Educação, práticas educativas e estágio supervisionado

June 5, 2017 | Autor: Telmir Soares | Categoria: Ensino, Pedagogia, Estágio Supervisionado, Práticas Educativas, Pedagogia da Terra
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SUMARIO

Editor-chefe: Railson Moura Diagramação e Capa: Editora CRV Revisão: Os Autores Conselho Editorial: Prof. Dr". Andréia

Silva Quintanilha Sousa (I_INIR{JFRN) Prof. Dr. Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRzu) Prof, Dr. Carlos Alberto Mlar Estêvâo (Universidade do Minho. da

UMINHO, Portugal) Prof. Dr. Carlos Federico DominguezAvila (UMEURO - DF) Prof. D". Carmen'lereza Velanga (trNE)

Prof, Dr. Jailson Alves dos Santos (LiFRf ) Prof. Dr. Leonel Severo Rocha (URI)

Profl.

tr.

Lourdes Helena da Silva (LIFV)

Prof. DÉ. Josania Portela IrFPI) Profl.

ffi.

Maria de Lourdes Pinto deAhneida GTNfCAMP) Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (lJFOpA)

Prof. ff. Prol Dr. Paulo Romualdo Hemandes (INIFAL - MG) Prof. Dr. Cesar Gerónimo Tello (Universidad Nacional de Três Prof. ff. Maria Cristina dos Santos Bezerra (tIFSCar) Prof Dr. Celso Conti (UFSCar) de Febrero -

Argentina)

Rof. D". Gloria

Faririas

kón

(L/rrivenidade de La Flalana Cuba)

Prof. Dr. Sergio Nrures de Jesus G.RO)

ff. ff.

Prof. Dr. Francisco Carlos Duarte (PUC-PR)

Prof. Prof.

Prof Dr. GúllennoArias Beáón lUniversidade de I-a Har,.ara - Cuba) Prof Dr'. Joao Adalberto Campato Junior (FAp - Sp)

Prof. Dr. Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA) Prof. ff. Tânia Suell'Azevedo Brasileiro (UFOpA)

Solange Helena Xirnenes-Rocha (UFOPA) Sydione Santos (UEPG PR)

CIP.BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS.

PEDAGOGIA DA TERRA: uma proposta formativa para o homem e a mulher do campo do Oeste Potiguar.... ........11 Maria Antonia Teixeira da Costa

OS ALUNOS DO PROJETO PEDAGOGIA DA TERRA/UERN: .......27 historias de vida, singularidades e formação

...

Hostina Maria Ferreira do Nascimento

PEDAGOGIA DA TERRA: relato de uma experíência na UERN

RJ

P388

EDUCAÇÃO, PRATICAS EDUCATIVAS E ESTAGIO

Pedagogia da Terra : saberes, práticas e lições I organização MariaAntonia Teixeira da costa , Hubeônia Morais de Alencar. - l. ed. - curitiba, pR : cRV 2014. 222 p.

Inclui hibliografia ISBN 978-8 5-441-007 4-6 1. Educação - Brasil.

......47

Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira

SUPERVISIONADO

...65

Maria Veralucla Pessoa Porto, Telmir de Souza Soares

O PROJETO PEDAGOGIA DA TERRA, CONVÊNIO 98.000/2005 (INCRAJUERN): uma experiência pedagogica singular ....

....83

Brígida Lima Batista Fêlix , Edna Lima Batista de Melo

I. Costa, Maria Antonia Teixeira da. II. Alencar. Hubeônia

Morais de.

ESTAGIO SUPERVISIONADO COM JOVENS E ADULTOS DE ASSENTAMENTOS DA REFORMA AGRARIA DO OESTE POTIGUAR

l4-13030 CDD: 370.981 CDU:37(81)

.,...,.97

Maria Antonia Teixeira da Costa, Vera Lucia de Abreu

11t06t2014 13t06t2014

A VONTADE DA MEMORIA: Pedagogia da Terra 2014 Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 1411212004. Todos os direitos desta edição reseruados pela:

Editora CRV Tel.: (41) 3039-6418 \wvw. ed itoracrv. com. br E -mail : sac(ôeditoracrv.com.br

na biografia de alunos e professores

.

.. 113

Ana Lucia Oliveira Aguiar

A LEITURA NO MEIO RURAL: memórias e formação leitora de alunos assentados.... Hubeônia Morais de Alencar

.....129

64

OLIVEIRA, L. c. s. Pedagogia da terra: escada de oportunidade. Jornal de Fato. Disponível em: . Acesso em: l7 maio 2006.

