EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE CULTURAL: Reflexões acerca do tema na ótica de um professor do Colégio Marista São Luís – Jaraguá do Sul -SC

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EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE CULTURAL: Reflexões acerca do tema na ótica de um professor do Colégio Marista São Luís – Jaraguá do Sul -SC Bruno Roque Younes1 Rosana Becker2

Resumo Este artigo tem como proposta mostrar o papel do gestor escolar diante das questões de diversidade escolar. O estudo foi desenvolvido a partir de revisão bibliográfica e de observações do pesquisador na condição de professor em uma escola privada, localizada na cidade de Jaraguá do Sul –SC. A cultura africana está inserida dentro do contexto cultural da educação, influenciando a formação cultural brasileira, bem como a constituição da identidade a partir da vinda dos negros com o tráfico negreiro para o Brasil, resultando dessa forma, na cultura da qual usufruímos em nossa sociedade, e também na abordagem do racismo nos bancos escolares. De acordo com a historiografia, o negro é tido como um simples escravo, assim, há uma necessidade de mostrar ao aluno quão importante é a cultura do negro e que ele não era um simples escravo submetido às vontades do seu senhor, mas que também tinha participação na sociedade, desconstruindo assim os estereótipos estabelecidos em nossa História. Palavras-chave: Gestão. Educação. Escola. Diversidade. Negros.

1 INTRODUÇÃO

Quando nos deparamos com o universo da sala de aula, algumas questões centrais nos vêm à mente, segundo Cainelli (2009, p. 33) “a sala de aula não é o espaço onde se transmite informações, mas o espaço onde se estabelece uma relação em que interlocutores constroem significações e sentidos”. Trabalhar a diversidade cultural em sala de aula não é uma tarefa fácil. Por muitos anos a História criou um pré-conceito em torno do conceito de culturas, tendo estas definições diferentes das dos colonizadores, mesmo porque a cultura eurocêntrica é influenciadora da cultura brasileira; esta perspectiva pode ser encontrada em livros didáticos e/ou na própria fala do aluno em sala de aula e, principalmente fora dela. O trabalho do professor é desconstruir, é romper este conceito préestabelecido, estereotipado e contribuir com a constituição de novos atores sociais.

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Aluno do curso de Pós-Graduação em Gestão Escolar pelo CENSUPEG. Professora Orientadora. Mestre em Educação pela Universidade Estadual de SC – UDESC.

Tratar da pluralidade cultural em sala de aula significa gerar sempre grandes discussões. Vários teóricos desenvolveram suas teorias baseados naquilo que haviam estudado e vivenciado durante sua vida acadêmica, pois até hoje o sistema educacional recebe influência da cultura eurocêntrica. Portanto, aquele indivíduo e/ou sociedade que foge do padrão estabelecido pelos conquistadores é colocado em plano de invisibilidade, pois, se não está dentro do universo instituído socialmente, não existe. No processo ensino-aprendizagem, consideramos que a diversidade cultural é o “calcanhar de Aquiles”; tomemos como exemplo, trabalhar a sexualidade e a pluralidade cultural em sala de aula ainda é um tabu carregado de moralidade, marcado pela história de opressões que, infelizmente, possui uma grande participação significante em nossa História. Outra, importante, histórica e necessária questão a ser trabalhada em sala de aula é o racismo, pois é tido atualmente como um obstáculo à garantia da educação por restringir as oportunidades e as condições para que a população negra seja conhecida como grande influenciadora na cultura. No entanto, mostrar esse novo universo ao aluno não é um exercício fácil, mesmo porque o adolescente já possui uma informação estruturada em seu consciente; ao desconstruir isso é necessário ter cautela para que o aluno não tenha visão errônea sobre o negro e sua cultura. Nesse sentido, Carrera afirma que, O racismo tem que ser entendido como um obstáculo à garantia do direito humano à educação porque ele limita as oportunidades, ele limita as condições para que a população negra seja reconhecida como detentora de direitos. O racismo no cotidiano cria um conjunto de obstáculos que estão refletidos nas atitudes, nas discriminações habituais, mas também nas políticas públicas. Então, ele é um entrave muito concreto para que a população negra possa exercer os seus direitos (CARRERA, 2012, p. 54).

