EDUCAÇÂO A DISTÂNCIA: UM PROCESSO DEMOCRÁTICO?

September 12, 2017 | Autor: Mara Brum | Categoria: Teacher Education
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EDUACAÇÂO A DISTÂNCIA: UM PROCESSO DEMOCRÁTICO? Elizane Pegoraro Bertineti 1 Mara Brum 2 Rossana 3 Eixo Temático: Mediação Pedagógica em EaD Palavras-chave: Educação a Distância, Relação Pedagógica e Democracia. Resumo: A chegada da EaD (Educação a Distância) em nosso contexto educacional, trouxe novas possibilidades para quem busca estudar e dispõe de pouco tempo ou que não reside em uma cidade que disponibilize um campus universitário com aulas diariamente.A chegada desta nova modalidade de Educação trouxe novas abordagens de ensino-aprendizagem, centradas na interação virtual e na construção do conhecimento do aluno na modalidade á distância. Muitas mudanças surgiram neste avanço tecnológico, percebe-se uma nova oportunidade, porém alguns pontos ainda são questionados e ao pesquisar junto aos alunos de EaD, percebemos que muitas são as lacunas que eles percebem nesta formação. O presente trabalho pretende discutir as possibilidades e os entraves de uma relação baseada nos princípios democráticos entre alunos e Tutores à Distância nos cursos de Graduação a Distância. Busca-se analisar a percepção dos alunos a cerca da organização dos conteúdos e atividades que são repassados para eles, quais as dificuldades por eles encontradas nesta relação que se estabelece com um profissional que eles não conhecem e quais as vantagens que eles percebem nesta modalidade de ensino.

INTRODUÇÃO O surgimento de novas tecnologias provocou mudanças em nosso ensino abrindo espaço par a Educação a Distância (EaD), surge então o que podemos chamar de um novo paradigma, onde juntamente a ele surgiu à possibilidade de estudar independentemente do lugar que estejamos, podemos interagir e aprender através de uma tecnologia que nos aproxima, mesmo estando distantes. Hoje em nossa sociedade capitalista este avanço tecnológico aumenta a exigência por profissionais qualificados e aqueles que já ocupam um cargo, também buscam o seu aperfeiçoamento para que possam se manter nos cargos que ocupam e neste contexto surgiu a EaD como uma possibilidade para quem não dispõe de muito tempo ou para quem reside longe de grandes centros. A EaD permite atingir um grande número de pessoas, em um curto espaço de tempo e com uma redução de custos em relação ao ensino presencial, sendo esta também uma das 1

Mestranda do PPGE/UFPEL – Linha Filosofia e História da Educação – [email protected] Filiação institucional e endereço eletrônico: alinhado à esquerda 3 Filiação institucional e endereço eletrônico: alinhado à esquerda 2

vantagens desta modalidade. A Educação à Distância modernizou a educação e a formação dos indivíduos, porém surge a dúvida sobre a qualidade do processo de interação na construção do conhecimento. Muitas pesquisas são realizadas sobre a implantação e manutenção dos processos de Educação à Distância, entretanto pouco se discute como os alunos EaD percebem este processo, onde algumas perguntas precisam ser respondidas a partir da visão dos alunos que estão vivenciando este processo: Como percebem a relação que se estabelece com o Tutor a Distância? E como eles percebem esta modalidade de educação como um processo democrático? A partir destes questionamentos, este trabalho tem como objetivo estudar e analisar a partir de entrevistas a visão que os alunos EaD têm do próprio processo de formação, buscando sempre ressaltar a importância da democracia na formação dos sujeitos independentemente da modalidade de educação. 1. A Educação a Distância A educação a distância surgiu com o avanço tecnológico e a facilidade de comunicação entre as pessoas mesmo estando em lugares muito distantes. A EaD tem evoluído constantemente e apresenta características e necessidades próprias. O método de educação a distância difere do método tradicional em alguns aspectos e entre estes está a relação professor aluno e também as formas democráticas de participação dos alunos nas elaborações de propostas de atividades e andamento dos cursos. O processo de ensino-aprendizagem muda, pois eles estão em um ambiente onde somente tem contatos à distância. Com a facilidade de acessar o ambiente a todo instante e poder estudar em diferentes horários, difere muito do método tradicional, onde os professores e alunos, frequentam o mesmo espaço e no mesmo horário. O que para alguns é um problema o fato de não encontrar o professor pessoalmente em uma aula com dia e hora determinado, para outros é solução, pois não dispõem de tempo suficiente para assistir aulas diariamente. No Brasil, a educação a distância teve inicio no século XIX, baseada no momento do surgimento principalmente através de correspondências. A forma como eram distribuídas pelos correios este processo acabou por não receber o incentivo que precisa para ser consolidada como uma nova modalidade de educação. Na atualidade podemos considerar que a situação da educação a distância evoluiu muito e esta evolução que percebemos se dá devido ao avanço tecnológico que facilitam a existência e a manutenção desta modalidade de

