(Ed.) Arato, Fenômenos: tradução e notas [Aratus, Phaenomena: translation and notes] (Cadernos de Tradução 38, UFRGS,)

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Cadernos de Tradução ISSN 1807-9873

No 38, jan/jul de 2016

Arato, Fenômenos Organizador José Carlos Baracat Junior

Instituto de Letras - UFRGS Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

INSTITUTO DE LETRAS - UFRGS Diretora: Profª. Jane Fraga Tutikian Vice-Diretora: Profª. Maria Lucia Machado de Lorenci COMISSÃO EDITORIAL Profª. Denise Regina de Sales Profª. Maria Cristina Martins Profa. Sandra Dias Loguercio Organizador deste número: José Carlos Baracat Junior

Capa e Editoração: Leandro Bierhals Bezerra - Núcleo de Editoração Eletrônica do Instituto de Letras Imagem da capa: Johannes Hevelius -Prodromus Astronomia - Volume III ‘Firmamentum Sobiescianum, sive uranographia’ - hemisfério Boreal Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Letras Av. Bento Gonçalves, 9500 CEP 91540-000 Porto Alegre-RS Fone: (051) 33166689 Fax: (051) 33167303 http://www.ufrgs.br/letras E-mail: [email protected]

Sumário

Apresentação / 5 José Carlos Baracat Junior Prefácio / 9 Richard Hunter Arato, Fenômenos Tradução / 13 1. versos 1 a 87: Nykolas Friedrich Von Peters Correia Motta 2. versos 88 a 166: Raphael Zillig 3. versos 167 a 247: Filipe Klein de Oliveira 4. versos 248 a 325: Luciana Malacarne 5. versos 326 a 417: C. Leonardo B. Antunes 6. versos 418 a 400: Cesar Lopes Gemelli 7. versos 501 a 589: Márcio Felix Jobim 8. versos 590 a 682: Inara Zanuzzi 9. versos 683 a 764: Eduardo F. Laschuk 10. versos 765 a 853: André Luiz Cruz Souza 11. versos 854 a 932: Isabel Cristina Dalmoro 12. versos 933 a 1012: Rafael Matiello Brunhara 13. versos 1013 a 1151: José Carlos Baracat Junior Texto grego / 55

Apresentação

José Carlos Baracat Junior1 Eis o terceiro número dos Cadernos dedicado à tradução de textos gregos antigos. Após o número 27, no qual havíamos vertido os fragmentos do Contra os Galileus do Imperador Juliano (330-363 d.C.), e o número 32, nosso embate com as Nuvens de Aristófanes (c. 446-386 a.C.), são aos Fenômenos de Arato (c. 315-240 a.C.) que agora damos voz vernácula. Assim como no caso do fragmentário tratado reconstituído de Juliano, temos a vaidosa audácia de poder dizer que apresentamos a primeira tradução para o português do poema de Arato. Não é supérfluo lembrar, como sempre, que nosso intuito primordial é o estudo do grego antigo e a prática da tradução, com todas as dificuldades nisso envolvidas. Dificuldades, aliás, que foram maiores do que as enfrentadas nas traduções anteriores. Em primeiro lugar, ainda que a língua de Arato seja, basicamente, o mesmo dialeto épico de Homero e de Hesíodo, ela é muito mais concisa e insuflada pela herança da literatura, da filosofia e da ciência gregas de que ele faz uso consciente. O estilo deste poema carrega muito da grandiosidade épica de Homero e Hesíodo, mas está mais próximo dos ideais da estética “lépida”, precisa e sofisticada advogados por Calímaco (c. 310-240 a.C.). Isso já seria suficiente para fazer de Arato um autor mais difícil do que Aristófanes e Juliano. Em segundo lugar, o poema mitológico-astronômico de Arato trata de um campo da ciência grega com o qual não tínhamos familiaridade; a tecnicidade do vocabulário e a estranheza do objeto descrito impuseram um véu a mais entre nós e o autor. Outro complicador foi o fato de que as três edições do texto 1

Professor de Língua e Literatura Gregas, Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas e Programa de Pós-Graduação em Filosofia, UFRGS.

grego de que dispúnhamos – Mair (1921, baseada na edição de Maass, 1893), Martin (1956) e Kidd (1997) – diferem consideravelmente entre si. Perceber as diferenças textuais e tentar entender razões das escolhas dos editores são atividades essenciais do tradutor de textos antigos, mas bem pouco exercitadas nos nossos cursos de formação. Nossa tradução tem traços literários bem modestos. Tenta guardar algo do tom elevado do original; tenta reproduzir uma aliteração ou outra, um quiasmo ou um jogo vocabular aqui e ali; mas abre mão completamente das características métricas do original, que é um poema composto em hexâmetros dactílicos. O conteúdo das notas, salvo as justificativas de opção tradutória e outros poucos comentários, provém em larga medida das edições e traduções de Arato que pudemos consultar, em especial da eruditíssima edição de Douglas Kidd. Diferentemente dos nossos trabalhos anteriores, buscamos desta vez uniformizar as traduções tanto quanto possível. Nos outros números, os textos foram apresentados em pequenas seções, à forma de artigos, e os tradutores tiveram maior autonomia nas suas escolhas. Neste número, todavia, preferimos apresentar a tradução do poema sem seccionamentos. Assim como antes, cada um dos treze tradutores foi responsável por um trecho do texto, mas essa partilha não é evidenciada no texto. Os versos e os tradutores estão discriminados apenas no sumário. Dentro variegada beleza do poema, Arato emprega um número relativamente pequeno de verbos e substantivos para descrever os movimentos dos planetas e as posições das constelações; não nos preocupamos em estabelecer uma rigidez para esse vocabulário nas diferentes seções traduzidas pelos diferentes tradutores. Assim, por exemplo, para um verbo que um tradutor verte por “subir”, outro escolhe “elevar-se”, e assim por diante. Mas fomos rigorosos com a uniformidade dos nomes das constelações e alguns outros detalhes, como se verá. Acreditamos, dessa maneira, que o leitor que percorrer todo o poema dificilmente notará as diferentes penas que o traduziram. Cabe ainda dizer que cada tradutor foi o responsável pela anotação do trecho assignado a ele. Como editor, inseri algumas poucas notas ao longo do texto e remanejei outras poucas, formuladas pelo tradutor de uma seção posterior, para uma seção anterior, na qual eram mais necessárias. Os astrônomos e meteorologistas tradutores deste número, além deste organizador, são: Nykolas Friedrich Von Peters Correia Motta, doutorando em Filosofia na UFRGS; Raphael Zillig, professor do Departamento de Filosofia da UFRGS; Filipe Klein de Oliveira, mestrando em Filosofia na UFRGS; Luciana Malacarne, licenciada em Filosofia pela UFRGS e atual professora de Grego do NELE/UFRGS; C. Leonardo B. Antunes, professor de Língua e Literatura Gregas do Declave/UFRGS; Cesar Lopes Gemelli, mestre em Clássicas pela Universidade de Notre Dame e doutorando em Literatura pela Universidade Estadual de Ohio; Márcio Felix Jobim, mestre em Direito pela UFRGS e graduando em 6

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Filosofia pela mesma universidade; Inara Zanuzzi, professora do Departamento de Filosofia da UFRGS; Eduardo F. Laschuk, professor do Departamento de Química da PUC-RS; André Luiz Cruz Souza, doutor em Filosofia pela UFRGS; Isabel Cristina Dalmoro, graduanda em Filosofia pela UFRGS; e Rafael Matiello Brunhara, professor de Língua e Literatura Gregas do Declave/UFRGS. As obras de que nos servimos para esta tradução dos Fenômenos de Arato foram: - Bekker, I. 1828. Aratus cum Scholiis. Berlin. - Dorda, E.C. 1993. Arato, Fenómenos. Gémino, Introdución a los Fenómenos. Madrid: Gredos. - Kidd, D. 1997. Aratus, Phaenomena. Edited with introduction, translation and commentary. Cambridge: Cambridge University Press. - Mair, G.R. 1921. Callimachus, Lycophron, Aratus. London/New York: Heinemann/Putnam’s Son. - Martin, J. 1956. Arati Phaenomena. Introduction, texte critique, commentaire et traduction. Firenze: La Nuova Italia. Dessas obras, apenas Dorda e Kidd aparecem citados nominalmente nas notas de rodapé. Da edição de Bekker, consultamos apenas os escólios, algumas vezes por intermédio de Dorda e Kidd. Nosso acesso à obra de Martin se deu através do Thesaurus Linguae Graecae, que se restringe ao texto, sem o aparato crítico e o comentário. É vital advertir que nossa tradução segue fielmente o texto grego da edição de Kidd, da qual não encontramos razão para discordar, mas que o texto grego incluído no final deste volume é o de Martin, que já se encontrava digitalizado. Destacamos ainda que o magnífico prefácio deste número foi escrito por Richard Hunter, professor emérito da Universidade de Cambridge, uma das estrelas mais brilhantes na constelação acadêmica dos estudos clássicos. É impossível agradecer suficientemente a generosidade e a gentileza do professor Hunter, ao aceitar contribuir para esta nossa modesta publicação. Agradeço ainda aos editores dos Cadernos de Tradução – Gerson Roberto Neumann, Karina de Castilhos Lucena, Maria Cristina da Silva Martins e Denise Sales – pela paciência e pelo suporte; e ao Leandro Bierhals, pela cuidadosa editoração. Aos meus amigos e colegas de Departamento, Leonardo Antunes e Rafael Brunhara, transmito minha terna gratidão pela interlocução e pela ajuda em diversos momentos da preparação deste número. Não sou menos ternamente grato aos demais participantes desta tradução por sua dedicação e comprometimento. Porto Alegre, junho de 2016 Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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Prefácio1

Richard Hunter Universidade de Cambridge

Os Fenômenos de Arato – poema cujo título significa literalmente “as coisas que aparecem ou que são visíveis” e que é devotado às constelações fixas do céu e aos sinais meteorológicos naturais – são o mais antigo exemplar supérstite de “poesia didática”, isto é, poesia dedicada a um corpo de conhecimento acerca de um assunto particular. Como tal, o poema de Arato foi o principal modelo para partes das Geórgicas de Virgílio e, consequentemente, para toda a extremamente rica tradição de poesia didática na Europa Ocidental e, mais tarde, na América Latina. É um poema que logo se tornou muito influente no mundo grego, sendo um compêndio básico de astronomia, e que foi várias vezes traduzido para o latim, inclusive por Cícero. Hoje, apesar de sua extraordinária importância para os estudos de recepção da poesia no mundo moderno, ele é quase exclusivamente lido apenas por classicistas profissionais. Assim, é um imenso prazer dar boas vindas a este volume dos Cadernos de Tradução, que contém a primeira tradução dos Fenômenos de Arato para o português. Composto provavelmente entre 280 e 260 a.C., os Fenômenos são produto de um período notável na história da literatura e da cultura gregas. Após a morte de Alexandre, o Grande, o império que ele construíra se dividiu em vários subimpérios e reinos que competiam pela supremacia militar e pela liderança do mundo grego. Em Alexandria, por exemplo, os Ptolomeus criaram uma bri1

Traduzido por José Carlos Baracat Junior.

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lhante capital que atraía poetas e cientistas, onde o famoso “Museu” (“Santuário das Musas”) e a igualmente famosa Biblioteca se mostraram decisivos para a preservação de muito do que temos hoje da literatura grega. Arato, que veio de Solos, na Cilícia, não estava ligado a Alexandria, até onde sabemos, mas sim a Atenas e, posteriormente, à corte de Antígono Gônatas, em Pela, na Macedônia, outro importante centro da poesia e da literatura gregas. Em particular, ele parece associar-se aos filósofos estoicos; e há muito se considera que os Fenômenos, especialmente seu proêmio, com sua descrição de um cosmo ordenado por um Zeus benevolente, sugerem forte influência estoica. Na seção dos Fenômenos que trata das constelações, Arato se apoiou profundamente na obra do astrônomo Eudoxo de Cnido (século IV a.C.), e houve um tempo em que estudiosos modernos desse poema, e também de outros que foram por ele influenciados, viam a “poesia didática” dessa espécie como apenas uma demonstração de habilidade poética e erudição, que operava através da versificação de materiais abstrusos como a astronomia técnica. Tal abordagem, entretanto, é equivocada por mais de um motivo. As constelações do céu são, e sempre o foram, uma fonte de assombro e de estímulo para a especulação; e essa sensação de assombro, que Platão e Aristóteles identificavam como a origem primeira da filosofia, é maravilhosamente capturada pelos versos de Arato, que trazem à vida o “drama dos céus”. Na Antiguidade, supunha-se comumente que as estrelas eram seres divinos e vivos que nos olhavam, assim como nós as olhamos, e Arato dramatiza essa sensação de movimento de vida acima nós mesclando os detalhes astronômicos da posição e da direção das estrelas com a mitologia conectada a essas figuras. Bem acima de nós, comédia e tragédia são encenadas todas as noites no céu, e lá estão para nosso deleite, desde que tenhamos alguém, como Arato, para nos guiar. Embora os Fenômenos sejam o mais antigo “poema didático” que chegou até nós, ainda que certamente não tenha sido o primeiro da Antiguidade, ele toma como seu próprio modelo Os Trabalhos e os Dias, do poeta beócio Hesíodo (que deve datar provavelmente do final do oitavo século ou início do sétimo). Esse poema admirável, que combina relatos míticos de como o mundo veio a ser como é – e em particular por que devemos trabalhar para viver e nos comportarmos com justiça uns para com os outros – com um tipo de “calendário de lavradores” que descreve o ano agrícola, também teve enorme influência na tradição didática posterior, e é visto por poetas como o Virgílio das Geórgicas como o precursor desse tipo de poesia. Para Arato e seus contemporâneos, entretanto, não havia nenhum outro poema grego arcaico como Os Trabalhos e os Dias, de modo que os estudiosos modernos estão essencialmente corretos em remeter as origens do gênero da poesia didática mais às imitações de Hesíodo do que a Hesíodo ele mesmo. Hesíodo influenciou os Fenômenos em todos os níveis – linguístico, estrutural, temático –, mas um aspecto em especial merece ser notado aqui. Em Os 10

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Trabalhos e os Dias, a necessidade do trabalho e da justiça é parte do desígnio de Zeus para nós, mas nós precisamos ser persuadidos disso através da incitação e do encorajamento protréptico oferecidos pelas exortações e pelos mitos do poeta; é muito difícil para a humanidade conhecer a mente de Zeus. Nos Fenômenos, todavia, somos apresentados a um Zeus benevolente que nos oferece “sinais”, tais como as constelações acima de nós, que tornam claro o arranjo do mundo e, em particular, a presença de Zeus nele. As estrelas estão sempre aí para que nós as leiamos e extraiamos sentido dos arranjos que eles formam: o poema de Arato é, assim, uma tentativa de capturar a essência do poderoso arrebatamento que a fascínio pelas estrelas exerce sobre nós. Grande parte da discussão antiga acerca poesia ponderava se a poesia era útil e instrutiva ou meramente uma fonte de prazer. Por séculos, os Fenômenos de Arato foram considerados serem ambos, e certamente seus prazeres vieram a ser mais apreciados nas últimas décadas. Trata-se de um poema que recompensa o estudo detido e a atenção: exatamente como as extraordinárias constelações que ele descreve. Assim como nós devemos buscar os arranjos cheios de significação no céu, do mesmo modo devemos buscar os arranjos na tessitura de palavras que Arato põe diante de nós. Com esta tradução para o português, mais um novo grupo de leitores recebe a chance de fruir desses prazeres e dessas gratificações.

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Arato, Fenômenos

Por Zeus1 principiemos2, a quem os mortais nunca deixamos inominado3. Providas de Zeus estão todas as vias e todos os humanos rossios, providos também mar e portos4; em todas as horas, Zeus demandamos todos. Pois somos também sua progênie5. Ele paternal aos homens dá sinais direitos, para o trabalho alevanta as gentes lembrando-lhes do pão, conta quando o torrão está nas melhores horas para bois e arados, conta quando são as estações direitas tanto para se fincarem mudas quanto para as sementes todas se lançarem à terra. Ele mesmo, pois, os sinais firmou no céu6, separando-os em constelações, e previu para a passagem anual estrelas que para os homens dessem sinais das estações sobremaneira 1

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Os primeiros dezoito versos compõem o hino introdutório a Zeus. Sua estrutura e fraseologia fazem referência ao hino a Zeus de Hesíodo em Os Trabalhos e os Dias (1-4). Essa espécie de formulação inicial é bastante recorrente na literatura antiga; veja-se Kidd (162-163) para as referências. Arato começará pelo começo, por assim dizer, pois Zeus é o princípio (arkhḗ) do cosmo. É possível que essa palavra, árrētos, seja um trocadilho com o nome do autor, Árētos (no dialeto jônico; cf. Calímaco, 27 Pfeiffer = 56 Gow Page = Antologia Palatina 9. 507). Sobre o trocadilho, veja-se P. Bing, “A Pun on Aratus’ Name in Verse 2 of the Phainomena?”, Harvard Studies in Classical Philology, 93, 1990, 281-285. A oposição aqui se dá entre dois lugares de passagem (“vias”, “mar”) e dois lugares de repouso (“rossio” — a praça pública, a ágora —, “portos”). Ademais, se pensarmos que um dos epítetos de Apolo refere-se às vias (Agyieús, “guardião das vias”) e que o mar (thálassa) é o domínio de Poseidon, tal trecho evocaria o cosmo monoteísta dos estoicos, uma vez que Zeus suplantaria as outras divindades em seus lugares consagrados. Verso usado pelo apóstolo Paulo em pregação no Areópago (Atos 17:28). Num só lance, Arato aponta que Zeus não apenas colocou as estrelas no firmamento, mas também que seus sinais são firmes, confiáveis.

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dispostos7, de modo que todas as coisas cresçam como raízes no chão8. Por isso a ele sempre ofertamos do princípio ao fim9. Salve, pai, magno assombro10, magno bem dos humanos, tu mesmo e a primeira progênie11. Salve, Musas, mui melífluas todas elas. A mim, eu que suplico falar das constelações como é lícito, dai sinais ao longo de todo o canto. Elas12, muitas sendo, aqui e acolá estando, igualmente movem-se com o céu, todos os dias, continuamente, sempre13; por outro lado, o eixo não se desloca nem um pouco, mas está sempre bem fixo, mantém inteiramente equilibrada14 a Terra no centro15, e ao redor de si conduz o céu. Dois polos o delimitam nos dois términos: mas um não é visível, e o outro, em posição oposta, é visível da região de Bóreas16 em cima do Oceano. Dos seus17 dois lados estando, duas Ursas correm juntas; por isso são chamadas de Carros18. 7 8

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A ideia é que as estrelas seriam sinais bem ordenados (entre elas, em relação umas a outras) e bem construídos (nelas mesmas), em oposição aos sinais atmosféricos, pouco firmes e variáveis. Fizemos uma paráfrase de émpeda, que remete ao solo (pédon), advérbio que significa firmemente (como que fincado no solo) ou contínua e duradouramente (como que plantado no solo). A raiz é uma imagem que passa os dois sentidos simultaneamente, além de remeter à dimensão agrícola que parece fortemente sugerida pelo contexto. Este verso também pode significar “em primeiro e em último lugar”, isto é, antes e depois de todos os outros deuses. No v. 46, a mesma expressão (méga thaûma) é usada para predicar uma constelação, como veremos. O que se expressa é que Zeus é “magno assombro”, porque o lugar onde ele se manifesta mais claramente — o firmamento, o céu estrelado — é causa de maravilhamento e espanto. É como se a divindade fosse ainda mais assombrosa por ser o criador ou organizador de algo tão espantoso. Qual seja essa “primeira progênie” é incerto. Ela pode ser identificada com alguma primeira geração (o próprio Zeus, os Titãs, irmãos mais velhos de Zeus, primeiros astrônomos, a era heroica, ancestrais de Zeus, a era de ouro etc.); porém, dado o pano de fundo estoico, parece mais interessante identificá-la com a raça dos imortais, a primeira progênie, em oposição à raça dos mortais, a segunda (referida no v.1). As estrelas. Reiteração que enfatiza a eternidade do movimento das estrelas. Talvez haja um jogo etimológico aqui. A palavra originadora de atálanton, tálanton, hipoteticamente compartilha a mesma raiz com o nome Atlas no indo-europeu *tel- (sofrer, aguentar, suportar). É como se Atlas fosse a personificação mitológica do eixo astronômico mencionado por Arato. A Terra está no centro do cosmo, pois a astronomia de Arato é geocêntrica. A região boreal é o hemisfério norte, o único que é visível para Arato e ao qual se referem suas observações astronômicas. Do polo norte do eixo cósmico. A Ursa Maior é uma constelação claramente reconhecível no céu e foi uma das primeiras constelações registradas. Na Antiguidade, ela constava apenas das sete estrelas mais brilhantes da constelação presente, correspondente ao Grande Carro atual. A configuração da Ursa Menor é muitíssimo semelhante à do Grande Carro, e possui sete estrelas principais. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

Elas mantêm suas as cabeças sempre direcionadas para as cinturas uma da outra, e sempre movem-se ombreadas19, em sentidos opostos, alinhadas nos ombros. Se é de fato verdade, elas de Creta, pela vontade de Zeus magno, aos céus alçaram, porque quando ele rapazinho era20, na dulciodorada Licto, próxima do monte Ida, em antro o esconderam e dele cuidaram até a passagem de um ano, quando os rapazes dictenses21 enganaram Crono. E a uma chamam pelo nome de Cinosura22, e à outra, Hélice23. Os homens Aqueus24 pela Hélice no sal25 julgam para onde é necessário vogarem as naves; por outro lado, confiando na outra, os Fenícios atravessam o mar. Mas uma é distinta e pronta a ser reconhecida, a Hélice, muito aparente26 desde o princípio da noite; já a outra é pouco aparente27, mas para os nautas é mais forte: pois toda ela gira ao em uma órbita menor; com ela também os Sidônios28 singram em linha retíssima. Entre ambas, como corrente de rio, enrosca-se29 Dragão30, magno assombro, tendo meandros aqui e ali31, infindável; dos dois lados de sua espiral movem-se

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19 Há duas ideias possíveis aqui, não necessariamente opostas: a primeira é a de que o movimento das duas constelações advém de sua estrela componente mais ao norte, donde o ombro como «a parte de cima, superior”; a segunda é a de que as Ursas giram ao redor do polo norte de costas, donde se movem a partir dos ombros. Aproveitamos o sentido de «ombrear» para também passar a ideia do alinhamento das duas Ursas. 20 Referência ao mito do ocultamento de Zeus. 21 Referência aos Curetes, habitantes do monte Ida, que ocultaram o choro de Zeus fazendo uma dança de guerra em que batiam nos seus escudos. Há um jogo de palavras entre Koúrētes, jovens guerreiros, e kourízonta, o particípio de verbo que significa “ser criança”. Por isso, preferimos traduzir o trocadilho e obscurecer a referência mitológica. 22 Literalmente, “cauda de cão”, outro nome para a Ursa Menor, por ser ela uma constelação pequena como a cauda de um cachorro. 23 É outro nome para a Ursa Maior, por conta de seu movimento helicoidal. 24 Ou seja: os gregos. 25 Maneira homérica de designar o mar. 26 Ou seja: grande. 27 Ou seja: pequena. 28 Outro nome para os fenícios, por conta de Sídon, uma das mais importantes cidades fenícias, quiçá a mais antiga. 29 O verbo passa a ideia, simultaneamente, da sinuosidade da constelação e de seu movimento rotatório. 30 A constelação de Dragão contém catorze estrelas principais, todas de brilho débil. É uma constelação circumpolar quando vista do hemisfério norte, ou seja: nunca se põe (ao que se refere Arato no v. 62). Cerca de 3000 a.C., Dragão estava muito próximo do polo, e uma das estrelas componentes de seu corpo era a estrela polar do período. Junto das duas Ursas, Dragão constituía o conjunto das estrelas polares. A constelação foi mitologicamente identificada com o dragão que guardava as maçãs de ouro das Hespérides, morto por Hércules. 31 Dois advérbios que indicariam os dois meandros do Dragão. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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as Ursas, guardando-se do ciano32 Oceano. Mas ele se estica sobre uma33 com o confim da cauda, e à outra34 com a espiral rodeia. A extremidade de sua cauda para junto da cabeça da Ursa Hélice, e na espiral Cinosura a cabeça mantém; e ela35 bem aí na cabeça enrola-se, vai até seu pé, e de volta corre recolhendo-se. Na sua36 cabeça, estrela não lampeja por si mesma sozinha, mas são duas nas frontes e duas nas vistas, e uma abaixo ocupa o término da mandíbula do admirável prodígio. A cabeça está inclinada, e totalmente parece estar assentindo à extremidade da cauda da Hélice; e estão exatamente em linha reta, tanto a boca quanto a fronte direita, com o confim da cauda. A cabeça dela37 vai mais ou menos por onde as extremidades dos nascentes e poentes38 misturam-se umas com as outras. E próximo a ela39 turbilhona uma imagem semelhante a um homem que labuta. Ninguém sabe como chamá-la com certeza, nem por qual tarefa curva-se ele, mas apenas chamam-no “o de joelhos”40; mais ainda, de joelhos trabalhando parece alguém que se curva; de seus dois ombros as mãos se erguem, e estão esticados aqui e acolá os braços completamente; e a extremidade do pé direito mantém-se acima do meio da cabeça do curvado Dragão. Ali mesmo também está aquela Coroa41 ilustre que Dioniso colocou para constelar a desaparecida Ariadne; ela gira próximo da espalda da imagem que trabalha.

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32 No original, kyanéou, origem etimológica da palavra “ciano”, porém com o significado de azul escuro. Optamos por preservar a sonoridade em detrimento do significado. 33 A Ursa Maior. 34 A Ursa Menor. 35 A espiral. 36 Textualmente da espiral, embora o sentido remeta à cabeça do Dragão. 37 Mesmo caso da nota anterior. 38 Os horizontes do leste e do oeste eram considerados arcos em que diferentes estrelas tinham pontos onde nasciam e se punham. As extremidades desses arcos se fundiriam a zero grau. Ou seja: segundo Arato, a cabeça do Dragão nunca se põe (tampouco nasce, em contrapartida). 39 A cabeça da constelação do Dragão. 40 A constelação daquele de joelhos foi posteriormente identificada com Hércules, o que coaduna com o fato de ela parecer estar pisando na cabeça da constelação do Dragão. Hércules matou o dragão que defendia as maçãs de ouro das Hespérides. Com quatorze estrelas principais, a constelação é mais visível na primavera e no verão. 41 A Coroa é atualmente conhecida como Coroa Boreal (para diferenciá-la da Coroa Austral do hemisfério sul). A Coroa é uma constelação em arco de sete estrelas, pequena e pouco brilhante.

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A Coroa se aproxima da espalda, e junto da extremidade da cabeça42 observa a cabeça de Serpentário43, e dela poderias notar o resto de Serpentário como bem aparente, tão rútilos os ombros subjacentes à cabeça se veem; eles, mesmo na Lua cheia, podem ser vistos. Mas as mãos não são exatamente iguais: pois tênue luz uma e outra percorre; não obstante, essas também são visíveis: não são pequenas. Ambas lutam com a Serpente, que pelo meio circula Serpentário. Ele, bem firmado, incessantemente esmaga com ambos os pés enorme besta, Escorpião44, em pé sobre sua vista e tórax. Mas a Serpente revira-se entre suas duas mãos, pouco aparente na direita, porém muito na elevada esquerda45. Pois bem, junto à Coroa situa-se a ponta da sua46 mandíbula e, sob a espiral, busca as grandes Garras47; no entanto, elas carecem de luz e não são nada brilhantes. Atrás de Hélice48, assemelhando-se a um condutor, vem Artofílace49, a quem os homens chamam Boieiro50 porque parece tocar levemente o carro da Ursa. Ele é todo muito conspícuo; e, sob o seu cinturão, circula a própria Arcturo51, estrela distinta das demais.

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42 Do de joelhos. 43 A constelação de Serpentário (ou Ofiúco) foi posteriormente identificada com Asclépio. Ela é composta por dez estrelas principais. Já a Serpente é caracterizada por estar dividida por Ofiúco em duas seções. Possui onze estrelas principais. 44 Com dezoito estrelas principais, Escorpião é bastante visível no céu, o que pode explicar a pouca atenção que Arato dedica à constelação. Ela foi identificada com o escorpião mítico evocado por Ártemis para matar Órion. A constelação de Órion, aliás, não aparece no horizonte até o desaparecimento de Escorpião, o que Arato interpreta como uma fuga no v. 636. 45 A seção do rabo (serpens cauda) é menor e menos brilhante do que aquela da cabeça (serpens caput). 46 Da Serpente. 47 Trata-se de um grupo de estrelas que originalmente integrava a constelação de Escorpião, correspondendo às suas garras. Esse grupo de estrelas, após ter sido desmembrado do Escorpião, passou a ser também conhecido como constelação de Libra. 48 Outro nome para a constelação de Ursa Maior; ver v. 37. 49 Arktophýlax em grego, que significa “guardião da Ursa”. 50 Constelação frequentemente referida pelo seu nome grego, “Bootes”. 51 Arcturo é a estrela mais brilhante da constelação de Bootes, ou Boieiro. Segundo a mitologia, Calisto, ninfa companheira de Ártemis, gerou de Zeus um filho, Arcas ou Árcade, e foi, por isso, transformada em Ursa por Hera enciumada ou, em outra versão, pela própria Ártemis. Ao crescer, Arcas se torna um caçador e, estando a ponto de matar a Ursa, é impedido por Zeus que, então, os transforma em estrelas: a Ursa Maior e Arcturo, o guardião da Ursa. A constelação do Boieiro vem acompanhada pelos cães utilizados na caça ao urso. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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Sob os dois pés do Boieiro, observa a Virgem, que traz nas mãos uma Espiga52 radiante. Quer descenda de Astreu, que dizem os antigos ser pai dos astros, quer de alguém outro, que ela siga seu caminho em paz. Corre, no entanto, outra história entre os homens, que ela antes vivia na Terra e vinha ter com os homens e de modo algum desdenhava das tribos dos homens e mulheres antigos, mas sentava-se entre eles, ainda que fosse imortal. E chamavam-na Justiça: reunindo os anciãos ou na praça ou na larga via, ela cantava, incitando ao que é apropriado ao povo. À época, os homens ainda não conheciam funesta contenda nem disputa censurável nem clamor de batalha, mas viviam como eram: ficava de lado o mar atroz, e os víveres, não os traziam de longe as naves, mas sim bois e arados e a própria Senhora dos povos, Justiça, a doadora do que é justo, toda uma miríade de coisas provia. Assim foi, enquanto a Terra ainda alimentava a raça áurea53. Contudo, com a raça argêntea estava pouco ou nada inclinada a conviver, desejosa dos costumes dos povos de antigos. No entanto, ela ainda estava junto daquela raça argêntea. Ao anoitecer, saía sozinha das montanhas ruidosas e não se dirigia a ninguém com palavras doces, mas, quando havia enchido as grandes montanhas de homens, ameaçava-os, reprovando-os por sua maldade, e dizia que não mais viria à presença dos que a chamassem. “Que geração inferior vossos áureos pais deixaram! E vós ainda piores filhos devereis gerar. Certamente haverá guerras e derramamento injusto de sangue entre os homens, e a dor dos males os cobrirá.” Assim tendo falado, rumou para as montanhas e deixou as gentes todas ainda a mirá-la. Mas, quando também aqueles haviam morrido, nasceram outros, a geração de bronze, homens mais destrutivos que os anteriores, os primeiros a forjar a adaga própria dos crimes nas estradas e os primeiros a comer a carne dos bois de arado,

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52 A estrela mais brilhante da constelação de Virgem. 53 A decadência dos mortais, tema desenvolvido na sequência, é um tópos recorrente na literatura antiga desde Hesíodo, que enumera cinco eras humanas: a de ouro, a de prata, a de bronze, a dos heróis e de ferro; cf. Os Trabalhos e os Dias, 106-201.

