Educação Ambiental no Córrego do Lazzarini - Microbacia do Monjolinho - São Carlos -SP

August 19, 2017 | Autor: Alan Cunha | Categoria: Educação Ambiental, Bacia Hidrográfica, Estudos Experimentais e Artísticos
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Descrição do Produto

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

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ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS DEPARTAMENTO DE HIDRÁULICA E SANEAMENTO CENTRO DE RECURSOS HÍDRICOS E ECOLOGIA APLICADA

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Curso de Especialização em Educação Ambiental: A Bacia Hidrográfica como Método de Abordagem e Ensino

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CÓRREGO DO LAzzARlNI - BACIA DO MONJOLINHO

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(SÃO CARLOS - SP) -

UMA EXPERIÊNCIA INTERDISCIPLINAR COM ALUNOS DE 6 A E

7A SÉRIES DA EEPSG PRoFº. JOSÉ JULIANO NETO

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Autores:

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Alan Cavalcanti da Cunha

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Helenilza F. Albuquerque Cunha



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João Mendonça Filho Jorge Miguel Nucci

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São Carlos 1997

DEDICATÓRIA

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A todos que lutam para preservar o ambiente em que vivemos, sem o qual não haveria solos férteis, água limpa e alimento para as gerações presentes e futuras.

AGRADECIMENTOS

Aos alunos da EEPSG Prof! José Juliano Neto que colaboraram e participaram diretamente deste traba1ho: Anderson Camargo, Arthur Lopes, Carolina de A. Alves, Carolina M. Silvério, Cassia Elisa de S. Ferreira, Flávia Ferreira, Gustavo Matthiesen, João Marcos de Oliveira, Keila Magon, Laerte Darezzo R. Nunes, Rafael M. Nunes, Renata Paschoalino. Ao Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada (CRHEA-USP) pelo apoio durante toda a execução e elaboração deste traba1ho, e em especial ao Carlos Eduardo Matheus e América J. Moraes, pelas constantes orientações e contribuições na forma de animadas explicações sobre ecologia e qualidade da água. Ao Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC-USP), ao Químico Luis, responsável pelo laboratório de Química do CDCC, por ter gentilmente concedido o espaço do laboratório, para execução das experiências com os alunos.

À Silvia Lopes Cereda (Técnica do Laboratório de Química - CDCC), pela paciência, colaboração e enorme ajuda na calibração e manutenção dos apare1hos e equipamentos, os quais sempre se encontravam prontos para uso. À Maria Susana P. Francisco por ceder gentilmente o multímetro para a símulação da medida de condutividade. À Diretoria, Coordenação da EEPSG Prof' José Juliano Neto e todos que participaram direta e indiretamente deste traba1ho. Aos moradores que concederam as visitas em propriedades particulares e também aos moradores que contribuíram com seus depoimentos sobre o Córrego do Lazzarini.

À Prof. Dra. Elisabete Gabriela Castellano pela gentileza de avaliar os níveis de representação simbólicas das poesias dos alunos. À Cybelli Wanderley pelos comentários sobre as poesias dos alunos. À Família Lazzarini, em especial a senhora Lúcia A. Lazzarini e Luis Carlos Lazzarini pelos depoimentos históricos, fotos e documentos que envolveram uma completa descrição do Córrego.

Ao senhor Luis Andrielli e Heloisa Andrielli pelas informações e contatos para localizar a família Lazzarini. À Professora de Português Roselene Coito (EEPSG poesias dos alunos.

J. Neto), pela análise das

Á Angela C. P. Gianpedro e Thaís F. Mendonça pela tradução do abstract. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo suporte financeiro. À todos que contribuíram de alguma forma para que este traba1ho fosse realizado.

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ............................................ o•• o.••••....... o.. ooo•••.•...... o..... ..

LIST A DE TABELAS ........................... oo.......................................................

11

RESl.JMO .......................................................................................................

lU

ABSTRA.CT... ....... .... .... .... .......................... ... ... .... ........................ .. .......... .... ...

IV

I - INTRODUÇÃO ....................................................................................... o.

01

- Preâmbulo .....................................................................................................

01

- Aspectos Gerais do Estudo............................................................................

02

11 - OBJETIVOS .............................................................................................

05

111 - REVISÃO DA LITERATURA ................................................................

06

- Sociedade e Meio Ambiente ..........................................................................

06

- A Educação Ambiental ..................................................................................

11

- Interdisciplinaridade na Educação Ambiental .................................................

15

- Algumas Disciplinas para Desenvolver a Educação Ambiental .......................

17

- A Arte como Processo Criativo .....................................................................

18

- Algumas Técnicas e Metodologias da Educação Ambiental .................... :......

19

. - Trabalho de Campo .......................................... o. o................................. o.. o.... .

20

- As Excursões como Recurso Pedagógico da Educação Ambiental ........ o.... o...

21

- A Bacia Hidrográfica como Método de Abordagem e Ensino da Educação

Ambiental ........................................................................................................

23

- A Qualidade da Água .............................................................................. o.....

26

- A História e a Ecologia do Entorno ...............................................................

29

IV - METODOLOGIA .............. o. o.......................................... o........................

31

- Aspectos gerais.............................................................................................

31

- Definição da Área de Estudo .........................................................................

32

- Período de desenvolvimento das Atividades ................................................... 35

- Descrição de Materiais, Métodos e Procedimentos de Execução das

Atividades .......................................................................................................

41

1: Kit da Qualidade da Água ............................................................................

41

2: Características Ambientais relevantes ...........................................................

46

3: Atividades Artísticas e Culturais..................................................................

47

4: Histórico da Região .....................................................................................

47

5: Medida de Vazão, Declividade e Erosão do Solo .........................................

48

6: Aspectos Biológicos....................................................................................

50

V - RESULTADOS E DISCUSSÕES .............................................................

51

- Aspectos Gerais e Definição da Área de Estudo ............................................

52

- A Qualidade da Água como Instrumento de Análise dos Impactos que

ocorrem na Bacia. .............................................................. ..............................

54

- Aspectos Biológicos ......................................................................................

61

- Artes: Música e Poesia ..................................................................................

67

- Interpretação das Poesias ..............................................................................

69

- Clima de São Carlos......................................................................................

73

- Medição de Velocidade, Declividade e Vazão no Córrego do Lazzaríni .........

74

- A Transferência de Conhecimentos Adquiridos para outras Turmas da Escola

77

- A Sociedade local toma Conhecimento da Problemática Ambiental além do

Muros da Escola..............................................................................................

78

- "Memória Viva" - um reencontro com as outras gerações ...................... :......

78

- A História do Córrego do Lazzaríni - Origem do Nome e Curiosidades .........

82

VI - CONCLUSÃO.........................................................................................

87

VII - REFERÊNCIAS BffiLIOGRÁFICAS ....................................................

94

ANEXOS

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Visão Geral da Micro-bacia onde está localizado o Córrego do

Lazzarini .....................................................................................

04

FIGURA 2 - Mapa da Bacia do Lazzarini e seções de coleta das amostras de

água ............................................................................................

33

FIGURA 3 - Localização aproximada da EEPSG Prof' José Juliano Neto com

relação ao Córrego do Lazzarini e residências dos alunos ............

35

FIGURA 4 - Atividade de campo desenvolvida pelos alunos ............................

36

FIGURA 5 - Atividade em sala de aula. Discussão sobre arte, poesia e textos..

36

FIGURA 6 - Atividade em sala de aula - fundamentação e discussão de

conceitos .....................................................................................

40

FIGURA 7 - Demonstração da Utilização do Teodolito ...................................

40

FIGURA 8 - Seção I - Afluente do Córrego do Lazzarini ................................

42

FIGURA 9 - Seção 11 - Córrego do Lazzarini ..................................................

42

FIGURA 10 - Seção 1I1 - Deságue do Córrego do Lazzarini no Córrego do

Gregório...................................................................................... 43

FIGURA 11 - Atividade de Laboratório - utilização do /dt ....................... :.......

45

FIGURA 12 - Atividade de Campo - Medida de Vazão e Velocidade do

Córrego .......................................................................................

48

FIGURA 13 - Atividade de Campo - Medida de Declividade do Solo (num

trecho de 10m) ...........................................................................

49

FIGURA 14 - Atividade de Laboratório - Microscopia ....................................

50

FIGURA 15 - Variação Espacial-temporal de OD nas respectivas seções de

coleta ........................... ;..............................................................

55

FIGURA 16 - Variação Espacial-temporal da Condutividade nas respectivas

seções de coleta.......................................................... ..................

56

FIGURA 17 - Variação Espacial-temporal de pH nas respectivas seções de

coleta ..........................................................................................

57

FIGURA 18 - Variação Espacial-temporal da Temperatura do Ar nas

respectivas seções de coleta.........................................................

59

FIGURA 19 - Variação Espacial-temporal da Temperatura da Amostra nas

respectivas seções de coleta.........................................................

59

FIGURA 20 - Algas Identificadas no Primeiro Ponto de Coleta .......................

62

FIGURA 21a - Typha ......................................................................................

63

FIGURA21b -Lemma ....................................................................................

63

FIGlJRA 21c - Bambusa .................................................................................

64

FIGURA 21d - Arecastrum .............................................................................

65

FIGURA 21e - Tillandsia ................................................................................

65

FIGURA 21f - Cyathea ...................................................................................

65

FIGlJRA 21g - Pistia ....................................................................................

65

FIGURA 21h - Eichhomia ..............................................................................

66

FIGURA 21i - Hedychium ........................................... ...................................

66

FIGURA 22 - Alunos da EEPSG Pror' José Juliano Neto na apresentação do

trabalho .......................................................................................

77

FIGURA 23 - Figura ilustrativa que mostra o ambiente rural (dentro de urna

área essencialmente urbana) .........................................................

80

FIGURA 24 - Entrevista com D. Lúcia Lazzarini .............................................

83

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - O Crescimento do Consumo de Água ao Longo dos Séculos e

Consumo Industrial .....................................................................

09

TABELA 2 - Atividades de Educação Ambiental que podem ser desenvolvidas

nas dlsclphnas. .............................................................................

17

TABELA 3 - Técnicas Metodológicas para a aplicação da Educação

Ambiental ....................................................................................

20

TABELA 4 - Técnicas Pedagógicas para a aplicação da Educação Ambiental..

21

TABELA 5 - Atividades em Ordem cronológica realizadas neste Trabalho em

1997. ...........................................................................................

37

TABELA 6 - Materiais e Métodos para as Atividades de Campo e Laboratório

44

TABELA 7 - Resultado da Medida de Vazão do Córrego Lazzarini ................. 75

TABELA 8 - Índice da Qualidade da Água do Córrego do Lazzarini ...............

