EDITORIAL - O papel da educação na integração social

July 27, 2017 | Autor: Neylson Crepalde | Categoria: Sociologia, Sociologia da Educação, Sociología, Educação, Educação Musical
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EDITORIAL O papel da educação na integração social Neylson J. B. F. Crepalde1

A Escola, cuja função específica consiste em desenvolver ou criar as disposições que fazem o homem culto e constituem o suporte de uma prática [de visita a aparelhos culturais] duradoura e intensa, ao mesmo tempo, de forma qualitativa e quantitativa, poderia compensar (pelo menos parcialmente) a desvantagem inicial daqueles que, em seu meio familiar, não encontram a incitação à prática cultural, nem a familiaridade com as obras [de arte], pressuposta por todo discurso pedagógico sobre as obras (...). Pierre Bourdieu

Émile Durkheim, no início do séc. XX, ao investigar de que modo a sociedade seria coesa o suficiente a ponto de não desintegrar-se encontrou solução na educação. Para ele a educação consistiria numa socialização metodológica da juventude pela senioridade de modo a construir um ideal de homem relativamente comum a todos. A sociedade, desse modo, só poderia manter-se unida havendo um mínimo de homogeneidade entre os indivíduos. O filósofo John Dewey, em contrapartida, defende o lugar da educação como transformadora da ordem social existente quebrando o status quo. Para Dewey, “lançar as bases, intelectuais e morais, para uma nova ordem social é um ideal suficientemente original e inspirador para provocar um novo espírito na profissão docente2”.

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Mestre e Doutorando em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Especialista em Gestão Cultural pelo Centro Universitário UNA (UNA) e Bacharel em Regência pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É professor e coordenador do curso de Música do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix (CEUNIH). E-mail: [email protected] 2 DEWEY, John. Pode a educação participar na reconstrução social? In.: Currículo sem fronteiras.v1, n2, pp. 189-193, Jul/Dez 2001. Revista Formação@Docente – Belo Horizonte – vol. 6, no 2, jul/dez 2014.

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Pierre Bourdieu, por sua vez, conceitua a educação como uma “violência simbólica”, uma ação arbitrária cujas consequências são a reprodução do sistema social vigente. Ao mesmo tempo, Bourdieu identifica que a educação acontece em momentos e lugares distintos desde a socialização familiar até a educação formal numa universidade, por exemplo. Isso dá origem aos três estados do capital cultural, qual sejam, o estado incorporado – formado por um habitus corporal e transmitido predominantemente no âmbito familiar –, o estado objetivado – formado pelos artefatos culturais em posse de um indivíduo ou família tais como livros, obras de arte, etc. – e o estado institucionalizado – objetivado sob a forma de diplomas e certificados. Bourdieu também identifica que não há continuidade entre a ação pedagógica familiar e a educação formal vista a distância cultural em relação à escola. Esse autor argumenta, em relação ao papel escolar na construção da disposição para o consumo de bens culturais que “ao proceder como se as desigualdades em matéria de cultura não pudessem se referir senão a desigualdades de natureza, ou seja desigualdades de dom, e ao omitir de fornecer a todos o que alguns recebem da família, o sistema escolar perpetua e sanciona as desigualdades inicias3”. Escolhi apresentar estas três concepções ao leitor porque elas servem de pano de fundo para a leitura dos artigos do presente número da Formação@Docente. Um dos principais desafios tanto da pedagogia quanto da educação musical tem sido trabalhar ações inclusivas de modo a integrar na sociedade indivíduos postos à margem, seja historicamente, seja em razão de estigma social. O artigo de Jair Augusto e Guilherme de Castro apresenta uma proposta de musicalização através dos recursos tecnológicos da gravação e produção musical. O artigo de Milene Silva, Ricardo Aydos e Ordalia Almeida nos convida a pensar o papel do pedagogo fora dos espaços escolares e a pensar o conceito de educação de forma mais abrangente considerando as conquistas de uma ação junto a pacientes com câncer na construção de relações de confiança e no auxílio da forma como lidam com sua condição. O artigo de Josiane Gonçalves faz, a partir de um longa-metragem bastante conhecido, uma reflexão sobre a alteridade e sobre a construção social de habilidades consideradas inerentes ao ser humano, como a linguagem. Por fim, o artigo de Ivo Gomes desafia os limites

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BOURDIEU, Pierre. O amor pela arte: os museus de arte na Europa e seu público. 2 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Porto Alegre: Zouk, 2007. Revista Formação@Docente – Belo Horizonte – vol. 6, no 2, jul/dez 2014.

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da educação musical estabelecendo alguns fundamentos sobre os quais pode-se trabalhar uma abordagem específica para surdos. Esperamos que a leitura dos textos envolva o leitor numa reflexão acerca da importância e da infinidade de possibilidades inerentes à educação musical e às ações pedagógicas nas diversas esferas da vida. Boa leitura!

Revista Formação@Docente – Belo Horizonte – vol. 6, no 2, jul/dez 2014.

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