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e então a Justiça, odiando a raça daqueles homens, voou ao céu e passou a habitar essa região, onde à noite ainda aparece aos homens como a Virgem, que está perto do conspícuo Boieiro. Sobre os seus dois ombros circula uma estrela [na sua asa direita, chamada, por sua vez, de Vindimador54]55 de tal magnitude e inserida com tal brilho como os da estrela que se vê sob a cauda da Ursa Maior56. Ela57 é mesmo impressionante, e impressionante são as estrelas próximas a ela: vendo-as, não carecerias de outra referência, de tal sorte belas e grandes movem-se diante de suas patas, uma diante das patas dianteiras, outra, das patas que se prolongam do lombo, e ainda outra sob os joelhos posteriores. Mas todas elas movem-se individualmente, cada uma em sua parte e anônimas. Sob a cabeça dela estão os Gêmeos58, e sob a região central o Caranguejo59, e o Leão resplandece belamente sob as patas posteriores. Aqui é o ponto mais quente da rota do Sol e os campos são vistos vazios de espigas quando o Sol junta-se pela primeira vez com o Leão. Então, também os ruidosos ventos etésios60 com toda força abatem-se sobre o vasto mar e não é mais época de navegar com remos. Nesse momento, as naves largas seriam do meu agrado, e os pilotos teriam os lemes voltados na direção do vento. Se o Cocheiro61 e as estrelas do Cocheiro62 considerares observar, e se chegou a ti o rumor da própria Cabra63

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54 Estrela usualmente referida pelo nome latino “Vindemiatrix”. 55 Este verso, ainda que esteja presente nos manuscritos mais antigos, é tomado por quase todos os editores como uma interpolação, ou seja, como adição posterior à composição original do poema. Note-se que, tendo descrito a localização de Vindemiatrix por referência aos ombros da Virgem, seria desnecessário, senão confuso, que Arato a caracterizasse imediatamente em seguida por relação a uma de suas asas. 56 Provável referência à estrela atualmente conhecida como Cor Caroli. 57 A Ursa Maior. 58 Constelação identificada a Cástor e Pólux, os Dióscuros. 59 Ou seja, a constelação de Câncer. 60 Os ventos “anuais”, que sopravam do norte e noroeste no verão. 61 Constelação frequentemente referida pelo nome latino “Auriga”. 62 É provável que as “estrelas do Cocheiro” não correspondam à totalidade das estrelas pertencentes à constelação, mas apenas ao grupo formado pela Cabra e suas Crias, que recebe atenção especial de Arato. 63 Estrela usualmente designada pelo nome latino “Capella”, a mais brilhante da constelação do Cocheiro (ou Auriga). A referência mitológica corresponderia à cabra Amaltea, que teria amamentado a Zeus em Creta (ver v. 163). Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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ou das Crias64, que muitas vezes observaram os homens dispersos no mar revolto, ao próprio Cocheiro imenso, à esquerda dos Gêmeos, todo reclinado encontrarás; e a ponta da sua cabeça gira oposta à Hélice. Está fixada ao seu ombro esquerdo a Cabra sagrada que, segundo o relato, ofereceu o peito a Zeus: os intérpretes de Zeus a chamam “Cabra Olênia65”. Ela é grande e brilhante, ao passo que as suas Crias brilham fracamente junto ao punho do Cocheiro. Ao lado dos pés do Cocheiro, o cornígero Touro deitado trata de ver. A constelação está disposta de forma muito semelhante a ele, de tão bem definida que está a sua cabeça: e ninguém de outra estrela precisaria para reconhecer a cabeça do boi, pois as próprias estrelas, girando ao redor de seus dois lados, o modelam. O nome delas é muito mencionado e, do mesmo modo, não são desconhecidas as Híades66, as quais por toda testa do Touro estão espalhadas; a ponta do chifre esquerdo e o pé direito do Cocheiro justaposto são ocupados por uma única estrela67, e ligados eles se movem. O Touro está sempre adiantado em relação ao Cocheiro ao descer para o outro lado do horizonte68, embora tenha subido em sua companhia. Certamente, a infeliz família de Cefeu69, filho de Jásida, de maneira alguma ficará sem menção, mas também seus nomes chegaram ao céu, visto que eram próximos de Zeus. O próprio Cefeu, estando atrás da Ursa Cinosura, se assemelha a alguém que estende ambas as mãos; de igual tamanho são a linha que se estende da ponta de sua cauda até os dois pés e a que se estende de um pé ao outro. E se tu olhares um pouco depois do cinto, encontrarás a primeira curva do grande Dragão. Na frente dele, a infeliz Cassiopeia revolve

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64 Pequeno grupo de estrelas de pouco brilho, situadas no punho do Cocheiro/Auriga, tomadas como sinal de mal tempo. 65 A origem do epônimo é incerta. É possível que faça referência a uma cidade (Oleno) ou à posição da estrela, que se situa perto do cotovelo do Cocheiro (pode-se compreender “olênia” como significando “perto do cotovelo”). 66 As “Chuvosas”, literalmente, dado que seu ocaso anuncia a estação das chuvas, são um aglomerado estelar localizado na constelação de Touro. 67 Esta estrela é a Beta Tauri e Gama Aurigae, uma gigante azul 280 vezes mais luminosa do que o Sol, como informa Dorda. 68 Para o oeste. 69 Rei dos etíopes, marido de Cassiopeia e pai de Andrômeda. A origem mitológica da constelação de Cefeu não é clara.

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não muito brilhante, porém visível durante a Lua cheia; não são muitas as estrelas ziguezagueantes70 que a iluminam, as quais a contornam inteira claramente. Tal como quando a uma porta de duas folhas, fechada por dentro, com uma clava golpeiam e empurram as suas barras, assim aparecem as estrelas que singularmente a compõem71. Dessa maneira ela estende a partir dos pequenos ombros os braços: tu dirias que ela chora pela filha. Ali também revolve a assombrosa imagem de Andrômeda, delineada abaixo da mãe. Creio que tu não examinarás muito a noite para avistá-la imediatamente; tão visível são a sua cabeça e em cada lado os seus ombros e as ponta dos seus pés e todo seu cinto. Mas mesmo lá ela está de braços esticados, e seus grilhões também estão no céu; e se erguem lá suas mãos estendidas todos os dias. Adiante, o monstruoso Cavalo marcha, com seu baixo ventre sobre a cabeça dela, e brilha uma estrela comum ao umbigo dele e à extremidade da cabeça dela. As três outras estrelas, sobre as costelas e os ombros do cavalo, marcam linhas de igual tamanho, lindas e grandiosas. A cabeça dele é a nada comparável, nem seu pescoço, embora seja longo. Mas a última estrela de seu refulgente queixo poderia desafiar as quatro primeiras, as quais o delineiam sendo bem visíveis. Mas ele não é quadrúpede: pois exatamente no meio de seu umbigo o sagrado Cavalo aparece pela metade. Dizem que do alto do Hélicon ele trouxe a boa água da fertilizante Hipocrene. Pois o alto do Hélicon ainda não jorrava por fontes, mas o Cavalo o coiceou e, desse mesmo lugar, a incessante água jorrou com o golpe da pata dianteira; e os pastores foram os primeiros a chamar aquela nascente Hipocrene72. E a água escorre da pedra, e tu não a verás longe dos homens de Téspias; mas o Cavalo revolve no reino de Zeus73, e lá podes contemplá-lo.

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70 A constelação de Cassiopeia tem a forma da letra W. 71 A constelação se parece com a tranca torta de uma porta dupla sanfonada após uma tentativa de arrombamento. 72 Em grego, Hipocrene significa “fonte do cavalo”. 73 Ou seja, no céu. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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E lá também estão os caminhos mais rápidos do Carneiro74 que, percorrendo ciclos maiores75, não correrá mais lento do que a Ursa Cinosura. Ele é apagado e sem estrelas, como se fosse observado com a Lua, mas tu ainda poderias encontrá-lo pelo cinturão de Andrômeda: pois ele fica um pouco abaixo dela. Ele corta ao meio o grande céu76, exatamente onde as pontas das Garras77 e o cinturão de Órion circulam. Há ainda outra constelação formada logo abaixo de Andrômeda: é medido por três lados o Delta78, que é semelhante ao isósceles por seus lados; um lado não é tão grande, mas é muito fácil de ser encontrado: pois ele é mais estrelado do que os outros dois. As estrelas dele estão um pouco mais ao Noto do que as do Carneiro. Ainda mais adiante, mas ainda mais próximo do Noto79, estão os Peixes; mas um está sempre à frente do outro e, descendo, escuta mais o frescor de Bóreas. De ambos se estendem como que correntes de suas caudas, que de ambos os lado se juntam em uma linha. E as sustém uma só estrela, bela e grande, à qual chamam Nó Celestial. Que o ombro esquerdo de Andrômeda seja para ti um sinal do Peixe mais boreal: pois está muito perto dela. Os dois pés dela indicarão o caminho até seu esposo Perseu80, sobre cujos ombros se movem sempre. Ele se move no norte, maior que outras constelações; sua destra está estendida em direção ao assento do trono de sua sogra81: como se perseguisse algo a seus pés, ele dá longos passos, coberto de pó, na morada de Zeus pai82. Perto de seu joelho esquerdo, em cacho, movem-se

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74 Áries. 75 O circuito da constelação de Áries é maior do que o da Ursa Maior, mas, mesmo assim, Áries o completa no mesmo tempo que a Ursa Maior. 76 Na linha do Equador. 77 Constelação de Libra; cf. v. 89 e nota. 78 Ou Triângulo. 79 Perto do hemisfério sul. 80 Filho de Zeus e Dânae, célebre por ter decapitado a górgona Medusa. 81 Cassiopeia, mãe de Andrômeda, é sogra de Perseu. 82 Perseu deixa um rastro de poeira ao perseguir o monstro marinho que ameaça Andrômeda, acorrentada a um rochedo.

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todas as Plêiades83; não muito amplo é o espaço que a todas contém, e são débeis para serem observadas uma a uma. “Sete Vias” é como são celebradas entre os homens, ainda que apenas seis sejam visíveis aos olhos. De modo algum quer dizer que, ignorada, alguma estrela tenha sumido do céu desde que ouvimos falar dela, mas é bem assim que se conta84. Aquelas sete, de nome, chamam-se Alcíone, Mérope, Celeno, Electra, Estérope, Taígete e Maia augusta. Elas são igualmente pequenas e pálidas; célebres, porém, giram de manhã cedo e ao entardecer, e Zeus é a causa, que o início tanto do verão quanto do inverno85 fê-las assinalarem, e a chegada do tempo das lides no campo86. Também a Tartaruga é pequena: ainda junto a seu berço, Hermes a escavou e declarou que se chamaria Lira87. Embaixo a fixou, diante da imagem desconhecida88, ao introduzi-la no céu: esta, caída sobre as pernas, dela se aproxima com o joelho esquerdo, e o alto da cabeça da Ave rodopia defronte; e, entre a cabeça da Ave e o joelho, assenta-se a Lira. De fato, uma colorida Ave89 acompanha Zeus, escura em algumas partes, mas outras encrespam-se

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83 Filhas de Atlas e Plêione, uma das oceânides. Perseguidas por Órion, Zeus as catasteriza, formando o conhecido aglomerado que faz parte da constelação de Touro. Homero já as conhecia, pois Hefesto as grava no escudo de Aquiles (Ilíada 18, 486), e Odisseu as observa no céu (Odisseia 5, 272). 84 Mérope, às vezes denominada ‘a estrela perdida’, é a plêiade invisível a olho nu: ela se esconde, envergonhada por ser a única que se casou com um mortal, Sísifo. Há uma outra versão, citada pelo próprio Arato no poema perdido intitulado Epikḗdeion pròs Theópropon (“Lamento para Teópropo”), segundo a qual a plêiade invisível era Electra, que se extinguiu de tristeza pela queda de Troia. Ovídio também afirma a existência dessas duas versões (Fastos 4, 169178). 85 Os termos théros (“verão”) e kheîma (“inverno”) às vezes são usados de modo a abranger todo o ano: a estação quente, de tempo bom, e a estação fria, de tempo ruim (cf. Odisseia 7, 117-8; Hesíodo, Os Trabalhos e os Dias 640). Esses períodos são até certo ponto flexíveis, dependendo do tempo de ano para ano, mas são precisos o suficiente na prática (cf. vv. 1077-81). Assim, as Plêiades convencionalmente tornam-se as divisoras do ano. 86 Segundo Hesíodo, as Plêiades são muito importantes no calendário do agricultor: seu surgimento pela manhã, no início do verão (maio), sinaliza o início da colheita (Os Trabalhos e os Dias 383, 572), e seu ocaso pela manhã, no início do inverno (novembro), a lavra (384, 615); este é útil também aos marinheiros, pois anuncia tempestades (619). 87 Segundo a lenda, Hermes inventou a lira, esvaziando a carapaça de uma tartaruga e sobre ela estendendo cordas feitas com tripas de ovelha (Hino Homérico 4, 24-51). 88 Referência à figura desconhecida mencionada no verso 64. 89 O nome alternativo Cisne (Kýknos) surgiu quando a Ave (Órnis) passou a ser identificada com o cisne da mitologia: Zeus adota a forma de cisne para seduzir Leda, e esta põe um ovo do qual nascem Helena e Polideuces. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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com estrelas não muito grandes, ainda que não débeis. Semelhante à ave que desfruta de tempo sereno, em propício voo lança-se rumo ao poente, até a mão direita de Cefeu, prolongando a ponta da asa direita; ao lado da asa esquerda, encontra-se o empino do Cavalo. À volta do Cavalo que empina, situam-se os dois Peixes, e, ao lado de sua cabeça, estende-se a mão direita do Aguadeiro90: este após o Capricórnio desponta. Por sua vez, mais à frente e abaixo, está o Capricórnio, onde o vigoroso Sol faz a volta91. Naquele mês92, não te banhes no mar, ao dispores do pélago aberto! Nem poderias, de dia, uma longa viagem perfazer, já que os dias são mais breves, nem, à noite, estando tu amedrontado, mais cedo o dia chegará, mesmo se muitíssimo gritares. Os penosos Notos93 então se arrojam, quando em Capricórnio entra o Sol: nesse momento, o frio que vem de Zeus é mais cruel ao enregelado marinheiro. Seja como for, durante o ano todo, sob a roda de proa, o mar se agita; tais como as gaivotas mergulhadoras, amiúde fitando o mar em redor a partir dos barcos, sentamo-nos voltados para a praia, que ainda distante pelas ondas é banhada: um pequeno lenho nos separa do Hades. Após teres muito padecido no mar, mesmo no mês anterior, quando o Sol aquece o arco e aquele que brande o arco94, possas aportar ao entardecer, não mais confiante na noite. Sinal seja para ti, daquela estação e daquele mês, o Escorpião despontando no fim da noite. De fato, um grande arco, perto da ponta da seta, estira o Arqueiro; e um pouco à frente dele se ergue, despontando, o Escorpião, que sobe logo em seguida. Então também a cabeça de Cinosura, no fim da noite,

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90 É a constelação de Aquário, que se identifica com Ganimedes, jovem herói descendente de Dárdano, o fundador de Troia. Enamorado de sua beleza, Zeus o rapta para servir como escanção aos deuses no Olimpo. 91 Isto é, no Trópico de Capricórnio, quando ocorre o solstício de inverno no hemisfério norte. 92 Arato se refere provavelmente ao mês chamado Posídeon (Poseideṓn) nos calendários de Atenas, Delos e Mileto, correspondente à segunda metade de dezembro e primeira de janeiro. 93 Os ventos do sul. 94 A constelação do Arqueiro, ou Sagitário. Ela representa um centauro erguendo um arco e uma flecha, e é identificada com o centauro Quíron, tutor de vários heróis, ou com o sátiro Croto, filho de Pã e Eufeme, ama-de-leite das musas.

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bem no alto corre, e declinam, antes da aurora, Órion, de uma só vez, e Cefeu, da mão até a cintura. Há mais adiante uma outra Flecha95, arremessada sozinha, sem um arco; perto dela, a Ave abre as asas, mais perto da região boreal. Junto a ela, outra ave é levada pelo ar, não tão grande, mas perigosa96 ao erguer-se do mar quando a noite vai embora: chamam-na de Águia. O Golfinho, não muito grande, corre sobre o Capricórnio, escuro no centro: mas circundam-no quatro brilhantes, paralelamente dispostos dois a dois. Essas são as constelações que se espalham entre Bóreas97 e o errante curso98 do Sol; embaixo, porém, despontam muitas outras, entre o Noto99 e o caminho do Sol. Oblíquo, abaixo da secção do Touro, situa-se o próprio Órion100. Aquele que, numa noite clara, não reparar nele estendido no alto, não creia, ao elevar os olhos para o céu, outras constelações mais notáveis poder contemplar. Tal também é o seu guardião, que, sob o dorso ascendente, aparece: o Cão101 erguido com ambas as patas, variegado, mas não de todo brilhante, pois escuro em seu ventre102 ele se eleva; porém a ponta de sua mandíbula é marcada por estrela maravilhosa que sobremodo pungente arde – os homens a chamam Ardente103. Não mais, quando ela se ergue simultânea ao Sol, os pomares enganam, folheando-se sem frutos, pois, então, facilmente os distinguiu, disparado através das fileiras104:

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95 Também chamada Seta, uma das menores constelações no céu. 96 Perigosa (khalepós) devido ao tempo tormentoso, difícil de suportar, que a acompanha; cf. v. 879. 97 Aqui, o Polo Norte. 98 Como aponta Kidd (302), o “curso” do Sol é a sua eclíptica; a palavra álēsis reflete o fato de que o Sol é um dos sete planetas gregos, pois se move sobre o plano de fundo das estrelas fixas. 99 Não o Polo Sul, em oposição a Bóreas, mas o limite sul das estrelas visíveis a observadores na Grécia. 100 O nome refere-se ao poderoso gigante e caçador, filho de Posêidon e Euríale, filha de Minos. É umas das constelações mais brilhantes e, assim como as Plêiades, as Híades e a Ursa, também aparece no escudo de Aquiles (Ilíada 18, 486). Em Hesíodo, é um importante guia para as estações do ano (Os Trabalhos e os Dias 598, 609, 615). 101 Trata-se da constelação Cão Maior. 102 Ou seja: faltam estrelas na região da barriga do Cão. 103 Essa estrela, a maior da constelação, é bem mais conhecida por Sírio. 104 Verso muito sonoro em grego, com três palavras terminadas com o ditongo [ai], cujo som de /a/ ainda ecoa em analdéa (“sem frutos”). A sonoridade se completa ainda com aliterações de plosivas e da líquida /l/. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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a uns deu força; de outros destruiu todo o viço105. Também de seu ocaso escutamos, mas os outros sinais, postos ao redor para delinear seus membros, são mais fracos. Sob ambos os pés de Órion, a Lebre todos os dias é incessantemente caçada; de sua parte, sempre Ardente segue atrás como que a perseguindo, ergue-se depois dela e, quando ela descende, ele a vigia. Perto da cauda do grande Cão, arrasta-se Argo106, de popa, pois para ela os caminhos não são de acordo com a obrigação, mas segue para trás, como as próprias107 naus quando os marinheiros volvem a popa, ao entrar no ancoradouro: de imediato cada um faz retroceder a nau, que refluente se atraca à terra firme. Dessa maneira, arrasta-se de popa a Argo de Jasão. Rarefeita e sem estrelas ao longo do próprio extremo mastro desde a proa, ela segue; de resto, é toda brilhante. Seu leme, solto, está afixado às patas traseiras do Cão, que vai à frente. Ainda que estendida a não pouca distância, Andrômeda é acossada pela grande Baleia108 que se aproxima. Pois ela, por um lado, exposta ao sopro de Bóreas Trácio109, segue; por outro, Noto110 leva a ela a inimiga Baleia, sob tanto o Carneiro quanto ambos os Peixes, um pouco acima do Rio estrelado. Pois, sozinho, sob os pés dos deuses, também ele se move, resquício do Erídano111, rio de muitas lágrimas. Sob o pé esquerdo de Órion ele se estende. Os grilhões caudais, pelos quais as extremidades dos Peixes se juntam,

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105 A ascensão de Sírio simultânea ao Sol coincide com dias muito quentes, os quais destroem certas plantas e dão força a outras. 106 Nau lendária de Jasão e dos argonautas, grande consórcio de heróis pré-homéricos cujo mito de exploração de novas terras (em busca do velo de ouro) é narrado, entre outros, por Apolônio de Rodes nas Argonáuticas. 107 Isto é, as naus de verdade. 108 Kē̂tos, em grego, designa qualquer monstro marinho. “Baleia” é nome dado pelos astrônomos modernos devido à crença de que o monstro enviado por Poseidon para devorar Andrômeda era uma baleia. 109 O vento norte. 110 O vento sul. 111 Outra constelação imaginada como um rio. O traçado de suas estrelas, na mitologia, estava ligado ao mito de Faetonte, que, tomando o carro de seu pai, o Sol, foi incapaz de controlá-lo. Como queimava a terra e o céu com o carro do Sol descontrolado, Zeus o atingiu com um raio. O curso das estrelas do Erídano corresponderia ao de sua queda ao ser abatido.

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ambos se movem juntos conforme descem a partir das caudas e seguem atrás da barbatana da Baleia, movendo-se em conjunto, e terminam numa única estrela da Baleia, na que jaz no topo da espinha dela. Outras , dispostas em pouco espaço e com pouca luz, no meio entre o timão112 e a Baleia circulam, postas sob as costelas da Lebre cinza, inominadas; pois semelhantes aos membros de nenhuma figura bem definida estão lançadas , como as muitas que, marchando ordenadas, passam pelos mesmos caminhos conforme os anos se completam, às quais um dos homens que já não existem apontou e planejou chamar todas por nome, dando-lhes formas definidas: pois todas não poderia, individualmente discernidas, dizer por nome, nem aprender, pois são muitas por toda parte, de muitas são iguais as medidas e a cor, e todas são circundantes. Dessa forma, pareceu-lhe bom pô-las em grupo, as estrelas, a fim de, uma colocada junto à outra ordenadamente, sinalizarem figuras; desde então, tornaram-se nomeadas as constelações, e agora não mais sob espanto raia uma estrela; mas, sim, outras com figuras definidas nítidas se apresentam, porém as que estão sob a Lebre perseguida são todas muito rarefeitas e se conduzem inominadas. Abaixo de Capricórnio e sob os sopros do Noto, um Peixe, virado em direção à Baleia, flutua distinto dos primeiros: chamam-no nócio113. Outras , espalhadas, dispostas abaixo de Aguadeiro, entre a Baleia celeste e o Peixe flutuam, débeis e anônimas: próximo delas, como um pequeno jato d’água dispersada aqui e ali pela mão direita do ilustre Aguadeiro, cinzentas e fracas circulam. Entre elas, movem-se duas estrelas mais visíveis, nem muito afastadas, nem muito próximas: uma, bela e grande, embaixo dos pés de Aguadeiro; outra, embaixo da cauda da Baleia escura. Chamam-nas todas Água114. Outras poucas,

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112 O timão de Argo. 113 Ou seja: austral, visto que Noto é o vento sul. 114 Água não era uma constelação regularmente definida, pois não era fácil distinguir as estrelas que formam a olho nu. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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abaixo do Arqueiro, sob seus pés dianteiros, dispostas em círculo, revolventes circulam. Em seguida, embaixo do ferrão brilhante grande monstro Escorpião, próximo ao Noto, flutua o Altar. Irás percebê-lo por pouco tempo no alto, pois se ergue oposto a Arcturo115. De fato, são de todo muito elevados os caminhos de Arcturo, ao passo que o outro submerge rápido no mar hespérico116. Mas mesmo ao redor daquele Altar a Noite ancestral, chorando o sofrimento dos homens, pôs da tempestade marinha um grande sinal: pois, para ela, dispersas naus estão distantes do seu coração117, e ela manifesta em diversas partes diversos sinais, apiedando-se dos homens abatidos por muitas ondas. Por isso, no mar, faz prece de que aquela constelação não apareça no meio do céu envolvida por muitas nuvens, ela própria sem nuvens e brilhante, mas ao alto muito comprimida por nuvem ondulante, como muitas vezes se aperta quando o vento de outono a empurra118. Pois frequentemente propicia este sinal também para o Noto a própria Noite, favorecendo os desgraçados marinheiros. E eles, se atentam a ela que mostra sinais oportunos, e rapidamente põem tudo em ordem e ajustado, súbito mais leve se torna o trabalho. E se para a nau de cima vem um terrível furacão de vento assim imprevisto, e desajusta todas as velas119, às vezes navegam completamente submergidos, às vezes, se têm a sorte de que Zeus lhes acuda, quando suplicam, e se relampagueia na direção de Bóreas, ainda assim, suportando muitos males, novamente veem-se uns aos outros no navio. Com este sinal, teme Noto até que veja Bóreas relampaguear. Se o ombro do Centauro distar do mar hespérico

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115 Desde a Antiguidade se atribui a Arato um equívoco nesta passagem, pois o Altar não está a uma distância do Polo Sul igual à distância que está Arturo do Polo Norte. Para uma discussão detalhada, veja-se Kidd (327-328). 116 O mar ocidental. 117 Ou seja: não agrada à Noite ancestral ver naus perdidas em meio à tempestade 118 Trecho difícil, com muitas inversões, cujo nexo vai se construindo aos poucos, deixando o leitor em suspense, de modo a fortalecer o próprio sentido ominoso da passagem, em que se fala de sinais no céu que indicam tempestades no mar. 119 O plural provavelmente é poético. Navios gregos tinham apenas uma vela. Pode, contudo, referir-se também a todas as partes da vela.

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tanto quanto do primeiro120, e um pouco de névoa o envolver, mas a Noite, por trás, fabricar sinais reconhecíveis sobre o Altar brilhante, então é-te preciso prestar atenção não no Noto, mas no Euro121. Encontrarás essa constelação situada abaixo de duas outras: a parte semelhante a um homem situa-se abaixo do Escorpião, e as Garras têm embaixo de si a parte traseira do Cavalo. Ele aparece, entretanto, como alguém que a mão direita sempre estica em direção ao Altar circular, e neste, muito firmemente, segura na mão outra constelação, a Fera122: assim nossos antecessores a nomearam. Mas ainda uma outra constelação ao longe123 se move: chamam-na Hidra. Como algo vivo serpenteia continuamente, e sua cabeça chega sob o meio do Caranguejo, a espiral abaixo do corpo do Leão, e a cauda suspensa sobre o próprio Centauro. Sobre metade da espiral está a Taça, e na extremidade a figura do Corvo como se estivesse picando a espiral124. E, sim, também Prócion125 brilha maravilhosamente abaixo de Gêmeos. Essas poderias ver com o correr dos anos sucessivamente retornando: pois assim todas elas estão bem fixadas no céu como ornamentos da noite que passa. Mas há cinco outras estrelas misturadas, nada semelhantes, que por todas as partes das doze figuras circulam126. Não poderias identificar, observando aquelas outras , onde estão situadas, uma vez que são todas errantes. E longos são os anos de suas órbitas,

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120 O mar oriental, ao qual Arato também chama o “outro” (571, 617, 726). O autor provavelmente refere-se ao ponto mais alto no céu que a constelação alcança. Há confusão sobre qual seria a estrela do ombro do centauro. 121 Vento que sopra do leste. 122 Constelação compacta com estrelas de terceira magnitude e sem nenhuma muito brilhante. Seu nome moderno é Lobo, mas não há especificação de que tipo de animal selvagem se tratava na antiguidade. 123 Peraióthen, aqui e nos versos 606, 645 e 720, remete ao horizonte oriental. 124 Corvo e Taça são usualmente representados como se estivessem apoiados na Hidra. 125 O nome de Prócion refere-se, modernamente, à estrela alfa Canis Minoris, a estrela mais brilhante da pequena constelação do Cão Menor, e uma das mais brilhantes de todo o céu. Na Antiguidade, porém, o nome de Prócion também se aplicava à constelação do Cão Menor como um todo. O Cão Menor é um dos dois cães de caça de Órion, sendo o Cão Maior o outro. Prócion antecede o Cão Maior, e disso vem seu o nome: Prokýon (“ante-cão”). 126 São os cinco planetas conhecidos pelos gregos: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno, que passam pelas doze figuras do Zodíaco. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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e longe uns dos outros situam-se seus sinais em seu percurso para a conjunção127. Eu ainda não estou seguro no que diz respeito a elas: oxalá eu dê conta de expor os ciclos das fixas e seus sinais no éter. Com efeito, são quatro128, dispostos como rodas, dos quais haveria máxima necessidade e desejo para quem investiga as medidas dos anos completos. Em toda sua extensão, há muitos sinais que muito claramente os marcam de perto, por todos os lados, e completamente; os círculos mesmos são sem largura e todos unidos uns aos outros129, mas, em medida, dois se opõem a dois130. Se alguma vez em noite clara, quando todas as brilhantes estrelas são mostradas aos homens pela Noite celestial, e durante a Lua nova nenhuma diminui em brilho, mas todas brilham agudamente na escuridão; se alguma vez então um maravilhamento alcançou o teu coração, quando observaste o céu rachado em toda sua extensão por um largo círculo, ou se alguma outra pessoa ao teu lado te mostrou aquele círculo cravejado de estrelas por todos os lados (chamam-no Leite131): nenhum outro círculo gira semelhante a esse em cor, porém, em medida, dos quatro, dois são do mesmo tamanho ao girarem, ao passo que os outros são muito menores132. Um desses fica próximo de onde desce Bóreas. Sobre ele movem-se as duas cabeças de Gêmeos, e sobre ele estão os joelhos do firme Cocheiro, e depois dele a perna esquerda e o ombro esquerdo de Perseu, e ocupa o meio do braço direito de Andrômeda acima do cotovelo: sua palma está sobre ele, mais próxima de Bóreas, e o cotovelo inclina-se para o Noto. Os cascos de Cavalo e o pescoço da Ave com a cabeça na extremidade, e os belos ombros do Serpentário, giram movendo-se pelo próprio círculo. E, um pouco mais ao sul, sem o tocar, move-se a Virgem, mas Leão e Caranguejo . Ambos

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127 Referência ao “Grande Ano”, o período entre a conjunção anterior e a posterior de todos os planetas. 128 Os trópicos de Câncer e de Capricórnio, o Equador, que são paralelos e latitudinais, e o Zodíaco (ou eclíptica), que é oblíquo a eles. 129 Estão unidos nas interseções do Zodíaco com o Equador e dois trópicos. 130 O Zodíaco ao Equador, e um trópico ao outro. 131 Trata-se, evidentemente, da Via Láctea. 132 Os trópicos são menores.