A realidade que encontramos nas escolas é que os alunos negros estão sendo expulsos das instituições, humilhados e obrigados ao mais terrível agir em prol de crenças que não são suas. É como se crianças negras e crianças indígenas não existissem na escola, por terem uma cultura diferenciada dos colegas de sala, e isso acaba por interferir na formação da identidade do negro e do índio. Ao perceber que não é bem-vinda naquele ambiente, a criança vai se fechar a tal ponto que ninguém conseguirá ajudá-la. A partir do discurso engessado em sala de aula, percebemos que não se reconhece o negro, o indígena e as pessoas com outra orientação sexual na escola; constituem apenas mais um indivíduo fora do padrão pré-estabelecido pela sociedade. Vivemos em tempos bem perversos; a Escola não é laica, apesar de o Estado ser. A intolerância em que estamos inseridos chega a ser cruel a ponto de termos exemplos de humilhação em público. Para a psicopedagoga Márcia (2009, p. 106), “cada cidadão deve ser visto de com único sujeito, com personalidade, modo de ver, sentir e com potencialidades que nem sempre são compreendidas, aceitas e bem vistas pela sociedade pela qual faz parte”. Os paradigmas citados anteriormente parecem indicar que a tarefa da escola e de todos que nela atuam, de alguma maneira, é muito complexa, porque implica não somente em participar como construtora de caráter, de personalidade e de consciência coletiva, mas também como espaço de reflexões contínuas que são acompanhadas por dinâmicas pré-estabelecidas para que este processo possa transformar a Educação. Para Behrens (2006, p.16):

A educação tem papel relevante nesse movimento de reconstrução, pois precisa propiciar meios para soterrar o paradigma conservador vigente e com ele o processo de injustiça, a visão individualista e competitiva, a violência e o desrespeito aos direitos humanos.

A direção escolar não somente visa à construção de uma instituição que busca a formação articulada entre os alunos, mas também, globalizada, para que assim, a totalidade da visão seja fundamentada em uma educação transformadora da realidade social e do mundo no qual o aluno está inserido. Este processo que está sendo transformado no interior da escola deve, impreterivelmente, reforçar o papel coletivo no contexto social, e cabe à equipe de professores mediar este campo e se comprometer a efetivar esta proposta de superação dos problemas que se encontram nos bancos escolares, para que, assim, o aluno consiga formar sua identidade.

2 O UNIVERSO DA DIVERSIDADE CULTURAL 2.1 Os mecanismos que constroem a Diversidade Cultural Quando se pensa em Diversidade Cultural, devemos sempre procurar compreender quais são os mecanismos que a nossa sociedade utiliza para estabelecer a diversidade, ou ainda, como é dado o processo nos matizes da alteridade, da diferença e da dessemelhança. A escola é um local formado por pessoas de diversos grupos étnicos, com costumes e crenças díspares. Segundo Morin (2001, p. 56): A cultura é constituída pelo conjunto dos saberes, fazeres, regras, normas, proibições, estratégias, crenças, ideias, valores, mitos, que se transmite de geração em geração, se reproduz em cada indivíduo, controla a existência da sociedade e mantém a complexidade psicológica e social. Não sociedade humana, arcaica ou moderna, desprovida de cultura, mas cada cultura é singular. Assim, sempre existe a cultura nas culturas, mas a cultura existe apenas por meio das culturas.

