Educação e pós-modernidade: caderno de estudos

June 15, 2017 | Autor: Silvânio Barcelos | Categoria: Education, Postmodernism
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SILVÂNIO BARCELOS

Educação na pós-modernidade Caderno de estudos

1ª Edição

Clube de Autores 2015 1

Público-alvo Este caderno de estudos é composto por um conjunto de reflexões destinados à estudantes do curso de pedagogia e áreas afins. Trata-se de leituras complementares que possibilitam uma visão dos problemas enfrentados pela educação no terceiro milênio ao mesmo tempo em que constitui-se como um guia para pesquisas futuras. Desta forma, não pretende-se, aqui, esgotar o tema da educação na pósmodernidade, mas sim apontar alguns caminhos epistemológicos para orientação de alunos, bem como de todos aqueles que se interessam pela área da educação como um todo, buscando-se referenciais teóricos para a elaboração de planos de aula, assim como a prática cotidiana da pedagogia entendida em sentido amplo. 2

Palavras do professor: Este é seu caderno de estudos: Educação na Pósmodernidade. Você será convidado a experimentar, de forma autônoma e crítica, os limites e as possibilidades educacionais de temáticas pós-modernas em suas interfaces com a prática docente. No transcurso de seus estudos, terá a chance de analisar parte dos problemas enfrentados no âmbito da educação dentro e fora da escola, no mundo contemporâneo marcado pela globalização. É nosso sincero desejo que você aproveite ao máximo todos os conteúdos com os quais poderá interagir de forma dinâmica e racional. Ao estudar, reflita sobre as questões que permeiam nossa prática enquanto educadores, buscando, assim, alternativas viáveis aos problemas cotidianos enfrentados no ambiente escolar. Encontra-se à sua inteira disposição, ao longo do texto, nossas sugestões de pesquisas que, certamente, o apoiarão nos momentos de estudo, ajudando-o da melhor maneira possível a construir de forma pro criativa seu próprio conhecimento, ampliando assim seu potencial enquanto profissional nesta instigante área do conhecimento humano. As atividades por nós desenvolvidas possuem a prerrogativa de ajudá-lo na compreensão dos conceitos e dos conteúdos visando, sempre, aprimorar seus conhecimentos. Aproveite ao máximo tudo o que está aqui disponibilizado, pois esse material foi preparado pensando em você.

Silvânio Barcelos

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Sobre o tema EDUCAÇÃO NA PÓSMODERNIDADE

De acordo com o filósofo francês JeanFrançois Lyotard (1924-1998) a experiência da pós-modernidade deriva da diminuição de nossas crenças em concepções totalizantes da história, que preconizavam normas de conduta e valores éticos para as sociedades ocidentais. No mesmo espaço de tempo em que a razão iluminista e a ciência melhoraram nossas condições de vida, elevando os níveis de saúde e de educação, também possibilitaram a produção de armas de destruição em massa, além de alterar as condições climáticas, ameaçando assim a própria vida no planeta. Guy Debord, na sua instigante obra “A sociedade do espetáculo” referenda um mundo sem estabilidade e estigmatizado pela ideologia desenfreada do consumismo e da alienação provocados pelos poderes econômicos e intensa atuação da mídia. É neste cenário complexo que o caderno de estudos “Educação na pósmodernidade” percorrerá junto com você, 4

estudante, alguns caminhos de superação dos problemas enfrentados no campo educacional, levantando questões importantes para se pensar a docência e a prática pedagógica.

Bons estudos!

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Indicação de Ícones Os ícones são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual. Atenção: indica pontos de maior relevância no texto. Saiba mais: remete o tema para outras fontes: livro, revista, jornal, artigos, noticiário, internet, música etc. Dicionário: indica a definição de um termo, palavra ou expressão utilizada no texto. Em outras palavras: apresenta uma expressão de forma mais simples.

Pratique: são sugestões de atividades para reforçar a compreensão do texto da Disciplina e envolver o estudante em sua prática. Reflita: momento de uma pausa na leitura para refletir/escrever/conversar/observar sobre pontos Importantes e/ou questionamentos.

Lembre-se: anotação lateral que tem a intenção de uma informação adicional, lembrete ou reforço de algo já dito.

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Sumário MAPA CONCEITUAL................................

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UNIDADE 1 História da Educação no Brasil .............

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UNIDADE 2: Pós-modernidade e globalização .......

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UNIDADE 3: Educação para uma nova era .............

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Bibliografia e fontes consultadas ..........

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Palavras finais .........................................

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Sobre o autor ...........................................

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Mapa Conceitual O mapa conceitual demonstra como a estrutura do caderno de estudos foi elaborada.

Educação na PósModernidad e

Unidade 1: História da educação no Brasil

Breve contextualização histórica sobre o percurso da educação no Brasil. Análise e crítica.

Unidade 2:

Análise histórica e sociológica do tema à partir das reflexões de autores contemporâneos

Pósmodernidade e globalização Unidade 3: Educação para uma nova era

Análise das reflexões de Edgard Morin com relação aos problemas da educação para a era planetária

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UNIDADE 1: História da Educação No Brasil

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1.1 Origens da educação Caro/a estudante Para entender a situação atual da educação no Brasil, torna-se necessário entender seu contexto histórico. Para tanto, o convidamos a realizar uma instigante viagem pelo túnel do tempo de nossa História. Aproveite!