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ficam juntos, um depois do outro, e o círculo corta o Leão abaixo do peito e da barriga até as partes pudendas, e ao Caranguejo inteiramente abaixo de sua carapaça133, ali onde muito claramente poderias vê-lo sendo dividido por uma linha reta, onde134 os olhos vão um de cada lado do círculo. Se o círculo é dividido aproximadamente em oito partes, cinco giram no céu sobre a Terra, e três abaixo do horizonte: os solstícios135 de verão estão ali. Este círculo está fixado em Bóreas, ao longo do Caranguejo. Outro, em Noto oposto, corta Capricórnio ao meio e os pés do Aguadeiro e a cauda da Baleia; nele está a Lebre, porém não muito do Cão pega ele, mas somente o quanto ele ocupa com suas patas. Nele Argo e o grande dorso do Centauro estão, e nele o ferrão do Escorpião, e nele o arco do brilhante Arqueiro. É o mais remoto ao qual alcança o Sol, ao passar do brilhante Bóreas ao Noto, e bem ali se vira, no solstício; e três de suas oito partes revolvem acima , e as cinco restantes abaixo. Entre os dois, tão grande quanto o branco Leite136, um círculo que parece dividido gira abaixo da Terra; nele os dias são iguais às noites em dois momentos: quando míngua o verão, e então quando se inicia a primavera. Como sinal, o Carneiro e os joelhos do Touro repousam nele: o Carneiro se estende ao longo do círculo, mas do Touro aparece um pouco da curvatura das pernas. Nele estão o cinturão do radiante Órion e a espiral da reluzente Hidra, e nele também a esmaecida Taça, e nele o Corvo, nele as não muitas estrelas do Escorpião, e nele os joelhos do Serpentário se movem. Ele não está privado da Águia: perto dele voa o grande mensageiro de Zeus; e junto a ele

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133 Geralmente, khélys é o casco da tartaruga, mas aqui se refere, obviamente, à carapaça do Caranguejo. 134 Kidd (358) defende que, aqui, hína muito provavelmente introduz uma oração subordinada adverbial de lugar, em vez da subordinada final adotada por outros estudiosos, e que a oração define com mais precisão o “ali” (hē̂khi) mencionado no verso anterior. 135 Conforme Kidd (359), o método mais antigo para determinar solstícios é a observação dos pontos mais ao norte e mais ao sul no horizonte, nos quais o Sol nasce e se põe. Aqui, o solstício exprime a posição do Sol no ponto em que sua eclíptica toca o trópico, de onde o sol continua o seu curso pelo Zodíaco e não há curva observável. 136 A via láctea. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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a cabeça e a cernelha do Cavalo revolvem. O eixo é circundado por círculos paralelos, mantendo-se no centro de todos; o quarto está fixado obliquamente entre os dois trópicos, que o sustentam em lados opostos, e o mediano137 o corta ao meio. Um homem instruído nas artes manuais de Atena não ataria de outro modo círculos giratórios, tais e tão grandes, fazendo girar a todos como esfera, de modo que eles, unidos entre si por um círculo obliquo, sejam postos, da aurora ao crepúsculo, em movimento todos os dias. E sincrônicos eles138 nascem e se põem, todos paralelos, mas é um só, em cada lado , o ponto do ocaso e do orto, sucessivamente. Mas o costeia tanto a água do Oceano quanto volteia do nascimento de Capricórnio à ascensão de Câncer, e o quanto cobre completamente ao despontar, cobre o mesmo no outro lado, ao se pôr. O quanto se estende um brilho a partir do olho, seis vezes isso poderia subtender-se; e cada , medida igual, corta duas constelações. Chamam a esse círculo pelo nome de Zodíaco. Nele está o Caranguejo, e depois o Leão, e sob ele a Virgem, e depois dela as Garras e o próprio Escorpião, e o Arqueiro e Capricórnio, e depois de Capricórnio está o Aguadeiro; depois dele, os dois brilhantes Peixes, e depois deles o Carneiro, e depois dele o Touro e os Gêmeos. Passa o Sol por todos os doze, ao conduzir o ano todo, e, ao avançar em torno desse ciclo, todas as estações frutíferas prosperam. E o tanto que submerge abaixo do Oceano côncavo equivale ao quanto que percorre sobre a Terra, e toda noite seis doze avos do círculo submergem e outras quantas emergem139. Cada noite sempre se estende sobre tanto comprimento quanto o da metade de um círculo que ergue-se acima da Terra a partir do início da noite. Não seria desperdício, para quem espera o dia,

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137 O Equador. 138 Trópico de Câncer, Trópico de Capricórnio e Linha do Equador. 139 Quer dizer, o número de partes do círculo, que correspondem aos signos do Zodíaco, que está acima durante o dia é igual ao número de partes que está abaixo, durante a noite.

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observar quando cada uma das partes140 se ergue; pois sempre se alça com uma delas o próprio Sol. Melhor seria perscrutá-las olhando para elas; mas, se obscurecidas por nuvens ou escondidas por montanha ao subirem se tornarem, devem-se criar sinais fixos para as que se elevam. O próprio Oceano poderia ofertar a ti, em cada um dos seus cornos141, os muitos sinais que circundam a si mesmo, quando faz surgir desde o fundo cada uma daquelas142. Não são as mais fracas, quando o Caranguejo ascende, as estrelas que revolvem à sua volta e rodeiam ambos os lados , algumas mergulhando, outras se elevando. Mergulha a Coroa, e mergulha o Peixe até a espinha; poderias ver metade da Coroa acima no céu, e metade os confins já sobrepujam, quando a Coroa se põe. Mas da invertida143, que está atrás, submergem na noite as partes acima da barriga, mas não as inferiores. O Caranguejo faz descer o infeliz Serpentário dos joelhos aos ombros, e também faz descer à Serpente até perto do pescoço. Nem Artofílace estaria muito por ambos os lados, a menor parte pelo dia, a maior já pela noite. Em quatro signos144 ao poente Boieiro recebe o Oceano; ele, quando saciado de luz, ocupa mais que a metade da noite passante, e mergulha no momento em que o Sol se põe. Estas noites também são chamadas “de poente tardio”. Assim as constelações se põem, porém a outra, que é oposta e nada pequena, mas sim muito brilhante com seu cinturão e seus dois ombros, Órion, confiante na força da espada, estende-se do outro lado levando o Rio inteiro. Quando avança o Leão, descem todos os que com Caranguejo começavam a se pôr, e também a Águia. Porém o que ajoelhado está já , mas seu joelho e pé esquerdos ainda não giram sob o Oceano ondulado. 140 141 142 143 144

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Do Zodíaco. Os arcos ocidental e oriental do horizonte. Daquelas constelações, pois cada constelação é acompanhada por algum sinal. Esta constelação inominada seria a do Ajoelhado, que de fato se coloca de cabeça para baixo. O Boieiro tomaria um grande tempo para se por (o equivalente à ascensão de quatro signos), pois ele se poria na posição perpendicular, enquanto que ele ascenderia rapidamente (cf. v. 608), pois ele estaria na posição horizontal.

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Levantam-se a cabeça da Hidra e a Lebre de olhos faiscantes, bem como Prócion e as patas dianteiras do ardente Cão. Não são poucas as que sob as extremidades da Terra atira a Virgem quando se levanta. Nesse momento, a Lira Cilênia145, o Golfinho e a bem acabada Flecha se põem. Com eles a Ave, do começo das asas146 até a cauda, e as extensões mais remotas do Rio se ensombrecem. Põe-se a cabeça do Cavalo, põe-se também o pescoço. Levanta-se em grande parte a Hidra até a Taça e, antes dela, o Cão ergue suas outras patas147, puxando atrás de si a popa da multiestrelada Argo; a nave singra a Terra, cortada ao meio na altura do mastro, assim que a Virgem inteira surge sobre o horizonte. E que as Garras, ao avançarem, ainda que sutilmente brilhantes, não passem sem menção, pois a grande constelação do Boieiro levanta-se de uma só vez, precipitada por Arcturo. Argo bem inteira já se detém elevada; Mas a Hidra, pois está dispersa muito ampla no firmamento, careceria de sua cauda148. As Garras fazem subir ........................................................................ 149 somente a perna direita, até a coxa, do sempre ajoelhado, sempre caído junto à Lira, quem quer que seja ele, o obscuro dentre as figuras celestes, pondo-se e do horizonte oposto se levantando frequentemente na mesma noite o contemplamos150. Deste somente a perna aparece com ambas as Garras,

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145 Cilene é um monte da Arcádia; por isso, “Cilênio” é um epíteto de Hermes. 146 O Cisne, ou Pássaro, começa a desaparecer no horizonte pela asa da esquerda, a asa ocidental. A constelação do Cisne representa o pássaro planando com as asas abertas sobre nossas cabeças. Assim, uma asa está ao oriente, a outra ao ocidente, e ao centro está o corpo com a cauda. No seu ocaso, primeiro desaparece uma asa, a seguir a cauda, restando apenas uma asa aparente. 147 As patas traseiras, já que as dianteiras foram mencionadas em 595. 148 A Hidra é uma linha longa e ondulada de estrelas. A parte dela que agora aparece é a curva entre a Taça, que surgiu com a Virgem (602-3), e a cauda, que vai aparecer com Escorpião (661). 149 O verso 613, omitido de todas as edições modernas, é reconhecido como uma interpolação tardia desde Buhle (1793). O verso mencionava a constelação do Serpentário; Hiparco (2.2.45), por sua vez, observou que esta constelação também surge com Libra (Garras), fato que Arato teria ignorado e que teria dado ensejo a correções posteriormente acrescidas ao texto. Veja-se Kidd (389) para uma discussão mais completa. 150 Por ser esta constelação vizinha do círculo polar, cumpre um trajeto curto sobre o horizonte. A este tipo de astro se chama amphiphanḗs (“duplamente visíveis”, Dorda, 117). Kidd (391) explica que esta observação não seria possível senão durante poucas semanas de inverno, quando o Ajoelhado está mais próximo ao Sol e as noites são suficientemente longas.

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mas ele mesmo, até a sua cabeça, voltado para uma outra direção151, ainda espera que se levantem Escorpião e o que estende o Arco152: de fato, estes carregam-no, o primeiro a cintura e tudo mais, já o Arco traz ao mesmo tempo sua mão esquerda e a cabeça. Assim, ele se move inteiramente em pedaços, em três partes, e à metade da Coroa e à ponta extrema da cauda do Centauro as Garras movem, quando sobem. Neste momento, atrás de sua cabeça já desaparecida põe-se o Cavalo153, e a extremidade da cauda da Ave, já ida antes, vai-lhe encarrilada154. E mergulha a cabeça de Andrômeda: o seu grande medo, a Baleia, ao opaco Noto impulsiona, mas Cefeu ele mesmo, na posição oposta em Bóreas, acena com a poderosa mão. Ela, voltada para trás, na direção da nadadeira caudal, até este ponto se põe, ao passo que Cefeu o faz com a cabeça, a mão e o ombro. As curvas do Rio, assim que avançar Escorpião, cairão no Oceano de fortes correntes, e ele, ao avançar, afugenta o grande Órion. Seja Ártemis benevolente! Afirmam os antigos que a arrastou pelo manto em Quios o forte Órion, quando todos os animais abatia com poderosa clava, buscando com a caça lá agraciar Enopíon155. Mas ela imediatamente invocou contra ele outro animal, depois de abrir as colinas ao meio em cada lado da ilha: um Escorpião, que então o feriu e matou, embora fosse gigantesco, mostrando-se maior, pois ofendera a própria Ártemis. É por isso que dizem: quando aparece no horizonte Escorpião, Órion foge ao redor dos confins da Terra. O quanto de Andrômeda e da Baleia havia restado não é ignorado enquanto aquele156 ainda se levanta, mas elas também

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151 O Ajoelhado, figura estelar que não recebe nome em Arato (daí o epíteto ‘o obscuro’, no v. 616), é também conhecido como a constelação de Hércules. Como essa constelação está com a “cabeça” virada em direção ao horizonte, surgem primeiro as estrelas que representam suas pernas, em conjunção com a constelação de Libra; a seguir, as que representam a parte intermediária do corpo, em conjunção com Escorpião; finalmente, as que representam a cabeça e a mão esquerda em conjunção com Sagitário, segundo diz Arato nos vv. 622-3. 152 Isto é, Sagitário. 153 A cabeça e o pescoço do Cavalo já haviam submergido quando a Virgem surgiu; cf. 601. 154 No v. 599, desapareceram a asa esquerda e a cauda da Ave. 155 Em algumas narrativas, Enópion é pai adotivo de Órion, e é sua mãe adotiva que é violentada. Na versão de Arato, a relação entre eles é amistosa e, para ganhar seu favor, Órion realiza suas caçadas que irritam Ártemis. Enópion (em grego Oinópion, “bebedor de vinho”) foi o introdutor do vinho na Ilha de Quios. 156 Escorpião. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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fogem completamente. Nesse momento, Cefeu com sua cintura roça a Terra, afundando no Oceano todas as estrelas da cabeça; mas as demais – pés, joelho, quadril – não lhe é permitido , pois as próprias Ursas o impedem. E se apressa atrás da imagem de sua filha ela mesma, a infeliz Cassiopeia; porém não mais com decoro suas partes aparecem fora do trono, os pés e os joelhos apontam para cima157, mas, igual a uma acrobata, ela mergulha de cabeça, com seu quinhão de sofrimentos, pois não havia ela de ser comparada a Dóris e Pánope158 sem maiores consequências. Assim ela é levada para o outro horizonte159. Outras, porém, que vêm de baixo, opõe o céu: o segundo ciclo da Coroa160 e a última parte da Hidra, e traz também do Centauro o corpo e a cabeça161, e a Fera que o Centauro tem na mão direita. Ali mesmo esperam pelo Arco que avança os pés anteriores do cavaleiro-fera. Com o Arco avançando, a espiral da Serpente e o corpo do Serpentário se levantam; as suas cabeças o próprio Escorpião traz quando surge, e ele ergue as mãos do Serpentário e a primeira dobra da multiestrelada Serpente. Do que está de joelhos (pois sempre ao inverso se levanta) nesse momento outras partes emergem da borda162, as pernas, a cintura, todo o peito e o ombro direito acompanhado da mão; a cabeça, porém, junto com a outra mão sobe com o Arco e com o Arqueiro aparecendo. Com estes, a Lira de Hermes e Cefeu até o peito cruzam o Oceano no oriente, quando todos os fulgores do grande Cão também se põem, e todas as partes de Órion descem,

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157 A cabeça de Cassiopeia é a sua estrela mais ao sul. Vista no hemisfério norte, a figura está de cabeça para baixo, e nessa posição ela gira de nordeste. “Eurípides e Sófocles e muitos outros disseram dela que se vangloriava que excedia as Nereidas em beleza. Por isso, foi posta entre as constelações sentada em uma cadeira. Devido à sua impiedade, na medida em que o céu gira, ela parece ser levada junto deitada sobre as costas” (Higino, 2.10). 158 Dóris, filha de Oceano e esposa de Nereu, é mãe das belas Nereidas com quem Cassiopeia rivalizava; essa disputa de beleza causou a desgraça de seu país (cf. Hesíodo, Teogonia 188-204; 240). Pánope é uma das cinquenta filhas de Nereu (Hesíodo, Teogonia 250). 159 O movimento aparente dos astros no céu, assim como o movimento do Sol, é determinado pelos movimentos de rotação da Terra em torno do Sol. Assim, as constelações “surgem” no leste e se põem no oeste. O “outro horizonte” mencionado é o oeste. 160 A primeira parte da Coroa surgiu com as Garras (Libra; v. 625). 161 Somente a ponta da cauda do Centauro havia aparecido com as Garras (v. 625); as pernas anteriores aparecerão com o Arco (Sagitário; v 664). 162 Oriental.

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e todas as partes da Lebre incessantemente perseguida. Mas, com o Cocheiro, nem os Cabritos nem a Cabra Olênia163 de imediato desaparecem: ao longo do seu extenso braço ainda brilham, e se distingue dos seus outros membros para provocar tempestades, quando estão em conjunção com o Sol. Porém sua a cabeça, o outro braço e a cintura, estes, Capricórnio ascendente depõe, mas toda metade inferior tem seu ocaso com o Arqueiro164. Já nem Perseu, nem os altos165 da Argo166 multiestrelada167 se demoram; Perseu mesmo, com exceção do joelho e do pé direito, oculta-se, bem como a nau, até o arco da popa. Esta tem seu ocaso ao despontar do Arqueiro, quando também Prócion oculta-se, porém elevam-se outras: a Ave, a Águia e as estrelas da voadora Flecha, bem como o posto sagrado168 do Altar austral. O Cavalo, quando reponta do centro do Aguadeiro , volve ao alto as patas e a cabeça. Do lado oposto, a Noite constelada puxa o Centauro pela cauda169, mas não consegue acomodar sua cabeça170, nem ainda os largos ombros171 e a couraça; da rutilante Hidra, porém, depõe o volteio do pescoço e toda a fronte. Grande parte dela permanece para trás; sem demora, porém, enquanto despontam os Peixes, a Noite engole a ela

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163 Cf. vv. 156-8 e 164. 164 Em outras palavras, observa-se no poente o ocaso do Cocheiro ao mesmo tempo em que surgem, no nascente, primeiro o Capricórnio e, logo após, o Sagitário. 165 No grego, ákra kórymba, a porção mais alta da nau. Arato provavelmente faz referência a Homero, que usa essa expressão uma única vez (Ilíada 9, 241). 166 A constelação da Argo aparecia na primavera para os observadores mediterrâneos, rente ao horizonte sul. Com o passar dos meses, a Argo deslocava-se gradualmente para oeste, tal como no mito dos argonautas, que navegavam rumo à Cólquida, no oeste. Hoje esse movimento não é mais visível do Mediterrâneo, pois a precessão dos equinócios deslocou as estrelas da Argo ainda mais para o sul, deixando muitas delas abaixo do horizonte. 167 A constelação da Argo é especialmente rica em estrelas porque contém um segmento da Via Láctea. 168 No grego, hieròs hédrē (sagrado posto ou assento). Trata-se, possivelmente, de uma imitação de Hesíodo (Os Trabalhos e os Dias 597 e 805), que utiliza hieròn aktḗn (sagrado cereal) na mesma posição métrica. 169 Na imagem que Arato nos pinta, a Noite está tentando arrastar o Centauro para baixo do horizonte, do lado do poente (isto é, do lado oposto ao do Cavalo, que está surgindo no horizonte leste). 170 Com efeito, algo cômico, a Noite não encontra espaço suficiente para acomodar debaixo da terra todo o Centauro. Arato está imitando um trecho de Homero (Ilíada 14, 33-34) que descreve a falta de espaço para acomodar as naus na praia. 171 No grego, euréas ómous (“largos ombros”), um epíteto puramente literário, recorrente em Homero na mesma posição métrica (Ilíada 3, 210; 3, 227; 16, 360; Odisseia 22, 488). Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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e ao Centauro mesmo, inteiros172. Vem com os Peixes aquele Peixe que jaz sob o obscuro Capricórnio173, mas não plenamente: uma parte pequena aguarda o signo seguinte. Bem assim os joelhos, os ombros e as tristes mãos174 de Andrômeda se estendem, divididos: uns adiantados, outros atrás175, quando acabam de sair do Oceano os dois Peixes176; estes puxam para fora177 as estrelas da destra, ao passo que as da canhota, puxa-as o Carneiro ao elevar-se. Enquanto ele repontar, tu verás no poente o Altar e, do outro lado178, a cabeça e os ombros de Perseu, que desponta. É duvidoso se o cinturão mesmo surge quando o Carneiro termina , ou se com Touro179, com o qual volve inteiro ao alto. Tampouco o Cocheiro se deixa ficar, enquanto Touro desponta, pois este vem bem unido àquele; todavia, não desponta inteiro, mas só em parte: os Gêmeos é que o trazem completo180. A palma do pé esquerdo e os Cabritos, com a Cabra, trazem consigo o Touro, ao despontarem no horizonte o dorso181 e a cauda do Baleia celestial. Em tal momento, Artofílace já submerge, com o primeiro dos quatro signos que o depõem, exceto pela mão canhota: ali, sob a Ursa Maior, ela cumpre seu curso.182

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172 Em outras palavras, os ocasos da Hidra e do Centauro apenas se completam quando os Peixes se levantam. 173 Isto é, a constelação do Peixe Austral, diversa da constelação zodiacal de Peixes. O Peixe Austral situa-se ao sul do Capricórnio na esfera celeste. 174 As mãos de Andrômeda evocam especial tristeza, pois estão acorrentadas para que seja sacrificada. 175 Arato refere-se às metades esquerda e direita do corpo de Andrômeda. Uma das metades surge antes da outra no horizonte. 176 A constelação de Andrômeda é adjacente aos Peixes, pelo norte destes. 177 Isto é, puxam as estrelas para cima da linha do horizonte, fazendo-as surgir. 178 No oriente. 179 A constelação de Perseu é contígua, pelo norte, às constelações zodiacais do Carneiro e do Touro. Por essa razão, durante o intervalo de tempo em que se levantam no horizonte, sucessivamente, o Carneiro e o Touro, também Perseu está surgindo. A dúvida levantada por Arato é se o cinturão de Perseu surge quando o Carneiro está terminando de surgir, ou se isso ocorre alguns minutos mais tarde, já com a ascensão do Touro. 180 A constelação do Cocheiro, ou Auriga, é contígua, pelo norte, às constelações do Touro e dos Gêmeos. Seu surgimento no horizonte se dá de modo análogo à de Perseu em relação às do Carneiro e do Touro. 181 No grego, lophiḗ, que também pode significar juba, crina ou outra pelagem dorsal, ou ainda a nadadeira dorsal de animais aquáticos. 182 A mão canhota é a única parte do Boieiro que fica perto o bastante do polo norte celeste para

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Sirvam os dois pés do Serpentário, submergindo até os joelhos, de sinal dos Gêmeos ascendentes do lado oposto. Nesse momento, nada mais da Baleia está varando nenhum dos horizontes: poderás vê-la inteira agora. Já, também, a elevar-se do mar, o primeiro meandro do Rio183, em noite limpa, um navegante poderia observar, enquanto aguarda o próprio Órion, desejoso184 de que lhe sinalize a hora da noite ou a duração da viagem; pois em tudo os deuses dizem muitas coisas aos homens.185 Não vês?186 Sempre que a Lua aparece com suas aspas, pequena, junto ao poente, ela ensina sobre o mês que avulta187; quando pela primeira vez esparrama claridade desde si, a ponto de lançar sombra, revela ter atingido o quarto dia; oito, à meia face, e o meio do mês com a fronte plena188. Gradativamente, conforme vai inclinando o semblante, ela informa qual alvorada do mês reponta no horizonte189. Enfim, para declarar os limites das noites190, bastam aqueles

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nunca sofrer ocaso, permanecendo sempre acima do horizonte, do ponto de vista de observadores mediterrâneos. A constelação do Rio, ou Erídano, é adjacente à da Baleia (ou Monstro Marinho). Arato constrói a oração (ei hoì pothi ... angeílleien) com uma expressão de desejo (“oxalá ... lhe sinalizasse!”). Esta é a única ocasião em que Arato emprega pothi e, ao fazê-lo, parece imitar Homero, que emprega por vezes ai ké pothi Zeùs dṓsēi; “oxalá Zeus conceda”; cf. Ilíada 1, 128129; Odisseia 1, 379; e também Ilíada 6, 526-527, com dṓēi em vez de dṓsēi. Arato encerra a seção sobre as constelações com a reafirmação de sua mensagem estoica. Os versos seguintes (733-757) tratam do mês e do ano. Há uma antiga tradição, incorreta, que coloca aqui a transição para os prognósticos meteorológicos. Na realidade Arato só passa à parte meteorológica do poema a partir do v. 758; veja-se Kidd (425) para uma explicação mais completa. Na opinião de Kidd (426), esta expressão configura uma transição abrupta e dramática que marca uma quebra com o “tédio” da longa seção anterior. A expressão é recorrente em Homero, no qual ocorre na mesma posição de início de verso e em contextos de discursos emotivos (cf. Ilíada 7, 448; 15, 555; 21, 108; Odisseia 17, 545). Arato descreve as fases da Lua e sua relação com os dias do mês lunar. Para os gregos, um novo mês (ou uma nova lua) começava logo depois da conjunção da Lua com o Sol, no momento em que a primeira porção da face iluminada da Lua se fizesse visível da Terra. Nessa ocasião, a Lua é avistada no poente como um arco muito delgado, logo após o por do Sol. Neste verso, Arato inspira-se claramente em Hesíodo (Os Trabalhos e os Dias 772-773). Arato refere-se ao quarto crescente e à Lua cheia. Imagina-se a Lua como uma cabeça: a face é o lado luminoso, ao passo que a nuca seria o lado escuro. Essa imagem remonta a Parmênides (fr. 15 DK), que descreve como a Lua sempre “encara” o Sol. Em outras palavras, o grau de iluminação do disco lunar revela o dia do mês. O limite da noite é o ponto de seu término, ao nascer do dia. Durante a noite, apenas observando o céu, pode-se prever quanto tempo falta para o novo dia. Durante o ano, o Sol percorre o círculo do zodíaco, ocupando sucessivamente suas constelações. Para saber em que ponto do zodíaco o Sol está a qualquer momento, basta saber a época do ano. Portanto, o nascer do Sol coincide com o nascer da constelação zodiacal ora ocupada por ele. Durante a noite, observando as constelações visíveis no céu, pode-se facilmente estimar a posição abaixo do horizonte daquela constelação que trará o Sol, e por conseguinte o tempo que falta para seu

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doze signos. Quanto aos limites que se colocam pelo grande ano191, a estação de arar os campos e a estação de plantar, eles se acham em toda parte manifestos, por obra de Zeus192. Um homem em sua nau também pode precaver-se contra o tormentoso193 inverno observando Arcturo194, estrela terrível, ou alguma das que o Oceano exala195, quer ao clarear do dia, quer à primeira hora da noite. Pois deveras, ao longo do ano, o Sol galga-as todas196, arando grande faixa, e vai batendo uma de cada vez, primeiro ao subir, de novo mais tarde ao mergulhar: assim, cada estrela contempla uma alvorada diversa197. Tu também sabes disso, pois já se concelebram os dezenove circuitos do Sol resplandecente198, e tudo que a noite faz girar, desde o cinturão até os limites de Órion e seu bravo Cão;

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surgimento. 191 Invertendo o procedimento descrito na nota acima, pode-se determinar a época do ano em que se está: observam-se as estrelas que se sobem ao clarear do dia. Esse dado nos informa qual é o trecho do zodíaco que sobe com o Sol, isto é, a posição do Sol no zodíaco. Com essa informação, pode-se deduzir precisamente onde, dentro do ciclo do ano, situa-se o momento atual. Neste verso, Arato imita Hesíodo (Teogonia 799). O ano é adjetivado como “grande” por comparação com a noite, muito mais breve. 192 Arato recapitula os versos iniciais do poema, em especial a mensagem estoica dos vv. 10-13. 193 Arato aplica o adjetivo épico polýklustos (tempestuoso, tormentoso) a kheimṓn, palavra que tanto pode designar o inverno como uma tempestade. Em Homero (Odisseia 4, 354; 6, 204; 19, 277) e Hesíodo (Teogonia 189), polýklustos qualifica normalmente o mar. 194 Arato refere-se ao uso de Arcturo para demarcar um ponto no calendário. Provavelmente tem em mente a data em que Arcturo se levanta ao clarear do dia, pois essa efeméride assinalava o equinócio de outono e o término da época de tempo bom para navegação. Também é possível que Arato tivesse em mente a data em que Arcturo se põe ao entardecer, no final de outubro, pouco antes do início do inverno. 195 Com arýontai, Arato faz possível referência a Hesíodo (Os Trabalhos e os Dias 550). Este verbo se aplica principalmente a líquidos que são retirados de um recipiente. Hesíodo, na passagem, descreve a neblina da madrugada como umidade que os rios exalam; Arato, por sua vez, transfere essa noção às estrelas que se levantam do oceano. 196 Referência ao movimento anual do Sol ao longo do zodíaco. Arato emprega ameíbetai verbo que, nesta posição do verso, remete ao trecho de Homero (Ilíada 15, 683-684) em que um ginete exímio, em meio a vários cavalos em movimento, vai saltando de um a outro. Com isso, a descrição do movimento anual do Sol ganha contornos heroicos. A referência a Homero se confirma no verso seguinte com állote d’ állōi (cada vez, uma, i.e. uma estrela de cada vez). 197 Em outras palavras, para cada estrela há um momento específico do ano em que ela surge ao clarear do dia. 198 Referência ao ciclo de 19 anos atribuído a Méton, que harmonizava os calendários lunar e solar. O ano solar não corresponde a um número inteiro de meses lunares, de modo que a cada ano os meses lunares se repetem em alturas diferentes do ano. O problema que se colocava, então, era o de estabelecer um período de tempo que contivesse, exatamente, um número inteiro tanto de anos como de meses lunares. Não é possível dar uma solução exata a esse problema, mas o ciclo de Méton constitui uma boa aproximação. Esse ciclo consta de 235 meses, dos quais sete são intercalares, dispostos ao longo de 19 anos.

