Educação para a Economia Criativa e sua Relação com o Design

July 11, 2017 | Autor: Cristopher Bertoni | Categoria: Design, Economia Criativa
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Educação para a Economia Criativa e sua Relação com o Design Cristopher Faoro Bertoni Bacharel em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda – PUCRS Mestrando em Design no Centro Universitário Ritter dos Reis – Porto Alegre/RS [email protected] Heloísa Moura Doutora em Design – Institute of Design, Illinois Institute of Technology Centro Universitário Ritter dos Reis – Porto Alegre/RS [email protected] André Luís Marques da Silveira Doutor em Informática na Educação PPGIE/UFRGS Centro Universitário Ritter dos Reis – Porto Alegre/RS [email protected] Resumo: Os setores e processos que têm a criatividade, em especial a cultura, como insumo têm sido responsáveis por uma parcela cada vez maior da atividade econômica em diversos países. Componentes do que veio a ser conhecido como ‘economia criativa’, abrangem, dentre outras áreas, a Arquitetura, Artes Cênicas, Música, Cinema, Software, Design e Moda. Neste artigo são apresentados alguns aspectos referentes à educação para a economia criativa e sua relação com o Design, através de uma revisão de literatura e análise documental de obras contemporâneas internacionais e nacionais. Ao lado de exemplos, indicam-se, também, algumas recomendações para a inovação no ensino superior, voltadas para as disciplinas dos setores criativos. Como considerações, são discutidas algumas implicações para o currículo; sugerindo-se a ampliação do conceito de “economia” para “ecossistema” criativo; e indicando-se a necessidade de pesquisas mais aprofundadas para avaliação dos pressupostos apresentados, bem como para a identificação e catalogação de referências e práticas de vanguarda em universidades de diferentes países.

1 Introdução No ano de 1994, o governo Australiano lançou uma política nacional de cultura chamada de Creative Nation [Nação Criativa] para reenquadrar a presença da cultura na agenda política do país, reconhecendo o seu lugar central na vida do povo australiano e sua importância para a sociedade e para a economia (COMMONWEALTH OF AUSTRALIA, 2013). Em 1998, o governo do Reino Unido adotou essa abordagem de suporte político às indústrias culturais e criativas com o lançamento do livro Creative Britain [Grã-Bretanha Criativa] que destacava o importante papel da criatividade através de uma emergente economia criativa. Esse documento apresenta definições e um mapeamento pioneiros das indústrias criativas e gerou um paradigma político que foi estudado, adaptado e até copiado por muitos países ao redor do mundo (BAKHSHI; HARGREAVES; MATEOS-GARCIA, X Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação SEPesq – 20 a 24 de outubro de 2014

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2013). Esses dois casos foram os primeiros sobre a discussão política relacionada às indústrias e a economia criativa. Em âmbito acadêmico foram as obras de Richard Caves (2000), John Howkins (2007) [obra lançada em 2001]; e Richard Florida (2011) [obra lançada em 2002], dentre outras, que deram validade aos termos e conceitos dessa nova economia. Em 2002, na Austrália, foi realizado o primeiro simpósio acadêmico sobre o tema. Intitulado New Economy, Creativity and Consumption Symposium [Simpósio da Nova Economia, Criatividade e Consumo], foi sediado pela Faculdade de Indústrias Criativas da Queensland University of Technology e teve a participação de acadêmicos da London School of Economics, do Massachussets Institute of Technology (MIT) e da New York University. Como resultado, desse evento foi publicada uma edição especial do International Journal of Cultural Studies [Revista Internacional de Estudos Culturais], em março de 2004, que contribuiu para o conhecimento científico sobre o tema. Também em 2004, em São Paulo, foi realizado um painel temático sobre as indústrias criativas dentro da XI Conferência da UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development – Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento) que se tornou um marco importante projetando maior visibilidade e espaço da temática nas agendas políticas das Nações Unidas e no cenário político dos países participantes (MIGUEZ, 2006-2007, 2011). Apesar dessas primeiras abordagens públicas sobre o tema, no Brasil, somente em 2011 foi consolidada a constituição da Secretaria da Economia Criativa (SEC), dentro da pasta do Ministério da Cultura, a fim de fomentar e desenvolver os setores criativos na sociedade e economia nacional (BRASIL, 2011). O debate sobre as indústrias e a economia criativa ganhou força e visibilidade nas primeiras décadas do século XXI em todo o mundo, confirmando a importância de compreender e estudar esse fenômeno. A definição dominante nos últimos anos foi a sugerida pelo governo britânico: as indústrias criativas “São aquelas [...] que têm sua origem na criatividade, habilidade e talento individuais e que têm um potencial para geração de empregos e riqueza por meio da geração e exploração da propriedade intelectual.” (BRITISH COUNCIL, 2005, p. 5, tradução livre dos autores). Outra conceituação, apresentada pela UNCTAD é a seguinte: Em resumo, a chamada “economia criativa” é um conceito amplo e em evolução que está ganhando terreno no novo pensamento econômico. A economia criativa aparece como uma mudança das estratégias de desenvolvimento mais convencionais centradas nas determinantes dos termos de comércio com foco nas commodities primárias e na fabricação industrial, para uma abordagem holística multidisciplinar, que lida com a interface entre a economia, a cultura e a tecnologia, centrada na predominância de produtos e serviços com conteúdo criativo, valor cultural e objetivos de mercado (SANTOS-DUISENBERG, 2008, p. 58).