90

RESUMO

Este trabalho foi realizado com alguns alunos de óa e 7 séries da EEPSG Prof'!!. José Juliano Neto, localizada em área urbana próxima do Córrego do Lazzarini (Bacia do Monjolinho - objeto principal de estudo). O trabalho teve como principal objetivo des~rtar a sensibilidade dos adolestentes para alguns problemas ambientais atuais na Cidade de São Carlos - SP. Desta forma, buscou-se avaliar e estudar, mediante temas interdisciplinares, a dinâmica das atividades antrópicas no referido Córrego. A metodologia utilizada para trabalhar a Educação Ambiental (EA) deu-se por intermédio do estudo e compreensão de diversos aspectos da Bacia Hidrográf"lCa (BH), sobre a qual as alterações e transformações do meio são retletidas. Desta form~ a BH serviu como a ferramenta metodológica principal para a obtenção de conceitos e informaç«ies sobre o ambiente estudado. Os temas abordados com os alunos foram: Estudo Gerais sobre a BH, aspectos qualitativos e quantitativos da água, planejamento ambiental, atividades econômicas, poluição, degradação, sustentabilidade, cidadani~ etc. Os resultados obtidos das coletas de amostras de água foram utilizados nas avaliaç«ies e discussões sobre a qualidade do ambiente. Porém, as discussões feitas em sala de aul~ antes da cole~ e no campo, durante a col~ complementaram o entendimento sobre o que estava ocorrendo na bacia. Em consequência disso, os alunos identificaram e avaliaram alteraç«ies e possíveis impactos ambientais decorrentes do processo de crescimento urbano e a forma de utilização da bacia hidrográfica, bem como as interações entre ambos, através de análises criticas bem fundamentadas nas suas próprias experiências. Além disso, outras abordagens foram feitas sobre a história do entorno, atividades artísticas com os alunos, como interpretaç«ies de músicas, elaboração e composição de poesias e desenhos, sobre temas referentes ao meio ambiente, as quais foram utilizadas como indicadores de assimilação dos temas discutidos. Observou-se que os objetivos planejados foram além do esperado, principalmente no que se referiu ao grau de entendimento dos alunos sobre temas como os relacionados à ecologia e problemas atuais. Além disso, os temas das poesias foram confrontados, nesta mesma linha de discussão, com aqueles citados nas excursões ou nos debates em sala. . 8

ABSTRACT

This study was carried out with some students of the 6th and 7th grades at EEPSG José Juliano Neto, which is located in an urban area near Lazzarini stream (Monjolinho's basin­ principal study object). The principal objective of this study was to can the students's attention to current environmental problems in São Carlos - SP. Thus, the impact of human activities on the stream was evaluated and studied through interdisciplininary tbemes. The methodology used to study the environmental education was the study and understanding of many aspects of basin, where the changes are very important. The topics discussed with the student were: general studies about the hydrographic basin, qualitative and quantitative aspects of the water, environmental planning, economic activities, ponution, degradation, maintenance among others. The results obtained from the water samples were used to evaluate and discuss environmental quality. However, the discussions hold in the classroom and in the Iaboratory before the collection in the countryside complemented the understanding of the occurred in the basin. Besides, other approaches about the pIace hystory and artistic activities witb students, 80ch as mUDc interpratation, poem writing, and drawing pictures about themes related to the environment were used to indicate the assimilation of the themes discussed. The expected objectives were reached, especially the ones conceming the students's understanding leveI about ecology and corrent matters. Beyond the themes of the poems were compared to the ones cited in the tours or classroom discussion.

I - INTRODUÇÃO /"

Meu RIo ,-.

Guardei o seu segredo no leito do meu rio que segue adiantado em seu caminho, acrescido de tifluentes raros, arroios de amor, nascentes de amizade, chuvas de carinho.

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E o seu segredo vai correndo integrado em minhas águas sem retorno.

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Cantarolando ou soluçando em pedras machucado,

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o rio flUI enriquecido. purificado, jamais poluído. Eomar, que já contém tantos mistérios. rugirá mais forte ao receber o seu primeiro impacto e depois se tornará maior, mais verde, mais azul, mais tranqüilo, sereno e compreensivo, CybelJi Wanderley

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Preâmbulo ,-. r-

A Educação Ambiental (EA) atualmente tem se preocupado muito com a capacitação e elaboração de novas metodologias que possam contribuir para sua efetiva implementação nas escolas. Entretanto, o paradigma da interdisciplinaridade tem permanecido como um fator desafiante na prática da EA, gerando um desatrelamento entre esta e a teoria; além disso há uma enorme falta de recursos financeiros para as organizações governamentais desenvolverem projetos de qualificação profissional (BRASÍLIA, 1997). Este trabalho, preocupou-se com a aplicação de metodologias existentes e implementação ou adequação de novas metodologias, que pusessem em prática a interdisciplinaridade e considerassem as diferentes áreas de formação dos componentes do grupo. Isso porque, na prática, as tentativas de execução de atividades com esta conotação são ainda, aparentemente, incipientes e isoladas. Como foi dito em BRASÍLIA (1997), é preciso criar novas propostas e dar um caráter de possível ao que aparentemente possa ser considerado utópico. Essa foi a nossa meta.

2

Aspectos Gerais do Estudo

o

problema ambiental vivenciado hoje nos centros rurais e urbanos são

geralmente decorrentes de um crescimento populacional desordenado e da demanda excessiva por recursos naturais. Os cidadãos dos grandes centros urbanos, por estarem mais distante do 'ambiente natural (área rural)', normalmente são alienados das alterações ambientais locais. Há necessidade de mudança dessas atitudes quanto a essas questões, principalmente no que se refere ao enfrentamento de problemas de degradação, poluição e contaminação do ambiente, mesmo quando estes não são facilmente percebidos pelos cidadãos. Assim, na busca da construção de um mundo melhor, que compatibilize harmoniosamente as necessidades e as aspirações humanas com um meio ambiente sadio, a EA surge como ferramenta imprescindível, contribuindo eficazmente para a integração homem-natureza. A EA visa também o equilíbrio dinâmico necessário para um desenvolvimento sustentável (desenvolver sem degradar o meio ambiente) a fim de que, a partir da sensibilização dos cidadãos com relação a realidade local e global, tomem-se mais ativos nas resoluções dos problemas ecológicos e sociais que possam comprometer sua própria qualidade de vida. Um dos principais problemas enfrentados pelas

sociedades

atuais,

principalmente nos centros urbanos, é a questão da qualidade da água, que por sua vez é um dos mais importantes recursos naturais da humanidade. Ao éontrário do que geralmente se pensa ela é um bem natural limitado, visto que é necessária para manutenção da vida em todo o planeta. Entretanto, o que se tem observado é justamente a falta de cuidado quanto ao uso deste recurso. As consequências deste uso inadequado é um dos temas principais deste trabalho, onde se buscou fazer uma discussão, através da análise da qualidade da água, do seu uso e dos possíveis impactos que podem ocorrer na bacia. Portanto, as informações mediante vários pontos de vista interdisciplinares sobre os corpos de água foram de fundamental importância para o processo de conscientização e sensibilização perantes esses problemas no aprendizado dos alunos.

3

Para tanto este trabalho foi desenvolvido primeiramente para avaliar e estudar os processos ecológicos e sociais resultantes de atividades antrópicas no Córrego do Lazzarini, localizado em área urbana da cidade. O Córrego drena uma área próxima a uma horta (aspecto rural), onde estão localizadas as denominadas seção-l e seção-2; e uma outra denominada de seção-3, localizada em área predominantemente urbana .. Através de coletas de amostras de água do Córrego, buscou-se analisar alguns parâmetros relevantes de qualidade da água facilmente mensuráveis, a saber: pH, oxigênio dissolvido (OD), condutividade e temperatura, onde um Kit especial foi utilizado para medí-Ios. Em consequência disso, os próprios alunos puderam identificar e avaliar criticamente as alterações e possíveis impactos ambientais decorrentes de processos de uso e ocupação da bacia hidrográfica (BH), em decorrência tanto de fatores históricos quanto decorrentes do crescimento urbano. Através das excursões foram feitas as coletas periódicas nas referidas seções, descritas com detalhes no capítulo IV, bem como obtidos os dados para as posteriores análises. Nesta etapa do trabalho forneceram-se as bases e subsídios de informações que puderam ser assimiladas e utilizadas pelos alunos a fim de minimizar algumas resistências a respeito de temas polêmicos sobre meio ambiente. 1 Uma outra caracteristica importante deste trabalho foi a tentativa de implementar novas atividades que normalmente não são postas em prática em trabalhos de EA. Como foi descrito no capítulo de metodologia, após a exaustiva atividade de campo e laboratório (/dt da qualidade da água) desenvolvida ao longo do primeiro semestre deste ano, partimos para o desenvolvimento de outras atividades no segundo semestre, como: a história do Córrego e do seu entorno, atividades culturais envolvendo os alunos na interpretação e discussão sobre Música Popular Brasileira (MPB), desenhos artísticos relacionadas com temas ambientais, e elaboração de poesias. Vimos também, nesta mesma fase do trabalho atividades como medidas de velocidade da corrente de água do Córrego, medida de declividade do terreno,

para

I Só a discussão sobre o tema já é wna tonna de pôr em palta temas relacionados com o meio ambiente. A discussão bem fundamentada quebra velhos tabus e incentiva o questionamento e ajuda na conscientização das pessoas; ajuda na tormação de melhores cidadãos.

4

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avaliar a susceptibilidade do terreno a erodir, bem como temas relacionados com auto depuração de corpos de água e medida de vazão. Este último parâmetro foi muito útil para se fazer análises e discussões sobre temas relacionados a disponibilidade de água. Através desta análise quantificou-se a capacidade de suporte do Córrego para abastecimento de água, naquele dado r

momento. Percebemos o entusiasmo dos alunos e até mesmo da equipe quanto ao

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resultado desta última atividade.

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Além disso, todas as atividades feitas no campo (ver a figura-I) ou laboratório, que continham na sua temática assuntos de elevada abstração, eram refeitas no laboratório da escola de forma mais simples. Isso ajudou os alunos a compreender e sedimentar melhor os conhecimento adquiridos. Diante de todas essas

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colocações os objetivos deste trabalho foram descritos a seguir.