De acordo com Dermeval Saviani, os homens e mulheres são animais diferenciados que para sobreviver e evoluir tiveram que adaptar a natureza a seus interesses. Agindo sobre a natureza e a transformando pelo trabalho eles se constituíram como seres humanos. Desta forma, nas sociedades primitivas a educação coincide com a própria vida. 10

A educação tem sua origem com o surgimento dos primeiros seres humanos.

Saviani identifica dois tipos de educação na origem de sua história: Educação dos não-proprietários: homens e mulheres educavam-se pelo trabalho. Em função da subsistência toda a experiência adquirida no trabalho era retransmitida às gerações futuras. Educação dos proprietários: ocorria em espaços diferenciados denominados “scholé”, que traduzido do grego significa escola, lugar do ócio. Não o ócio como conhecemos hoje, ato de não fazer nada ou condição de preguiça assumida pelo indivíduo. Pelo contrário, o ócio é o tempo necessário para o desenvolvimento da reflexão e da capacidade de pensar.

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1.2 Origens da educação no Brasil Vale lembrar que a educação no Brasil teve seu início com a chegada dos Jesuítas à Colônia junto com a Expedição Tomé de Souza, em 1549, sob as ordens do padre Manuel da Nóbrega. Destaca-se dois objetivos da educação jesuítica: 1. Catequizar os índios 2. Expandir a fé cristã no Novo Mundo De acordo com a historiografia tradicional, existiram dois modelos de educação praticados pelos padres Jesuítas: 1. Destinado aos índios: leituras e poucas operações matemáticas 2. Destinado aos filhos de colonos: ensino com maior grau de erudição e cultura

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Segundo Dermeval Saviani, durante os 210 anos em que os Jesuítas atuaram no Brasil, o sistema educacional foi marcado pela total ausência de espírito crítico, atendendo pouco mais de 1% da população.

Com a catequização, pretendia-se unificar o território brasileiro tendo como base o Catolicismo. Visando educar os índios, os jesuítas criaram em Salvador, capital brasileira na época, a primeira escola elementar, baseada no sistema de ensino da Europa.

Apesar de os portugueses reprovarem o trabalho dos jesuítas, as Missões brasileiras permaneceram na Colônia por mais de dois séculos. Em 1759, os jesuítas foram expulsos das colônias de Portugal sob as ordens de seu primeiro-ministro Sebastião José de Carvalho, o Marquês de Pombal. Importa ressaltar que até a data da expulsão dos jesuítas ainda não existia ensino público no Brasil. 13

A reforma educacional empreendida pelo Marquês de Pombal, após a expulsão dos jesuítas das colônias portuguesas, transferiu o comando da educação para as mãos do Estado. Extintos os colégios jesuítas, Portugal não poderia desconsiderar a enorme lacuna que se abria na área da educação em suas colônias.

Para muitos historiadores esse foi exatamente o primeiro grande problema enfrentado pela educação no Brasil.

Você concorda com os historiadores que acham que a extinção das escolas jesuíticas no Brasil provocou a primeira crise na educação no país? Caso afirmativo quais seriam as prováveis causas e consequências da crise?

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Conforme Ana Paula Seco e Tânia Conceição Iglesias do Amaral, na Colônia, apesar das várias tentativas, através de sucessivos alvarás e cartas régias, as Reformas Pombalinas no campo da educação, só logrou desarranjar a sólida estrutura educacional construída pelos jesuítas, confiscando-lhes os bens e fechando todos os seus colégios. Em lugar de um sistema mais ou menos unificado, baseado na seriação dos estudos, o ensino passou a ser disperso e fragmentado, baseado em aulas isoladas que eram ministradas por professores leigos e mal preparados.

1.3 Da Reforma Pombalina aos dias atuais Para Dermeval Saviani o período compreendido entre as reformas pombalinas e o início do século XX foi marcado pelo esforço de interpretação da educação à luz da pedagogia tradicional leiga, embora não 15

totalmente desvinculada da influência da Igreja Católica. A partir do início do século XX torna-se muito forte a influência da chamada Escola Nova inspirada na concepção humanista da educação. Este período foi marcado pela reação dos católicos que reivindicavam o retorno da escola aos moldes tradicionais.

Lembre-se: A chamada Escola Nova foi instituída no Brasil com base no ensino leigo. Ou seja, sem a influência da igreja em suas disciplinas.

A influência da chamada corrente escolanovista durou até a década de 1960, quando entra em cena o conceito de pedagogia tecnicista, cujos cursos são organizados na base de formação de técnicos 16

e de habilitações profissionais atendendo à demanda do mercado de trabalho. A pedagogia tecnicista reflui a formação básica, geral, que era a marca da pedagogia escolanovista.

reflui: mesmo que retrocede

De acordo com Dermeval Saviani, é na década de 1970 que o regime militar tenta implantar uma orientação pedagógica inspirada na assessoria americana, através dos acordos MEC-Usaid, centrada nas idéias de racionalidade, eficiência e produtividade, que são as características básicas da chamada pedagogia tecnicista. Para aprofundar seus conhecimentos acerca dos acordos MEC-Usaid indicamos a leitura da dissertação de mestrado de Maria Luíza de Isso causou uma reação de boa parte Alcântara Krafzic – UERJ, disponível no site do dos educadores no o Brasil que criticava o Domínio Público. Acesse link: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraFo ensino tecnicista. Procurou-se empreender a rm.do?select_action=&co_obra=100869 crítica da educação, pondo em evidência seu

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caráter reprodutivista, isto é, o papel de reprodução das relações sociais de produção. Evidenciava-se, assim, a concepção críticoreprodutivista de educação.

