Educação Audiovisual como crítica da Imagem, o cinema na escola e a formação de olhares autônomos

June 3, 2017 | Autor: Gregorio Albuquerque | Categoria: Cinema, Audiovisual, Educação, Educação Audiovisual
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ANAIS DO II SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE

CINEMA E EDUCAÇÃO

17 E 18 DE OUTUBRO DE 2014 | UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL | PORTO ALEGRE / RS

Nota explicativa: Os artigos publicados nos Anais do II Seminário Internacional de Cinema e Educação: Dentro e Fora da Lei são, em conteúdo e formatação, de responsabilidade exclusiva de seus autores.

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) ________________________________________________________________________________ C574

Cinema e Educação: dentro e fora da lei / organização: Maria Carmem Silveira Barbosa, Maria Angélica dos Santos. - Porto Alegre: UFRGS/Programa de Alfabetização Audiovisual, 2014. 342p. : il. ISBN: 978-85-66106-42-8 Anais do II Seminário Internacional de Cinema e Educação, 17 e 18 de outubro de 2014, Porto Alegre, BR-RS. Filme nacional - Exibição - Obrigatoriedade - Educação básica. 2. Educação - Cinema. I. Brasil. Lei n. 13006/2014. II. Barbosa, Maria Carmem Silveira Barbosa. III. Santos, Maria Angélica dos. IV. Seminário Internacional de Cinema e Educação (2. : 2014: Porto Alegre,RS)

CDU - 791.5(06) _________________________________________________________________________________ Elaborada pela Biblioteca Central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

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EDUCAÇÃO AUDIOVISUAL COMO CRÍTICA DA IMAGEM:O CINEMA NA ESCOLA E A FORMAÇÃO DE OLHARES AUTÔNOMOS

Cynthia Macedo Dias (EPSJV/FIOCRUZ) Gregório Galvão de Albuquerque (EPSJV/FIOCRUZ) Carlos Eduardo Colpo Batistela (EPSJV/FIOCRUZ)

Os jovens se relacionam cotidianamente com produtos audiovisuais, seja pelo cinema, pela televisão ou pela internet, em diferentes suportes, circulando entre muitos gêneros, linguagens, falas, ideias. Nesses contextos, já participam não só como consumidores, mas também como produtores – com tecnologias de captura e edição de imagens cada vez mais acessíveis – e reprodutores, pelos mecanismos de compartilhamento de sites de redes sociais e aplicativos de mensagens. Assim, produtos audiovisuais, recebidos, produzidos e propagados, participam na formação de sensibilidades e sentidos dos jovens, carregando posições de poder e diferentes discursos, e fazendo parte de relações sociais e de consumo. Com isso, o audiovisual se articula com a educação em diversos campos de conhecimento, pouco vistos como ambientes formativos. Entretanto, esse encontro ganha mais visibilidade pela recente publicação da Lei nº 13.006/14, que estabelece a obrigatoriedade da exibição de filmes nacionais nas escolas, que faz urgir a discussão sobre os desafios a serem enfrentados no encontro do cinema e do audiovisual com a educação, envolvendo os contextos, intencionalidades e estratégias dessa exibição e as relações com as estratégias curriculares e a atuação dos professores. É preciso tratar esse assunto tendo em vista uma pergunta: em que medida estes processos representam uma efetiva expressão criativa de seus autores ou reproduzem formas e conteúdos de um discurso cada vez mais homogeneizado da cultura? Esta comunicação discute a educação audiovisual como formação de olhares autônomos e críticos, na perspectiva da disciplina de Audiovisual e de oficinas de formação docente já desenvolvidas pelo Núcleo de Tecnologias Educacionais em Saúde da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio,

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unidade técnico -científica da Fiocruz que se dedica a atividades de ensino, pesquisa e cooperação no campo da Educação Profissional em Saúde1. O AUDIOVISUAL NA SOCIEDADE