Diante dessa realidade, na escola do século XXI, o estudo da diversidade de culturas é de competência total do professor, no entanto, a gestão da escola deve acompanhar esse trabalho de perto, para que assim os objetivos de uma educação baseada na diversidade cultural sejam alcançados, ou seja, a construção de atividades em que todos os alunos consigam ter as mesmas oportunidades, mas com estratégias diferenciadas. Para Perrenoud (2000), o ato de enfrentar o desafio de propor um ensino que deva respeitar a cultura da comunidade em que a escola está inserida, demonstra que, constatar cada realidade social e cultural, deve ser a preocupação de todo o corpo de funcionários da escola, assim, deverá ser traçado um projeto para que possa atender a todos sem exceção. Essa afirmação está amparada pelo Art. 210 da Constituição Federal: -- Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar a formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais. Lei 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB. Pode-se complementar pelos Parâmetros Curriculares Nacionais: Pluralidade Cultural (1997). O professor, em sala de aula, diante de sua função de ensinar e orientar o aluno, percebe-se grandes dificuldades com tamanha diversidade existente no ambiente escolar, e uma delas é fazer com que todos aceitem a diversidade. Tentar estabelecer entre os alunos certos valores como: solidariedade, respeito e amizade, torna-se mais difícil a cada dia, mas o educador deve fazer com que entendam que a educação é uma diversidade e que ninguém é igual.

Para auxiliar o professor em sala de aula, o Ministério de Educação criou um documento conhecido como PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1997), que traz um dos temas transversais à pluralidade cultural. Tratar de diversidade cultural, reconhecendo-a e valorizando-a da superação das discriminações é atuar sobre um dos mecanismos de exclusão, tarefa necessária ainda que insuficiente, para caminhar na direção de uma sociedade mais plenamente democrática. É um imperativo do trabalho educativo, voltado para a cidadania uma vez que tanto a desvalorização cultural, traço bem característico de país colonizado, quanto à discriminação são entraves à plenitude da cidadania para todos, portanto, para a própria nação (PCNs, 1997, p. 21).

Dessa forma, a pedagoga Nilma (2003) vai ao encontro dos Parâmetros Curriculares Nacionais, quando destaca que a diversidade escolar vai além do reconhecer o outro, significando pensar a relação do eu e o outro, sendo que a diversidade se manifesta em todas as suas características, ou seja, todos somos sujeitos sociais, históricos e culturais, sendo assim, somos diferentes. “[...] Cada construção cultural e social possui uma dinâmica própria, escolhas diferentes e múltiplos caminhos a serem trilhados [...]” (GOMES, 2003, p. 72-74). Não podemos esquecer que estamos inseridos no processo de busca do reconhecimento das igualdades sociais, pois os professores Fazem parte de uma população culturalmente afro-brasileira e trabalhamos com ela; portanto, apoiar e valorizar a criança negra não constitui em mero gesto de bondade, mas preocupação com a nossa própria identidade de brasileiros que têm raiz africana. Se insistirmos em desconhecê-la, se não assumimos, nos mantemos alienados dentro de nossa própria cultura, tentando ser o que nossos antepassados poderão ter sido, mais nos já não somos. Temos que lutar contra os preconceitos que nos levam a desprezar as raízes negras e também as indígenas da cultura brasileira, pois, ao desprezar qualquer uma delas, desprezamos a nós mesmos. Triste é a situação de um povo, triste é a situação de pessoas que não admitem como são, e tentam ser, imitando o que não são (GONÇALVES E SILVA, 1996, p. 175).

Portanto, a escola deve conhecer seus alunos; sem isso, será impossível adotar qualquer prática educacional que venha fazer com que a comunidade e os próprios alunos reflitam sobre o meio social e cultural em que estão inseridos. A partir do momento em que conhece o seu próprio meio social, a escola poderá valorizar seus alunos em suas particularidades étnicas e culturais, desenvolvendo experiências e saberes para que, assim, possa construir saberes e aprendizagens que contribuam para que o educando adquira os valores e conhecimentos necessários para ajudá-lo a entender as diversidades de sua própria vida.

