanguardas, que enaltecia a velocidade e a comunicação, e, a outro nível, o verso livre e até as palavras livres. Como todos os bons poetas, no entanto, a sua modernidade advém sobretudo da sua capacidade de renovarem a língua, que nos leva a lê-los ainda hoje com surpresa. Por seu turno, Sá-Carneiro necessitava de estar imerso no desenvolvimento de Paris e de apresentá-lo na sua obra. Buscava a proximidade da modernidade técnica cujo maior emblema era a Torre Eiffel. Sobre a atualidade da obra nos dias de hoje, contudo, recordo aqui que a 31 de agosto de 1915 Sá-Carneiro escrevia numa carta a Pessoa, com total originalidade, o seguinte poema: “A minh’ Alma fugiu pela Torre Eiffel acima, | — A verdade é esta, não nos criemos mais ilusões — | Fugiu, mas foi apanhada pela antena da T.S.F. | Que a transmitiu pelo infinito em ondas hertzianas... (Em todo o caso que belo fim para a minha Alma!...).” Escrevendo há cem anos, e inspirandose nos cabos de transmissão TSF que pendiam da torre, na sua representação eufórica de um indivíduo absorvido e disseminado pela comunicação de massas, estaria Mário de Sá-Carneiro assim tão longe de nossa euforia com a adesão do nosso inconsciente à internet, via smartphone?

para garantir que o patrimônio cultural do país não corresse o risco da dilapidação que sofreu durante os conflitos. “Antes da guerra, a situação era inversa”, contou Jean-Pascal Quiles, adido cultural da Embaixada da França e ex-membro do comitê francês da Unesco para diversidade cultural e digital. “Era tudo centralizado em Paris como se Paris ficasse no centro de um deserto cultural.” Com uma política extensa que envolveu desde as casas da cultura de André Malraux no início da década de 1960 até o financiamento de um euro para cada euro investido na área nos municípios, a França conseguiu uma das políticas mais bem-sucedidas de democratização do acesso na Europa. Em 1982, o país tinha pouco mais de 100 bibliotecas. Hoje, elas somam mais de 2.800 para uma nação de 66,03 milhão de habitantes. Centros de dança, coreografia, música e um total de 25 orquestras divididas pelas 28 regiões ajudaram a plantar a cultura em cada departamento francês. Mais antiga que a francesa, a experiência colombiana é surpreendente e data da década de 1930. Na época, como projeto para transformar um país predominantemente rural em uma nação de leitores, o governodecidiuinvestirembibliotecaspúblicas. “Chegaram à conclusão de que o melhor para essa transformação era criar bibliotecas em todas as aldeias”, conta Sandra Barrera, coordenadora da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas da Colômbia. “Hoje, muitas bibliotecas são filhas desse projeto e já duram 80 anos.” Num país de baixos índices de leitura — 4,9 livros por ano entre o público leitor — e de 48,32 milhões de habitantes, há hoje 1.404 bibliote-

Sandra Barrera contou como a Colômbia inseriu as bibliotecas públicas na política cultural

cas, sendo seis em comunidades afrodesencentes e 11 em reservas indígenas.“Hoje, as bibliotecas públicas são parte da política cultural e do desenvolvimento do país”, garanteSandra. Na Espanha, onde municípios com mais de 5 mil habitantes são obrigados e ter uma biblioteca, a descentralização foi fundamental para consolidar a política cultural após a guerra mundial e um período de quase quatro décadas de ditadura. O país de Cervantes e Garcia Lorca entendeu que quanto mais dissolvida nas mãos de atores lo-

cais, menos a cultura estaria suscetível às tentativas de manipulação estatal. Além disso, a participação da população nas atividades culturais é bastante forte. “Na Espanha, a participação da sociedade civil tem uma tradição histórica, é ela que organiza os espaços”, avisa Gemma Carbo, diretora da cátedra Unesco de políticas culturais e cooperação. Uma pesquisa do ministério da Cultura espanhol sobre hábitos culturais mostra que as atividades mais frequentes entre os jovens do país são ir ao cinema (84,4%) e ler (58,7%). A crise

