Eduardo Campos e Marina Silva: a \"nova política\" entre o drama e a esperança

June 22, 2017 | Autor: M. Amazonas Monteiro | Categoria: Campanhas eleitorais, Eleição presidencial 2014
Share Embed


Descrição do Produto

Eduardo Campos e Marina Silva: a “nova política” entre o drama e a esperança Marcia Amazonas Monteiro* Resumo: O presente artigo pretende refletir sobre os desafios na construção do discurso da “nova política” pelo candidato presidencial socialista Eduardo Campos até sua trágica morte em acidente aéreo, em 13 de agosto de 2014. Sob as perspectivas de Guy Debord (Sociedade do Espetáculo), Pierre Bourdieu (Campos Sociais) e Patrick Charaudeau (Discurso Político), busca-se compreender de que forma a morte de Campos foi retratada pelas revistas Veja (Editora Abril) e Época (Editora Globo) e como a mídia tentou influenciar a decisão política da vice Marina Silva em assumir a candidatura em lugar de Campos, como representante da coligação Unidos pelo Brasil. Palavras-chave: Eleição presidencial. Campanha eleitoral. Sociedade do Espetáculo. Campos Sociais. Discurso Político.

Introdução Neto de Miguel Arraes, lendário político pernambucano, Eduardo Campos começou a engajar-se na vida política aos 17 anos, quando participou ativamente da campanha do avô para deputado federal após Arraes ter retornado de um exílio de quinze anos na Argélia, em razão da ditadura militar no Brasil. Com o apoio de seu mentor, Eduardo prosseguiu na carreira política como deputado estadual, deputado federal, ministro da Ciência e Tecnologia e governador de Pernambuco, até que a morte de seu avô, em 2005, o conduziu à presidência do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Reeleito governador de Pernambuco com 82% dos votos em 2010, Campos firmou-se como líder político regional e passara a sonhar com vôos mais altos, especialmente depois do sucesso alcançado por seu partido nas eleições de 2012, quando a sigla elegeu 308 prefeitos, 42% a mais que no pleito anterior. Eduardo era sem dúvida uma estrela política em ascensão.

* Marcia Amazonas Monteiro é mestranda em Comunicação na Contemporaneidade pela FCL (Fundação Cásper Líbero) e especialista em Comunicação e Marketing pela mesma instituição acadêmica. Formada em Jornalismo pela Unisantos, possui mais de duas décadas de experiência como jornalista na grande imprensa e como consultora de comunicação corporativa. Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo 3º Seminário Comunicação e Política na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 17 e 18 de outubro de 2014

Em setembro de 2013, quando ainda integrava a base aliada governista de Dilma Roussef, Eduardo Campos e seu PSB decidiram entregar os cargos que detinham no Ministério da Integração Nacional e na Secretaria dos Portos para atuar de forma mais independente. O gesto foi interpretado no meio político como um claro sinal da disposição de Eduardo em concorrer à presidência da República. Um mês depois, Campos é procurado pela socioambientalista Marina Silva – que tentara fundar, sem sucesso, o seu próprio partido, o Rede Sustentabilidade – para uma aliança programática. Selado o acordo, Eduardo e Marina tornam-se a grande novidade na corrida presidencial de 2014, como porta-vozes de um novo discurso, o da “nova política”. Nas primeiras pesquisas de intenção de voto, em dezembro de 2013, a presidente Dilma Roussef tinha 47% da preferência do eleitorado e poderia ser reeleita ainda no primeiro turno. Já os pré-candidatos de oposição Aécio Neves (Partido da Social Democracia Brasileira) e Eduardo Campos (PSB) detinham, respectivamente, 19% e 11% das intenções de voto, segundo o instituto de pesquisa Datafolha. Quatro meses depois, conforme pesquisa feita pelo instituto MDA, sob encomenda da Confederação Nacional dos Transportes, o quadro havia se alterado: a intenção de votos na presidente Dilma sofrera uma queda de 10 pontos percentuais, para 37%, como reflexo do noticiário negativo sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, com prejuízos para a Petrobrás. Já o pré-candidato Aécio Neves subira de 17% em fevereiro para 21,6% e Eduardo Campos de 9,9% para 11,8%. Ainda em abril de 2014, na condição de pré-candidato do PSB, Eduardo Campos passou a mencionar com mais frequência em seus discursos o termo “nova política” utilizado por Marina Silva durante e após a eleição presidencial de 2010. Campos definiu sua candidatura como uma “terceira via” – o que poderia ser interpretado como uma tentativa de conciliar capitalismo de livre mercado e socialismo democrático –, porém mais à frente foi possível compreender que a idéia de Campos era colocar-se como alternativa política à polarização entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Eduardo Campos buscava um conceito que pudesse “traduzir” sua candidatura e diferenciála de seus opositores. Conforme Patrick Charaudeau “a produção de sentido é uma questão de interação e é, portanto, segundo os modos de interação e a identidade dos participantes implicados que se elabora o pensamento político.” (CHARAUDEAU, 2011 pg. 40) O linguista francês propõe três lugares de fabricação do pensamento político: como sistema de pensamento, como ato de comunicação e como comentário. Pode-se dizer que em Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo 3º Seminário Comunicação e Política na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 17 e 18 de outubro de 2014