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e as estrelas que se veem na morada de Posêidon199, ou na do próprio Zeus200, dão indícios exatos aos homens201. Aplica-te a estes estudos. Se porventura te confiares a um navio, trata de descobrir os sinais que auguram ventos de tempestade ou um furacão no mar. O esforço é pequeno, e infinitas vantagens decorrem da sabença202 para o homem sempre precavido. Primeiro, ele mesmo fica mais a salvo; ademais, ao advertir seu próximo, auxilia-o quando uma tormenta se avizinha. Dá-se com frequência que, em noite de calmaria, alguém busca proteger sua nau, temeroso do mar ao alvorecer: o mal irrompe por vezes no terceiro dia, por vezes no quinto e por vezes, ainda, advém inesperado. Pois os sinais todos de Zeus nós humanos ainda não conhecemos, mas muitos ainda permanecem ocultos, os quais, se Zeus desejar, os ofertará de pronto: ele sem dúvida manifestamente beneficia a raça dos homens, visível que está em todos os lugares, revelando seus sinais em toda parte. Alguns desses te anunciará a Lua, por exemplo, quando dividida pela metade de qualquer dos lados de sua plenitude, ou quando novamente plena; e outros o Sol, ao levantar-se ou ao aconselhar no limiar da noite; E haverá para ti outros sinais mais, de origens também outras, para serem considerados durante a noite ou durante o dia. Observa primeiro a Lua, ambos os seus cornos203. Ora, pois, o anoitecer a pinta com luz variegada, ora formas diferentes adornam com cornos204 a Lua logo que ela está crescendo – algumas formas mostram-se no terceiro dia, outras no quarto: a partir delas tu aprenderias sobre o mês que se descortina. Delicada205 e imaculada ao terceiro dia estando,

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199 No oceano, isto é, as estrelas abaixo do horizonte. 200 No céu, acima do horizonte. 201 Aqui se encerra a seção sobre o mês e o ano. A próxima seção do poema trata de sinais meteorológicos. 202 Trata-se da epiphrosýnē. No contexto dos perigos do mar, a palavra aparece em Homero (Odisseia 5, 437) para denotar uma ideia incutida por Atena na mente Odisseu. Neste verso de Arato, é uma habilidade a ser adquirida. 203 Os cornos são as pontas da lua em suas fases crescente e minguante. 204 Traduz o verbo raro kerân, literalmente “formar cornos”. É um modo ousado de descrever as variações nas formas das pontas da Lua crescente. 205 “Delicada”, neste verso e no seguinte, traduz leptḗ, uma palavra que expressa um conceito central introduzido pela teoria poética de Calímaco na tradição literária (leptótēs), ao qual se opõe a “grandiosidade” (semnótēs). Note-se ainda que os vv. 783-787 formam um acróstico: a palavra inicial de 783 é leptḗ, que é também a palavra formada pelas iniciais dos versos seguintes. O acróstico foi notado inicialmente por J.M. Jacques, “Sur um acrostiche d’Aratos (Phén. 783-787)”, Revue d’Études Anciennes, 62, 1960, 48-61. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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bonança haverá; delicada, mas de acentuado rubor, é arauto de ventos; por fim, mais espessa e com os cornos menos nítidos no quarto dia, exibindo desde o terceiro luz evanescente, perde a nitidez por obra do Noto ou de chuva que se avizinha. Entretanto, se, ao trazer o terceiro dia, a partir de ambos os cornos, ela não se inclinar em assentimento nem tampouco brilhar recostando-se206, mas seus cornos se curvarem simetricamente em cada lado207, ventos ocidentais chegarão após essa noite. Mas se no quarto dia ela ainda se mantiver assim, simétrica, indicará – sem sombra e dúvida208 – uma tempestade iminente; mas se o mais elevado dos seus cornos se curva bem, espera vento boreal; quando se recosta, porém, vento nócio. Entretanto, se o contorno de um círculo inteiro209 envolvê-la no terceiro dia, tingindo-a toda de rubro, faz-se então a Lua um arauto tempestuoso: e tão maior será a tempestade quanto mais flamejante for o seu rubor. Observa-a na plenitude e também dividida em duas partes210, tanto quando crescente, quanto quando torna a ter cornos. E julga por sua cor para cada mês: inteiramente límpida, poderia julgar haver bonança, inteiramente211 enrubescida, porém, crê em caminhos de ventos212,

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206 Os verbos epineustázō e hyptiáō significam, respectivamente, “inclinar-se para frente” e “inclinar-se para trás”, sendo dois hápax na literatura grega que só ocorrem nos versos 789 e 795 do poema de Arato. Homero emprega epineúō para descrever o movimento de assentimento feito com a cabeça, uso que não é distante da descrição metafórica da Lua dotada de cornos empregada por Arato; cf. Kidd, 449-450. 207 Kidd (449) enfatiza a dificuldade dos tradutores com esse verso: a oração orthaì hekáterthe perignámptōsi keraîai, literalmente “os cornos curvam-se retos”, descreve a curvatura das duas pontas da Lua crescente quando estão simétricas, isto é, quando não há maior projeção de uma das duas pontas; nessa posição, as duas pontas alinham-se de modo perpendicular ao horizonte (orthaí). 208 Kidd (449-450) realça o caráter marcadamente afirmativo que resulta da junção das partículas hē̂ e te. Para as dificuldades dessa junção, ver Denniston, Greek Particles, Oxford, OUP, 1950, 532. 209 Kidd (450-451) menciona a tendência predominante, dentre as interpretações do que seria o círculo mencionado nesse verso, de enxergar ali a referência aos halos. O autor questiona essa interpretação, citando o fato de que Arato trata dos halos que circundam a Lua nos versos seguintes (811-817), nos quais se refere aos mesmos por seu nome específico (alōaí), de modo que seria improvável que antecipasse o tema alguns versos antes pelo emprego de um nome tão genérico quanto kýklos. Sua explicação para o círculo é que se trata do próprio disco lunar durante o fenômeno chamado luz cinérea: ele é causado pelo reflexo da luz solar sobre a Lua, que deixa visível a parte do disco que está escura durante a Lua crescente. 210 Isto é, nas fases crescente e minguante, conforme o verso seguinte, que apenas alude ao quarto minguante ao contrapor a fase crescente àquela em que a lua volta a desenvolver cornos. 211 Parece haver uma espécie de acróstico entre os vv. 803 e 806. A primeira palavra do v. 803 é pánta; na sequência, as letras iniciais formam pâsa. Note-se ainda que o v. 802 se inicia com o advérbio pántē. Veja-se W. Levitan, “Plexed artistry: Aratean acrostics”, Glyph, 5, 1979, 55–68. 212 Kidd (452-453) destaca que a direção dos ventos não é um dado relevante nesse verso, mas apenas uma elaboração poética do seu advento.

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e enegrecendo aqui e acolá, espera chuva. Todavia, os sinais não se apresentam todos a ti todos os dias: mas aqueles que aparecem no terceiro e no quarto dias valem até a meia-lua, e os da meia-lua valem até que ela alcance a plenitude, e outros valem desde a plenitude até o quarto minguante; e se segue dos quatro dias do mês que vai até o terceiro dia do que se descortina. Se halos a circundarem por completo, sejam três ou dois que a circulem, ou mesmo um único: caso seja um único, espera vento ou calmaria, com cindido vento, com evanescente calmaria; sendo dois a circundar a Lua, é sinal de tempestade, e tempestade intensa trará um halo triplo, e ainda mais se estiver negro, e ainda maior quando cindido. Eis, então, as lições que aprenderias da Lua a respeito do mês. Preocupa-te também com o Sol que avança de um lado para o outro213, pois é no Sol que há sinais mais verossímeis, tanto quando mergulha, quanto quando levanta-se acima do horizonte. Que não esteja colorido seu disco, quando ele raiar pela primeira vez sobre o solo, quando tiveres tu anseio por um dia de bonança! Nem porte marca alguma, mas mostre-se todo límpido. E se a hora de dar ao gado descanso214 o encontra igualmente imaculado215, e ele sem nuvem se põe ao anoitecer com brilho gentil, com o advento do alvorecer ainda estará calmo; não será assim, porém, quando parecer côncavo216 ao erguer-se, tampouco quando alguns de seus raios apontem para Noto e outros para Bóreas, em dispersão217 fracionada desde o meio cintilante: pode ser que atravesse chuva forte ou vento. Mas observa, se os raios do Sol te permitirem, o próprio Sol, pois essa é de fato a melhor observação, para ver se o cobre algum rubor – como com frequência,

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213 Isto é, do leste para o oeste. 214 Traduz boulýsios hṓrē, literalmente “a hora de soltar o boi”. O adjetivo boulýsios é cunhado por Arato e suas duas únicas ocorrências na literatura grega são aqui e no verso 1119. 215 Note-se o paralelo meteorológico e poético entre o Sol “imaculado” (katharón, 825) e a Lua “imaculada” (katharḗ, 783) como sinais de tempo bom. Esse paralelismo é representado ritmicamente também, pois os adjetivos ocupam nos dois versos a mesma posição. 216 Kidd (462) explica a concavidade do disco solar como a impressão do observador de que há um buraco no núcleo do disco, quando ele enxerga ali uma mancha escura. O uso do particípio eeidómenos (“aparentando”) indica que se trata de uma ilusão de ótica. 217 A dispersão fracionada dos raios solares, isto é, restrita a direções específicas (sul e norte, por exemplo, como no verso anterior), decorre da presença de nuvens que obscurecem a dispersão dos raios por todo o espectro das direções desde o núcleo. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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quando vêm as nuvens, ele se enrubesce aqui e ali – ou se ele se torna escurecido em algum ponto: que este seja para ti sinal de chuva iminente, e rubor inteiro de vento. E caso esteja tingido simultaneamente das duas cores, ele portará chuva e avançará com ventos. E se, quando ele se levanta ou no momento em que se põe, os seus raios se congregarem e se juntarem em um único ponto218, ou ainda, quando cercado de nuvens, for da noite para o alvorecer ou, ao contrário, do alvorecer para a noite, em tais dias o Sol correrá com trombas d’água. E jamais – na ocasião em que lhe anteceda219 uma pequena nuvem emergente, depois da qual ele próprio apareça carente de raios – desprezes tal alerta de chuva! Ademais, quando um grande círculo de nuvens220 alargar-se221 ao redor dele, como se estivesse derretendo, quando ele primeiramente nasce, para apequenar-se em seguida, passará em bonança, e assim também mesmo quando no inverno ele pálido se puser. Mas, havendo chuva diurna, observa com atenção depois as nuvens, voltado para a direção do Sol poente. Se uma nuvem de aspecto escuro ensombrecer o Sol, e os raios dele ao redor dela aqui e ali se dividirem, girando no meio222, então ainda precisarás de abrigo na aurora. Mas se ele, sem nuvens, mergulhar na correnteza ocidental, e se as nuvens, quando ele se abaixa e depois de ido, próximas se mantêm vermelhas, não há necessidade de muito

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218 Kidd (466-467) sugere que a concentração dos raios solares em um ponto específico não se dá pela convergência dos raios em direção a algum ponto, mas porque ocorre que seja esse o único ponto que o observador consegue ver do Sol em um momento no qual ele está encoberto por muitas nuvens. 219 A anterioridade sugerida no verso não é espacial – a nuvem não está “na frente” do sol –, mas temporal e refere-se à percepção de quem observa o Sol nascer: a nuvem, no caso, lhe aparece antes do Sol prestes a nascer (Kidd, 467). 220 O verso, ao mencionar um “grande círculo” (polỳs kýklos), não é explícito em afirmar que ele é constituído de nuvens. É a contraposição entre o adjetivo polýs, que qualifica o círculo, e o adjetivo olígē, que no v. 845 qualifica a nuvem, que evidencia a quase identidade de referência dos adjetivos. 221 Há uma imagem interessante no verso: a expansão do círculo de nuvens é simultânea ao desfazer-se do próprio círculo, pois as nuvens passam a se afastar umas das outras, o que alarga o círculo, num primeiro momento, mas acaba por desmanchá-lo em seguida. Kidd (468) sugere que o uso do subjuntivo eurýnētai, com quatro sílabas longas, transmite o caráter vagaroso desse processo, quando o verso é recitado. 222 Não é imediatamente claro o que gira neste verso; visto que os raios estariam centralizados, e as nuvens não circundam o Sol nem fazem movimentos circulares, é mais fácil compreender a imagem como referindo-se ao movimento do céu (estrelas) em direção ao oeste.

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temeres a chuva no dia seguinte, nem durante a noite; mas a há quando os raios do Sol, parecendo desaparecer, de modo repentino se estendem a partir do céu, assim como enfraquecem quando a Lua os ensombrece colocando-se em linha reta entre a Terra e o Sol223. E quando, com detendo-se para brilhar antes da aurora, surgem nuvens avermelhadas aqui e lá, não ficam os campos sem água nesse dia. Do mesmo modo, estando ainda no limite quando seus raios estendidos se mostram sombrios antes da aurora, não deixes de notar que água ou vento hão de se precipitar. Mas se forem mais para a escuridão aqueles raios, mais chuva indicarão: mas, se uma breve escuridão rodear os raios, tal como nuvens amenas sobretudo muitas vezes carregam, então se escurecerão com a chegada do vento. Nem halos escuros próximos do Sol bom tempo: mais perto e escurecendo mais, são mais anunciadores de tempestade, e se houver dois, mais violentas serão. E observa, quando o Sol está subindo ou se pondo, se as nuvens dele que são chamadas parélias224 estão vermelhas no Noto ou em Bóreas ou dos dois lados, e não faças essa observação assim vagamente. Pois, quando aquelas nuvens225 detêm o Sol entre si, dos dois lados e ao mesmo tempo, próximas do Oceano, não há demora da tempestade vindoura de Zeus; contudo, se uma só em Bóreas se avermelhar, trará brisas de Bóreas, e do Noto se no Noto, ou ainda gotas de chuva podem cair. E presta mais atenção nesses sinais no Héspero: pois no Héspero juntas sinalizam sempre com constância. Observa também a Manjedoura226: semelhante a uma pequena névoa, para Bóreas conduz sob a proteção do Caranguejo227. E ao redor dela se movem duas estrelas brilhando

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223 Isto é, num eclipse solar. 224 Trata-se de um fenômeno meteorológico de tipo luminoso que consiste em um círculo no qual se podem observar várias imagens do Sol refletidas nas nuvens. 225 As parélias. 226 A Manjedoura é um aglomerado de estrelas visível como uma pequena mancha nebulosa localizada no meio da constelação de Câncer. 227 Seguimos a interpretação que Kidd (481) dá a este verso, cujo sentido é muito disputado. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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fracas, nem muito afastadas, nem muito próximas, mas quase tão longe quanto o comprimento de um côvado: uma vem de Bóreas, outra avança no Noto. Elas são chamadas Asnos228, e no meio está a Manjedoura. E se de repente, quando Zeus é bonança229 inteiramente, ela torna-se oculta por completo, e as estrelas que vão de ambos os lados parecem bem próximas umas das outras230, então os campos são banhados por uma não pequena tempestade. Mas se escurecer, e ao mesmo tempo forem aparentes as duas estrelas, assinalarão chuva. Mas se no Bóreas da Manjedoura brilhar fracamente, obscurecendo-se sutilmente, e o Asno em Noto estiver brilhante, espera o vento de Noto; e de Bóreas deves sem dúvida esperar quando a que se obscurece e a que brilha são ao contrário231. E sejam para ti sinal de vento o mar ondulando e as praias ressoando longe, e as falésias ecoando quando houver bonança, e os altos cimos das montanhas bradando. E quando uma garça com voo desordenado para terra seca do mar vier gazeando muitos gritos, ela se moverá do vento que se agita sobre o mar. E, às vezes, quando também petréis voarem na bonança, é que se movem em bando contra ventos iminentes. E muitas vezes patos selvagens ou gaivotas que mergulham no mar batem na terra com as asas232, ou uma nuvem se alonga nos cumes de uma montanha. E também as penugens, velhice do branco cardo233, já foram sinal de vento, quando em grande quantidade na superfície do mar mudo234 flutuavam, algumas antes, outras depois. E de onde vêm no verão os trovões e os relâmpagos, de lá observa a chegada do vento.

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228 Essas duas estrelinhas da constelação de Câncer são também conhecidas como os olhos do Caranguejo. 229 Isto é, o céu. 230 O desaparecimento da Manjedoura cria a ilusão de que as duas estrelas estão mais próximas. 231 Quando o Asno do sul está opaco e do norte está brilhante. 232 O comportamento não natural das aves marinhas é sinal de mau tempo. 233 O cardo é o nome genérico de uma espécie de plantas que produz uma de penugem branca assemelhada às cãs de um ancião. 234 Ou seja, mar calmo com poucas ondas.

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E durante a noite escura, quando as estrelas se precipitarem235 frequentemente, e atrás delas as caudas se tornarem esbranquiçadas236, espera vento vindo no mesmo caminho que elas; e se outras se lançarem na direção contrária, e outras de outras partes, então te previne contra ventos de todos os lados, pois são máxime indiscerníveis, e sopram de modo indiscernível para os homens emitirem juízos . Porém, quando vêm relâmpagos de Euro e de Noto, e ora de Zéfiro, ora por Bóreas, é então que um nauta em alto mar teme pegá-lo de um lado o mar e de outro a água de Zeus237: pois com a água vêm numerosos raios por toda a parte. Amiúde, quando as chuvas se aproximam, primeiro surgem nuvens muito semelhantes à lã238, ou um arco-íris duplo cinge o céu vasto239, ou, às vezes, também uma estrela tem halo escurecido. Amiúde, aves lacustres ou marinhas240 banham-se avidamente, mergulhando nas águas, ou em torno do lago andorinhas adejam por muito tempo batendo a barriga na água, que começa a ondear, ou aquelas mui infelizes progênies, alimento de cobras d’água, pais de girinos241, da água mesmo bradam, ou solitário sapo242 coaxa ao romper da aurora, ou, talvez, um corvo gralhador se enfie sob a onda que chega na orla saliente ou afunde-se em um rio da cabeça até a ponta dos ombros, ou talvez até mergulhe por completo,

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235 Estrelas cadentes (meteoros). 236 Trata-se do efeito que causam os cometas ou os meteoritos incandescentes na parte alta da atmosfera. 237 A “água de Zeus” é a chuva. Assim, o contraste fica nítido e a imagem se revela poderosa: o solitário marinheiro em alto mar teme ser encoberto pela fúria de águas vindas de todas as direções: o mar turbulento sob ele e a “água de Zeus”, a chuva, que vem de cima. 238 Arato refere-se aos cirros, nuvens muito finas que se formam a grandes altitudes, prenunciando a chuva.. 239 O duplo arco-íris, observa Kidd (493), é um sinal de chuva muito antigo, já referido em poemas homéricos. Trata-se da formação de um segundo arco-íris, mais fraco e com as cores invertidas, fora do primeiro. 240 Do v. 942 ao 954, Arato se detém nos sinais de chuva trazidos por animais marinhos ou que vivem próximos às águas. 241 As rãs. 242 Ololygṓn significa, literalmente, “aquele que emite um grito agudo”. É geralmente usado para designar a voz de alguns animais, e está especialmente associado ao grito de acasalamento dos sapos. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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ou dê voltas perto da água, com rouco crocitar. E os bois, logo antes de cair a água celeste243, erguem os olhos para o céu e sentem o cheiro do ar; de suas ocas côncavas, as formigas trazem todos os seus ovos rapidamente à superfície244; são vistas centopeias rastejando em grande número pelas paredes e vermes vagando, aqueles a que os homens chamam entranhas da terra negra. Também as aves domésticas, que nasceram do galo, livram-se bem dos piolhos e cacarejam com alta voz como ressoa gotejante água seguidamente caindo. Às vezes proles de corvos e greis de gralhas também são sinais da água que vêm de junto de Zeus245, quando surgem em bando e guincham como gaviões. Talvez os corvos também imitem com a voz246 as gotas celestiais, quando a água começa a cair, ou às vezes, depois de crocitar duas vezes com voz grave, estrilem alto agitando espessas247 asas. Também os patos da casa e as gralhas sob o teto vão à cimalha e agitam as asas, ou a garça se lança sobre a onda, com grito estrídulo. Nenhum desses sinais seja descartável a quem quer se precaver da chuva, nem se mais do que outrora moscas morderem e desejarem sangue248, ou se bolores se juntarem em volta do pavio da lâmpada na noite úmida; nem se durante o inverno ora a luz das lâmpadas se elevar em ordem249, ora as chamas chisparem como ligeiras

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243 A partir deste verso (955) e até o verso 972, o poeta tratará de animais da terra. 244 Dorda (134) observa que os escólios antigos já traziam a explicação desta passagem: enquanto a temperatura externa cai, a temperatura sob a terra aumenta, o que faz com que as formigas levem seus ovos para fora. 245 O original conserva uma ambiguidade que não pode ser mantida na tradução: “de junto de Zeus” pode ser um adjunto adnominal tanto de “sinais” (os sinais são enviados por Zeus) como de “água” (a chuva que cai do céu é obra de Zeus; veja-se o verso 936). 246 Kidd (509) observa o uso reiterado de phōnḗ (“voz”) nesta passagem (nos vv. 961, 967 e 968) e sugere que o emprego é significativo: Arato pode estar dizendo aqui que as aves expressam algum tipo de som articulado. 247 “Asas cobertas de penas”: o adjetivo grego pyknós também pode expressar o bater de asas veloz e contínuo. 248 O poeta introduz, com uma variação na forma de negativas, novos sinais de chuva, sobretudo domésticos. A enumeração se estende até o v. 987. 249 Em ordem, ou seja, em movimento regular.

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bolhas250, ou na própria lâmpada cintilarem raios; nem se, no verão, com céu muito claro251, aves insulares se moverem em rápida sucessão. E não te esqueças da panela ou trípode que vai sobre o fogo, quando muitas centelhas houver ao redor delas, nem quando, na cinza do carvão em brasas, brilharem em volta pontos à semelhança de grãos de milho, mas considera esses sinais, se estiveres à espera da chuva. Se perto do sopé de alta montanha nuvem fraca se estender, e os cimos aparecerem claros252, então sem dúvida estarás sob bom tempo. Bom tempo também terás quando na superfície do mar aparecer uma nuvem baixa e ela não alcançar as alturas, mas ficar compactada ali mesmo como se fosse um escolho. Antes cogita as tempestades, se tiveres bom tempo, e os dias calmos se tiveres tempestade. Deves observar muito atento a Manjedoura253, que Caranguejo circunvolve, logo que se clareia da névoa toda embaixo: ela está clara quando fenece a tempestade. E que as serenas chamas das lâmpadas e a noturna coruja cantando serenamente254 te sejam sinais do extinguir da tempestade, e também a gralha imitadora255 no fim da tarde serenamente variando o seu grasnado, e, de um lado256, solitários corvos fazendo ermo clamor

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250 Os escólios antigos a Arato explicam o símile: “quando no inverno bolores se juntarem ao redor da lâmpada acesa, as chamas se erguem com regularidade e conforme a sua natureza. Então, mudam de direção, e surgem bolhas ligeiras sobre elas, e delas se desprendem faíscas” (ὅταν οὖν περὶ ἁπτομένῳ λύχνῳ μύκητες συνιστῶνται χειμῶνος ὥρᾳ, αἱ τε φλόγες τεταγμένως καὶ λεπταὶ πομφόλυγες περὶ αὐτὰς γίνωνται καὶ σπινθῆρες ἀπορρέωσι). 251 No céu de verão sem nuvens. 252 Aqui se dá a transição do argumento, que vai até o v. 1012. O poeta deixa de falar dos sinais da chuva para dizer, brevemente, os sinais de bom tempo. Assim como a menção aos cirros, nuvens em grandes altitudes (v. 939) iniciara a seção que indica os sinais de chuva, as nuvens baixas – como se estivessem perto do sopé das montanhas – assinalam a chegada de bom tempo. Vejam-se também os vv. 991-993. 253 Como a Manjedoura é uma região particularmente nebulosa da constelação de Câncer, o fato de estar plenamente visível, “clareando-se da névoa abaixo” (v. 997) é um sinal distintivo de bom tempo. 254 A repetição de “sereno/serenamente” (vv. 999, 1000 e 1002) é efetiva e contribui para o sentido: a calmaria do tempo vindouro se reflete em seus sinais; além disso, as repetições contribuem para um senso de monotonia que corresponde ao clima que o poeta quer descrever. 255 No original, polýphōna, “de muitas vozes”. Possivelmente uma referência à capacidade desta ave de imitar a voz humana. 256 A descrição deste sinal de bom tempo é dupla: de um lado, os corvos solitários (1003-1004); de outro, em bando (1005-1006). Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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duas vezes, mas em seguida um ininterrupto intenso estrídulo, e, de outro, quando muitos, em bando, pensam no repouso257, cheios de voz: poder-se-ia julgar que estão contentes, de tal modo fazem brados iguais a límpidos sons, muitas vezes em volta da folhagem das árvores, outras sobre ela, onde dormem e abanam as asas ao retornarem. E talvez os grous, antes da suave calmaria, sem se desviar possam percorrer um só caminho todos juntos, e se mover no bom tempo sem voltar para trás258. Quando o brilho puro das estrelas esmaecer259, sem que nuvens serradas se interponham, sem que outra treva260 transpasse, nem a Lua, mas elas assim de súbito débeis se moverem, que este sinal já não te aponte calmaria, mas tempestade espera; e também quando restarem umas nuvens no mesmo lugar, e outras vierem sobre elas, umas ultrapassando-as, outras por detrás. E gansos apressurando-se ruidosamente por seu repasto são grande sinal de tempestade, assim como o corvo nove-vezes-velho261 cantando à noite, e as gralhas gritando tarde, e o tentilhão na aurora a chilrear, e todos os pássaros fugindo do pélago, e carriça ou pintarroxo mergulhando para côncava gruta, e bandos de gralhas vindo da campina fértil rumo ao ninho tardio262. E as zumbidoras abelhas, quando grande tempestade avança, já não farão a coleta da cera longe , mas ali mesmo se ocuparão do mel e dos seus trabalhos; e no alto as grandes filas de grous não se estendem por caminhos retos, mas em círculos vão retornando. E, quando na calmaria teias de aranha se mexerem sutilmente e as chamas do lampião tremerem levemente,

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257 Neste passo (vv. 1005-1006) Arato parece dotar as aves de características humanas, para fins de expressividade. 258 O escoliasta da passagem informa que os grous lançam-se em voos prolongados em dias calmos, mas, quando se deparam com sinais de mau tempo, desviam-se de suas rotas, invertendo o voo. 259 Arato passa aos sinais de tempestade: primeiramente os sinais celestes (estrelas e nuvens), em seguida sinais dados pelo comportamento dos pássaros e dos insetos. 260 Uso notável da palavra zóphos, que em Homero designa frequentemente as trevas do Hades. 261 É antiga a tradição de que o corvo vive muitas gerações humanas; cf. Kidd (532) para as referências. 262 Isto é, ao abrigo que protegerá durante a noite.

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ou fogo e lampiões com esforço se acendem, mesmo em bom tempo, não confies , que será tempestuoso. Por que digo os quantos sinais estão à disposição dos homens? Ora, mesmo pelo humilde borralho que endurece onde está poderias prever uma nevasca, e neve pelo lampião, quando por completo sinais semelhantes a grãos de milho em círculo se formarem perto da pirilampejante mecha, e granizo pelo carvão vivo, quando brilhante se vê o próprio carvão e no centro dele uma como que leve nuvem aparece dentro do fogo candente. Por sua vez263, azinheiras264 repletas de frutos e enegrecidos lentiscos265 não são sem prova, e para todos os lados o afanado agricultor sempre olha, para que o verão não lhe escorra das mão. Azinheiras, quando moderadamente carregadas de bolota, dirão um inverno que será mais forte: oxalá não estejam sobrecarregadas demais, e longe de seca os campos se cubram espigas266. E três vezes floresce o lentisco, tripla quantia de fruto há, e cada uma traz sinais sucessivos para o plantio. É fato que à temporada de plantar dividem em três, a intermédia e as duas extremas: o primeiro fruto anuncia o primeiro plantio, o intermédio ao intermédio, e o último deles ao derradeiro. Qual for a mais bela colheita do lentisco, com ela o plantio será multifrutífero, mas pouco com a mais escassa, e médio com o intermédio. Igualmente, o talo da cila267 sobrefloresce três vezes para que se notem os sinais da colheita correspondente: quantos o agricultor notar no fruto do lentisco, tantos observará também na branca flor da cila. Todavia268, quando no outono todas as partes estão completamente tomadas por muitas vespas, mesmo antes de as vespertinas Plêiades se irem poder-se-ia anunciar o inverno,

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263 Inicia-se uma seção acerca dos sinais das estações fornecidos pela vegetação. 264 Provavelmente o Quercus Ilex, mas bem pode ser alguma outra espécie dentro do vasto gênero Quercus; cf. Kidd, 540. 265 Pistacia Lentiscus. 266 Isto é, a produção moderada de bolotas indica um inverno mais rigoroso do que o normal, ao passo que a produção excessiva é sinal de seca. 267 Trata-se, provavelmente, da Scilla Siberica. 268 Inicia-se uma seção acerca, primeiro, dos sinais da chegada do inverno dados pelos animais e, depois, sinais de seca a partir da observação de cometas. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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tal é o redemoinho que súbito rodopia nas vespas269. E porcos fêmeas, e ovelhas, e cabras, quando voltam do acasalamento e, depois de tudo dos machos terem recebido, acasalam de novo repetidamente, como as vespas elas anunciarão um longo inverno. Quando tarde copulam as cabras, as ovelhas e as porcas, alegra-se o homem humilde, pois para ele que não se aquece direito as acasaladoras mostram ano de bom tempo. Também se alegra o agricultor pontual com os bandos de grous chegando pontualmente, e o impontual por sua vez quando se atrasam. Igualmente, pois, os invernos chegam com os bandos : cedo, caso cheguem em grandes grupos e cedo; mas quando, aparecendo tarde e não em bandos, vêm em mais tempo e não são muitos juntos, com o atraso do inverno se beneficiam os trabalhos serônios. Se bois e ovelhas, depois de outono rico, cavarem terra e estenderem suas cabeças contra o vento de Bóreas, então um mui invernal inverno as próprias Plêiades, ao se porem, trarão. Oxalá não cavem demais, pois longo e imoderado inverno não é amigo nem de plantas nem colheitas; mas que neve intensa caia nas largas campinas sobre a vegetação ainda não discernida e crescida, para que a prosperidade regozije a um homem prudente. E que as estrelas lá em cima estejam sempre visíveis, e não haja nem um, nem dois, nem muitos cometas: pois há muitos cometas em ano árido. Mas270 ao homem do continente não regozijam bandos de pássaros, quando vindos das ilhas numerosos invadem as campinas, quando chega o verão: ele teme terrivelmente por sua colheita, que ela lhe seja de espigas vazias e palha, pela seca fustigadas. Mas ao homem pastor regozijam os mesmos pássaros, quando vêm em número moderado, pois ele espera em seguida ano de leite abundante. Assim vivemos nós, homens sofridos e perdidos, cada um a seu modo: mas estamos todos prontos para os sinais aos nossos pés reconhecer e usá-los na ocasião271.