3 VALORES CIVILIZATÓRIOS: DIMENSÕES HISTÓRICAS PARA UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA Para os educadores, a educação tem sido entendida como um processo de desenvolvimento humano, ou seja, a educação escolar é responsável por formar o indivíduo em todos os padrões, desde a questão social até a cultural. Não obstante, a pedagoga Nilma Lino Gomes se opõe a essa ideia; em alguns momentos, afirma que As práticas educativas que se pretendem iguais para todos acabam sendo as mais discriminatórias. Essa afirmação pode parecer paradoxal, mas dependendo do discurso e da prática desenvolvida, pode-se incorrer no erro da homogeneização em detrimento do reconhecimento das diferenças (GOMES, 2001, p. 86)

Ao avaliarmos o conceito e o modo que a educação é processada, podemos analisar que, dentro do contexto das coletividades e dos negros, há uma necessidade de afirmar o espaço desses indivíduos na sociedade, ou seja, deve-se revitalizar a imagem do negro, mesmo porque a visão que se tem ainda é a da vitimização do mesmo através da história. A partir do século XVI, as populações trazidas pela Coroa Portuguesa para o Brasil foram distribuídas de forma heterogênea (para não causar revoltas) nas regiões litorâneas, com maior concentração nas regiões nordeste e sudeste, onde se encontrava o crescimento econômico no decorrer dos séculos XVII, XVIII e XIX, assegurado pela expansão das lavouras de cana-de-açúcar. A aquisição da mão de obra escrava negra garantiu aos senhores de engenho um grande patrimônio; enquanto isso, os negros viviam em condições precárias de vida, cabendo ao povo negro criar novos meios para tentar sobreviver a esta nova vida. Uma das formas criadas por eles foi a reverência aos antigos ancestrais, ou seja, concentraram suas culturas em algumas práticas religiosas. Até o ano de 1888, ano em que a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, a forma de escravidão no Brasil era mantida como prática necessária para que a economia do país não parasse. Neste contexto, a população negra vivenciou experiências de ter poucos direitos, assinalados em diversos documentos oficiais, sob a tutela dos senhores de terra e do Estado (CHALLHOUB, 1990; MATTOS, 1997). Nas formas individuais e até mesmo coletivas, em senzalas, quilombos, terreiros, irmandades, a identidade do povo negro foi assegurada como patrimônio da educação dos afrobrasileiros. Além de “muitos estudos dos livros”, a pessoa educada é capaz de produzir conhecimento e necessariamente, respeita os idosos, as outras pessoas, o meio ambiente. Empenha-se em fortalecer a comunidade, na medida em que vai adquirindo conhecimentos escolares, acadêmicos, bem como outros necessários para a comunidade sentir-se inserida na vida do país (SILVA, 2000, p. 78-79).

A educação formal sempre se valeu de critérios e movimentos sociais; um desses movimentos deve ser considerado: o Movimento Negro, conhecido por suas lutas sociais, nas quais busca-se uma sociedade mais justa e igualitária. Através desses movimentos, alguns conceitos valem a pena ser revisados e entendidos a partir do olhar da população excluída; no Documento Oficial Brasileiro (2001) encontra-se a seguinte responsabilidade do Estado brasileiro sobre o racismo, sendo que: O racismo e as práticas discriminatórias disseminadas no cotidiano brasileiro não representam simplesmente uma herança do passado. O racismo vem sendo recriado e realimentado ao longo de toda a nossa história. Seria impraticável desvincular as desigualdades observadas atualmente dos quase quatro séculos de escravismo que a geração atual herdou (BRASIL, 2001, p. 67).

Pesquisas têm demonstrado que o fracasso escolar dos alunos negros é resultado da discriminação destes, ou seja, não se sentem participantes do círculo social, no qual grande parte dos estudantes são estimados como superiores e, dessa forma, os alunos negros tendem a fechar o ambiente entre aqueles que também são considerados socialmente inferiores. A outorgada Lei 10.639/2003 é pontapé inicial em direção ao reparo humanitário do povo negro brasileiro, pois isso abre caminho para que a nação brasileira possa adotar novas medidas para corrigir erros do passado. Claro, não podemos ser ingênuos em crer que essas novas práticas vão apagar a história dos negros, na qual tiveram que sofrer para manter uma colônia, através de constantes abusos sociais. No entanto, que se possam diminuir os danos materiais, físicos, psicológicos resultantes do racismo e de formas semelhantes de discriminação.