econômica, no entanto, ameaça esse cenário. O ministério da Cultura da Esp anha foi transformado em secretaria e a IVA, imposto sobre circulação de mercadorias, passou de 8% para 21% para os bens culturais em 2012 como medida para as políticas de austeridade, o que afetou o consumo. Para Gemma, o país deu alguns passos para trás. Abaixo, ela fala sobre como a crise afetou a cultura na Espanha e como a aposta na economia criativa pode ser uma solução para reerguer a cultura.

tar, sobretudo no âmbito final que contratava os músicos, as companhias, etc. Foi aí que mais se notou.

estamos em um contexto de economia criativa e a Europa está insistindo muito na economia criativa para superar a crise. No entanto, se vincula pouco essa criatividade às artes e à educação artística. Se fala muito de criatividade, mas pouco de arte. E se fala muito pouco de criatividade ligada à diversidade, o que também é um problema. Por isso a convenção da Unesco sobre criatividade e diversidade é um documento fundamental porque compromete os dois temas: fomentar a criatividade, mas também proteger a diversidade. Não existe um sem o outro.

ENTREVISTA / Gemma Carbo Num momento em que se fala de globalização, você diz que o que funciona mais na Espanha são as redes. Há uma contradição? Por que isso acontece? Não creio que haja contradição. A globalização leva a processos de recuperação do micro, do local. E o que as redes fazem é vincular estes microcosmos frente ao global. Elas são como uma solução a isto que é tão grande. É um movimento de resistência? Sim, mas mais que resistência, é uma sobrevivência frente à homogeneização, uma estandartização das mensagens, dos produtosculturais.Odistinto,odiversoencontra sua força na aliança com os outros. Qual o papel da cultura na criação de empregos hoje, em meio à crise europeia e mundial? A verdade é que os dados de criação de emprego na área cultural, apesar do contexto de crise, estão aumentando. E isso vem sobretudo desse caráter do emprego cultural ser muito resiliente, muito adaptável às situações e não requerer grandes

investimentos de capital econômico. É, sobretudo, capital humano e isso permite microempresas muito adaptáveis e flexíveis, que podem viajar de um lugar a outro e que encontram formas de sobreviver nesse mundo global. Qual o papel da descentralização na política cultural espanhola? Foi muito central, está na Constituição, era um desafio. A Espanha é um país muito diverso e a descentralização foi a grande política dos primeiros governos democráticos e socialistas. E creio que isso foi ótimo. Hoje, se fala muito dos problemas espanhóis, mas uma das grandes realizações foi a descentralização, que articulou os territórios e responsabilidades. Houve discussões sobre as competências e não se sabia muito bem como fazer, mas isso sempre permitiu avançar. Qual o reflexo da crise na política cultural espanhola? O ministério da cultura acabou e se transformou numa secretaria. Isso é bom? Creio que é um passo para trás. E grande. Apesar de terem dito que é uma secre-

taria geral e muito importante, o orçamento foi muitíssimo reduzido e há uma medida muito inoportuna que é o IVA cultural de 21%. É um drama, especialmente nos preços do teatro, da música e da dança. Toda a coletividade de artistas e atores culturais é contra esse IVA e não creio que tenha sido uma medida para reativar economicamente o setor, porque o que fez foi baixar o consumo. Então não temos ministério, temos um nível cultural muito grande e o que fez a política cultural nesses tempos foi cortar, cortar, cor-

