\"Edifício sito na Rua de Tomar n.º 6, Coimbra\", Relatório Final de Trabalhos Arqueológicos, aprovado por IGESPAR, Junho de 2011

May 23, 2017 | Autor: António Ginja | Categoria: Archaeology, Community Colleges, Coimbra (Portugal)
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INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA NO ÂMBITO DAS OBRAS DE REABILITAÇÃO URBANA, SITO

RUA DE TOMAR N.º 6 COIMBRA

RELATÓRIO FINAL JUNHO 2011

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 2 2. ENQUADRAMENTO GEO-ESPACIAL ............................................................................... 3 3. ENQUADRAMENTO HISTÓRICO ..................................................................................... 3 3.1. O COLÉGIO DE TOMAR ............................................................................................. 7 3.2. A RUA DE TOMAR .................................................................................................. 11 4. PERÍODO DE EXECUÇÃO E MEIOS HUMANOS .............................................................. 12 5. METODOLOGIA ......................................................................................................... 12 6. SONDAGENS ............................................................................................................. 13 7. ACOMPANHAMENTO ARQUEOLÓGICO ......................................................................... 15 8. INVENTÁRIO DE ESPÓLIO ........................................................................................... 16 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 18 BIBLIOGRAFIA E SÍTIOS NA REDE ................................................................................... 19 ANEXOS CARTOGRÁFICOS ............................................................................................ 21 ANEXOS FOTOGRÁFICOS............................................................................................... 23 ANEXOS GRÁFICOS ...................................................................................................... 32 Ficha de Sítio .............................................................................................................. 34

1 INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA NO ÂMBITO DAS OBRAS DE REABILITAÇÃO URBANA, SITO RUA DE TOMAR N.º 6, COIMBRA

1. INTRODUÇÃO

O presente relatório foi elaborado pela empresa MUNIS – Atelier de Arqueologia, Lda. e refere-se à intervenção arqueológica levada a cabo numa habitação, sita no n.º 6 da Rua de Tomar em Coimbra. A dita intervenção consistiu na realização de duas sondagens arqueológicas e no acompanhamento da remoção de terras afectas à obra. A necessidade de trabalhos arqueológicos justifica-se pelo facto da referida habitação se encontrar em área que no Plano Director Municipal de Coimbra se define como tendo grau II de Protecção (art.º 56 e no RMUE, art.º 5). Os trabalhos de campo foram planeados de acordo com o parecer da Direcção Regional de Cultura do Centro e aprovados pelo IGESPAR em 8 de Setembro de 2009, através do ofício n.º 07321 Ref. 2005/1 (129). Os trabalhos de campo foram autorizados pelo IGESPAR a 28/01/2001, pelo ofício 00012579, referência 2003/1(165), e mereceram parecer favorável da DRCC (Processo n.º DRC/2010/06-03/53/POP/34674 (c.s: 89917). Os trabalhos foram executados pelo arqueólogo António Ginja, licenciado em Arqueologia e História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. O presente relatório é de sua responsabilidade.

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2. ENQUADRAMENTO GEO-ESPACIAL

A presente intervenção decorreu no n.º 6 da Rua de Tomar, Coimbra (Sé Nova). Situada na margem direita do rio Mondego, Coimbra espraia-se numa vasta planície aluvial, de formação moderna, secundária ou terciária, como atesta o formidável assoreamento dos campos circundantes à cidade (MARTINS, 1940). A cidade encontra-se entre duas unidades geomorfológicas distintas, o Maciço Antigo Ibérico e a Orla Mesonecozóica Ocidental (BIROT, 1949), sendo que o promontório onde teve origem a sua malha urbana, onde actualmente se localiza o pólo I da Universidade, é constituído por uma colina de topo aplanado, a uma cota de 90 metros, definida pelas linhas de água do Jardim Botânico e da Avenida Sá da Bandeira (GANHO, 1998). Geologicamente, Coimbra assenta sobre camadas estrato-decrescentes e com limite superior na descontinuidade do tecto de um corpo métrico de calcários dolo-margosos e/ou margosos, esbranquiçados ou acizentados e com estratificação fina (SOARES, MARQUES e SEQUEIRA, 2007). Sendo uma cidade à beira-rio, Coimbra manteve sempre estreitas ligações com o Mondego. Contudo, se o rio era pródigo em riqueza, fertilizando os campos e permitindo a sua navegabilidade, era também fonte de tragédias. As fontes escritas contemporâneas dão nota dessas tragédias reportando inúmeras inundações invernosas, como as de 1821, 1831, 1843, 1852, 1856, 1860, 1872, 1876, 1878, etc. (ROQUE, 2003).

3. ENQUADRAMENTO HISTÓRICO

Faremos, nas próximas linhas, uma síntese histórica do desenvolvimento urbanístico da cidade de Coimbra, com natural destaque para a Rua de Tomar, rua onde, no n.º 6, se localiza a nossa intervenção. Pouco se sabe da ocupação pré-romana de Coimbra. Os vestígios pré-históricos da ocupação desta cidade, e suas imediações, reduzem-se a uma ponta de seta calcolítica encontrada nas escavações da Alcáçova Medieval (MANTAS, 1992) e à 3 INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA NO ÂMBITO DAS OBRAS DE REABILITAÇÃO URBANA, SITO RUA DE TOMAR N.º 6, COIMBRA