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269 Nem a imagem, nem seu sentido são completamente claros. Como se trata da aproximação do inverno, é mais provável que o redemoinho se refira à confusão das vespas apressadas para se protegerem, e não a uma ventania que surge com elas; cf. Kidd (550) para a discussão. 270 Arato elenca agora sinais para a previsão do verão. 271 Mais uma referência à condição incerta dos humanos, que, apesar disso, dispõem de sinais evidentes e próximos providenciados por Zeus para tornar a existência menos tormentosa;

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Pelos ovinos os pegureiros predizem tempestades272, quando urgem para pasto com mais afã e quando alguns carneiros e outros cordeiros do rebanho brincam no caminho, pressionando-se uns aos outros com seu cornos; ou quando com suas patas coiceiam, uns cá e outros lá, com as quatro os ágeis, com duas os cornígeros273; ou também quando recolhem um rebanho avesso, mesmo levando-o ao entardecer, e por toda parte mordem a grama, ainda que instados por intensas pedradas. Dos bois, homens plantadores e boiadeiros aprendem que uma tempestade se aproxima: pois, quando os bois os cascos da pata dianteira com a língua lambem, ou se estendem sobre as destras costelas em seu cochilo, atraso no plantio o velho plantador espera. E quando se reúnem, com muitos mugidos, as vacas que para casa voltam na hora de dar descanso ao gado, nervosos bezerros pressentem que muito logo não se repastarão incólumes à tempestade no prado encharcado. E quando cabras se afobam em torno dos espinhos da azinheira, não há bonança, nem quando porcos se enlouquecem na lama274. E quando um lobo, solitário lobo, uiva alto, ou quando, pouco importando-se com os homens plantadores, desce para as fazendas, aparentando necessitar de abrigo perto dos homens, para que ali faça emboscada, espera tempestade ao completarem-se três auroras. Assim, pelos prévios sinais poderias prever vindouros ventos ou tempestade ou chuva na mesma aurora, na seguinte ou ainda na terceira. Mas tampouco os ratos, se, guinchando mais do que o comum na bonança, saltitam tal como dançarinos, passaram inobservados aos homens mais antigos, e nem os cães: pois o cão cava com ambas as patas, quando espera a vinda de um tempestade, e aqueles ratos adivinham tempestade nesse momento. [Ora, também o caranguejo sai da água para a terra seca, quando uma tempestade está prestes a precipitar-se no seu caminho.

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cf. vv. 768-772. 272 Deste ponto até o início da conclusão do poema, isto é, entre os vv. 1104 e 1041, os sinais de mau tempo são apontados por animais próximos ao agricultor. 273 Os ágeis são os mais novos e leves, capazes de saltar e retirar as quatro patas do chão, ao passo que os cornígeros são os mais velhos, mais pesados, que tiram apenas duas patas do chão por vez. 274 Há aqui uma citação de Demócrito, fr. B 147 DK. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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E os diurnos ratos, com as patas revolvendo a palha, anseiam por um ninho, quando mostra sinais de chuva.]275 E não desprezes nenhum deles. É bom observar sinal após sinal, e quando dois coincidem mais esperança há, e com um terceiro poderias estar confiante! Sempre numera os sinais durante o ano que passa, vendo se, com uma estrela que desponta ou se põe, também surge uma aurora tal qual o sinal prediz. Mais confiável seria observar, tanto do mês que termina quanto do que começa, os quartos dias276: pois eles contêm os limites dos meses que convergem, quando mais incerto o éter está, nas oito noites, devido à ausência da refulgente Lua277. Se observaste todos juntos durante o ano278, jamais fará previsões contingentes a partir do éter.

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275 Os versos entre colchetes são considerados uma interpolação pelo fato de não serem comentados nos escólios e não serem traduzidos nem por Avieno (autor latino do século IV d.C.), nem pelo Arato Latino (uma tradução para o latim do século VIII, provavelmente). No v. 1138, “caranguejo” não é a constelação, mas o animal, e por isso vai escrito com inicial minúscula; note-se ainda que o caranguejo jamais é mencionado como sinal meteorológico na literatura antiga. O sujeito de “mostra”, no v. 1141, não é claro. Sobre esses assuntos, veja-se, como de costume, Kidd, 569-573. 276 Isto é, os últimos quatro dias do mês que termina e os quatro primeiros do que se inicia. 277 Durante a Lua nova, quando o céu está mais escuro. 278 A construção eskemménos eis eniautón (“tendo observado durante o ano”) é uma remissão direta ao v. 11, no qual esképsato d’eis eniautón ocupa a mesma posição final. No início do poema, a construção tinha por sujeito Zeus e expressava organização dos sinais operada pela providência divina; agora, refere-se obviamente ao leitor/auditor, que pôde colher os sinais ao longo do ano. Note-se que o poema é, em certo sentido, uma imagem do ano: após a sua leitura, nós humanos podemos identificar os sinais propiciados por Zeus para dirimir nossa perplexidade diante do mundo.

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Arati phaenomena ed. J. Martin, Florence: La Nuova Italia Editrice, 1956.

Ἐκ Διὸς ἀρχώμεσθα, τὸν οὐδέποτ› ἄνδρες ἐῶμεν ἄρρητον· μεσταὶ δὲ Διὸς πᾶσαι μὲν ἀγυιαί, πᾶσαι δ› ἀνθρώπων ἀγοραί, μεστὴ δὲ θάλασσα καὶ λιμένες· πάντη δὲ Διὸς κεχρήμεθα πάντες. Τοῦ γὰρ καὶ γένος εἰμέν. Ὁ δ› ἤπιος ἀνθρώποισι δεξιὰ σημαίνει, λαοὺς δ› ἐπὶ ἔργον ἐγείρει μιμνήσκων βιότοιο· λέγει δ› ὅτε βῶλος ἀρίστη βουσί τε καὶ μακέλῃσι, λέγει δ› ὅτε δεξιαὶ ὧραι καὶ φυτὰ γυρῶσαι καὶ σπέρματα πάντα βαλέσθαι. Αὐτὸς γὰρ τά γε σήματ› ἐν οὐρανῷ ἐστήριξεν ἄστρα διακρίνας, ἐσκέψατο δ› εἰς ἐνιαυτὸν ἀστέρας οἵ κε μάλιστα τετυγμένα σημαίνοιεν ἀνδράσιν ὡράων, ὄφρ› ἔμπεδα πάντα φύωνται. Τῷ μιν ἀεὶ πρῶτόν τε καὶ ὕστατον ἱλάσκονται. Χαῖρε, πάτερ, μέγα θαῦμα, μέγ› ἀνθρώποισιν ὄνειαρ, αὐτὸς καὶ προτέρη γενεή. Χαίροιτε δὲ Μοῦσαι μειλίχιαι μάλα πᾶσαι. Ἐμοί γε μὲν ἀστέρας εἰπεῖν ᾗ θέμις εὐχομένῳ τεκμήρατε πᾶσαν ἀοιδήν. Οἱ μὲν ὁμῶς πολέες τε καὶ ἄλλυδις ἄλλοι ἐόντες οὐρανῷ ἕλκονται πάντ› ἤματα συνεχὲς αἰεί· αὐτὰρ ὅγ› οὐδ› ὀλίγον μετανίσσεται, ἀλλὰ μάλ› αὕτως ἄξων αἰὲν ἄρηρεν, ἔχει δ› ἀτάλαντον ἁπάντη μεσσηγὺς γαῖαν, περὶ δ› οὐρανὸν αὐτὸς ἀγινεῖ. Καί μιν πειραίνουσι δύω πόλοι ἀμφοτέρωθεν· ἀλλ› ὁ μὲν οὐκ ἐπίοπτος, ὁ δ› ἀντίος ἐκ βορέαο ὑψόθεν ὠκεανοῖο. Δύω δέ μιν ἀμφὶς ἔχουσαι Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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ἅμα τροχόωσι· τὸ δὴ καλέονται . Αἱ δ› ἤτοι κεφαλὰς μὲν ἐπ› ἰξύας αἰὲν ἔχουσιν ἀλλήλων, αἰεὶ δὲ κατωμάδιαι φορέονται, ἔμπαλιν εἰς ὤμους τετραμμέναι. Εἰ ἐτεὸν δή, Κρήτηθεν κεῖναί γε Διὸς μεγάλου ἰότητι οὐρανὸν εἰσανέβησαν, ὅ μιν τότε κουρίζοντα Δίκτῃ ἐν εὐώδει, ὄρεος σχεδὸν Ἰδαίοιο, ἄντρῳ ἐγκατέθεντο καὶ ἔτρεφον εἰς ἐνιαυτόν, Δικταῖοι Κούρητες ὅτε Κρόνον ἐψεύδοντο. Καὶ τὴν μὲν ἐπίκλησιν καλέουσιν, τὴν δ› ἑτέρην . Ἑλίκῃ γε μὲν ἄνδρες Ἀχαιοὶ εἰν ἁλὶ τεκμαίρονται ἵνα χρὴ νῆας ἀγινεῖν· τῇ δ› ἄρα Φοίνικες πίσυνοι περόωσι θάλασσαν. Ἀλλ› ἡ μὲν καθαρὴ καὶ ἐπιφράσσασθαι ἑτοίμη πολλὴ φαινομένη Ἑλίκη πρώτης ἀπὸ νυκτός· ἡ δ› ἑτέρη ὀλίγη μέν, ἀτὰρ ναύτῃσιν ἀρείων· μειοτέρῃ γὰρ πᾶσα περιστρέφεται στροφάλιγγι· τῇ καὶ Σιδόνιοι ἰθύντατα ναυτίλλονται. Τὰς δὲ δι› ἀμφοτέρας οἵη ποταμοῖο ἀπορρὼξ εἰλεῖται, μέγα θαῦμα, , περί τ› ἀμφί τ› ἐαγὼς μυρίος· αἱ δ› ἄρα οἱ σπείρης ἑκάτερθε φέρονται Ἄρκτοι, κυανέου πεφυλαγμέναι ὠκεανοῖο. Αὐτὰρ ὅγ› ἄλλης μὲν νεάτῃ ἐπιτείνεται οὐρῇ, ἄλλην δὲ σπείρῃ περιτέμνεται· ἡ μέν οἱ ἄκρη οὐρὴ πὰρ κεφαλὴν Ἑλίκης ἀποπαύεται Ἄρκτου· σπείρῃ δ› ἐν Κυνόσουρα κάρη ἔχει· ἡ δὲ κατ› αὐτὴν εἰλεῖται κεφαλήν, καί οἱ ποδὸς ἔρχεται ἄχρις, ἐκ δ› αὖτις παλίνορσος ἀνατρέχει. Οὐ μὲν ἐκείνῳ οἰόθεν, οὐδ› οἶος κεφαλῇ ἐπιλάμπεται ἀστήρ, ἀλλὰ δύο κροτάφοις, δύο δ› ὄμμασιν· εἷς δ› ὑπένερθεν ἐσχατιὴν ἐπέχει γένυος δεινοῖο πελώρου. Λοξὸν δ› ἐστὶ κάρη, νεύοντι δὲ πάμπαν ἔοικεν ἄκρην εἰς Ἑλίκης οὐρήν· μάλα δ› ἐστὶ κατ› ἰθὺ καὶ στόμα καὶ κροτάφοιο τὰ δεξιὰ νειάτῳ οὐρῇ. Κείνη που κεφαλὴ τῇ νίσσεται, ἧχί περ ἄκραι μίσγονται δύσιές τε καὶ ἀντολαὶ ἀλλήλῃσιν. Τῇ δ› αὐτοῦ μογέοντι κυλίνδεται ἀνδρὶ ἐοικὸς εἴδωλον· τὸ μὲν οὔτις ἐπίσταται ἀμφαδὸν εἰπεῖν, οὐδ› ὅτινι κρέμαται κεῖνος πόνῳ, ἀλλά μιν αὕτως καλέουσι. Τὸ δ’ αὖτ’ ἐν γούνασι κάμνον ὀκλάζοντι ἔοικεν· ἀπ› ἀμφοτέρων δέ οἱ ὤμων 56

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χεῖρες ἀείρονται· τάνυταί γε μὲν ἄλλυδις ἄλλη ὅσσον ἐπ› ὄργυιαν· μέσσῳ δ› ἐφύπερθε καρήνῳ δεξιτεροῦ ποδὸς ἄκρον ἔχει σκολιοῖο Δράκοντος. Αὐτοῦ κἀκεῖνος , τὸν ἀγαυὸν ἔθηκεν σῆμ› ἔμεναι Διόνυσος ἀποιχομένης Ἀριάδνης, νώτῳ ὑποστρέφεται κεκμηότος εἰδώλοιο. Νώτῳ μὲν Στέφανος πελάει, κεφαλῇ γε μὲν ἄκρῃ σκέπτεο πὰρ κεφαλὴν Ὀφιούχεον, ἐκ δ› ἄρ› ἐκείνης αὐτὸν ἐπιφράσσαιο φαεινόμενον · τοῖοί οἱ κεφαλῇ ὑποκείμενοι ἀγλαοὶ ὦμοι εἴδονται. Κεῖνοί γε καὶ ἂν διχόμηνι σελήνῃ εἰσωποὶ τελέθοιεν· ἀτὰρ χέρες οὐ μάλ› ἐῖσαι· λεπτοτέρη γὰρ τῇ καὶ τῇ ἐπιδέδρομεν αἴγλη. ἀλλ› ἔμπης κἀκεῖναι ἐπόψιαι· οὐ γὰρ ἐλαφραί. Ἀμφότεραι δ› Ὄφιος πεπονείαται ὅς ῥά τε μέσσον δινεύει Ὀφιοῦχον· ὁ δ› ἐμμενὲς εὖ ἐπαρηρὼς ποσσὶν ἐπιθλίβει μέγα θηρίον ἀμφοτέροισιν, , ὀφθαλμοῖς τε καὶ ἐν θώρηκι βεβηκὼς ὀρθός. Ἀτάρ οἱ γε δύο στρέφεται μετὰ χερσίν, δεξιτερῇ ὀλίγος, σκαιῇ γε μὲν ὑψόθι πολλός. Καὶ δή οἱ Στεφάνῳ παρακέκλιται ἄκρα γένεια· νειόθι δὲ σπείρης μεγάλας ἐπιμαίεο · ἀλλ› αἱ μὲν φαέων ἐπιμεμφέες οὐδὲν ἀγαυαί. Ἐξόπιθεν δ› Ἑλίκης φέρεται ἐλάοντι ἐοικὼς , τόν ῥ’ ἄνδρες ἐπικλείουσι Βοώτην, οὕνεχ› ἁμαξαίης ἐπαφώμενος εἴδεται Ἄρκτου, καὶ μάλα πᾶς ἀρίδηλος· ὑπὸ ζώνῃ δέ οἱ αὐτὸς ἐξ ἄλλων Ἀρκτοῦρος ἑλίσσεται ἀμφαδὸν ἀστήρ. Ἀμφοτέροισι δὲ ποσσὶν ὕπο σκέπτοιο Βοώτεω , ἥ ῥ’ ἐν χειρὶ φέρει Στάχυν αἰγλήεντα. Εἴτ› οὖν Ἀστραίου κείνη γένος, ὅν ῥά τέ φασιν ἄστρων ἀρχαῖοι πατέρ› ἔμμεναι, εἴτε τευ ἄλλου, εὔκηλος φορέοιτο. Λόγος γε μὲν ἐντρέχει ἄλλος ἀνθρώποις, ὡς δῆθεν ἐπιχθονίη πάρος ἦεν, ἤρχετο δ› ἀνθρώπων κατεναντίη, οὐδέ ποτ› ἀνδρῶν οὐδέ ποτ› ἀρχαίων ἠνήνατο φῦλα γυναικῶν, ἀλλ› ἀναμὶξ ἐκάθητο καὶ ἀθανάτη περ ἐοῦσα. Καί ἑ Δίκην καλέεσκον· ἀγειρομένη δὲ γέροντας ἠέ που εἰν ἀγορῇ ἢ εὐρυχόρῳ ἐν ἀγυιῇ, δημοτέρας ἤειδεν ἐπισπέρχουσα θέμιστας. Οὔπω λευγαλέου τότε νείκεος ἠπίσταντο, Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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οὐδὲ διακρίσιος περιμεμφέος, οὐδὲ κυδοιμοῦ· αὕτως δ› ἔζωον· χαλεπὴ δ› ἀπέκειτο θάλασσα, καὶ βίον οὔπω νῆες ἀπόπροθεν ἠγίνεσκον, ἀλλὰ βόες καὶ ἄροτρα καὶ αὐτὴ πότνια λαῶν μυρία πάντα παρεῖχε Δίκη, δώτειρα δικαίων. Τόφρ› ἦν ὄφρ› ἔτι γαῖα γένος χρύσειον ἔφερβεν. Ἀργυρέῳ δ› ὀλίγη τε καὶ οὐκέτι πάμπαν ἑτοίμη ὡμίλει, ποθέουσα παλαιῶν ἤθεα λαῶν. Ἀλλ› ἔμπης ἔτι κεῖνο κατ› ἀργύρεον γένος ἦεν· ἤρχετο δ› ἐξ ὀρέων ὑποδείελος ἠχηέντων μουνάξ, οὐδέ τεῳ ἐπεμίσγετο μειλιχίοισιν· ἀλλ› ὁπότ› ἀνθρώπων μεγάλας πλήσαιτο κολώνας, ἠπείλει δὴ ἔπειτα καθαπτομένη κακότητος, οὐδ› ἔτ› ἔφη εἰσωπὸς ἐλεύσεσθαι καλέουσιν. »Οἵην χρύσειοι πατέρες γενεὴν ἐλίποντο χειροτέρην· ὑμεῖς δὲ κακώτερα τέκνα τεκεῖσθε. Καὶ δή που πόλεμοι, καὶ δὴ καὶ ἀνάρσιον αἷμα ἔσσεται ἀνθρώποισι, κακῷ δ› ἐπικείσεται ἄλγος». Ὣς εἰποῦσ› ὀρέων ἐπεμαίετο, τοὺς δ› ἄρα λαοὺς εἰς αὐτὴν ἔτι πάντας ἐλίμπανε παπταίνοντας. Ἀλλ› ὅτε δὴ κἀκεῖνοι ἐτέθνασαν, οἳ δ› ἐγένοντο, χαλκείη γενεὴ προτέρων ὀλοώτεροι ἄνδρες, οἳ πρῶτοι κακοεργὸν ἐχαλκεύσαντο μάχαιραν εἰνοδίην, πρῶτοι δὲ βοῶν ἐπάσαντ› ἀροτήρων. Καὶ τότε μισήσασα Δίκη κείνων γένος ἀνδρῶν ἔπταθ› ὑπουρανίη, ταύτην δ› ἄρα νάσσατο χώρην, ἧχί περ ἐννυχίη ἔτι φαίνεται ἀνθρώποισι Παρθένος ἐγγὺς ἐοῦσα πολυσκέπτοιο Βοώτεω. Τῆς ὑπὲρ ἀμφοτέρων ὤμων εἱλίσσεται ἀστὴρ [δεξιτερῇ πτέρυγι· δ’ αὖτε καλεῖται· τόσσος μὲν μεγέθει, τοίῃ δ› ἐγκείμενος αἴγλῃ, οἷος καὶ μεγάλης οὐρὴν ὑποφαίνεται Ἄρκτου· δεινὴ γὰρ κείνη, δεινοὶ δέ οἱ ἐγγύθεν εἰσὶν ἀστέρες· οὐκ ἂν τούς γε ἰδὼν ἐπιτεκμήραιο, οἷός οἱ πρὸ ποδῶν φέρεται καλός τε μέγας τε εἷς μὲν ὑπωμαίων, εἷς δ› ἰξυόθεν κατιόντων, ἄλλος δ› οὐραίοις ὑπὸ γούνασιν. Ἀλλ› ἄρα πάντες ἁπλόοι ἄλλοθεν ἄλλος ἀνωνυμίῃ φορέονται. Κρατὶ δέ οἱ Δίδυμοι, μέσσῃ δ› ὕπο ἐστίν· ποσσὶ δ› ὀπισθοτέροισι Λέων ὕπο καλὰ φαείνει. Ἔνθα μὲν ἠελίοιο θερείταταί εἰσι κέλευθοι· 58

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αἱ δέ που ἀσταχύων κενεαὶ φαίνονται ἄρουραι ἠελίου τὰ πρῶτα συνερχομένοιο Λέοντι. Τῆμος καὶ κελάδοντες ἐτησίαι εὐρέϊ πόντῳ ἀθρόοι ἐμπίπτουσιν, ὁ δὲ πλόος οὐκέτι κώπαις ὥριος· εὐρεῖαί μοι ἀρέσκοιεν τότε νῆες, εἰς ἄνεμον δέ τε πηδὰ κυβερνητῆρες ἔχοιεν. Εἰ δέ τοι τε καὶ ἀστέρας Ἡνιόχοιο σκέπτεσθαι δοκέοι, καί τοι φάτις ἤλυθεν αὐτῆς ἢ , οἵτ› εἰν ἁλὶ πορφυρούσῃ πολλάκις ἐσκέψαντο κεδαιομένους ἀνθρώπους, αὐτὸν μέν μιν ἅπαντα μέγαν Διδύμων ἐπὶ λαιὰ κεκλιμένον δήεις, Ἑλίκης δέ οἱ ἄκρα κάρηνα ἀντία δινεύει, σκαιῷ δ› ἐπελήλαται ὤμῳ Αἲξ ἱερή, τὴν μέν τε λόγος Διὶ μαζὸν ἐπισχεῖν· Ὠλενίην δέ μιν Αἶγα Διὸς καλέουσ› ὑποφῆται. Ἀλλ› ἡ μὲν πολλή τε καὶ ἀγλαή· οἱ δέ οἱ αὐτοῦ λεπτὰ φαείνονται Ἔριφοι καρπὸν κάτα χειρός. Πὰρ ποσὶ δ› Ἡνιόχου κεραὸν πεπτηότα μαίεσθαι· τὰ δέ οἱ μάλ› ἐοικότα σήματα κεῖται· τοίη οἱ κεφαλὴ διακέκριται· οὐδέ τις ἄλλῳ σήματι τεκμήραιτο κάρη βοός, οἷά μιν αὐτοὶ ἀστέρες ἀμφοτέρωθεν ἑλισσόμενοι τυπόωσιν. Καὶ λίην κείνων ὄνομ› εἴρεται, οὐδέ τοι αὕτως νήκουστοι · ταὶ μέν ῥ› ἐπὶ παντὶ μετώπῳ Ταύρου βεβλέαται. Λαιοῦ δὲ κεράατος ἄκρον καὶ πόδα δεξιτερὸν παρακειμένου Ἡνιόχοιο εἷς ἀστὴρ ἐπέχει, συνεληλάμενοι δὲ φέρονται· ἀλλ› αἰεὶ Ταῦρος προφερέστερος Ἡνιόχοιο εἰς ἑτέρην καταβῆναι, ὁμηλυσίῃ περ ἀνελθών. Οὐδ› ἄρα Κηφῆος μογερὸν γένος Ἰασίδαο αὕτως ἄρρητον κατακείσεται· ἀλλ› ἄρα καὶ τῶν οὐρανὸν εἰς ὄνομ› ἦλθεν, ἐπεὶ Διὸς ἐγγύθεν ἦσαν. Αὐτὸς μὲν κατόπισθεν ἐὼν Κυνοσουρίδος Ἄρκτου ἀμφοτέρας χεῖρας τανύοντι ἔοικεν· ἴση οἱ στάθμη νεάτης ἀποτείνεται οὐρῆς ἐς πόδας ἀμφοτέρους, ὅσση ποδὸς ἐς πόδα τείνει. Αὐτὰρ ἀπὸ ζώνης ὀλίγον κε μεταβλέψειας πρώτης ἱέμενος καμπῆς σκολιοῖο Δράκοντος. Τοῦ δ› ἄρα δαιμονίη προκυλίνδεται οὐ μάλα πολλὴ νυκτὶ φαεινομένη παμμήνιδι · οὐ γάρ μιν πολλοὶ καὶ ἐπημοιβοὶ γανόωσιν Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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ἀστέρες, οἵ μιν πᾶσαν ἐπιρρήδην στιχόωσιν. Οἵῃ δὲ κληῖδι θύρην ἔντοσθ› ἀραρυῖαν δικλίδ› ἐπιπλήσσοντες ἀνακρούουσιν ὀχῆας, τοῖοί οἱ μουνὰξ ὑποκείμενοι ἰνδάλλονται ἀστέρες. Ἡ δ› αὕτως ὀλίγων ἀποτείνεται ὤμων ὄργυιαν· φαίης κεν ἀνιάζειν ἐπὶ παιδί. Αὐτοῦ γὰρ κἀκεῖνο κυλίνδεται αἰνὸν ἄγαλμα ὑπὸ μητρὶ κεκασμένον· οὔ σε μάλ’ οἴω νύκτα περισκέψεσθαι, ἵν› αὐτίκα μᾶλλον ἴδηαι· τοίη οἱ κεφαλή, τοῖοι δέ οἱ ἀμφοτέρωθεν ὦμοι καὶ πόδες ἀκρότατοι καὶ ζώματα πάντα. Ἀλλ› ἔμπης κἀκεῖθι διωλενίη τετάνυσται, δεσμὰ δέ οἱ κεῖται καὶ ἐν οὐρανῷ· αἱ δ› ἀνέχονται αὐτοῦ πεπταμέναι πάντ› ἤματα χεῖρες ἐκείνῃ. Ἀλλ› ἄρα οἱ καὶ κρατὶ πέλωρ ἐπελήλαται γαστέρι νειαίρῃ· ξυνὸς δ› ἐπιλάμπεται ἀστὴρ τοῦ μὲν ἐπ› ὀμφαλίῳ, τῆς δ› ἐσχατόωντι καρήνῳ. Οἱ δ› ἄρ› ἔτι τρεῖς ἄλλοι ἐπὶ πλευράς τε καὶ ὤμους Ἵππου δεικανόωσι διασταδὸν ἶσα πέλεθρα, καλοὶ καὶ μεγάλοι· κεφαλὴ δέ οἱ οὐδὲν ὁμοίη, οὐδ› αὐχὴν δολιχός περ ἐών· ἀτὰρ ἔσχατος ἀστὴρ αἰθομένης γένυος καί κεν προτέροις ἐρίσειεν τέτρασιν, οἵ μιν ἔχουσι περίσκεπτοι μάλ› ἐόντες. Οὐδ› ὅγε τετράπος ἐστίν· ἀπ› ὀμφαλίοιο γὰρ ἄκρου μεσσόθεν ἡμιτελὴς περιτέλλεται ἱερὸς Ἵππος. Κεῖνον δὴ καί φασι καθ› ὑψηλοῦ Ἑλικῶνος καλὸν ὕδωρ ἀγαγεῖν εὐαλδέος Ἱππουκρήνης. Οὐ γάρ πω Ἑλικὼν ἄκρος κατελείβετο πηγαῖς· ἀλλ› Ἵππος μιν ἔτυψε· τὸ δ› ἀθρόον αὐτόθεν ὕδωρ ἐξέχυτο πληγῇ προτέρου ποδός· οἱ δὲ νομῆες πρῶτοι κεῖνο ποτὸν διεφήμισαν Ἱππουκρήνην. Ἀλλὰ τὸ μὲν πέτρης ἀπολείβεται, οὐδέ τοι αὐτὸ Θεσπιέων ἀνδρῶν ἑκὰς ὄψεαι· αὐτὰρ ὅγ› Ἵππος ἐν Διὸς εἱλεῖται, καί τοι πάρα θηήσασθαι. Αὐτοῦ καὶ θοώταταί εἰσι κέλευθοι, ὅς ῥά τε καὶ μήκιστα διωκόμενος περὶ κύκλα οὐδὲν ἀφαυρότερον τροχάει Κυνοσουρίδος Ἄρκτου. Αὐτὸς μὲν νωθὴς καὶ ἀνάστερος οἷα σελήνῃ σκέψασθαι, ζώνῃ δ› ἂν ὅμως ἐπιτεκμήραιο Ἀνδρομέδης· ὀλίγον γὰρ ὑπ› αὐτὴν ἐστήρικται, μεσσόθι δὲ τρίβει μέγαν οὐρανόν, ἧχί περ ἄκραι 60