Eduardo Campos o que se vê é a tentativa de estruturar o discurso político como um sistema de pensamento, resultado de uma atitude discursiva que procura fundar um ideal político em função de certos princípios que devem servir de referência para a construção das opiniões e dos posicionamentos. A “nova política” seria, portanto, essa tentativa de fundar um ideal e conquistar um eleitorado afinado com a proposta de renovar o modo de fazer política no Brasil, que passaria a ser programático, substituindo o presidencialismo de coalizão. Ainda na fase pré-campanha era fundamental para Eduardo Campos diferenciar-se de seus oponentes, pois deveria ser percebido pelos potenciais eleitores como representante do novo – um novo partido, um novo discurso, de uma nova forma de fazer política. Pesquisas davam conta de que nos estratos de alto e médio potencial não havia grandes contrastes entre as candidaturas: Marina teria 29%, Campos 25% e Aécio 24% da preferência desses eleitores. Assim, na tentativa de se fazer diferente de Aécio Neves, com o qual parecia ter mais afinidades do que divergências, Campos passou a dizer que sua candidatura encontrava-se “mais à esquerda”. Outro desafio era construir as alianças regionais, especialmente em São Paulo, reduto dos “tucanos” do PSDB e onde o governador Geraldo Alckmin tentava sua reeleição. Havia duas possibilidades para o PSB: lançar candidato próprio ao governo paulista (tese defendida pela vice Marina Silva, como forma de fortalecer o PSB regionalmente) ou aliarse ao PSDB. Quando Aécio Neves sinalizou que não se opunha a uma aliança entre Campos e Alckmin, o caminho estava aberto para Marcio França, do PSB, compor a chapa como vice de Alckmin, em uma parceria entre os partidos que poderia se ampliar em nível nacional, por ocasião do segundo turno. Em sua primeira prova de fogo, a “nova política” fora derrotada pelo pragmatismo. Paralelamente, sob a orientação de Lula, petistas procuravam minar a imagem de Campos, na esperança de que o candidato viesse a apoiar Dilma (e não Aécio Neves) no caso de um segundo turno. A primeira tentativa de descontrução da imagem de Eduardo ocorrera em 7 de janeiro de 2014, quando foi publicado na página oficial do PT no Facebook texto apócrifo intitulado “A Balada de Eduardo Campos”. Matéria do jornal Folha de São Paulo, publicada no mesmo dia, reproduziu alguns trechos: "Ao descartar a aliança com o PT e vender a alma à oposição em troca de uma probabilidade distante – a de ser presidente da República–, Campos rifou não apenas sua credibilidade política, mas se mostrou, antes de tudo, um tolo", diz o artigo. Ainda de acordo com a matéria publicada, o governador de Pernambuco seria um "beneficiário singular da boa vontade dos governos do PT" e transformara sua perspectiva de poder em "desespero eleitoral”. Horas após a publicação do texto, Beto Albuquerque, líder do PSB na Câmara dos Deputados e um dos principais aliados de Campos, rebateria em seu Twitter o artigo, com a hashtag “confessaramomedo”. Sua resposta: “Patética, desrespeitosa e desqualificada a Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo 3º Seminário Comunicação e Política na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 17 e 18 de outubro de 2014