No Brasil, de modo a evitar interpretações equivocadas com o termo indústria e sua relação com atividades fabris, de larga escala, massificadas e seriadas, o termo adotado para tratar do tema foi “setores criativos”, e cuja definição dada pela SEC é a seguinte: “Setores criativos são todos aqueles cujas atividades produtivas têm como processo

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principal um ato criador gerador de valor simbólico, elemento central da formação do preço, e que resulta em produção de riqueza cultural e econômica.” (BRASIL, 2011, p. 22). Dentre os setores criativos definidos pela UNESCO em 2009, estão: Patrimônio Natural e Cultural; Espetáculos e Celebrações; Artes Visuais e Artesanatos; Livros e Periódicos; Design e Serviços Criativos; Audiovisual e Mídias Interativas; Turismo; Esportes e Lazer; Patrimônio Imaterial; Educação e Capacitação; Registro, Memória e Preservação; e Equipamentos e Materiais de Apoio (BRASIL, 2011). O design é uma disciplina central da economia criativa e, pelas suas características de interdisciplinaridade e poder de mediação e tradução, desempenha um papel importante nesse cenário. Assim, este trabalho traz alguns aspectos referentes à educação para a economia criativa e sua relação com o design, através de uma revisão de literatura e análise documental de obras e documentos contemporâneos de autores de países pioneiros sobre o assunto. Apresentam-se, também, alguns exemplos e recomendações para a inovação no ensino voltado para as disciplina criativas. Nas próximas seções do artigo, apresenta-se o referencial teórico sobre o assunto abordado distribuído da seguinte forma: criatividade, design e inovação; educação para o design e para a economia criativa; implicações possíveis para o ensino; e, apresentam-se as considerações finais do trabalho. 2 Criatividade, Design e Inovação De acordo com Von Stamm (2003), a criatividade é a capacidade de gerar novas ideias como ponto de partida para a inovação. Ser criativo significa ser capaz de olhar para os problemas de uma maneira inusitada, sendo essa uma das formas de trabalhar dos designers. Criatividade, design e inovação são palavras chave para o discurso do desenvolvimento econômico e social. São atributos desejados e necessários. Cox (2005) defende que o design pode contribuir significativamente para melhor desempenho dos negócios no cenário competitivo de hoje. Manzini (2008) e Florida (2011) sugerem que a criatividade, a inovação e o design podem promover desenvolvimento social e sustentável, além da visão puramente econômica. Os planos pioneiros do Reino Unido para as indústrias criativas, com as ideias e políticas propostas, segundo Cox (2005) e os autores Bakhshi, Hargreaves e Mateos-Garcia (2013), já não são mais adequados para o cenário de crescente competitividade com a emergência de novas potências econômicas mundiais. Os autores sugerem que esses programas sejam revigorados, de modo que haja maior compreensão e consciência sobre o assunto para que as políticas de fomento aos setores criativos sejam mais efetivas e que as instituições de ensino superior tenham capacidade de formarem melhores líderes e especialistas criativos. Na Austrália, um dos caminhos para as ações do plano de governo para a os setores culturais e criativos, chamado de Creative Australia [Austrália Criativa], com versão atualizada em abril de 2013 tem como dois de seus objetivos: (1) aumentar as oportunidades para as indústrias criativas do país de modo que contribuam para a economia como líderes em inovação e motores de produtividade e competitividade em todos os setores industriais; e (2) alto reconhecimento do design como uma capacidade ubíqua para inovação, através da inserção do pensamento estratégico em design no sistema de inovação da nação. Para o governo australiano, os negócios criativos implantam energia e