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Figura-I : Visão Geral da Micro-bacia onde está localizado o Córrego do Lazzarini.

fi - OBJETIVOS

e Identificar e compreender os principais processos dinâmicos, inclusive os possíveis impactos que possivelmente ocorrem no Córrego e no seu entorno, para posterior estudo, análise e avaliação dos mesmos. Para isso utilizou-se no trabalho de campo e no de laboratório as medidas de alguns parâmetros específicos da qualidade da água com utilização de um kit especial para este fim.

e Trabalhar com os alunos por meio de temas interdisciplinares as questões ambientais, partindo de sua própria realidade, ou seja, utilizando o Córrego do Lazzarini, localizado próximo da escola e de suas residências, para despertar sua consciência para alguns problemas ambientais atuais na Cidade de São Carlos - SP.

e Quantificar a capacidade ou vazão

volumétrica do Córrego do Lazzarini,

com a finalidade de discutir e avaliar a disponibilidade do recurso

d~

água para

abastecimento e problemas relacionados.

e

Estudar os aspectos gerais das ciências biológica, fisica, química e de

outras a fim de buscar relacioná-las com os fenômenos intrínsecos que interagem entre sÍ, dentro da micro-bacia hidrográfica.

e Incentivar a arte como um componente indispensável na formação cultural dos cidadãos, buscando sensibilizar as pessoas para os problemas ambientais.

e Conhecer a geografia e a história do ambiente estudado.

m - REVISÃO DA LITERATURA

"De todos os males ambientais, a contaminação das águas é o que apresenta consequências mais devastadoras. A cada ano, JO milhões de mones são, diretamente, atribuídas a doenças intestinais transmitidas pela água. Um terço da humanidade vive em estado contínuo de doença ou debilidade como resultado da impureza das águas o outro terço está ameaçado pelo lançamento de substâncias químicas nas águas, cujos efoitos a longo prazo são desconhecidos. " Manual Global de Ecologia. (Águas Doces)

Sociedade e Meio Ambiente

o Homem, através dos grupos sociais, instituições, normas e valores forma uma sociedade. A cada grau de desenvolvimento e a cada tipo de sociedade, corresponde um determinado meio ambiente. Portanto, para definir meio ambiente, é imprescindível

conhecer

os

fatores

sócio-econômicos,

os

modelos

de

desenvolvimento, as estruturas de poder político, as ideologias, as diferenças de classes, as características geográficas e, finalmente, a disponibilidade de recursos naturais. Portanto, a visão crítica da história do Homem e das sociedades coletoras e pastoris, agrícolas, comerciais e industriais nos mostra a diversificação e intensificação crescente dos impactos ambientais (fisicos, sociais) que os grupos de dominação têm provocado através da apropriação dos recursos naturais e do trabalho de outros homens. A degradação ambiental tem sido aumentada em função do consumismo, da apropriação individualista, do lucro e da acumulação cada vez maior (CETESB, 1986).

Assim, o Homem tem tomado uma posição de proprietário dos recursos existentes sobre a Terra, julgando-os inesgotáveis, levando-o a uma atitude predatória. Aliados a esta atitude, o aumento populacional e o desenvolvimento da tecnologia,

proplclaram

uma

rápida

deterioração

do

meio

ambiente

e,

consequentemente, da qualidade de vida. Dentro deste quadro, faz-se necessário envidar esforços para a conscientização do Homem, com relação ao seu papel na

7

manutenção ou recuperação do equilíbrio ambiental

(SEM~

1977). Além disso,

como disse a CMSMA (1991), sobre o progresso humano: muitos esforços para manter o progresso, as necessidades e realizações humanas são praticamente insustentáveis - tanto nas nações ricas quanto nas pobres. Elas retiram demais, a um ritmo acelerado demais, de uma conta de recursos ambientais já a descoberto, e no futuro não poderão esperar outra coisa que não a insolvência dessa conta. Podem apresentar até lucros no balancete da geração atual, mas nossos filhos herdarão os prejuízos. Tomamos um capital ambiental emprestado às gerações futuras, sem qualquer intenção ou perspectiva de devolvê-lo. De acordo com SEMA (1977), uma das características mais marcantes do comportamento do homem é o poder de descobrir e inventar maneiras de alterar o ambiente em que vive. Com sua inteligência é capaz de subjugar o ambiente e de acelerar sua alteração com novos processos que descobre, ao contrário das demais espécies. Tudo isso ocorreu porque o Homem, para obter seu alimento, foi e é obrigado a modificar ecossistemas no sentido de garantir o máximo de produção à custa de poucas espécies vegetais ou animais, ou seja, interessam-lhe ecossistemas jovens, com pequeno número de espécies (mono culturas) e alta produção. Ele necessita do emprego de sofisticada tecnologia, que inclui mecanização, uso de fertilizantes para o aumento da produção. Essa característica dá ao ser humano amplas possibilidades de usar os recursos da terra. E como normalmente se viu ao longo da históriá universal, principalmente ao longo dos dois últimos séculos, o Homem não se preocupou muito com os limites ou capacidade de suporte desses recursos naturais. A água e as florestas são um desses recursos que se pensava inesgotáveis. Entretanto, a humanidade se enganou e hoje vive as consequências do seu mau uso. A poluição dos corpos de água por esgotos e as queimadas das florestas para produzir pastos são bons exemplos. O crescimento econômico, de acordo com SEMA (1977), trouxe consigo uma série de consequências que eram desconhecidas ou foram subestimadas quando as nações instituíram programas de desenvolvimento econômico, dotados de alta prioridade. Estes passaram a pressionar os ecossistemas naturais, resultando na simplificação dos mesmos e na redução da diversidade biótica. Tais consequências

8

são: o excessivo crescimento demográfico (provocado pela melhoria dos padrões de higiene e saúde associados à redução da taxa de mortalidade); o crescimento desordenado do parque industrial; o congestionamento urbano; o êxodo rural; a exploração indiscriminada de recursos naturais (renováveis e não renováveis) e a poluição ambientaL Portanto, com essas atitudes o Homem põe em risco sua própria sobrevivência. Para o equacionamento desses e de outros problemas decorrentes do processo de crescimento econômico, têm-se hoje como objetivo básico e central do desenvolvimento a utilização dos recursos para a satisfação das necessidades da população, assegurando um melhoramento da qualidade de vida das gerações atuais e futuras. Assim, o conceito de desenvolvimento se amplia e se faz mais realista. O crescimento é fundamento necessário para a qualidade de vida, definida de uma maneira concreta para cada um dos grupos sociais urbanos e rurais, ele é um objetivo da sociedade; e o manejo do meio ambiente é um instrumento para realizar uma gestão racional dos recursos, controlando ao mesmo tempo o impacto do homem sobre a natureza (SE~ 1977). Portanto, é necessário modificações na organização das atividades sociais, econômicas, políticas, educacionais, traduzidas em atitudes e formas de pensar da sociedade e nos valores referentes à relação Homem-Natureza. É neste contexto que a Educação apresenta-se como um dos instrumentos fundamentais para o alcance dessas modificações. É necessário desenvolver o potencial da Eduéação como instrumento de mudança, e é importante a formação de nova mentalidade em relação à natureza, para evitar tensões desnecessárias, minimizar os desequilíbrios e preservar a diversidade da natureza. Esse é o grande desafio da sociedade contemporânea (SE~ 1977). Podemos citar, parafraseando um trecho de um texto feito pela CMSMA (1991) que diz o seguinte: "... Se não conseguirmos transmitir nossa mensagem de urgência aos pais e administradores de hoje, arriscamo-nos a comprometer o direito fundamental de nossas crianças a um meio ambiente saudável, que promova a vida. Se não conserguirmos traduzir nossas palavras numa linguagem capaz de tocar os corações e as mentes de jovens e idosos, não seremos capazes de empreender as amplas mudanças sociais necessárias à correção do curso do desenvolvimento."

9

Uma das principais discussões feita pela CMSMA (1991) também foi sobre o nosso futuro ameaçado que se resume em tentar corrigir nossas falhas quanto ao tratamento da pobreza e do modo equivocado como geralmente buscamos a prosperidade. Os povos pobres são obrigados a usar excessivamente seus recursos ambientais a fim de sobreviverem, e o fato de empobrecerem seu meio ambiente os empobrecem mais, tomando sua sobrevivência ainda mais dificil e incerta. Assim, a economia e a ecologia nos envolvem em malhas cada vez mais apertadas. Muitas regiões no mundo inteiro correm o risco de danos irreversíveis ao meio ambiente humano que ameaçam a base do progresso humano.

Entretanto, há uma outra

perspectiva que, em geral, não é preciso esgotar os recursos renováveis, como florestas e peixes, desde que sejam usados dentro de limites de regeneração e crescimento natural. Essas questões esbarram, por exemplo, na disponibilidade do recurso de água no mundo inteiro. Como disse ARNT (1995): três quartos da superftcie do globo são oceanos. Vista de longe a Terra é pura água, mas não é água pura. Esta é cada vez mais rara, e 30% dos 5,5 bilhões de habitantes do planeta já sofrem com a escassez desse produto natural. Esse fato nos revela um quadro triste sobre os próximos anos, em que nossa conta de água não será mais tão barata. Na tabela-l abaixo pode-se dar uma idéia do quanto cada um gasta em litros por dia.