EDIJCAÇAO, PRATICAS EDIJCATIVAS E ESTAGIO

PRIGOGINE, J. o fim das certezas. 3. ed. São paulo: EDUEp, 1996. RICHARDSON, R. Pesquisa social. 3. ed. Rio de Janeiro: contra-

STJPERVISIONADO

ponto, 1996.

RUDIO, F. v. Introdução ao projeto de pesquisa científica. 31.

Maria Veralúcia Pessoo Porto

ed. Petrópolis: Vozes, 2003.

sANTos, B. s. Introdução a uma ciência pós-moderna. 4.

Tblmir de Souza Soares ed.

Rio de Janeiro: Graal, 1989. ZAKRZEVSKI, s. B. Por uma educação ambiental crítica e emancipatória no meio rural. Revista Brasileira de Educação Ambiental. Brasília: RBEA, 2004.

Introdução No ârnbito das licenciaturas, o que comumente se entende por prática educativa se restringe ao espaço da sala de aula. Aliás, a maioria das reflexões sobre educação, de modo geral, trata da sala de aula e da relação professor-aluno como o foco da atividade pedagógica. Muito dessa concepção perpassa as nossas disciplinas pedagogicas, indo das aulas de didática e estrutura do ensino às práticas de ensino e aos estágios supervisionados. A sala de aula, espaço privilegiado da atuação docente, constitui-se no limite da atividade pedagógica.

Tal compreensão dessa perspectiva unilateral do conceito

de educação pode ser constatada ao consideraÍrnos os conceitos ligados ao exercício de formar professores: expressões como licenciatura, pedagogia, didática etc. exprimem ut-na exclusividade do direcionamento da educação para o conceito de forrnação no âmbito das instituições formais de ensino. O mesmo pode ser percebido na constituição da grade curricular das licenciaturas, em seu caráter cumulativo e progressivo' ao contemplar disciplinas de psicologia, didátic a, até organtzação da educação numa crescente, visando, ao flnal de todo o processo, dar uma visão geral dos saberes necessários à prática educativa, parecendo ser essa a proposta comum dos currículos. Uma nota destoante nessa proposta tão harmônica de compreensão curricular se encontra justamente na disciplina Práticas Educativas, que aponÍapara uma compreensão mais alargada da atividade docente.

PEDAGOGIA DA TERRA: saberes, práticas e lições

Gostaríam": expor aqui argumas reflexões sobre 9.. a experiência com a disciplina coordànação de práticas Educativas, junto ao Projeto pedagogia da Terra, da universidade do Estado do Rio Grande do Norte (,ERN). Têndo o curso de pedagogia, do projeto Pedagogia da Terra, parte da carga horária das suas disciprinas destinada a atividad., uiu.n.iais, a'p.oportu;;r, a disciprina co_ ordenação de práticas Educativas consistiu em visitar instituições para, por meio de entrevistas junto_ aos seus responsáveis, verificar, se nas

necessitem de relações sociais para desenvolverern as suas características próprias, não vivem dentro daquilo que consideramos como

nível pessoal. Entre os vários conceitos de "pessoa", ulll está diretamente relacionado coln a palavra. Jeffreys, na obra A Educação: sua nanrezo e seu proposiÍo, alerta para o seguinte: A palavra tem, pelo menos, duas outras implicações. Urna delas é o que podemos qualificar de responsabilidade racional e

atividades desenvorvidas pera instituiçãoiuriu a presença de por outro lado, havia a necessidaa. aa u,uãçào

;f#::li;::

moral. Esperamos que uma pessoa assLlma a responsabilidade

'.,

pelo que e, dtz e faz. Faz parÍe do significado da palavra, e nào aplicaríamos a unla criatura, como uma abelha ou urna fonniga, cujo comportamento é cegamente instintivo. (JEFFREYS,

Educação: natureza e propósito

1975,p.23).