educação. A educação a Distancia recebeu notável impulso a partir da aplicação de novas tecnologias, notadamente aquelas que envolvem a Internet. A intensa evolução das redes interconectadas de computadores Vem ampliando o público desta modalidade de ensino ao mesmo tempo em que confronta aqueles que trabalham em educação com novos desafios dentro de uma nova realidade. Os resultados têm sido mais eficientes, a EaD atende um público maior, o acesso a ela é mais rápido, a interação entre alunos e professores ocorre de forma mais estruturada, porém a Educação à Distância ainda sofre restrições políticas e também da população, quanto à utilização como método educacional. Neste processo podemos afirmar que um dos motivos para este descrédito na EaD se dá pela forma como novas universidades são credenciadas para esta modalidade de educação, percebe-se que muitas delas oferecem diplomas de forma simples e sem comprometimento com a qualidade, causando uma desconfiança por parte da sociedade. Sabemos deste entrave, mas não podemos deixar parar o processo de desenvolvimento da Educação a Distância no Brasil.

2. Educação a Distância: O aluno neste processo

Como se pode notar EaD tem muito a acrescentar, mas não podemos nos esquecer de que ela também requer muita disciplina por parte do aluno, para não perder o tempo e a hora, pois a interação da sala de aula Virtual e bem diferente da aula tradicional, para sintetizar as diferenças entre elas apresentou o quadro a baixo (Paiva, 1999; p.366) onde ele faz uma comparação entre a interação na sala de aula tradicional e a Virtual . INTERAÇÃO EM SALA DE AULA

INTERAÇÃO POR MEIO ELETRONICO Face a face A distancia Professor pode privilegiar o aluno Professor pode privilegiar o aluno mas não de forma ostensiva. A locação rígida de turnos Fala quem quer . Alguns alunos entram em turnos de Todos tem as mesmas oportunidades para outros enviar mensagens . Interação centrada no professor Interação centrada no aluno. O professor inicia o turno O aluno também inicia o turno O professor é autoridade O professor é um participante Ameaças mais face , mais intimidador Menos ameaçador, menos inibidor Relacionamento impessoal Construção de uma certa camaradagem Difícil o dialogo entre aluno e professor Possibilita o dialogo entre eles Restrito a cultura local Possibilita uma interação intercultural

Alguns textos são artificiais Audiência fictícia Ritmo coordenado pelo professor Interação com hora marcada Monitoramento simultâneo Aluno ausente não participa Interação restrita a sala de aula Interação artificial Reprime o desejo de se comunicar Exige pouca supervisão Numero de participantes limitado Acesso ao professor pode ser difícil Intruso só participa com autorização Aumento do foco na forma

Textos autênticos Audiência real Cada um sua seu ritmo. Interação sem hora. Oportunidade de rever a mensagem antes de mandar O aluno ausente pode participar Interação com o mundo Interação natural Estimula o desejo de se comunicar Exige muita supervisão no inicio Aumento de participantes nem sempre controlável . Acesso ao professor antes e depois da aula Vulnerável a intrusos Aumento do foco no significado

Como se pode ver a interação via correio eletrônico, ambiente virtual ou email apresenta uma serie de características positivas que ampliam as possibilidades de participação do aprendiz. Dentre essas características chamo a atenção para o fato de a interação eletrônica ser menos inibidora, já o aumento de foco no significado pode ser visto como positivo por um lado, pois aumenta a participação do aluno em contexto real, mas é também visto como ponto negativo pela recorrente negligencia com a forma, pois nem todos os alunos percebem a necessidade de organizarem o seu espaço e horário de estudo, sendo que muitas vezes perdem as discussões feitas na modalidade distância, e em várias situações, por não conseguirem organizar o tempo das atividades, acabam desistindo dos cursos.