As obras de arte foram, por muito tempo, produzidas como objeto de culto, a serviço do ritual, primeiramente mágico e depois religioso. A arte, no inicio da sociedade capitalista, não era produzida em grandes quantidades e não visava o lucro a partir de sua venda ou distribuição, possuindo outros sentidos sociais e culturais. Com o surgimento da possibilidade de reprodução técnica, nasce a cultura de massas ou uma cultura para as massas. Na transformação do seu valor, a obra de arte perde sua “aura” e função ritualística e adquire, segundo Benjamin (1994), um valor de exposição, ou seja, "à medida que as obras de arte se emancipam do seu uso ritual, aumentam as ocasiões para que elas sejam expostas" (BENJAMIN, 1994, p.173). No contexto da reprodutibilidade técnica, Benjamin afirma que é cada vez mais irrecusável a necessidade de chegar cada vez mais perto dos objetos, por meio de sua imagem ou de sua reprodução, havendo uma tendência de superação do caráter único dos objetos. A reprodutibilidade atingiu um alto padrão de qualidade, a ponto de ela própria se impor como forma original da arte. Com isso, a autenticidade da obra, o “aqui e agora”, sua existência única, sua história e transformações com a passagem do tempo e com as relações de propriedade com que ela ingressou, estão ausentes. Para Benjamin, visitar uma catedral medieval é diferente de vê-la em uma imagem no Brasil, porém hoje, com diversas formas de representação da realidade, talvez seja mais relevante levantar novos questionamentos, a respeito da natureza dessa diferença, das diversas formas de reprodução dessa catedral, dos discursos que permeiam essas reproduções. Pensando o conceito de aura em termos mais flexíveis, podemos assumir, conforme Aumont, que, se a perda da “aura” significou a perda de certa qualidade “transcendente” da arte, não significou a perda de sentidos e valores a ela atribuídos socialmente, valores estes que mudaram e mudarão ao longo do tempo. Mesmo nesse contexto de cruzamentos e questionamentos do estatuto da arte, Aumont nos lembra que “ela permanece, no mínimo, como a esfera da invenção, da descoberta. – sendo a maioria das outras imagens apenas a cópia, a repetição mais ou menos consciente e a aplicação da imagem artística.” (AUMONT, 1995, p. 259). 1 Atua, portanto, com o segmento dos trabalhadores de nível fundamental e médio, que correspondem à maioria dos profissionais de Saúde no Brasil. A EPSJV tem como principais objetivos: coordenar e implementar programas de ensino em áreas estratégicas para a Saúde Pública e para Ciência e Tecnologia em Saúde; elaborar propostas para subsidiar a definição de políticas para a educação profissional em saúde e para a iniciação científica em saúde; formular propostas de currículos, cursos, metodologias e materiais educacionais; e produzir e divulgar conhecimento nas áreas de Trabalho, Educação e Saúde. Disponível em: http://www.epsjv.fiocruz.br/index.php?Area=Apresentacao

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Podemos dizer, assim, no lastro da reprodutibilidade, que vivemos em uma ‘civilização da imagem’, expressão que, por mais banal que se tenha tornado, revela o sentimento de viver em um mundo permeado por imagens “cada vez mais diversificadas e intercambiáveis” (Idem, p. 14), que exigem um estudo articulado, como Aumont nos ajuda a compreender. Ao mesmo tempo, as imagens, que constituem os produtos audiovisuais, são objetos produzidos por mãos humanas a partir de dispositivos diversos, “sempre para transmitir a seu espectador, sob forma simbolizada, um discurso sobre o mundo real. (...) uma representação da realidade, ou um aspecto da realidade (...)” (Ibidem, p. 260). Embora a produção de imagens no mundo esteja se tornando algo absolutamente corriqueiro, não é tão abrangente a prática da reflexão e interpretação imagética fora de seus circuitos específicos. Se a interpretação textual é item obrigatório do currículo escolar, o estudo sistemático da imagem ainda não alcançou tal projeção. A superação do modelo convencional de utilização do cinema na escola - mero instrumento ou recurso pedagógico restrito à ilustração de conteúdos pelo professor na sala de aula - passa pelo desenvolvimento de propostas de educação audiovisual que o valorizem como objeto da cultura, propiciando momentos de apreciação, de crítica e reflexão. INSPIRAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO AUDIOVISUAL NA PERSPECTIVA DAFORMAÇÃO DE OLHARES AUTÔNOMOS

Entendemos que a escola não tem o objetivo de somente formar jovens espectadores passivos para a indústria e sim que desenvolvam seu próprio olhar e espírito crítico. Considerando que o aluno já entra na escola com uma carga de imagens naturalizadas e com significados que são posições específicas de poder, é preciso pensar uma educação audiovisual buscando condições e maturidade de potencializar nos alunos a construção de autonomia diante da imagem espetacular produzida pela sociedade capitalista contemporânea. Na concepção de Benjamin (1994), retirada das experiências de Brecht no teatro, o cinema, assim como outros meios de comunicação em massa, poderiam ser usados para “refuncionalizar”, ou seja, reaproveitar a capacidade da obra de arte dentro da indústria cultural em uma perspectiva educativa e conscientizadora contra a própria alienação e dominação, uma educação que permitiria usar dos próprios produtos culturais para questioná-los e criticá-los, fazendo também assim uma crítica não somente à cultura e sim a toda estrutura da sociedade capitalista industrial. Outra potencialidade para a educação audiovisual é apresentada pelo cineasta Glauber Rocha, que considerou o cinema como uma manifestação cultural da sociedade industrial, transformando um problema estético em um impasse social. Glauber produziu um cinema instrumento de análise da história,