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230ηλαὶ καὶ ζώνη περιτέλλεται Ὠρίωνος. Ἔστι δέ τοι καὶ ἔτ› ἄλλο τετυγμένον ἐγγύθι σῆμα νειόθεν Ἀνδρομέδης, τὸ δ› ἐπὶ τρισὶν ἐστάθμηται πλευρῇσιν, ἰσαιομένῃσιν ἐοικὸς ἀμφοτέρῃς, ἡ δ› οὔτι τόση, μάλα δ› ἐστὶν ἑτοίμη εὑρέσθαι· περὶ γὰρ πολέων εὐάστερός ἐστιν. Τῶν ὀλίγον Κριοῦ νοτιώτεροι ἀστέρες εἰσίν. Οἱ δ› ἄρ› ἔτι προτέρω, ἔτι δ› ἐν προμολῇσι νότοιο . Ἀλλ’ αἰεὶ ἕτερος προφερέστερος ἄλλου, καὶ μᾶλλον βορέαο νέον κατιόντος ἀκούει. Ἀμφοτέρων δέ σφεων ἀποτείνεται ἠΰτε δεσμὰ οὐραίων, ἑκάτερθεν ἐπισχερὼ εἰς ἓν ἰόντα. Καὶ τὰ μὲν εἷς ἀστὴρ ἐπέχει καλός τε μέγας τε, ὅν ῥά τε καὶ σύνδεσμον ὑπουράνιον καλέουσιν. Ἀνδρομέδης δέ τοι ὦμος ἀριστερὸς Ἰχθύος ἔστω σῆμα βορειοτέρου· μάλα γάρ νύ οἱ ἐγγύθεν ἐστίν. Ἀμφότεροι δὲ πόδες γαμβροῦ ἐπισημαίνοιεν , οἵ ῥά οἱ αἰὲν ἐπωμάδιοι φορέονται. Αὐτὰρ ὅγ› ἐν βορέω φέρεται περιμήκετος ἄλλων. Καί οἱ δεξιτερὴ μὲν ἐπὶ κλισμὸν τετάνυσται πενθερίου δίφροιο· τὰ δ› ἐν ποσὶν οἷα διώκων ἴχνια μηκύνει κεκονιμένος ἐν Διὶ πατρί. Ἄγχι δέ οἱ σκαιῆς ἐπιγουνίδος ἤλιθα πᾶσαι. φορέονται. Ὁ δ’ οὐ μάλα πολλὸς ἁπάσας χῶρος ἔχει, καὶ δ› αὐταὶ ἐπισκέψασθαι ἀφαυραί. Ἑπτάποροι δὴ ταίγε μετ› ἀνθρώπους ὑδέονται, ἓξ οἶαί περ ἐοῦσαι ἐπόψιαι ὀφθαλμοῖσιν. Οὐ μέν πως ἀπόλωλεν ἀπευθὴς ἐκ Διὸς ἀστήρ, ἐξ οὗ καὶ γενεῆθεν ἀκούομεν, ἀλλὰ μάλ› αὕτως εἴρεται· ἑπτὰ δ› ἐκεῖναι ἐπιρρήδην καλέονται Ἀλκυόνη Μερόπη τε Κελαινώ τ› Ἠλέκτρη τε καὶ Στερόπη καὶ Τηϋγέτη καὶ πότνια Μαῖα. Αἱ μὲν ὁμῶς ὀλίγαι καὶ ἀφεγγέες, ἀλλ› ὀνομασταὶ ἦρι καὶ ἑσπέριαι, Ζεὺς δ› αἴτιος, εἱλίσσονται, ὅ σφισι καὶ θέρεος καὶ χείματος ἀρχομένοιο σημαίνειν ἐπένευσεν ἐπερχομένου τ› ἀρότοιο. Καὶ ἥδ› ὀλίγη. Τὴν ἆρ› ἔτι καὶ παρὰ λίκνῳ Ἑρμείης ἐτόρησε, δέ μιν εἶπε λέγεσθαι, κὰδ δ› ἔθετο προπάροιθεν ἀπευθέος εἰδώλοιο οὐρανὸν εἰσαγαγών. Τὸ δ› ἐπὶ σκελέεσσι πέτηλον γούνατί οἱ σκαιῷ πελάει· κεφαλή γε μὲν ἄκρη Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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ἀντιπέρην Ὄρνιθος ἑλίσσεται· ἡ δὲ μεσηγὺ ὀρνιθέης κεφαλῆς καὶ γούνατος ἐστήρικται. Ἤτοι γὰρ καὶ Ζηνὶ παρατρέχει αἰόλος , ἄλλα μὲν ἠερόεις, τὰ δέ οἱ ἐπὶ τετρήχυνται ἀστράσιν οὔτι λίην μεγάλοις, ἀτὰρ οὐ μὲν ἀφαυροῖς. Αὐτὰρ ὅγ› εὐδιόωντι ποτὴν ὄρνιθι ἐοικὼς οὔριος εἰς ἑτέρην φέρεται, κατὰ δεξιὰ χειρὸς Κηφείης ταρσοῖο τὰ δεξιὰ πείρατα τείνων. Λαιῇ δὲ πτέρυγι σκαρθμὸς παρακέκλιται Ἵππου. Τὸν δὲ μετὰ σκαίροντα δύ› Ἰχθύες ἀμφινέμονται Ἵππον· πὰρ δ› ἄρα οἱ κεφαλῇ χεὶρ δεξιτερὴ τάνυται. Ὁ δ› ὀπίστερος Αἰγοκερῆος τέλλεται· αὐτὰρ ὅγε πρότερος καὶ νειόθι μᾶλλον κέκλιται , ἵνα ἲς τρέπετ› ἠελίοιο. Μὴ κείνῳ ἐνὶ μηνὶ περικλύζοιο θαλάσσῃ πεπταμένῳ πελάγει κεχρημένος. Οὔτε κεν ἠοῖ πολλὴν πειρήνειας, ἐπεὶ ταχινώταταί εἰσιν, οὔτ› ἄν τοι νυκτὸς πεφοβημένῳ ἐγγύθεν ἠὼς ἔλθοι καὶ μάλα πολλὰ βοωμένῳ. Οἱ δ› ἀλεγεινοὶ τῆμος ἐπιρρήσσουσι νότοι, ὁπότ› Αἰγοκερῆϊ συμφέρετ› ἠέλιος· τότε δὲ κρύος ἐκ Διός ἐστιν ναύτῃ μαλκιόωντι κακώτερον. Ἀλλὰ καὶ ἔμπης ἤδη πάντ› ἐνιαυτὸν ὑπὸ στείρῃσι θάλασσα πορφύρει· ἴκελοι δὲ κολυμβίσιν αἰθυίῃσιν πολλάκις ἐκ νηῶν πέλαγος περιπαπταίνοντες ἥμεθ›, ἐπ› αἰγιαλοὺς τετραμμένοι· οἱ δ› ἔτι πόρσω κλύζονται· ὀλίγον δὲ διὰ ξύλον ἄϊδ› ἐρύκει. Καὶ δ› ἂν ἔτι προτέρῳ γε θαλάσσῃ πολλὰ πεπονθώς, τόξον ὅτ› ἠέλιος καίει καὶ ῥύτορα τόξου, ἑσπέριος κατάγοιο, πεποιθὼς οὐκέτι νυκτί. Σῆμα δέ τοι κείνης ὥρης καὶ μηνὸς ἐκείνου Σκορπίος ἀντέλλων εἴη πυμάτης ἐπὶ νυκτός. Ἤτοι γὰρ μέγα τόξον ἀνέλκεται ἐγγύθι κέντρου · ὀλίγον δὲ παροίτερος ἵσταται αὐτοῦ Σκοπρίος ἀντέλλων, ὁ δ› ἀνέρχεται αὐτίκα μᾶλλον. Τῆμος καὶ κεφαλὴ Κυνοσουρίδος ἀκρόθι νυκτὸς ὕψι μάλα τροχάει· ὁ δὲ δύεται ἠῶθι πρὸ ἀθρόος Ὠρίων, Κηφεὺς δ› ἀπὸ χειρὸς ἐπ› ἰξύν. Ἔστι δέ τοι προτέρω βεβλημένος ἄλλος αὐτὸς ἄτερ τόξου· ὁ δέ οἱ παραπέπταται Ὄρνις ἀσσότερος βορέω. Σχεδόθεν δέ οἱ ἄλλος ἄηται 62

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οὐ τόσσος μεγέθει, χαλεπός γε μὲν ἐξ ἁλὸς ἐλθών νυκτὸς ἀπερχομένης· καί μιν καλέουσιν . δ’ οὐ μάλα πολλὸς ἐπιτρέχει Αἰγοκερῆϊ μεσσόθεν ἠερόεις· τὰ δέ οἱ περὶ τέσσαρα κεῖται γλήνεα, παρβολάδην δύο πὰρ δύο πεπτηῶτα. Καὶ τὰ μὲν οὖν βορέω καὶ ἀλήσιος ἠελίοιο μεσσηγὺς κέχυται· τὰ δὲ νειόθι τέλλεται ἄλλα πολλὰ μεταξὺ νότοιο καὶ ἠελίοιο κελεύθου. Λοξὸς μὲν Ταύροιο τομῇ ὑποκέκλιται αὐτὸς . Μὴ κεῖνον ὅτις καθαρῇ ἐνὶ νυκτὶ ὑψοῦ πεπτηῶτα παρέρχεται, ἄλλα πεποίθοι οὐρανὸν εἰσανιδὼν προφερέστερα θηήσεσθαι. Τοῖός οἱ καὶ φρουρὸς ἀειρομένῳ ὑπὸ νώτῳ φαίνεται ἀμφοτέροισι ἐπὶ ποσσὶ βεβηκώς, ποικίλος, ἀλλ› οὐ πάντα πεφασμένος· ἀλλὰ κατ› αὐτὴν γαστέρα κυάνεος περιτέλλεται, ἡ δέ οἱ ἄκρη ἀστέρι βέβληται δεινῷ γένυς, ὅς ῥα μάλιστα ὀξέα σειριάει· καί μιν καλέουσ› ἄνθρωποι . Οὐκέτι κεῖνον ἅμ’ ἠελίῳ ἀνιόντα φυταλιαὶ ψεύδονται ἀναλδέα φυλλιόωσαι· ῥεῖα γὰρ οὖν ἔκρινε διὰ στίχας ὀξὺς ἀΐξας, καὶ τὰ μὲν ἔρρωσεν, τῶν δὲ φλόον ὤλεσε πάντα. Κείνου καὶ κατιόντος ἀκούομεν· οἱ δὲ δὴ ἄλλοι σῆμ› ἔμεναι μελέεσσιν ἐλαφρότεροι περίκεινται. Ποσσὶν δ› Ὠρίωνος ὑπ› ἀμφοτέροισι ἐμμενὲς ἤματα πάντα διώκεται· αὐτὰρ ὅγ› αἰεὶ Σείριος ἐξόπιθεν φέρεται μετιόντι ἐοικώς, καὶ οἱ ἐπαντέλλει, καί μιν κατιόντα δοκεύει. Ἡ δὲ Κυνὸς μεγάλοιο κατ› οὐρὴν ἕλκεται Ἀργὼ πρυμνόθεν· οὐ γὰρ τῇγε κατὰ χρέος εἰσὶ κέλευθοι, ἀλλ› ὄπιθεν φέρεται τετραμμένη, οἷα καὶ αὐταὶ νῆες, ὅτ› ἤδη ναῦται ἐπιστρέψωσι κορώνην ὅρμον ἐσερχόμενοι· τὴν δ› αὐτίκα πᾶς ἀνακόπτει νῆα, παλιρροθίη δὲ καθάπτεται ἠπείροιο· ὣς ἥγε πρύμνηθεν Ἰησονὶς ἕλκεται Ἀργώ. Καὶ τὰ μὲν ἠερίη καὶ ἀνάστερος ἄχρι παρ› αὐτὸν ἱστὸν ἀπὸ πρῴρης φέρεται, τὰ δὲ πᾶσα φαεινή. Καὶ οἱ πηδάλιον κεχαλασμένον ἐστήρικται ποσσὶν ὕπ› οὐραίοισι Κυνὸς προπάροιθεν ἰόντος. Τὴν δὲ καὶ οὐκ ὀλίγον περ ἀπόπροθι πεπτηυῖαν Ἀνδρομέδην μέγα ἐπερχόμενον κατεπείγει. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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Ἡ μὲν γὰρ Θρήϊκος ὑπὸ πνοιῇ βορέαο κεκλιμένη φέρεται, τὸ δέ οἱ νότος ἐχθρὸν ἀγινεῖ Κῆτος, ὑπὸ Κριῷ τε καὶ Ἰχθύσιν ἀμφοτέροισιν, βαιὸν ὑπὲρ Ποταμοῦ βεβλημένον ἀστερόεντος. Οἶον γὰρ κἀκεῖνο θεῶν ὑπὸ ποσσὶ φορεῖται λείψανον Ἠριδανοῖο, πολυκλαύτου ποταμοῖο. Καὶ τὸ μὲν Ὠρίωνος ὑπὸ σκαιὸν πόδα τείνει· δεσμοὶ δ› οὐραῖοι, τοῖς Ἰχθύες ἄκροι ἔχονται, ἄμφω συμφορέονται ἀπ› οὐραίων κατιόντες, κητείης δ› ὄπιθεν λοφίης ἐπιμὶξ φορέονται εἰς ἓν ἐλαυνόμενοι· ἑνὶ δ› ἀστέρι πειραίνονται, Κήτεος ὃς κείνου πρώτῃ ἐπίκειται ἀκάνθῃ. Οἱ δ› ὀλίγῳ μέτρῳ, ὀλίγῃ δ› ἐγκείμενοι αἴγλῃ μεσσόθι πηδαλίου καὶ Κήτεος εἱλίσσονται, γλαυκοῦ πεπτηῶτες ὑπὸ πλευρῇσι Λαγωοῦ νώνυμοι· οὐ γὰρ τοίγε τετυγμένου εἰδώλοιο βεβλέαται μελέεσσιν ἐοικότες, οἷά τε πολλὰ ἑξείης στιχόωντα παρέρχεται αὐτὰ κέλευθα ἀνομένων ἐτέων, τά τις ἀνδρῶν οὐκέτ› ἐόντων ἐφράσατ› ἠδ› ἐνόησεν ἅπαντ› ὀνομαστὶ καλέσσαι ἤλιθα μορφώσας· οὐ γάρ κ› ἐδυνήσατο πάντων οἰόθι κεκριμένων ὄνομ› εἰπέμεν οὐδὲ δαῆναι· πολλοὶ γὰρ πάντη, πολέων δ› ἐπὶ ἶσα πέλονται μέτρα τε καὶ χροιή, πάντες γε μὲν ἀμφιέλικτοι. Τῷ καὶ ὁμηγερέας οἱ ἐείσατο ποιήσασθαι ἀστέρας, ὄφρ› ἐπιτὰξ ἄλλῳ παρακείμενος ἄλλος εἴδεα σημαίνοιεν. Ἄφαρ δ› ὀνομαστὰ γένοντο ἄστρα, καὶ οὐκέτι νῦν ὑπὸ θαύματι τέλλεται ἀστήρ, ἀλλ› οἱ μὲν καθαροῖς ἐναρηρότες εἰδώλοισιν φαίνονται, τὰ δ› ἔνερθε διωκομένοιο Λαγωοῦ πάντα μάλ› ἠερόεντα καὶ οὐκ ὀνομαστὰ φέρονται. Νειόθι δ› Αἰγοκερῆος, ὑπὸ πνοιῇσι νότοιο, ἐς Κῆτος τετραμμένος αἰωρεῖται οἶος ἀπὸ προτέρων, δέ ἑ κικλήσκουσιν. Ἄλλοι δὲ σποράδην ὑποκείμενοι Ὑδροχοῆϊ Κήτεος αἰθερίοιο καὶ Ἰχθύος ἠερέθονται μέσσοι νωχελέες καὶ ἀνώνυμοι· ἐγγύθι δέ σφεων, δεξιτερῆς ἀπὸ χειρὸς ἀγαυοῦ Ὑδροχόοιο, οἵη τις τ› ὀλίγη χύσις ὕδατος ἔνθα καὶ ἔνθα σκιδναμένου, χαροποὶ καὶ ἀναλδέες εἱλίσσονται. Ἐν δέ σφιν δύο μᾶλλον ἐειδόμενοι φορέονται 64

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ἀστέρες, οὔτε τι πολλὸν ἀπήοροι οὔτε μάλ› ἐγγύς, εἷς μὲν ὑπ› ἀμφοτέροισι ποσὶν καλός τε μέγας τε Ὑδροχόου, ὁ δὲ κυανέου ὑπὸ Κήτεος οὐρῇ· τοὺς πάντας καλέουσιν . Ὀλίγοι γε μὲν ἄλλοι νειόθι Τοξευτῆρος ὑπὸ προτέροισι πόδεσσιν ἄγνωτοι κύκλῳ περιηγέες εἱλίσσονται. Αὐτὰρ ὑπ› αἰθομένῳ κέντρῳ τέραος μεγάλοιο Σκορπίου, ἄγχι νότοιο, αἰωρεῖται. Τοῦ δ› ἤτοι ὀλίγον μὲν ἐπὶ χρόνον ὑψόθ› ἐόντος πεύσεαι· ἀντιπέρην γὰρ ἀείρεται Ἀρκτούροιο. Καὶ τοῦ μὲν μάλα πάγχυ μετήοροί εἰσι κέλευθοι Ἀρκτούρου, τὸ δὲ θᾶσσον ὑφ› ἑσπερίην ἅλα νεῖται. Ἀλλ› ἄρα καὶ περὶ κεῖνο Θυτήριον ἀρχαίη Νύξ, ἀνθρώπων κλαίουσα πόνον, χειμῶνος ἔθηκεν εἰναλίου μέγα σῆμα· κεδαιόμεναι γὰρ ἐκείνῃ νῆες ἀπὸ φρενός εἰσι· τὰ δ› ἄλλοθεν ἄλλα πιφαύσκει σήματ›, ἐποικτείρουσα πολυρροθίους ἀνθρώπους. Τῷ μή μοι πελάγει νεφέων εἰλυμένῳ ἄλλῳ εὔχεο μεσσόθι κεῖνο φανήμεναι οὐρανῷ ἄστρον, αὐτὸ μὲν ἀνέφελόν τε καὶ ἀγλαόν, ὕψι δὲ μᾶλλον κυμαίνοντι νέφει πεπιεσμένον, οἷά τε πολλὰ θλίβετ› ἀναστέλλοντος ὀπωρινοῦ ἀνέμοιο. Πολλάκι γὰρ καὶ τοῦτο νότῳ ἔπι σῆμα τιτύσκει νὺξ αὐτή, μογεροῖσι χαριζομένη ναύτῃσιν. Οἱ δ› εἰ μέν κε πίθωνται ἐναίσιμα σημαινούσῃ, αἶψα δὲ κοῦφά τε πάντα καὶ ἄρτια ποιήσωνται, αὐτίκ› ἐλαφρότερος πέλεται πόνος· εἰ δέ κε νηῒ ὑψόθεν ἐμπλήξῃ δεινὴ ἀνέμοιο θύελλα αὕτως ἀπρόφατος, τὰ δὲ λαίφεα πάντα ταράξῃ, ἄλλοτε μὲν καὶ πάμπαν ὑπόβρυχα ναυτίλλονται, ἄλλοτε δ›, αἴ κε Διὸς παρανισσομένοιο τύχωσιν εὐχόμενοι, βορέω δὲ πάρ› ἀστράψῃ ἀνέμοιο, πολλὰ μάλ› ὀτλήσαντες ὅμως πάλιν ἐσκέψαντο ἀλλήλους ἐπὶ νηΐ. Νότον δ› ἐπὶ σήματι τούτῳ δείδιθι, μέχρι βορῆος ἀπαστράψαντος ἴδηαι. Εἰ δέ τοι ἑσπερίης μὲν ἁλὸς ἀπείη ὦμος ὅσον προτέρης, ὀλίγη δέ μιν εἰλύοι ἀχλὺς αὐτόν, ἀτὰρ μετόπισθεν ἐοικότα σήματα φαίνοι νὺξ ἐπὶ παμφανόωντι Θυτηρίῳ, οὔ σε μάλα χρὴ ἐς νότον, ἀλλ› εὔροιο περισκοπέειν ἀνέμοιο. Δήεις δ› ἄστρον ἐκεῖνο δύω ὑποκείμενον ἄλλοις· Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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τοῦ γάρ τοι τὰ μὲν ἀνδρὶ ἐοικότα νειόθι κεῖται Σκορπίου, ἱππούραια δ› ὑπὸ σφίσι Χηλαὶ ἔχουσιν. Αὐτὰρ ὁ δεξιτερὴν αἰεὶ τανύοντι ἔοικεν ἀντία δινωτοῖο Θυτηρίου. Ἐν δέ οἱ ἀπρὶξ ἄλλο μάλ› ἐσφήκωται, ἐληλάμενον διὰ χειρός, · ὣς γάρ μιν πρότεροι ἐπεφημίξαντο. Ἀλλ› ἔτι γάρ τι καὶ ἄλλο περαιόθεν ἕλκεται ἄστρον· μιν καλέουσι· τὸ δὲ ζώοντι ἐοικὸς ἠνεκὲς εἰλεῖται, καί οἱ κεφαλὴ ὑπὸ μέσσον Καρκίνον ἱκνεῖται, σπείρη δ› ὑπὸ σῶμα Λέοντος· οὐρὴ δὲ κρέμαται ὑπὲρ αὐτοῦ Κενταύροιο. Μέσσῃ δὲ σπείρῃ , πυμάτῃ δ› ἐπίκειται εἴδωλον σπείρην κόπτοντι ἐοικός. Ναὶ μὴν καὶ Διδύμοις ὕπο καλὰ φαείνει. Ταῦτά κε θηήσαιο παρερχομένων ἐνιαυτῶν ἑξείης παλίνωρα· τὰ γὰρ καὶ πάντα μάλ› αὕτως οὐρανῷ εὖ ἐνάρηρεν ἀγάλματα νυκτὸς ἰούσης. Οἱ δ› ἐπιμὶξ ἄλλοι πέντ› ἀστέρες οὐδὲν ὁμοῖοι πάντοθεν εἰδώλων δυοκαίδεκα δινεύονται. Οὐκ ἂν ἔτ› εἰς ἄλλους ὁρόων ἐπιτεκμήραιο κείνων ἧχι κέονται, ἐπεὶ πάντες μετανάσται. Μακροὶ δέ σφεών εἰσιν ἑλισσομένων ἐνιαυτοί, μακρὰ δὲ σήματα κεῖται ἀπόπροθεν εἰς ἓν ἰόντων, οὐδ› ἔτι θαρσαλέος κείνων ἐγὼ ἄρκιος εἴην ἀπλανέων τά τε κύκλα τά τ› αἰθέρι σήματ› ἐνισπεῖν. Ἤτοι μὲν τάγε κεῖται ἀλίγκια δινωτοῖσιν, τέσσαρα, τῶν κε μάλιστα ποθὴ ὄφελός τε γένοιτο μέτρα περισκοπέοντι κατανομένων ἐνιαυτῶν. Σήματα δ› εὖ μάλα πᾶσιν ἐπιρρήδην περίκειται πολλά τε καὶ σχεδόθεν πάντη συνεερμένα πάντα. Αὐτοὶ δ› ἀπλατέες καὶ ἀρηρότες ἀλλήλοισιν πάντες· ἀτὰρ μέτρῳ γε δύω δυσὶν ἀντιφέρονται. Εἴ ποτέ τοι νυκτὸς καθαρῆς, ὅτε πάντας ἀγαυοὺς ἀστέρας ἀνθρώποις ἐπιδείκνυται οὐρανίη Νύξ, οὐδέ τις ἀδρανέων φέρεται διχόμηνι σελήνῃ, ἀλλὰ τάγε κνέφαος διαφαίνεται ὀξέα πάντα, εἴ ποτέ τοι τῆμόσδε περὶ φρένας ἵκετο θαῦμα σκεψαμένῳ πάντη κεκεασμένον εὐρέϊ κύκλῳ οὐρανόν, ἢ καί τίς τοι ἐπιστὰς ἄλλος ἔδειξεν κεῖνο περιγληνὲς τροχαλόν, μιν καλέουσιν. Τῷ δή τοι χροιὴν μὲν ἀλίγκιος οὐκέτι κύκλος 66

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δινεῖται, τὰ δὲ μέτρα τόσοι πισύρων περ ἐόντων οἱ δύο, τοὶ δέ σφεων μέγα μείονες εἱλίσσονται. Τῶν ὁ μὲν ἐγγύθεν ἐστὶ κατερχομένου βορέαο. Ἐν δέ οἱ ἀμφότεραι κεφαλαὶ Διδύμων φορέονται, ἐν δέ τε γούνατα κεῖται ἀρηρότος Ἡνιόχοιο, λαιὴ δὲ κνήμη καὶ ἀριστερὸς ὦμος ἐπ› αὐτῷ Περσέος, Ἀνδρομέδης δὲ μέσην ἀγκῶνος ὕπερθεν δεξιτερὴν ἐπέχει· τὸ μέν οἱ θέναρ ὑψόθι κεῖται ἀσσότερον βορέαο, νότῳ δ› ἐπικέκλιται ἀγκών. Ὁπλαὶ δ› Ἵππειοι, καὶ ὑπαύχενον Ὀρνίθειον ἄκρῃ σὺν κεφαλῇ, καλοί τ› Ὀφιούχεοι ὦμοι αὐτὸν δινεύονται ἐληλάμενοι περὶ κύκλον. Ἡ δ› ὀλίγον φέρεται νοτιωτέρη, οὐδ› ἐπιβάλλει, Παρθένος, ἀλλὰ Λέων καὶ Καρκίνος. Οἱ μὲν ἅμ› ἄμφω ἑξείης κέαται βεβλημένοι, αὐτὰρ ὁ κύκλος τὸν μὲν ὑπὸ στῆθος καὶ γαστέρα μέχρι παρ› αἰδῶ τέμνει, τὸν δὲ διηνεκέως ὑπένερθε χελείου Καρκίνον, ἧχι μάλιστα διχαιόμενόν κε νοήσαις ὀρθόν, ἵν› ὀφθαλμοὶ κύκλου ἑκάτερθεν ἴοιεν. Τοῦ μὲν, ὅσον τε μάλιστα, δι› ὀκτὼ μετρηθέντος, πέντε μὲν ἔνδια στρέφεται καθ› ὑπέρτερα γαίης, τὰ τρία δ› ἐν περάτῃ· θέρεος δέ οἱ ἐν τροπαί εἰσιν. Ἀλλ› ὁ μὲν ἐν βορέω περὶ Καρκίνον ἐστήρικται. Ἄλλος δ› ἀντιόωντι νότῳ μέσον Αἰγοκερῆα τέμνει καὶ πόδας Ὑδροχόου καὶ Κήτεος οὐρήν· ἐν δέ οἵ ἐστι Λαγωός· ἀτὰρ Κυνὸς οὐ μάλα πολλὴν αἴνυται, ἀλλ› ὁπόσην ἐπέχει ποσίν· ἐν δέ οἱ Ἀργὼ καὶ μέγα Κενταύροιο μετάφρενον, ἐν δέ τε κέντρον Σκορπίου· ἐν καὶ τόξον ἐλαφροῦ Τοξευτῆρος. Τὸν πύματον καθαροῖο παρερχόμενος βορέαο ἐς νότον ἠέλιος φέρεται, τρέπεταί γε μὲν αὐτοῦ χειμέριος. Καί οἱ τρία μὲν περιτέλλεται ὑψοῦ τῶν ὀκτώ, τὰ δὲ πέντε κατώρυχα δινεύονται. Μεσσόθι δ› ἀμφοτέρων, ὅσσος πολιοῖο γάλακτος, γαῖαν ὑποστρέφεται κύκλος διχόωντι ἐοικώς· ἐν δέ οἱ ἤματα νυξὶν ἰσαίεται ἀμφοτέρῃσιν, φθίνοντος θέρεος, τοτὲ δ› εἴαρος ἱσταμένοιο. Σῆμα δέ οἱ Κριὸς Ταύροιό τε γούνατα κεῖται, Κριὸς μὲν κατὰ μῆκος ἐληλάμενος διὰ κύκλου, Ταύρου δὲ σκελέων ὅσση περιφαίνεται ὀκλάς. Ἐν δέ τέ οἱ ζώνη εὐφεγγέος Ὠρίωνος Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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καμπή τ› αἰθομένης Ὕδρης· ἐνί οἱ καὶ ἐλαφρὸς Κρητήρ, ἐν δὲ Κόραξ, ἐνὶ δ› ἀστέρες οὐ μάλα πολλοὶ Χηλάων· ἐν τῷ δ› Ὀφιούχεα γοῦνα φορεῖται. Οὐ μὴν Αἰητοῦ ἀπαμείρεται, ἀλλά οἱ ἐγγὺς Ζηνὸς ἀητεῖται μέγας ἄγγελος. Ἡ δὲ κατ› αὐτὸν Ἱππείη κεφαλὴ καὶ ὑπαύχενον εἱλίσσονται. Τοὺς μὲν παρβολάδην ὀρθοὺς περιβάλλεται ἄξων, μεσσόθι πάντας ἔχων· ὁ δὲ τέτρατος ἐσφήκωται λοξὸς ἐν ἀμφοτέροις, οἵ μίν ῥ› ἑκάτερθεν ἔχουσιν ἀντιπέρην τροπικοί, μέσσος δέ ἑ μεσσόθι τέμνει. Οὔ κεν Ἀθηναίης χειρῶν δεδιδαγμένος ἀνὴρ ἄλλῃ κολλήσαιτο κυλινδόμενα τροχάλεια τοῖά τε καὶ τόσα, πάντα περὶ σφαιρηδὸν ἑλίσσων· ὣς τάγ› ἐναιθέρια πλαγίῳ συναρηρότα κύκλῳ ἐξ ἠοῦς ἐπὶ νύκτα διώκεται ἤματα πάντα. Καὶ τὰ μὲν ἀντέλλει καὶ αὐτίκα νειόθι δύνει πάντα παραβλήδην· μία δέ σφεών ἐστιν ἑκάστου ἑξείης ἑκάτερθε κατηλυσίη τ› ἄνοδός τε. Αὐτὰρ ὅγ› ὠκεανοῖο τόσον παραμείβεται ὕδωρ, ὅσσον ἀπ› Αἰγοκερῆος ἀνερχομένοιο μάλιστα Καρκίνον εἰς ἀνιόντα κυλίνδεται. Ὅσσον ἁπάντη ἀντέλλων ἐπέχει, τόσσον γε μὲν ἄλλοθι δύνων. Ὅσσον δ› ὀφθαλμοῖο βολῆς ἀποτείνεται αὐγή, ἑξάκις ἂν τόσση μιν ὑποδράμοι· αὐτὰρ ἑκάστη ἴση μετρηθεῖσα δύω περιτέμνεται ἄστρα. Ζωϊδίων δέ ἑ κύκλον ἐπίκλησιν καλέουσιν. Τῷ ἔνι Καρκίνος ἐστί, Λέων ἐπὶ τῷ, μετὰ δ› αὐτὸν Παρθένος· αἱ δ› ἐπί οἱ Χηλαὶ καὶ Σκορπίος αὐτὸς Τοξευτής τε καὶ Αἰγόκερως, ἐπὶ δ› Αἰγοκερῆϊ Ὑδροχόος· δύο δ› αὐτῷ ἔπ› Ἰχθύες ἀστερόεντες, τοὺς δὲ μέτα Κριός, Ταῦρος δ› ἐπὶ τῷ Δίδυμοί τε. Ἐν τοῖς ἠέλιος φέρεται δυοκαίδεκα πᾶσιν πάντ› ἐνιαυτὸν ἄγων, καί οἱ περὶ τοῦτον ἰόντι κύκλον ἀέξονται πᾶσαι ἐπικάρπιοι ὧραι. Τοῦ δ› ὅσσον κοίλοιο κατ› ὠκεανοῖο δύηται, τόσσον ὑπὲρ γαίης φέρεται· πάσῃ δ› ἐπὶ νυκτὶ ἓξ αἰεὶ δύνουσι δυωδεκάδες κύκλοιο, τόσσαι δ› ἀντέλλουσι. Τόσον δ› ἐπὶ μῆκος ἑκάστη νὺξ αἰεὶ τετάνυσται, ὅσον τέ περ ἥμισυ κύκλου ἀρχομένης ἀπὸ νυκτὸς ἀείρεται ὑψόθι γαίης. Οὔ κεν ἀπόβλητον δεδοκημένῳ ἤματος εἴη 68