3.1 A SOCIEDADE E A CONSTRUÇÃO DA DIVERSIDADE SOCIOCULTURAL A sociedade do século XXI demonstra que vivemos em um modelo que se prevalece das diferenças, admite a alteridade, no entanto, acentua a dessemelhança que, por consequência, resulta na evidência da diversidade cultural. Em decorrência disso, os tipos de comportamento social, em determinados momentos, acabam sendo utilizados de forma a reafirmarmos nossa própria identidade. Portanto, é extremamente importante que possamos entender o modo que a sociedade constrói a diversidade, assim, será necessário compreendermos como se caracteriza a diversidade cultural; para que isso aconteça, devemos usar o conceito de cultura à luz do antropólogo Laude Lévi-Strauss. O educador Castro, Laude Lévi-Strauss define cultura, Como o processo por meio do qual o homem dá sentido a si e a todas as coisas que o cercam: a natureza e outro com o qual estabelece relações de convivência. A cultura não possui conteúdo em si mesma: é produto exclusivo da condição humana. O homem é tanto seu produtor quanto é por ela produzido (STRAUSS apud CASTRO, 2000, p. 66).

Não obstante, para o sociólogo (Helman, 2003, p. 11) o conceito de cultura é, ao mesmo tempo, tudo aquilo que assimilamos de informações culturais, ou seja, desde o contato com outra etnia; dessa forma, tudo aquilo que percebemos de novo acrescentamos ao nosso modo de viver e acabamos eliminando os antigos modelos. Para Helman (2003), o sentido da palavra cultura pode se afirmar a partir do aspecto que, Cultura é um conjunto de princípios (explícitos e implícitos) herdados por indivíduos membros de uma dada sociedade; princípios esses que mostram aos indivíduos como ver o mundo, como vivenciá-lo emocionalmente e como se comportar em relação às outras pessoas, às forças sobrenaturais ou aos deuses e ao ambiente natural. Essa cultura também proporciona aos indivíduos um meio de transmitir suas diretrizes para a geração seguinte mediante o uso de símbolos, da linguagem, da arte e dos rituais. Em certa medida, a cultura pode ser vista como uma “lente” herdada para que o indivíduo perceba e entenda o seu mundo e para que aprenda a viver nele. Crescer em determinada sociedade é uma forma de enculturação pelo qual o indivíduo, aos poucos, adquire a sua “lente”. Sem percepção de mundo, tanto a coesão quanto a continuidade de qualquer grupo humano seriam impossíveis. (HELMAN, 2003, p. 12).

Assim, podemos considerar que somos produto e produtores de cultura; tendo sido por ela construídos, construímos para a sua construção e sua reformulação. Portanto, a cultura é um processo em que o homem, por meio dela, dá sentido a si e a todas as coisas que estão em seu entorno: natureza e outros meios. O universo da cultura é um sistema composto por: linguagens, parentescos, religiões, mitos, artes e economias, e isso somado, resulta no que somos socialmente. Desde o dia em que nascemos, um processo novo se inicia, conhecido como assimilação, no qual, posteriormente, convivemos e aprendemos; a partir da linguagem, uma união de informações são construídas de forma simbólica que poderá gerar várias outras simbologias. Dando continuidade à ideia do sociólogo Mario (2003), Cada grupo social estabelece para si um conjunto de regras, responsáveis por delimitar os pensamentos e as ações, além de determinar “modos” de vida. Nossas emoções, nossos valores construídos, e nossos juízos morais, éticos e religiosos são determinados culturalmente pelas regras que seguimos e construímos (OLIVEIRA apud MICHALISZYN, 2012, p. 25).