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em que privilegia o homem e não o lucro e não desvincula a ideia de educação de uma perspectiva revolucionária, através da estética e apoiada em duas concepções concretas de cultura, a didática alfabetizar, informar, educar, conscientizar – e a épica – que provocaria o estímulo revolucionário, prática poética que deve ser revolucionária do ponto de vista estético para que projete revolucionariamente seu objetivo ético. Para Rocha (2004), estas formas deveriam funcionar simultaneamente e dialeticamente para um processo revolucionário. “A didática sem a épica gera a informação estéril e degenera em consciência passiva nas massas e em boa consciência nos intelectuais. A épica sem didática gera o romantismo moralista e degenera em demagogia histérica” (ROCHA, 2004, p.100). Os vieses questionador, transformador e revolucionário da reflexão e da produção cultural podem possibilitar uma nova forma de ler o mundo, reinterpretá-lo e agir sobre ele, propondo uma nova forma de se pensar a realidade contemporânea. A crítica da cultura se faz então necessária para uma formação humana plena, capaz de pensar saídas criativas e imaginativas através da sensibilidade, colocando os sujeitos em uma posição ativa na construção de seu mundo. Se queremos uma educação emancipatória, que auxilie a encontrar caminhos de escape e uma abertura do olhar frente a essa “civilização de imagens”, esse é um foco de trabalho essencial, ao problematizar a realidade do aluno a partir do entendimento da totalidade social no qual as obras de arte, as imagens em geral e ele mesmo estão inseridos, visando uma desconstrução de significados e de sentidos que são naturalizados no seu olhar. Migliorin caracteriza bem essa opção, como a busca por não ensinar isso ou aquilo a partir do cinema, mas o abandono, a potência, o estranhamento, a instabilidade da criação. Concordamos com ele quando diz que “na escola, o cinema se insere como potência de invenção, experiência intensificada de fruição estético/política em que a percepção da possibilidade de invenção de mundos é o fim em si. (...) O cinema não se encontra na escola para ensinar algo a quem não sabe, mas para inventar espaços de compartilhamento e invenção coletiva, colocando diversas idades e vivências diante das potências sensíveis de um filme.” (MIGLIORIN, 2010, p. 108) Essa “criação de mundos” reúne elaboração crítica sobre a realidade e sensibilidade. Portanto, o audiovisual na educação além de se realizar como crítica da sociedade produtora de mercadorias, incide sobre o processo de formação humana a partir de um horizonte de criação e liberdade, permitindo aos jovens problematizar o existente e imaginar novas formas de sociabilidade humana, características presentes no projeto de uma educação politécnica, na qual se fundamenta nossa Escola. Ao mesmo tempo, entendendo as diversas produções audiovisuais como partes da cultura, é preciso ainda superar a cristalização de conceitos históricos como dogmas e ultrapassar o senso comum, trabalhando o conceito de cultura como âmbito que compreende “as diferentes formas de criação da

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sociedade, de tal forma que o conhecimento característico de um tempo histórico e de um grupo social traz a marca das razões, dos problemas e das dúvidas que motivaram o avanço do conhecimento em uma sociedade.” (RAMOS, 2004, p. 9). Uma proposta de educação audiovisual crítica permite ainda evidenciar o caráter produtivo da cultura: partindo do pressuposto de que os significados são cultural e socialmente produzidos, a escola e o currículo também estão envolvidos na produção de sentidos, em relação constante com os outros espaços em que o aluno circula. Diante desta realidade, há uma necessidade de criar um lugar na escola que contemple uma educação audiovisual. Um ambiente que permita a discussão crítica sobre a imagem e consequentemente a produção de um “novo olhar” por parte do aluno e dos próprios professores, sobre as imagens e seu papel na sociedade contemporânea. Entende-se que a criação do “novo olhar” não tem como base uma crítica padronizada sobre a imagem para os alunos. Ele parte da ideia de autonomia, permitindo que, a partir de ferramentas como cineclubes, história do cinema e das vanguardas e da produção audiovisual, os alunos criem/construam o seu próprio olhar. A EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO AUDIOVISUAL DO NÚCLEO DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS EM SAÚDE