3. Educação e Democracia

A democracia está assentada na liberdade de escolha, no livre-arbítrio individual, para Dewey,(…)a democracia é mais do que uma forma do governo, é uma forma de vida associada, de experiência conjunta e mutuamente comunicada” (DEWEY, 1959). Pensar em uma sociedade democrática, que contempla uma educação de fato democrática exige imediatamente ações que sejam democráticas. Desse modo, não teremos como estudar democracia para depois implantá-las em nosso sistema de ensino, seja ele presencial ou à distância, o fato é que precisamos viver a democracia diariamente, acreditar nas práticas democráticas simples do nosso cotidiano.

Pensar a Democracia vai além de pensar um sistema de governo, pensar e agir democraticamente exige que consigamos pensar e ver o outro como alguém capar de agir e interagir e construir sua vida de forma individual e coletiva. Nesta perspectiva ressaltamos o pensamento de Dewey que foi expresso no livro Democracia Cooperativa (2008) que diz,

A democracia, para ele, não se refere - nem apenas, nem principalmente - ao funcionamento das instituições políticas, “mas é um modo de vida” baseado em uma aposta “nas possibilidades da natureza humana”, no “homem comum”, como ele diz, “nas atitudes que os seres humanos revelam em suas mutuas relações, em todos os acontecimentos da vida cotidiana”. Segundo Dewey, a democracia é uma aposta generosa na capacidade de todas as pessoas para dirigir sua própria vida. (FRANCO e POGREBINSCHI, 2008, p.15 e16).

A educação oferece um espaço onde podem ocorrer práticas democráticas efetivas e, na opinião de Amaral (1990), a educação deve propiciar um ambiente favorável no sentido de permitir a atualização da natureza de cada indivíduo, restando-lhe a tarefa de reorganizar e de reconhecer a experiência democrática de vida. A educação possui necessidade de reconstruir, reorganizar ou reviver a experiência democrática. Na educação a distância também se espera estas práticas democráticas, de decisão, de interação, de opinião e principalmente que estes alunos mesmo a distância possam participar dos processos decisórios sobre seu processo de formação, porém estas questões são muito complexas e a democracia está assentada na liberdade de horários para estudar, a abertura de expor ideias em fóruns de discussão, porém no que tange as questões de organização de disciplinas e avaliação este processo democrático não é contemplado.

4. Democracia e Educação à distância: A percepção dos alunos

A educação nas suas diferentes formas de organização ou modalidade precisa ter em vista a igualdade de oportunidades para que possa ser chamada de democrática, pois, caso contrário, passa a ser uma educação de privilégios de poucos, deixando assim de ser democrática. Esta educação chamada democrática é pensada de forma a valorizar o sujeito, bem como sua experiência de vida. A educação, para Dewey, é um processo de vida onde se faz uma experiência, e, ao mesmo tempo, um processo social onde representa não a vida futura, mas a presente real. Portanto, a educação, “é um processo de reconstrução e reorganização de experiências, pelo qual lhe percebemos mais agudamente o sentido e com