Para iniciar as nossas discussões sobre a educação e, poste_ riornrente, ampriá-ras para refletirmos sobre como merhor d,inamizar as disciplinas de estágio supervisionado nos cursos de ricenciaturas nas universidades, retomaiemos arguns conceitos crássicos sobre a educação' os quais permeiarn desàe os crássico, g..gn, da Antiguidade, dispostos na paideia, sobre u ro*uçáo ào rro-em grego à frrndamentação firosófica dos crássicos, pratão, Aristóteles e o nosso contemporâneo paulo Freire. Perceberemos que, apesar da distância cronológica entre platão e Paulo Freire, a compreensão sobre a educação, ern seu sentido mais genuíno e verdadeiro, converge. para pratão, a educação não é o que alguns apregoam que era seja. por exempro, aqueres que dizem intro_ d.-ir ciência numa alma em que ela não exirt", se inserissem a vista em olhos cegos, de formà a criar erementos "o*o fonnais que sistema_

ticamente lhe dariam a elucidaçâo de toda a realidade. A educação seria, p_or conseguinte, ,,a aÍtedesse desejo, a ma_ neira mais f;lcir e mais efica z de fazer dar avorta a esse órgão, não a de fazer obter a visão, pois já a tem, mas, urna vez que ere não está na posição correta e não orha para onde deve, dar-rhe os meios para isso"

(PLATÃO

, lg4g, p. 3n). Quando Aristóteres decrarou: ..o homem é um animar porí_ tico",,estava simpresmente afirmando o fato básico da vida, o de_ senvolvimento adequado de um ser humano só pode se processar no seio da "póris" ou comunidade organizada. Embora os animais

I

Í I

1

Ora, a afirmação de que o comportamento em nível pessoal é racional e moral não significa que as pessoas sejam invariavelmente racionais e morais, mas que, para merecer o reconhecirnento de "pessoa", o indivíduo deve pelo menos compreender o que e o colnportamento racional e moral, de forma que o ser humano, a pessoa, reconheça a si mesmo como autor de seu proprio comportatnento, o'é", permitindo a responsabilidade e a perfeita correlação pelo que "dí2" e "faz" .Tal clareza e reconhecimettto só são possíveis quando, como diz Platão, permite-se ao orgão da visão a direção correta, o que só será permitido por meio da educação. Da mesma forma, viver em comunidade, como propõe Aristóteles, só é possível quando nos permitirnos, enquanto pessoa, ao estágio da contemplação, procurando a tnediação, o meio termo e o discernimento de nossas ações. Dessa maneira, os elementos formais, sistematicamente elaborados, organizados nas universidades como instrumentos pedagógicos, deveriam se apresentar na condição de meios para a arte de educar. Não seriam condições, pois essas já "estão" e 'osão" a própria natureza. Os elementos formais seriam o que consolidaria o propósito de facilitar o voltar a si próprio, à natureza. Também Paulo Freire, em sua obra Ação Cultural para a liberdade, afirma: "Transformar o mundo através de seu trabalho, 'dizer' o mundo, expressá-lo e expressar-se são o próprio dos seres humanos. A educação, qualquer que seja o nível em que se dê, se

PEDAGOGTA DATERRA:

fará tão mais verdadeirâ r;ruurlo rrrais estimule o desenvolvimento desta necessidade radical dos seres humanos, a de sua expressividade" (FREIRE, I 981, p. 24). Percebemos que o que comumente se entende por prática educativa no âmbito das licenciaturas peÍrnanece restrito ao espaço da sala de aula. Aliás, a maioria das reflexões sobre educação, de modo geral, trata da sala de aula e da relação professor-aluno como o foco da atividade pedagogica. O importante é a obrigatoriedade do cumprimento das disciplinas pedagógicas: de didática e estrutura do ensino às práticas de ensino. Todavia, não se pensa ou se articula a ampliação dos conteúdos dessas disciplinas para a sociedade, permitindo um tratamento político. Parece que são elementos intransponíveis ao ambiente de sala de aula. Como nos diz Paulo Freire, a educação, em qualquer que seja o nível ou espaço, fonnal ou não formal, escolar ou não escolar, far-se-á tão mais verdadeira quanto mais estimule e amplie o desenvolvimento da necessidade de expressividade dos seres humanos.