A concepção crítico-reprodutivista foi sistematizada por alguns teóricos, como Bourdieu e Passeron, com a obra A reprodução (1970); Althusser, com o artigo “Ideologia e aparelhos ideológicos de Estado”, publicado na revista La Pensée, em junho de 1970, e depois republicado na forma de livro, e Baudelot e Establet, com o livro A escola capitalista na França, que data de 1971.

A partir da década de 1970 era visível o descontentamento por parte da maioria dos educadores, principalmente no Sudeste e Sul do país, com a situação da educação em geral e sua ideologia de reprodução dos interesses do mercado de capital. Discutiamse intensamente caminhos alternativos que possibilitassem a mudança deste cenário 18

educacional. Saviani nos lembra que “se essa educação, essa forma de ensinar, não é adequada, qual será?” Havia, pois, uma expectativa muito grande entre os professores no intuito de se responder à questão: como devo me conduzir no processo educativo?”

Considerando o quadro da educação no Brasil, apontado por Saviani acima, em sua opinião como os professores deveriam se conduzir no processo educativo? Que caminhos percorrer?

Saviani, numa tentativa de apresentar caminhos de superação para esta evidente crise na situação educacional no Brasil propõe uma nova forma de se pensar a educação através do que conceituou como: pedagogia histórico-crítica. Para ele, “essa formulação envolve a necessidade de se compreender a educação no seu desenvolvimento históricoobjetivo e, por conseqüência, a possibilidade de se articular uma proposta pedagógica cujo 19

ponto de referência, cujo compromisso, seja a transformação da sociedade e não sua manutenção, a sua perpetuação.” A pedagogia históricocrítica possibilita a transformação do quadro social pela educação, representando assim os legítimos interesses da sociedade.

Preste atenção: O intenso debate acerca das práticas educativas nos meios acadêmicos, nas últimas décadas, desvela a fragilidade do sistema educacional brasileiro, e também mundial, ao mesmo tempo em que aponta novas possibilidades nesta área, como as importantes contribuições de Saviani, entre tantos outros. No entanto, esses problemas foram potencializados por uma nova consciência social, política e econômica na atualidade em função do que os pensadores denominam de “pós-modernidade”, o momento histórico em 20

que se encontram todas as sociedades contemporâneas. É exatamente sobre isso que trataremos no próximo capítulo desta unidade.

Após estas breves considerações acerca da História da Educação no Brasil, organize um esboço geral apontando os principais pontos desta história e de maneira crítica relacione estes pontos com os principais problemas enfrentados pela educação nos dias atuais, de acordo com sua experiência e suas observações.

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UNIDADE 2: Pós-Modernidade E Globalização Caro/a estudante Pensando-me em termos educacionais e, também, históricos não há como entender determinado quadro social sem levar em consideração o seu contexto histórico. Como futuros educadores/as torna-se relevante entender o momento em que vivemos para, desta forma, exercer as práticas pedagógicas no cotidiano de forma consciente e produtiva. Portanto, o estudo que se segue procurará, na medida do possível, desvelar questões epistemológicas importantes acerca do mundo pós-moderno em que vivemos. Vamos lá?

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2.1 Globalização

Antes de iniciar este sub-capítulo, vamos refletir um pouco? Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos ??? Então... O que você faria com 100 mil Reais de salário por mês? E o Que você faria com menos de 2 Reais de salário por dia? Podemos dizer que a globalização produz seus efeitos de forma igualitária para todas as camadas sociais?

Para que se compreenda o conceito de pós-modernidade, no Ocidente, é importante que conheçamos antes o fenômeno que a antecedeu e que, também, de certa forma desencadeou sua existência: a globalização. De acordo com o professor e geógrafo Milton Santos, globalização é o apogeu do mundo capitalista de um processo que 23

conhecemos como internacionalização do mundo globalizado. Os fatores que levaram a este processo são: a unicidade da técnica, a convergência dos momentos, o conhecimento do planeta e a mais valia globalizada.

Fatores que levaram à globalização do mundo: avanço da tecnologia, principalmente de comunicação; anulação das distâncias onde a difusão da informação é instantânea; conhecimento total do planeta, exceto as partes mais profundas dos oceanos e o surgimento de uma economia global.

Zygmunt Bauman, um dos mais importantes sociólogos contemporâneos, analisa o processo da globalização dando ênfase às conseqüências humanas. A supressão do tempo e espaço e o avanço da tecnologia polarizaram a sociedade, onde quem tem mobilidade se exime das responsabilidades, restando aos localizados lamber as feridas. Para ele, nos vivemos em um mundo com duas realidades distintas: nossa 24

sociedade é de consumo enquanto a grande maioria é consumida na miséria. O que Bauman diz em sua obra é que a globalização beneficia apenas àqueles que possuem mobilidade, o que quer dizer poder econômico e a liberdade advinda dele. Desta forma, o abismo que separa ricos e pobres no mundo atual está cada vez mais profundo.

Para aprofundar mais o assunto indicamos a vídeo-reportagem realizada com o geógrafo Milton Santos, onde se discute os problemas da globalização. Link: https://www.youtube.com/watch?v=UUB5DW_mnM

Vários pensadores contemporâneos discutem o grave problema do consumismo no mundo atual, entre eles destacamos Guy Debord e sua seminal obra “A sociedade do Espetáculo”. Numa brilhante analogia, Debord define o “espetáculo” como a necessidade de consumo imposta pelos interesses hegemônicos através de intensa propaganda. 25

Seminal: o mesmo que produtivo

Como futuros educadores/as, de que maneira poderíamos abordar a questão do consumismo e as conseqüências dele advindas para a vida das pessoas no mundo atual?