Tabela-I: O Crescimento do Consumo de Água ao Longo dos Séculos e Consumo Industrial. Fonte: ARNT (1995). Epoca

Homem 100 anos a.C Homem romano Homem do século XIX (cidades pequenas) Homem do século XIX (cidades grandes) Homem do século XX Ducha de 3 min Produzir uma tonelada de aço Produzir uma tonelada de papel Produzir uma tonelada de sabão Produzir uma tonelada de borracha Produzir um barril de cervej a

Consumo

12l/dia 20 l/dia 40 l/dia 60 l/dia 800 l/dia 50 l/dia 250.000 l/dia 1.000.000 l/dia 2.000 l/dia 2.750.000 l/dia 1.8000 l/dia

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ARNT (1995), concluiu dizendo que a civilização sempre dependeu da água. Agora é o inverso: a água é que dependerá do nosso grau de civilização. Dependerá, principalmente, do quanto estamos dispostos a pagar por ela. TEIXEIRA (1994), relata em seu artigo que o consumo de água no mundo cresce mais rapidamente que a população e mais de 1 bilhão de pessoas não têm acesso ao precioso líquido livre de impurezas. O referido autor lembra ainda que o dia 22 de março foi fixado pela ONU como o Dia Mundial da Água, em obediência às recomendações da Agenda 21 aprovadas na Eco-92, não possui muito para comemorar. Cita ainda Elizabeth Dowdeswell (pNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) que diz existir uma preocupação com relação à água, que é a seguinte: 1,3 bilhão de pessoas carecem de acesso à água limpa e 1,7 bilhão utilizam instalações que apresentam condições sanitárias inaceitáveis. Até a presente data da publicação do artigo, TEIXEIRA (1994), afirmou que, naquele dia, justamente na data da comemoração do Dia da Água, cerca de 25 mil pessoas estariam morrendo por causa do mau gerenciamento da água. Em contrapartida, TEIXEIRA (1994), disse ainda que a América do Sul é o continente mais rico do mundo em água corrente, mas, segundo um outro autor chamado ILUECA2 apud TEIXEIRA (1994), a deteriorização da qualidade da água cresce assustadoramente, dado o conceito errôneo de que ela é um recurso ilimitado e pouca preocupação em dotá-la de um adequado padrão de pureza. Por estas e outras razões os planejadores que se orientam pelo 'conceito de desenvolvimento sustentável terão de trabalhar para garantir que as economias em crescimento permaneçam firmemente lígadas a suas raizes ecológicas e que essas raizes sejam protegidas e nutridas para que possam dar apoio ao crescimento a longo prazo (CMSMA, 1991). Esse também deve ser um comprometimento da sociedade civil, para que pelo menos a longo prazo as tendências de degradação ao meio ambiente sejam minimizadas ou pelo menos sensivelmente diminuídas. Um exemplo disso é quando um sistema se aproxima de seus limites ecológicos e as desigualdades sociais se acentuam. Assim, de acordo com a CMSMA (1991), quando uma bacia fluvial se deteriora os agricultores pobres sofrem mais porque não podem adotar as mesmas medidas antierosão, por exemplo, que os

2

-

Jorge Ilueca - Representante do PNUMA (na América Latina. em 1994)

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agricultores ricos adotam. Desta forma os planejadores precisam valorizar mais o espírito de iniciativa das comunidades e o uso de tecnologias baratas, principalmente no Terceiro Mundo, onde as deficiências nas áreas de habitação, abastecimento de água, saneamento e serviços médicos são ainda muito inacessíveis. Segundo a CMSMA (1991), de modo geral, o desenvolvimento tende a simplificar os ecossistemas e a reduzir a diversidade das espécies que neles vivem. A extinção de espécies vegetais e animais pode limitar muito as opções das gerações futuras. Portanto, os também chamados bens livres, como o ar e a água, são também recursos que servem de matérias-primas (ver Tabela-I). Estas últimas e a energia usadas nos processos de produção só em parte se convertem em produtos úteis. O resto se transforma em rejeitos.

Para haver um desenvolvimento sustentável é

preciso minimizar os impactos adversos sobre a qualidade do ar, da água e de outros elementos naturais causadas pela produção indesej ada desses rejeitos, a fim de manter a integridade global do ecossistema. É necessário reeducar o homem para modificar o seu modo de atuação sobre os recursos da Terra. É preciso formar cidadãos mais consciente sobre esses temas. A Educação Ambiental, certamente, é uma ferramenta que pode ajudar em muito a mudar as velhas concepções de mundo, transformando a denominada utopia de um mundo melhor em uma realidade atual, pelo menos buscando uma melhor postura do homem perante os problemas sociais causados pela ação impensada deste sobre o meio ambiente.

A Educação Ambiental

Segundo GUIMARÃES (1995), a EA apresenta-se como uma dimensão do processo educativo voltada para a participação de seus atores, educandJ' educadores, na construção de um novo paradigma que contemple as aspirações populares de melhor qualidade de vida e um mundo ambientalmente sadio. Além disso, pela gravidade da situação ambiental em todo o mundo, no Brasil tomou-se imprescindível a implementação da EA para as novas gerações em idade de formação de valores e atitudes, como também para a população em geral, pela emergência da situação em que a humanidade se encontra. Como resultado desse

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processo, a fim de atender a essas necessidades urgentes, a Constituição Brasileira de 1988 elaborou um capítulo referente ao meio ambiente, com a inclusão da EA em todos os níveis de ensino. O autor concluiu, desta forma, que a EA tem um importante papel de fomentar a percepção da necessária integração do ser humano com o meio ambiente. De modo semelhante SEMA (1994), descreve que as propostas da EA3 , no Brasil surgem inicialmente vinculadas a órgãos de gerenciamente do meio ambiente e não aqueles ligados ao sistema educacional. Na década de 80, entretanto, motivada pela própria dinâmica social e a influência dos meios de comunicação, a Escola passou a incorporar a perspectiva de trabalho, em alguns casos de forma transformadora, e em outros substituindo práticas já existentes, como estudos naturais, trabalhos de campo e educação para a conservação. A EA, assim como a própria educação, ainda continua caminhando lentamente no processo de efetivar mudanças nas atitudes e comportamentos humanos em relação ao ambiente. A necessidade de se expandirem os objetivos da EA dentro de uma dimensão mais ampla foi devido à qualidade de vida no nosso planeta, que tem sido deteriorada rapidamente. A partir da Conferência de Estocolmo (1972) e Tbilisi (1977), a literatura tem enfatizado a importância da redefinição da EA, conduzindo os diversos profissionais, de diferentes áreas, a interagirem, centralizando as discussões da mesma dentro de uma perspectiva interdisciplinar. Segundo SATO (1994b), quando surgiram as primeiras preocupações com o meio ambiente nesta década, três importantes objetivos: educação para. através

~

sobre o meio ambiente foram introduzidos nos guias curriculares, particularmente na área de biologia e geografia. Os objetivos da EA definidos na Conferência de Tbilisi (1977), foram: promover a consciência e a preocupação com as interdependências econômicas, políticas, sociais e ecológicas, nas áreas urbanas e

rurais~

promover

oportunidades para cada cidadão adquirir o conhecimento, valores e atitudes além de

3 No Bmsil, as Constituições Federal (1988), e Estadual (1989), oficializaram essa incorporação, tornando obrigatória a promoção da EA nos diversos níveis de ensino. Paralelamente a isso, as propostas cuniculares para o primeiro e segundo graus da Secretaria de Estado de Educação, que começaram a ser implantadas no Estado a partir de 1988, apresentam o estudo do ambiente tendo como eixos principais, no caso de Ciências, Biologia e Geografia, ou como parte do conteúdo de outras disciplinas. (SEMA, 1994 - p.9).

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respeito e habilidades necessárias para defender e melhorar o ambiente; criar novos modelos de comportamento individuais, grupais e sociais a favor do ambiente. Na Eco-92 discutiu-se os compromissos consensuais em relação ao ambiente e ao desenvolvimento mais sustentável do mundo, para o século XXI.

Os

documentos objetivaram melhorar a qualidade de vida de todos as pessoas no planeta. A idéia de desenvolvimento sustentável não pode ser limitada pelos métodos tradicionais de somente tentar encontrar o equilíbrio entre tecnologia e ambiente natural.

Encontrar esse equilíbrio desejado deve ser o objetivo principal da

educação. A EA contribui significativamente para a melhoria geral da educação, devido a sua natureza de tentar implementar soluções efetivas em relação aos problemas ambientais e consequentemente, melhorar as condições de sobrevivência. O processo educacional pode despertar a prevenção ética e ambientalista dos seres humanos, modificando os valores e as atitudes, e propiciando a construção de habilidades e mecanismos necessários para o desenvolvimento sustentável. Para atingir esse objetivo, é necessário reformular a educação, não somente com informações dos ambientes fisicos ou biológicos, mas também sobre os ambientes sócio-econômicos e o desenvolvimento humano. Segundo GARCIA (1993), a EA não pode ser limitada a uma disciplina, à definição de alguns conteúdos, retirados dos antigos programas de ciências; ou a algumas atividades como fazer uma horta na escola sem utilizar agrotóxiéos ou ainda a alguns eventos como realizar uma excursão ecológica.

A EA deve ser uma

concepção totalizadora da educação, e que só é possível quando resulta de um projeto político-pedagógico orgânico, construído coletivamente na interação escola e comunidade, e articulado com os movimentos populares organizados comprometidos com a preservação da vida em seu sentido mais profundo. Não há EA sem participação política. Numa sociedade com pouca tradição democrática como a nossa, a EA deveria contribuir para o exercício da cidadania, no sentido da transformação social. Além de aprofundar conhecimentos sobre as questões ambientais, cria espaços participativos e desenvolve valores éticos que recuperem a humanidade dos homens (GARCIA, 1993).

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Segundo GONÇALVES (1991), na EA o professor e aluno devem atuar juntos.

Da participação e do desenvolvimento de ambos nas questões do meio

ambiente, da discussão, análise e crítica dos impactos ambientais é que surgirão decisões sobre problemas de valor e finalmente surgirão atitudes efetivas de defesa, preservação ou de desenvolvimento sustentado do meio ambiente. É nas séries mais adiantadas do 10 e 20 graus, que aflora o problema da responsabilidade. As situações de impacto que ocorrem na escola ou no trajeto do aluno à escola, a visita aos arredores, a tentativa para solucionar o problema do lixo na escola e nos arredores, a erosão, o desmatamento, a poluição sonora e aquática, o uso de agrotóxicos, as doenças, desnutrição, etc. São alguns temas para o exercício da crítica. O aluno deve sentir-se envolvido, e aos professores orientadores deve caber a adequação as reais possibilidades dos mesmos. De acordo com SEMA (1977) uma das funções da EA é integrar os sistemas educativos de que dispõe a sociedade; é um instrumento de tomada de consciência do fenômeno do desenvolvimento e suas implicações ambientais e de transmissão de conhecimentos, habilidades e experiências que permitam ao Homem atuar eficientemente no processo de manutenção ou recuperação do equilíbrio ambiental, de forma a manter a qualidade de vida condizente com suas necessidades e aspirações.

Tem como objetivo, criar uma interação mais harmônica, positiva e

permanente entre o homem e o meio criado por ele, de um lado, e o que ele não criou, do outro. O alcançar deste objetivo está diretamente ligado com o grau de compreensão e envolvimento de todos os membros da sociedade, através do desenvolvimento da percepção e do conhecimento do ambiente; desenvolvimento de valores e mentalidade crítica sobre problemática ambiental; desenvolvimento de habilidades e conhecimentos necessários à solução dos problemas ambientais; desenvolvimento de atitudes que leve à participação na preservação do equilíbrio ambiental. Portanto, o processo educativo e as decisões políticas são resultantes da participação e consulta popular, do conflito de interesses, das práticas sociais, que podem levar ao compromisso de todos os agentes sociais para com a conservação, gerenciamento e recuperação do ambiente. Assim, é necessário conhecer o meio onde a educação vai se desenvolver. Decobrindo quais são as características dos

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professores, dos alunos, da área fisica e social da escola, quais são seus problemas; quais são suas necessidades (CETESB, 1986). Partindo desta compreensão, poderemos trabalhar de modo mais participativo a Educação Ambiental.