A educação escolar e o universo das práticas educativas Diante do disposto anteriormente, podemos afirmar que o indivíduo ou o existir é individual, contudo, só se realiza em relação com outros existires. Por isso mesmo, corroboramos com o que nos diz Paulo Freire, em Educação como prática da liberdade: "[...] para o homem, o mundo é uma realidade objetiva, independente dele, possivel de ser conhecida. E fundamental [...] partimos de que o homem é ser de relações e não só de contatos, não apenas está no mundo, mas com o tnundo" (FREIRE, 1982, p. 39). A disciplina Coordenação de Práticas Educativas parte do pressuposto de que a educação se dá por meio de práticas que extrapolam o espaço da sala de aula. Pensar a educação significa pensar os espaços em que o educador pode atuar, os molnentos em que seus saberes são necessários e as condições nas quais sua atuação pode enriquecer os processos educativos onde quer que eles estejam ou nas mais variadas formas em que eles aconteçam. Vemos, assim, surgirem outros espaços, outras instituições, novas dimensões para o processo de ensino-aprendizagem e novos papéis a seÍem desempenhados pelos educadores.

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liço"t

cooldenação de Práticas A atividade vivencial da disciplina diversas de ca-

visita as instituiSões Educativa, .onrotiàou-se na endiversiflcados' Por meio de rater,funções

t ;;;i";s

mmbém

trevistasjuntoaosseusresponsáveis,foraverificadoque,entreas váriasatividadesdesenvolvidaspelasinstituições,encontrávamoso para a atuação de um educador' espaço, o momento e as condições para àa abertura das instituições Tal resultuao i*pii.a a verificaçao

sabe' contratar educadores' inicianque as visitações que estávamos Somos conscientes de a mesmo' isso por que, diferenciado e do apresentavam u* t uuuthà razáo' essa Por tambérn U':li:,:"^t recepção poderia ter tratamentos espannossos pesquisadores com algumas instituifões receberam.os da etapa a O iato e que' após

receber

estagiárà", qut*

to, outras colaboraram e incentivaram'

perplexidud".o*utarefaedosdesencantosedissaboresresultantes positivo possível: não o.i*uriu de ser o mais das visitar, o ,.rul,ado

asinstituiçõesvisitadas,.,,,uu-g.undernaioria,desenvolviamatique demande. ãnrino-aprendizagem vidades ligadas ao processo corn formação em Pedagogia' u ,,ruçáo á.'u* proÍissional

davam

Alémdisso,muitasinstituições,-aposasvisitas,,deram.secontada

necessidadedeumprofissional."*,-perfileducativomaisdefinidoereconheceramquepoderianratécontarcomestagiáriosnoseu quadro funcional'

UmbomexemplodoqueestamosfalandoaçontecenoDe(DETRAN/RN), que conta com partamento Nu.ionui o. Trânsito jovens do enstno atividades

.o-o,

aulas de direção defensiv-1.para

o' idosos' o Vivendo e Aprendendo; medio; projeto voltado pu'u priadio Machadão; e projeto de multiprojeto de Escola Mirirn ro Tais atividades de trânsito junto às escolas. plicação de eàucadores perpassam o formal e o info'mal

t""tlÜ;lJiÍ;

t''upttnl

demandas da sociedade

c onchecita c i arl de pronto-Atendimento

ini (u PA), in-

p'i-o'dial a saude' reconhece que é' que tem como preocupa-çao comunlcaeducador para auxiliar na dispensáv.l a ât ruçao ae um

çãoeformaçãodospacientes.lnclusive,essajáéumarealidade consumada,recentementegarantidaatravésdoeditalno0012007, da qual a.secretaria de Estado de 15 de dezàmbro de zooz, feto do Estado do do Governo Administração e dos Recurror'ú.rrnànos

RioGrandedoNorterealizou.o,,..,,,opúblicodeprovasdestina-

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PEDAGOGIA DA TERRA: saberes, práticas e lições

do a selecionar candidatos para provimento de vagas e cadastro de reserva do quadro perrnanente de pessoal da secretaria Estadual de Saúde Pública em várias áreas. Dentre elas, foram destinadas 05 (cinco) vagas para pedagogos. o que observamos e acreditamos ser importante salientar é que

A pesquisa da qual participamos é uma oportunidade de demonstrar que as instituições aqui representadas por seus diversos

tais atividades, pura e simplesmente pela sua nome ação, irnplicam a necessidade da atuação de um educador, de forma que é fato a ampliação da área de trabarho desse profissional, assim como con_ sumada a mudança na compreensão do conceito de educação. Ern ambiente formal, sistematizam-se os meios mais eficazes para ser_ virem de instrumentos a urra boa qualidade na educação. Em con_ trapartida, em ambientes não formais, vivencia-se a educação nas fonnas mais variadas e beras, caraçterizando-se em espaços cada

vez maiores e variados.