A descentralização facilita a formação de público, permite a cultura penetre mais no sistema de rede? Aí temos um problema não resolvido, quenoBrasilvocêsestãoplanejandomuito bem, que é a articulação entre a cultura e o setor da educação. As pessoas da cultura levam muito tempo falando da criação de público, mas na realidade, o que precisamos é de uma educação que contemple as artes e a cultura e forme cidadãos capazes de serem consumidores críticos e participativos. E nisso não temos tido resultado. Na educação, a presença da arte e da cultura é muito, muito pouca. É preciso educar, ensinar na escola e apostar. Então a interlocução entre educação e cultura não é fácil, porque a educação é um sistema mais centralizado e a cultura é um sistema de mais proximidade, mais local. Qual o papel da diversidade e da criatividade nas políticas públicas? De criatividade se fala muito, porque

Como a Espanha encara a economia criativa hoje? As políticas culturais do último governo estão muitodirigidas paraaeconomiacriativa, que está apoiando os produtores e os ditribuidores, sobretudo para avançar no mercado internacional. Mas a crise é um problema nos investimentos reais de apoio no setor. As empresas culturais são muito resistentes e, apesar disso, crescem e estão demonstrando na Espanha e na Europa queaeconomiaculturalcriativaérealmente um paradigma do futuro.

Monique Renne/CB/D.A Press - 14/2/14

ENSAIO

Desafios da liberdade de expressão

Venício Lima: a comunicação a partir das ideias de emancipação de Paulo Freyre

O professor e pesquisador Venício A. de Lima aplicou os conceitos formulados pelo pedagogo Paulo Freyre à comunicação de uma maneira inovadora. Freyre buscou no padre Antonio Vieira a ideia de uma cultura do silêncio. É uma característica recorrente da história brasileira desde os tempos coloniais até a era virtual. A exclusão de vozes tem implicações no campo da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão. Esse é o fio que liga os 20 ensaios, produzidos ao longo de 35 anos de reflexão, reunidos no volume Cultura do silêncio e democracia no Brasil: Ensaios em defesa da liberdade de expressão (1980-2015), (Ed. UnB), de Venício A. de Lima, a ser lançado na próxima quarta-feira, às 18h, na Livraria da UnB (SCLN 406).

CULTURA DO SILÊNCIO E DEMOCRACIA NO BRASIL: ENSAIOS EM DEFESA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO (1980-2015) De Venício A. de Lima/Ed. UnB Lançamento: quarta-feira, às 18, na Livraria UnB (SCLN 406, Bl. A, lojas 42-46) Os ensaios estão divididos em cinco eixos: Paulo Freyre, Stuart Hall, políticas públicas de comunicação, mídia e política, e liberdade de expressão. Eles constituem uma tentativa de entender o processo, os embates e os impasses da história da comunicação no Brasil:

“Há uma ideia de liberdade grega, que se associa com a autogestão, a participação na pólis em termos de igualdade”, comenta Venício. Neste sentido, Venício entende um dos entraves no Brasil é a tendência a ver no Estado sempre o principal inimigo: “De fato, houve momentos em que o Estado praticou a censura e a exclusão social. No entanto, muitas vezes, o cerceamento vem de for a das instituições estatais. O debate fica deformado pela ausência de vozes da sociedade. No caso da censura do Estado, ela é proibida constitucionalmente. Mas falta a gente aceitar os princípios liberais neste campo”. Venício percebe a emergência das novas tecnologias de comunicação como algo potencialmente libertário. Mas ele

observa que tem ocorrido, não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro, as redes sociais não conseguem estabelecer um debate público como as mídias tradicionais ainda conseguem. “As redes sociais não são produtoras de conteúdo; elas são distribuidoras de conteúdo”, observa Venício: “O Facebook anunciou que vai distribuir o conteúdo dos grandes jornais”. Apesar do avanço da internet sob o ponto de vista da democratização das vozes, as redes sociais têm como uma das características serem redutos de nichos, não formam uma audiência efetivamente pública: “Ela não substituiu as mídias tradicionais como espaço de opinião pública. Claro que isso é um problema para a democracia”. (SF)

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.