Interdisciplinaridade na Educação Ambiental

A evolução da EA no Brasil se deu a partir da PNMA (Política Nacional do Meio Ambiente), Lei 6.938/81, a qual era limitada nos seus aspectos ecológicos e de conservação. A Constituição de 1970 reservou-se apenas aos aspectos ecológicos. Entretanto, foi na Constituição de 1988 (art. 225 § 1°, VI), que houve alguns avanços, foi quando a EA sofreu um período de reestruturação, redefinição, expansão e consolidação e o Conselho Federal de Educação indicou que a temática ambiental possuía um "caráter multidisciplinar". Na década de 90, na Eco-92, a tarefa da interdisciplinaridade foi considerada dificil, porque implicou em equilibrar os diferentes conceitos, as diversas experiências, as inúmeras visões políticas e principalmente as infinitas formas de comportamentos individuais.

É nesse

/'.C.­

exercício, entretanto, que o maior desafio

tk coloca:

traçar coletivamente os

princípios de educação ambiental. A interdisciplinaridade também tem como principal meta a melhor abordagem dos diversos temas ambientais, que sempre se apresentam de forma interligada e indissociada entre os diversos temas fisicos, químicos; biológicos, geográficos e humanos, pois sabemos que a qualidade de vida no nosso planeta tem sido deteriorada rapidamente e esse prejuízo é provocado não somente pelos aspectos fisicos ou biológicos, mas principalmente pelos fatores sociais, econômicos e políticos. Como disse a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente (CMSMA,1991): vivemos uma era da história das nações em que é mais necessária do que nunca a coordenação entre ação política e responsabilidades e, (...) devido a abrangência de nosso trabalho e à necessidade de uma visão ampla, é preciso reunir uma equipe multidisciplinar e diferenciada ( ...) e os problemas devem ser resolvidos sempre na base da cooperação, onde estão presentes sempre as suas várias vertentes. A temática ambiental exige essa discussão em todos os seus níveis.

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De acordo com GONÇALVES (1991), a temática ambiental envolve grande complexidade e exige, por esse motivo, o estabelecimento de planejamento e a adoção de estratégias de ação, dificeis de serem desenvolvidas por um único profissional.

Por esse motivo reside na interdisciplinaridade o eixo mais importante

do processo educativo de EA formal ou informal. A organização de programas de EA exige a participação multi profissional e necessita de uma articulação bem definida para atingir aos seus propósitos, devendo ser orientados por pessoas com visão interdisciplinar mesmo que não sejam de ciências humanas ou naturais. Os problemas sócio-econômicos decorrentes do sistema econômico vigente, que pressiona até a exaustão os recursos da natureza e impõe a maior parte da população condições inadequadas de vida, deverão oferecer subsídios para discussão, análise e I

críticas das questões, como saneamento básico, nutrição, higiene e demais questões ambientais e de suas interrelações com a estrutura econômica e social por todos os professores nas diferentes disciplinas. Segundo AB'SABER (sld) , em seu ponto de vista, a interdisciplinaridade busca integrar muitas áreas do conhecimento, onde podem surgir muitos conflitos, pois cada um procura valorizar o seu lado. Para conseguir montar um curso sério de EA precisaríamos juntar os melhores especialistas, trabalhar intensamente até chegar a um consenso e definir os parâmetros filosóficos básicos. Isto leva tempo e não pode ser feito de um dia para o outro. Infelizmente, até hoje, não fomos capazes de empreender esta tarefa com sucesso. Segundo SERRÃO (1997), para atingir a perspectiva interdisciplinar será preciso modificar a formação dos professores pesquisadores, porque a pesquisa ambiental não tem caráter interdisciplinar, embora a maioria dos pesquisadores entrevistados pela referida autora, defenda a importância desse modelo de trabalho para a área do meio ambiente, a autora concluiu que, apesar de todas as áreas da ciência serem responsáveis pelo tratamento da questão ambiental, raras foram as respostas obtidas, em sua pesquisa, em que os entrevistados admitiram estar participando ou já ter participado de projetos ambientais interdepartamentais. Diante deste resultado, a interdisciplinaridade pode ser considerada o grande desafio para os pesquisadores ambientais, apoiado na superação da excessiva especialização da ciência.

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De acordo com BRIGGS E MICHAUD (1975) apud GONÇALVES (1991), "a interdisciplinaridade é sobretudo um estado mental que requer de cada pessoa uma atitude de humildade, abertura, curiosidade, vontade de dialogar e finalmente uma aptidão para a assimilação e para a síntese. Exige desde o início a aceitação do trabalho de equipe entre os representantes das diversas ciências e a necessidade de se estabelecer conjuntamente uma linguagem comum". Através da interdisciplinaridade é que a EA fundamenta o processo educativo visando a formação integral do cidadão e dessa forma pretende discutir, avaliar, criticar e encontrar soluções para os problemas sócio-econômicos, políticos e ambientais da sociedade contemporânea brasileira (GONÇALVES, 1991).

Algumas Disciplinas para Desenvolver a Educação Ambiental:

GONÇALVES (1991), classifica algumas possibilidades de se trabalhar EA nas diversas disciplinas, como indicado na tabela-2:

Tabela-2: Atividades de EA que podem ser desenvolvidas nas disciplinas.

o professor de história

O professor de geografia

O professor de matemática

O professor de ciências O professor de Português

Deve plantar a semente do cidadão que luta por seus direitos mas, que cumpre os seus deveres, cultivando valores e atitudes de respeito e responsabilidade frente aos problemas ambientais, além de discutir as razões históricas e Qolíticas dos Q!oblemas. Reconhecimento e organização do espaço, na discussão de causas e consequências dos problemas e na interpretação dos fatos geográficos. Deve procurar instrumentalizar o indivíduo para atender e fazer uma leitura matemática do mundo e da sociedade em que se insere e, ao mesmo tempo, deve contribuir para ampliar a comunicação e expressão do cidadão, permitindo-lhe discernir e interar-se socialmente. E o que deve mais interagir com as outras disciplinas. Não que ele seja o mais importante, mas porque sua disciplina apresenta temas que naturalmente despertam interesse do educando. Oferece grande contribuição dentro do processo interdisciplinar da EA. Dominando a língua o indivíduo desvenda o mundo, lendo e escrevendo, compreendendo e interpretando, o indivíduo será capaz de agir.

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Segundo GONÇALVES (1991), para orientar a criança com visão holística é preciso ter sido formado com essa visão. E esse é um dos maiores problemas.

A Arte como Processo Criativo

Além dessas atividades ou disciplinas citadas por GONÇALVES (1991), é fundamental e desejável uma abordagem artística sobre os tópicos descritos anteriormente. Nesse sentido é importante explorar a criavidade dos alunos. Como disse o psicoterapeuta ROGERS (1982), quando ele parte da afirmação de que há uma necessidade social desesperada de um comportamento criador por parte de indivíduos criativos, em que a maior parte das críticas sérias feitas à nossa cultura e aos rumos que ela segue podem resumir-se nos seguintes termos: escassez de criatividade, pois em Educação tendemos para formar indivíduos conformistas e estereotipados, cuja educação é "completa ", em vez de pensadores livremente criativos e originais. ROGERS (1982), justifica essa necessidade social, dizendo que perante as descobertas e as novas invenções que crescem em progressão geométrica, um povo passivo e tradicional não pode fazer face às múltiplas questões e problemas, a menos que os indivíduos, os grupos e as nações sejam capazes de imaginar, de construir e de rever de uma forma criadora as formas de estabelecer relações com essas complexas mutações. O autor complementa dizendo: a menos que o homem possa realizar uma adaptação nova e original ao seu ambiente, tão rapidamente quanto sua ciência altera esse ambiente, a nossa cultura está em perigo de perecer. Um outro adepto da criatividade como forma libertadora de pensamento e liberdade de expressão é o professor e psicanalista americano MAY (l975), afirmando que a coragem de criar, não aquela oposta ao desespero, é a capacidade de seguir em frente, apesar do desespero. A coragem não é a teimosia, mas devemos criar com outras pessoas. Assim, se não expressarmos nossas idéias originais, se não dermos ouvidos ao nosso eu interior, estaremos traindo a nós mesmos e a momunidade, por não contribuir para o todo. MAY (1975), entretanto, discute que a coragem criativa é a mais importante forma de coragem (do ponto de vista psicológico), pois a coragem criativa é a

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descoberta de novas fonuas, novos símbolos, novos padrões, segundo os quais uma nova sociedade pode ser construída. Acrescenta ainda que toda profissão pode exigir e exige coragem criativa. Entretanto, são os artistas que apresentam direta e imediatamente as novas fonuas e símbolos - os dramaturgos, músicos, pintores, dançarinos, poetas, etc. Estes, segundo o autor, representam os novos símbolos sob fonua de imagem

poética, auditiva, plástica ou dramática, confonue o caso.

MAY (1975), complementa ainda que ao apreciannos o trabalho criativo ­ digamos, um quinteto de Mozart -, estamos também criando. Quando estudamos um quadro - o que é necessário para realmente vê-lo, especialmente em se tratando de ".....

arte moderna -, experimentamos um novo momento de sensibilidade. O contato com o quadro desperta em nós uma nova visão e algo de especial nasce em nosso íntimo. Por isso, a apreciação da música ou da pintura, ou de outros trabalhos criativos, é um ato de criatividade da nossa parte. MAY (1975), discute ainda essa capacidade inata dos artístas, de modo geral, fonuam a linha de "orvalho", dando-nos uma visão distante e antecipada do que está acontecendo em nossa cultura. Por isso, neste trabalho fez-se um esforço adicional para incluir nas atividades dos alunos, como será visto no capítulo IV da metodologia, a vivência de experiências artísticas (poesia, música, etc.) para mostrar a sua importância na formação dos cidadãos, como ferramenta necessária à felicidade humana.

Algumas Técnicas e Metodologias da EA

Do ponto de vista da Educação Ambiental, de acordo com SATO (1994a), existem diferentes formas para a inclusão da temática ambiental aos currículos escolares, como as supra comentadas atividades artísticas e as experiências práticas, atividades fora da sala de aula (esta deve ser fortemente incentivada e, geralmente, o entorno das escolas é o melhor local para a promoção da EA), produção de materiais locais, projetos ou qualquer outra atividade que leve os alunos a serem reconhecidos como agentes ativos no processo que norteia a política ambientalista.