nota do PT com ataques pessoais a @eduardocampos40. Este nível de debate não encontrará eco no PSB.” Em 13 de abril de 2014, em nova tentativa de denegrir a imagem de Campos, o ex-prefeito de Pernambuco, João Paulo Lima, tenta colar no candidato o rótulo de “traidor do PT”, ao dizer que Eduardo “pulou do barco”. Curiosamente, no mesmo dia, outra matéria publicada pelo jornal Folha de São Paulo trazia uma análise do instituto Datafolha que destacava o fato de Eduardo ser o candidato com maior potencial de crescimento (63%), por ter baixa rejeição e ainda ser desconhecido. Meses depois, com Eduardo Campos mantendo-se estacionado no patamar de 9% na preferência do eleitorado, muitos acreditavam que pudesse haver uma inversão na chapa Eduardo/Marina. Tal hipótese, porém, não se concretizou. Eduardo foi oficializado “cabeça de chapa” e Marina sua vice. Em 16 de julho, durante sabatina realizada por Folha de São Paulo/UOL/SBT/Rádio Jovem Pan, Campos disse que não tinha intenção de disputar a reeleição em 2018. Seu foco era a eleição de 2014 e sua expectativa era conseguir “virar o jogo” quando se iniciasse o Horário Eleitoral Gratuito. Essa postura confiante transpareceu sobretudo nas duas últimas entrevistas concedidas ao Jornal Nacional e ao Jornal das Dez, na Rede Globo, na véspera de sua morte. Nos minutos finais, em tom que depois se revelaria profético, Campos proferiu uma frase emblemática, que se tornaria seu maior legado: “... não vamos desistir do Brasil. É aqui que vamos criar nossos filhos, é aqui onde temos que criar uma sociedade mais justa...”. No dia seguinte, 13 de agosto - coincidentemente a mesma data de falecimento de seu avô Miguel Arraes - o sonho de Eduardo Campos desfazia-se no ar. Um acidente fatal com o jato Cessna que o transportava à Baixada Santista ceifaria sua vida, a de seus assessores, do piloto e do co-piloto. O jornal Folha de São Paulo publicou na data de sua morte trecho de uma entrevista concedida à publicação pouco antes da entrevista ao Jornal Nacional. "Se (William) Bonner ficar brabo, vou pedir para ele sentar no meu lugar e entrevisto ele, para ver como é difícil. Espero que ele não queira ser a bala que matou (a personagem de novela) Odete Roitman comigo", completou, sorrindo, reproduzindo uma expressão usada no Nordeste quando se quer dar dimensão de algo importante.

Uma tragédia no meio do caminho Eduardo Campos tinha consciência de que um bom desempenho midiático em frente às câmeras era fundamental para a conquista do eleitorado. Lidar com a imprensa era um desafio que o candidato estava aprendendo a superar quando foi abatido pela tragédia que Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo 3º Seminário Comunicação e Política na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 17 e 18 de outubro de 2014