Vale lembrar que está em questão o conceito de consumismo como modalidade de consumo banal voltado mais para o entretenimento que as necessidades reais. Sem dúvida, este é um problema para as sociedades contemporâneas. Segundo Debord já não é mais a mercadoria que interessa, mas sim o ato de consumir.

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2.2 Por uma outra globalização Para Milton Santos a realidade é mediocremente construída resumindo vários contextos em uma única abordagem, refém dos detentores do dinheiro, poder e da informação. Deslocando-se dessa visão equivocada torna-se necessário entender a existência de três mundos distintos:

GlobaliZação Como Perversidade

Globali-zação Como Fábula

Uma Outra Globalização

A FÁBULA: No intuito de legitimar as construções imaginárias que configuram e perpetuam o sistema, os chamados “formadores de opinião” fazem uso da mais elementar e eficaz arma: a 27

“repetição”, que, ao contrário do que a aparente obviedade ilude, não extingue possíveis ideologias, mas as concretizam. Como é o caso do mito da aldeia global. A PERVERSIDADE: A mesma globalização que cria a utópica cidadania universal para uns (poucos) faz alastrar-se males morais e sociais na esquecida maioria. A OUTRA GLOBALIZAÇÃO: Possibilidade real de mudanças. Uma outra globalização supõe uma mudança radical das condições atuais, de modo que a centralidade de todas as ações seja localizada no homem e não mais no dinheiro.

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2.3

A Pós-Modernidade

Prezado/a estudante! Com este sub-capítulo, “A PósModernidade”, encerraremos a contextualização necessária ao estudo que propomos nesta disciplina, qual seja a análise dos problemas e da situação da educação na pósmodernidade. Entendemos que esta é uma questão capital para o ofício da docência na medida em que possibilita a compreensão do mundo em que vivemos e nele sonhamos, acreditando em um futuro promissor e cheio de oportunidades. Redobramos aqui nossos votos de bons estudos!

Capital: o mesmo que indispensável

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Para o filósofo francês Jean-François Lyotard, a consciência pós-moderna é a consciência de um fracasso: O fracasso da modernidade! Trata-se, conforme ele, um despertar maldito de um sonho colorido, quer seja o sonho de que a ciência e a racionalidade iluminista resolveriam todos os problemas humanos e traria a felicidade ao mundo. Este sonho, a utopia de um mundo perfeito, foi completamente enterrado com a 2ª Guerra Mundial e a destruição de Nagasaki e Hiroshima por bombas nucleares. Desde então, as comunidades ocidentais experimentam um compreensível desencanto pela ciência e pela razão.

A Idade Moderna não coincide no tempo com o advento da modernidade, sendo que esta teve seu início com as profundas transformações ocorridas no início da Idade Contemporânea, que como sabemos determinou o fim da Idade Moderna com a Queda da Bastilha na França no ano de 1789. Costuma-se associar modernidade aos avanços provocados pela industrialização do mundo ocidental.

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Em conformidade com o filósofo Luiz Felipe Pondé, em suas leituras das obras de Zygmunt Bauman, o homem e a mulher pósmodernos estão a anos-luz da idéia de solução. Marcados pela angústia porque parece haver algo de errado, são obcecados pelas questões filosóficas existencialistas: de onde viemos, quem somos, para onde vamos?

Indicamos a palestra realizada no Café Filosófico pelo Luiz Felipe Pondé, onde se discute aspectos interessantes da pósmodernidade à luz da corrente filosófica. Visite o site, e assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=58MMs5j3Tj A

Bauman utiliza-se da metáfora da “Ética do inverno” para analisar a condição em que todos nós, de uma forma ou de outra, vivemos no mundo pós-moderno. Segundo essas formulações, vivemos como se tivéssemos que caminhar sobre uma fina camada de gelo, se pararmos ela se quebra, daí a necessidade de estarmos sempre em movimento. Este notável sociólogo, indaga em suas formulações: “afinal de contas, corremos para onde mesmo”? 31

Como objeto de reflexão, convidamos você, aluno/a, a partir de sua experiência cotidiana a interpretar a indagação de Bauman “afinal de contas, corremos para onde mesmo”? Neste breve exercício, procure entender o que nos leva a viver sempre em movimento no mundo em que vivemos. Existe mesmo esta real necessidade? Isto seria voluntário ou imposto? Existem alternativas? Mudanças são possíveis?

2.4 Pós-modernidade e as relações humanas As relações sociais no mundo atual são objeto de investigações e debates tanto nos meios acadêmicos com fora deles. O pensamento sociológico de Bauman, sem dúvida alguma, constitui referência para esta importante temática que, em maior ou menor grau afeta a vida de todos. De acordo com ele, vivenciamos profundas mudanças de 32

comportamento em um mundo instável e marcado por incertezas. Para ele, o individualismo mudou de forma radical a forma como entendemos o sentido da palavra amigo. Em passagem irônica de seu livro Modernidade Líquida, Bauman pergunta quantos amigos temos de fato, se na verdade para a maioria das pessoas pós-modernas o número de contatos virtuais é ilimitado? Para Bauman, amigos na pós-modernidade pode significar apenas “contatos virtuais”, ou seja, uma nova forma de relacionamento toma forma nas sociedades atuais.

Indicamos a entrevista gravada com Zymunt Bauman, onde ele fala sobre as relações sociais e os laços humanos. Visite o site e aproveite o vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=LcHTeDN IarU

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Bauman desvela em suas observações sociológicas as mudanças ocorridas com as relações religiosas nas sociedades ocidentais. Para ele, se trata de formas amplamente subjetivadas e, por isso, nos limites estreitos do particular. Trata-se, portanto da conjugação entre a liberdade e os interesses pessoais.