A Escola Politécnica teve em sua gênese a discussão sobre a educação politécnica, entendida a partir da superação da dualidade entre a formação geral e a formação técnica. Segundo Saviani (2002), a busca é de superar a concepção burguesa da educação, em que o conhecimento se converte em meios de produção, ao incorporar a ciência ao trabalho produtivo, convertendo-a em potência material. O objetivo desta educação é a superação da alienação humana, reforçada pelas exigências de especialização extrema e de unilateralidade de um trabalho subsumido ao capital. Ao contrário, trabalhando a partir da compreensão da própria realidade humana como constituída pelo trabalho, o que implica considerar, conforme Saviani, que “todo trabalho humano envolve a concomitância do exercício dos membros, das mãos, e do exercício mental, intelectual” (2002, p.138). Dessa forma, a EPSJV possui como elementos estruturantes do seu Projeto Político Pedagógico: o Trabalho, como principio educativo e de produção da existência humana; a Ciência, como conhecimento que se produz pela humanidade; e a Cultura, como dimensão simbólica da vida social, produção da sociedade. Garantindo ao aluno o desenvolvimento de valores e instrumentos de compreensão e crítica da realidade e também o acesso ao conhecimento cientifico e tecnológico na contemporaneidade, associado ao processo histórico deste conhecimento, a produção e discussão artística assumem o resgate da cultura e seus valores em uma dinâmica de relação com o trabalho.

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Dessa forma, dentro da concepção da politecnia e de um currículo integrado, a educação audiovisual na EPSJV tem como componente a crítica da cultura, que, em tempos da sociedade do espetáculo e do fetiche da imagem, cumpre um papel importante na formação dos alunos como elemento intelectual e artístico capaz de forjar leituras de mundo autênticas, unindo elaboração e sensibilidade crítica sobre a realidade. Nesse contexto, desenvolvemos uma proposta de formação audiovisual que reúne três grandes componentes: a educação audiovisual dos jovens do Ensino Médio Integrado, como uma das opções da disciplina de Artes, inserida no currículo; a Mostra Audiovisual Estudantil Joaquim Venâncio, enquanto espaço de troca e encontro de educadores e alunos; e a formação docente, em oficinas internas e externas à Escola. Detalharemos a seguir a experiência da disciplina de Audiovisual, baseada em três movimentos, cada um trabalhado em um dos anos do Ensino Médio. No primeiro ano, o cineclube funciona como espaço de relação da bagagem que os alunos já trazem com a busca de desconstrução de um olhar naturalizado sobre o cinema comercial, bem como uma aproximação da experiência social que é o cinema. Ao mesmo tempo, proporciona aos alunos um aumento de “repertório” – pelo contato com obras que seriam de difícil acesso, que não circulam na televisão ou em cinemas de shoppings, ou que provocam incômodo pela linguagem cinematográfica marcadamente diferente dos “blockbusters”. O cineclube, por sua característica aberta, comporta ainda alunos de outras séries, pois se realiza em um horário de Atividades Diversas, possibilitando ainda a troca entre alunos de idades e experiências diferentes, muitos já envolvidos na própria disciplina de Audiovisual ou em outros processos de discussão da imagem na escola. No segundo ano, desenvolvemos o aprendizado da linguagem audiovisual, de seus elementos e sentidos, a partir de três módulos que dialogam por meio da discussão sobre a representação da realidade/criação da realidade fílmica e as relações entre imaginário e sociedade mediadas pelo audiovisual. Partimos de uma primeira experiência com a linguagem cinematográfica, com a fotografia, em que os alunos, após buscarem se apresentar aos colegas por meio de um recorte de revista, imagem já produzida, presente no mundo, são desafiados a representar em fotografia ideias abstratas, como o “invisível” e o “silêncio”. Em seguida, os alunos exercitam a análise fílmica e têm uma introdução aos elementos técnicos, passando em seguida para as vanguardas, apresentadas dentro do seu contexto histórico e suas relações sociais. No segundo módulo, denominado “Realidade”, são discutidos elementos significadores da linguagem cinematográfica e suas relações com a construção da realidade fílmica, tais como o roteiro, o som, a luz e a montagem. Cada elemento é apresentado, principalmente, sobre dois aspectos: sua história e seu uso pelas vanguardas; e a parte técnica, associada às significações produzidas por esse uso.