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criatividade para gerenciar negócios sustentáveis e competitivos. No plano da SEC (BRASIL, 2011), definiu-se que a economia criativa brasileira, para se desenvolver de modo consistente, deveria incorporar o entendimento da importância da diversidade cultural do país, a sustentabilidade como fator de desenvolvimento local e regional, a inovação como força cultural e de vanguarda e, por fim, a inclusão produtiva de forma cooperativa e solidária. A adoção de políticas inovadoras para o desenvolvimento dos setores e da economia criativa pode ser capaz de promover a adequação ou o surgimento de novas infraestruturas institucionais, novos negócios e novas normas culturais, através das forças da criatividade, do design e do panorama futuro das emergentes tecnologias da informação e da comunicação (BAKHSHI; HARGREAVES; MATEOS-GARCIA, 2013). Neste sentido ressalta-se a afirmação de ARAYA e PETERS (2010, p. XX, tradução livre dos autores): Esses movimentos trouxeram para o primeiro plano formas de produção do conhecimento baseadas em senso de comunidade e guiado por ideias que não somente de lucratividade; e colocaram a questão de não somente um “gerenciamento do conhecimento”, mas do design de “instituições criativas” incorporando novos padrões de trabalho.

Assim, sugere-se que conjugação entre instituições e sociedade seja necessária para compor uma rede modal de desenvolvimento sustentável, visto que a criatividade é uma característica humana. Bakhshi, Hargreaves e Mateos-Garcia (2013) propõem a construção de um “sistema criativo de inovação” que seria composto pelo poder público, por instituições diversas e pelas pessoas – empreendedores, investidores, políticos, educadores –, sendo que as redes de relacionamento são o que constituiriam sua coesão. Esse sistema deveria ser capaz de disseminar rapidamente as informações sobre novas oportunidades, recursos disponíveis e melhores práticas para ajudar os seus diversos agentes a coordenar suas atividades. As instituições precisam de organização e inteligência criativa a fim de promover inovação e educação através dos seus atores. Ao considerar a criatividade como vetor de desenvolvimento econômico e social e as pessoas como agentes transformadores abordase o tema da educação para o design e para a economia criativa. 3 Educação para o Design e para a Economia Criativa Nesse sistema criativo de inovação pressupõe-se a existência de um sistema educacional que deveria fornecer talentos com o conjunto certo de habilidades para o mercado e para a sociedade. “No caso da economia criativa isso inclui as habilidades técnicas e artísticas para fazer o trabalho criativo, mas também as habilidades comerciais e gerenciais necessárias para convertê-lo em valor comercial.” (BAKHSHI; HARGREAVES; MATEOS-GARCIA, 2013, p. 48, tradução livre dos autores). Cox (2005) sugere que o ensino da criatividade deve estar presente nos cursos tecnológicos, científicos e, também, na área de gestão e negócios. Ao mesmo tempo, aqueles que estudam as artes criativas devem conhecer o contexto no qual suas ideias serão aplicadas, havendo a necessidade de um ensino que transpasse por diversas disciplinas.