gruta dos Alqueves, necrópole com espólio do Neolítico, situada entre as aldeias de Póvoa e Bordalo (ALARCÃO, 1979; CORREIA, 1946). Apesar da escassez de vestígios materiais, em parte devido à falta de escavações arqueológicas realizadas nesta área, é provável que a zona onde hoje se situa a Universidade (num espaço situado entre a Couraça de Lisboa e o Córrego da Rua das Covas ou de Borges Carneiro), tenha sido ocupado desde épocas recuadas, já que é um local com forte defensibilidade (ALARCÃO, 1979). Segundo Vasco Mantas, após análise topográfica dessa zona, verifica-se a existência de um sistema anelar de disposição das ruas, organizado em torno da colina Universitária, que poderão reflectir um complexo de fortificações pré-romanas, semelhantes às conhecidas da época castreja (MANTAS, 1992). A questão defensiva esteve, de resto, desde sempre presente na escolha do local de assentamento de uma cidade. A fundação em locais que garantissem a segurança das populações fez com que, frequentemente, se estabelecem em locais de acesso difícil ou inexpugnável. Certamente, razões como a privilegiada localização geográfica, situada em elevação sobre um rio navegável, o Mondego, em torno do qual se dispunham terras férteis, e ocupando uma área de passagem incontornável entre o norte e o sul e entre o litoral e o interior montanhoso. O caldeamento de todos estes ingredientes deve ter constituído um atractivo para que, desde cedo, as populações aqui se tivessem fixado. No período romano, Coimbra, de nome Aeminium, é atravessada por uma das mais importantes vias da Península Ibérica, a via que ligava Olissipo a Bracara Augusta, no local onde ela atravessava o Mondego. Segundo Jorge Alarcão a estrada romana seguiria a linha das actuais ruas de Ferreira Borges, Visconde da Luz e Direita. Esta última, chamada na Idade Média Rua da Figueira Velha, constituiu a saída da cidade até à abertura, no séc. XVI da Rua da Sofia (ALARCÃO, 1979). O grande centro da vida cívica no período romano, o forum, erguia-se sobre um criptopórtico artificialmente construído para a sua implantação, localizado sob o que é hoje o Museu Nacional de Machado de Castro. Não obstante, e apesar da envergadura das fundações do forum evidenciarem uma certa importância da cidade no contexto ibérico, supõe-se que a zona habitada não devia, na época, ultrapassar o perímetro amuralhado da Idade Média (ALARCÃO, 1996). No sopé, junto a uma das saídas da cidade, a actual Porta de Almedina, passava a estrada Olissipo-Bracara Augusta, um dos principais eixos viários romanos, e é provável que na actual zona da Baixa, no lugar apelidado, durante a Idade Média, de Banhos Reais, cedido por D. Afonso Henriques para a construção do Mosteiro de Santa Cruz, tivessem existido umas termas (CORREIA, 1946). 4 INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA NO ÂMBITO DAS OBRAS DE REABILITAÇÃO URBANA, SITO RUA DE TOMAR N.º 6, COIMBRA

É pouco conhecida a história e configuração da cidade no período suevo-visigótico. Contudo, sabe-se que era em Eminio que se situava a sede do poder episcopal e que vários monarcas visigóticos aí cunhavam moeda (CORREIA, 1946). Acompanhando o decorrer da história do território português, também Coimbra é ocupada durante as invasões árabes do séc. VIII. De acordo com as crónicas, em 916 Coimbra foi tomada aos árabes por Ermenegildo. Essa reconquista cristã, contudo, não seria definitiva e a cidade voltaria a ser tomada e perdida sucessivas vezes. A reconquista definitiva seria conseguida em 1064 por Fernando Magno (GONÇALVES, 1944), ficando os destinos da cidade entregues ao moçarabe D. Sesnando, que prossegue o aprimoramento da cidade, reparando e erguendo alguns templos (DIAS, 1981). No período inicial da reconquista, até à criação no séc. XI do românico do Norte, a arquitectura e arte são muito pobres e não têm qualquer expressão na zona envolvente a Coimbra, nem na própria cidade (GONÇALVES, 1978). No séc. XII, Coimbra apresentava uma estrutura urbana característica de outras cidades portuguesas localizadas em sítios alcandorados: a cidade alta, intramuros, e os bairros ribeirinhos do arrabalde, localizados aqui entre o Terreiro da Erva e o Largo da Portagem e ligados à actividade mercantil. O vale, onde em 1131 se implantara o Mosteiro de Santa Cruz (hoje Avenida de Sá da Bandeira), era percorrido por um pequeno ribeiro que contornava a colina onde se erguia a cidade, delimitando o arrabalde a norte. Todo o vale era semeado de hortas e outras culturas e para além dele situava-se apenas o pequeno bairro de Santa Justa situado no sopé de Montarroio, junto da Porta Mourisca, e da entrada norte da cidade, feita pela Rua Direita (GONÇALVES, 1944). Durante os séculos seguintes a estrutura de Coimbra não parece ter sofrido grandes alterações urbanísticas. Há obviamente construções novas, como os mosteiros de Celas ou de Santo António dos Olivais, no séc. XIII, ou Santa Clara, no séc. XIV (GONÇALVES, 1944), mas estes seguem geralmente a configuração dos espaços já ocupados. Um exemplo de como as novas edificações religiosas pouco alteraram, durante a Idade Medieval, a configuração urbanística de Coimbra, dá-se em 1226 quando se construiu “no Arnado, isolado do Arrabalde, o Mosteiro de S. Domingos” (ALARCÃO, 1999: 3). Apesar desta construção, a documentação do séc. XIV sugere que o arrabalde de Coimbra não terá crescido muito para norte, no sentido desse mosteiro (ALARCÃO, 1999).