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μοιράων σκέπτεσθαι ὅτ› ἀντέλλῃσιν ἑκάστη· αἰεὶ γὰρ τάων γε μιῇ συνανέρχεται αὐτὸς ἠέλιος. Τὰς δ› ἄν κε περισκέψαιο μάλιστα εἰς αὐτὰς ὁρόων· ἀτὰρ εἰ νεφέεσσι μέλαιναι γίνοιντ› ἢ ὄρεος κεκρυμμέναι ἀντέλλοιεν, σήματ› ἐπερχομένῃσιν ἀρηρότα ποιήσασθαι. Αὐτὸς δ› ἂν μάλα τοι κεράων ἑκάτερθε διδοίη ὠκεανὸς τά τε πολλὰ περιστέφεται ἑοῖ αὐτῷ νειόθεν ὁππῆμος κείνων φορέῃσιν ἑκάστην. Οὔ οἱ ἀφαυρότατοι, ὅτε ἀντέλλῃσιν, ἀστέρες ἀμφοτέρωθεν ἑλισσόμενοι περίκεινται, τοὶ μὲν δύνοντες, τοὶ δ› ἐξ ἑτέρης ἀνιόντες. Δύνει μὲν Στέφανος, δύνει δὲ κατὰ ῥάχιν Ἰχθῦς· ἥμισυ μέν κεν ἴδοιο μετήορον, ἥμισυ δ› ἤδη ἐσχατιαὶ βάλλουσι κατερχομένου Στεφάνοιο. Αὐτὰρ ὅγ› ἐξόπιθεν τετραμμένος ἄλλα μὲν οὔπω γαστέρι νειαίρῃ, τὰ δ› ὑπέρτερα νυκτὶ φορεῖται. Τὸν δὲ καὶ εἰς ὤμους κατάγει μογερὸν Ὀφιοῦχον Καρκίνος ἐκ γονάτων, κατάγει δ› Ὄφιν αὐχένος ἐγγύς. Οὐδ› ἂν ἔτ› Ἀρκτοφύλαξ εἴη πολὺς ἀμφοτέρωθεν, μείων ἠμάτιος, τὸ δ› ἐπὶ πλέον ἔννυχος ἤδη. Τέτρασι γὰρ μοίραις ἄμυδις κατιόντα Βοώτην ὠκεανὸς δέχεται· ὁ δ› ἐπὴν φάεος κορέσηται, βουλυτῷ ἐπέχει πλεῖον δίχα νυκτὸς ἰούσης, ἦμος ὅτ› ἠελίοιο κατερχομένοιο δύηται. Κεῖναί οἱ καὶ νύκτες ἐπ› ὀψὲ δύοντι λέγονται. Ὥς οἱ μὲν δύνουσιν, ὁ δ› ἀντίος οὐδὲν ἀεικής, ἀλλ› εὖ μὲν ζώνῃ εὖ δ› ἀμφοτέροισι φαεινὸς ὤμοις Ὠρίων, ξίφεός γε μὲν ἶφι πεποιθώς, πάντα φέρων Ποταμόν, κέραος παρατείνεται ἄλλου. Ἐρχομένῳ δὲ Λέοντι τὰ μὲν κατὰ πάντα φέρονται Καρκίνῳ ὅσσ› ἐδύοντο, καὶ Αἰετός. Αὐτὰρ ὅγε γνὺξ ἥμενος ἄλλα μὲν ἤδη, ἀτὰρ γόνυ καὶ πόδα λαιὸν οὔπω κυμαίνοντος ὑποστρέφει ὠκεανοῖο. Ἀντέλλει δ› Ὕδρης κεφαλὴ χαροπός τε Λαγωὸς καὶ Προκύων πρότεροί τε πόδες Κυνὸς αἰθομένοιο. Οὐ μέν θην ὀλίγους γαίης ὑπὸ νείατα βάλλει ἀντέλλουσα. Λύρη τότε Κυλληναίη καὶ Δελφὶς δύνουσι καὶ εὐποίητος Ὀϊστός. Σὺν τοῖς Ὄρνιθος πρῶτα πτερὰ μέσφα παρ› αὐτὴν οὐρὴν καὶ Ποταμοῖο παρηορίαι σκιόωνται. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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Δύνει δ› Ἱππείη κεφαλή, δύνει δὲ καὶ αὐχήν. Ἀντέλλει δ› Ὕδρη μὲν ἐπὶ πλέον ἄχρι παρ› αὐτὸν Κρητῆρα. Φθάμενος δὲ Κύων πόδας αἴνυται ἄλλους, ἕλκων ἐξόπιθεν πρύμναν πολυτειρέος Ἀργοῦς. Ἡ δὲ θέει γαίης ἱστὸν διχόωσα κατ› αὐτόν, Παρθένος ἦμος ἅπασα περαιόθεν ἄρτι γένηται. Οὐδ› ἂν ἐπερχόμεναι καὶ λεπτὰ φάουσαι ἄφραστοι παρίοιεν, ἐπεὶ μέγα σῆμα Βοώτης ἀθρόος ἀντέλλει βεβολημένος Ἀρκτούροιο. Ἀργὼ δ› εὖ μάλα πᾶσα μετήορος ἵσταται ἤδη· ἀλλ› Ὕδρη, κέχυται γὰρ ἐν οὐρανῷ ἤλιθα πολλή, οὐρῆς ἂν δεύοιτο. Μόνην δ› ἐπὶ Χηλαὶ ἄγουσιν .......................................................................... δεξιτερὴν κνήμην, αὐτῆς ἐπιγουνίδος ἄχρις, αἰεὶ γνύξ, αἰεὶ δὲ Λύρῃ παραπεπτηῶτος, ὅντινα τοῦτον ἄϊστον ὑπουρανίων εἰδώλων, ἀμφότερον δύνοντα καὶ ἐξ ἑτέρης ἀνιόντα πολλάκις αὐτονυχεὶ θηεύμεθα. Τοῦ μὲν ἄρ› οἴη κνήμη σὺν Χηλῇσι φαείνεται ἀμφοτέρῃσιν· αὐτὸς δ› ἐς κεφαλὴν ἔτι που τετραμμένος ἄλλῃ Σκορπίον ἀντέλλοντα μένει καὶ ῥύτορα Τόξου· οἱ γάρ μιν φορέουσιν, ὁ μὲν μέσον ἄλλα τε πάντα, χεῖρα δέ οἱ σκαιὴν κεφαλῇ ἅμα Τόξον ἀγινεῖ· ἀλλ› ὁ μὲν ὣς τρίχα πάντα καταμελεϊστὶ φορεῖται· Ἥμισυ δὲ Στεφάνοιο καὶ αὐτὴν ἔσχατον οὐρὴν Κενταύρου φορέουσιν ἀνερχόμεναι ἔτι Χηλαί. Τῆμος ἀποιχομένην κεφαλὴν μέτα δύεται Ἵππος, καὶ προτέρου Ὄρνιθος ἐφέλκεται ἔσχατος οὐρή. Δύνει δ› Ἀνδρομέδης κεφαλή· τὸ δέ οἱ μέγα δεῖμα Κήτεος ἠερόεις ἐπάγει νότος· ἀντία δ› αὐτὸς Κηφεὺς ἐκ βορέω μεγάλῃ ἀνὰ χειρὶ κελεύει. Καὶ τὸ μὲν ἐς λοφιὴν τετραμμένον ἄχρι παρ› αὐτὴν δύνει, ἀτὰρ Κηφεὺς κεφαλῇ καὶ χειρὶ καὶ ὤμοις. Καμπαὶ δ› ἂν Ποταμοῖο καὶ αὐτίκ› ἐπερχομένοιο ἐμπίπτοιεν ἐϋρρόου ὠκεανοῖο· ὃς καὶ ἐπερχόμενος φοβέει μέγαν Ὠρίωνα. Ἄρτεμις ἱλήκοι· προτέρων λόγος, οἵ μιν ἔφαντο ἑλκῆσαι πέπλοιο, Χίῳ ὅτε θηρία πάντα καρτερὸς Ὠρίων στιβαρῇ ἐπέκοπτε κορύνῃ, θήρης ἀρνύμενος κείνῳ χάριν Οἰνοπίωνι. Ἡ δέ οἱ ἐξαυτῆς ἐπετείλατο θηρίον ἄλλο, 70

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νήσου ἀναρρήξασα μέσας ἑκάτερθε κολώνας, σκορπίον, ὅς ῥά μιν οὖτα καὶ ἔκτανε πολλὸν ἐόντα πλειότερος προφανείς, ἐπεὶ Ἄρτεμιν ἤκαχεν αὐτήν. Τοὔνεκα δὴ καί φασι περαιόθεν ἐρχομένοιο Σκορπίου Ὠρίωνα περὶ χθονὸς ἔσχατα φεύγειν. Οὐδὲ μὲν Ἀνδρομέδης καὶ Κήτεος ὅσσ› ἐλέλειπτο κείνου ἔτ› ἀντέλλοντος ἀπευθέες, ἀλλ› ἄρα καὶ τοὶ πανσυδίῃ φεύγουσιν· ὁ δὲ ζώνῃ τότε Κηφεὺς γαῖαν ἐπιξύει, τὰ μὲν ἐς κεφαλὴν μάλα πάντα βάπτων ὠκεανοῖο, τὰ δ› οὐ θέμις, ἀλλὰ τάγ› αὐταὶ Ἄρκτοι κωλύουσι, πόδας καὶ γοῦνα καὶ ἰξύν. Ἡ δὲ καὶ αὐτὴ παιδὸς ἐπείγεται εἰδώλοιο δειλὴ Κασσιέπεια· τὰ δ› οὐκέτι οἱ κατὰ κόσμον φαίνεται ἐκ δίφροιο πόδες καὶ γούναθ› ὕπερθεν, ἀλλ› ἥγ› ἐς κεφαλὴν ἴση δύετ› ἀρνευτῆρι μειρομένη γονάτων, ἐπεὶ οὐκ ἂρ ἔμελλεν ἐκείνη Δωρίδι καὶ Πανόπῃ μεγάλων ἄτερ ἰσώσασθαι. Ἡ μὲν ἄρ› εἰς ἑτέρην φέρεται· τὰ δὲ νειόθεν ἄλλα οὐρανὸς ἀντιφέρει, Στεφάνοιό τε δεύτερα κύκλα Ὕδρης τ› ἐσχατιήν· φορέει τ› ἐπὶ Κενταύροιο σῶμά τε καὶ κεφαλήν, καὶ Θηρίον ὅ ῥ› ἐνὶ χειρὶ δεξιτερῇ Κένταυρος ἔχει. Τοὶ δ› αὖθι μένουσιν Τόξον ἐπερχόμενον πρότεροι πόδες ἱππότα φηρός. Τόξῳ καὶ σπείρη Ὄφιος καὶ σῶμ› Ὀφιούχου ἀντέλλει ἐπιόντι· καρήατα δ› αὐτὸς ἀγινεῖ Σκορπίος ἀντέλλων, ἀνάγει δ› αὐτὰς Ὀφιούχου χεῖρας καὶ προτέρην Ὄφιος πολυτειρέος ἀγήν. Τοῦ γε μὲν Ἐνγόνασιν (περὶ γὰρ τετραμμένος αἰεὶ ἀντέλλει) τότε μὲν περάτης ἐξέρχεται ἄλλα, γυῖά τε καὶ ζώνη καὶ στήθεα πάντα καὶ ὦμος δεξιτερῇ σὺν χειρί· κάρη δ› ἑτέρης μετὰ χειρὸς τόξῳ ἀνέρχονται καὶ ἀντέλλοντι. Σὺν τοῖς Ἑρμαίη τε Λύρη καὶ στήθεος ἄχρις Κηφεὺς ἠῴου παρελαύνεται ὠκεανοῖο, ἦμος καὶ μεγάλοιο Κυνὸς πᾶσαι ἀμαρυγαὶ δύνουσιν, καὶ πάντα κατέρχεται Ὠρίωνος, πάντα γε μὴν ἀτέλεστα διωκομένοιο Λαγωοῦ. Ἀλλ› οὐχ Ἡνιόχῳ Ἔριφοι οὐδ› Ὠλενίη Αἲξ εὐθὺς ἀπέρχονται· τά τέ οἱ μεγάλην ἀνὰ χεῖρα λάμπονται, καί οἱ μελέων διακέκριται ἄλλων κινῆσαι χειμῶνας, ὅτ› ἠελίῳ συνίωσιν. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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Ἀλλὰ τὰ μέν, κεφαλήν τε καὶ ἄλλην χεῖρα καὶ ἰξύν, ἀνιὼν κατάγει· τὰ δὲ νείατα πάντα αὐτῷ Τοξευτῆρι κατέρχεται. Οὐδέ τι Περσεύς, οὐδέ τι ἄκρα κόρυμβα μένει πολυτειρέος Ἀργοῦς· ἀλλ› ἤτοι Περσεὺς μὲν ἄτερ γουνός τε ποδός τε δεξιτεροῦ δύεται, πρύμνης δ› ὅσον ἐς περιαγήν· αὐτὴ δ› Αἰγοκερῆϊ κατέρχεται ἀντέλλοντι, ἦμος καὶ Προκύων δύεται, τὰ δ› ἀνέρχεται ἄλλα, Ὄρνις τ› Αἰητός τε, τά τε πτερόεντος Ὀϊστοῦ τείρεα, καὶ νοτίοιο Θυτηρίου ἱερὸς ἕδρη. Ἵππος δ› μέσον περιτελλομένοιο ποσσί τε καὶ κεφαλῇ ἀνελίσσεται· ἀντία δ› Ἵππου ἐξ οὐρῆς Κένταυρον ἐφέλκεται ἀστερίη νύξ. Ἀλλ› οὔ οἱ δύναται κεφαλὴν οὐδ› εὐρέας ὤμους αὐτῷ σὺν θώρηκι χαδεῖν, ἀλλ› αἴθοπος Ὕδρης αὐχενίην κατάγει σπείρην καὶ πάντα μέτωπα. Ἡ δὲ καὶ ἐξόπιθεν πολλὴ μένει· ἀλλ› ἄρα καὶ τὴν αὐτῷ Κενταύρῳ, ὁπότ› ἀντέλλωσιν, ἀθρόον ἐμφέρεται. Ὁ δ› ἐπ› Ἰχθύσιν ἔρχεται Ἰχθῦς αὐτῷ κυανέῳ ὑποκείμενος Αἰγοκερῆι· οὐ μὲν ἄδην, ὀλίγον δὲ δυωδεκάδ› ἀμμένει ἄλλην. Οὕτω καὶ μογεραὶ χεῖρες καὶ γοῦνα καὶ ὦμοι Ἀνδρομέδης δίχα πάντα, τὰ μὲν πάρος, ἄλλα δ› ὀπίσσω τείνεται, ὠκεανοῖο νέον ὁπότε προγένωνται Ἰχθύες ἀμφότεροι· τά γε μὲν κατὰ δεξιὰ χειρὸς αὐτοὶ ἐφέλκονται, τὰ δ› ἀριστερὰ νειόθεν ἕλκει ἀνερχόμενος. Τοῦ καὶ περιτελλομένοιο ἑσπερόθεν κεν ἴδοιο Θυτήριον, αὐτὰρ ἐν ἄλλῃ Περσέος ἀντέλλοντος ὅσον κεφαλήν τε καὶ ὤμους· αὐτὴ δὲ ζώνη καί κ› ἀμφήριστα πέλοιτο ἢ Κριῷ λήγοντι φαείνεται ἢ ἐπὶ σὺν τῷ πανσυδίῃ ἀνελίσσεται. Οὐδ› ὅγε Ταύρου λείπεται ἀντέλλοντος, ἐπεὶ μάλα οἱ συναρηρὼς Ἡνίοχος φέρεται· μοίρῃ γε μὲν οὐκ ἐπὶ ταύτῃ ἀθρόος ἀντέλλει, Δίδυμοι δέ μιν οὖλον ἄγουσιν. Ἀλλ› Ἔριφοι λαιοῦ τε θέναρ ποδὸς Αἰγὶ σὺν αὐτῇ Ταύρῳ συμφορέονται, ὅτε λοφιή τε καὶ οὐρὴ Κήτεος αἰθερίοιο περαιόθεν ἀντέλλωσιν. Δύνει δ› Ἀρκτοφύλαξ ἤδη πρώτῃ τότε μοίρῃ τάων, αἳ πίσυρές μιν ἄτερ χειρὸς κατάγουσιν λαιῆς· ἡ δ› αὐτῷ μεγάλης ὑποτείνεται Ἄρκτου. 72

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Ἀμφότεροι δὲ πόδες καταδυομένου Ὀφιούχου, μέσφ› αὐτῶν γονάτων ἔπι σῆμα τετύχθω ἐξ ἑτέρης ἀνιοῦσι. Τότ› οὐκέτι Κήτεος οὐδὲν ἕλκεται ἀμφοτέρωθεν, ὅλον δέ μιν ὄψεαι ἤδη. Ἤδη καὶ Ποταμοῦ πρώτην ἁλὸς ἐξανιοῦσαν καμπὴν ἐν καθαρῷ πελάγει σκέψαιτό κε ναύτης, αὐτὸν ἐπ› Ὠρίωνα μένων, εἴ οἵ ποθι σῆμα ἢ νυκτὸς μέτρων ἠὲ πλόου ἀγγείλειεν· πάντη γὰρ τάγε πολλὰ θεοὶ ἄνδρεσσι λέγουσιν. Οὐχ ὁράᾳς; ὀλίγη μὲν ὅταν κεράεσσι σελήνη ἑσπερόθεν φαίνηται, ἀεξομένοιο διδάσκει μηνός· ὅτε πρώτη ἀποκίδναται αὐτόθεν αὐγή, ὅσσον ἐπισκιάειν, ἐπὶ τέτρατον ἦμαρ ἰοῦσα· ὀκτὼ δ› ἐν διχάσιν, διχόμηνα δὲ παντὶ προσώπῳ. Αἰεὶ δ› ἄλλοθεν ἄλλα παρακλίνουσα μέτωπα εἴρει ὁποσταίη μηνὸς περιτέλλεται ἠώς. Ἄκρα γε μὲν νυκτῶν κεῖναι δυοκαίδεκα μοῖραι ἄρκιαι ἐξειπεῖν. Τὰ δέ που μέγαν εἰς ἐνιαυτόν, ὥρη μέν τ› ἀρόσαι νειούς, ὥρη δὲ φυτεῦσαι, ἐκ Διὸς ἤδη πάντα πεφασμένα πάντοθι κεῖται. Καὶ μέν τις καὶ νηῒ πολυκλύστου χειμῶνος ἐφράσατ› ἢ δεινοῦ μεμνημένος Ἀρκτούροιο ἠέ τεων ἄλλων, οἵ τ› ὠκεανοῦ ἀρύονται ἀστέρες ἀμφιλύκης, οἵ τε πρώτης ἔτι νυκτός. Ἤτοι γὰρ τοὺς πάντας ἀμείβεται εἰς ἐνιαυτὸν ἠέλιος, μέγαν ὄγμον ἐλαύνων, ἄλλοτε δ› ἄλλῳ ἐμπλήσσει, τοτὲ μέν τ› ἀνιών, τοτὲ δ› αὐτίκα δύνων· ἄλλος δ› ἀλλοίην ἀστὴρ ἐπιδέρκεται ἠῶ. Γινώσκεις τάδε καὶ σύ. Τὰ γὰρ συναείδεται ἤδη ἐννεακαίδεκα κύκλα φαεινοῦ ἠελίοιο, ὅσσα τ› ἀπὸ ζώνης εἰς ἔσχατον Ὠρίωνα νὺξ ἐπιδινεῖται, Κύνα τε θρασὺν Ὠρίωνος, οἵ τε Ποσειδάωνος ὁρώμενοι ἢ Διὸς αὐτοῦ ἀστέρες ἀνθρώποισι τετυγμένα σημαίνουσιν. Τῷ κείνων πεπόνησο. Μέλοι δέ τοι, εἴ ποτε νηῒ πιστεύεις, εὑρεῖν ὅσα που κεχρημένα κεῖται σήματα χειμερίοις ἀνέμοις ἢ λαίλαπι πόντου. Μόχθος μέν τ› ὀλίγος, τὸ δὲ μυρίον αὐτίκ› ὄνειαρ γίνετ› ἐπιφροσύνης αἰεὶ πεφυλαγμένῳ ἀνδρί. Αὐτὸς μὲν τὰ πρῶτα σαώτερος, εὖ δὲ καὶ ἄλλον παρειπὼν ὤνησεν, ὅτ› ἐγγύθεν ὤρορε χειμών. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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Πολλάκι γὰρ καί τίς κε γαληναίῃ ὑπὸ νυκτὶ νῆα περιστέλλοι πεφοβημένος ἦρι θαλάσσης· ἄλλοτε δὲ τρίτον ἦμαρ ἐπιτρέχει, ἄλλοτε πέμπτον, ἄλλοτε δ› ἀπρόφατον κακὸν ἵκετο· πάντα γὰρ οὔπω ἐκ Διὸς ἄνθρωποι γινώσκομεν, ἀλλ› ἔτι πολλὰ κέκρυπται, τῶν αἴ κε θέλῃ καὶ ἐσαυτίκα δώσει Ζεύς· ὁ γὰρ οὖν γενεὴν ἀνδρῶν ἀναφανδὸν ὀφέλλει πάντοθεν εἰδόμενος, πάντη δ› ὅ γε σήματα φαίνων. Ἄλλα δέ τοι ἐρέει ἤ που διχόωσα σελήνη πληθύος ἀμφοτέρωθεν ἢ αὐτίκα πεπληθυῖα, ἄλλα δ› ἀνερχόμενος, τοτὲ δ› ἄκρῃ νυκτὶ κελεύει ἠέλιος. Τὰ δέ που καὶ ἀπ› ἄλλων ἔσσεται ἄλλα σήματα καὶ περὶ νυκτὶ καὶ ἤματι ποιήσασθαι. Σκέπτεο δὲ πρῶτον κεράων ἑκάτερθε σελήνην. Ἄλλοτε γάρ τ› ἄλλῃ μιν ἐπιγράφει ἕσπερος αἴγλῃ, ἄλλοτε δ› ἀλλοῖαι μορφαὶ κερόωσι σελήνην εὐθὺς ἀεξομένην, αἱ μὲν τρίτῃ, αἱ δὲ τετάρτῃ· τάων καὶ περὶ μηνὸς ἐφεσταότος κε πύθοιο. Λεπτὴ μὲν καθαρή τε περὶ τρίτον ἦμαρ ἐοῦσα εὔδιός κ› εἴη, λεπτὴ δὲ καὶ εὖ μάλ› ἐρευθὴς πνευματίη· παχίων δὲ καὶ ἀμβλείῃσι κεραίαις τέτρατον ἐκ τριτάτοιο φόως ἀμενηνὸν ἔχουσα ἠὲ νότου ἀμβλύνετ› ἢ ὕδατος ἐγγὺς ἐόντος. Εἰ δέ κ› ἀπ› ἀμφοτέρων κεράων τρίτον ἦμαρ ἄγουσα μήτ› ἐπινευστάζῃ μήθ› ὑπτιόωσα φαείνῃ, ἀλλ› ὀρθαὶ ἑκάτερθε περιγνάμπτωσι κεραῖαι, ἑσπέριοί κ› ἄνεμοι κείνην μετὰ νύκτα φέροιντο. Εἰ δ› αὕτως ὀρθὴ καὶ τέτρατον ἦμαρ ἀγινοῖ, ἦ τ› ἂν χειμῶνος συναγειρομένοιο διδάσκοι. Εἰ δέ κέ οἱ κεράων τὸ μετήορον εὖ ἐπινεύῃ, δειδέχθαι βορέω, ὅτε δ› ὑπτιάῃσι, νότοιο. Αὐτὰρ ἐπὴν τριτόωσαν ὅλος περὶ κύκλος ἑλίσσῃ πάντη ἐρευθόμενος, μάλα κεν τότε χείμερος εἴη· μείζονι δ› ἂν χειμῶνι πυρώτερα φοινίσσοιτο. Σκέπτεο δ› ἐς πληθύν τε καὶ ἀμφότερον διχόωσαν ἠμὲν ἀεξομένην ἠδ› ἐς κέρας αὖθις ἰοῦσαν· καί οἱ ἐπὶ χροιῇ τεκμαίρεο μηνὸς ἑκάστου. Πάντη γὰρ καθαρῇ κε μάλ› εὔδια τεκμήραιο· πάντα δ› ἐρευθομένῃ δοκέειν ἀνέμοιο κελεύθους· ἄλλοθι δ› ἄλλο μελαινομένῃ δοκέειν ὑετοῖο. Σήματα δ› οὐτἂρ πᾶσιν ἐπ› ἤμασι πάντα τέτυκται· 74