isso nos habilitamos a melhor dirigir o curso de nossas experiências futuras” (DEWEY, 1959). Em análise das entrevistas feitas com alunos de graduações à Distância de duas Universidades, uma pública e uma privada, sendo que na oportunidade participaram alunos de três Licenciaturas diferentes, percebemos que a maioria não tem clareza se o processo de educação a distância é Democrático ou não, pois julgam democrático pela oportunidade de interação com alunos de diferentes lugares e também porque escolhem o horário de estudo e elaboração de trabalhos, porém também demonstram desconforto quanto à forma de elaboração de atividades de trabalhos avaliativos, pois não existe um espaço de discussão e possível reorganização dos mesmos. Uma das questões levantadas ma pesquisa foi: Como percebes a relação que se estabelece entre aluno e Tutor a Distância? Nesta questão as respostas variaram muito, pois alguns percebem esta relação como algo que se estabelece de forma normal e prática, mas para muitos esta relação não ocorre como deveria e eles atribuem isso ao fato de não estarem presente no ambiente de aprendizagem ao mesmo tempo e sobre isso colocam: “A gente tem dúvida, pergunta e a resposta demora, nessa hora sinto falta do professor na sala de aula”, este é um dos reflexos da flexibilidade de o horário, pois isso também é algo que favorece a vida do profissional que atua nesta modalidade de ensino. Sobre este mesmo aspecto outro entrevistado salienta: “Eu sinto falta de conversar com o professor, às vezes por mensagens, pois não nos encontramos no ambiente de aprendizagem, a gente não consegue perguntar direito e a resposta também não vem clara”. Em análise das respostas sobre este questionamento evidencia-se a necessidade de um novo olhar sobre os profissionais que atuam nesta modalidade de ensino e as formas de contato que estabelecem com os alunos, pois eles sentem a necessidade de um professor próximo, alguém que esteja mais disponível e que possa dar uma resposta mais imediata. Mas por neste aspecto também interfere o fato da remuneração deste profissional não ser o suficiente para ele dedicar-se exclusivamente a esta atividade. O outro questionamento feito aos entrevistados foi Compreendes o processo da Educação à Distância como um processo democrático? Por quê? A resposta mais mencionada pelos entrevistados foi o fato de não haver a possibilidades de rever propostas de tarefas, sendo que uma das alunas coloca “Somos pouco consultados. As coisas estão ali e pronto. Minha sorte é entender que o que está ali.”, ou seja, o aluno passa a trabalhar mais

isoladamente, buscando uma compreensão sem a interação. Outro sujeito entrevistado ainda menciona: “Não existe democracia, nos é passado um cronograma de disciplinas, com atividades, dias e horários que devem ser cumprido e só, para nós sobra somente fazer o que foi pedido ou roda”, neste caso também fica evidente que eles compreendem o processo longe de ser um processo democrático. A Educação a Distância apresenta uma proposta democrática, os alunos não sentem esta democracia de fato efetivada, porém há um processo que está sendo construído e que pode ser mudado de forma que passe de fato a ser um processo aberto, justo e democrático.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Educação a distância evoluiu muito no Brasil é considerada uma grande oportunidade para muitos indivíduos que sempre sonharam em concluir estudos. Desde a regulamentação dos cursos superiores a distância - através do Decreto Federal nº 5.622/2005 que regulamenta o artigo 80 da Lei 9.394/1996, percebemos que a qualidade desses cursos melhorou muito. Critérios de qualidade do ensino, como a infra-estrutura da entidade, a qualificação dos docentes entre outros, foram revistos pelo Ministério da Educação (MEC), com o intuito de dar maior credibilidade a essa modalidade de educação. No que tange a Democracia e de acordo com a percepção dos alunos de EaD, podemos concluir que a EaD está em processo de construção e que precisa repensar sua forma de organização para que possa tornar este espaço mesmo que a distância num processo aberto, pois a educação não é algo imutável, está em constante movimento e por isso pode mudar e se aperfeiçoar de acordo com a necessidade e a realidade. De acordo com as ideias de Dewey, uma sociedade de fato democrática “repudia o princípio da autoridade externa e deve dar-lhe, como substituto, a aceitação e o interesse voluntários, e unicamente a educação pode criá-los (…) uma democracia é mais do que uma forma do governo, é primacialmente, uma forma de vida associada, de experiência conjunta e mutuamente comunicada” (DEWEY, 1959, p.93). Deste modo, a democracia é um modo de vida em que todas as pessoas possuem o direito de participar da formação dos valores para a vida dos homens que vivem em sociedade. Pensando por este viés na democracia, as aspirações dos indivíduos não podem ser inibidas, mas sim, estimuladas, para que se alcancem os objetivos desejados.

Referências:

AMARAL, Maria de C. P. Dewey: Filosofia e Experiência Democrática. São Paulo: Perspectiva: Editora da Universidade de São Paulo, 1990. DEWEY, John. Democracia e Educação. 3 ed. S. Paulo: Nacional, 1959.

FRANCO, Augusto de e POGREBINSCHI Thamy. Democracia Cooperativa: escritos Políticos Escolhidos de john Dewey, Porto Alegre, Editora Edipucrs, 2008. PAIVA, Vanilda. Qualidade, competências e empregabilidade no mundo pós-industrial. Artigo apresentado em simpósio.

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