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No séc. XVI, a cidade sofre grandes alterações. Aproximadamente em 1535, Frei Brás de Braga, prior de Santa Cruz promove a construção da Rua da Sofia com grandes edifícios colegiais (ALARCÃO, 1999). A transferência definitiva, por D. João III, da Universidade para Coimbra, leva à instalação de inúmeros colégios na cidade para albergar estudantes, registando-se, então, um aumento populacional e consequente adensamento do tecido urbano (DIAS, 1981). É ainda no séc. XVI que o manuelino toma expressão na decoração artística de alguns monumentos religiosos da cidade. O trabalho em pedra branca calcária de Ançã, granjeia ou reafirma o nome de alguns escultores e artistas do renascimento. Nomes entre os quais figura o de João de Ruão, responsável pela criação de, por exemplo, a Porta Especiosa (Sé Velha). Durante os séculos XVII e XVIII, a cidade não sofreu intervenções urbanísticas profundas, à excepção da reforma da Universidade operada pelo Marquês de Pombal, que manteve, contudo, os seus limites. Registe-se ainda a fundação de algumas igrejas, conventos e colégios intra e extramuros. É apenas no séc. XIX que a cidade rompe definitivamente com o seu casco amuralhado, crescendo pelas cumeadas e ao longo dos vales. Ainda no séc. XIX, múltiplas acções urbanísticas incutiriam à cidade novas tramas. Neste século, procedeu-se ao alargamento e regularização da Rua do Coruche (actual Visconde da Luz) e o arranjo das margens do rio, alindadas com jardins transformando os antigos cais fluviais do Cereeiro e das Ameias e alargando o Largo da Portagem. Outras zonas da cidade crescem também durante este surto urbano: envolvendo a Quinta de Santa Cruz, em cuja horta se instalara, em 1867, o Mercado D. Pedro V; a abertura da Avenida Sá da Bandeira, desembocando na Praça de D. Luís (actual Praça da República); e a partir dela traçou-se a ligação a Celas, através da Rua Lourenço de Almeida Azevedo (1893). Ainda em finais do século se edifica no planalto de Santa Cruz o primeiro bairro operário (ROQUE, 2003). A cidade cresce ainda para Montarroio e Conchada, com a abertura da Rua da Manutenção Militar em 1901 (ROQUE, 2003). Não é apenas a nível da trama urbana que as modificações se fazem sentir nesta altura. Acompanhando, embora modestamente, as linhas de modernização do seu tempo, Coimbra é equipada com iluminação pública a gás e telégrafo eléctrico em 1856, com a Estação Nova, entre 1864 e 1885, e com a instalação de rede telefónica, em 1905 (ROQUE, 2003). A poente do Arnado até à actual Avenida Aeminium vão surgir, desde então, favorecidos pela proximidade do rio e a recente instalação dos caminhos de ferro, 6 INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA NO ÂMBITO DAS OBRAS DE REABILITAÇÃO URBANA, SITO RUA DE TOMAR N.º 6, COIMBRA

unidades fabris, sublinhando a vocação do local, que se tornaria a primeira zona industrial desta centúria (SALGUEIRO, 1992). A expansão e transformação de Coimbra seriam acentuadas no séc. XX. É do início desse século que data, o alargamento e pavimentação da Rua de João Augusto Machado. Este fez-se em conjunto com o planeamento e execução de novos arruamentos, entre essa rua e a Rua do Arnado, criando uma nova trama urbana até então inexistente (LOUREIRO, 1960) e de que passam a fazer parte as ruas: Dr. Manuel Rodrigues, João de Ruão, Rosa Falcão e Mário Pais (ALARCÃO, 1999). Também a encosta de Montes claros, a zona da Cumeada (definindo-se a Avenida Dias da Silva em direcção a Santo António dos Olivais), São José, Santa Clara e São Martinho. A cidade unificava-se finalmente, e o morro inicial, a partir do qual se formou, seria arrasado e reedificado a partir de 1943 com o início das demolições da Alta, para a construção dos novos edifícios da Universidade. Acontecia então a destruição de grande parte da antiga urbe, perdendo esta o prestígio de outrora a favor da baixa, que cada vez mais se tornava o centro nevrálgico da cidade. O perímetro da baixa encontrava-se gizado, em meados do séc. XX, a nascente pelas ruas Ferreira Borges, Visconde da Luz, da Sofia e actual Rua da Figueira da Foz, a poente pelo muro do cais, que se estendia até ao Parque Manuel Braga. Foi na configuração do tecido urbano que as transformações, nesta parte da cidade, mais se fizeram sentir, com a abertura de novas ruas e o alargamento de ruas existentes. A Rua João de Cabreira que terminava, na planta de 1873-74, a ocidente no Terreiro de Santo António, veio no início do séc. XX, após o arranjo urbanístico com vista ao alargamento e regularização da Rua da Madalena, tornar-se mais extensa. A Rua da Madalena, passa a partir de então a compreender o espaço entre o Largo das Ameias e o Arnado. Por último, a Avenida Fernão Magalhães foi construída de raiz no segundo quartel do séc. XX (1959), devido à necessidade de escoamento do crescente número de gente e veículos que outrora utilizaria a Rua da Figueira da Foz em direcção à Rua da Sofia, desviando o tráfego regional da Rua da Sofia, como esta havia feito no passado à Rua Direita.

3.1. O COLÉGIO DE TOMAR

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O Colégio de Tomar, ou da Nossa Senhora da Conceição da Ordem de Cristo, situava-se na mais importante zona de expansão da Coimbra oitocentista, o Bairro de Santa Cruz (feirados23.wordpress.com). Fundado em 1556, ao tempo de D. João III, o colégio começou por se instalar provisoriamente nas casas onde funcionava o Colégio de São Jerónimo, passando os frades tomarenses a residir dentro do próprio paço real (VASCONCELOS, 1938). Apenas na década de 1560 o colégio seria transferido para o local hoje ocupado pela Penitenciária de Coimbra, tendo as obras iniciado a 6 de Maio de 1566, por determinação do Cardeal-Infante D. Henrique, e os frades sido instalados numas casas que ali existiam (VASCONCELOS, 1938). Em carta régia de 6 de Julho de 1563, a instituição é incorporada na Universidade de Coimbra, sendo à sua igreja que anualmente, a 8 de Dezembro, vinha em cortejo o corpo

universitário,

celebrar

a

festa

de

Nossa

Senhora

da

Conceição

(VASCONCELOS, 1938). As obras prolongar-se-iam por largos anos, tendo a sua consagração ocorrido apenas a 17 de Março de 1713, com a presença do Prior Geral da Ordem de Cristo o Dr. Frei Urbano de Mesquita, o Bispo-Conde D. António de Vasconcelos e Sousa, sendo prior do colégio o Dr. Frei António Chichorro (VASCONCELOS, 1938). A respeito do colégio escreveu Simões de Castro tratar-se de ‘um edifício suntuoso e de grandes proporções, e a igreja de magnífica arquitectura, uma das mais belas e perfeitas de Coimbra’ (in VASCONCELOS, 1938).