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As vanguardas, enquanto movimentos de ruptura na linguagem audiovisual em diferentes âmbitos, com diferentes propósitos e resultados, fornecem material rico para desestabilizar percepções, acostumadas com um cinema que não nos tira da “zona de conforto” (LOBO et al., 2009), e evidenciar justamente as variadas possibilidades que a linguagem nos oferece, servindo de inspiração para a criação e para uma aproximação mais consciente com o cinema. Como exercício inicial de produção audiovisual, os alunos são solicitados a produzir um vídeo retratando seu cotidiano ou uma característica sua, como uma espécie de autorretrato. Ao final, eles são solicitados a produzir a trilha sonora de uma cena de filme e desenvolver a produção, em grupo, da primeira “Carta Audiovisual”. No terceiro momento, “Imaginário e sociedade I”, a construção da realidade é relacionada principalmente com o tempo histórico, o desenvolvimento de tecnologias de produção e a cultura em que está inserida a produção. Diante dessa discussão são apresentados o Cinema no Brasil e no Mundo. São dois exercícios finais no segundo ano: a resposta à primeira Carta Audiovisual e a troca, na turma, a respeito das experiências e dos sentidos gerados por cada vídeo. O terceiro e último ano da disciplina de audiovisual é divido em dois módulos: “Imaginário e Sociedade II” e “Produção Audiovisual”. O primeiro módulo tem a abordagem mais contemporânea do papel do audiovisual na sociedade e é dividido em: “Imagem Contemporânea”, onde discutimos o papel e as formas com que as imagens são usadas nas relações sociais; “Cinema, audiovisual e novas mídias”, que discute o uso das novas mídias na produção audiovisual e seu lugar de mera reprodução ou criação artística; e “Cinema Mundo”, em que são apresentados diferentes exemplos de produção contemporânea do cinema mundial. O exercício desse módulo é pensar uma ideia para a produção do curta, processo que constitui o último módulo da disciplina. Esse módulo é dividido em três etapas: pré-produção, etapa de desdobramento da ideia, passando pelo roteiro, decupagem, análise técnica e planejamento de filmagem; produção, que consiste na gravação realizada pelo grupo; e pós-produção, incluindo a montagem, edição de som e mixagem do curta. Ao longo dos três anos, participando desses momentos de experiência de novas obras, estudo, troca, análise e criação, incluindo o aprendizado reflexivo da linguagem audiovisual através de um processo coletivo de produção, o aluno vai desenvolvendo a habilidade da criatividade e da crítica, abrindo caminhos para relacionar fenômenos e processos, elaborar problematizações, pensando historicamente tempos passados, bem como a própria atualidade. Pensar e ensinar audiovisual na sociedade contemporânea é permitir ao aluno uma experiência e uma produção de conhecimento que faz com que esses próprios alunos se reconheçam dentro do universo audiovisual, não só como consumidores e reprodutores, mas principalmente como produtores, de obras audiovisuais e de crítica. Uma forma de aguçar o espírito artístico de cada um por meio das

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tecnologias, que estimulariam a esfera da autonomia criativa. Dessa forma, participa do processo de formação humana de um horizonte de criação e liberdade, permitindo aos jovens, a partir da crítica, discussão e produção de imagens na escola, problematizar o existente e imaginar novas formas de sociabilidade humana. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas, Papirus, 1993. BENJAMIN, Walter. Magia e técnica arte e política: ensaios sobre literatura e historia da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994 LOBO, Roberta; FERREIRA, José Buarque e GALVÃO, Gregório Albuquerque. Educação Politécnica e produção audiovisual: experiências com o curso técnica de nível médio em saúde. In: Estudos de politecnia e saúde: volume 4 / Organização de Maurício Monken e André Vianna Dantas. - Rio de Janeiro: EPSJV, 2009. MIGLIORIN, C. Cinema e escola, sob o risco da democracia. In: Revista Contem-porânea de educação, Faculdade de Educação – UFRJ, v.5, n.9, 2010. Disponível em http://www.revistacontemporanea.fe.ufrj.br/index.php/contemporanea/ article/view/106. Acesso em 12/10/2014. RAMOS, Marise Nogueira. O Projeto Unitário de Ensino Médio sob os Princípios do Trabalho, da Ciência e da Cultura. In: FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria. (Org.). Ensino Médio: Ciência, Cultura e Trabalho. Brasília, 2004. ROCHA, Glauber. Estética da fome e a revolução é estética. A revolução do cinema novo. São Paulo: Cosac Naify, 2006.

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