Cabe aos

professores; através de uma prática interdisciplinar, traçarem juntos novas técnicas que favoreçam a disseminação da EA, sempre considerando ambientes atualizados. SATO (1994a), enfatiza que um dos problemas na implantação da EA é o fato de

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que, professores de outras áreas (que não sejam da área de ciências, biologia ou geografia) não sentem segurança em desenvolver essa temática nas suas respectivas disciplinas. A referida autora também sugere algumas técnicas para aplicação da EA, indicada na tabela-3: Tabela-3: Técnicas metodológicas para a aplicação da EA. Fonte SATO (1994a ) - O envolvimento da comunidade e experiências pessoais dos alunos, construindo os conhecimentos no processo ensino-aprendizado. - A utilização de outras novas metodologias que auxiliam na familiarização dos estudantes com os problemas ambientais.

-_.

- A promoção de trabalhos de campo, sempre na perspectiva interdisciplinar.

Trabalho de campo

Este tipo de metodologia contribui com o sucesso do entendimento das

,.-..

questões ambientais. As modernas atividades educacionais clamam por mudanças nos valores, atitudes e responsabilidades com o ambiente. Essa sensibilização ocorre principalmente através das observações diretas, do contato e da imersão na natureza em si. Embora os trabalhos de campo sejam atividades que eXIJam custos financeiros, burocracias e forte integração entre os professores, existe uma maneira mais barata e viável. A promoção dessas atividades nas áreas próximas às escolas (no próprio pátio ou na comunidade) é rica, imediata e os alunos tornam-se muito interessados (SATO, 1994a). "Aclimatização": os alunos observam e têm informações do ambiente. Os alunos podem levar máquina fotográfica, papel para fazer anotações. A seguir são apresentadas algumas técnicas pedagógicas que possibilitam o encontro do estudante com o meio onde vive, desenvolvendo sua postura de análise, reflexão e ação, na tabela-4, (CETESB, 1986):

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Tabela-4: Técnicas pedagógicas para trabalhar em EA Fonte: CETESB (1986). Técnica pedagógica onde o educador e o educando, com o envolvimento da comunidade local, irão: pesquisar e avaliar Estudo de Caso

um caso que reúna os problemas de maior interesse ambiental; trazer à tona os problemas relacionados e ocasionados por ele; aprofundar o estudo de um determinado caso. Esta atividade consiste numa técnica que leva o

Estudo do Meio

educando a tomar contato progressivo com todos os elementos do ambiente em que vive e atua (escola, comunidade, meio fisico, etc) E o conhecer, recriar, reconstruir e retratar os fatos

Memória Viva

-

ocorridos no passado e, com a visão crítica de análise, associar as mudanças no meio no decorrer dos tempos.

As Excursões como Recurso Pedagógico da Educação Ambiental

De acordo com GONÇALVES (sld), a excursão é uma oportunidade de oferecer aos alunos um conhecimento prático do que foi visto teoricamente em sala de aula.

Pode ser feita em um ambiente natural, ou num ambiente criado pelo

Homem Gardim botânico, horto florestal). Assim, podemos descrever alguns níveis de representações que estas excursões exercem sobre os alunos. Segundo RAMOS (1989), a EA se propõe a conseguir uma mudança nas atitudes dos indivíduos bem como do seu entorno, de ta] forma que a interação deste com seu meio fisico e social seja tal que permita uma melhor qualidade de vida. Uma importante trabalho sobre este tema foi feito por Gómez Grane1l4 (1988) apud

-

RAMOS (1989), a partir de uma análise da noção de interação entre alunos de 6 a 14 anos (dentro da faixa estudada pelo nosso grupo - 12 a 14 anos), discriminando 4 níveis sucessivos de representação. Dentre esses níveis podemos citar dois importantes para o nosso trabalho, os níveis III (até 12 anos) e IV (até 14 anos). No

4 Gómez Granell, C (1988) - Interacción y Educación Ambiental: Representaciones lnfantíles. En: Moreno, M et alo Ciencia, Aprendizaje y Comunicación. Laia, Barcelona.

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nível lU, que surge até os 12 anos, aparecem as primeiras relações de interação: o homem atua sobre o entorno modificando-o, mas este impõe suas condições, de forma que se estas não se cumprem, originam-se catástrofes e desajustes. No nível IV, em alunos de até 14 anos, não se faz apenas relações atuais ou presentes, mas também as possíveis: o sujeito prevê possibilidades que poderiam ocorrer ou não, segundo as quais as coisas vão ocorrendo. Mais adiante, no capítulo IV, podemos mostrar os tipos de representações que podem ocorrer nas excursões (desenhos e poesias). Esse tipo de contato com a natureza é importante, por estabelecer uma relação dos alunos com o meio ambiente, pois muitos conceitos apresentam-se de modo abstrato para eles (GONÇALVES, s/d). Alguns acabam acreditando que a maioria dos seres vivos só existe nos livros ou na cabeça dos professores como se fossem pura abstração ou alucinação, que acabam por despertar total desinteresse por parte dos alunos, que ficam questionando. Por que isso? Eu não vou precisar disso? É importante não apenas informar, é necessário também formar os alunos para situá-los no mundo em que vivem. É necessário abrir os olhos e a mente dos alunos para o mundo vivo que os cerca, para que se sintam parte do mesmo, ou seja, que tem relações com outros seres vivos, que deles dependem para sua sobrevivência (GONÇALVES, s/d). Só conhecendo a natureza é que poderão respeitá-la, só assim o ser humano se reencontrará consigo mesmo e voltará a viver em um mundo equilibrado, onde interesses mesquinhos não terão vez.

Para que serve uma excursão?

Se uma excursão for bem realizada ela vale como um reforço e até pode substituir, com vantagens uma aula teórica, além de constituir a mais completa aula prática possível. Cuidados: Para que ocorra bem, é preciso que o professor selecione bem os locais e ocasiões para que a excursão não vire um simples passeio, inutilizando seu valor didático.

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Durante a excursão: Pode-se realizar coleta de materiais para um posterior estudo em laboratório. Os alunos se sentirão capazes de perceberem o que existe no mundo a sua volta, desenvolvendo sua curiosidade vivenciando valores saudáveis e adquirindo atitudes de respeito para com os seres vivos. Isso irá torná-los mais completos como pessoas; irá ajudá-los a ser capazes de exercerem autocríticas, de criarem sugestões e de agirem de maneira muito ativa para melhorarem seu próprio mundo tornando-o melhor e mais agradável para todos (ver GONÇALVES s/d e SÉ (1992).

A Bacia Hidrográfica como método de abordagem e ensino da Educação Ambiental

De acordo com TUNDISI (1992), o uso de recursos naturais, sua preservação e a recuperação de ecossistemas passa sem dúvida, por uma visão sistêmica e integrada da qual a Bacia Hidrográfica é uma unidade bastante importante e característica dados os seus contornos e delimitações relativamente precisos e os seus mecanismos de funcionamento que dependem de subsistemas impulsionados por fatores climatológicos (radiação solar, vento, precipitação), por outro lado a qualidade da água (dados fisicos e biológicos) é um indicador importante das características da Bacia hidrográfica e dos efeitos das atividades humanas nestas variáveis. Em CUNHA et ai (1995), foi desenvolvido um trabalho nessa perspectiva da bacia hidrográfica como método de abordagem e ensino. As características essenciais para se considerar o funcionamento e a estrutura das bacias hidrográficas são: bases geomorfológicas; funcionamento climatológico; propriedade da água; atividades antrópicas. Os sistemas aquáticos funcionam como sensores das atividades na bacia hidrográfica. A unidade fisiográfica caracterizada pela bacia hidrográfica, constitui-se em um sistema natural, com limites fisicos próprios, e com complexos subsistemas e mosaicos interdependentes, os fluxos (água, ar) interpenetram estes sistemas e produzem interfaces importantes qualitativas e quantitativas entre vários subsistemas Principais impactos na bacia hidrográfica (TUNDISI, 1992 e SÉ, 1992):

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Muitos impactos produzidos por atividades humanas interferem com os processos e mecanismos de funcionamento alterando também as estruturas ecológicas: - desmatamento; dessecamento e redução das áreas alagadas; aumento da toxicidade; remoção de biomassa em larga escala; eutrofIzação de rios e lagos; introdução de espécies exóticas; remoção de espécies chaves; construção de reservatórios; contaminação de aquíferos; poluição do ar e chuva ácida Atividades nas bacias hidrográfIcas: agricultura; irrigação; mineração; transporte; indústria; urbanização; uso de lagos e reservatórios (recreação, pesca, transporte, uso doméstico). A bacia hidrográfIca pode ser usada como uma unidade espacial bem caracterizada e adequada para a compreensão científIca dos processos naturais

-

principais e suas interrelações. As várias funções da água em uma bacia hidrográfIca, as quais compreende os princípios básicos de transporte e reciclagem de materiais, e, principalmente o papel da água localmente (ver CUNHA et ai, 1995), como um dos componentes dos ciclos biogeoquímicos globais, além dos seus inúmeros usos, colocam-na como componente central a partir do qual planejamento econômico e manejo de recursos hídricos deve ser meta fundamental (TUNDISI, 1992). A abordagem tradicional de uso extensivo de recursos passa a ser substituída por uma outra consideração que é o desenvolvimento sustentado e análises de custo/beneficios sobre aspectos positivos e negativos do desenvolvimentó de grandes projetos que interferem no ciclo da água (hidroelétricas, irrigação, navegação) (TUNDISI, 1992). O conceito de bacia hidrográfIca tem sido utilizado nos últimos 10 anos como base para uma abordagem holística em ciências e ciências ambientais e como aplicação em planejamento ambiental. O uso de recursos naturais sua preservação e a recuperação de ecossistemas passa, sem dúvida, por essa visão sistêmica e integrada da qual a bacia hidrográfIca é uma unidade bastante importante e característica, dados os seus contornos e delimitações relativamente precisos e os seus mecanismos de funcionamento que dependem de subsistemas impulsionados por fatores climatológicos (radiação solar, vento, precipitação).