Imagem 1 – Fachada oeste do Colégio de Tomar. Fonte: Maria José Pereira Forjaz de Sampaio (in VASCONCELOS, 1938).

A igreja era constituída uma nave só, de fachada ladeada por duas torres, com transepto denunciado apenas nos alçados do edifício, dado não exceder em largura a nave. Entre a nave e a capela-mor erguia-se o zimbório, revestido no exterior por 8 INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA NO ÂMBITO DAS OBRAS DE REABILITAÇÃO URBANA, SITO RUA DE TOMAR N.º 6, COIMBRA

azulejos, e do qual se destacavam os transeptos, encimados nas extremidades por empenas. Da capela-mor arrancava a sacristia, pelo que em planta aparentava ser a primeira de dimensões desproporcionadas (VASCONCELOS, 1938).

Imagem 2 – Fachada sul do Colégio de Tomar. Fonte: Maria José Pereira Forjaz de Sampaio (in VASCONCELOS, 1938).

Com a extinção das ordens, o colégio ficaria ao abandono, sendo sucessivamente pilhado e vandalizado por populares (VASCONCELOS, 1938).

Imagem 3 – Fachada nordeste do Colégio de Tomar. Fonte: Maria José Pereira Forjaz de Sampaio (in VASCONCELOS, 1938).

Em 1841 foi cedida à Câmara Municipal de Coimbra parte da sua propriedade, para instalação de um cemitério. Tendo declarado a área insuficiente para o efeito, a Câmara obtém a totalidade do imóvel por Portaria do Ministério do Reino a 15 de Abril 9 INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA NO ÂMBITO DAS OBRAS DE REABILITAÇÃO URBANA, SITO RUA DE TOMAR N.º 6, COIMBRA

de 1848. Não obstante, o local nunca albergaria nenhum cemitério, tendo o mesmo sido deslocado para a Conchada (VASCONCELOS, 1938). O colégio foi então vendido em hasta pública, a um particular, em 1852 (feirados23.wordpress.com), tendo o pagamento sido empregue pela Câmara Municipal na construção do referido cemitério da Conchada (VASCONCELOS, 1938). Mais tarde, em 1873, o município de Coimbra voltaria a adquirir o imóvel, tendo alguns estudantes instalado na sua igreja uma escola prática de tiro, ginástica e esgrima (VASCONCELOS, 1938). A Penitenciária de Coimbra seria construída apenas entre 1876 e 1901, de acordo com um projecto de autoria do Engenheiro Ricardo Júlio Ferraz (1824-1880) (feirados23.wordpress.com).

Imagem 4 – Planta do Colégio de Tomar, sobreposta pela planta da Penitenciária de Coimbra. 1: Claustro; 2: Dormitório; 3-3: Igreja, Capela-Mor e Sacristia. (VASCONCELOS, 1938).

Por fim, em 1888, seria o Governo a adquirir em definitivo o edifício, promovendo nele as adaptações necessárias ao seu funcionamento como penitenciária nacional. Os primeiros reclusos dariam entrada no estabelecimento prisional de Coimbra em finais de 1901 (feirados23.wordpress.com). 10 INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA NO ÂMBITO DAS OBRAS DE REABILITAÇÃO URBANA, SITO RUA DE TOMAR N.º 6, COIMBRA

No último quartel do século XIX eram ainda visíveis as paredes principais do Colégio de Tomar, nada delas restando já na década de 1930 (VASCONCELOS, 1938).

3.2. A RUA DE TOMAR

A Rua de Tomar localiza-se a noroeste da Penitenciária de Coimbra, edifício construído, como referido, no local do antigo Colégio de Tomar, cuja cerca era nessa direcção limitada pela quinta de Santa Cruz (LOUREIRO, 1964). Foi inaugurada a 17 de Dezembro de 1889 pela Câmara Municipal de Coimbra, a propósito das comemorações do baptismo de D. Manuel II, e unia os Arcos do Jardim à estrada de Celas (LOUREIRO, 1964). Em 1942, deliberou o município pela alteração do nome desta rua para Rua de Dr. António de Vasconcelos, professor e historiador dos séculos XIX e XX, voltando a designar-se Rua de Tomar em 1959 (LOUREIRO, 1964).

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4. PERÍODO DE EXECUÇÃO E MEIOS HUMANOS

Os trabalhos de arqueologia tiveram a duração de quinze dias, decorridos entre os dias 3 de Fevereiro e 7 de Junho de 2011. Foram desempenhados pelo arqueólogo signatário, António Ginja, que contou com o auxílio de três trabalhadores indiferenciados.

5. METODOLOGIA

A presente intervenção arqueológica compreendeu dois trabalhos distintos, o de acompanhamento arqueológico e o de escavação de sondagens de diagnóstico. O acompanhamento arqueológico fez-se de forma presencial e permanente, vigiando a remoção mecânica de terras afectas à obra e registando fotograficamente as diversas fases deste trabalho. A metodologia para a escavação das sondagens baseou-se no sistema de Unidades Estratigráficas preconizado por Harris, onde cada Unidade Estratigráfica (U.E.) foi removida por ordem inversa à sua deposição, após ser devidamente identificada, descrita, desenhada, cotada, fotografada e registada em fichas caracterizadoras. Para a distinção de cada U.E. foram adoptados diversos critérios, tais como a cor, granulometria, compacticidade, composição, textura, quantidade e calibre dos elementos pétreos, quantidade e calibre de inclusões orgânicas, quantidade e calibre de inclusões culturais, etc. O registo gráfico foi elaborado à escala de 1:40, salvaguardando-se o rigor métrico e atendendo-se a todos os pormenores. Já o registo fotográfico foi efectuado com recurso a uma máquina fotográfica digital de 10 megapixeis.