Religião no mundo pós-moderno: salvo expressivas exceções, baseiam-se costumeiramente nos princípios de respeito à liberdade e individualidade.

Lembre-se! Bauman não se refere às religiões em particular, mas sim, seus estudos sociológicos referem-se a tendências comportamentais observáveis em contextos urbanos de parte da Europa.

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Amor Líquido, título de uma importante obra de Zygmunt Bauman, onde o autor apresenta o resultado de suas observações acerca das relações amorosas pós-modernas, demonstrando de forma simples, nem por isso menos complexas, a fragilidade dos laços humanos. O autor assevera que no mundo pós-moderno as relações são assim caracterizadas: Iniciam-se e se findam com extraordinária fluidez: Falta de comprometimento Busca incessante por prazer Como o prazer é momentâneo, em pouco tempo as relações são trocadas por outras. Cada parceiro ocupa seu próprio espaço no interior dos relacionamentos. Qualquer transgressão é entendida como violação de direitos. Relacionamentos virtuais: Descartáveis Romances líquidos, flexíveis Entre celulares e iphones vive-se uma solidão ilusoriamente acompanhada. Temor ao amor por outra pessoa e o comprometimento. 35

Profunda contradição: De um lado a vontade de ser livre (individualismo) De outro a constante busca por alguém ideal, como se existisse uma pessoa perfeita.

David Paul Ausubel defende, em suas formulações, uma pedagogia baseada na “aprendizagem significativa”, teoria que foi disseminada por expressiva parcela de pensadores na área da educação. De forma bem simplificada, sua teoria postula que o conhecimento só é construído na relação ensino/aprendizagem, se possuir a prerrogativa de significar algo para o sujeito. Tendo em vista tudo que vimos neste capítulo, com relação à condição e o comportamento humano na pós-modernidade, tente imaginar o cotidiano em salas de aulas, com alunos/as irrequietos, com múltiplas identidades, que são bombardeados continuamente com uma carga muito grande de informação e, sobretudo, carentes (salvo importantes exceções). Depois, enumere realizando comparações entre o que você viu sobre a pósmodernidade e o quadro imaginado. Tire suas conclusões, compare, mensure, critique, construa seu próprio conhecimento a partir do que já possui. CONQUISTE...

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UNIDADE 3: Educação para uma nova era

Fonte: http://www.benoliveira.com/2013/08/ensino-pos-modernoe-alunos-distraidos.html

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Caro/a estudante! Antes de iniciarmos o capítulo final desta unidade, “Educação para uma nova era”, o/a convidamos a ler o texto abaixo do jornalista Bem-Hur dos Santos Costa de Oliveira, para uma breve reflexão: Ensino Pós-moderno e Alunos Distraídos Com o desenvolvimento tecnológico, as escolas, universidades e centros de ensino estão lidando com o desafio de prender a atenção dos alunos. Estes adolescentes e jovens estão cada vez mais dispersos em sala de aula. Enquanto o professor está ministrando a aula, há quem esteja escrevendo, conversando, mexendo no celular, navegando na internet, pensando na vida, ouvindo música, lendo um livro. Se antes o professor era autoridade, agora é visto pelos alunos como um plano de fundo, um mero ornamento. O desinteresse e a falta de concentração são algumas das características do ensino atual. O professor age como se estivesse em um monólogo. Ninguém faz questão de ouvir, interagir, aprender. [...] Eles freqüentam as escolas, mas delegam os seus futuros à sorte. (Disponível em: http://www.benoliveira.com/2013/08/ensinopos-moderno-e-alunos-distraidos.html acesso em 02/05/2014.

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Você concorda com o texto do jornalista BemHur em sua análise da situação atual na educação em nosso país? Uma boa aula deveria ser baseada na autoridade do professor/a? Quais seriam os motivos de dispersão dos alunos apontado pelo autor? Quais fatores contribuíram para o desinteresse e a falta de concentração no ensino atual? Seria mesmo atitudes “intencionais” de jovens e adolescentes “delegar os seus futuros à sorte”? Entendemos que estas são importantes perguntas que devemos considerar na prática da docência. Pense um pouco nelas e juntos vamos debater estas questões no capítulo que se segue. Aproveite, este é o momento certo para isso. Lembre-se sempre que o conhecimento é construído graças ao seu esforço. Bons estudos!

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3.1 Educação na era planetária Para refletir! Dias atrás, ao preparar meu plano de aula me dei conta da necessidade de rever certas práticas e conceitos que, ocasionalmente, podem se transformar em rotina, algo indesejável. Revejo minha experiência no ensino básico, sempre muito prazerosa embora os altos e baixos. Pensando criticamente, indago se aquelas aulas possuíam algum significado para os alunos? Eram provocativas? Despertavam curiosidades? Havia comunicação? O que estudaremos a seguir se refere exatamente a essas importantes questões. Aproveitem! Edgar Morin, economista, historiador, geógrafo e advogado, defende a incorporação dos problemas cotidianos ao currículo e a interligação dos saberes. Critica o ensino 40

fragmentado. Ele vê a sala de aula como um fenômeno complexo, que abriga uma diversidade de ânimos, culturas, classes sociais e econômicas, sentimentos... Um espaço heterogêneo. Para ele, os currículos desconsideram a emoção, o desejo, o medo, a incerteza, a paixão humana. As disciplinas não se comunicam entre si. Se tudo está interligado na realidade humana, então, deduz Morin, o sistema educacional, salvo importantes exceções, não está preparado adequadamente para um ensino/aprendizagem significante. Morin propõe um ensino voltado para a realidade cotidiana do aluno, com toda sua complexidade. Desta forma haverá significação no processo ensino/aprendizagem.