Temos relatos das visitas a presídios, cuja função principar é, ou pelo menos deveria ser, o processo de ress ocialização dos detentos. Ademais, foram realizad.as visitas a diversas instituições,

como: o abrigo de idosos de Mossoró (Arnântino câmara), que tem

projeto de recreação e de cuidados com a higiene pessoal; o I,sti_ tuto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis

(IBAMA), que desenvorve um projeto de educação ambientar;

o

Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (INATERN) ea

Petrobras, que desenvolvem ou apoiarn projetos educativos. varia_ dos são os exemplos.

são indiscutíveis as ações e os investimentos sociais gerados pela Petrobras: apoio a produções artísticas; resgate da cultura; fi_ nanciamento de projetos e program a para capacitação profissional, corlro o Programa Petrobras de Alfabetização (sEMEAR), o Fes_ tival de Teatro da UERN (FESTUERN), que tem como proposito reunir escolas públicas para apresentar à comunidade manifesiações artísticas de teatro, rnúsiça e dança, representando um marco nas

relações da universidade com as comunidades das várias cidades do Estado do Rio Grande do Norte, dentre outros. Essas ações repre_ sentam um momento singular na construção do conhecimento sobre

a cidadania, implicando o reconhecimento de direitos e deveres possibilitando o usufruto de bens materiais, sirnbólicos

e

e curturais, antes negados àqueles que não se veeln enquanto sujeitos sociais.

segmentos apresentam finalidades que, apesar de diferentes, oferecenl aos seus grupos de envolvidos a oportunidade para pensar em comullr em uma sociedade melhor, pensar em comum em torno de problemas objetivos que envolvern sua atuação etn seus vários campos de trabalho. Ao mesmo tempo, colocamo-nos a refletir sobre as organizações várias que temos, como as que podemos intitular de organizações coercitivas: Complexo Penal Estadual Agrícola Dr. Mário Negócio e Conselho Tutelar de Mossoró-RN, embora consista no principal rneio de controle sobre os membros dos "níveis inferiores" (prisioneiros sociais). O principal rneio de controle aplicado nessas organizações é a força, tarefa básica para manter os internos em seus lugares. O grau de coerção determina o grau de alienação resultante dessas organizações, de modo a quase nada construir no sentido de ressocializaçáo, de tomada de consciência política; ao contrário, fbrma uma "comunidade" de marginalizados ou marginais que, "unidos" e sem perspectivas, trarnam ali mesmo, no ócio do corpo e da mente, novas estruturas, meios e rnetodos para continuarem à margem da sociedade e náo fazerem parte dela. As organizações coercitivas são necessárias, mas em si necessitam de outras instituições e projetos para fazerem acontecer o processo de ressocialização. Foi constatado pelos nossos pesquisadores que tais processos aconteciam não no interior dessas instituições,lnas em organizações e instituições externas que desenvolvern projetos com a finalidade de promover a integração e a formação moral, intelectual e afetiva, tais como: o Centro lntegrado paraAdolescentes Acusado de Ato Infracional (FUNDAC/CIAD) e a Fundação de Geração de Emprego e Renda da Prefeitura Municipal de Mossoró (FUNGER). Por outro lado, encontramos outras instituições, como: ServiBrasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresa (SEBRAE), ço

Serviço Social do Comércio (SESC), Serviço Social da Indústria (SESI), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e lnstituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Intituladas como organizações utilitárias e normativas, também fazem uso da coerção e da força, embora se trate de outro tipo de coerção. Diríamos que, aqui, o principal meio de controle sobre os membros de "níveis in-

PEDAGOGIA DA TERRA: saberes, práticas e lições

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feriores" (prisioneiros da força de trabalho) reside na recompensa: o salário, o produto, a aposentadoria e o comércio também são meios de controle, embora menores. Todavia, considerando o tipo de relações e de sociedade em que vivernos, relações comerciais e sociedade capitalista, tais instituições são elementares, propiciam a capacitação atraves de cursos, a arnpliação do mercado de trabalho, sem contar com as atitudes de incentivo à cultura por elas promovidas, de modo que se revelam também como organizações sociais com ações coletivas, muito embora de interesses particulares.

outras instituições, tais como: cooperativa Terra Livre, conselho Fraterno das Comunidades Integradas Mossoró e Baraúna (CONFRACIMB), Gerência Executiva de Desenvolvimento social (GEDS), Instituição de Ensino carmélia Almeida (Escola que assiste os assentamentos Rita de cássia e São José), Abrigo Amantino câmara, universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e Fundação Municipal de cultura (FMC) se revelaram como de elevado conceito no que diz respeito à multiplicação de saberes.