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6. SONDAGENS

Foram realizadas duas sondagens de diagnóstico no pátio ajardinado da propriedade, com o objectivo de avaliar a existência de eventuais elementos patrimoniais susceptíveis de sofrer impacte arqueológico no decurso da presente empreitada. As sondagens, realizadas em fase prévia ao arranque da empreitada, foram implantadas nos locais onde se previa que a afectação ao solo fosse mais avolumada.

SONDAGEM 1

A sondagem 1 foi implantada na área central do pátio ajardinado da propriedade. Dispunha de uma área de 4 m2 (2 x 2 m). Foi escavada até se atingir o geológico. Da sua escavação resultou a seguinte leitura estratigráfica: U.E. 1: Unidade térrea, composta por terra de cor castanha, granulometria grosseira, fraca compacticidade e textura argilo-limosa, que constituía o actual nível de circulação do terreno. Exibia elevada quantidade de elementos orgânicos (raízes) e alguns elementos pétreos de pequeno calibre. Dela foram exumados alguns elementos culturais, entre eles fragmentos de cerâmica doméstica comum, de faiança com decoração impressa, de loiça ‘ratinhos’, de cerâmica vidrada de chumbo e de cerâmica de construção (tijolos alveolares e telhas ‘lusa’). Assentava sobre a U.E. 2. Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 2: Geológico constituído por terra de cor bege e granulometria fina, elevada compacticidade argilosa. Encontrava-se isenta de materiais culturais, correspondendo a um nível arqueologicamente estéril. Era coberta pela U.E. 1.

A escavação da sondagem 1 deu-se por terminada ao atingirmos um nível térreo arqueologicamente estéril (U.E. 2).

SONDAGEM 2

A sondagem 2 foi implantada na área nordeste do pátio ajardinado da propriedade. Dispunha de uma área de 4 m2 (2 x 2 m). Foi escavada até se atingir a cota de afectação da obra. Da sua escavação resultou a seguinte leitura estratigráfica: U.E. 1: Unidade térrea, composta por terra de cor castanha, granulometria grosseira, fraca compacticidade e textura argilo-limosa, que constituía o actual nível de circulação 13 INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA NO ÂMBITO DAS OBRAS DE REABILITAÇÃO URBANA, SITO RUA DE TOMAR N.º 6, COIMBRA

do terreno. Exibia elevada quantidade de elementos orgânicos (raízes) e alguns elementos pétreos de pequeno calibre. Dela foram exumados alguns elementos culturais, entre eles fragmentos de cerâmica doméstica comum, de faiança com decoração impressa, de cerâmica vidrada de chumbo e de cerâmica de construção (tijolos alveolares e telhas ‘lusa’). Assentava sobre a U.E. 2. Cronologia: Época Contemporânea. U.E. 2: Unidade térrea, composta por terra de cor heterogénea (castanha com manchas bege), granulometria grosseira, fraca compacticidade e textura argilo-limosa. Encontravase isenta de materiais culturais. É possível, dada a sua composição heterogénea, que se trate de um nível de aterro, eventualmente contemporâneo da construção da casa agora visada pelas obras de reabilitação. Na verdade, uma observação cuidada permitia constatar a existência de terras com características equivalentes à U.E. 1, misturadas com terras de características semelhantes às do nível geológico que constituía a U.E. 2 da sondagem 1. A construção da casa, edificada a partir de uma cota bastante inferior à da rua, poderá ter sido precedida por acções de escavação, tendo as terras daí resultantes sido aterradas no limite norte da propriedade. Era coberta pela U.E. 1 e assentava sobre a U.E. 3 e a U.E. 5. Cronologia: Época Contemporânea (?). U.E. 3: Unidade térrea, composta por terra de cor preta, granulometria fina, fraca compacticidade e textura argilo-limosa, aparentemente depositada para aterrar uma vala (U.E. 4). Encontrava-se isenta de materiais culturais. Era coberta pelas U.E.’s 2 e 5 e preenchia a U.E. 4. Cronologia: Época Contemporânea (?). U.E. 4: Interface resultante da escavação do que aparentava ser uma vala, de secção côncava, com cerca de (80 cm de largura x aprox. 40 cm profundidade). Cronologia: Época Contemporânea (?). U.E. 5: Unidade térrea, composta por terra de cor castanha, granulometria fina, fraca compacticidade e textura argilo-limosa, aparentemente depositada para aterrar uma vala (U.E. 4). Encontrava-se isenta de materiais culturais. Era coberta pela U.E. 2 e cobria a U.E. 3. Cronologia: Época Contemporânea (?).

A escavação da sondagem 2 deu-se por terminada ao atingirmos a cota de afectação da presente empreitada.