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O conhecimento é adquirido e gerado pelas pessoas e a criatividade é fruto da imaginação das pessoas, portanto é importante que elas sejam bem educadas (BRIDGSTOCK; HEARN, 2010). O talento criativo é uma fonte primária de valor e, portanto, “[...] uma economia criativa crescente precisa de uma força criativa de trabalho cada vez maior.” (BAKHSHI; HARGREAVES; MATEOS-GARCIA, 2013, p. 96, tradução livre dos autores). Os membros dessa força de trabalho criativo precisam ser imbuídos de competências educacionais de tipo técnico e científico, criativo e cultural e de negócios e gestão. Nesse sentido, Cox (2005) aponta que há algumas instituições sendo pioneiras num tipo de abordagem mais multidisciplinar e na formação de alunos com habilidades mais gerais, que possam transitar entre diversas disciplinas e grupos de trabalho. Para Bakhshi, Hargreaves e Mateos-Garcia (2013) os conhecimentos, habilidades e atitudes mais adequadas para a formação de profissionais criativos de alta qualidade para o século XXI são: (1) capacidade de síntese de ideias interdisciplinares; (2) habilidades técnicas e artesanais para aprender fazendo (learning by doing); (3) trabalho colaborativo e em equipe (o que os autores chamam de soft skills [habilidades “macias”]); (4) gerenciamento de projeto, devido à complexidade que alguns projetos criativos podem assumir; (5) gerenciamento financeiro, planejamento, marketing; e (6) facilidade de adaptação e segurança frente às mudanças. Contudo, os autores afirmam que as instituições de ensino superior não produzem o tipo de talento que as indústrias criativas precisam, indicando um desencontro entre a formação e a demanda do mercado por esse tipo de profissional. Os motivos para que isso ocorra, segundo os autores são vários. Dentre eles: (1) estudantes mal informados perseguindo cursos de formação igualmente mal definidos; (2) pouca colaboração e articulação entre as universidades e as empresas de micro e pequeno porte, nas quais uma grande parte da força criativa atua; (3) falta de agilidade para as mudanças dentro dos currículos e dos cursos nas universidades; e (4) estrutura organizacional rígida e inércia institucional dentro das universidades (BAKHSHI; HARGREAVES; MATEOS-GARCIA, 2013; COX, 2005). 4 Implicações Possíveis para o Ensino do Design Para vencer algumas dessas barreiras, Cox (2005) recomenda: que sejam criadas conexões mais íntimas e produtivas entre as universidades e as pequenas empresas; que os cursos de ensino superior preparem os estudantes para melhor trabalhar em conjunto e compreender outros especialistas, promovendo a transdisciplinaridade no ensino; e que sejam criados centros de excelência para cursos multidisciplinares combinando gestão, engenharia, tecnologia e as artes criativas. Deste modo, o design, enquanto disciplina com características interdisciplinares, com seus processos projetuais particulares e capacidades de integração e mediação, além de setor central na economia criativa, pode ser pensado como um guia que permite uma mudança cultural e criativa necessária no cenário educacional (BEST, 2011). Na visão de Cox (2005), Best (2011), Bakhshi, Hargreaves e Mateos-Garcia (2013) e do governo australiano (COMMONWEALTH OF AUSTRALIA, 2013) o design é um dos

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principais potencializadores para inovação efetiva. “O design é uma capacidade universal para resolver problemas e proporcionar competitividade para produtos e serviços. Deste modo, é um veículo substancial para o setor [da economia criativa] para obter vantagem de novas oportunidades.” (COMMONWEALTH OF AUSTRALIA, 2013, p. 91, tradução livre dos autores). Considerando a importância do design, portanto, torna-se fundamental que as instituições de ensino superior desenvolvam capacidades de design de alto nível. Novas formas de se pensar, tais como o pensamento em design, o pensamento sistêmico e o pensamento integrativo, se apresentam como sugestões para que possam ser criados e projetados produtos, negócios, serviços e sistemas, acima de tudo educacionais e inovadores (BEST, 2011). Bridgstock e Hearn (2010) afirmam que a educação deveria emular e incorporar uma abordagem holística no sentido de que “A centralidade do capital humano para a economia criativa oferece um ponto de partida para se pensar sobre o design de sistemas educacionais para a economia criativa.” (BRIDGSTOCK; HEARN, 2010, p. 7, tradução livre dos autores). Os autores indicam, então, a existência de quatro fatores chave para a educação para a economia criativa: (1) formação continuada para profissões específicas de domínio criativo; (2) inovação – educar para a criatividade, mas também para o empreendedorismo e para a gestão; (3) transdisciplinaridade – interação, tradução e síntese do conhecimento entre diversas disciplinas pertinentes, bem como de suas subdisciplinas; e (4) capacidade de relacionamento em rede para construir e manter relacionamentos pessoais e profissionais com os outros para benefício mútuo. Alguns exemplos coletados em uma pesquisa inicial, que indicam um movimento de transformações no ensino das disciplinas da economia criativa ao redor do mundo, podem ser elencados. A Queensland University of Technology (QUT), na Austrália, foi a primeira faculdade a ter um curso de graduação em Indústrias Criativas. Atualmente são oferecidos cursos com formação dupla unindo Indústrias Criativas com Serviços Humanos, Negócios ou Tecnologias da Informação (QUEENSLAND UNIVERSITY OF TECHNOLOGY, 2013). Na Universidade de Brighton, no Reino Unido, dois cursos de design podem ser destacados: (1) Design Futures (Design para o Futuro) – que tem uma abordagem interdisciplinar, formando designers generalistas que podem atuar em diversas organizações e estruturas sociais; e (2) Sustainable Design (Design Sustentável) – dirigido a pessoas que querem dirigir sua atuação profissional de forma criativa em direção à sustentabilidade e se tornarem agentes da transformação da sociedade (UNIVERSITY OF BRIGHTON, 2013). Cox (2005) indica, em sua obra, alguns exemplos de instituições e cursos que promovem uma abordagem de ensino voltada para especializações mais envolventes e multidisciplinares, e com maior interação e colaboração entre universidades e pequenas empresas. 5 Considerações Finais Quais são os benefícios existentes para quem estuda e desenvolve os conceitos de economia criativa? O que muda para as pessoas que fazem parte dos setores criativos?