Uma proposta para estágio supervisionado os Estágios supervisionados dos cursos de Licenciatura plena necessitam atender aos princípios das Diretrizes Curriculares Nacionais do Conselho Nacional de Educação de 2002, constituindo-se de atividades práticas obrigatórias exercidas pelos alunos nos estabelecimentos de Ensino Básico - setores público ou privado - e em outras instituições da rede indicadas pela coordenação dos cursos,

dentro do espírito pedagógico-metodológico que os norteia, bem como em consonância com os instrumentos normativos e legais que regem os estágios. A legislação que regulamenta a nova estrutura dos estágios supervisionados determina çarga horária total de 405 hla, que devem ser distribuídas a partir do 5" período nos cursos de licenciatura, podendo ser organizadas da seguinte maneira:

. .

Estágio Supervisionado l, totalizando 90 (noventa) horas/aulas, disciplina ofertada no 5o período; Estágio Supervisionado Il,totalizando 105 (cento e cinco) horas/aulas, disciplina ofertada no 6o período;

. .

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Estágio Supervisionado Ill, totalizando 105 (cento e cinco) horas/aulas, disciplina ofertada no 7'período; Estágio Supervisionado lY, totalizando 105 (cento e cinco) horas/aulas, disciplina ofertada no 8o período.

Através das reflexões oriundas dos clássicos da educação de Paulo Freire, de Platão, de Aristóteles, admitimos que a sala de aula é um espaço privilegiado da atuação docente, mas não é o único, o que se constatou com a pesquisa sobre a educação escolar e o universo das práticas educativas. Por isso mesmo, cremos que há de ser considerado que, em uma carga horária de 405 h/a, também haverá espaço para não constituir a sala de aula como o limite da atividade pedagógica. Se concluirmos que esse limite não existe, admitiremos que as possíveis 90 h/a propostas para o Estágio Supervisionado I poderiam ser planejadas levando em conta outros espaços que perrnitem a ação do educador. Tal procedirnento possibilitaria o reconhecimento dos diversos segmentos, instituições e organizações sociais existentes na comunidade maior e mais alargada como a cidade. Teríamos, então, a oportunidade de, além de reconhecerrnos as ações educativas, formativas ou de aperfeiçoamento de especialidades existentes nos diversos setores da cidade, conhecemos, também, as articulações da diversidade de relações e produções desempenha-

das por órgãos e segmentos variados, cujos objetivos e fins, mesmo educativos, são diferenciados da instituição escolar. Todavia, isso não priva o estagiário de contribuir de alguma forma com situações

ou problemas oriundos ou contextualizados no ambiente escolar. E importante que o estagiário reconheça as possibilidades dessas instituições em suas relações e produções: comércio, indústria, agricultura e cultivo, preservação do meio ambiente, geração de emprego e renda, saúde e trânsito, além dos agentes e reagentes de ações sociais e promoção de cultura, como: cooperativas, fundações culturais, universidades e instituições de ressocialização, desde complexos penais e conselhos tutelares a abrigos de idosos e centros para apoio a crianças e adolescentes. Ora, conhecendo tais órgãos, segmentos ou instituições, o estagiário levará para uma comunidade menor (a escola) elementos e informações sobre o que a cidade oferece como projetos educati-