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7. ACOMPANHAMENTO ARQUEOLÓGICO

Os trabalhos de acompanhamento arqueológico visaram a vigilância da remoção mecânica de terras afectas à presente empreitada, que ocorreu em duas áreas da propriedade, no interior da casa e no pátio ajardinado da mesma, com o objectivo de minimizar os impactes arqueológicos que pudessem decorrer sobre os elementos patrimoniais eventualmente detectados no local. No interior da casa, a terra foi removida até à cota de afectação de obra, tendo-se verificado que o actual piso de circulação, em terra batida, se fazia a partir de níveis geológicos, estéreis do ponto de vista arqueológico. No decurso do acompanhamento arqueológico desta acção, foi detectado um único vestígio estrutural, constituído pelas sapatas da escadaria que servia o vão de porta do alçado principal da casa. Estas sapatas encontravam-se erguidas a partir do geológico, escavado para o efeito. Eram constituídas por alvenaria de pedras não facetadas, unidas em aparelho irregular por argamassa de cal e, em alguns pontos, de cimento, encostando ao alçado interior da parede dianteira da casa. Dadas a sua relação parietal com o restante edificado e a inclusão de cimento na sua composição, estimamos que se trate de uma estrutura de cronologia de Época Contemporânea. A área escavada não incidiu directamente sobre esta estrutura, tendo a mesma sido salvaguardada, quase na sua totalidade (sendo amputadas apenas as suas extremidades). Durante a remoção de terras da área interior da casa não foram detectados quaisquer elementos relevantes, quer do ponto de vista arqueológico quer do ponto de vista patrimonial. No pátio ajardinado da propriedade, a remoção de terras ocorreu em quatro espaços distintos, a zona da futura garagem, da futura piscina, do futuro túnel de ligação entre a garagem e a casa e dos futuros anexos. Estas zonas distribuíam-se a nordeste e a sudeste da casa, e a sua escavação mecânica revelou uma estratigrafia consistente com a detectada durante a escavação das sondagens 1 e 2, composta por terra vegetal sobreposta a níveis geológicos arqueologicamente estéreis. Em toda a área do pátio não se verificaram quaisquer elementos relevantes, quer do ponto de vista arqueológico, quer do ponto de vista patrimonial.

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8. INVENTÁRIO DE ESPÓLIO

O espólio recolhido foi devidamente limpo e marcado com o acrónimo do local (EHRT/10), a que se seguiu a sigla da sondagem (S1 ou S2) e a unidade estratigráfica de que proveio ([1]). A esta marcação foi acrescentado o número de inventário (1, 2, 3, etc.), que passamos a apresentar.

S1, U.E. 1: N.I. 19: fragmento de bordo recto de lábio arredondado de porcelana. Pasta branca, sem decoração. Cronologia: Época Contemporânea; N.I. 20: fragmento informe de porcelana. Pasta branca, sem decoração. Cronologia: Época Contemporânea; N.I. 21: fragmento de taça (?) de porcelana, de fundo de pé anelar (?), bordo envasado e lábio arredondado. Pasta branca, decorada, na superfície interna, com motivos vegetalistas a dourado e com lista a dourado concêntrica a definir o lábio. Cronologia: Época Contemporânea; N.I. 22: fragmento de fundo de pé anelar de porcelana. Pasta branca, sem decoração. Cronologia: Época Contemporânea; N.I. 23: fragmento informe de cerâmica vidrada de chumbo. Pasta laranja, homogénea, com escassos e.n.p de reduzida dimensão e algumas micas. Esmalte pouco aderente, de tonalidade castanha, presente apenas na superfície interna. Exibia vestígios de fuligem ao nível da superfície externa; N.I. 24: fragmento informe de faiança. Pasta bege, homogénea, com esmalte de cor branca, bem aderente em ambas as superfícies, com decoração estampilhada de cor castanha na superfície externa. Cronologia: Época Contemporânea (?); N.I. 25: fragmento de bordo envasado de lábio arredondado de faiança. Pasta bege, homogénea, com esmalte de cor branca, bem aderente em ambas as superfícies, decorada com motivos vegetalistas

estampilhados

de

cor

verde

na

superfície

interna.

Cronologia:

Época

Contemporânea; N.I. 26: fragmento informe de faiança. Pasta bege, homogénea, com esmalte de cor branca, bem aderente em ambas as superfícies, com decoração estampilhada de cores castanha, verde e laranja na superfície externa. Cronologia: Época Contemporânea; N.I. 27: fragmento informe de faiança. Pasta bege, homogénea, com esmalte de cor branca, bem aderente em ambas as superfícies, sem decoração; N.I. 28: fragmento informe de loiça ‘ratinhos’. Pasta bege, homogénea, com esmalte praticamente desaparecido em ambas as superfícies; N.I. 29: fragmento informe de vidro, opaco e de cor negra, sem inclusão de bolhas ou patine; N.I. 30: fragmento informe de cerâmica doméstica comum. Pasta laranja, homogénea, com escassos e.n.p de reduzida dimensão e algumas micas;

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N.I. 31: fragmento de bordo recto de lábio espessado de cerâmica doméstica comum. Pasta laranja, homogénea, com escassos e.n.p de reduzida dimensão e algumas micas;