O conhecimento deve ser fruto do esforço de todos os atores no processo do ensino/aprendizagem, onde o aluno, à partir de sua experiência no mundo, constrói novos saberes que vão se integrando ao que já 41

adquiriu. Neste processo, o/a educador/a deixa de ser o centro do processo para se constituir como parceiro na dinâmica educacional. Lembremos de Paulo Freire, que na clássica obra “Pedagogia do Oprimido”, nos fala nos seguintes termos: “O educador, que aliena a ignorância, se mantém em posições fixas, invariáveis. Será sempre o que sabe, enquanto os educandos serão sempre os que não sabem. A rigidez dessas posições nega a educação e o conhecimento como processo de busca.” (Freire, 2005, p. 67).

Na citação de Paulo Freire acima, o autor se refere ao conceito de “educação bancária” que se tornou clássico na bibliografia tradicional. Segundo esse conceito, o aluno, supostamente sem conhecimento prévio, receberia do professor, ilusoriamente detentor de todo saber humano, as informações como se sua cabeça fosse um tipo de caixa bancária, um local para depósito de saberes.

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Edgar Morin, pensando em uma relação de ensino/aprendizagem para a “era planetária”, sugere observar a “natureza incerta do conhecimento”. Sempre existe o risco de erro, de ilusão. A percepção que temos do mundo exterior não é uma espécie de fotografia dos nossos olhos. Os estímulos luminosos recebidos pela retina são traduzidos por uma infinidade de células em sinais binários. Os sinais são transportados pelo nervo óptico ao cérebro onde se tornam uma percepção. Todo o conhecimento é uma tradução, uma reconstrução. Lembre-se: Morin utiliza o exemplo abaixo para justificar sua teoria de que todo conhecimento é uma “construção/tradução”: Mesmo que em nossa retina a imagem das pessoas que estão no fundo da sala seja pequena, e as da primeira fila seja grande, jamais veremos as pessoas do fundo da sala como anãs, e da primeira fila como gigantes.

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Essas questões apontadas por Morin desvelam o caráter subjetivo do conhecimento humano. Estamos constantemente em transformação, a vida em torno de nós é transformada a cada instante. Quando se propõe para as relações educacionais levar em consideração o caráter humano subjetivo, deseja-se um ensino/aprendizagem que possua significação para todos. Para isso necessitamos compreender a natureza destas transformações. Neste sentido, Morin sugere a observação do que convencionou chamar de “teoria da complexidade”. Convidamos a você, estudante, a empreender uma viagem maravilhosa através das formulações deste autor, construindo desta forma, seu próprio conhecimento.

Teoria da complexidade (Edgar Morin)

A pertinência Conhecimento pertinente permite situar informações recebidas no seu contexto geográfico, cultural, social, histórico. 44

Correlação entre o todo e a parte Na complexidade não há só a parte que constitui o todo, há também o todo na parte.  Exemplo 1:  Cada célula da pele humana contém a totalidade de seu patrimônio genético, embora grande parte esteja inibida, exprimindo-se somente as que compõem o tecido celular. No entanto a partir dessa célula pode-se criar um clone total do organismo.

 Exemplo 2: Um copo de vinho do Porto  Existem partículas no copo de vinho que se formaram nos primeiros segundos do Universo, como o hidrogênio e os derivados do átomo do carbono.  Outras elementos derivaram-se da evolução do mundo vegetal.

Num copo de vinho do Porto temos toda a história do Cosmos e, simultaneamente, a originalidade de uma bebida encontrada apenas na região do Porto.

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Se, de acordo com Morin, cada parte está integrada ao todo e no todo contém cada parte, no que se refere às relações humanas, e também às relações educacionais, poderíamos dizer que também são integradas?

Sociedade planetária Cada indivíduo é uma parte da sociedade, da mesma forma que a sociedade como um todo se encontra em cada indivíduo através da:  Linguagem  Cultura  Família “Somos indivíduos no planeta, e o planeta está em cada um de nós”

Vamos refletir?

Na era planetária, o que é ser humano? Que é identidade humana? Qual é a condição humana?

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Edgar Morin nos lembra que A “realidade humana não é só ciências humanas, ela se encontra também nas ciências biológicas, somos animais. Somos também máquinas físico-químicas, térmica. Somos formados pelas mesmas partículas que constituíram o universo. Fazemos parte da aventura do cosmos, da vida. O sistema educacional mundial desprezou essa consciência e o resultado foi um mundo devastado e ameaçador. Desta forma, Morin nos mostra como tudo está integrado no universo, bem como nas relações humanas, para ele, nas escolas deve-se ensinar o princípio da autonomia.

Importância da LITERATURA  Ensinar a autonomia é ensinar a viver e a conhecer os problemas da sua vida. As ciências humanas e físicas são necessárias, mas não insuficientes. Existe outra face do conhecimento relacionada à subjetividade. Daí a importância da literatura, por exemplo. LITERATURA: Ensina a conhecer melhor o outro. QUALIDADE POÉTICA: “Nos ajuda 47

a entender que se nos emocionamos com poemas é porque falam de nossas esperanças, de nossas verdades profundas.”