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ἀλλ› ὅσα μὲν τριτάτῃ τε τεταρταίῃ τε πέλονται μέσφα διχαιομένης, διχάδος γε μὲν ἄχρις ἐπ› αὐτὴν σημαίνει διχόμηνον, ἀτὰρ πάλιν ἐκ διχομήνου ἐς διχάδα φθιμένην· ἔχεται δέ οἱ αὐτίκα τετρὰς μηνὸς ἀποιχομένου, τῇ δὲ τριτάτη ἐπιόντος. Εἰ δέ κέ μιν περὶ πᾶσαν ἀλωαὶ κυκλώσωνται ἢ τρεῖς ἠὲ δύω περικείμεναι ἠὲ μί› οἴη, τῇ μὲν ἰῇ ἀνέμοιο γαληναίης τε δοκεύειν, ῥηγνυμένῃ ἀνέμοιο, μαραινομένῃ δὲ γαλήνης· ταὶ δύο δ› ἂν χειμῶνι περιτροχάοιντο σελήνην· μείζονα δ› ἂν χειμῶνα φέροι τριέλικτος ἀλωή, καὶ μᾶλλον μελανεῦσα, καὶ εἰ ῥηγνύατο μᾶλλον. Καὶ τὰ μὲν οὖν ἐπὶ μηνὶ σεληναίης κε πύθοιο. Ἠελίοιο δέ τοι μελέτω ἑκάτερθεν ἰόντος· ἠελίῳ καὶ μᾶλλον ἐοικότα σήματα κεῖται ἀμφότερον δύνοντι καὶ ἐκ περάτης ἀνιόντι. Μή οἱ ποικίλλοιτο νέον βάλλοντος ἀρούρας κύκλος, ὅτ› εὐδίου κεχρημένος ἤματος εἴης, μηδέ τι σῆμα φέροι, φαίνοιτο δὲ λιτὸς ἁπάντη. Εἰ δ› αὕτως καθαρόν μιν ἔχοι βουλύσιος ὥρη, δύνοι δ› ἀνέφελος μαλακῇ ὑποδείελος αἴγλῃ, καί κεν ἐπερχομένης ἠοῦς ἔθ› ὑπεύδιος εἴη. Ἀλλ› οὐχ ὁππότε κοῖλος ἐειδόμενος περιτέλλῃ, οὐδ› ὁπότ› ἀκτίνων αἱ μὲν νότον αἱ δὲ βορῆα σχιζόμεναι βάλλωσι, τὰ δ› αὖ περὶ μέσσα φαείνῃ· ἀλλά που ἢ ὑετοῖο διέρχεται ἢ ἀνέμοιο. Σκέπτεο δ›, εἴ κέ τοι αὐγαὶ ὑπείκωσ› ἠελίοιο, αὐτὸν ἐς ἠέλιον, τοῦ γὰρ σκοπαί εἰσιν ἄρισται, εἴ τί που ἤ οἱ ἔρευθος ἐπιτρέχει, οἷά τε πολλὰ ἑλκομένων νεφέων ἐρυθαίνεται ἄλλοθεν ἄλλα, ἢ εἴ που μελανεῖ· καί τοι τὰ μὲν ὕδατος ἔστω σήματα μέλλοντος, τὰ δ› ἐρεύθεα πάντ› ἀνέμοιο. Εἴ γε μὲν ἀμφοτέροις ἄμυδις κεχρωσμένος εἴη, καί κεν ὕδωρ φορέοι καὶ ὑπηνέμιος τανύοιτο. Εἰ δέ οἱ ἢ ἀνιόντος ἢ αὐτίκα δυομένοιο ἀκτῖνες συνίωσι καὶ ἀμφ› ἑνὶ πεπλήθωσιν, ἤ ποτε καὶ νεφέων πεπιεσμένος ἢ ὅ γ› ἐς ἠῶ ἔρχηται παρὰ νυκτὸς ἢ ἐξ ἠοῦς ἐπὶ νύκτα, ὕδατί κεν κατιόντι παρατρέχοι ἤματα κεῖνα. Μηδ› ὅτε οἱ ὀλίγη νεφέλη πάρος ἀντέλλῃσιν, τὴν δὲ μέτ› ἀκτίνων κεχρημένος αὐτὸς ἀερθῇ, Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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ἀμνηστεῖν ὑετοῖο. Πολὺς δ› ὅτε οἱ πέρι κύκλος οἷον τηκομένῳ ἐναλίγκιος εὐρύνηται πρῶτον ἀνερχομένοιο καὶ ἂψ ἐπὶ μεῖον ἴῃσιν, εὔδιός κε φέροιτο, καὶ εἴ ποτε χείματος ὥρῃ ὠχρήσῃ κατιών. Ἀτὰρ ὕδατος ἡμερινοῖο γινομένου, κατόπισθε περὶ νέφεα σκοπέεσθαι κὰδ δὴ δυομένου τετραμμένος ἠελίοιο· ἢν μὲν ὑποσκιάῃσι μελαινομένῃ εἰκυῖα ἠέλιον νεφέλη, ταὶ δ› ἀμφί μιν ἔνθα καὶ ἔνθα ἀκτῖνες μεσσηγὺς ἑλισσομένην διχόωνται, ἦ τ› ἂν ἔτ› εἰς ἠῶ σκέπαος κεχρημένος εἴης. Εἰ δ› ὁ μὲν ἀνέφελος βάπτῃ ῥόου ἑσπερίοιο, ταὶ δὲ κατερχομένου νεφέλαι καὶ ἔτ› οἰχομένοιο πλησίαι ἑστήκωσιν ἐρευθέες, οὔ σε μάλα χρὴ αὔριον οὐδ› ἐπὶ νυκτὶ περιτρομέειν ὑετοῖο, ἀλλ› ὁπότ› ἠελίοιο μαραινομένῃσιν ὁμοῖαι ἐξαπίνης ἀκτῖνες ἀπ› οὐρανόθεν τανύωνται, οἷον ἀμαλδύνονται, ὅτε σκιάῃσι κατ› ἰθὺ ἱσταμένη γαίης τε καὶ ἠελίοιο σελήνη. Οὐδ› ὅτε οἱ ἐπέχοντι φανήμεναι ἠῶθι πρὸ φαίνωνται νεφέλαι ὑπερευθέες ἄλλοθεν ἄλλαι, ἄρραντοι γίνονται ἐπ› ἤματι κείνῳ ἄρουραι. Μηδ› αὕτως, ἔτ› ἐόντι πέρην ὁπότε προταθεῖσαι ἀκτῖνες φαίνωνται ἐπίσκιοι ἠῶθι πρό, ὕδατος ἢ ἀνέμοιο κατοισομένου λελαθέσθαι. Ἀλλ› εἰ μὲν κεῖναι μᾶλλον κνέφαος φορέοιντο ἀκτῖνες, μᾶλλόν κεν ἐφ› ὕδατι σημαίνοιεν· εἰ δ› ὀλίγος τανύοιτο περὶ δνόφος ἀκτίνεσσιν, οἷόν που μαλακαὶ νεφέλαι φορέουσι μάλιστα, ἦ τ› ἂν ἐπερχομένοιο περιδνοφέοιντ› ἀνέμοιο. Οὐδὲ μὲν ἠελίου σχεδόθεν μελανεῦσαι ἀλωαὶ εὔδιοι· ἀσσότεραι δὲ καὶ ἀστεμφὲς μελανεῦσαι μᾶλλον χειμέριαι· δύο δ› ἂν χαλεπώτεραι εἶεν. Σκέπτεο δ› ἢ ἀνιόντος ἢ αὐτίκα δυομένοιο εἴ πού οἱ νεφέων τὰ παρήλια κικλήσκονται ἢ νότου ἠὲ βορῆος ἐρεύθεται ἢ ἑκάτερθεν· μηδ› αὕτως σκοπιὴν ταύτην ἀμενηνὰ φυλάσσειν· οὐ γὰρ, ὅτ› ἀμφοτέρωθεν ὁμοῦ περὶ μέσσον ἔχωσιν ἠέλιον κεῖναι νεφέλαι σχεδὸν ὠκεανοῖο, γίνεται ἀμβολίη Διόθεν χειμῶνος ἰόντος· εἴ γε μὲν ἐκ βορέαο μί› οἴη φοινίσσοιτο, 76

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ἐκ βορέω πνοιάς κε φέροι, νοτίη δὲ νότοιο· ἢ καί που ῥαθάμιγγες ἐπιτροχόωσ› ὑετοῖο. Ἑσπερίοις καὶ μᾶλλον ἐπίτρεπε σήμασι τούτοις· ἑσπερόθεν γὰρ ὁμῶς σημαίνεται ἐμμενὲς αἰεί. Σκέπτεο καὶ . Ἡ μέν τ› ὀλίγῃ εἰκυῖα ἀχλύϊ βορραίη ὑπὸ Καρκίνῳ ἡγηλάζει· ἀμφὶ δέ μιν δύο λεπτὰ φαεινόμενοι φορέονται ἀστέρες, οὔτε τι πολλὸν ἀπήοροι οὔτε μάλ› ἐγγύς, ἀλλ› ὅσσον τε μάλιστα πυγούσιον ὠΐσασθαι, εἷς μὲν πὰρ βορέαο· νότῳ δ› ἐπικέκλιται ἄλλος. Καὶ τοὶ μὲν καλέονται , μέσση δέ τε Φάτνη, ἥτε κεἰ ἐξαπίνης πάντη Διὸς εὐδιόωντος γίνετ› ἄφαντος ὅλη, τοὶ δ› ἀμφοτέρωθεν ἰόντες ἀστέρες ἀλλήλων αὐτοσχεδὸν ἰνδάλλονται, οὐκ ὀλίγῳ χειμῶνι τότε κλύζονται ἄρουραι. Εἰ δὲ μελαίνηται, τοὶ δ› αὐτίκ› ἐοικότες ὦσιν ἀστέρες ἀμφότεροι, ἐπί χ› ὕδατι σημαίνοιεν. Εἰ δ› ὁ μὲν ἐκ βορέω Φάτνης ἀμενηνὰ φαείνοι λεπτὸν ἐπαχλύων, νότιος δ› Ὄνος ἀγλαὸς εἴη, δειδέχθαι ἀνέμοιο νότου· βορέω δὲ μάλα χρὴ ἔμπαλιν ἀχλυόεντι φαεινομένῳ τε δοκεύειν. Σῆμα δέ τοι ἀνέμοιο καὶ οἰδαίνουσα θάλασσα γινέσθω, καὶ μακρὸν ἔπ› αἰγιαλοὶ βοόωντες, ἀκταί τ› εἰνάλιαι ὁπότ› εὔδιοι ἠχήεσσαι γίνονται, κορυφαί τε βοώμεναι οὔρεος ἄκραι. Καὶ δ› ἂν ἐπὶ ξηρὴν ὅτ› ἐρωδιὸς οὐ κατὰ κόσμον ἐξ ἁλὸς ἔρχηται φωνῇ περιπολλὰ λεληκώς, κινυμένου κε θάλασσαν ὕπερ φορέοιτ› ἀνέμοιο. Καί ποτε καὶ κέπφοι, ὁποτ› εὔδιοι ποτέωνται, ἀντία μελλόντων ἀνέμων εἰληδὰ φέρονται. Πολλάκι δ› ἀγριάδες νῆσσαι ἢ εἰναλιδῖναι αἴθυιαι χερσαῖα τινάσσονται πτερύγεσσιν· ἢ νεφέλη ὄρεος μηκύνεται ἐν κορυφῇσιν. Ἤδη καὶ πάπποι, λευκῆς γήρειον ἀκάνθης, σῆμ› ἐγένοντ› ἀνέμου, κωφῆς ἁλὸς ὁππότε πολλοὶ ἄκρον ἐπιπλώωσι, τὰ μὲν πάρος, ἄλλα δ› ὀπίσσω. Καὶ θέρεος βρονταί τε καὶ ἀστραπαὶ ἔνθεν ἴωσιν, ἔνθεν ἐπερχομένοιο περισκοπέειν ἀνέμοιο. Καὶ διὰ νύκτα μέλαιναν ὅτ› ἀστέρες ἀΐσσωσιν ταρφέα, τοῖς δ› ὄπιθεν ῥυμοὶ ὑπολευκαίνωνται, δειδέχθαι κείνοις αὐτὴν ὁδὸν ἐρχομένοιο Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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πνεύματος· ἢν δὲ καὶ ἄλλοι ἐναντίοι ἀΐσσωσιν, ἄλλοι δ› ἐξ ἄλλων μερέων, τότε δὴ πεφύλαξο παντοίων ἀνέμων, οἵ τ› ἄκριτοί εἰσι μάλιστα, ἄκριτα δὲ πνείουσιν ἐπ› ἀνδράσι τεκμήρασθαι. Αὐτὰρ ὅτ› ἐξ εὔροιο καὶ ἐκ νότου ἀστράπτῃσιν, ἄλλοτε δ› ἐκ ζεφύροιο καὶ ἄλλοτε πὰρ βορέαο, δὴ τότε τις πελάγει ἔνι δείδιε ναυτίλος ἀνήρ, μή μιν τῇ μὲν ἔχῃ πέλαγος, τῇ δ› ἐκ Διὸς ὕδωρ. Ὕδατι γὰρ τοσσαίδε πέρι στεροπαὶ φορέονται. Πολλάκι δ› ἐρχομένων ὑετῶν νέφεα προπάροιθεν οἷα μάλιστα πόκοισιν ἐοικότα ἰνδάλλονται· ἢ διδύμη ἔζωσε διὰ μέγαν οὐρανὸν ἶρις· ἢ καί πού τις ἅλωα μελαινομένην ἔχει ἀστήρ. Πολλάκι λιμναῖαι ἢ εἰνάλιαι ὄρνιθες ἄπληστον κλύζονται ἐνιέμεναι ὑδάτεσσιν· Ἢ λίμνην πέρι δηθὰ χελιδόνες ἀΐσσονται γαστέρι τύπτουσαι αὔτως εἰλεύμενον ὕδωρ· ἢ μάλα δείλαιαι γενεαί, ὕδροισιν ὄνειαρ, αὐτόθεν ἐξ ὕδατος πατέρες βοόωσι γυρίνων· ἢ τρύζει ὀρθρινὸν ἐρημαίη ὀλολυγών· ἤ που καὶ λακέρυζα παρ› ἠϊόνι προυχούσῃ χείματος ἐρχομένου χερσαῖ› ὑπέτυψε κορώνη, ἤ που καὶ ποταμοῖο ἐβάψατο μέχρι παρ› ἄκρους ὤμους ἐκ κεφαλῆς, ἢ καὶ μάλα πᾶσα κολυμβᾷ, ἢ πολλὴ στρέφεται παρ› ὕδωρ παχέα κρώζουσα. Καὶ βόες ἤδη τοι πάρος ὕδατος ἐνδίοιο οὐρανὸν εἰσανιδόντες ἀπ› αἰθέρος ὀσφρήσαντο· καὶ κοίλης μύρμηκες ὀχῆς ἒξ ὤεα πάντα θᾶσσον ἀνηνέγκαντο· καὶ ἀθρόοι ὦφθεν ἴουλοι τείχε› ἀνέρποντες, καὶ πλαζόμενοι σκώληκες κεῖνοι τοὺς καλέουσι μελαίνης ἔντερα γαίης. Καὶ τιθαὶ ὄρνιθες, ταὶ ἀλέκτορος ἐξεγένοντο, εὖ ἐφθειρίσσαντο καὶ ἔκρωξαν μάλα φωνῇ, οἷόν τε σταλάον ψοφέει ἐπὶ ὕδατι ὕδωρ. Δή ποτε καὶ γενεαὶ κοράκων καὶ φῦλα κολοιῶν ὕδατος ἐρχομένοιο Διὸς πάρα σῆμ› ἐγένοντο φαινόμενοι ἀγεληδὰ καὶ ἱρήκεσσιν ὁμοῖα φθεγξάμενοι. Καί που κόρακες δίους σταλαγμοὺς φωνῇ ἐμιμήσαντο σὺν ὕδατος ἐρχομένοιο, ἤ ποτε καὶ κρώξαντε βαρείῃ δισσάκι φωνῇ μακρὸν ἐπιρροιζεῦσι τιναξάμενοι πτερὰ πυκνά. 78

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Καὶ νῆσσαι οἰκουροὶ ὑπωρόφιοί τε κολοιοὶ ἐρχόμενοι κατὰ γεῖσα τινάσσονται πτερύγεσσιν· ἢ ἐπὶ κῦμα διώκει ἐρωδιὸς ὀξὺ λεληκώς. Τῶν τοι μηδὲν ἀπόβλητον πεφυλαγμένῳ ὕδωρ γινέσθω, μηδ› εἴ κεν ἐπιπλέον ἠὲ πάροιθεν δάκνωσιν μυῖαι καὶ ἐφ› αἵματος ἱμείρωνται, ἢ λύχνοιο μύκητες ἀγείρωνται περὶ μύξαν νύκτα κατὰ νοτίην· μηδ› ἢν ὑπὸ χείματος ὥρην λύχνων ἄλλοτε μέν τε φάος κατὰ κόσμον ὀρώρῃ, ἄλλοτε δ› ἀΐσσωσιν ἄπο φλόγες ἠΰτε κοῦφαι πομφόλυγες· μηδ› εἴ κεν ἐπ› αὐτόφι μαρμαίρωσιν ἀκτῖνες· μηδ› ἢν θέρεος μέγα πεπταμένοιο νησαῖοι ὄρνιθες ἐπασσύτεροι φορέωνται. Μηδὲ σύ γ› ἢ χύτρης ἠὲ τρίποδος πυριβήτεω σπινθῆρες ὅτ› ἔωσι πέρι πλέονες, λελαθέσθαι, μηδὲ κατὰ σποδιὴν ὁπότ› ἄνθρακος αἰθομένοιο λάμπηται πέρι σήματ› ἐοικότα κεγχρείοισιν. Ἀλλ› ἐπὶ καὶ τὰ δόκευε περισκοπέων ὑετοῖο. Εἴ γε μὲν ἠερόεσσα παρὲξ ὄρεος μεγάλοιο πυθμένα τείνηται νεφέλη, ἄκραι δὲ κολῶναι φαίνωνται καθαραί, μάλα κεν τόθ› ὑπεύδιος εἴης. Εὔδιός κ› εἴης καὶ ὅτε πλατέος παρὰ πόντου φαίνηται χθαμαλὴ νεφέλη, μηδ› ὑψόθι κύρῃ, ἀλλ› αὐτοῦ πλαταμῶνι παραθλίβηται ὁμοίη. Σκέπτεο δ› εὔδιος μὲν ἐὼν ἐπὶ χείματι μᾶλλον, ἐς δὲ γαληναίην χειμωνόθεν. Εὖ δὲ μάλα χρὴ ἐς Φάτνην ὁράαν, τὴν Καρκίνος ἀμφιελίσσει, πρῶτα καθαιρομένην πάσης ὑπένερθεν ὁμίχλης· κείνη γὰρ φθίνοντι καθαίρεται ἐν χειμῶνι. Καὶ φλόγες ἡσύχιαι λύχνων καὶ νυκτερίη γλαὺξ ἥσυχον ἀείδουσα μαραινομένου χειμῶνος γινέσθω τοι σῆμα, καὶ ἥσυχα ποικίλλουσα ὥρῃ ὅθ› ἑσπερίῃ κρώζῃ πολύφωνα κορώνη· καὶ κόρακες μοῦνοι μὲν ἐρημαῖον βοόωντες δισσάκις, αὐτὰρ ἔπειτα μέγ› ἀθρόα κεκλήγοντες· πλειότεροι δ› ἀγεληδόν, ἐπὴν κοίτοιο μέδωνται, φωνῆς ἔμπλειοι· χαίρειν κέ τις ὠΐσαιτο, οἷα τὰ μὲν βοόωσι λιγαινομένοισιν ὁμοῖα, πολλὰ δὲ δενδρείοιο περὶ φλόον, ἄλλοτ› ἐπ› αὐτοῦ ἧχί τε κείουσιν καὶ ὑπότροποι ἀπτερύονται. Καὶ δ› ἄν που γέρανοι μαλακῆς προπάροιθε γαλήνης Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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ἀσφαλέως τανύσαιεν ἕνα δρόμον ἤλιθα πᾶσαι, οὐδὲ παλιρρόθιοί κεν ὑπεύδιοι φορέοιντο. Ἦμος δ› ἀστερόθεν καθαρὸν φάος ἀμβλύνηται, οὐδέ ποθεν νεφέλαι πεπιεσμέναι ἀντιόωσιν, οὐδέ ποθεν ζόφος ἄλλος ὑποτρέχῃ οὐδὲ σελήνη, ἀλλὰ τάγ› ἐξαπίνης αὕτως ἀμενηνὰ φέρωνται, μηκέτι τοι τόδε σῆμα γαληναίης ἐπικείσθω, ἀλλ› ἐπὶ χεῖμα δόκευε· καὶ ὁππότε ταί γε μένωσιν αὐτῇ ἐνὶ χώρῃ νεφέλαι, ταὶ δ› ἄλλαι ἐπ› αὐταῖς, ταὶ μὲν ἀμειβόμεναι, ταὶ δ› ἐξόπιθεν, φορέωνται. Καὶ χῆνες κλαγγηδὸν ἐπειγόμεναι βρωμοῖο χειμῶνος μέγα σῆμα, καὶ ἐννεάγηρα κορώνη νύκτερον ἀείδουσα, καὶ ὀψὲ βοῶντε κολοιοί, καὶ σπίνος ἠῷα σπίζων, καὶ ὄρνεα πάντα ἐκ πελάγους φεύγοντα, καὶ ὀρχίλος ἢ καὶ ἐριθεὺς δύνων ἐς κοίλας ὀχεάς, καὶ φῦλα κολοιῶν ἐκ νομοῦ ἐρχόμενα τραφεροῦ ἐπὶ ὄψιον αὖλιν. Οὐδ› ἂν ἔτι ξουθαὶ μεγάλου χειμῶνος ἰόντος πρόσσω ποιήσαιντο νομὸν κηροῖο μέλισσαι, ἀλλ› αὐτοῦ μέλιτός τε καὶ ἔργων εἱλίσσονται· οὐδ› ὑψοῦ γεράνων μακραὶ στίχες αὐτὰ κέλευθα τείνονται, στροφάδες δὲ παλιμπετὲς ἀπονέονται. Μηδ›, ὅτε νηνεμίῃ κεν ἀράχνια λεπτὰ φέρηται καὶ φλόγες αἰθύσσωσι μελαινόμεναι λύχνοιο, ἢ πῦρ αὔηται σπουδῇ καὶ ὑπεύδια λύχνα, πιστεύειν χειμῶνι. Τί τοι λέγω ὅσσα πέλονται σήματ› ἐπ› ἀνθρώπους; δὴ γὰρ καὶ ἀεικέϊ τέφρῃ αὐτοῦ πηγνυμένῃ νιφετοῦ ἐπιτεκμήραιο· καὶ λύχνῳ χιόνος, κέγχροις ὅτ› ἐοικότα πάντη κύκλῳ σήματ› ἔχει πυριλαμπέος ἐγγύθι μύξης· ἄνθρακι δὲ ζώοντι χαλάζης, ὁππότε λαμπρὸς αὐτὸς ἐείδηται, μέσσῳ δέ οἱ ἠΰτε λεπτὴ φαίνηται νεφέλη πυρὸς ἔνδοθεν αἰθομένοιο. Πρῖνοι δ› αὖ καρποῖο καταχθέες, οὐδὲ μέλαιναι σχῖνοι ἀπείρητοι· πάντη δέ τε πολλὸς ἀλωεὺς αἰεὶ παπταίνει, μή οἱ θέρος ἐκ χερὸς ἔρρῃ. Πρῖνοι μὲν θαμινῆς ἀκύλου κατὰ μέτρον ἔχουσαι χειμῶνός κε λέγοιεν ἐπὶ πλέον ἰσχύσοντος. Μὴ μὲν ἄδην ἔκπαγλα περιβρίθοιεν ἁπάντη, τηλοτέρω δ› αὐχμοῖο συνασταχύοιεν ἄρουραι. Τριπλόα δὲ σχῖνος κυέει, τρισσαὶ δέ οἱ αὖξαι 80

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γίνονται καρποῖο, φέρει δέ τε σήμαθ› ἑκάστη ἑξείης ἀρότῳ. Καὶ γάρ τ› ἀροτήσιον ὥρην τριπλόα μείρονται, μέσσην καὶ ἐπ› ἀμφότερ› ἄκρας· πρῶτος μὲν πρώτην ἄροσιν, μέσσος δέ τε μέσσην καρπὸς ἀπαγγέλλει, πυμάτην γε μὲν ἔσχατος ἄλλων. Ὅντινα γὰρ κάλλιστα λοχαίη σχῖνος ἄρηται, κείνῳ κ› ἐξ ἄλλων ἄροσις πολυλήϊος εἴη, τῷ δέ γ› ἀφαυροτάτῳ ὀλίγη, μέσσῳ δέ τε μέσση. Αὕτως δ› ἀνθέρικος τριχθὰ σκίλλης ὑπερανθεῖ, σήματ› ἐπιφράσσασθαι ὁμοιίου ἀμήτοιο. Ὅσσα δ› ἐνὶ σχίνου ἀροτὴρ ἐφράσσατο καρπῷ, τοσσάδε κεν σκίλλης τεκμαίροιτ› ἄνθεϊ λευκῷ. Αὐτὰρ ὅτε σφῆκες μετοπωρινὸν ἤλιθα πολλοὶ πάντη βεβρίθωσι, καὶ ἑσπερίων προπάροιθεν Πληϊάδων εἴποι τις ἐπερχόμενον χειμῶνα, οἷος ἐπὶ σφήκεσσιν ἑλίσσεται αὐτίκα δῖνος. Θήλειαι δὲ σύες, θήλεια δὲ μῆλα καὶ αἶγες ὁππότ› ἀναστρωφῶσιν ὀχῆς, ταὶ δ› ἄρσεσι, πάντα δεξάμεναι, πάλιν αὖτις ἀναβλήδην ὀχέωνται, αὕτως κε σφήκεσσι μέγαν χειμῶνα λέγοιεν. Ὀψὲ δὲ μισγομένων αἰγῶν μήλων τε συῶν τε χαίρει ἄνολβος ἀνήρ, ὅ οἱ οὐ μάλα θαλπιόωντι εὔδιον φαίνουσι βιβαζόμεναι ἐνιαυτόν. Χαίρει καὶ γεράνων ἀγέλαις ὡραῖος ἀροτρεὺς ὥριον ἐρχομέναις, ὁ δ› ἀώροις αὐτίκα μᾶλλον· αὕτως γὰρ χειμῶνες ἐπέρχονται γεράνοισιν, πρώϊα μὲν καὶ μᾶλλον ὁμιλαδὸν ἐρχομένῃσιν πρώϊοι· αὐτὰρ ὅτ› ὀψὲ καὶ οὐκ ἀγεληδὰ φανεῖσαι πλειότερον φορέονται ἐπὶ χρόνον, οὐδ› ἅμα πολλαί, ἀμβολίῃ χειμῶνος ὀφέλλεται ὕστερα ἔργα. Εἰ δὲ βόες καὶ μῆλα μετὰ βρίθουσαν ὀπώρην γαῖαν ὀρύσσωσιν, κεφαλὰς δ› ἀνέμοιο βορῆος ἀντία τείνωσιν, μάλα κεν τότε χείμερον αὐταὶ Πληϊάδες χειμῶνα κατερχόμεναι φορέοιεν. Μὴ δὲ λίην ὀρύχοιεν, ἐπεὶ μέγας οὐ κατὰ κόσμον γίνεται οὔτε φυτοῖς χειμὼν φίλος οὔτ› ἀρότοισιν· ἀλλὰ χιὼν εἴη πολλὴ μεγάλαις ἐπ› ἀρούραις μήπω κεκριμένῃ μηδὲ βλωθρῇ ἐπὶ ποίῃ, ὄφρα τις εὐεστοῖ χαίρῃ ποτιδέγμενος ἀνήρ. Οἱ δ› εἶεν καθύπερθεν ἐοικότες ἀστέρες αἰεί, μηδ› εἷς μηδὲ δύω μηδὲ πλέονες κομόωντες· Cadernos de Tradução, Porto Alegre, no 38, jan-jun, 2016, p. 1-84

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πολλοὶ γὰρ κομόωσιν ἐπ› αὐχμηρῷ ἐνιαυτῷ. Οὐδὲ μὲν ὀρνίθων ἀγέλαις ἠπειρόθεν ἀνήρ, ἐκ νήσων ὅτε πολλαὶ ἐπιπλήσσωσιν ἀρούραις ἐρχομένου θέρεος, χαίρει· περιδείδιε δ› αἰνῶς ἀμητῷ, μή οἱ κενεὸς καὶ ἀχύρμιος ἔλθῃ αὐχμῷ ἀνιηθείς. Χαίρει δέ που αἰπόλος ἀνὴρ αὐταῖς ὀρνίθεσσιν, ἐπὴν κατὰ μέτρον ἴωσιν, ἐλπόμενος μετέπειτα πολυγλαγέος ἐνιαυτοῦ. Οὕτω γὰρ μογεροὶ καὶ ἀλήμονες ἄλλοθεν ἄλλοι ζώομεν ἄνθρωποι· τὰ δὲ πὰρ ποσὶ πάντες ἑτοῖμοι σήματ› ἐπιγνῶναι καὶ ἐς αὐτίκα ποιήσασθαι. Ἀρνάσι μὲν χειμῶνας ἐτεκμήραντο νομῆες, ἐς νομὸν ὁππότε μᾶλλον ἐπειγόμενοι τροχόωσιν, ἄλλοι δ› ἐξ ἀγέλης κριοί, ἄλλοι δὲ καὶ ἀμνοὶ εἰνόδιοι παίζωσιν ἐρειδόμενοι κεράεσσιν· ἢ ὁπότ› ἄλλοθεν ἄλλοι ἀναπλίσσωσι πόδεσσιν τέτρασιν οἱ κοῦφοι, κεραοί γε μὲν ἀμφοτέροισιν· ἢ καὶ ὅτ› ἐξ ἀγέλης ἀεκούσια κινήσωσιν δείελον εἰσελάοντες ὅμως, τὰ δὲ πάντοθι ποίης δάκνωσιν πυκινῇσι κελευόμενα λιθάκεσσιν. Ἐκ δὲ βοῶν ἐπύθοντ› ἀρόται καὶ βουκόλοι ἄνδρες κινυμένου χειμῶνος, ἐπεὶ βόες ὁππότε χηλὰς γλώσσῃ ὑπωμαίοιο ποδὸς περιλιχμήσωνται ἢ κοίτῳ πλευρὰς ἐπὶ δεξιτερὰς τανύσωνται, ἀμβολίην ἀρότοιο γέρων ἐπιέλπετ› ἀροτρεύς. Οὐδ› ὅτε μυκηθμοῖο περίπλειοι ἀγέρωνται ἐρχόμεναι σταθμόνδε βόες βουλυσίῳ ὥρῃ, σκυθραὶ λειμῶνος πόριες καὶ βουβοσίοιο αὐτίκα τεκμαίρονται ἀχείμεροι ἐμπλήσεσθαι. Οὐδ› αἶγες πρίνοιο περισπεύδουσαι ἀκάνθαις εὔδιοι, οὐδὲ σύες φορυτῷ ἔπι μαργαίνουσαι. Καὶ λύκος ὁππότε μακρὰ μονόλυκος ὠρύηται, ἢ ὅτ› ἀροτρήων ὀλίγον πεφυλαγμένος, ἀνδρῶν ἔργα κατέρχηται, σκέπαος χατέοντι ἐοικώς, ἐγγύθεν ἀνθρώπων, ἵνα οἱ λόχος αὐτόθεν εἴη, τρὶς περιτελλομένης ἠοῦς χειμῶνα δοκεύειν. Οὕτω καὶ προτέροις ἐπὶ σήμασι τεκμήραιο ἐσσομένων ἀνέμων ἢ χείματος ἢ ὑετοῖο αὐτὴν ἢ μετὰ τὴν ἢ καὶ τριτάτην ἔτ› ἐς ἠῶ. Ἀλλὰ γὰρ οὐδὲ μύες, τετριγότες εἴ ποτε μᾶλλον εὔδιοι ἐσκίρτησαν ἐοικότες ὀρχηθμοῖσιν, 82

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ἄσκεπτοι ἐγένοντο παλαιοτέροις ἀνθρώποις, οὐδὲ κύνες· καὶ γάρ τε κύων ὠρύξατο ποσσὶν ἀμφοτέροις χειμῶνος ἐπερχομένοιο δοκεύων, κἀκεῖνοι χειμῶνα μύες τότε μαντεύονται. [Καὶ μὴν ἐξ ὕδατος καὶ καρκίνος ᾤχετο χέρσον χειμῶνος μέλλοντος, ἐπαΐσσεσθαι ὁδοῖο. Καὶ μύες ἡμέριοι ποσσὶ στιβάδα στρωφῶντες κοίτης ἱμείρονται, ὅτ› ὄμβρου σήματα φαίνῃ.] Τῶν μηδὲν κατόνοσσο· καλὸν δ› ἐπὶ σήματι σῆμα σκέπτεσθαι· μᾶλλον δὲ δυεῖν εἰς ταὐτὸν ἰόντων ἐλπωρὴ τελέθοι· τριτάτῳ δέ κε θαρσήσειας. Αἰεὶ δ› ἂν παριόντος ἀριθμοίης ἐνιαυτοῦ σήματα συμβάλλων εἴ που καὶ ἐπ› ἀστέρι τοίη ἠὼς ἀντέλλοντι φαείνεται ἢ κατιόντι, ὁπποίην καὶ σῆμα λέγοι· μάλα δ› ἄρκιον εἴη φράζεσθαι φθίνοντος ἐφισταμένοιό τε μηνὸς τετράδας ἀμφοτέρας· αἱ γάρ τ› ἄμυδις συνιόντων μηνῶν πείρατ› ἔχουσιν, ὅτε σφαλερώτερος αἰθὴρ ὀκτὼ νυξὶ πέλει χήτει χαροποῖο σελήνης. Τῶν ἄμυδις πάντων ἐσκεμμένος εἰς ἐνιαυτὸν οὐδέποτε σχεδίως κεν ἐπ› αἰθέρι τεκμήραιο.

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