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Pode-se dizer que se apresentam oportunidades, em termos de políticas públicas para as empresas e profissionais dos setores criativos, à medida que a economia criativa contribui de forma crescente para o desenvolvimento dos países. Além disso, a força criativa, ao se apropriar desses conceitos, se apresenta como uma rede, uma classe de agentes que geram valor econômico e transformação social, promovendo o bem-estar nas comunidades em que atuam. Existem novas formas de trabalho com maior colaboração e transparência. Novas oportunidades surgem a partir da mudança de comportamento das pessoas. Novos modelos de negócios, novas visões, novas transações substituem os modos convencionais de atribuição de valor aos produtos, serviços e negócios. As principais mudanças acontecem em redes através da interação, do relacionamento e da influência das pessoas. As redes de inteligência coletiva, possíveis pela evolução das tecnologias da informação e da comunicação, dá o poder para as pessoas e, assim, surge o que Manzini (2008) chama de empreendimentos sociais difusos e organizações colaborativas. As comunidades criativas aplicam sua criatividade para quebrar os modelos dominantes de pensar e fazer e com isso, geram descontinuidades locais e sistêmicas, promovendo mudanças na sociedade e no ambiente. Cada vez mais as pessoas, as organizações e as instituições precisam compreender o design e as indústrias criativas enquanto promotores de ganho econômico e social. Ao mesmo tempo os profissionais de design e dos setores criativos devem ter maior capacidade de compreender, igualmente, o mundo dos negócios, o contexto social nas suas regiões de atuação e as peculiaridades de outras disciplinas com as quais irão se envolver e colaborar. Desse modo, pode-se sugerir que seja possível a criação de sistemas mais éticos, justos e diversos; de uma economia mais responsável e próspera; e de um ambiente naturalmente equilibrado, configurando um movimento de inovação social que se inicia pela melhor formação dos estudantes, em especial daqueles da chamada força de trabalho criativa. O designer, enquanto conector pode ajudar a sintetizar as ideias das pessoas para propor soluções criativas e inovadoras capazes de melhorar o mundo. Pode-se considerar, então, que há uma oportunidade e uma necessidade para um ensino vocacional e de desenvolvimento profissional contínuo nas disciplinas dos setores criativos, onde podem atuar as instituições de ensino formal e não formal, de âmbito público e privado. A integração entre capital público e privado para desenvolvimento, que se configura com a denominação de “negócios 2.5”, nos quais há geração de valor social e econômico ao mesmo tempo, surge como uma realidade e se apresenta como uma área de atuação interessante para os profissionais criativos. Algumas das implicações desses fatores para o currículo e para a educação para a economia criativa podem ser: (1) a necessidade de criação de novos cursos com maior integração de diversas áreas do saber; (2) estruturas curriculares não lineares com percursos personalizados; (3) movimento de transdisciplinaridade dentro dos currículos; (4) abordagens metodológicas e projetuais múltiplas; (5) educação voltada para a sustentabilidade irrestrita (consciência ambiental, cultural, social e econômica) e para a ética. A magnitude dos problemas que se apresentam em todo o mundo, exige uma reflexão integradora, complexa sobre o desenvolvimento que não somente voltada para o aspecto econômico. O termo economia criativa, apesar de ainda muito recente e não compreendido pela grande maioria das pessoas, pode ser que já não seja mais adequado.