Indicamos a vídeo-conferência proferida por Edgar Morin, onde o autor faz um resumo interessante de suas teorias educacionais. Assista e aproveite ao máximo: https://www.youtube.com/watch?v=kzHjJd3cJCg

Faça uma relação entre as questões trabalhadas por Edgar Morin e as dificuldades apontadas pelo jornalista Bem-Hur no sistema de ensino atual, levando em consideração que vivemos em um mundo dinâmico, pós-moderno e com profundas mudanças no comportamento humano.

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3.2.

A escola mata a criatividade?

Caro/a estudante! Todo ser humano é criativo em maior ou menor grau. Esta é uma questão fundamental para ser pensada em nossa prática docente no cotidiano das escolas. De acordo com tudo que já estudamos até agora, acreditamos que o conceito de ensino/aprendizagem significativo já está bem sistematizado. Não obstante precisamos elevar esse nível de consciência a um novo patamar. É o que propõe o prof. Ken Robinson, aclamado mundialmente como especialista em educação, criatividade, inovação e recursos humanos, tendo trabalhado para diversos governos na Europa. Pensando na sua formação de estudante do curso de Pedagogia, o/a convidamos a realizar um passeio poético através das teorias revolucionárias deste notável autor. Aproveite, estude, expanda seus limites, sua especialização depende somente de você mesmo.

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Preste atenção à charge abaixo e reflita sobre a realidade que você conhece do sistema educacional, a partir de sua própria trajetória estudantil.

Fonte: http://blog.geama.com.br/blog/wpcontent/uploads/2012/03/escola-mata-criatividade.jpg acessado em 4/5/2014.

O prof. Ken Robinson, em sua instigante obra “O Elemento Chave”, publicada pela Ediouro, nos lembra que todos nós nascemos com uma capacidade muito grande de criatividade e imaginação. Para ele o “Elemento Chave” é o ponto de encontro entre a sua aptidão natural e a paixão pessoal. Nascemos com extraordinários poderes de imaginação, inteligência, sensibilidade, intuição, 50

espiritualidade e percepção física e sensorial, mas usamos apenas uma fração, ou nem isso, dos nossos talentos.

LEMBRE-SE De acordo com Ken Robinson, todos nascemos com capacidade criativa e uma fecunda imaginação. O problema é que, via de regra, usamos pouco a criatividade em nossa vida. O que a escola tem a haver com isso?

De acordo com as teorias deste autor, a escola mata a criatividade, obviamente não se trata do sistema educacional como um todo, pois como sabemos existe uma infinidade de organizações educacionais com excelente desempenho. Robinson fala de maneira genérica que o sistema educacional falha ao não incentivar os talentos natos de seus alunos.

Nato: que é de nascença

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O autor questiona o ensino tradicional baseado na relação unilateral entre professor(a) e seus alunos(as). Robinson vai mais além ao afirmar que seria desejável em nossa prática docente que levássemos em consideração o potencial criativo e a imaginação dos alunos(as). Nessa nova visão da educação não somos nós, os educadores, que definimos o tipo de ser humano que queremos “formar”, mas sim, a criança que escolhe que tipo de pessoa ela quer ser, vale dizer, que ela pretende tornar-se.

De acordo com Robinson, o educador deve prestar atenção ao potencial criativo e a imaginação de seus educandos, orientando-os no sentido de desenvolver suas aptidões naturais.

Para o especialista norte-americano em Psicologia Educacional, David Ausubel, o conhecimento prévio do aluno é a chave para a aprendizagem significativa, tal como elucida 52

Paulo Freire em suas teorias educacionais. Para Ausubel, aprender significativamente é ser capaz de ampliar e reconfigurar idéias préexistentes na estrutura mental, relacionando e acessando novos conteúdos. Quanto maior o número de informações acessadas e assimiladas, mais consolidado estará o conhecimento. Todo ser humano já possui talentos e habilidades inatos, somado a isso toda a carga de conhecimento adquiridos ao longo de sua vida. O ensino/aprendizagem se tornam significativos se considerados em conjunto as habilidades e os conhecimentos pré-existentes.

Para complemento dos conteúdos deste capítulo, sugerimos a leitura das obras: 1. O Elemento-chave, de Ken Robinson, publicado pela Ediouro. 2. Psicologia Educacional, de David Ausubel et alii, publicado pela Interamericana. A vídeo-conferência de Ken Robinson denominada “A escola mata a criatividade”? trás importantes contribuições para a compreensão de suas teorias revolucionárias. Assista ao vídeo e aproveite! Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=yFi1mKnvs2w

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3.3 Saberes necessários à educação do futuro: As contribuições de Edgar Morin Em 1999, a UNESCO solicitou ao filósofo francês Edgar Morin a sistematização de um conjunto de reflexões que servissem como ponto de partida para se repensar a educação do século XXI. Preparado a partir do trabalho conjunto de educadores em todo o mundo, o estudo resultou no livro “Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro”, que critica as falhas da educação e propõem novos caminhos para a formação de jovens, futuros cidadãos do mundo. A seguir destacamos as idéias centrais dos saberes propostos por Morin e sua equipe de trabalho: 1.Evitar as cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão: •

Como a percepção do mundo é sempre uma reconstrução, estamos todos sujeitos ao erro e a ilusão.

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2. Os princípios do conhecimento pertinente: •

É preciso ter uma visão capaz de perceber o conjunto. É necessário colocar o conhecimento no seu contexto.

3. Ensinar a condição humana: •

Podemos perceber alguns aspectos do homem biológico em Biologia, alguns aspectos psicológicos em Psicologia, mas a realidade humana é indecifrável. Somos indivíduos de uma sociedade e fazemos parte de uma espécie.