De fato a bacia

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hidrográfica é uma unidade biogeofisica bem determinada na qual se desenvolvem atividades econômicas e sociais (TUNDISI, 1992). Por outro lado, a qualidade da água (dados fisicos, químicos e biológicos) é um indicador importante das características da bacia hidrográfica e dos efeitos das atividades humanas nestas variáveis (MATHEUS et al,1995). Não há dúvida que uma série de medidas destas variáveis podem indicar adequadamente os efeitos, por exemplo, do desmatamento, do despejo de resíduos industriais, da erosão e da entrada de material em suspensão de origem terrestre (TUNDISI, 1992). Para um efetivo repasse das várias abordagens em educação ambiental é necessário uma base biogeofisica, econômica e social, ou seja, é importante que se possa introduzir

conceitos baseados

em unidades

reais,

mecanismos

de

funcionamento e sobretudo processos que mostrem aspectos integrados do problema ambiental e permitam interrelacionar por exemplo: atividades econômicas com qualidade da água; desmatamento com erosão; atividades agrícolas com aumento de material em suspensão, pesticidas e substâncias tóxicas (TIJNDISI, 1992). Nenhum programa de educação ambiental terá êxito sem uma aproximação mais efetiva com a realidades regionais e locais. Ao considerar a bacia hidrográfica e a qualidade da água como uma unidade funcional, dinâmica e em permanente alteração introduz-se um fator importante que é esta relação causa efeito. Além disto deve-se também enfatizar que o problema não só trata da base biogeofisica como também das causas econômicas e sociais pois ao possibilitar a comparação de resultados de diferentes regiões introduz mais este aspecto que é a análise conjunta dos problemas regionais através das medidas de qualidade da água e dos usos da bacia hidrográfica (TUNDISI, 1992). Todo o desenvolvimento regional integrado deve levar em consideração, o problema ambiental uma vez que as relações entre população, recursos, desenvolvimento e ambiente são fundamentais e cobrem uma variada gama de problemas relacionados com as atividades humanas. O professor é uma interface importante no processo de decodificação da informação científica para a comunidade. Incluem-se aí, não só o repasse aos alunos de

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e 20 graus de uma forma criativa, mas o envolvimento do público em geral nas

questões ambientais o que permite um alcance maior na educação ambiental, na

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elaboração de projetos integrados de manejo que envolvem a população local e, na definição de unidades e prioridades para a conservação (TUNDISI, 1992).

A Qualidade da Água

Segundo BRANCO (1990) a qualidade da água é definida de acordo com o seu uso e deve ser entendida diferentemente daquela feita para outros produtos. O referido autor diz que a primeira impressão que se tem, a respeito da qualidade de um produto mineral, é a de que ele deve ser tão puro quanto possíveL Entretanto, a água para ser útil, deve conter um certo grau de impurezas. E esse grau de impureza varia de acordo com o uso que se pretende fazer dela. A água absolutamente pura - o que só se pode conseguir em laboratório, pois ela não existe na natureza - não contém

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oxigênio dissolvido, não servindo, pois para os peixes e outros animais aquáticos; não possui substâncias minerais em solução, o que além de impedir a vida das plantas aquáticas, é ruim para quem bebe a água; não contém compostos orgânicos, que constituem os alimentos para animais e microrganismos, e assim por diante. Portamo, a qualidade da água depende da utilização que será feita dela. Um córrego, um rio ou qualquer outro corpo de água faz parte de um elemento da naureza e possui a capacidade de ser utilizada pelo homem, para diversos fins. De acordo com BRANCO (1990), os corpos de água, assim como ou outros corpo de água, como elemento da natureza, possui característic'as próprias, naturais, que devem ser respeitadas tanto quanto possível. Dentre vários parâmetros da qualidade da água podemos citar aqui o oxigênio dissolvido (OD). Esta substância é indispensável à respiração de todos os animais e da maior parte dos microrganismos da água. Entretanto, ao contrário do ar, a água tende a possuir pouco oxigênio dissolvido, porque esse gás é pouco solúvel. Existem muitos estudos que tentam descrever a absorção do oxigênio pela água. A idéia principal é com relação à quantidade de oxigênio que a água pode absorver desse gás em uma dada condição de pressão e temperatura. Quando a água de um rio está em contato direto com o ar, através da interface ar-água, a quantidade de oxigênio que atravessa essa interface é muito pequena, pois pelo fato da água absorver pouco oxigênio ela logo se satura, ou seja, há uma certa

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recusa a absorver esse gás do ar. Por exemplo, na temperatura de 20°C e à uma altitude da cidade de São Paulo, a água retém um pouco mais de 8 mgllitro, ou seja, 8 partes em um milhão de partes de água. Essa quantidade pode aumentar com o rebaixamento da temperatura ou com o a diminuição da altitude (aumento da pressão atmosférica). Desta forma, o OD é um elemento limitante para a manutenção da vida dos seres aquáticos, como os peixes. Um outro parâmetro útil para medir a qualidade da água é o pH, cUJo significado é o potencial hidrogeniônico, indicando a relação entre hidrogênio e oxidrilas existentes na água. (BRANCO, 1990). Em outras palavras, indica se a água ,..­

é ácida, neutra ou básica. Um pH neutro é qualificado por volta de 7,0; abaixo de 6,0 é ácida e acima de 8.0 é básica. As águas naturais apresentam pH em tomo de 6,0 e 8,0. Fora dessa faixa os peixes não toleram o pH e podem sofrer graves consequências para a sua sobrevivência. Os solos de São Paulo são ligeiramente ácidos, fazendo com que nossas águas tenham uma acidez natural por volta de 6,0. Entretanto, em alguns lugares, como lagoas com grandes populações de algas, nos dias ensolarados, o pH pode subir muito, chegando a 9 ou até mais. A principal conclusão, no entanto, é saber que os despejos industriais ou domésticos podem apresentar uma caracteristica fortemente básica ou ácida que alteram bastante o pH dos corpos de água. A temperatura da água, como foi dito antes, altera ou influencia os níveis de OD na água, pois este parâmetro influencia a solubilidade dos gases na água. Mas a temperatura da água de um rio ou córrego pode ser mais quente ou mais fria, dependendo se ela esteja ou não exposta aos raios solares. Em lugares de mata fechada, densa, as águas são mais frias que em lugares descampados. Entretanto, os corpos de água podem receber despejos aquecidos que podem alterar a sua temperatura, tomando a temperatura mais elevada. Essas fontes são originárias de águas de refrigeração de processos industriais que empregam-na para resfriar motores e usinas térmicas, etc. Segundo BRANCO (1990), e muitos outros autores que não estão incluídos nesta citação, afirmam que quanto maior a temperatura menor é a quantidade de OD. Um aumento demasiado na temperatura pode elevar excessivamente a temperatura

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do corpo de água, favorecendo a perda desse gás e causar mortandade da fauna aquática. Um outro parâmetro importante é a condutividade elétrica da água. Em MATHEUS et a!. (1995), define a condutividade como a capacidade que a água tem de conduzir corrente elétrica. Tal parâmetro está relacionado com a presença de íons dissolvidos na água, que são partículas carregadas eletricamente. Quanto maior for a quantidade de íons dissolvidos, maior será a condutividade elétrica da água. Os íons que recebem a maior carga de responsabilidade nos níveis de condutividade são os íons de cálcio, magnésio, potássio, o sódio, os carbonatos, os sulfatos e outros. Segundo MATHEUS et ai. (1995), a condutividade não determina especificamente quais íons estão presentes em determinada amostra de água, mas apenas pode contribuir para possíveis reconhecimentos de impactos ambientais que ocorrem na bacia de drenagem ocasionados por lançamentos de resíduos industriais, minerais, domésticos, etc. Este parâmetro, segundo os autores constitui-se numa das variáveis maIS importantes em limnologia, uma vez que fornece importantes informações sobre o metabolismo e funcionamento do ecossistema aquático. Os quatro parâmetros da qualidade da água (OD, pH, temperatura e condutividade) foram explorados por nossa equipe e pelos alunos, através do uso do

/dt da qualidade da água. Para mais detalhes sobre a metodologia de coleta de amostras, de calibração, operação de equipamentos e uso do /dt, ver MATHEUS et aI. (1995).

Para finalizar esses breves comentários sobre a qualidade da água, podemos citar CETESB (1988), que discute alguns conceitos de índices da qualidade da água - IQA. O fato de certo trecho de um rio estar enquadrado em uma determinada classe

não significa que este se encontre conforme o nível de qualidade da água preconizado na classe.

Trata-se, isto sim, de fixar metas a serem alcançadas e

mantidas ao longo do tempo. Para cada uma das classes existentes - 8 classes: I, 11, 111, IV, V, VI, VII e VIII - (ver CONAMA, resolução 20) são fixados os limites e condições de qualidade da água a serem respeitadas (CETESB, 1988). Por outro lado, são estabelecidos também padrões de emissão para qualquer fonte poluidora que lance seus efluentes nos cursos de água superficiais, ou seja,

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limita as concentrações máximas de determinados poluentes nos efluentes de qualquer tipo. Assim, o controle da poluição hídrica pode ser efetuado através dos padrões de qualidade do corpo receptor, por meio das limitações impostas pelos padrões de emissão, ou por ambos. Apesar disso, o Índice da Qualidade da Água - IQA pode apresentar algumas dificuldades de comunicação e entendimento por parte do público em geral, devido à sua natureza técnica. E para contornar este problema, vários países, inclusive o Brasil, têm procurado utilizar índices para facilitar a compreensão das condições da qualidade da água pela população. Um índice é um número calculado a partir dos dados de qualidade e pode ser considerada como uma nota atribuída à água, em termos de qualidade (CETESB, 1988). A utilização de um índice implica em uma simplificação da realidade, pois nem todos os parâmetros de qualidade da água são considerados nos cálculos. No presente trabalho procurou-se atribuir uma nota da qualidade da água para o Córrego do Lazzarini, através de uma análise simplificada, semelhante àquela aplicada pela CETESB (1988). Os detalhes foram apresentados no capítulo IV, da metodologia.

A História e a Ecologia do Entorno

Um dos aspectos principais para a realização de um estudo de história e ecologia, segundo ALMEIDA (1988), é a necessidade de se mergulhar no vórtice em que se fragmentou a compreensão humana da realidade: estudos geo-biofisico­ químicos, história natural, econômico-social (administrativa, jurídica, financeira, das idéias, etc). No capítulo IV foram discutidas e avaliadas algumas questões referentes à história da BH, desde a crise do café, no final dos anos 30, até a atualidade, em que foram confrontados os dados obtidos das coletas, de onde se pôde tirar várias conclusões sobre o meio ambiente, e concomitantemente avaliar os aspectos históricos e sua influência sobre o que se obteve nas análises atuais dos parâmetros da qualidade da água. Os detalhes dessas discussões também foram apresentados nos

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capítulos IV e V desta monografia.