S2, U.E. 1: N.I. 1: fragmento informe de cerâmica doméstica comum. Pasta laranja, homogénea, com escassos e.n.p de reduzida dimensão e algumas micas; N.I. 2: fragmento informe de cerâmica doméstica comum. Pasta laranja, homogénea, com escassos e.n.p de reduzida dimensão e algumas micas; N.I. 3: fragmento informe de cerâmica doméstica comum. Pasta laranja, homogénea, com escassos e.n.p de reduzida dimensão e algumas micas; N.I. 4: fragmento informe de cerâmica doméstica comum. Pasta laranja, homogénea, com escassos e.n.p de reduzida dimensão e algumas micas; N.I. 5: fragmento informe de cerâmica doméstica comum. Pasta laranja, homogénea, com escassos e.n.p de reduzida dimensão e algumas micas; N.I. 6: fragmento informe de cerâmica doméstica comum. Pasta laranja, homogénea, com escassos e.n.p de reduzida dimensão e algumas micas; N.I. 7: fragmento informe de cerâmica doméstica comum. Pasta laranja, homogénea, com escassos e.n.p de reduzida dimensão e algumas micas; N.I. 8: fragmento informe de cerâmica doméstica comum. Pasta laranja, homogénea, com escassos e.n.p de reduzida dimensão e algumas micas; N.I. 9: fragmento informe de cerâmica doméstica comum. Pasta laranja, homogénea, com escassos e.n.p de reduzida dimensão e algumas micas; N.I. 10: fragmento informe de cerâmica doméstica comum preta. Pasta cinzenta, homogénea, com escassos e.n.p de reduzida dimensão e algumas micas. Exibia vestígios de fuligem ao nível da superfície externa; N.I. 11: fragmento informe de cerâmica doméstica comum preta. Pasta cinzenta, homogénea, com escassos e.n.p de reduzida dimensão e algumas micas. Exibia vestígios de fuligem ao nível da superfície externa; N.I. 12: fragmento informe de cerâmica doméstica comum preta. Pasta cinzenta, homogénea, com escassos e.n.p de reduzida dimensão e algumas micas. Exibia vestígios de fuligem ao nível da superfície externa; N.I. 13: fragmento de fundo ônfalo de faiança. Pasta bege, homogénea, esmalte bem aderente de cor branca, sem decoração, em ambas as superfícies. Cronologia: Época Contemporânea; N.I. 14: fragmento informe de faiança. Pasta bege, homogénea, esmalte bem aderente de cor branca, sem decoração, em ambas as superfícies. Cronologia: Época Contemporânea; N.I. 15: fragmento de bordo de lábio arredondado de faiança. Pasta bege, homogénea, esmalte pouco aderente de cor branca, em ambas as superfícies. Decorado com lista azul de cobalto concêntrica, definindo o lábio, ao nível da superfície interna. Cronologia: Época Contemporânea; N.I. 16: fragmento de fundo plano de cerâmica vidrada de chumbo. Pasta laranja, homogénea, com escassos e.n.p de reduzida dimensão e algumas micas. Esmalte pouco aderente, de INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA NO ÂMBITO DAS OBRAS DE REABILITAÇÃO URBANA, SITO RUA DE TOMAR N.º 6, COIMBRA

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tonalidade melada, presente apenas na superfície interna. Exibia vestígios de fuligem ao nível da superfície externa; N.I. 17: fragmento de bordo envasado de lábio arredondado de cerâmica doméstica comum. Pasta laranja, homogénea, com escassos e.n.p de reduzida dimensão e algumas micas; N.I. 18: fragmento informe de vidro, transparente e de tonalidade esverdeada, sem inclusão de bolhas mas com alguma patine ao nível de ambas as superfícies.

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A abertura das sondagens prévias revelou uma estratigrafia relativamente simples, composta por terras vegetais sobrepostas a níveis geológicos, estéreis do ponto de vista arqueológico. Por sua vez, o acompanhamento arqueológico da remoção mecânica das terras afectas à obra na área do pátio revelou uma estratigrafia semelhante à detectada nas sondagens prévias. No interior da casa, a área escavada revelaria uma estratigrafia ainda mais simples, composta apenas por níveis geológicos, estéreis do ponto de vista arqueológico. Durante toda a intervenção arqueológica não foram detectados quaisquer bens patrimoniais, móveis ou estruturais, passíveis de sofrer impacte arqueológico.

Condeixa-a-Nova, 14 de Junho de 2011

O arqueólogo responsável António Ginja

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BIBLIOGRAFIA E SÍTIOS NA REDE

ALARCÃO, J. de (1979) - “As origens de Coimbra”, Actas das I Jornadas do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro, Coimbra, pp. 23-40. ALARCÃO, J. de (1999) - “A evolução urbanística de Coimbra: das origens a 1940”, Actas do I Colóquio de Geografia de Coimbra, Cadernos de Geografia, n.º especial, pp. 1-10. ALARCÃO, J. de (1996) - A evolução urbanística de Coimbra: das origens até 1940, “Cadernos de Geografia – Actas do 1º colóquio de Geografia de Coimbra”, Coimbra, Instituto de Estudos Geográficos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. ALARCÃO, J. de (1999) - “A evolução urbanística de Coimbra: das origens a 1940”, Actas do I Colóquio de Geografia de Coimbra, Cadernos de Geografia, n.º especial, pp. 1-10. BIROT, P. (1949) – “Les surfaces d’érosion du Portugal Central et Septentrional”, Rapport de la Comission pour la Cartographie des Surfaces d’Aplanissement, Louvain, U. G. I., pp. 9-116. CORREIA, V. (1946) - Obras. Coimbra, vol. I, Coimbra, Acta Universitatis Conimbrigensis. DIAS, P. (1981) - A evolução do espaço urbano de Coimbra, “Munda”, Nº 2, Coimbra. GANHO, N. (1998) – O Clima Urbano de Coimbra, Estudo de Climatologia local aplicada ao ordenamento Urbano, Tese de Doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Estudos Geográficos, Coimbra. GONÇALVES, A. N. (1944) - Evocação da Obra dos Canteiros Medievais de Coimbra, Publicações da Sociedade de Defesa e Propaganda de Coimbra, Coimbra Editora, Lda., Coimbra. GONÇALVES, A. N. (1978) - Evocação do XI Centenário da I Reconquista Cristã de Coimbra. LOUREIRO, J. P. (1964) - Toponímia de Coimbra, Tomo I e II, Coimbra, Edição da Câmara Municipal de Coimbra. MACHADO, F. F.(1934-36) - Uma descrição de Coimbra no século XVII, “Revista de arqueologia” Tomo 2, Lisboa, s/l. MANTAS, V. (1992) - Notas sobre a estrutura urbana de Aeminium, “Biblos”, vol. LXVIII, Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. ROQUE, J. L. (2003) - “Coimbra no séc. XIX: Breves “Imagens” Urbanísticas e Sociais”, in Maria José Azevedo Santos (dir.), Homenagem da Misericórdia de Coimbra a armando Carneiro da Silva (1912-1992), Palimage, Coimbra-Viseu, pp. 21-90. SALGUEIRO, T. B. (1992) - A cidade em Portugal. Uma geografia urbana. Lisboa, Edições Afrontamento. SOARES, MARQUES e SEQUEIRA (2007) – Noticia Explicativa da Folha 19, D: CoimbraLousã, Carta Geológica de Portugal, Departamento de Geologia, Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação, Lisboa.