Dessa forma, precisamos respeitar a cultura do outro, para que todos possamos viver em um mundo diverso, de modo que nenhuma cultura seja superior à outra; ademais, todas as culturas são (antropologicamente falando) importantes para a formação do indivíduo social. 3.2 DIVERSIDADE CULTURAL NO CONTEXTO ESCOLAR Segundo o educador Paulo Freire (1979, p.21) “é preciso que a educação esteja – em seu conteúdo, [...] adaptada ao fim que se persegue: permiti ao homem chegar a ser sujeito, construir-se como pessoa, transformar o mundo, estabelecer com os outros homens relações de reciprocidade, fazer a cultura e a história [...].” A diversidade cultural no Brasil se caracteriza de forma peculiar dada sua riqueza, resultado da mistura de vários povos oriundos de diferentes lugares (índios, negros, portugueses, japoneses, holandeses, espanhóis, árabes, entre outros); todos estes influenciadores para a construção da identidade cultural de nosso país, embora uma cultura influencie mais a nossa sociedade do que as outras – a africana. Analisando o universo da cultura, a diversidade cultural presente nos bancos escolares nos faz reconhecer que esse espaço é um grande canal difusor de vivência e valores, perpassando diversas formas de vivência, onde muitas “culturas” se encontram; dessa forma, nos traz diversas probabilidades de trabalharmos importantíssimos conceitos para o convívio social saudável. Um importante referencial para as ações da Escola perante esse universo cultural se encontra nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Pluralidade Cultural e Orientação Sexual que, como a UNESCO (2001), estabelece reconhecimento e valorização da Diversidade Cultural a favor de uma sociedade ética e democrática, onde a diferença é vista como algo positivo e natural. As ações que devem ser desenvolvidas pelas escolas devem contribuir [...] no processo de superação da discriminação e da construção de uma sociedade justa, livre e fraterna, o processo educacional há que se tratar do campo ético, de como se desenvolvem atitudes e valores, no campo social, voltados para a formação de novos comportamentos, novos vínculos, em relação àqueles que historicamente foram alvos de injustiças, que se manifestam no cotidiano (BRASIL, 2001, p. 22-23).

O racismo é um fenômeno histórico-social, construído na sociedade a partir de conceitos pré-estabelecidos pela cultura eurocêntrica. Partindo do universo da pedagogia baseada na cultura da paz (termo utilizado por Paulo Freire), devem-se priorizar as relações de respeito mútuo, afeto e diálogo como mediador de conflitos, deitando por terra o padrão de competitividade e de individualismo tão forte e presente em nossos dias. Percebemos o pré-conceito em sala de aula, onde o colega de cor branca faz comentários com o outro colega sobre ter uma cor diferenciada ou até mesmo uma etnia diferenciada, fazendo brincadeiras desagradáveis, embora sejam inocentes por não saberem o que estão falando; já nesse contexto percebemos o surgimento da diferenciação racial em sala de aula, como por exemplo, grupos de alunos brancos e outros grupos de alunos de cor diferenciada. A partir dessa visibilidade e diferença racial é que o professor deve interferir e mostrar que essa atitude é imprópria e que todos devem ser tratados igualmente, não importando gênero, religião, opção sexual, cor ou etnia. Observações feitas nos últimos anos têm apontado para trabalhos voltados para a vertente da pluralidade cultural como eixo transversal; é de suma importância estudar e mostrar ao aluno a interdisciplinaridade de temas voltados para a cultura afro-brasileira. Não cabe mais à escola a negação de questões que envolvem a diversidade, como também não se pode negar, a partir dos