4. Ensinar a compreensão: •

É importante compreender não só os outros como a si mesmo, pois o mundo está cada vez mais devastado pela incompreensão.

5. Enfrentar as incertezas: •

Apesar das escolas ensinarem somente as certezas, como a gravitação de Newton e o eletromagnetismo, 55

atualmente a ciência tem abandonado determinados elementos mecânicos para assimilar o jogo entre certeza e incerteza, da micro-física às ciências humanas. 6. Ensinar a identidade terrena: •

Os problemas estão todos amarrados uns aos outros. É preciso mostrar que a humanidade vive agora uma comunidade de destino comum.

7. A ética do gênero humano: •

Cabe ao ser humano desenvolver, ao mesmo tempo, a ética e a autonomia pessoal (as nossas responsabilidades pessoais), além de desenvolver a participação social (as responsabilidades sociais), ou seja, a nossa participação no gênero humano, pois compartilhamos um destino comum.

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LEMBRE-SE

Edgar Morin, em suas teorias, propõe que o educador deve levar em consideração uma relação ensino/aprendizagem pertinente, tal como Ausubel e a aprendizagem significativa. Estes autores representam uma nova corrente de pensamento na área da educação que, entre outras coisas, busca a solução para um ensino mais produtivo, dinâmico e condizente à realidade do mundo globalizado. Conforme Morin, deixamos de pertencer, em certo grau, a uma determinada região e devemos lutar por uma cidadania planetária. Ser ético, portanto, significa preocupar com as questões humanas em âmbito mundial.

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Caro/a estudante! Esperamos que tenha aproveitado integralmente todas as possibilidades que foram disponibilizadas nesta unidade. Como atividade final, propomos que elabore um plano de aula para uma determinada disciplina e tema à sua escolha, levando em consideração tudo que foi aqui discutido e estudado. Depois sugerimos que faça uma revisão crítica do plano de aula indagando se a mesma possui: Significados para os alunos? Se de certa forma poderá despertar a criatividade? Se condiz com o mundo pós-moderno em que vivemos? Em suma, se através de seu conteúdo a relação ensino/aprendizagem poderá se concretizar!

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Bibliografia e fontes consultadas • •



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Ausubel, D. P. A aprendizagem significativa. São Paulo: Moraes, 1982 Bauman, Zygmunt. Globalização: as conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1999. Bauman, Zygmunt. Modernidade e ambivalência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. Bauman, Zygmunt. Ética pós-moderna. São Paulo: Paulus, 1997. Bauman, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004. Bauman, Zygmunt. O mal-estar da pósmodernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. Debord, Guy. A sociedade do Espetáculo: 1931-1994. Disponível em: www.ebooksbrasil.org/eLibris/socespetaculo.html acesso em 22/Setembro/2013. Freyre, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. Lyotard, Jean-François. A condição pósmoderna. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004.

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Morin, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. UNESCO, Cortez Editora. Morin, Edgar. Terra Pátria. Edgar Morin e Anne Brigite Kern. Ed. Instituto Piaget. 2001. Oliveira, Rafael Santos de. Seminário (CPGD/UFSC). Resumo da obra: Por uma outra globalização, Milton Santos. 2006. Robinson, Ken. O elemento chave. Ediouro, 2010. Santos, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2002. Saviani, Dermeval. Pedagogia históricocrítica: primeiras aproximações. Campinas: Autores Associados, 1995.

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1.4 PALAVRAS FINAIS Caríssimo/a estudante! Esperamos que de certa forma os conteúdos trabalhados tenham significado algo importante para você. Sabemos,e isso é evidente, que o conhecimento é fruto de seu próprio esforço, no entanto nos cabe a responsabilidade da mediação nessa dinâmica de aprendizagem. Ao preparar os seus planos de aulas leve sempre em consideração as profundas mudanças que ocorreram no mundo contemporâneo, em função da globalização. Vivemos a mudança de paradigmas sociais, políticos e econômicos que afetam nosso modo de ver o mundo, e sobretudo a área da educação. Qualquer pessoa, partícipe consciente de sua condição, possui grande facilidade de acesso à informação em escala global. Não obstante, informação não é conhecimento e aqui se localiza o nosso terreno, o chão do educador. Penso que educar no mundo pós-moderno é levar em consideração o sujeito em sua complexidade e em suas interações com a sociedade. Isso significa que o conhecimento deve possibilitar ao sujeito a capacidade de interagir de forma consciente com seu mundo, em busca de sua própria felicidade. Esta, aliás, é uma bela concepção de educação!

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Lembre-se, sempre! Você já é vencedor/a, continue se esforçando assim e conquiste seu lugar no mundo! Prof. Silvânio Barcelos

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1.5 Sobre o autor Possui graduação e mestrado em história, pelo Programa de pós-graduação em história, da Universidade Federal de Mato Grosso onde realiza, atualmente, o curso de doutorado na mesma área. Tem como foco central de suas pesquisas a história dos quilombos em Mato Grosso e seus desdobramentos. Publicou o livro “Quilombo Mata Cavalo: “a terra dos ancestrais”, pela NEA em 2014, além de alguns artigos e resenhas publicados em revistas científicas eletrônicas. Participa do GEA Grupo de Estudos Agrários, UFMT e é membro do corpo editorial da Revista Outras Fronteiras, também da UFMT, e Revista Invest na Educação, da rede privada, exercendo a função de membro parecerista. Atua profissionalmente como docente em cursos de pós-graduação na rede privada.

Email’s: [email protected] [email protected] Blog: http://silvaniobarcelos.blogspot.com.br/

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