Pode-se adiantar que muitas de nossas

conclusões foram decisivamente obtidas através de documentação histórica da BH. ALMEIDA (1988), discute ainda que a importância da atuação do homem no mundo é fundamental, e través dela desvendamos que a exploração não é uma práxis realizada somente entre as classes, mas também do homem em uma determinada r-.

sociedade e natureza. Assim, a luta pela conservação do meio ambiente, longe de ser

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interpretada como pequeno-burguesa, capta em suas entranhas as formas e os instrumentos pelos quais os homens organizam o seu modo de produção. A pergunta que o referido autor fez no final de seu livro a Extinção do Arco­ íris

Ecologia e História, é a seguinte: "como o modo de produção capitalista não é

o único meio de se produzir, paira no ar a dúvida: como adequar as relações entre o homem e a natureza, para a autoperpetuação das espécies?". Essa é a pergunta que fizemos a nós mesmos e procuramos respondê-la da melhor forma possível nos capítulos IV e V desta monografia. r-.

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IV - METODOLOGIA

União Mais do que nunca Estamos vivos Estamos juntos Dentro de uma só vida Se um violão Compõe a paz Uma orquestra Harmoniza o planeta Tantas vezes sem pensar Ficamos a mercê Dessas mesquinharias Custamos aprender multiplicar A união Um Homem sófazverão Imaginai um milhão

Mais do que nunca Estamos vivos (a cantar) Estamos tantos Muito mais do que unidos A minha mão Na tua mão Significa, todo o pão bem repartido Finalmente somos um Eu, ele e você De braços pela vida Seremos um milhão Muitas cabeças E um coração. (Amadeu Cavalcante/João Gomes)

Aspectos Gerais

A metodologia do presente trabalho desenvolveu-se a partir da vertente interdisciplinar, onde cada um dos integrantes da equipe (um biólogo, um engenheiro agrimensor, um engenheiro químico e uma assistente social), tratou os assuntos ou temas relacionados às suas respectivas áreas de conhecimento, tendo .sempre em mente a Bacia Hidrográfica como ponto de partida para as discussões. Na visão da equipe o principal êxito foi ter buscado em cada área de conhecimento suas experiências práticas, as quais foram sendo adaptadas às condições e realidade locais, considerando-se as limitações e aspirações dos alunos. Esta abordagem permeou todo o trabalho interdisciplinar da equipe, onde os temas de qualidade da água, por exemplo, eram relacionados com temas de ciências exatas, biológicas e humanas. Na literatura, entretanto, esse tem sido um dos grandes entraves na prática e consolidação em EA. Como foi discutido no Relatório Final da I Conferência Nacional de Educação Ambiental (Brasília 7/10/97), em que "o paradigma da interdisciplinaridade ainda permanece como fator desafiante na prática da EA, gerando rupturas entre a prática e a teoria. Além disso, os insuficientes subsídios em EA obstruem uma efetiva implementação da mesma nas escolas".

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A segUIr serão descritas as linhas metodológicas desta prática feita pela eqUIpe.

Definição da Área de Estudo

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Córrego do Lazzarini é integrante da Bacia Hidrográfica do Rio do

Monjolinho - São Carlos/SP (Figura-2). Esta área foi escolhida por apresentar as seguintes caracteristicas: a) drenar parte da cidade de São Carlos, ser rural/urbano com extensão inferior a 5 km; b) proporcionar a facilidade de trabalho de campo aos

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alunos participantes; c) receber influências de atividades agropecuárias e de ocupação urbana; d) possuir área de várzea (ocupada por macrófitas superiores); e) estar próximo à escola, fazendo assim parte do cotidiano dos alunos. Segundo SÉ (1992), a Bacia Hidrográfica do Rio do Monjolinho, sub-bacia do Rio Jacaré-Guaçú, afluente do Rio Tietê, localiza-se na região centro-norte do estado de São Paulo, entre os paralelos 21°57' e 22°06' de latitude sul, e entre os meridianos 47°50' e 48°05' de longitude oeste. A maior parte da área da Bacia está no município de São Carlos, tendo como característica marcante o desenvolvimento urbano da cidade dentro de seus limites. Esta bacia dista aproximadamente 240 km da cidade de São Paulo; possui 273 km2 de área e se desenvolve sobre vários mosaicos: a) geológico, b) geomorfológico e c) pedológico (SÉ, 1992). O clima é tropical, com dois períodos característicos: 1) seco, com 100 mm de precipitação pluviométrica mensal, de abril a setembro, e os meses mais frios Ounho­ julho) com temperaturas médias entre 17,5 e 18°C e 2) úmido: com 110 a 250 mm de precipitação pluviométrica mensal, de outubro a março, e os meses mais quentes Oaneiro-fevereiro) com temperaturas entre 22,5 e 23°C. A vegetação predominante é de cerrados, penetrados por florestas galeria com variedade topográfica. O clima é transitório entre úmido (leste) e secos (oeste) (SÉ, 1992). Historicamente, desde a fundação da cidade de São Carlos (1880), o crecimento populacional e urbano teve contribuição decisiva da inserção da cultura do café na região. Após a crise mundial de 1929 com o declínio do cultivo do café, houve uma diversificação nas atividades econômicas a partir da década de 40. Portanto, o processo de industrialização acarretou uma forte expansão na década de 60 até os dias atuais, tornando a cidade fortemente industrializada, com produção bastante diversificada (indústrias têxteis, de alimentos, metalúrgicas, de produção de couro, etc). Além disso, com a expansão urbana e a concentração demográfica a demanda por água na região de São Carlos se alterou completamente nestas últimas décadas, tanto quantitativa quanto qualitativamente. Por isso, devido ao aumento de demanda por água, a captação que era feita anteriormente por uma única fonte, passou a ser obtida em quatro fontes diferentes. Entretanto, as águas da Bacia do Rio

r 35

do Monjolinho não são em geral aproveitadas por terem baixa qualidade, devido à poluição na maior parte do curso do rio e seus afluentes (SÉ, ] 992).

Organização da Eq uipe de Trabalbo

As atividades foram desenvolvidas com aJunos de 611 e 7a séries. Para isto, levou-se em consideração além do interesse do aluno em participar, o local de r-

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moradia de cada um, paTa trabalhar com sua realidade (Figura-3):

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DO Figura-3 : Localização aproximada da EEPSG Prof José Juliano Neto com relação ao Córrego do Lazzarini e residência dos alunos.

Período de Desenvolvimento das Atividades r-

A execução das atividades foi feita a partir de janeiro, estendendo-se até meados de novembro de 1997. As primeiras discussões, debates e palestras deram início às atividades tanto em sala de aula com os alunos, quanto aos trabalhos de campo, através de excursões, coletas de água do Córrego, análise de laboratório das r

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36

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amostras no primeiro semestre de 97 (Figura-4). As entrevistas (história de vida) atividades artísticas (mú icas, poesias e desenhos), foram realizadas no segundo semestre (Figura 5). Na tabela 5 são de critas as atividades realizadas neste trabalho:

Figura-5: Atividade em sala de aula. Dlscus ões sobre arte, poesia e textos.

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Tabela-S: Atividades em Ordem Cronológica ReaJizadas neste Trabalho em 1997.

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ATIVIDADES

MÊS

I - Início do Curso de Especialização

Janeiro

Fevereiro I - Discussão com os alunos sobTe doenças transmissíveis por "cículaçelo hidríca. - Orgmúznção da equipe de alunos; considerando interesse do alUno em participar do trabalho e o local de moradia (lIabal.ha'r com a realidade deles). - 05/03 em sala de aula lrabalhamos COUl 12 alunos da EEPSG Pro[ José Juliano Neto de 6~ e T' séries - Entrega de ma}k'ls para os alunos da visão !?,eral e localizada da bacia hidrográl1ca (Anexo-A). - IniCIO da discussão da demarcação das seções de coleta no Córrego. Acompanhamos a percepção dos alUJIOS em relação ao meio ambiente. As I excursõcs foram acompanhadas pelos alunos de março a outubro. Foram feitas COICt.1S quinzenais e semanais c foram analisadas no laboratório de quimica do coce. o grupo reuniu mapas do local. infonll,ações sobre a vegetação. uso e ocupação da bacia. (lOencontro)

Março

(2° encontro) - 19/03 o grupo continuou 3 discussão da demarcação das seções de coleta no Córrego e explicou aos 31U110S o porquê dos panimctros escolhidos para a análise da qualidade da água. Foi dada a tarefa para os alu.tlOS pesquisarem a diferença entre um córrego e um rio para se discutjr no próximo encontro. Alguns conceitos históricos também foram trabalhados. Falou-se dos cuidados antes das saídas à campo, de arrwnar as ban.cadas do laboratório, \'idruria a ser utilizada c oalibração de equipilrnentos. Houve também saída à campo para dcfUlir e demarcar os locais das coleta0;.

(3° encontro) - 2/0-l Em sala de aula lrabalhanlos com temas referentes à llgua (Figura-6). Os alunos apresen.taram as definições de córrego e rio. Fui explicado aos alunos o VUlOI do custo da água e do refrigerante. A segunda tarefa foi dada aos alunos: Trazer levantamento de preços. para um mesmo 'OIWllC. da água mineral com gás c sem gás e refrigerante e trazer uma cópia da conta de água de sua C"JSa para se avaliar o consumo c o custo da agua. - Foi explicado através de uma maquete as curva de lúvel e sulcos (tal ,eg) por onde o rio preferencialmente passa. mostrou-se também a utilizaç..'lo I do teodolito (Figura-7). Noções de ângulo e níveis de apro~.illlllção. - As 3 seçõcs de coleta para o dcsenvohimento do trabalho foram apresentadas: 1) nascente. 2) horta, 3) desâgue-Rio Gregário. - Discutiu-se ecossistema, fatores bióticos (f8l.U13, lniêroscópicos). falores abióticos (00, pR, condutiviclade. temperatura) e a importância de conhecer o local onde vai se estudar, perceber tudo que acontece no seu entomo, pois diversos falares pod.cm influenciar a qualidade da água do rio (lixôes. presença de indústrias. hortas, etc).

A.bril

(.... encontro) - 16/0~ foi feita a 11 excursão com os alunos .laS seçõcs escolliidas. Não houvc coleta propriameJ:lIC dita. Houve apenas observações do meio ambiente. Obsenrou-se a lUnascente do Córrego do Laz:zarini. que por questões logístiCas não foi escolhido para coleta de amostras posteriores. Observou-se um elevado grau de inlpaC10S (destruiçãoda mala_ ciliar e das condições naturais da MSfénte). devido a ulba~tiz.ação .

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