Direitos Humanos, uma cultura que atenda às necessidades de mudança de visão em nossa sociedade. 4 OS EDUCANDOS AFRODESCENDENTES DO COLÉGIO MARISTA SÃO LUÍS – JARAGUÁ DO SUL A proposta de educação do Colégio Marista São Luís, localizado no município de Jaraguá do Sul, Santa Catarina, está em consonância com as discussões nacionais relativas à Pluralidade Cultural. A instituição, além de “preparar os alunos para todas as provas de sua vida”, trabalha intensamente os seus valores, baseados nos documentos deixados pelo fundador do Grupo Marista – Marcelino Champagnat (1789-1840). Um desses valores é a igualdade social, uma vez que os Direitos Humanos dizem que o ser humano deve ser igual perante os civis e as autoridades, não havendo dessa forma, superioridade social. Para a Instituição Marista, o bem estar do aluno é o seu principal objetivo, não obstante, devemos entender que quando se fala de educação, nem todos entendem que devemos respeitar o próximo como deve ser. *A diretora educacional do Colégio Marista São Luís, Andrea Cardoso, relata que quando era estudante de pedagogia na Universidade de Blumenau, na década de 1980, viu-se frente ao preconceito por seu sentimento de minoridade em relação a uma sociedade alemã na qual a grande maioria sobressaía-se apenas pelo fato de ser descendente de germânicos e não por destaque acadêmico. Ela relata ainda que, por muitas vezes, seus textos não eram escolhidos para serem apresentados em simpósios, simplesmente por ser negra, apesar de os trabalhos apresentarem qualidade superior aos de seus colegas formandos. No entanto, Andrea não se deixou abater pelo preconceito de seus professores e colegas de formação. Ela conta que seu maior pensamento na época era: - “Eu tenho que conquistar o meu espaço da maneira mais correta, portanto não desisti, tinha que alcançar a minha posição na sociedade mostrando que eu era tão competente quanto os outros alunos”. Dessa forma, hoje ela é a diretora de uma instituição que faz parte de um grupo renomado no mundo todo, formador de cidadãos que melhor atendam aos anseios da sociedade. No Brasil há diversos relatos de discriminação racial, configurando-se como atos de inferiorização, que resultam em grande potencial de desigualdade em relação à população branca. As leis 10.639/03 e 11.645/08 estabelecem que o ensino de História da África e de Cultura Afrobrasileira devem ser incluídos nas escolas e também nos cursos de licenciatura, como por exemplo, Letras, Pedagogia, Sociologia, Filosofia, Geografia e História, para que assim os licenciados possam reconstruir a imagem do negro na atual sociedade, lembrando sempre que ele faz parte da construção da identidade do povo brasileiro. *Por fim, a professora Andrea diz que o espaço educacional é o melhor lugar para mudar a opinião social em relação a qualquer tipo de preconceito, frisando também que através da educação é que iremos conseguir mudar os hábitos sociais, em um espaço que tem como um de seus princípios básicos promover o respeito entre todos e a diversidade cultural. Como educador da instituição mencionada e especialista em História, devo afirmar que a educação e a diversidade cultural têm passado por momentos de transformações; no passado, o afrodescendente não possuía voz, hoje, ao vermos as transformações pelas quais passamos, afirmo

que não há nada mais edificante do que ver alunos negros sendo aprovados em vestibulares e ainda mais, tendo cargos de destaque na sociedade. Portanto, a sala de aula do Colégio Marista não é simplesmente um local de aprendizado; é também uma forma de ensinar a todos que devemos respeitar as culturas alheias, para que assim, possamos ser inseridos na sociedade com os conceitos de diversidades e culturas. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O papel do gestor no universo da educação e diversidade escolar deve ser tratado de forma cautelosa; deve-se analisar o contexto em que sua escola está inserida e, principalmente, qual é a sua clientela, assim, objetivos e planos poderão ser traçados para atender de forma igualitária a todos os alunos, pais e sua comunidade. Analisando por essa perspectiva, o gestor deverá entender que isso não será uma tarefa fácil, fazer com que o grupo de funcionários, alunos e comunidade consigam entender que não importam a cor, o gênero e a religião; todos devem ser respeitados, para que assim se possa viver em uma sociedade com total harmonia. Portanto, a escola deve promover várias ações envolvendo ética, para gerar em cada sujeito a sua noção de cidadania, salientando que não é apenas ele que deve fazer tal mudança, mas sim o corpo da sociedade, ou seja, a coletividade. Outro fator a se ponderar é que se deve cooperar para a mudança na situação social que atualmente reforça a mesma ideia, a da discriminação social, racial, de gênero e, por último, a desigualdade e/ou exclusão social. Dessa forma, o processo educacional e as relações sociais do dia a dia serão tidas como costume social. Não existe cultura inferior ou superior, melhor ou pior; há diferentes culturas, simples e ao mesmo tempo complexas, mas todas necessárias. Assim, o que se espera do professor é que ele tenha a decência e a clareza para entender e que possa desenvolver essa linha de novos conceitos sociais, reconhecendo o diferente apenas por diferente e não como fator classificador social.

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