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VASCONCELOS, A. (1938) – Escritos Vários Relativos à Universidade Dionisiana, Vol I, Coimbra Editora Lda., Coimbra.

www.feirados23.wordpress.com www.igespar.pt www.monumentos.pt

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ANEXOS CARTOGRÁFICOS

Figura 1 - Planta da cidade de Coimbra em 1834, com respectivos colégios assinalados de acordo com a legenda à direita. Colégio de Tomar assinalado com seta vermelha (C’). Fonte: VASCONCELOS, 1938.

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S2

1

S1

3 4

2

5

2m

N

Figura 2 - Planta da propriedade afecta à presente intervenção, com localização da sondagem 1 (S1) e da sondagem 2 (S2), assim como das áreas sujeitas a remoção mecânica de terras, a área da garagem (1), a área no interior da casa (2), a área do túnel (3), a área da piscina (4) e a área dos anexos (5). A área ocupada pela casa encontra-se definida pelo quadrado preenchido por riscas diagonais cinzentas.

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ANEXOS FOTOGRÁFICOS

S1

S2

Fotografia 1 – Vista geral do pátio ajardinado no início dos trabalhos, com localização das sondagens realizadas.

Fotografia 2 – Vista geral da sondagem 1, no início da sua escavação.

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Fotografia 3 – Vista geral da sondagem 1, no final da sua escavação.

Fotografia 4 – Vista geral do perfil sudeste da sondagem 1.

24 INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA NO ÂMBITO DAS OBRAS DE REABILITAÇÃO URBANA, SITO RUA DE TOMAR N.º 6, COIMBRA

Fotografia 5 – Vista geral da sondagem 2, no início da sua escavação.

Fotografia 6 – Vista geral da sondagem 2, no final da sua escavação.

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Fotografia 7 – Vista geral do perfil sudoeste da sondagem 2.

Fotografia 8 – Vista geral do perfil noroeste da sondagem 2.

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Fotografia 9 – Acompanhamento dos trabalhos de remoção das terras do pátio ajardinado.

Fotografia 10 – Vista geral da área destinada à garagem no pátio ajardinado, no final dos trabalhos de remoção das terras.

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Fotografia 11 – Acompanhamento dos trabalhos de remoção das terras no interior da casa.

Fotografia 12 – Vista geral sobre as sapatas da escadaria (setas azuis), detectadas durante o acompanhamento da remoção de terras no interior da casa. No topo, ao centro: vão de porta de acesso à Rua de Tomar.

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Fotografia 13 – Vista geral sobre a área de implantação do túnel, no final dos trabalhos de remoção das terras.

Fotografia 14 – Vista geral sobre a área de implantação da piscina, no final dos trabalhos de remoção das terras.

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Fotografia 15 – Vista geral sobre a área de implantação dos anexos, no final dos trabalhos de remoção das terras.

Fotografia 16 – Espólio recolhido da Sondagem 2.

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Fotografia 17 – Espólio recolhido da Sondagem 1.

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ANEXOS GRÁFICOS

Registo Gráfico 1 – Sondagem 1, no final da sua escavação. Planta no topo, perfil nordeste à direita e perfil sudeste à esquerda.

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Registo Gráfico 2 – Sondagem 2, no final da sua escavação. Planta em baixo, à direita, perfil noroeste em cima e perfil sudoeste em baixo, à esquerda.

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Ficha de Sítio

Designação: Edifício habitacional na Rua de Tomar, n.º 6, Coimbra Distrito: Coimbra Concelho: Coimbra Freguesia: Sé Nova

Lugar: Rua de Tomar

C.M.P. 1/25.000-folha n.º 241

Altitude (m): 90

Coordenadas: - 40º12’27’’53N – 8º25’07”04W Tipo de sítio: Edifício Período cronológico: Época Contemporânea Recursos hidrográficos: --Descrição do sítio (15 linhas): Proprietários: Dr. Miguel Silvestre Classificação:

Legislação: art.º 56 e art.º 5 do RMUE

Estado de conservação: ---

Uso do solo: Habitacional

Ameaças: Reabilitação de uma moradia

Protecção/Vigilância: Grau II de Protecção

Acessos: Rua de Tomar Espólio: Fragmentos de cerâmica doméstica comum, de vidrados de chumbo, de faianças, de porcelanas e de vidros, na sua generalidade informes e sem decoração. Descrição: Fragmentos de cerâmica doméstica comum, de vidrados de chumbo, de faianças, de porcelanas e de vidros, na sua generalidade informes e sem decoração. Local de depósito: O espólio recolhido encontra-se nas instalações da Munis, Atelier de Arqueologia, Lda. e aguarda a aprovação do presente relatório para ser entregue à Câmara Municipal de Coimbra (GHAAC).

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Trabalho Arqueológico 2011 Arqueólogo responsável: António Ginja Tipo de trabalho: Escavação e Acompanhamento arqueológicos Datas de início: 3 de Fevereiro de 2011

de fim: 7 de Junho de 2011

Duração (em dias): 15 Projecto de Investigação: Objectivos (10 linhas): A abertura das sondagens 1 e 2, bem como o acompanhamento arqueológico, visou a minimização do impacte arqueológico eventualmente decorrente da intervenção de reabilitação da moradia n.º 6, ao nível de eventuais elementos patrimoniais sob o actual nível de circulação. Resultados (15 linhas): Foi detectada uma estratigrafia relativamente simples, com níveis térreos vegetais sobrepostos a níveis geológicos, estéreis do ponto de vista arqueológico. Nenhum bem patrimonial, móvel ou imóvel, foi detectado durante a presente intervenção.

** Preencher de acordo com a lista do Theasaurus do ENDOVÉLICO. Essa Lista poderá ser consultada no site do IGESPAR, I.P.

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