interrompeu sua trajetória e mudou o curso da eleição presidencial. Marina Silva, assim como Renata Campos e seus filhos, poderiam estar na mesma aeronave, pois costumavam acompanhar o presidenciável. O destino não quis. Em meio ao sofrimento sem fim, à incredulidade, ao assédio da mídia, o PSB teria dez dias para decidir os rumos da coligação Unidos pelo Brasil, que reunia além do PSB e da Rede Sustentabilidade, os partidos PPS, PPL, PHS, PRP, PMN e PSL. Em 16 de agosto, três dias após a morte de Campos, o jornal O Estado de São Paulo publicou, na editoria de Política, uma fala de Marina que provocou certa perplexidade: "Foi providência divina, eu, Renata, Miguel e (Rodrigo) Molina não estarmos naquele avião". Questionada sobre como se sentia após a tragédia, afirmou ter o senso de “responsabilidade e compromisso que a perda dele (Campos) impõe.” O sociólogo francês Pierre Bourdieu fala em sua obra sobre as características dos diversos campos sociais (político, midiático, econômico etc.) e da influência e luta entre os campos. Segundo Bourdieu, um campo pode ser definido como um “espaço social estruturado, um campo de forças. Há dominantes e dominados, há relações constantes, permanentes, de desigualdades, que se exercem no interior desse espaço, que é também um campo de lutas para transformar ou conservar esse campo de forças” (BOURDIEU, 1997 pg. 57). Em meio ao frenesi da imprensa na apuração e divulgação das informações, não há tempo nem espaço para o luto, tampouco para a reflexão. Foi o que se viu ante a proliferação de imagens do acidente divulgadas exaustivamente na internet e nas TVs. Das revistas, entretanto, que possuem um tempo maior para elaboração, espera-se mais sobriedade e equilíbrio na cobertura jornalística de tragédias. Nesse episódio, as duas revistas de maior circulação nacional, Veja e Época, buscaram evitar o sensacionalismo mas não hesitaram em tentar influenciar o campo político e a corrida eleitoral, com base na linha editorial dessas publicações, que representam os conglomerados midiáticos Abril e Globo, respectivamente.

Vigor dos resolutos Revista de maior circulação nacional, Veja destacou na capa de sua edição de número 2387 (próxima página) a frase “Não vamos desistir do Brasil”. Sobre o fundo preto, Eduardo Campos aparece com seu semblante coberto por sombras. A matéria principal, intitulada “Vôo para a Morte” enfatizou a maneira como o candidato encerrou a entrevista no Jornal Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo 3º Seminário Comunicação e Política na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 17 e 18 de outubro de 2014

Nacional, “com o vigor dos resolutos” e a costumeira confiança, sua marca. Foi dito também que o político tinha um caráter centralizador, cercava-se de familiares no governo, deixava-se influenciar por poucos e não hesitava em selar acordos com adversários. O texto lembra ainda a frase de Renata Campos, de que “a morte bateu na porta errada”.

Em outra matéria na mesma edição, intitulada “A Sucessora”, Veja define Marina como uma discreta coadjuvante, leal e disciplinada, destacando que a entrada da candidata na corrida eleitoral não era boa notícia para Dilma e Aécio, pois forçaria um segundo turno – e que o maior prejudicado poderia ser Aécio, que corria o risco de ficar fora da disputa. A publicação lembrou também que Marina era a segunda na preferência dos manifestantes de junho de 2013, atrás apenas de Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal. O texto destacou o fato de que a hashtag RIP Eduardo Campos alcançou o primeiro lugar Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo 3º Seminário Comunicação e Política na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 17 e 18 de outubro de 2014

no ranking mundial do Twitter e que a aposta dos petistas era a de que Dilma iria crescer no Nordeste, sem a presença de Campos na corrida presidencial. Uma semana depois, em 27 de agosto, Veja trouxe na edição de número 2388 (vide imagem abaixo) matéria de capa com Marina sorrindo e a indagação: “Marina presidente?”. Em três matérias, destacou sua fulminante ascensão, sua reputação internacional, o baixíssimo índice de rejeição, a aprovação do mercado ao seu nome e o empate técnico com Aécio Neves. Entretanto, a publicação não hesitou em chamá-la de “esfinge”, deixando clara sua desconfiança em relação à candidata.

Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo 3º Seminário Comunicação e Política na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 17 e 18 de outubro de 2014

A responsabilidade de Marina Já a revista Época, a segunda no ranking das semanais, publicou cinco dias após a tragédia em sua edição de número 846 (vide imagem abaixo) capa com fundo preto que trazia um Eduardo Campos sorridente, olhando em direção ao céu. Internamente, o título da matéria principal era “Ela pode decidir a eleição”, na qual a publicação buscava influenciar o processo eleitoral ao dizer textualmente: “Se Marina não assumir a vaga, joga a eleição no colo de Dilma. Se assumir, transforma o próximo pleito em uma das mais acirradas disputas”. Na mesma matéria menciona que Eduardo Campos era um desconhecido para 41% do eleitorado, segundo o Datafolha, e que Aécio poderia perder os eleitores mais ricos e instruídos dos grandes centros urbanos para uma Marina em ascensão.

Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo 3º Seminário Comunicação e Política na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 17 e 18 de outubro de 2014

Na mesma edição de Época, em outra matéria intitulada “Não Vamos Desistir do Brasil” menciona-se que já em 2010, durante um jantar, Campos havia dito aos amigos que pretendia candidatar-se à Presidência em 2014. O texto também destaca as contradições entre os que investigavam o acidente: policiais e bombeiros teriam encontrado duas caixas pretas, porém a FAB alegou que apenas uma caixa preta fora encontrada e que não havia registro de vozes do vôo de Eduardo. Em outra matéria, com o título “Eduardo Campos por Eduardo Campos” é dito que em 1989 o candidato preferiu apoiar Lula, contrariando seu avô Miguel Arraes, que estava fechado com a candidatura peemedebista de Ulisses Guimarães. Em outra oportunidade, durante a crise do mensalão, Campos deixou o Ministério da Ciência e Tecnologia para ajudar Lula na Câmara dos Deputados. O texto traz ainda uma autodefinição de Eduardo Campos, na qual teria dito: “...Tem gente que parte do eleitoral para o político; eu parto do político para o eleitoral. Visito quem me apóia e quem não me apóia.” Em outra edição, de número 847, Época trouxe na capa de fundo azul (próxima página) uma Marina Silva serena e o questionamento: “Até onde ela vai?”. Nas páginas internas, a publicação indaga em tom crítico se Marina estaria preparada para ser “uma candidata de verdade, agregadora e com propostas realistas”. Destaca seu temperamento forte, lembrando que aos cinco anos a menina Marina pedira para morar com a avó paterna Julia. Para a publicação, a candidata teria de convencer o eleitor da capacidade administrativa do seu governo e mostrar que era “candidata da terceira via do diálogo e da união e não da exclusão”, adotando postura flexível para costurar alianças políticas, sem perder a essência.

Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo 3º Seminário Comunicação e Política na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 17 e 18 de outubro de 2014

Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo 3º Seminário Comunicação e Política na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 17 e 18 de outubro de 2014