práticas e lições PEDAGOGIA DA TERRA: saberes,

vos que auxiliarão na melhor formação humana e desenvolvimento econômico-social. Os alunos necessitam, nos estágios I e II, da pesquisa entpírica, a qual deve perpassar por uma boa observação e coleta de dados, para, posteriormente, poderem reconhecer e refletir sobre os dados coletados, o que caracterizará o diagnóstico. Somente com o marco referencial é que podemos reconhecer a realidade da escola e, a partir de então, encontrar um campo fértil para fazer reflexões sobre o ideal que queremos mais perfeitamente realizar. Assim, o Estágio I estaria direcionado para as ações educativas que a cidade proporciona; e o Estágio II, para a própria escola enquanto campo de estágio. Dessa maneira, o Estágio Supervisionado II viria subsequente, após o reconhecimento da cidade e de suas ações educativas. Adentraria o estagiário na educação formal com o objetivo de desenvolver colno atividade indispensável o diagnóstico da escola carnpo de estágio, buscando identificar o marco referencial da escola, que se desdobra em seus aspectos: sifuacional, doutrinal e operacional. Não devemos esquecer que a faculdade de pensar é, ao que parece, de um caráter mais divino do que tudo o mais; nunca perde a força e, conforme vai sendo conduzida, pode tornar-se vantajosa e úrtil, ou inútil e prejudicial. Como a perspectiva de urn estagiário deve ser a de melhor aplicabilidade possível e, consequentemente, aperfeiçoamento dos seus conhecimentos ao longo do seu curso de licenciatura, o Estágio Supervisionado II deve se caracterizar em buscar reconhecer a escola em sua totalidade. O marco referencial é a própria escola, sua estrufura e condicionantes. Daí, necessário se faz compreender seus aspectos: situacional, operacional e doutrinal. Quanto ao elemento situacional,

diz respeito a um historico que permita a identificação da escola: locahzaçào, tipo de comunidade e especificidades. O aspecto doutrinal é o referencial da escola no direcionamento da sua ação educativa: conceito de pedagogia, tendência pedagógica, níveis de ensino, métodos utilizados (avaliação, planejamento), filosofia adotada, de modo que peÍrnita o reconhecimento dos elementos e conceitos norteadores da escola, desde os pedagógicos aos legais: portaria de funcionamento, regimento, autoúzação do conselho estadual etc.

No tocante ao aspecto operacional, temos a infraestrutura como alvo: a estrutura física, que engloba o núrnero de salas de aula

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e acervo, admirristrativas, pedagogicas, biblioteca de atie/ou recreação de laboratorios, condições sanitárias, áreas de condições suas vidades cle desporto, bem como instalações em mobiventilação, funcionamento (dimensão, acústica, iluminação,

e as dependências

liário, limPeza e material)' Comostrêsaspectosidentif,cados,teremosodiagnosticoda

análise e comescola, o que permitirá ao estagiário a identif,cação, instituição e a da setores preensão ào frn.ionamento dos diversos interação entre eles'

oEstágiolltemcolnofinalidadediagnosticararealidadeda

administrativa, tecescola campo de estágio, sua estrutura física,

nica,didático-pedagogicaemetodológica,emtermosqtrantitativos e funcionamento dos die qualitativos, uinau a política, filosofia

"

versossetores(internoseexternos).Comumbomdiagnóstico,o de multiplicar as estagiário pode ter a identificação da necessidade elecoletadas no Estágio supervisionado l, criando

informações parcerias com instituições mentos que podem ser constitutivos de a escola' que, no âmbito de suas ações educativas, auxiliem externas

NoEstágioSupervisionadolll,buscar-se-áaidentificaçãode

no diagnóstico temáticas, a partir dá realidade da escola apresentada de base para servir elaborado no Estágio II. As temáticas deverão desenvolvido ser a o planejamento oJ,rm projeto interdisciplinar regente do processo de na escola em que o estagiário atuará como formação' transmissão do conhecimento na área da sua

Porconsequência,noEstágiolVdeveráexistiraampliação

aula, desenvolvendo os mesdas atividades pâra o espaço da sala de nesse caso o processo escola, mos procedimentos realizados para a sala de aula em que de de diagnóstico da turma existente no espaço o estagiário vivenc iará asua experiência didático-pedagogica'

oprocedimento,nessafase,éodereconhecerahistoriade vidadosalunosumavezqueoestagiáriojápossuiessasinforma-do viftude da realizaçáo a respeito da cornunidade escolar enr ções

se faz reconhecer os aludiagnostico da escola. Agora, necessário

saberes elaborados e nos: anseios produzidos, projetos pressentidos, cotidianas' dificuldades -'para compreender as il;..iro investigar acerça da formação das diÍrculperspectivas dos alunos. Diante desse reconhecimento prazeÍoso, do que e inútil dades, dos anseios, do que e aprazível e

e lições PEDAGOGIA DATERRA: saberes, práticas

e prejudicial, é que temos o levantamento das necessidades específicas da ação. O mergulho na práxis do grupo social em estudo, extraindo as perspectivas latentes, o oculto, o não familiar, é o que possibilita o direcionamento do planejamento e a consequente regência junto à instituição campo de estágio, em vista do favorecimento da atuação em situações-problema contextualizadas através da ação-reflexão-ação. No Estágio IY o estagiário fará a aplicação dos conhecimentos epistemológicos das diversas disciplinas que embasam o ensino de