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Para se pensar em termos de sociedade, seria melhor pensar em sociedade criativa ou sistema criativo. Ampliando, ainda, o conceito para a sustentabilidade, sugere-se que passe a se pensar em termos de “ecossistema criativo”, constituindo-se, talvez um novo campo do conhecimento. Desse modo, como educar profissionais dos setores criativos para que haja essa compreensão ampliada sobre a ação humana e a manutenção do equilíbrio no planeta? É possível essa tomada de consciência por estudantes já no ensino de graduação ou deve-se pensar em fomentar isso somente em nível de pós-graduação? Apresenta-se, assim, a possibilidade de pesquisas e análises detalhadas de práticas de ensino e currículos de cursos de formação para as indústrias criativas, com foco principal no design, oferecidos por universidades de vanguarda de diferentes lugares do mundo a fim de tentar responder a estas e outras perguntas. Agradecimentos Gostaríamos de expressar os agradecimentos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. Referências BAKHSHI, Hasan; HARGREAVES, Ian; MATEOS-GARCIA, Juan. A Manifesto for the Creative Economy. London: NESTA, 2013. ARAYA, Daniel; PETERS, Michael A. (Orgs.) Education in the Creative Economy: Knowledge and Learning in the Age of Innovation. New York: Peter Lang, 2010. BEST, Kathryn. What Can Design Bring to Strategy? Designing Thinking as a Tool for Innovation and Change. Rotterdam: Inholland University of Applied Arts, 2011. BRASIL. Ministério da Cultura. Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011-2014. Brasília, DF, 2011. Disponível em: . Acesso em: 27 mai.2013. BRIDGSTOCK, Ruth S.; HEARN, Gregory N.; Education for the Creative Economy: Innovation, Transdisciplinarity, and Networks. in: Araya, Daniel; Peters, Michael A. (Eds.) Education in the Creative Economy: Knowledge and Learning in the Age of Innovation. New York: Peter Lang, 2010. p. 93-116. BRITISH COUNCIL. Mapping the Creative Industries: the UK context. London, 2005. CAVES, Richard. Creative Industries: Contracts Between Art and Commerce. Cambridge: Harvard University Press, 2000.

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COMMONWEALTH OF AUSTRALIA. Creative Australia: National Cultural Policy. [S.l.], 2013. Disponível em: . Acesso em: 11 dez.2013. COX, Sir George. Cox Review of Creativity in Business: Building on the UK’s Strenghts. London: Crown, 2005. FLORIDA, Richard. A Ascensão da Classe Criativa: e seu papel na transformação do trabalho, do lazer, da comunidade e do cotidiano. Tradução de Ana Luiza Lopes. Porto Alegre: L&PM, 2011. HOWKINS, John. The Creative Economy: How People Make Money from Ideas. 2nd ed. London: Penguin Books, 2007. MANZINI, Ezio. Design para a Inovação Social e Sustentabilidade: Comunidades criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro: E-papers, 2008. MIGUEZ, Paulo. A Economia da Cultura como Campo de Estudos e a Novidade da Economia Criativa. In: BRASIL. Ministério da Cultura. Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011-2014. Brasília, DF, 2011. P. 95-99. Disponível em: . Acesso em: 27 mai.2013. ______, Paulo. Repertório de Fontes sobre Economia Criativa. Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Salvador: [s.n.], 2006-2007. Disponível em: . Acesso em: 25 ago.2013. QUEENSLAND UNIVERSITY OF TECHNOLOGY. Disponível em: . Acesso em 28 nov.2013. SANTOS-DUISENBERG, Edna dos. Economia Criativa: Uma Opção de Desenvolvimento Viável? In: REIS, Ana C. Fonseca (Org.). Economia Criativa como Estratégia de Desenvolvimento: uma visão dos países em desenvolvimento. São Paulo: Itaú Cultural, 2008. P. 52-73. UNCTAD - United Nations Conference on Trade and Development. Creative Economy Report 2008: The Challenge of Assessing the Creative Economy: towards Informed Policymaking. Geneve: United Nations, 2008. Disponível em: . Acesso em: 31 ago.2013. UNIVERSITY OF BRIGHTON. Disponível em: . Acesso em: 28 nov.2013.

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