Considerações finais Segundo o escritor francês Guy Debord “a lógica da mercadoria predomina sobre as diversas ambições concorrenciais de todos os comerciantes, como a lógica da guerra predomina sobre as frequentes modificações do armamento e também a rigorosa lógica do espetáculo comanda em toda parte as exuberantes e diversas extravagâncias da mídia” (DEBORD, 1997 pg. 171) Na sociedade contemporânea, estamos cada vez mais sujeitos à espetacularização. Se até fatos banais são transformados em “produtos midiáticos” vendáveis, o que não dizer da morte trágica de um candidato presidencial em plena campanha eleitoral? Assim foi com Eduardo Campos. Romperam-se definitivamente os limites do bom senso na cobertura jornalística, abusando-se do tom melodramático e sensacionalista. Em meio ao espetáculo da dor alheia, velório e enterro transformaram-se em “acontecimentos midiatizados”, com políticos e populares disputando os holofotes. Houve até quem tirasse “selfies” junto ao esquife para marcar presença no “evento”. Nesse artigo, nos propusemos a investigar se as duas revistas de informação de maior circulação em nível nacional seriam “contaminadas” por esse clima de sensacionalismo que se observara especialmente na cobertura televisiva. Ou se, ao contrário, as publicações adotariam um tom mais sóbrio e reflexivo sobre a tragédia. Felizmente a segunda hipótese pareceu-nos mais plausível. E também pode-se perceber claramente a atuação do campo midiático sobre o campo político – e vice-versa. A tragédia de Campos e sua sucessão foi capa em quatro edições das revistas Veja e Época. Época superou sua concorrente no número de páginas dedicadas ao assunto (32 contra 26) e também chegou às bancas mais cedo, cinco dias após o acidente, em 18 de julho. Veja, dois dias depois, em 20 de julho. Revista semanal de maior circulação nacional, com o triplo da tiragem da concorrente, Veja destacou a autoconfiança e o caráter resoluto de Eduardo e sua forte ligação familiar. Já Marina é retratada como uma disciplinada, discreta e leal coadjuvante de Campos que, na condição de candidata, seria uma ameaça aos planos de Aécio Neves de chegar ao segundo turno. Veja dedicou-se a analisar o impacto da morte nas candidaturas dos oponentes. Definiu Marina como uma “esfinge”, com reputação internacional e em fulminante ascensão. O posicionamento adotado por Veja foi ligeiramente menos crítico que o de sua concorrente Época em relação a figura de Eduardo Campos, preferindo-se destacar o fato de que Eduardo era ainda um desconhecido de grande parte do eleitorado até sua morte e que seu sonho de se tornar presidente começara em 2010. Referindo-se à Marina, lembrou que na Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo 3º Seminário Comunicação e Política na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 17 e 18 de outubro de 2014

eleição presidencial de 2010 a candidata representara o voto de protesto, conquistando o terceiro lugar na disputa, com 20 milhões de votos. Apenas três dias após a morte de Campos, Época tentava influenciar Marina na tomada de decisão de substituir Campos. Afinal, se não o fizesse, “estaria jogando a eleição no colo de Dilma”. Ao mesmo tempo, a publicação adotava um posicionamento mais crítico e cético em relação à personalidade e competência de Marina para ganhar uma eleição atípica, das mais disputadas nos últimos tempos.

Referências bibliográficas BOURDIEU, Pierre. Sobre a Televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997 DEBORD, Guy. Comentários sobre a Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto. 1997 CHARAUDEAU, Patrick. Discurso Político. São Paulo. Contexto. 2011 Participação de Eduardo Campos no Jornal Nacional (12/08/2014) http://globotv.globo.com/rede-globo/jornal-nacional/v/eduardo-campos-e-entrevistado-no-jornalnacional/3559937 Participação de Eduardo Campos no Jornal das Dez (12/08/2014) http://www.youtube.com/watch?v=17bo-fOR3xI Jornal Folha de São Paulo (07/01/2014) – http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/01/1394624-texto-apocroifo-chama-campos-de-tolo-e-dizque-ele-vendeu-a-alma-em-pagina-do-pt.shtml Jornal Folha de São Paulo (13/04/2014) http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/161218-pt-de-pernambuco-acusa-campos-de-traicao.shtml Jornal Folha de São Paulo (13/04/2014) http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/04/1439907-analise-campos-tem-maior-potencial-decrescimento.shtml Jornal Folha de São Paulo (16/07/2014) http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/07/1486533-entrevista-eduardo-campos.shtml Jornal Folha de São Paulo (13/08/2014) http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/08/1500166-horas-antes-campos-comemoroudesempenho-no-jornal-nacional.shtml Jornal O Estado de São Paulo (15/08/2014) http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,marina-silva-diz-que-nao-embarcou-no-aviao-porprovidencia-divina,1544964

Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo 3º Seminário Comunicação e Política na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 17 e 18 de outubro de 2014

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.