sua área de atuação na educação básica, garantindo o primor por um trabalho etico, dinâmico, criativo e interdisciplinar na relação ensino-aprendizagem. Torna-se necessário, então, questionaÍrnos se não valeria motivar, conduzir e direcionar os nossos estagiários a buscar compreender as relações intrínsecas existentes entre os ambientes fonnais e os não formais, pois acreditamos que a pesquisa e o reconhecimento da ação educativa em outras esferas além da escola capacitariam o estagiário e futuro profissional da educação a ampliar a sua compreensão do conceito de educação. A proposta do Estágio Supervisionado seria a de buscar compreender a inter-relação do universo das práticas educativas vivenciadas no Estágio I, a educação escolar muito bem experimentada nos Estágios II e III e o contexto das práticas educativas a serem vivenciadas no estágio IV, significando pensar os espaços de atuação do profissional da educação.

Conclusão Em suma, tivemos como resultado da atividade de estágio a compreensão sobre o profundo alargamento da atividade docente enquanto resultado das demandas de uma sociedade complexa como é a atual,, em meio a uma estrutura econômica capitalista que apresenta suas vicissitudes e slras dificuldades em função de uma economia que transitana esfera de um mundo globalizado, em que os processos educacionais se constituem como uma necessidade para o processo de inserção nos espaços disponíveis para o exercício desse novo modelo de cidadania fundado na gestão do conhecimento. Tais elementos ampliam as noções de fonnação, aperfeiçoamento e

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das disciplinas da cuidado, presentes nas etimologias e nas práticas formação Pedagógica. enquanto uma visão elementar da educação

Nesse sentido, rcalizada em instiaponta para dois tipos de práticas - a formal, com suas formas t,riçoes específicur, .o* currículos específicos,

depromoçãoetc.;eainformal,quesedánodesenvolvimentoda em meio subjetividade humana, da forrnação social clo.indivíduo

vigentes na educação à família e ao seu entorno, sem as estruturas educativos que patafazeres aponta

formal

-,

a contemporaneidade

imompem cotrl essa demarcação estrita e estreita' e particuEntretanto, quando nos damos conta das exigências que as fronteiras laridades do m,,rào contemporâneo, percebemos Os sabelimítrofe' estrutura numa não podeln ser tão demarcadas vir, num e ir num dialético modo ,.r, ,u atualidade, articulam-se de cartecunho de análises que contrarra a logica das

interpenetrar-se ser conceitos que presiará. Formalidaàe e informalidade passam a por saberes e por sabocisam ser repensados em função da demanda o educador como res, os mais variados. Nesse contexto é que surge apresenta ,rlLito de transformação. Assim, o tnundo contemporâneo doatividade à abertos que estão uma serie de espaços e desafios

cente,espaçosperpassadospelaformalidadeepelainformalidade,

que escapam a uma

tendo em vista as várias dimensões formativas visãomeramenteespacialconcentradanasaladeaula. período de estágio, Das experiências vividas pelos alunos no

oquepercebemoséque,nosmaisdiferentesespaçoseatividades existe a neces.du.utiuus dêsenvolvidas nas instituições visitadas,

quer como prestador de sidade do licenciado, quer como estagiário, resta saber se teserviço, quer como funcionário. Há uma demanda, se dá por acaso, não ,no, á capacidade de ocupar esses espaços. Isso já que o grande lema da sociedade é a formação'

Aatualidadetemgeradoespaçosparaconcepçõesmaisela-

por outro lado' uma boradas do processo educativo, o que implica' educação, gerando da área da fonnação mais ampla do profissional novos educadores para uma nova realidade' Concluímos ãste artigo com a fala de Gregor, caixeiro-viajan-

te,personagemdeAMetamorfosedeKafka,quandoemsituação perda difícil com o seu gerente - a qual provocaria a sua demissão, atividade que não da sua fonte de subsistência, embora fosse uma

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lhe era em nada aprazível- revela: "A gente até pode ser incapaz de trabalhar no momento, mas é justo ser esta a hora certa para se lembrar do desempenho passado e ponderar que mais tarde, depois do afastamento do obstáculo, a gente, com certeza, poderá trabalhar de maneira tanto mais diligente e concentrada" (KAFKA ,2002,p. 35).

PEDAGOGIA DATERRA: saberes, práticas e lições

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